Buscar

eST-101 - Apostila ALUNO 2020

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 146 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 146 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 146 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
 
ESCOLA POLITÉCNICA DA USP 
 
 
 
 
 
PECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA 
 
EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA 
 
 
 
 
 
eST-101 / STR-101 
INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE SEGURANÇA NO TRABALHO 
 
 
ALUNO 
 
 
 
SÃO PAULO, 2020 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
 
EPUSP/PECE 
 
DIRETOR DA EPUSP 
LIEDI LEGI BARIANI BERNUCCI 
 
COORDENADOR GERAL DO PECE 
LUCAS ANTÔNIO MOSCATO 
 
EQUIPE DE TRABALHO 
 
CCD – COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA 
SÉRGIO MÉDICI DE ESTON 
 
VICE - COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA 
WILSON SHIGUEMASA IRAMINA 
 
PP – PROFESSOR PRESENCIAL 
ALESSANDRA ISABELLA SAMPAIO MARTINS 
 
 
CPD – CONVERSORES PRESENCIAL PARA DISTÂNCIA 
CAROLINA BATISTA 
LUCAS BICUDO TING 
RENATA JULIANA LEMOS MARINHO 
RODRIGO FELIZARDO NOGUEIRA SOUZA 
 
FILMAGEM E EDIÇÃO 
RODRIGO FELIZARDO NOGUEIRA SOUZA 
FELIPE THADEU BONUCCI 
 
IMAD – INSTRUTORES MULTIMÍDIA Á DISTÂNCIA 
DIEGO DIEGUES FRANCISCA 
FELIPE BAFFI DE CARVALHO 
FELIPE THADEU BONUCCI 
RENATA JULIANA LEMOS MARINHO 
 
CIMEAD – CONSULTORIA EM INFORMÁTICA, MULTIMÍDIA E EAD 
CARLOS CÉSAR TANAKA 
JORGE MÉDICI DE ESTON 
SHINTARO FURUMOTO 
 
GESTÃO TÉCNICA 
MARIA RENATA MACHADO STELLIN 
 
APOIO ADMINISTRATIVO 
NEUSA GRASSI DE FRANCESCO 
VICENTE TUCCI FILHO 
 
 
 
 
 
 
“Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, 
sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este documento”
 
 
 
SUMÁRIO 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
ii 
SUMÁRIO 
CAPÍTULO 1: A ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO .............................. 1 
1.1 A HISTÓRIA DO PREVENCIONISMO E O CONCEITO DE PREVENÇÃO ....... 2 
1.2 A EVOLUÇÃO DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO .............. 4 
1.3 O ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO: RESPONSABILIDADES E 
ATRIBUIÇÕES ...................................................................................................................... 7 
1.4 REGULAMENTAÇÕES DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO
 11 
1.5 ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS - ARQUIVO EM ANEXO...................... 13 
1.6 TESTES ......................................................................................................................... 14 
CAPÍTULO 2: A ENGENHARIA DE SEGURANÇA NO CONTEXTO CAPITAL-
TRABALHO ....................................................................................................................... 15 
2.1 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E A GESTÃO ORGANIZACIONAL .......... 16 
2.2 DIFICULDADES NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................................... 22 
2.3 CULTURA ORGANIZACIONAL .......................................................................... 29 
2.4 CASE: BHOPAL .................................................................................................. 36 
2.5 CASE: CHALLENGER ........................................................................................ 37 
2.6 TESTES ............................................................................................................... 38 
CAPÍTULO 3: CONCEITOS E TERMINOLOGIA EM SST .............................................. 39 
3.1 CONCEITOS E TERMINOLOGIA EM SST ........................................................ 40 
3.2 CASE: GOIÂNIA – CÉSIO 137 ........................................................................... 54 
3.3 TESTES ............................................................................................................... 55 
CAPÍTULO 4: ERROS HUMANOS E ENGENHARIA DE FATORES HUMANOS ........ 56 
4.1 COMPORTAMENTO HUMANO E TIPOS DE ERROS ...................................... 57 
4.2 ENGENHARIA DE FATORES HUMANOS ......................................................... 67 
4.3 CASE: THREE MILE ISLAND ............................................................................. 72 
4.4 TESTES .............................................................................................................. 73 
CAPÍTULO 5: LIDERANÇA E MOTIVAÇÃO NA ÁREA DE SST ................................... 74 
5.1 LIDERANÇA ........................................................................................................ 75 
5.2 FEEDBACK E RECONHECIMENTO .................................................................. 79 
5.3 MOTIVAÇÃO ....................................................................................................... 81 
5.4 TESTES .............................................................................................................. 88 
CAPÍTULO 6: COMUNICAÇÃO E TREINAMENTO NA ÁREA DE SST ....................... 89 
6.1 COMUNICAÇÃO ................................................................................................. 90 
6.2 TREINAMENTO................................................................................................... 96 
6.3 CASE: PLATAFORMA PIPER ALPHA ............................................................. 102 
6.4 TESTES ............................................................................................................ 103 
CAPÍTULO 7: EVENTOS INDESEJADOS, MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO E CUSTOS
 ......................................................................................................................................... 104 
7.1 EVENTOS INDESEJADOS: CONCEITUAÇÃO ............................................... 105 
7.2 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO ...................................................................... 107 
7.2.1 TEORIA DOMINÓ ............................................................................................. 108 
7.2.2 ANÁLISE DE ÁRVORE DE FALHAS ................................................................ 109 
 
 
SUMÁRIO 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
iii 
7.2.3 MODELO DO QUEIJO SUÍÇO ......................................................................... 110 
7.2.4 RODA DE NERTNEY ........................................................................................ 110 
7.3 CUSTOS DE UM ACIDENTE............................................................................ 113 
7.4 CASE: MAYDAY – DESASTRES AÉREOS ..................................................... 115 
7.5 TESTES ............................................................................................................ 116 
CAPÍTULO 8: MODELOS DE JORNADA DE MATURIDADE EM SST ....................... 117 
8.1 MODELOS DE JORNADA ................................................................................ 118 
8.1.1 MODELO DE JORNADA: DUPONT ................................................................. 118 
8.1.2 MODELO DE JORNADA: ANGLO AMERICAN ............................................... 120 
8.1.3 MODELO DE JORNADA: SHELL ..................................................................... 124 
8.1.4 OUTROS MODELOS DE JORNADA................................................................ 129 
8.2 TESTES ............................................................................................................ 133 
CAPÍTULO 9: OUTROS “CASES” E SEUS IMPACTOS NA ÁREA DE SST ............. 134 
9.1 CASE: BRITISH PETROLEUM (BP)................................................................. 135 
9.2 CASE: EXXON VALDEZ ................................................................................... 136 
9.3 CASE: REMEMBER CHARLIE ......................................................................... 137 
9.4 CASE: MINA DE MOURA .................................................................................138 
9.5 TESTES ............................................................................................................. 140 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 141 
 
 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
1 
 
 
 
CAPÍTULO 1: A ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO 
 
 
 
OBJETIVOS DO ESTUDO 
• Prover um breve histórico do prevencionismo; 
• Apresentar a evolução da engenharia de segurança do trabalho; 
• Discutir o conceito de prevenção e o papel do engenheiro de segurança do trabalho. 
 
Ao término deste capítulo você deverá estar apto a: 
• Entender que a atuação do engenheiro de segurança do trabalho está condicionada 
a um cenário que muitas vezes ultrapassa os “muros da fábrica”; 
• Entender as razões dessa ampla atuação do engenheiro de segurança do trabalho, 
tendo em vista o cenário histórico do prevencionismo e suas responsabilidades. 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
2 
1.1 A HISTÓRIA DO PREVENCIONISMO E O CONCEITO DE PREVENÇÃO 
 
Se voltarmos à época da Revolução Industrial, é possível observar que havia uma 
preocupação fundamentada apenas na reparação de danos à saúde e à integridade física 
dos trabalhadores. Praticamente não se pensava em nenhuma ação, atitude ou medida de 
prevenção. Esse novo paradigma começou a ficar caracterizado por volta de 1926, através 
dos estudos de um norte americano conhecido por Heinrich. Com ele, pode-se observar o 
alto custo que representava para a seguradora na qual ele trabalhava reparar os danos 
decorrentes de acidentes e doenças do trabalho. A partir dessas notas, foram 
desenvolvidas várias ideias para que esse problema pudesse ser gerenciado dentro das 
empresas, privilegiando a prevenção. Por esta razão, Heinrich é considerado o precursor 
ou o “pai” do prevencionismo. A Figura 1 a seguir ilustra a pirâmide de Heinrich, que 
trabalhava em uma empresa de seguros e após estudar cerca de 75.000 acidentes, 
desenvolveu uma proporção entre incidentes, acidentes leves e acidentes graves. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1 – Pirâmide de Heinrich 
Fonte: internet (site não encontrado). 
 
 Ao observar a pirâmide de Heinrich, chama a atenção que 88% das causas dos 
eventos indesejados provém do que ele chamou de “atos inseguros”, uma denominação 
associada ao comportamento humano (que será discutida com detalhes no capítulo 4 desta 
apostila); 10% provém de condições do ambiente de trabalho, que ele batizou de 
“condições inseguras”; 2% de causas não previsíveis, normalmente relacionadas aos 
desastres naturais como tornados, chuvas de grande monta, tsunamis etc. 
 Em 1966, o também norte americano Frank Bird Jr. propôs um novo enfoque para 
as questões de segurança e saúde, a partir da ideia de que a empresa deveria se preocupar 
não somente com os danos aos trabalhadores, mas também com os danos às instalações, 
aos equipamentos e aos seus bens em geral. Ele chamou seu enfoque de Loss Control e 
assim como Heinrich, desenvolveu uma pirâmide, ilustrada na Figura 2 a seguir. 
 
 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 – Pirâmide de Bird 
Fonte: internet (site não encontrado). 
 
 
Quatro anos depois (1970), ampliando um pouco a extensão do enfoque de Bird, o 
canadense John Fletcher deu outra designação a essas ideias, acrescentando a palavra 
“total” ao enfoque do norte americano, ou seja, Total Loss Control, incrementando o escopo 
proposto por Bird no sentido de englobar também as questões de proteção ambiental, de 
segurança patrimonial e de segurança do produto. A Figura 3 a seguir ilustra a pirâmide de 
Fletcher. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3 – Pirâmide de Fletcher 
Fonte: internet (site não encontrado). 
 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
4 
 
 Independente de qual seja a pirâmide, o que é relevante é entender que há uma 
proporcionalidade entre os eventos cujas consequências são menores e os eventos do 
topo, cujas consequências são mais severas ou fatais. A ideia não é decorar os números 
de cada figura, mas saber que na área de saúde e segurança deve-se atuar na base da 
pirâmide. Isso significa que ao se preocupar em corrigir os pequenos problemas e 
interromper a cadeia de eventos, provavelmente se conseguirá evitar uma ocorrência que 
tenha como consequência a morte ou uma lesão incapacitante, por exemplo. 
Dentro desse contexto de Total Loss Control proposto pelo canadense, é importante 
ressaltar que um dos maiores desafios que a indústria como um todo tem atualmente é 
manter sua competitividade, assegurando um meio ambiente saudável e seguro e 
condições de trabalho que não ameacem a vida dos funcionários nem sua integridade 
física. Para permanecerem competitivas em um mercado acirrado e cada vez mais 
exigente, as empresas deverão, portanto, desenvolver processos novos e melhores, bem 
como implantar sistemas de gestão voltados principalmente para a prevenção da poluição 
e de acidentes, buscando a melhoria contínua e atendendo, no mínimo, a legislação 
vigente. 
E o que se entende por prevenção? É qualquer ação executada dentro da 
perspectiva da engenharia de segurança do trabalho, com o objetivo de propor medidas de 
controle para as condições perigosas, visando evitar ocorrências que possam fazer com 
que o trabalho venha a ser a causa de sofrimento, doenças, morte e incapacidade para 
quem o realiza. 
Como abordagem para a prevenção de acidentes, deve-se priorizar aquelas 
estratégias que reduzirão de forma mais efetiva as lesões. As prioridades devem ser dadas 
à medida que protejam automaticamente sem demandar qualquer ação por parte dos 
indivíduos. Esse aspecto será discutido com mais detalhes um pouco mais adiante, no 
capítulo que trata sobre conceitos e terminologia. 
 
 
1.2 A EVOLUÇÃO DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO 
 
A saúde e segurança do trabalho é a parte da engenharia que trata de reconhecer, 
avaliar e controlar as condições perigosas e os fatores humanos no ambiente de trabalho, 
com o intuito de evitar acidentes e danos, principalmente à saúde e à integridade física do 
trabalhador. O objetivo da saúde e segurança do trabalho é atenuar os riscos, usando 
recursos tecnológicos disponíveis, treinamentos, a busca da conscientização dos 
trabalhadores em relação às condições perigosas e seus riscos associados, sem nunca 
esquecer que o homem não é uma máquina, e as variáveis humanas existem e devem ser 
respeitadas. 
De acordo com Lago (2006), a segurança como sinônimo de prevenção de acidente 
evoluiu de uma forma crescente, englobando um número cada vez maior de fatores e 
atividades, desde as primeiras ações de reparação de danos até um conceito mais amplo 
onde se buscou a prevenção de todas as situações geradoras de efeitos indesejados para 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança doTrabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
5 
o trabalho. Surgiram e evoluíram em diversos países ações tendentes a prevenir danos às 
pessoas, decorrentes de atividades laborais. 
Deve-se destacar a atuação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que 
desde a sua constituição em 1919, tem atribuído um papel prioritário aos temas de higiene 
e segurança. 
Somente após a revolução de 1930 é que realmente aumentaram as reivindicações 
trabalhistas e passou-se a contar com uma legislação mais direcionada. Com o governo 
de Getúlio Vargas, o Brasil teve em sua estrutura trabalhista uma transformação 
significativa. Foi criado o Ministério do Trabalho, a carteira profissional, estabelecida a 
jornada de trabalho (comércio e indústria) e foi dada atenção ao trabalho da mulher e do 
menor. Em primeiro de maio de 1943, com o Decreto 5452, foi então instituída a 
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que, em seu capítulo V, título II, versava sobre 
a segurança do trabalho. 
Até o início da década de 70, a questão da segurança era tratada unicamente no 
âmbito das empresas, sem maiores interferências externas (do governo ou do público). A 
partir do início da década de 70, começaram a surgir os primeiros sinais de insatisfação de 
algumas parcelas da população, de autoridades governamentais e de alguns setores da 
própria indústria, com a ocorrência de acidentes de grande repercussão. 
Em maio de 1977, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu o desafio 
“saúde para todos no ano 2000”, onde era fixada a meta de que os governos deveriam 
proporcionar a todos os cidadãos um nível de saúde que lhes permitisse levar uma vida 
social e economicamente produtiva. Em setembro de 1978, a OMS realizou na cidade de 
Alma-Ata (República do Cazaquistão), a Conferência Internacional sobre os “cuidados 
primários à saúde”, onde na ocasião foi formulada a Declaração de Alma-Ata, um 
compromisso assumido por todas as 134 nações participantes: 
 
A conferência reafirma que a saúde (estado completo de bem 
estar físico, mental e social, não simplesmente a ausência de 
doença ou enfermidade) é um direito humano fundamental, e 
que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais 
importante meta social mundial, cuja realização requer a ação 
de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor 
saúde. 
 
Com a portaria 3.214, de 8 de junho de 1978, surgiram as 28 primeiras Normas 
Regulamentadoras (NRs). A partir de 1993, iniciou-se uma série de discussões para a 
mudança no modelo de elaboração das normas. A portaria 393 do Ministério do Trabalho, 
de 9 de abril de 1996, adota o sistema tripartite (governo, empregados e empregadores), 
princípio esse preconizado pela Organização Internacional do Trabalho, em busca do 
consenso nas negociações. 
Em outubro de 2005, durante o V Congresso Nacional sobre Condições e Meio 
Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção, foi assinado o protocolo de intenção 
entre a OIT e o governo Brasileiro, para a divulgação e implantação das diretrizes sobre 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
6 
sistemas de gestão de segurança e saúde no trabalho, que visava contribuir para a 
prevenção das lesões e doenças relacionadas ao trabalho. 
Em 7 de novembro de 2011 foi publicada a Política Nacional de Segurança e Saúde 
no Trabalho (PNSST), através do Decreto 7.602, assinado por Dilma Rousseff e 
envolvendo três ministérios: Trabalho e Emprego; Saúde; Previdência. 
Praticamente seis meses depois da publicação da PNSST, foi sancionada por Dilma 
Rousseff a Lei 12.645, de 16 de maio de 2012, fruto de reivindicações de muitos 
profissionais da área. Essa Lei institui o dia 10 de Outubro como dia nacional de segurança 
e de saúde nas escolas. Nessa data, as entidades governamentais e não governamentais 
podem, em parceria com as secretarias municipais e estaduais, desenvolver atividades 
como palestras, concursos de frase ou redação, eleição de cipeiro escolar e/ou visitas em 
empresas. 
Com esse movimento crescente em termos de preocupação com o tema 
engenharia de segurança do trabalho em seu aspecto mais abrangente, é importante 
entender as peculiaridades dessa área de atuação profissional, o que ela incorpora, suas 
definições e outras questões. 
A engenharia de segurança do trabalho incorpora conhecimentos oriundos de 
disciplinas diversas como economia, direito, psicologia, sociologia, medicina, fisiologia, 
ciências ambientais, além das provenientes das diferentes modalidades da engenharia. 
 
 
Quadro 1.1: Qual a abordagem da engenharia de segurança do trabalho? 
 
A engenharia de segurança do trabalho identifica, analisa, avalia e 
controla as condições perigosas nos locais de trabalho, projetando 
sistemas, instruindo, sugerindo e colaborando na modificação da 
organização do trabalho com o objetivo de promover a melhoria dos 
locais de trabalho e buscar, sempre que possível, o conceito de 
prevenção. 
 
 
As questões relativas à saúde e segurança do trabalhador exigem abordagens 
multidisciplinares, onde sociólogos, ergonomistas, químicos, biólogos, médicos e outros 
que, integrados com a engenharia de segurança do trabalho, buscam compreender o 
ambiente de trabalho e encontrar estratégias que possam promover medidas para o efetivo 
controle da saúde e da integridade física dos trabalhadores. 
A saúde no trabalho, usualmente chamada de higiene ocupacional, constitui outro 
campo de conhecimento que trabalha integrado com a engenharia de segurança. Assim 
como a engenharia de segurança, a higiene ocupacional incorpora conhecimentos de 
diferentes disciplinas com o objetivo de promover a antecipação, o reconhecimento, a 
avaliação e o controle das condições perigosas capazes de ocasionar alterações na saúde 
do trabalhador. 
Mas qual é, realmente, a diferença entre segurança e saúde? De acordo com Asfahl 
(2005), essas palavras são tão comuns que quase todo mundo tem uma imagem formada 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
7 
sobre o conceito de segurança e sobre o conceito de saúde. É inquestionável que se 
proteger de equipamentos é uma questão de segurança, e que partículas de amianto em 
suspensão no ar representam uma condição perigosa para a saúde, contudo algumas 
condições perigosas não são tão fáceis de classificar como segurança ou saúde. Algumas 
condições podem ser perigosas tanto para a segurança, quanto para a saúde. 
A segurança trata dos efeitos agudos das condições perigosas, ao passo que a 
saúde trata de seus efeitos crônicos. Um efeito agudo é uma reação repentina a uma 
circunstância adversa; um efeito crônico é uma deterioração a longo prazo, devido à 
exposição prolongada a uma condição adversa. 
Os termos “crônico” e “agudo” estão diretamente relacionados com tempo + 
consequência. É como se o “agudo” estivesse associado ao imediato (curtíssimo prazo) e 
o “crônico” estivesse mais associado ao médio e longo prazo. 
A segurança trata dos efeitos agudos porque são “imediatos”. Em função de uma 
ação que gera o acidente, haverá uma consequência quase que imediata (uma lesão). 
Tomando por base o manuseio de ferramentas em uma bancada, caso haja um acidente 
a consequência se manifesta imediatamente (como um corte, um arranhão, uma lesão por 
prensamento de algum dedo). A causa-efeito ocorre num curto espaço de tempo. 
A saúde trata dos efeitos crônicos porque não são imediatos (vão se manifestando 
gradualmente). Um funcionário que trabalhe em uma bancada com uma postura incorreta 
no seu dia-a-dia, ao longode certo tempo (que não é imediato), começará a sofrer as 
consequências, como por exemplo, dores lombares. Nesse caso, a causa-efeito ocorre 
num espaço de tempo médio / longo (pois ninguém trabalhando apenas uma hora em uma 
bancada, ainda que em uma postura inadequada, terá sua coluna comprometida ou 
ganhará uma lombalgia). Essa consequência só aparece após certo tempo de exposição 
e vai se manifestando gradualmente. Por isso é chamada de “crônica”. 
 
1.3 O ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO: RESPONSABILIDADES E 
ATRIBUIÇÕES 
 
O contexto social e político no qual o engenheiro de segurança do trabalho atua é 
bastante turbulento. Os sindicatos e os trabalhadores lutam por relações de trabalho cada 
vez mais democráticas. As demandas sociais são cada vez maiores e exige-se das 
organizações não somente que elas sejam mais competitivas e produtivas, mas também 
que tenham respeito com os consumidores, maior compromisso e responsabilidade social 
com as questões ambientais e com os trabalhadores e que acima de tudo, se mostrem 
transparentes sobre como fazem as coisas. 
O exercício profissional do engenheiro de segurança do trabalho não concorre e 
nem se confunde com a de outros profissionais. São atuações que se complementam na 
aplicação de um conjunto de conhecimentos técnicos e científicos na busca permanente 
de encontrar os meios possíveis para promover a segurança e saúde dos trabalhadores 
que sejam viáveis, não somente técnica e economicamente, mas acima de tudo 
eticamente. 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
8 
Pode-se acrescentar que esse conjunto de “meios possíveis para promover a 
segurança e a saúde” visa conhecer a magnitude dos acidentes e doenças relacionados 
ao trabalho, identificar os fatores de riscos ocupacionais, estabelecer medidas de proteção 
e prevenção e avaliar os serviços de saúde de forma permanente, visando à transformação 
das condições de trabalho e a garantia da qualidade da assistência à saúde do trabalhador. 
A partir da década de 70, o trabalhador deixa de ser um mero espectador dos 
assuntos relacionados ao seu trabalho e adota uma postura mais participativa e 
questionadora sobre os procedimentos empresariais que direcionam as questões relativas 
às condições de trabalho. 
Essa demanda social é refletida nas conquistas de novas leis que incorporam 
princípios fundamentais do movimento dos trabalhadores, tais como o direito à informação 
sobre a natureza das condições perigosas e as medidas de controle que estão sendo 
adotadas pelo empregador, os resultados dos exames médicos e das avaliações 
ambientais, o direito à recusa ao trabalho em condições de risco grave e iminente para a 
saúde ou à vida, a realização de estudos e investigações das condições de trabalho, entre 
outras. 
Diante do exposto, é importante destacar que a função “segurança e saúde” tem 
características tanto de linha, quanto de suporte. Conforme Asfahl (2005), a concretização 
física da segurança e da saúde no local de trabalho constitui uma função de linha. As 
práticas de trabalho operacionais, por exemplo, são de responsabilidade dos próprios 
trabalhadores, sob a direção de seu supervisor de linha. Por exemplo, em indústrias em 
que o departamento de manutenção é também considerado como uma função de linha, a 
solução dos problemas das instalações é uma responsabilidade direta dos operadores de 
manutenção e de seus supervisores de linha. Nesse caso, o líder de segurança e saúde 
desempenha uma função de suporte ao atuar como consultor na tarefa de auxiliar, 
estimular e fazer recomendação à função de linha, para que ela alcance os objetivos de 
saúde e segurança. 
O que deve ser entendido com essa afirmação “SST como função de linha e de 
suporte” é que a segurança é responsabilidade de todos! Tanto as linhas de negócio 
(imagine que uma empresa atue em diferentes segmentos - químico, agrícola, 
farmacêutico, prestação de serviços etc.) quanto o departamento de SST são responsáveis 
por assegurar o cumprimento das políticas, procedimentos e regras de SST. O 
departamento de SST, por deter o conhecimento técnico, normalmente fornece o suporte 
para o estabelecimento das regras, do que pode e do que não pode, visando a prevenção. 
A área de SST acaba atuando como uma consultoria interna, através de um olho clínico 
treinado para enxergar o que pode dar errado e que tipo de controle é necessário para 
gerenciar a situação. Por isso, SST tem característica de linha (assegurar o cumprimento 
dentro do seu próprio departamento - que inclui técnicos e engenheiros de segurança, 
enfermeiros, médicos, estagiários, gerências específicas) e de suporte (prover 
conhecimento técnico na área para que se cumpra a legislação e permita à empresa criar 
uma cultura de segurança, por exemplo). 
Outro aspecto que deve ser levado em conta pelo engenheiro de segurança do 
trabalho é a questão econômica. Os líderes de saúde e segurança às vezes sentem-se 
desanimados ao descobrir que a alta direção baseia as decisões sobre saúde e segurança 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
9 
em dinheiro. Mas a realidade nua e crua é que os negócios existem para gerar lucros e 
tudo o que uma empresa faz se relaciona, direta ou indiretamente, com os aspectos 
econômicos. 
A prevenção de lesões e doenças ocupacionais pode ser reformulada como um 
objetivo de natureza econômica. Vista com essa perspectiva, tal objetivo adquire maior 
significado para a direção de uma empresa do que simples conceitos humanitários. 
Os acidentes, as lesões e as doenças acarretam custos inegáveis que em nada 
acrescentam ao valor dos produtos fabricados ou dos serviços prestados pela empresa. É 
responsabilidade do engenheiro de segurança do trabalho tentar estimar esses custos e 
manter a alta direção informada, para que sejam tomadas decisões sensatas sobre os 
investimentos em prevenção. 
Segundo Caporali (2009), para enfrentar os desafios para melhorar as condições 
do ambiente de trabalho e a segurança do trabalhador, uma das estratégias é que como 
profissionais da área, deve-se começar a justificar os projetos dentro do ponto de vista 
econômico. Higiene ocupacional, segurança do trabalho e ergonomia são áreas que valem 
à pena ser atendidas. A questão é quantificar o custo que se tem por não resolver um 
problema dessas áreas. Os gastos associados a uma lesão normalmente não são vistos 
de forma clara no sistema de contabilidade tradicional de uma empresa. São vários custos 
indiretos que vão se acumulando e representam um gasto bem severo para a indústria. 
Mas não é um custo que o empregador possa apertar um botão e saber quanto ele gastou 
em higiene no mês passado ou quanto economizou prevenindo. “Fizemos vários estudos 
em Porto Rico. Conseguimos justificar para o empregador que valia mais à pena 
desenvolver um controle de engenharia para resolver um problema de ruído do que se 
basear no uso de proteção auditiva. Difícil foi identificar os custos e oportunidades 
associadas aos programas gerenciais que normalmente são vinculados ao uso de 
equipamento de proteção individual. Proteção respiratória, proteção auditiva fazem parte 
de programas de gestão, que consomem muitos recursos da empresa, mas esse recurso 
não é identificado economicamente de forma fácil. Tanto no continente americano como 
no mundo inteiro, é muito importante começar a justificar os projetos sob esse ponto de 
vista. Os gerentes de segurança e de higiene precisam saber justificar os projetos nos 
mesmos termos que os outrosgerentes da empresa fazem, em termos de valores. 
Geralmente as decisões de uma empresa tomadas por um diretor industrial ou gerente 
geral buscam manter a empresa viva, e a empresa só vive se ela é produtiva, e só é 
produtiva se ganha dinheiro. Então, enquanto todos os outros gerentes justificam os seus 
projetos dizendo “quanto nós vamos aumentar os lucros ou em quanto nós vamos diminuir 
os custos”, a gerência de segurança e higiene justifica os seus projetos com base em 
atendimento a regulamentos. A legislação pode ser usada do ponto de vista ideológico 
como justificativa, mas do ponto de vista gerencial devemos começar a justificar os nossos 
projetos de outra forma”. 
Além da questão econômica, o engenheiro de segurança do trabalho tem que 
pensar também em treinamentos. Apesar de haver uma tendência de se concentrarem nas 
condições inseguras, os especialistas da área ainda atribuem a maioria das lesões e 
doenças dos trabalhadores a ações inseguras (ou os famosos “atos inseguros” – que serão 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
10 
discutidos com mais detalhes em um item específico dessa disciplina). A Figura 4 a seguir 
mostra alguns passos para a atuação do profissional da área de SST. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4 - Atuação efetiva do profissional de SST 
Fonte: Revista Proteção (coluna de Cosmo Palásio de Moraes Junior) 
 
De acordo com o técnico de segurança do trabalho Cosmo Palásio de Moraes 
Júnior (na ocasião dessa publicação): “O fato é que hoje cuidamos das formigas enquanto 
os elefantes andam soltos pelas organizações, adoecendo, mutilando e matando. Se o 
tempo dedicado às pequenas coisas fosse dedicado ao cuidado das grandes, as ações 
implementadas seriam mais eficazes”. 
Os hábitos inseguros de trabalho estão profundamente enraizados, até mesmo 
entre os trabalhadores mais jovens. A sociedade e seus padrões, influenciados pela mídia, 
enaltecem as atividades de alto risco. Desde muito pequenas, as crianças aprendem que 
os heróis são pessoas ousadas, que arriscam suas vidas principalmente no exercício da 
profissão. 
Hábitos inseguros profundamente enraizados, associados ao não conhecimento 
das condições perigosas do ambiente de trabalho, constituem as principais barreiras para 
a segurança e saúde do trabalhador. E é exatamente nessas barreiras que o programa de 
treinamento deve se concentrar. Um dos maiores erros que um engenheiro de segurança 
do trabalho pode cometer é acreditar que ele é o principal instrutor. Na verdade, os 
principais instrutores de segurança e saúde ou de qualquer outro aspecto do trabalho são 
os supervisores imediatos da linha. Seu contato direto com os funcionários determina como 
a tarefa será realizada. Isso mostra que boa parte do treinamento deveria ser informal e 
realizada no próprio local de trabalho. 
Porém, existe também a necessidade de um treinamento formal, em sala, sobre os 
princípios de segurança, normas, reconhecimento de condições perigosas, gerenciamento 
de risco e outros assuntos, direcionado principalmente para supervisores. Nesse caso, o 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
11 
engenheiro de segurança do trabalho pode oferecer esse treinamento diretamente ou atuar 
como suporte, fornecendo informações e recursos de treinamento necessários. 
 
1.4 REGULAMENTAÇÕES DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO 
 
 A seguir, algumas legislações associadas direta e especificamente com a área de 
engenharia de segurança do trabalho, apenas para ciência e referência. 
 
• Lei Federal 7410 (27/11/1985) 
Permitiu o exercício da profissão de Engenheiro de Segurança do Trabalho somente 
para aqueles portadores de curso de especialização (pós-graduação). 
• Parecer CFE MEC 19 (27/01/1987) 
Curriculum básico do curso de especialização em Engenharia de Segurança do 
Trabalho 
• Resolução 359 (31/07/1991) 
Dispõe sobre o exercício profissional do Engenheiro de Segurança do Trabalho 
• Resolução CONFEA 325 (27/11/1987) 
Dispõe sobre o exercício profissional, o registro e as atividades do Engenheiro de 
Segurança do Trabalho, e dá outras providências 
 
Resolução CONFEA nº 325 de 27/11/1987 
 
 
O CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA, usando 
das atribuições que lhe conferem a letra “f”, do artigo 27 da Lei n.º 5.194, de 24 de 
dezembro de 1966 e o art. 4º do Decreto nº 92.530 de 09 de abril de 1966; 
 
CONSIDERANDO, que a Lei nº 7.410/85 veio excepcionar a legislação anterior que regulou 
os cursos de especialização e seus objetivos, tanto que o seu art. 6º revogou as 
disposições em contrário; 
 
CONSIDERANDO a aprovação, pelo Conselho Federal de Educação do currículo básico 
do curso de Engenheiro de Segurança do Trabalho – Parecer nº 19/87; 
 
CONSIDERANDO, ainda, que tal Parecer nº 19/87 é expresso em ressaltar “dever a 
Engenharia de Segurança do Trabalho voltar-se precipuamente para a proteção do 
trabalhador em todas as unidades laborais no que se refere a questões de segurança, 
inclusive higiene do trabalho, sem interferência específica nas competências legais e 
técnicas estabelecidas para as diversas modalidades da Engenharia, Arquitetura e 
Agronomia”; 
 
CONSIDERANDO, ainda, que o mesmo Parecer concluiu por fixar um currículo básico 
único e uniforme para a pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, 
independentemente da modalidade do curso de graduação concluído pelos profissionais 
engenheiros e arquitetos; 
 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
12 
CONSIDERANDO que a Lei nº 7.410 faculta a todos os titulados como Engenheiro a 
faculdade de se habilitar como Engenheiros de Segurança de Trabalho, estando portanto, 
amparados inclusive os Engenheiros da área de Agronomia; 
 
CONSIDERANDO, por fim, a manifestação da Secretaria de Segurança e Medicina do 
Trabalho, prevista no art. 4º do Decreto nº 92.530/86, pelo qual “a Engenharia de 
Segurança do Trabalho visa à prevenção de riscos nas atividades de trabalho com vistas 
à defesa da integridade da pessoa humana”. 
 
RESOLVE: 
 
Art. 1º - O exercício da especialização de Engenheiro de Segurança do Trabalho é 
permitido, exclusivamente: 
 
I – ao Engenheiro ou Arquiteto, portador de certificado de conclusão de curso de 
especialização a nível de pós-graduação, em Engenharia de Segurança do Trabalho; 
 
II – ao portador de certificado de curso de especialização em Engenharia de Segurança do 
Trabalho, realizado em caráter prioritário, pelo Ministério do Trabalho; 
 
III – ao possuidor de registro de Engenheiro de Segurança do Trabalho, expedido pelo 
Ministério do Trabalho, dentro de 180 (cento de oitenta) dias da extinção do curso referido 
no item anterior. 
 
Art. 2º - Os Conselhos Regionais concederão o registro dos Engenheiros de Segurança do 
Trabalho procedendo à anotação nas carteiras profissionais já expedidas. 
 
Art. 3º - Para o registro só serão aceitos certificados de cursos de pós-graduação 
credenciados pelo Conselho Federal de Educação, ressalvadas as hipóteses 
contempladas nos incisos II e III do art. 1º. 
 
Art. 4º - As atividades dos Engenheiros e Arquitetos na especialidade de Engenharia de 
Segurança do Trabalho são as seguintes: 
 
1- Supervisionar, coordenar e orientar tecnicamente os serviços de Engenharia de 
Segurança Trabalho; 
2- Estudar as condições de segurança dos locais de trabalho e das instalaçõese 
equipamentos, com vistas especialmente aos problemas de controle de risco, controle de 
poluição, higiene do trabalho, ergonomia, proteção contra incêndio e saneamento; 
3- Planejar e desenvolver a implantação de técnicas relativas a gerenciamento e controle 
de riscos; 
4- Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos técnicos e indicar 
medidas de controle sobre grau de exposição e agentes agressivos de riscos físicos, 
químicos e biológicos, tais como: poluentes atmosféricos, ruídos, calor radiação em geral 
e pressões anormais, caracterizando as atividades, operações e locais insalubres e 
perigosos; 
5- Analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas, propondo medidas preventivas 
e corretivas e orientando trabalhos estatísticos, inclusive com respeito a custos; 
6- Propor políticas, programas, normas e regulamentos de Segurança do Trabalho, zelando 
pela sua observância; 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
13 
7- Elaborar projetos de sistemas de segurança e assessorar a elaboração de projetos de 
obras, instalações e equipamentos, opinando do ponto de vista da Engenharia de 
Segurança; 
8- Estudar instalações, máquinas e equipamentos, identificando seus pontos de risco e 
projetando dispositivos de Segurança; 
9- Projetar sistemas de proteção contra incêndio, coordenar atividades de combate a 
incêndio e de salvamento e elaborar planos para emergência e catástrofes; 
10- Inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a Segurança do Trabalho, 
delimitando áreas de periculosidade; 
11- Especificar, controlar e fiscalizar sistemas de proteção coletiva e equipamentos de 
segurança, inclusive os de proteção individual e os de proteção contra incêndio, 
assegurando-se de sua qualidade e eficiência; 
12- Opinar e participar da especificação para aquisição de substâncias e equipamentos 
cuja manipulação, armazenamento, transporte ou funcionamento possam apresentar 
riscos, acompanhando o controle do recebimento e da expedição; 
13- Elaborar planos destinados a criar e desenvolver a prevenção de acidentes, 
promovendo a instalação de comissões e assessorando-lhes o funcionamento; 
14- Orientar o treinamento específico de segurança do trabalho e assessorar a elaboração 
de programas de treinamento geral, no que diz respeito à Segurança do Trabalho; 
15- Acompanhar a execução de obras e serviços decorrentes da adoção de medidas de 
segurança, quando a complexidade dos trabalhos a executar assim o exigir; 
16- Colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exercício de funções, apontando 
os riscos decorrentes desses exercícios; 
17- Propor medidas preventivas no campo de Segurança do Trabalho, em face do 
conhecimento da natureza e gravidade das lesões provenientes do Acidente de Trabalho, 
incluídas as doenças do trabalho; 
18- Informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente ou por meio de seus 
representantes, as condições que possam trazer danos à sua integridade e as medidas 
que eliminam ou atenuam estes riscos e que deverão ser tomadas. 
 
Art. 5º - A presente Resolução entrará em vigor na data de sua publicação. 
 
Art. 6º - Revogam-se as disposições em contrário. 
 
Brasília, 27 de novembro de 1987. 
 
Luís Carlos dos Santos Mário Varela Amorim 
PRESIDENTE 1º SECRETÁRIO 
 
 
Publicada no D.O.U. de 08 de dezembro de 1987 – Seção I – Pág. 21.117. 
 
 
1.5 ENTIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS - ARQUIVO EM ANEXO 
 
Para finalizar esse capítulo, é importante que o engenheiro de segurança do 
trabalho conheça e esteja familiarizado com as principais entidades públicas e privadas, 
nacionais e internacionais, associadas com os temas dessa atribuição profissional. Nesse 
sentido, ao invés de apresentar a seguir um descritivo de cada uma, essa apostila 
acompanha um arquivo em anexo, informativo a esse respeito. 
 
 
Capítulo 1. A Engenharia de Segurança do Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
14 
1.6 TESTES 
 
1. Quem é considerado o precursor ou “pai” do prevencionismo? 
a) Frank Bird Jr. 
b) John Fletcher. 
c) Tom Connellan. 
d) Heinrich. 
e) Mark Houss. 
 
Feedback: item 1.1 - “diz-se que Heinrich é considerado o precursor... 
 
2. Os aspectos relacionados à segurança e saúde: 
a) Exigem abordagens multidisciplinares, onde diferentes profissionais buscam 
compreender o ambiente de trabalho. 
b) Exigem abordagens multidisciplinares, onde diferentes pesquisadores concentram-se 
em chegar às origens do fator humano associado ao trabalho e como estes interagem 
entre si. 
c) Exige uma abordagem direcionada voltada ao ambiente de trabalho e como os fatores 
nele presentes são afetados pelo comportamento humano. 
d) Exige uma abordagem específica de engenharia, incluindo cálculos, estatísticas, 
processos de amostragem e simulações de consequências para estabelecer os riscos 
do ponto de vista preponderantemente quantitativos. 
e) Exigem abordagens diferentes, mas não necessariamente complementares, onde o 
âmbito de saúde e segurança é avaliado do ponto de vista de como a organização 
oferece ao seu colaborador um local de trabalho livre principalmente de riscos graves. 
 
Feedback: item 1.2 - “As questões relativas à segurança e saúde do ... 
 
 
3. Os termos “crônico” e “agudo” estão diretamente relacionados com: 
a) Tempo e relação de trabalho. 
b) Tempo e fatores pessoais. 
c) Tempo e consequência. 
d) Consequência e severidade. 
e) Relação de trabalho e equipamentos de proteção. 
 
Feedback: item 1.2 - “Os termos crônico e agudo estão diretamente... 
 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
15 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2: A ENGENHARIA DE SEGURANÇA NO CONTEXTO CAPITAL-
TRABALHO 
 
 
 
 
 
OBJETIVOS DO ESTUDO 
• Discutir os conceitos de organização do trabalho e gestão organizacional; 
• Apresentar algumas das dificuldades no processo de aplicação da organização do 
trabalho; 
• Comentar a relevância da cultura organizacional nas práticas de SST. 
 
Ao término deste capítulo você deverá estar apto a: 
• Entender que as condições de trabalho englobam tudo o que influencia o trabalho; 
• Diferenciar os sistemas fordista e toyotista; 
• Enxergar como uma cultura organizacional auxilia ou impede avanços no setor de 
SST. 
 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
16 
2.1 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E A GESTÃO ORGANIZACIONAL 
 
De acordo com Senge (2009), uma organização pode ser compreendida como 
sendo o resultado ou o produto de como as pessoas pensam e interagem entre si a fim de 
viabilizar objetivos comuns. 
A expressão "organização do trabalho" deverá ser compreendida como o meio 
ambiente de trabalho e a forma pelas quais as operações e tarefas necessárias para se 
realizar as transformações no processo produtivo são concebidas, divididas e atribuídas 
aos membros da empresa. Assim sendo, a organização do trabalho pode ser entendida 
como a definição da estrutura organizacional, representada pelas relações sociais nos 
locais de trabalho, cultura, clima organizacional e a ideologia gerencial empregada para a 
coordenação entre os equipamentos, as operações e as pessoas. 
Pode-se também entender organização do trabalho como uma maneira em queas 
operações necessárias para realizar as transformações no processo produtivo estão 
divididas entre os membros de uma organização. Essa definição traz dois conceitos 
importantes. O primeiro refere-se à forma como se distribui o poder e se exercita o controle 
social no interior da organização. O segundo refere-se aos critérios que são utilizados para 
a distribuição e a concepção das tarefas em relação ao seu conteúdo, significado e 
complexidade. 
Nesse sentido, historicamente há dois modelos de organização do trabalho que 
representam muito bem essa forma de como se distribui o controle social dentro da 
organização, associado aos critérios adotados para a distribuição e concepção das tarefas. 
 
 
Quadro 2.1: Quais os dois modelos de produção que têm destaque quando se trata da 
organização do trabalho? 
 
O modelo fordista (também conhecido como de produção em 
massa), vigente nas empresas principalmente a partir do início do 
século XX, e o modelo toyotista, de alto desempenho ou de 
produção enxuta, originário do Japão e que se tornou conhecido a 
partir da década de 70. 
 
 
Conforme Marochi (2002), o fordismo teve início em 1914, quando Henry Ford 
introduziu o dia de trabalho de oito horas e cinco dólares como recompensa para os 
trabalhadores de linha de montagem de carros de Dearbon, em Michigan (EUA). Esta data 
é apenas simbólica, pois o fordismo como modo de produção já vinha sendo implantado e 
aperfeiçoado ao longo das últimas décadas do século XIX, durante a fase de construção 
das ferrovias nos Estados Unidos. 
Ainda de acordo com Marochi (2002), talvez a principal novidade do modelo fordista 
seja a introdução da linha de montagem em movimento contínuo. O trabalhador passou a 
ficar fixo num espaço físico demarcado, limitado (inclusive porque é a linha que “anda”) e 
passou a fazer uma pequena, simples e reduzida tarefa do processo produtivo. 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
17 
De acordo com Maximiano (2012), foi Henry Ford quem elevou ao mais alto grau 
os dois princípios da produção em massa, que é a fabricação de produtos em grande 
quantidade: peças padronizadas e trabalhador especializado. 
Consolidou-se a divisão do trabalho e o operador passou a se especializar numa 
única tarefa. Na indústria automobilística, por exemplo, passou a ajustar uma porca a um 
parafuso ou a colocar a roda do carro, sem ter uma visão ou compreensão do processo 
integral da montagem do carro. Isso porque o objetivo maior era garantir o aumento da 
produtividade. 
Os trabalhadores, de modo geral, eram facilmente substituídos. Uma vez que 
realizavam operações simplificadas, em pouco tempo aprendiam a atividade, não 
necessitando de maior aprendizagem ou experiência anterior. Assim, o investimento em 
treinamento e formação era mínimo. 
Não havia preocupação com a manutenção dos trabalhadores nas fábricas, visto 
que eram facilmente substituídos. Assim, o trabalhador passou a ser considerado como 
custo móvel, sendo administrado como tal e sofrendo as consequências do ciclo de 
admissões ou demissões conforme as flutuações de mercado, não tendo muita garantia de 
emprego. 
A fragmentação e, como consequência, a perda de visão integral do processo 
produtivo, a falta de estabilidade no emprego e a baixa especialização facilitaram o 
processo de “esvaziamento de responsabilidade” por parte do trabalhador, que inclusive 
tinha seu próprio ritmo de trabalho controlado pela velocidade da linha de produção, 
disciplinando os mais lentos ou mais rápidos segundo as necessidades da produção. Ao 
trabalhador cabia abaixar a cabeça e trabalhar, não se importando com o que acontecia à 
sua volta, mesmo porque muitas vezes não sabia como se comunicar. 
Desapropriado do seu know-how e experiência, da possibilidade de atuar 
coletivamente no local de trabalho, sem possibilidade de se adaptar livremente ao trabalho, 
e sob uma rigorosa vigilância em nível de estrutura hierárquica e do ritmo das próprias 
linhas de produção, os trabalhadores se tornaram corpos isolados e desprovidos de 
iniciativa. Em outras palavras, o trabalhador se transformou num mero realizador de tarefas 
e isso causou uma paralisia mental, induzida pela organização do trabalho. Como 
consequências para o seu estado de saúde mental e físico, ocorriam desde esgotamentos 
e fadigas físicas, passando por estados de tensão, medo, angústia, frustração, úlceras e 
gastrites e encerrando-se por um isolamento ou alienação do mundo à sua volta, 
transformando-se numa pessoa incapaz de ação própria, que se deixava dirigir por outros. 
A produção toyotista nasceu da necessidade de se produzir veículos competitivos, 
mas não nos moldes da produção ocidental, que previa a produção em massa de grandes 
volumes. No Japão, o volume de produção deveria ser reduzido, o que exigia maior 
flexibilidade das máquinas e ferramentas. 
Quem iniciou a mudança do modelo de produção na Toyota foi o engenheiro de 
produção da empresa, Taichi Ohno. Ele começou a trabalhar no desenvolvimento de 
máquinas e ferramentas que permitissem uma maior flexibilidade na troca de peças e 
moldes. Ele foi percebendo que os custos eram menores quando produzia pequenos lotes. 
Em 1949, devido a uma crise econômica seguida de uma greve, a família Toyota 
deixou a presidência da empresa. Em contrapartida, os funcionários concordaram em ser 
mais flexíveis na execução de suas tarefas e mais ativos na promoção dos interesses da 
companhia, introduzindo melhorias em vez de apenas registrarem ou conviverem com os 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
18 
problemas de produção. Em troca, ganharam o direito ao emprego vitalício, com rendas 
crescentes conforme o tempo de empresa e os lucros obtidos. 
Como os operários permaneceriam na empresa por um longo tempo, passou a ser 
preocupação do sistema aproveitar as suas qualificações, conhecimentos e experiências, 
e não somente sua força física. Inicialmente, Taichi Ohno agrupou os trabalhadores em 
equipes, com um líder no lugar do supervisor, que além da coordenação dos trabalhos 
também participava da produção, substituindo os trabalhadores quando fosse necessário. 
Cada uma dessas equipes era responsável por um conjunto de etapas de montagem de 
uma parte da linha de produção, surgindo daí o conceito de mini fábricas. 
Em seguida, foram atribuídas às equipes outras tarefas, além da produção 
específica de cada setor, como a limpeza do seu local do trabalho, a manutenção de 
pequenas máquinas e ferramentas, bem como o controle de qualidade do que produziam. 
Finalmente, quando as equipes já estavam organizadas, passou-se a reservar um período 
diário do tempo para analisar medidas e sugestões para melhorar o processo de produção. 
Esse aperfeiçoamento contínuo e gradual (em japonês, kaizen) dava-se com a colaboração 
de engenheiros industriais e dos operários, que trabalhavam de forma cooperativa, 
diminuindo as distâncias entre os níveis hierárquicos. 
Dessa forma, surgiram os conceitos de polivalência funcional (execução de diversas 
atividades por um mesmo funcionário), de melhoria contínua e também de 
responsabilidade e comprometimento de cada operário em evitar os defeitos e o retrabalho 
para consertar o que estava fora das especificações de qualidade. Foi dado aos operários 
o direito de parar a linha de produção quando percebessem defeitos ou erros. No sistema 
fordista, o ritmo de produção e a qualidade eram prerrogativas das chefias. 
O sistema toyotistaprevia a eliminação rígida das tarefas, mas exigia um longo 
treinamento e aperfeiçoamento no trabalho, valorizando a experiência do trabalhador e 
acabando com a rigidez e a demarcação das especialidades das tarefas. O trabalho passou 
a ser organizado através da integração dos departamentos e setores, atribuindo aos 
operários a corresponsabilidade sobre os resultados a serem obtidos. 
 
 
Quadro 2.2: Qual a principal característica do toyotismo que se sobressai em relação 
ao fordismo? 
 
É a prioridade da equipe sobre o indivíduo. No toyotismo é 
necessário trabalhar em grupo, porque a produção é organizada 
em mini fábricas. É praticamente impossível ter o domínio de todo 
o conhecimento e experiência existentes dentro de uma fábrica. 
Assim, na solução de determinados problemas, somente o 
trabalho em equipe é viável. 
 
 
O trabalho em equipe permite ao trabalhador uma visão mais ampla das atividades 
que executa e, portanto, da sua participação no processo produtivo. O processo de 
comunicação é ampliado no modelo Toyota, na medida em que a participação dos 
operários em termos de maior corresponsabilidade exige que ele tenha maiores 
informações sobre o sistema produtivo. Já no sistema fordista, informação significava 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
19 
poder, e nem sempre elas eram compartilhadas. Na produção enxuta, parte das 
informações fica disponível a todos os funcionários. 
O processo de formação e treinamento é mais demorado no sistema toyotista. 
Como o sistema é mais flexível, sujeito a constantes aperfeiçoamentos e mudanças, é 
necessário que o operário esteja envolvido num processo de formação constante. A 
possibilidade de melhorias contínuas e a corresponsabilidade no processo produtivo 
exigem do trabalhador um pensamento mais elaborado, mesmo em nível operacional. 
Necessita desenvolver a iniciativa para buscar soluções. No trabalho em equipe, precisa 
aprimorar suas habilidades interpessoais de participação, comunicação, administração de 
conflitos, etc.; muitas vezes precisa assumir a liderança em determinadas questões. 
Cada vez mais as organizações utilizam novos procedimentos relativos à 
organização do trabalho para superar dificuldades, como por exemplo, o da implantação 
de mecanização e automação no processo produtivo, ou de como alavancar a 
produtividade e a qualidade, ou de como buscar o comprometimento e a identificação dos 
trabalhadores com as tarefas que necessitam ser executadas no processo produtivo. Por 
outro lado, os sindicatos entendem que essas abordagens, além de representarem a 
possibilidade de participação dos trabalhadores nas decisões que afetam o processo 
produtivo, podem também proporcionar um ambiente de trabalho onde as condições 
perigosas possam ser controladas. Entretanto, constata-se em muitos casos que grande 
parte dos empresários não consegue ver os trabalhadores como interlocutores capazes e 
dignos para negociar e propor soluções para questões tão importantes como a saúde e a 
segurança. 
Essa parece ser uma das questões fundamentais, ainda não resolvida, em nossa 
sociedade. Constata-se a inexistência de espaços democráticos na maioria dos locais de 
trabalho, não havendo oportunidades para que os trabalhadores possam se manifestar e 
expor seus pontos de vistas sem o receio de serem punidos por administrações 
autoritárias, incapazes de darem respostas concretas às demandas dos trabalhadores. 
Suas atribuições resumem-se em apontar ao seu supervisor as condições inadequadas, 
restando-lhe a obrigação de continuar executando suas atividades até que alguma 
providência seja tomada. 
Devemos compreender, entretanto, que ainda que os aspectos técnicos 
compareçam com relevância indiscutível, estes não são suficientes para o equacionamento 
e a compreensão dos problemas decorrentes das condições de trabalho inadequadas, pois 
além dos agentes físicos, químicos e outros presentes nos locais de trabalho, existem 
determinantes de ordem social, política, tecnológica e organizacional que não podem ser 
negligenciadas pelo engenheiro de segurança do trabalho. 
Parâmetros como especificações sobre quais equipamentos serão utilizados no 
processo produtivo; como, quando e onde as tarefas serão executadas pelos 
trabalhadores; como essas tarefas estarão interligadas e alocadas a cada indivíduo; os 
controles gerenciais; o sistema de comunicação, integração e participação nos processos 
de decisão; a delegação de autoridade, liberdade e responsabilidades que os 
trabalhadores terão sobre a execução das tarefas; a definição dos sistemas de avaliação 
de desempenho e como as pessoas serão recompensadas pelo seu trabalho; a 
preocupação com o comprometimento das pessoas com o processo produtivo e as 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
20 
relações sociais nos locais de trabalho são cada vez mais estudadas pela organização do 
trabalho. 
A otimização de todos esses parâmetros pode criar as condições necessárias para 
a melhor efetividade do sistema produtivo e, ao mesmo tempo, sua harmonização poderá 
proporcionar condições favoráveis à redução de impactos sobre a integridade física e 
mental dos trabalhadores. A essa otimização podemos chamar de “gestão organizacional”, 
que pode ser definida como uma ação continuada de planejar, organizar e controlar os 
recursos disponíveis para alcançar os objetivos estabelecidos pela organização. 
Espera-se que essa ação continuada seja executada de modo que a organização 
encontre o equilíbrio entre a perspectiva econômica (que deve assegurar sua 
competitividade), a conformidade legal (que deve assegurar sua legalidade no 
cumprimento da legislação aplicável), a sua atuação ética (que deve assegurar sua 
responsabilidade social na busca do que é correto) e a sua postura política (que deve 
assegurar a legitimidade junto às partes interessadas), a fim de criar um ambiente favorável 
para a continuidade de suas atividades. 
De acordo com Sell (1995), as condições de trabalho englobam tudo o que 
influencia o próprio trabalho. Isto inclui: o posto de trabalho, o ambiente de trabalho, os 
meios de trabalho, a tarefa, a jornada de trabalho, a organização do trabalho, alimentação, 
transporte, as relações entre as pessoas e as relações entre produção e salário, entre 
outros. 
Portanto, quando se fala em boas condições de trabalho, se quer dizer, mais 
especificamente: 
• Meios de produção adequados às pessoas, o que significa o projeto ergonômico dos 
equipamentos, dos veículos, das ferramentas e dos dispositivos auxiliares usados no 
trabalho, postos de trabalho ergonomicamente projetados (o que inclui bancadas, 
informações e ferramentas) de modo a garantir boa postura, boa visibilidade, bom 
alcance por parte do trabalhador; 
• Objetos de trabalho, materiais e insumos que sejam inócuos às pessoas que com eles 
entram em contato direto; ou ainda evitar a possibilidade desse contato; 
• Controle sobre fatores ambientais adversos, como por exemplo iluminação, 
temperatura, ruído, vibrações, renovação de ar, partículas tóxicas, poeiras, gases; 
• Postos de trabalho, meios de produção, objetos de trabalho sem condições perigosas 
mecânicas, físicas, químicas ou outras, isto é, sem partes móveis expostas, sem 
ferramentas cortantes desprotegidas, sem emissão de gases, vapores, poeiras etc.; 
• Organização do trabalho que garanta a cada pessoa uma tarefa com conteúdo 
adequado às suas capacidades físicas, compatíveis com as dimensões cognitiva e 
emocional;• Tarefa que exija uma captação, tratamento e saída de informações em um nível 
adequado para o trabalhador; 
• Formação de competências adequadas para que os funcionários possam dar 
respostas adequadas às melhores práticas de trabalho. Faz-se necessário ensinar o 
que fazer, como fazer e sobretudo, porque fazer daquela maneira. As justificativas são 
devidas não só pelos aspectos de produção, mas também em função da segurança 
das pessoas e das instalações; 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
21 
• Regime de turnos de trabalho que comprometa ao mínimo a saúde do trabalhador, 
bem como o seu convívio familiar e social; 
• Quando necessário, um regime de pausas que possibilite a recuperação das funções 
fisiológicas, psíquicas e mentais para, em longo prazo, não comprometer a saúde do 
trabalhador; 
• Sistema de remuneração de acordo com as solicitações físicas, psíquicas e mentais 
do trabalhador em seu sistema de trabalho, considerando também sua qualificação 
profissional; 
• Clima social sem atritos, bom relacionamento com colegas, superiores e subalternos; 
possibilidade de contato com colegas durante a jornada de trabalho; 
• Supervisão do trabalho que possibilite mecanismos de feedback; 
• Avaliação de desempenho e consequente remuneração e promoções no trabalho, 
baseadas não somente no ritmo da produção ou no número de peças produzidas, mas 
que contemplem aspectos qualitativos e de criatividade do trabalhador. 
 
A própria norma regulamentadora NR-17 (Ergonomia) trata dessa questão de 
organização do trabalho em seu item 17.6, estabelecendo que: 
 
“17.6.1 - A organização do trabalho deve ser adequada às 
características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza 
do trabalho a ser executado. 
 
17.6.2 - A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve 
levar em consideração, no mínimo: 
a) as normas de produção; 
b) o modo operatório; 
c) a exigência de tempo; 
d) a determinação do conteúdo de tempo; 
e) o ritmo de trabalho; 
f) o conteúdo das tarefas. 
 
17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática 
ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores 
e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve 
ser observado o seguinte: 
a) todo e qualquer sistema de avaliação de desempenho para 
efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie deve 
levar em consideração as repercussões sobre a saúde dos 
trabalhadores; 
b) devem ser incluídas pausas para descanso; 
c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de 
afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência 
de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de 
produção vigentes na época anterior ao afastamento. 
 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
22 
17.6.4. Nas atividades de processamento eletrônico de dados, 
deve-se, salvo o disposto em convenções e acordos coletivos 
de trabalho, observar o seguinte: 
a) o empregador não deve promover qualquer sistema de 
avaliação dos trabalhadores envolvidos nas atividades de 
digitação, baseado no número individual de toques sobre o 
teclado, inclusive o automatizado, para efeito de remuneração 
e vantagens de qualquer espécie; 
b) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador 
não deve ser superior a 8.000 por hora trabalhada, sendo 
considerado toque real, para efeito desta NR, cada movimento 
de pressão sobre o teclado; 
c) o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve 
exceder o limite máximo de 5 (cinco) horas, sendo que, no 
período de tempo restante da jornada, o trabalhador poderá 
exercer outras atividades, observado o disposto no art. 468 da 
Consolidação das Leis do Trabalho, desde que não exijam 
movimentos repetitivos, nem esforço visual; 
d) nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, 
uma pausa de 10 minutos para cada 50 minutos trabalhados, 
não deduzidos da jornada normal de trabalho; 
e) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de 
afastamento igual ou superior a 15 (quinze) dias, a exigência 
de produção em relação ao número de toques deverá ser 
iniciado em níveis inferiores do máximo estabelecido na alínea 
"b" e ser ampliada progressivamente.” 
 
2.2 DIFICULDADES NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 
 
Qualquer proposta de reorganização do trabalho enfrenta várias dificuldades. A 
primeira delas é a desconfiança dos próprios trabalhadores e dos sindicatos. É quase certo 
que os trabalhadores irão resistir a qualquer proposta de mudança na organização do 
trabalho que possa provocar a percepção de um desequilíbrio desfavorável, ainda que essa 
proposta signifique ou ofereça a perspectiva de uma situação mais favorável quanto ao 
conteúdo intrínseco das tarefas que eles realizam. 
Essas manifestações de resistência à mudança têm se acentuado à medida que as 
aspirações dos trabalhadores têm mudado ao longo dos anos, em razão de maior acesso 
à informação, maior democratização do país com liberdade de organização sindical e maior 
conscientização dos trabalhadores de que poderiam executar suas atividades de forma 
diferente e mais interessante. 
Segundo Senge (2009), os líderes que tentam mudar a organização 
frequentemente se surpreendem ao se verem aprisionados em processos de equilíbrio. 
Para eles, é como se seus esforços enfrentassem uma súbita resistência que parece vir do 
nada. Na verdade, a resistência é uma resposta do sistema, que quase sempre surge de 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
23 
ameaças às normas e formas tradicionais de fazer as coisas. Essas normas estão 
associadas aos relacionamentos de poder estabelecidos. Uma norma é arraigada porque 
a distribuição de autoridade e controle é arraigada. 
Com o intuito de exemplificar como a liderança pode lidar com as mudanças, a 
seguir serão dados três exemplos (dois bem sucedidos, onde houve forte envolvimento de 
líderes "habilidosos"; e um que gerou muitos problemas, por falta de envolvimento da 
liderança). Na matriz de uma grande empresa multinacional, com cerca de 900 
funcionários, houve uma decisão de mudança de layout, que implicaria em uma reforma 
de 6 meses em um prédio de 3 andares, mudanças nos postos de trabalho, mudança de 
localização física em outra área do edifício etc. Quando foi anunciada, a mudança causou 
alvoroço entre os funcionários, mas a infraestrutura que foi criada para que a mudança 
pudesse ser realizada e principalmente o processo de comunicação frequente (feito pela 
liderança), claro e identificando os benefícios da mudança, conseguiu mudar a opinião de 
quase todos, que no final aceitaram e até gostaram da iniciativa da empresa. O segundo 
exemplo é o de uma mudança nos planos de saúde, que envolveriam todos os funcionários 
de uma grande empresa. Inicialmente, houve uma apreensão geral, por temerem que a 
nova estrutura pudesse trazer prejuízos e dificuldades quando seu uso fosse necessário. 
Porém, antes de definir as novas regras e estabelecer o novo plano, a empresa (através 
de seus “líderes habilidosos”) tomou o cuidado de avaliar, em diferentes regiões do Brasil, 
quais eram os planos mais fortes em termos de clínicas, hospitais, coberturas e assim por 
diante. A mudança foi tão bem estruturada e planejada com a devida análise prévia 
(comunicação,consulta e suporte ao funcionário durante e após a mudança), que foi aceita 
por todos. O terceiro exemplo (dessa vez mal sucedido) refere-se a uma empresa 
certificada no sistema de gestão de segurança e que resolveu migrar toda a sua base de 
documentos de um sistema eletrônico para outras bases. Havia um sistema interno 
(intranet) onde os procedimentos, instruções de trabalho, manuais e outros registros eram 
armazenados. Por alguma razão (não informada aos funcionários), decidiu-se separar todo 
esse conteúdo centralizado na rede da empresa em diferentes bases, sendo que uma das 
que foi escolhida foi o SAP, que até então era usada pelo pessoal de compras e de 
tecnologia da informação. A migração foi feita às pressas sem a análise prévia e não foi 
dado treinamento adequado aos novos usuários do sistema. Como consequência, muitos 
documentos se perderam, alguns ficaram com mais de uma versão disponível, quando se 
acessavam as bases nem sempre se conseguia visualizar o conteúdo dos documentos e 
como o sistema ficou sobrecarregado, muitas vezes travava ou trabalhava de maneira 
muito lenta, sem contar os usuários que não sabiam direito como usar a nova base. 
Desastre! Analisando as causas, concluiu-se que um dos grandes fatores contribuidores 
foi a falta de envolvimento das diferentes lideranças, que não se preocuparam em dar o 
devido suporte nem se engajaram nessa fase de transição. 
Diante desses cenários de mudança, originou-se a famosa parábola do “sapo 
escaldado”. Se um sapo for colocado em uma panela de água fervendo, ele tentará pular 
para fora da panela imediatamente. Mas, se esse mesmo sapo for colocado em uma panela 
com água à temperatura ambiente, ele permanecerá dentro da panela. Mesmo que se 
coloque a panela no fogo e aumente gradativamente a temperatura, o sapo não se mexerá. 
À medida que a temperatura for aumentando ainda mais, o sapo ficará cada vez 
mais tonto, até que não será mais capaz de sair da panela. Embora nada o impeça de pular 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
24 
para fora, ele continuará na panela, até ser escaldado. Por quê? Porque, nos sapos, o 
mecanismo interno que detecta as ameaças à sobrevivência é regulado para identificar 
mudanças bruscas no meio ambiente e não mudanças lentas e graduais. 
Nesse sentido, as organizações precisam aprender a identificar oportunidades de 
mudanças lentas e graduais, reduzindo o ritmo frenético. E para atingir esse objetivo, uma 
organização precisa aprender. Na cultura ocidental, a palavra que descreve com maior 
precisão o que acontece em uma organização que aprende não foi muito usada no último 
século. Trata-se de uma palavra que é empregada há algumas décadas: metanóia. Essa 
palavra significa “mudança de mentalidade”. 
Entender o sentido de “metanóia” é entender o significado de aprendizagem, pois 
esta envolve o movimento da mente. Através da aprendizagem, nos recriamos. Através da 
aprendizagem, tornamo-nos capazes de fazer algo que nunca fomos capazes de fazer. 
Através da aprendizagem, percebemos novamente o mundo e nossa relação com ele. 
Através da aprendizagem, ampliamos nossa capacidade de criar. 
Em número crescente de casos, as empresas têm reconhecido essa importância 
da aprendizagem através dos impactos negativos sobre a saúde e segurança dos 
trabalhadores, principalmente nas formas tradicionais de organização do trabalho. 
Um dos exemplos associados diretamente a esses impactos negativos é uma 
questão que vem sendo bastante discutida, sobre o trabalho em turnos. Os problemas 
associados com o trabalho em turnos podem ser classificados em três grandes áreas: 1) 
quebra de processos fisiológicos que incluem o ritmo circadiano; 2) enfraquecimento da 
saúde física e do bem estar psicológico; 3) alterações na vida social e familiar. 
Empresas que operam em regime de três turnos possuem proporcionalmente mais 
registros de acidentes do que as empresas que utilizam dois turnos ou mesmo o turno 
diurno apenas. Além das patologias relacionadas ao trabalho noturno, existe a relação do 
desempenho noturno com erros e acidentes. No turno da noite ocorrem mais acidentes e 
de maior proporção, como no caso dos acidentes nucleares de Three Miles Island (ocorrido 
em 1979 às 4h), Chernobyl (ocorrido em 1986 às 01h25), e o acidente químico de Bhopal 
(ocorrido em 1984 às 0h57). 
Desta forma, características ou estruturas da organização do trabalho afetam em 
larga escala a vida dos trabalhadores, podendo resultar em doenças físicas, psicológicas 
e sociais, bem como diversos tipos de alterações nas funções do organismo. 
Outro exemplo relacionado aos impactos negativos é o dos modelos de organização 
do trabalho adotados no segmento de bancos, que têm trazido sérias consequências à 
saúde e à segurança dos bancários. “O setor é, comprovadamente, um dos que mais 
lucram. Os ganhos de produtividade são extraordinários. Em contrapartida, a saúde do 
trabalhador não é vista como investimento e sim como custo, a fundo perdido”, observa o 
secretário de saúde do trabalhador da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo 
Financeiro, Plínio Galvão (na época dessa declaração). A partir dos anos 90, os bancos 
brasileiros iniciaram um grande processo de automação. No entanto, as mudanças que 
trouxeram a informatização do setor – o que em um primeiro momento simbolizaria o 
progresso – não serviram para tornar os postos de trabalho menos penosos. Ainda 
segundo Plínio, “ao mesmo tempo em que investiam em tecnologia, aplicavam novas 
práticas de reestruturação produtiva e reengenharia. Como resultado dessas políticas, 
houve uma redução drástica dos postos de trabalho. Para se ter uma ideia, no final da 
 
 
Capítulo 2. A Engenharia de Segurança no Contexto Capital-Trabalho 
 
__________________________________________________________________________________________________ 
eST -101 - Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 1o Ciclo de 2020. 
25 
década de 80 o número de bancários no Brasil era próximo a 800 mil. Hoje gira em torno 
de pouco mais de 450 mil. Nesse mesmo período, houve também a intensificação da 
terceirização, tornando precárias as condições de trabalho nessa atividade”. 
Maria Maeno, médica e pesquisadora da Fundacentro (na época dessa 
declaração), diz que “a organização do trabalho tem sido equivocadamente concebida a 
partir da valorização do alcance de metas. A performance de cada funcionário é 
acompanhada de perto pelos superiores. As formas com que a gestão e o gerenciamento 
são exercidas pressionam, humilham, estimulam a competitividade e induzem ao 
isolamento”. 
Os fatos tidos como principais causadores das lesões são os móveis e 
equipamentos inadequados, as longas jornadas de trabalho, a ausência de pausas, o ritmo 
intenso, a falta de controle sobre os processos e a pressão por produtividade. De acordo 
com Paulo Antonio Barros Oliveira, coordenador da Comissão Nacional de Ergonomia e 
auditor fiscal (na época dessa declaração): “Existe um ritmo de trabalho em 
desconformidade com a fisiologia humana. Hoje, no setor bancário, todos os empregados 
acabam por fazer a mesma coisa: vender. Eles vendem contas bancárias, cartões de 
crédito, empréstimos, seguros, etc. Cumprem metas e mais metas. Têm toda a sua vida 
profissional ligada a cumprir as determinações da diretoria superior dos bancos. Assim, o 
bancário está sempre submetido a rígidos controles. Sua produtividade é monitorada 
diariamente”. 
Nesse sentido, foi constatada que a fragmentação das relações sócio profissionais, 
o isolamento causado por modelos de premiações internas como a do “digitador do mês”, 
as metas que atropelam a ética do trabalhador, o ritmo intenso de trabalho

Continue navegando

Outros materiais