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Comédia Latina e a Aulularia de Plauto

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Fernanda Martin Pereira da Silva
Jade Silva dos Santos
Marcos Ygor Dutra do Espírito Santo
A comédia latina
e a Aulularia de Plauto
Niterói – RJ
2021
Fernanda Martin Pereira da Silva
Jade Silva dos Santos
Marcos Ygor Dutra do Espírito Santo
A Comédia latina
e a Aulularia de Plauto
Trabalho de conclusão de período da disciplina Matrizes Clássicas – Roma da graduação de Letras oferecida pela Universidade Federal Fluminense.
Profª: Thaíse Bastos
Niterói – RJ
2021
Sumário
Introdução …………………………………………………………………………… 3
Origem do teatro e influência latina ………………………………………………… 4
Comédia latina ………………………………………………………………………. 7
Plauto e a Aulularia …………………………………………………………………. 9
Conclusão …………………………………………………………………………….14
Referências bibliográficas ……………………………………………………………15
Introdução
O presente trabalho tem como intuito expor os temas e elementos referentes ao gênero dramático comédia tendo em vista a origem do teatro, a influência grega no teatro latino, a comédia latina, as características da comédia de Plauto, exemplificadas pela Aulularia, e atuação de suas obras no comportamento social romano da época.
Origem do teatro e influência latina
Ao decorrer do semestre foi colocado que responder como e onde surgiu o teatro não é uma tarefa fácil. Isso porque a origem do teatro conta com várias e diferentes versões. Porém nenhuma delas pode, ao certo, ser comprovada. O surgimento do teatro é mais baseado em especulações do que em indícios fiéis que provem a sua origem. No entanto, o consenso histórico mais conhecido e fundamentado afirma que remete à Grécia Antiga.
Segundo historiadores, o teatro surgiu na Grécia Antiga, no séc. IX a.C. Consistia em representar uma situação e estimular sentimentos na audiência. A tríade: quem vê, o que se vê e o imaginado, são o apoio do drama, pois exigem uma reflexão propiciada através do ator ou conjunto de atores interpretando uma história.
A história do teatro se confunde com a história da humanidade. Segundo alguns antropólogos, o teatro surgiu como um modo de expressão do homem primitivo que encenava para representar suas necessidades. A arte de representar adveio das situações vividas pelo ser humano que, por culto, religiosidade, louvor, prestígio, entretenimento, registro, ou simplesmente pura expressão artística, descobriu que era possível revelar seus sentimentos de amor e ódio expressando-se num mundo da fantasia muito parecido com um mundo real. O mundo evoluiu e a arte de se representar acompanhou essa evolução.
Apesar de ser um consenso que o teatro ocidental teve origem na Grécia Antiga, é importante frisar que essa manifestação já era presente na humanidade desde tempos remotos, mesmo que de forma rudimentar. Na pré-história, os seres humanos possuíam maneiras distintas de comunicação, e a imitação era uma delas.
A representação de um personagem, ou seja, a imitação de outro ser, foi uma das primeiras formas de expressão encontradas pelo homem para se comunicar. Como dito por Aristóteles, “é uma prerrogativa do próprio homem”.
Muito provavelmente, os homens das cavernas desenvolveram gestos que se assemelhavam aos animais. Além disso, encenavam caçadas para contar aos seus pares como as situações ocorreram. Assim como a dança, a música e o desenho, a linguagem teatral também teve sua importância na época pré-histórica.
Do ponto de vista arquitetônico, a estrutura dos primeiros teatros era parecida. As apresentações eram feitas ao ar livre, em construções de formato semicirculares. Havia um espaço para as representações, chamado de orquestra. O lugar para acomodar o público era a arquibancada, construída em encostas montanhosas, o que facilitava a acústica. Já o palco era o local onde os atores se preparavam para a apresentação e guardavam os figurinos e objetos cenográficos.
O teatro romano teve enorme influência do teatro grego, assim como outras manifestações culturais desse povo. A cultura etrusca também foi um fator relevante para o desenvolvimento da arte teatral romana.
O teatro grego que hoje conhecemos surgiu, segundo historiadores, de um acontecimento inusitado. As celebrações ao deus Dionísio duravam vários dias e ocorriam na época da colheita como forma de agradecimento pelo alimento e pelo vinho. A participação dos cidadãos era intensa e havia uma espécie de procissão, que levava o nome de “ditirambo.” Depois surgiu o coro, um conjunto de pessoas que cantava e dançava homenageando Dionísio. Até que apareceu Téspis, uma figura de grande importância para o surgimento do teatro ocidental. Segundo consta, esse homem participava de um desses rituais quando, em dado momento, resolveu vestir uma máscara humana, ornada com cachos de uvas, e dizer que ele era o próprio deus Dionísio, iniciando assim um diálogo com o coro. Ele arriscou transformar o sagrado em profano, a verdade em faz de conta, o ritual em teatro. Pela primeira vez, diante de outros, mostrou que poderíamos representar. Este acontecimento é o marco inicial da ação dramática, a ousadia de tal atitude fez com que Téspis fosse reconhecido como o criador do teatro e primeiro ator e produtor teatral. Mais tarde, essa linguagem artística foi evoluindo e influenciou fortemente o teatro romano e outras culturas.
Entretanto, os romanos trouxeram algumas modificações nessa linguagem. A mais significativa delas é no que se refere à estrutura arquitetônica, que antes era feita em encostas de morros pelos gregos e depois passou a incorporar arcos e abóbodas pelos romanos. Os temas e objetivos do teatro romano também se modificaram um pouco, com a valorização de mais entretenimento (como lutas de gladiadores e animais) e menos assuntos religiosos.
A arte em forma de encenação, ou seja, o Teatro, sempre existiu na história da humanidade de forma a proporcionar aos homens um meio para expressar seus sentimentos, contar histórias e louvar divindades. Essas encenações eram divididas em representações trágicas ou cômicas, os primeiros gêneros teatrais. Os principais gêneros dramáticos conhecidos são: a tragédia nascida na Grécia, a comédia que representa os ridículos da humanidade, a tragicomédia que é a transição da comédia para o drama e o drama (melodrama) que, ao ser representado, é acompanhado por música.
Nas peças trágicas se encenavam as histórias ligadas ao destino, e elas possuíam algumas características em comum, como a tensão, o medo e um final trágico. Esse gênero teatral despertava no espectador sentimentos como temor e piedade, e os levava à “catarse”, que segundo Aristóteles se manifestava no público no decorrer do espetáculo, e gerava um efeito de purificação dos sentimentos. Já a comédia grega tinha o intuito de provocar o riso e o divertimento e representava, de forma satírica, as questões da sociedade, baseando sua crítica no ridículo e no exagero. Toda manifestação artística, desde os primórdios até as atualidades, exercem uma função social que impulsiona a humanidade a refletir, questionar e mudar. O teatro faz isso por meio das suas múltiplas vertentes, que se entrelaçam com cada ser humano a sua maneira.
As histórias se passam em cidades gregas, se é que um mundo imaginário se situa realmente em algum lugar. As personagens têm nomes gregos, estranhos nomes, por vezes, por isso, em traduções latinas, são carregados de teor humorístico.
As influências se evidenciam, porém, em numerosas passagens. A Aulularia, a Comédia da panelinha, uma das mais conhecidas e mais apreciadas peças de Plauto, ofereceu muitos exemplos do procedimento literário do comediógrafo, ao introduzir no texto elementos romanos.
Além das divindades existem outros elementos romanos na comédia. O ritual do casamento que se prepara, segundo informações dadas pelas próprias personagens, tem todas as características do ritual romano; a distribuição de moedas aos pobres, mencionada por Éuclião no primeiro ato (Aul. 105 ss.), seria feita pelo presidente da cúria e a cúria, sabe-se, era a divisão distrital romana; em diálogos esparsos há referênciasa triúnviros e pretores, magistrados evidentemente romanos.
Comédia latina: antiga, média e nova
Da mesma forma que a tragédia, a comédia foi um manifesto político e sofreu várias mutações com o passar dos séculos, por isto é adequado dividi-la em três partes: Comédia Antiga, Comédia Média e Comédia Nova.
A fase Antiga se caracterizava pela agressividade, pela sátira pessoal, pelos ataques às figuras conhecidas da sociedade. Tinha como mais relevante autor, Aristófanes, cujos alvos eram personalidades influentes da sociedade grega. A Média tinha foco em temas mitológicos e seus principais representantes foram Antífanes e Aléxis.
A Comédia Nova, por sua vez, diferenciava-se das outras pela abordagem de temas corriqueiros, aproximando-se de todas as classes sociais e explorando, principalmente, o amor inoportuno. Essa é a principal a ser abordada, já que possui maior relevância acerca do tema debatido. Com base na importância do teatro para a construção social, pode-se afirmar que a alternância de foco na Comédia Nova tenha sido fruto da intenção de educar o povo grego sobre as posições que ocupavam, o perigo de deficiências de caráter e, além disto, reforçar os costumes familiares.
Independente da intenção, nela se basearam as mais respeitáveis vozes da comédia romana, e esta se manifestou através de traduções de obras gregas para o latim. A comoedia palliata — comédia apresentada com o pálio — mantinha trajes gregos, nomes gregos — mesmo que não originais —, ambientes e costumes gregos. Apresentavam, inclusive, menções às peças de partida em seus prólogos, possibilitando análise e comparação. Era comum encontrar, em uma mesma transposição latina, a concentração de duas ou mais obras helênicas.
Como já mencionado, o uso de enredos e personagens rotineiros é parte fundamental da construção da Comédia Nova. Os dramas retratados eram, em maioria, de cunho amoroso. Envolviam relacionamentos proibidos com escravas ou jovens de classes diferentes, que não possuíam dotes e com as quais não poderiam casar. “A ênfase da Comédia Antiga de Aristófanes no modelo cômico (…) se dissolve em situações estereotipadas e corriqueiras que poderiam ser vividas por qualquer um” (GONÇALVES, Rodrigo Tadeu, 2009, p. 118).
Mesmo que a Comédia Nova latina se tratasse de tradução, ainda era possível encontrar modificações e adaptações em suas estruturas para que dialogassem com a população e o estilo de vida romanos. O gênero se apropriava, de maneira criativa, do original tratado na língua de partida, por vezes alterando sentidos de falas em favor do cômico, o que ocorre em traduções até hoje.
[…] o contato que um gênero literário tem com outro (como acontece com um gênero traduzido, transcriado e/ou reescrito, caso da Comédia Nova) (…) permite expansões, ampliações, remodelações de si mesmo através do aprofundamento das relações dialógicas estabelecidas pela linguagem literária dessa forma manipulada. (GONÇALVES, Rodrigo Tadeu, 2009, p. 123)
Foi seguindo esta linha que as comédias de Plauto e Terêncio se desenrolaram e passaram a compor, hoje, parte majoritária do corpus literário pré-clássico, com textos na íntegra. Pela escassez de material de partida completo que a Comédia Nova latina se fez importante, não só para o estudo da cultura romana, mas também da literatura dramática grega.
Plauto e a Aulularia
A comédia Plautina foi um dos maiores expoentes da Comédia Nova romana. Seu teatro foi, inclusive, considerado mais tarde como a criação do “teatro nacional” romano. Datado da época que ficou tradicionalmente conhecida como fase helenística da literatura romana, suas peças são adaptações de peças da Comédia Nova grega. Plauto soube, muito bem, fazer uso da técnica de mescla, trazendo, com maestria, elementos romanos às suas peças.
Esses elementos podem ser observados, por exemplo, na evocação frequente de costumes romanos. Deuses latinos são misturados aos gregos, alguns personagens têm traços de personalidade do povo romano, mas não só. É notável também que as peças de Plauto se diferenciam de seus equivalentes gregos por uma predominância de partes lírico-musicais, com a presença de cantica (partes cantadas com acompanhamento musical); a originalidade também estava nos prólogos, que eram completamente originais. Estes tinham objetivos tanto didáticos, apresentando o tema da peça, quanto dialogais, visando instruir e preparar o público para o início da encenação. Outro elemento de originalidade é a inspiração em formas de teatros primitivos romanos como Aires Pereira apresenta:
[…] os cantos fesceninos — improvisações satíricas de carácter licencioso e mordaz —, a satura — uma mistura de diálogo, dança e música —, a atelana — uma farsa de máscaras e tipos fixos — e o mimo, com todas as suas obscenidades e gesticulação.
(…) elas devem ter potenciado a presença do tema do engano e do equívoco, a paródia de temas sérios, o recurso a expedientes cômicos como grosserias, insultos, obscenidades, cenas de pancadaria ou de bebedeira, e ainda o desenvolvimento do papel do canto, da música, da dança e de toda uma movimentação e uma alegria que o tornam original e que, pela forma genial como o Sarsinate [Plauto] soube transformar o espírito dos seus modelos e adaptá-lo às velhas farsas itálicas. (PEREIRA, Aires, 2006, p. 6)
Portanto, a originalidade se dá especialmente na maneira como ele adaptou as intrigas e situações, que giravam em torno de certos temas do cotidiano com pessoas comuns. O importante era discutir a humanidade, trazendo-a ao palco. Os enredos apresentavam, no geral, situações de conflitos sem uma solução aparente entre os personagens até que, por uma reviravolta, tudo se solucionava e acabava bem.
As personagens das peças eram desenvolvidas para o riso, bastante estereotipadas, sem profundo desenvolvimento do psicológico; meras caricaturas de certos ‘tipos’ convencionais já presentes nas versões gregas, como: o soldado fanfarrão, o parasita guloso, o jovem apaixonado, o alcoviteiro, o avarento, o parasita, o cozinheiro ladrão, etc. Um tipo de personagem que merece destaque é o escravo astuto que, nas peças, tem o importante papel de condutor da ação. Todos esses personagens existem de forma estereotipada para acentuar seus vícios. Assim se transmitem valores a partir da demonstração dos vícios e se educa por querer que se faça o oposto.
Como já apresentado a partir da citação de Aires Pereira (2006, p. 6), o gestual tem um espaço importante no teatro plautino. Outro elemento a ser levantado nas peças do comediógrafo é a linguagem, apesar da perda de determinados recursos na tradução, como aponta Zelia Cardoso (2011, p. 33). A tradução teve um papel fundamental na originalidade. Plauto soube explorar a língua latina e sempre procurou provocar o riso. Utilizava neologismos, aliterações e colocava, em determinados momentos, palavras em grego como forma de gozação da cultura de partida. Trabalhava, também, com trocadilhos e repetições. Para além disto, existe uma musicalização nas peças, a partir das variações métricas e expressas na cantica, onde se realça sentimentos e emoções.
As peças tinham como objetivo final divertir a plateia. Plauto tinha um talento para o cômico, todos os elementos eram combinados para arrancar risada do público, talvez seja por isso que o comediante tenha tido tanto sucesso.
Uma de suas principais peças é a Aulularia, que tem como enredo um velho avarento, o Euclião, que encontra uma panela de ouro na lareira de sua casa com a ajuda do Deus Lar. Euclião tem uma filha, Fedra, que estava grávida de 9 meses pois havia sido seduzida pelo sobrinho de seu vizinho, Licônidas. Euclião passa a peça suspeitando que alguém descobrirá e roubará seu tesouro. Desconfia inclusive de Megadoro, velho rico e seu vizinho, que pede a mão de sua filha em casamento. Tamanha é a desconfiança, que Euclião muda o tesouro de esconderijo algumas vezes, até que, Estrobilo, escravo de Megadoro encontra a panela. Licônidas, por fim, resolve assumir o que fez a Euclião, pede sua filha em casamento e nesse momentode inspiração também exige que Estrobilo devolva o tesouro ao velho avarento que, também inspirado, dá o tesouro aos jovens noivos.
Pode-se considerar que é uma peça tanto de caracteres quanto de intriga. É de caracteres por retratar um personagem-tipo, o avarento Euclião, personagem mesquinho e ganancioso tomado por uma paranoia e talvez assim o fosse, pois é aceitável acreditar que este não seria assim tão pobre como diria ser. Qualquer pessoa em situação de necessidade não guardaria assim um dinheiro, pois precisaria prover coisas básicas para o lar. A própria peça comprova a tese com seu desfecho e a fala educativa de Licônidas ao final:
Licônidas: Sempre pensei que não ter dinheiro era péssimo para todos, moços, homens e velhos. A indigência obriga os moços a prostituir-se, os homens a roubar, e os velhos a pedir esmola. Mas é muito pior o que vejo agora: ter muito mais dinheiro do que aquilo que é necessário. Ah! Quanto desgosto passou ainda há pouco Euclião por ter perdido a sua panela. (PLAUTO, Alularia – Comédia da Panela)
Com isso a peça traz à tona a ideia “dinheiro não compra felicidade”, presente em todos os momentos de desgaste que Euclião passa com seu tesouro. Quase não consegue viver e não passa um dia sem checar a panelinha. A peça aponta o vício e a avareza de forma acentuada, o que gera um efeito cômico. É a partir da repetição do tema, que valores são passados para os espectadores.
Importante destacar outros personagens típicos das obras de Comédia Nova, como o Estróbilo, que se apresenta como o escravo astuto, o que é bastante comprovado em sua negociação pela liberdade com seu dono. O desenvolvimento da peça se baseia em sua principal ação: o roubo. Por conta disto que tal desfecho é possível.
Outro personagem importante é Megadoro, mas este, na verdade, não é um personagem caricato e grotesco, mas pragmático, o que evidencia uma característica tipicamente romana. Outra personagem inspirada por Roma é sua irmã Eunômia, mãe de Leônidas, que representa a matrona.
Analisemos, também, Fedra, filha de Euclião, que nem mesmo aparece na peça e pode ser ouvida somente em trabalho de parto, porém é personagem central. É a partir da concepção de seu filho que aparece a intriga. Fedra é descrita pelo Deus Lar como piedosa e boa e quer compensar a devoção da menina com um bom casamento. É também nessa figura que percebemos as relações que o mundo da Roma antiga tem com as mulheres comuns.
Aqui as peculiaridades do casamento romano ficam claras, com o entendimento dos dotes e as problemáticas que isso traz ao matrimônio em si e à relação da mulher com o homem, proporcionalmente subalterna, de acordo com a falta do dote e o contrário quando a mulher é levada junto do dote.
Mas pode-se observar também a questão de uma violência sexual que culminou na gravidez de Fedra. O texto apresenta este fato como apenas isso: um fato. A leitura deste causa, ao leitor moderno, um estranhamento ou incômodo, mas é a partir dele que se supõe o estupro como algo recorrente e este acarreta, como apresentado pelo diálogo entre Euclião e Licônidas, em um problema de desonra para o então ‘dono’ da mulher, o pai. Talvez ainda seja possível olhar para este fato a partir da cosmovisão romana antiga; este fato como uma sedução (termo usado na peça) e a partir da noção que Zelia de Cardoso aponta: procurar a significação sobre o estupro na festa de Ceres, momento em que teria ocorrido o ato. Não olhar para a festa somente a partir da lógica de que nela se consome muito vinho e tochas perfumadas são queimadas — cuja fumaça é entorpecente —, mas ir além, propor que na menção do festival se insinua algo talvez conhecido ao seu público: de que as homenagens a deusas como Ceres e sua filha Proserpina evoca um estágio ainda mais antigo: matriarcal e hetairismo. Apesar de pouco se saber sobre os rituais que envolvem tais homenagem, o pouco que se sabe é:
Eram celebrações orgiásticas, regadas a vinho e enfumaçadas pela queima de elementos tóxicos como o incenso e as resinas, celebrações nas quais as mulheres, embriagadas e inebriadas, caíam num estado de transe ou de frenesi, ao som de flautas, de trombetas — e possivelmente de instrumentos de percussão —, identificando com a terra sua natureza feminina e submetendo-se voluntariamente a fecundações fortuitas. Deixavam vir à tona sua condição de hetairas sagradas, entregando-se, não numa degenerescência ritual, mas numa retomada de cultos arcaicos, ao apelo de um amante ocasional ou de um recém-chegado desconhecido. (CARDOSO, 1988, p. 255)
Essa visão passaria longe de um leitor comum da peça, mas é a partir desses elementos que se pode propor uma nova leitura e, com certeza, as insinuações sutis mostram uma comédia também refinada em Plauto.
Conclusão
Ao longo do trabalho foi possível notar que a cultura helênica, assim como outras, foi de suma importância para o desenvolvimento plural da cultura latina, principalmente no que diz respeito ao teatro cômico latino, que tinha como uma das principais vozes, Plauto, abordado repetidas vezes. Este conseguia, com excelentes técnicas, transpor as obras de origem grega para o latim sem que perdessem o sentido chistoso e, além disso, adaptando-as para melhor se encaixarem à realidade do povo romano.
Sua maestria acarretou em tanto sucesso que trouxe para seu nome, mais tarde, obras que não se têm a certeza de autoria, assim como influenciou inúmeros autores, inclusive na literatura brasileira nordestina por meio de Ariano Suassuna.
Referências bibliográficas
Cardoso, Zelia Almeida. A literatura latina. São Paulo: Martins Fontes, 2011. páginas: 30 e 31 PEREIRA, Aires, C. Introdução In: Plauto Comédias I. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2006. (página: 13, 14, 16, 19) 
PLAUTO, Alularia (Comédia da Panela)
CARDOSO, Zelia de Almeida. Figuras femininas em Plauto: Convencionalismo e originalidade. 1988
BERTHOLD. Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2004. PEIXOTO, Fernando. O que é teatro. São Paulo: brasiliense, 1998.
PIGNARRE, Robert. História do teatro. Lisboa, PT: Publicações Europa-América, S/D. Abel Santana. 
A ORIGEM DO TEATRO NO MUNDO, 2017. <https://laart.art.br/blog/historia-teatro/> 
Patrícia Lopes Dantas, Teatro – Mundo Educação <https://www.google.com/amp/s/m.mundoeducacao.uol.com.br/amp/artes/teatro.htm>

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