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BRONQUIECTASIAS E ABSCESSO PULMONAR Autor: Pedro V.F. Medrado BRONQUIECTASIAS - São dilatações e distorções irreversíveis das vias aéreas por inflamações crônicas como resultado de agressões infecciosas e depuração inadequada. - Se caracterizam, portanto, por espessamento da parede brônquica com maior produção de escarro e tosse crônica. - Exacerbações bacterianas intermitentes - Modificam qualidade de vida do paciente - Na Europa é mais frequente devido à fibrose cística, e nos países menos desenvolvidos devido à infecções - Nos EUA – estimado 110.000 pacientes com bronquiectasias - Nos países em desenvolvimento é maior – associado à populações c/ menor acesso aos cuidados de saúde - O diagnóstico de bronquiectasias deve ser realizado após 6 meses a 1 ano do quadro infeccioso – erro/confusão de diagnóstico no Brasil - Muitas dilatações brônquicas podem ser reversíveis c/ fim do quadro infeccioso – pseudobronquiectasia FISIOPATOLOGIA - “Hipóteses do ciclo vicioso” de Cole – Um dado ambiental (infecções) em pctes c/ suscetibilidade genética – alteração da depuração mucociliar – que persiste c/ a colonização microbiana na arvore brônquica – PERSISTÊNCIA DO DANO - Infecção crônica dos tecidos – dano dos tecidos – prejuízo de motilidade mucociliar - Inflamação crônica – aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias e/ou ativação descontrolada de células efetoras – destruição dos componentes elásticos e muscular da parede brônquica - Redução da depuração de secreções – infecções recorrentes – círculo vicioso QUADRO CLÍNICO - Principal sintoma – tosse crônica (94%) c/ expectoração (73%) abundante diárias principalmente pela manhã. · Dispneia é frequente em 73% dos casos · Fadiga (60%) e rinossinusite (67%) são frequentes · Dor torácica (20%) e hemoptise (30%) - Exame físico – grande variabilidade · Estertores (78%) e sibilos (20%) de acordo c/ a gravidade da doença · Quadros avançados e graves – emagrecimento e baqueteamento digital (2% dos casos) - Como identificar uma exacerbação? · Aumento da quantidade de secreção, expectoração purulenta (decúbito dependente), piora da dispneia, e outros sintomas gerais (perda de peso, halitose, inapetência) · É menos comum febre, hemoptoicos ou hemoptise (ápice) · Se tiver 4 sintomas de 9 dos listados estamos diante de uma exacerbação: - Mais relacionados às exacerbações são o P. aeruginosa e o S. aureus – colonizam a VA principalmente em fases mais avançadas - Estágios iniciais das exacerbações – S. pneumoniae e o H. influenzae ETIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DAS BRONQUIECTASIAS - 2/3 das bronquiectasias são causadas por infecções – TB, sarampo, coqueluche, S. aureus, K. pneumoniae, M. tuberculosis e virais (adenovírus, influenza e HSV). - O restante: · Obstrução brônquica – corpo estranho, neoplasias, adenopatias hilares, impactação mucoide · Doenças imunológicas · Hereditárias · Anomalias anatômicas congênitas · Miscelânia - Classificação das bronquiectasias quanto à morfologia: · Cilíndricas – dilatação homogênea mantendo comunicação c/ o parênquima distal · Císticas ou saculares – brônquios dilatados, sem comunicação c/ o parênquima pulmonar · Varicosas – dilatações que se alternam c/ segmentos normais - Classificação das bronquiectasias quanto à localização: · Restritas, ou localizadas – espiração de corpo estranho, linfonodomegalia, neoplasias ou impactação mucoide · Difusas – causa infecções, ou aspiração de conteúdo gastroesofágico ou dano por inalação DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES - Após suspeita clínica de bronquiectasia, fazemos uma radiografia simples em duas incidências ou TC de tórax - RX – baixa sensibilidade e especificidade, podendo ser normal nas fases iniciais · Fases avançadas · Sinal do trilho de trem (imagens c/ linhas paralelas) · Imagens anelares · Atelectasias laminares · Sinais de hiperinsuflação dos segmentos pulmonares subjacentes - TCAR – método diagnóstico de escolha (Sens 97%) · Identifica ou afasta outras doenças, além de orientar tto cirúrgico · Achados · Sinal do anel de sinete – diâmetro brônquico 1,5x do diâmetro da artéria pulmonar · Sinal dos trilhos de trem · Imagens anelares · Espessamento da parede brônquica · Ausência de redução do calibre do brônquio · Imagem localizada de hipertransparência - Broncografia – em desuso - Dosagens: · Cloro e sódio no suor · Imunoglobulinas · Pesquisa de bacilo álcool ácido-resistente (BAAR) no escarro · Biópsia do epitélio brônquico · Dosagem de Alfa-1-antitripsina plasmática - Espirometria · DVO é o mais comum achado, mas em fases avançadas podemos ter DVR (destruição parenquimatosa) - Gasometria arterial · Fases avançadas – hipoxemia, e raramente hipercapnia - DLCO · Fases avançadas – comprometimento da membrana alvéolo-capilar TRATAMENTO Doença estável - Principais objetivos: · Melhorar sintomas · Identificar precocemente exacerbações · Suprimir a carga microbiana · Tratar comorbidades · Reduzir resposta inflamatória excessiva · Promover higienização brônquica · Controlar as hemorragias · Remover cirurgicamente segmentos acometidos - Vacinação contra pneumococo e influenza + avaliação nutricional - Broncodilatadores · A curto prazo – broncodilatadores de curta ação (salbutamol) p/ melhora na CVF e VEF1 e alívio de sintomas · Manutenção – Beta-2-agonista de ação prolongada · Não há estudos randomizados publicados que avaliaram adequadamente o papel dos broncodilatadores na bronquiectasia como tto prolongado. - Corticosteroides inalatórios (CI) – não há evidências suficientes para recomendar CI isolado para pacientes estáveis · Fluticasona em doses elevadas – redução de leucócitos e dos parâmetros inflamatórios no escarro de pacientes · Objetivo: reduzir inflamação e melhorar a obstrução das vias aéreas - Beta-2-agonista de longa (LABA) + CI – apesar de poucas evidências – a associação pode trazer mais benefícios aos pacientes · Formoterol + Budesonida (24/800 mcg/dia) – melhora da dispneia, reduz dias c/ tosse e chiado, reduz medicações de alívio e melhora qualidade de vida - Mucolíticos – não há evidências do uso em bronquiectásicos · Altas doses de bromexina + ATB – maior depuração de secreções · Acetilcisteína nebulizada – diminui viscosidade da secreção · rhDNAse inalado – enzima que lisa o DNA secretado pelos neutrófilos inflamatórios – uso restrito para Fibrose Cística - Agentes hiperosmolares – há necessidade de mais estudos · Soluções salinas hipertônicas e o manitol inalado em pó seco – melhora depuração traqueobrônquica - Uso de antibióticos profiláticos – sem evidências suficientes para recomendar qualquer esquema preventivo ou supressivo · Uso crônico de ATB predispões resistência bacteriana - Macrolídeos c/ imunomoduladores – não há evidências consolidadas · Há teorias de que reduz a taxa de exacerbações, volume de escarro e estabiliza função pulmonar e diminui reatividade brônquica - Fisioterapia respiratória · Manobras de higiene brônquica: · Drenagem postural · Percussão · Vibração · Tosse e aspiração · Exercícios respiratórios (huffing e padrões ventilatórios seletivos) · Hiperventilação manual · É usado adjuvante ao tratamento clínico de pacientes c/ retenção brônquica de secreções · A adesão é baixa – inferior a 40% · A umidificação e pressão positiva intermitente – auxiliares à fisioterapia respiratória em pctes c/ bronquiectasias · Inalação de solução salina hipertônica – clareamento traqueobrônquico - Reabilitação pulmonar – deve ser oferecida em indivíduos que têm falta de ar que afeta as atividades diárias - Tratamento cirúrgico · Só pode ser indicada em pacientes com: · Boa reserva funcional pulmonar · Doença localizada · Não houver melhora dos sintomas c/ tto clínico · Hemoptises recorrentes ou volumosas · A cirurgia só pode ser cogitada se: · A causa das bronquiectasias já foi diagnosticada e tratada · Se a bronquiectasia é localizada e passível de ressecção · E o paciente tiver boas condições de operabilidade · Se a doença for difusa – o tratamento é conservador · A cirurgia de bronquiectasia apresenta maior morbidade do que a cirurgia de neoplasiaspulmonares · Se doença difusa c/ grande comprometimento pulmonar e qualidade de vida – são potenciais candidatos à cirurgia de transplante Exacerbações - Uso de antibióticos nas exacerbações · Betalactâmico (c/ ou s/ inibidor da betalactamase), cefalosporina (2ªG), macrolídeo ou quinolona respiratória · Se colonização crônica – cultura de escarro · Doença avançada – imperativo cobrir P. aeruginosa e S. aureus · Ciprofloxacino – tto ambulatorial · Ceftazidima, cefepima cefpiroma, ticarciclina, piperaciclina, imipenem, meropenem, aztreonam ou ciprofloxacino – tto internação · Se S. aureus – oxacilina ou vancomina de acordo c/ antibiograma - Corticosteroides sistêmicos · Pacientes c/ sibilos – parece ser útil usar, embora sem evidências científicas · CS imunodeprimem o paciente o que facilita a colonização bacteriana da árvore brônquica ABSCESSO PULMONAR - É caracterizado por infecção, liquefação, necrose e formação de cavidade c/ supuração no parênquima pulmonar de extensão variável FISIOPATOGENIA E CLASSIFICAÇÃO - A partir de um foco infeccioso bacteriano no parênquima, há liberação de substâncias tóxicas que levam à isquemia local e consequente à necrose - A evolução p/ o abscesso ocorre em um período de 1 ou 2 semanas - Focos dentários podem ser a origem do material contaminado microaspirado em pacientes c/ abscesso pulmonar - Quatro vias de formação conhecidas: · Aspirativa – alcoolismo, crises convulsivas, AVC, anestesia geral, procedimentos cirúrgicos e microaspirações noturnas · Abscesso primário de pulmão · 85-90% - peptoestreptococos, Bacteroides melaninogenicus F. nucleatum · Mais frequente no LID e LM (facilidade anatômica de aspiração) · Obstrutiva – neoplasias, CE ou linfonodomegalias · Embólica – êmbolos sépticos por infecções à distância produzem áreas de infarto pulmonar e evolução p/ abscessos · Pós-pneumônica – infecções do parênquima são substranto predisponente para evolução necrótica – S. aureus e K. pneumoniae e anaeróbios - Classificação · Agudo – evolução favorável em 8 semanas · Crônico – intenso espessamento da parede e pouca possibilidade de cura medicamentosa QUADRO CLÍNICO - Sinais e sintomas – tosse produtiva c/ eliminação de grande quantidade de escarro purulento fétido (vômica), febre, emagrecimento, mal-estar e dor torácica. - Hemoptise – 10 a 20% dos casos - Exame físico – baqueteamento digital, sinais de anemia e focos sépticos em peças dentárias. DIAGNÓSTICO - Radiografia de tórax · Nível líquido (imagem hidroaérea) · Na lesão do parênquima · O ângulo que o abscesso forma c/ a borda pleural é agudo e altura da imagem hidroaérea é menor que a sua base (oposto de abscesso pleural) - Ultrassonografia de tórax · Fornecer volume e a natureza do líquido · Demarcação na pele do ponto de punção c/ derrames septados - TC de tórax · Mostra características como a irregularidade da parede, sem borda definida e espessa, e invasão do parênquima pulmonar subjacente. - Broncoscopia – importante para investigação de abscesso secundário à obstrução brônquica - Cultura · Bactérias aeróbias são os agentes mais comuns envolvidos · Imunocomprometidos – P. aeruginosa, Haemophilus spp., Enterobacter spp., Legionella spp., Complexo M. avium e Candida spp. · Anaeróbicos são de difícil isolamento Diagnóstico diferencial · Cavidade tuberculosa · Neoplasia pulmonar c/ cavidade · Micoses pulmonares c/ cavidades residuais · Doença granulomatosa não tuberculosa · Cisto ou bolha pulmonar infectada · Abscesso subfrênico extenso · Infarto pulmonar cavitado COMPLICAÇÕES - As principais: empiema, sepse, hemoptise, anemia e fístula broncopleural - Fatores associado à alta mortalidade · Abscesso acompanhado de pneumonia, neoplasia ou alteração do nível de consciência; · Anemia (Hb < 10g/dL); · Infecção por P. aeruginosa, S. aureus ou K. pneumoniae TRATAMENTO - O tratamento é clínico, cirurgia é reservada para situações especiais. - Antibioticoterapia · Penicilina cristalina IV – boa ação bactericida sobre anaeróbios – 3-4 milhões de UI 4/4h por pelo menos 21 dias · Clindamicina IV – 600mg 6/6h durante 21 dias · A melhora costuma aparecer 1-2 semanas de tratamento · Acompanhamento radiológico – resolução da cavidade é lenta – cerca de 2 meses · Eliminação de grande quantidade de material purulento + melhora do hálito fétido, sugerem evolução favorável - Broncoscopia – finalidade terapêutica e diagnóstica p/ retirada de CE e aspiração de tampões mucosos e secreções espessas – lavagem endobrônquica c/ SF - Indicações cirúrgicas: - Drenagem externa do abscesso é eficiente e alternativo à ressecção – abscesso gigante em imunocomprometidos que não toleram ressecção - Ressecção pulmonar – retirada de parênquima funcionante, usada em poucos casos · Complemento à drenagem externa · Em casos de necrose pulmonar maciça, hemoptise c/ risco de vida, resíduos sintomáticos que infectam ou sangram e quando não se afasta a possibilidade de neoplasia - Fisioterapia · Drenagem postural p/ eliminação da secreção e orientação quanto à tosse efetiva · Decúbito p/ drenagem postural mantido por 24h · Contraindica-se tapotagem – levar ruptura da parede do abscesso e precipitar um empiema pleural
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