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Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes DOENÇA ULCEROSA E H. PYLORI CONTEXTO HISTÓRICO • Warren e Marshall → Prêmio Nobel de Medicina em 2005 o Identificação do Helicobacter pylori e importância da sua erradicação na cura da úlcera péptica. DEFINIÇÃO As úlceras pépticas constituem soluções de continuidade da mucosa gastrointestinal secundárias ao efeito corrosivo do ácido clorídrico e da pepsina, estendendo-se através da muscular da mucosa e atingindo a camada submucosa e/ou muscular própria. • Helicobacter pylori → bactéria gram negativa, espiralada que coloniza apenas estômago humano ou área com metaplasia da mucosa gástrica no duodeno o Humanos são os únicos reservatórios o Transmissão oro-oral, fecal-oral ou gastro-oral o Maior prevalência em países em desenvolvimento → devido a condições sanitárias e saneamento básico PTI: Púrpura Trombocitopênica Idiopática Asma: acredita-se que o H. pylori seja um fator protetor para asma. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes EPIDEMIOLOGIA • Declínio na prevalência das úlceras pépticas o Melhora nos padrões de higiene e condições sanitárias → redução nas taxas de infecção pelo H. pylori. • Brasil: alta prevalência de H. pylori (70-80%) • Mundo: prevalência de 50% do H. pylori • As úlceras são mais frequentes no sexo masculino (1,5 a 3x) • Úlcera duodenal é 5x mais frequente que a úlcera gástrica ETIOLOGIA FISIOPATOLOGIA • A úlcera é uma afecção de origem multifatorial. • O nosso estômago vive em uma balança, ele tem fatores agressores e os mecanismos de defesa e reparação da mucosa → a úlcera acontece quando essa balança desregula Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes • A fisiopatologia do H. pylori para úlcera → ele atua tanto aumentando os fatores agressores quanto diminuindo os fatores de proteção da mucosa. • Pacientes com H, pylori + o Produzem 2x mais ácido gástrico, pois ele inibe a secreção de somatostatina (hormônio que estimula a produção de gastrina), logo, uma desinibição da produção da produção de gastrina, você tem uma gastrina muito aumentada e isso acaba aumentando a produção de ácido no estômago. o Além disso, ele diminui a produção de prostaglandinas que atuam na produção de bicarbonato e muco, então diminuímos a barreira de proteção da mucosa. o Diminui a produção de fatores de crescimento epitelial → diminui a reparação do epitélio e das células epiteliais na superfície da mucosa o Pode fazer uma lesão direta da mucosa → a própria bactéria causa um processo inflamatório da mucosa gástrica Cepas cagA e vacA positivas → mais virulentas • Cascata de Pelayo Correa Helicobacter pylori → gastrite crônica ativa → ao longo do tempo pode evoluir para linfoma MALT (tto é tratar a bactéria) Helicobacter pylori → gastrite crônica ativa → atrofia gástrica com metaplasia intestinal → displasia → CA gástrico Helicobacter pylori → gastrite crônica ativa → úlcera gástrica ou duodenal Helicobacter pylori → gastrite crônica ativa → manifestações extraesofágicas Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes • AINEs: atuam na diminuição da produção de prostaglandinas → diminui a produção de bicarbonatos e muco → tira o mecanismo de defesa física da mucosa • Fatores de risco para úlcera em usuários de AINEs o Antecedente de úlcera o > 60 anos o Comorbidades (ex. cardiovascular e renal) o Altas doses diárias de AINEs o Associação com corticoides, AAS ou anticoagulantes o Infecção pelo H. pylori QUADRO CLÍNICO • As úlceras são assintomáticas em até 40% dos casos! • Dor epigástrica (em queimação ou “sensação de fome”) o Duodenal → costuma melhorar com alimentação (DOI – COME – PASSA) o Gástrica → costuma piorar com a alimentação (DOI – COME – DOI) o Periodicidade → períodos de acalmia intercalados com períodos sintomáticos o Clocking → despertar noturno pela dor. • Complicações o Hemorragia digestiva → melena ou hematêmese ▪ Em 10% dos ulcerosos, a hemorragia é a primeira manifestação da doença o Perfuração → distensão abdominal, sinais de peritonismo, instabilidade hemodinâmica o Estenose péptica (devido a cicatrização) → sinais de obstrução intestinal ▪ Ex.: pode estenosar o canal pilórico, o bulbo duodenal e o paciente começa a ter vômitos, distensão e parada da evacuação. DIAGNÓSTICO ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA o Sempre biopsiar as úlceras gástricas para excluir malignidade! Nos casos de pacientes imunossuprimidos para fazermos diagnóstico diferencial com úlceras relacionadas a infecções por CMV e herpes, por exemplo. ▪ Biopsiar as úlceras gástricas nos 4 quadrantes, tirando de 6 a 7 fragmentos. o Úlceras duodenais → sem indicação de biópsia, a não ser se você tiver alguma suspeita, pois aqui não existe essa chance maior de estar relacionada a neoplasia no duodeno. o Se foi encontrada úlcera, sempre fazer a pesquisa de H. pylori! Úlcera ativa. Úlcera ativa, mas menos que a anterior. Úlcera em cicatrização (linear com a camada de fibrina mais fina). Cicatriz de uma úlcera (convergência de pregas). • Como pesquisar o H. pylori pela endoscopia? o Histologia → 2 fragmentos de biópsia do antro, 2 fragmentos de biópsia do corpo gástrico o Teste da urease → forma indireta de pesquisar a bactéria ▪ Precisa da biópsia para ser realizado, logo é invasivo. ▪ O H. pylori produz a enzima urease que degrada a ureia em amônia e esta torna o meio mais alcalino e dessa forma o H. pylori consegue viver. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes • Então todo paciente com dor epigástrica deve fazer endoscopia? o NÃO! o Agora, em alguns casos a gente precisa fazer endoscopia: ▪ Sintoma persistentes e recorrentes ▪ > 40 anos ▪ Sinais de alarme → perda de peso, disfagia, anorexia, vômitos persistentes, anemia, hemorragia digestiva, massa palpável abdominal ou história de neoplasia gástrica em familiar de 1º grau. COMO FAZ O DIAGNÓSTICO ENTÃO? • Helicobacter pylori o Invasivos (endoscópicos) ▪ Biópsia ▪ Teste da urease o Não invasivos (não endoscópicos) ▪ Teste respiratório com ureia marcada • Você dá ureia marcada com carbono radioativo para o paciente ingerir e essa ureia, caso o H. pylori esteja presente, será degrada por meio da urease produzida pelo H. pylori e o hidrogênio (produto dessa degradação) será expirado junto com o carbono marcado. Com isso, por meio da quantidade de carbono marcado radioativo que sai na expiração do paciente, você infere se o H. pylori é positivo ou não. ▪ Pesquisa de antígeno fecal ▪ Sorologia (IgG) → utilizadas mais em estudos o Estratégia test-and-treat → teste respiratório, se der positivo você trata e vê a resposta do paciente, sem a necessidade de uma endoscopia. TRATAMENTO DIMINUIÇÃO DA SECREÇÃO ÁCIDA • Inibidor de bomba de próton (cicatrização em 92-100% dos casos) → OMEPRAZOL • Bloqueadores H2 (cicatrização em 60-85% dos casos) → RANITIDINA (alternativa ao omeprazol) • Tempo de tratamento: o Úlceras gástricas → 4-6 semanas o Úlceras duodenais → 4 semanas Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes ÚLCERAS POR AINEs • O melhor tratamento é a prevenção! • Preferir AINEs com menor potencial de agressão (COX-2 seletivos) • Pacientes de alto risco → Inibidor de Bomba de Próton (IBP) concomitante • Pesquisar e tratar H. pylori naqueles que iniciarão tratamento contínuo com AINEs e fazem parte do grupo de risco. HELICOBACTER PYLORI • 1ª linha → 14 dias o IBP o Claritromicina o Amoxicilina • 2ª linha → 14 dias o IBP o Levofloxacina o Amoxicilina • Alternativas → IBP, Bismuto, Tetraciclina e Metronidazol / IBP, Claritromicina, Tetraciclina e Metronidazol SEGUIMENTO • Endoscopia digestiva alta após o fim do tratamento da úlcera gástrica o Avaliar cicatrização ▪ Se não cicatrizada → prolongar o tratamentopor mais 6 semanas e considerar aumentar dose de IBP o Biopsiar cicatriz (excluir malignidade) • H. pylori → avaliação de erradicação o 4 semanas após o fim do tratamento o Mais recomendado → teste respiratório o No caso de necessidade de repetir a endoscopia (úlceras gástricas) → histologia e urease (combinar dois métodos) COMPLICAÇÕES HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA (HDA) • Complicação mais frequente → 15 a 20% • Úlcera péptica → causa mais comum de HDA • Maioria por úlcera duodenal • Taxa de mortalidade → 5 a 10% • Tratamento endoscópico/IBP EV PERFURAÇÃO • Ocorre em 5% dos pacientes • Responsável por 2/3 das mortes por úlcera • Úlceras terebrantes → perfuração bloqueada por órgãos adjacentes • Tratamento cirúrgico ESTENOSE PÉPTICA • Ocorre em 2% dos casos (por edema ou cicatrização). Mais comum no canal pilórico. • Tratamento endoscópico (por dilatação por balão p. ex.). Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes MENSAGENS FINAIS • Etiologias mais comuns de úlcera → H. pylori e AINEs • SEMPRE biopsiar úlceras gástricas • SEMPRE pesquisar H. pylori se úlcera foi encontrada na endoscopia • Tratamento da úlcera → IBP (com chance de cicatrização em até 100%) • Repetir endoscopia após tratamento para avaliar a cicatrização e biopsiar a úlcera • Tratamento do H. pylori → IBP, Claritromicina e Amoxicilina (1ª escolha) durante 14 dias • Controle de erradicação do H. pylori → endoscopia (histologia + teste da urease / teste respiratório ou antígeno fecal) • As úlceras podem complicar com hemorragia digestiva, perfuração e estenose péptica.
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