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PATOLOGIA DA NUTRIÇÃO E DIETOTERAPIA Sandra Muttoni Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Juliana S. Closs Correia Nutricionista (Centro Universitário São Camilo) Mestre em Biologia Odontológica (UNITAU) Especialista em Metodologia do Ensino Superior (UniSL) Coordenadora do Curso de Nutrição do UniSL Secretária da Associação Brasileira de Educação em Nutrição (ABENUT) M992p Muttoni, Sandra. Patologia da nutrição e dietoterapia / Sandra Muttoni ; revisão técnica: Juliana S. Closs Correia. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 373 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-100-6 1. Nutrição - Doença. 2. Dietoterapia. 3. Nutrição – Alimentação I. Título. CDU 616.39 Iniciais_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 2 27/06/2017 17:40:07 Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular: síndrome metabólica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conhecer a etiologia e a � siopatologia da síndrome metabólica e sua relação com a obesidade. Identi� car os critérios de diagnóstico, prevenção e o tratamento clínico da síndrome metabólica. Reconhecer os cuidados dietoterápicos que devem ser adotados na síndrome metabólica. Introdução A síndrome metabólica (SM) é um transtorno complexo caracterizado por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares, comunmente relacionados à deposição de gordura abdominal e resistência à insulina. A terapia nutricional representa um dos pilares do tratamento para tal condição clínica e deve ser embasado, principalmente, em mudanças no estilo de vida. Neste texto, você vai estudar a etiologia e a fisiopatologia da síndrome metabólica, os critérios de diagnóstico e o tratamento, bem como a abordagem nutricional específica. U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 273 23/06/2017 15:45:56 Conceito, etiologia e fisiopatologia da síndrome metabólica e sua relação com a obesidade A síndrome metabólica (SM) tem sido objeto de muitos estudos nos últimos anos. Ela pode ser defi nida como um grupo de fatores de risco inter-relaciona- dos, de origem metabólica, que diretamente contribuem para o desenvolvimento de doença cardiovascular (DCV) e/ou diabetes do tipo 2. São considerados como fatores de risco metabólicos: dislipidemia aterogênica (hipertriglice- ridemia, níveis elevados de apolipoproteína B, partículas de LDL-colesterol pequenas e densas e níveis baixos de HDL-colesterol), hipertensão arterial, hiperglicemia e um estado pró-infl amatório e pró-trombótico. Ainda não está estabelecido se há uma causa única ou múltiplas causas para o desenvolvimento da SM, entretanto, sabe-se que a obesidade abdominal e a resistência à insulina parecem ter um papel fundamental na origem desta síndrome. A obesidade, por sua vez, é uma doença crônica, de caráter multifatorial, que representa fator de risco para o desenvolvimento de várias outras doenças crônicas como, por exemplo, as doenças cardiovasculares e diversos tipos de câncer e, entre as complicações decorrentes da obesidade, encontra-se a SM. Na gênese da obesidade, destacam-se os fatores ambientais, caracterizados por um estilo de vida sedentário, além de hábitos alimentares inadequados e fatores socioeconômicos. Estas situações representam características da vida urbana e moderna e influenciam diretamente o desenvolvimento da obesidade, juntamente com a suscetibilidade genética (considerada um cofator para o excesso de peso), sendo que o comportamento alimentar e o sedentarismo são fatores principais que influenciam o crescimento do número de casos de obesidade nos grupos populacionais geneticamente predispostos. O balanço positivo entre o consumo alimentar e o gasto energético de- termina o acúmulo de tecido adiposo e o ganho de peso. Tanto o consumo quanto o gasto energético apresentam determinantes individuais e isso não precisa ser considerado. Em algumas situações, a ingestão alimentar pode estar relacionada com a fome ou com a necessidade de energia e, em outros casos, com a grande quantidade de reserva adiposa e sinalização hormonal. Também sabe-se que o consumo excessivo de alimentos pode acontecer sim- plesmente por prazer, humor ou questões sociais. Entretanto, essas motivações individuais podem ser geradas por um mecanismo cerebral, o que necessita de maior aprofundamento em termos de pesquisas para que a gênese da obesidade possa ser mais bem compreendida. Patologia da nutrição e dietoterapia274 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 274 23/06/2017 15:45:57 O tecido adiposo como um órgão endócrino Os adipócitos, por muitos anos, foram considerados células inertes que arma- zenavam gordura quando o indivíduo estava saciado e a liberava em momentos de jejum. Entretanto, evidências demonstram que o tecido adiposo é um ativo e dinâmico órgão endócrino, que secreta substâncias bioativas, denominadas adipocinas (ou adipocitocinas). Estas adipocinas, em sua grande maioria, estão relacionadas, direta ou indiretamente, a processos que contribuem para o desen- volvimento de: aterosclerose, hipertensão arterial, resistência insulínica (RI), diabetes tipo 2 (DM2) e dislipidemias e representam um elo entre adiposidade, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. A adiponectina, leptina, resistina e visfatina são consideradas as principais adipocinas relacionadas com a obesidade e à resistência à insulina, sendo que os adipócitos produzem em maior quantidade a leptina e a adiponectina. Você vai ver a seguir a descrição das principais adipocitocinas produzidas no tecido adiposo: Leptina: é uma citocina pró-inflamatória e seus níveis sanguíneos são diretamente proporcionais à reservas energéticas acumuladas no tecido gorduroso. A leptina é inibidora do apetite e contribui para o aumento do gasto energético, porém, os indivíduos obesos parecem apresentar resistência ao seu efeito. Adiponectina: em contraste à maioria das proteínas secretada pelos adi- pócitos, sua expressão diminui à medida que o tecido adiposo aumenta. Indivíduos com concentrações circulantes elevadas de adiponectina estão menos sujeitos ao desenvolvimento de diabetes tipo II, quando comparados àqueles com concentrações reduzidas (aumenta a sensibi- lidade periférica à insulina). Também apresenta efeito antiaterogênico e anti-inflamatório. Resistina: trata-se de uma citocina pró-inflamatória e sua secreção está fortemente relacionada à resistência à insulina, reduzindo a capacidade de metabolização adequada da glicose e promovendo a hiperglicemia. Visfatina: é uma adipocina recentemente descrita, que parece reduzir a resistência periférica à insulina, cujos mecanismos envolvidos em tal condição ainda não foram esclarecidos. Interleucina 6 (IL-6): o tecido adiposo humano produz quantidades elevadas de interleucina-6. Os níveis plasmáticos de IL-6 apresentam-se correlacionados ao aumento da massa corporal e à menor sensibilidade à insulina. 275Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 275 23/06/2017 15:45:57 Repercussões metabólicas da obesidade Como você deve saber, obesidade está associada a diversas condições metabó- licas e a distribuição da gordura corporal infl uencia diretamente no desenvol- vimento da resistência à insulina, das dislipidemias e da hipertensão arterial. Indivíduos obesos apresentam grande quantidade de ácidos graxos livres circulantes, e isso é diretamente proporcional ao grau de obesidade, fazendo com que haja uma preferência na utilização de ácidos graxos para a produção de energia, em detrimento da glicose. Isso acaba gerando resistência periférica à ação da insulina e intolerância à glicose, sendo que tal fato parece explicar a relação existente entre o acúmulo de gordura visceral (abdominal) e into- lerância à glicose, característicada SM, que é tão comum em indivíduos que apresentam obesidade central. Você, profissional, deve considerara alteração dos níveis dos lipídios san- guíneos. O acúmulo de gordura no fígado, oriunda do excesso de ácidos graxos circulantes, proporciona o desenvolvimento da dislipidemia aterogênica (que também pode estar presente na SM). A obesidade também pode originar hipertensão arterial, principalmente a distribuição da gordura que é predominantemente abdominal. A gordura visceral pode aumentar a pressão intra-abdominal, gerando efeitos com- pressivos nos rins, que ativam o sistema renina-angiotensina-aldosterona e contribuem para a elevação dos níveis pressóricos. Além disso, a própria resistência à insulina (estado de hiperinsulinemia) tem efeito vasoconstritor, além de causar reabsorção de sódio pelos túbulos renais, contribuindo para o desenvolvimento da hipertensão. Apesar de já estar comprovado que o excesso de peso/obesidade é um fator de risco isolado para o desenvolvimento de outras enfermidades, inúmeros estudos têm demonstrado a importância das formas de distribuição da gordura corporal. Dentre os diferentes compartimentos do tecido adiposo, o tecido visceral parece ser o mais ativo, liberando maiores quantidades de ácidos graxos livres e secretando maiores concentrações de adipocitocinas, quando comparado à adiposidade periférica. Assim, a obesidade central (ou visceral, ou abdominal), que é um dos um dos componentes da síndrome metabólica, representa um importante fator de risco cardiometabólico. Patologia da nutrição e dietoterapia276 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 276 23/06/2017 15:45:57 Síndrome metabólica: diagnóstico clínico e prevenção primária O estudo relacionado à SM tem sido difi cultado pela ausência de consenso na sua defi nição e nos pontos de corte dos seus componentes, que repercutem diretamente na prática clínica e nas políticas públicas de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III(NCEP-ATP III) elaboraram defi nições para a SM, sendo que a defi nição da OMS estipula como ponto de partida a avaliação da resis- tência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, o que difi culta a sua utilização. Por sua vez, a defi nição do NCEP-ATP III foi desenvolvida para uso clínico e não exige a comprovação de resistência à insulina, facilitando a sua utilização. Segundo o NCEP-ATP III, a SM representa a combinação de pelo menos três componentes que serão apresentados, a seguir, sendo que pela sua praticidade e simplicidade é a defi nição recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Fonte: Brandão et al. (2005, p. 8). Componentes Níveis Obesidade abdominal por meio de circunferência abdominal Homens Mulheres > 102 cm > 88 cm Triglicerídeos ≥ 150 mg/dL HDL colesterol Homens Mulheres < 40 mg/dL < 50 mg/dL Pressão arterial ≥ 130 mmHg ou ≥ 85 mmHg Glicemia de jejum ≥ 110 mg/dL A presença de diabetes mellitus não exclui o diagnóstico de SM. Quadro 1. Componentes da Síndrome Metabólica, conforme o NCEP-ATP III. Destes critérios, a circunferência abdominal representa condição fundamen- tal para compor o diagnóstico da SM, associada a dois outros componentes. A circunferência abdominal, medida no meio da distância entre a crista ilíaca e 277Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 277 23/06/2017 15:45:58 o rebordo costal inferior, por ser o índice antropométrico mais representativo da gordura intra-abdominal e de aferição mais simples e reprodutível, é a medida recomendada. O ponto de corte estabelecido para a circunferência abdominal é de 102 cm para homens e de 88 cm para mulheres. No entanto, essas medidas têm sido questionadas por não se adequar a populações de diferentes etnias. A American Diabetes Association (ADA) propôs um novo ponto de corte para o diagnóstico de glicemia de jejum alterada, passando de 110 mg/dL para 100 mg/dL. Com essas considerações mais recentes, foram publicadas atua lizações nesses componentes da SM, que passaram a ser considerados da seguinte forma: Critérios Definição Obesidade abdominal Homens Brancos de origem europeia e negros ≥ 94 cm Sul-asiáticos, ameríndios e chineses ≥ 90 cm Japoneses ≥ 85 cm Mulheres Brancas de origem europeia, negras, sul-asiáticas, ameríndias e chinesas ≥ 80 cm Japonesas ≥ 90 cm Quadro 2. Novos critérios diagnósticos da Síndrome Metabólica. (Continua) Patologia da nutrição e dietoterapia278 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 278 23/06/2017 15:45:58 Quadro 2. Novos critérios diagnósticos da Síndrome Metabólica. Mesmo com essas atualizações, a medida de circunferência abdominal acima dos valores propostos é a condição fundamental para o diagnóstico de SM, associado a mais dois critérios. Ou seja, a presença de adiposidade central (ou visceral) é o ponto chave para a definição de SM, justamente por ser esse o tipo de distribuição de gordura corporal que representa fator de risco cardiometabólico. A investigação clínica e laboratorial tem como objetivos principais confir- mar o diagnóstico da síndrome metabólica (SM) de acordo com os critérios do NCEP-ATP III e identificar possíveis fatores de risco cardiovascular associados. Para possibilitar a investigação, você deve realizar uma avaliação clínica e laboratorial criteriosa, composta por: História clínica: idade, tabagismo, prática de atividade física, história pregressa de hipertensão, diabetes, diabetes gestacional, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, síndrome de ovários policís- Fonte: Lewis (1997). HDL colesterol Homens < 40 mg/dL Mulheres < 50 mg/dL Pressão arterial Sistólica ≥ 130 mmHg ou tratamento para hipertensão arterial Diastólica ≥ 85 mmHg ou tratamento para hipertensão arterial Triglicérides ≥ 150 mg/dL Glicemia Jejum ≥ 100 mg/dL (Continuação) 279Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 279 23/06/2017 15:45:58 ticos (SOP), doença hepática gordurosa não alcoólica, hiperuricemia, história familiar de hipertensão, diabetes e doença cardiovascular, uso de medicamentos hiperglicemiantes (corticosteroides, betabloqueadores, diuréticos). Exame físico: medida da circunferência abdominal, aferida na metade da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior; níveis de pressão arterial (aferir no mínimo duas medidas da pressão por consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso). Além destes dois dados obrigatórios deverá estar descrito no exame físico destes pacientes: peso e estatura e, a partir destes, o IMC deverá ser calculado; exame da pele para pesquisa de acantose nigricans (examinar pescoço e dobras cutâneas); exame cardiovascular. Exames laboratoriais: a glicemia de jejum é o exame recomendado para o diagnóstico das alterações da tolerância à glicose, não sendo exigido teste de tolerância oral à glicose (TOTG) nem métodos acurados de ava- liação da insulino-resistência (clamp euglicêmico, HOMA–IR); Também deve acontecer a dosagem do HDL-colesterol e dos triglicerídeos. Outros exames laboratoriais adicionais poderão ser realizados para melhor avaliação do risco cardiovascular global, tais como: colesterol total, LDL-colesterol, creatinina, ácido úrico, microalbuminúria, proteína C reativa, TOTG (glicemia de jejum e após duas horas da ingestão de 75g de dextrosol), eletrocardiograma. A presença de LDL aumentado não faz parte dos critérios diagnósticos da SM, porém, frequentemente, os pacientes portadores de resistência à insulina e SM apresentam aumento da fração pequena e densa do LDL-colesterol, que possui um potencial aterosclerótico maior. Prevenção primária da síndrome metabólica Conforme a OMS, os fatores de risco maisimportantes para a morbimortalidade relacionada às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são: hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, ingestão insufi ciente de frutas, verduras e legumes, sobrepeso ou obesidade, sedentarismo e tabagismo. Destes fatores, cinco estão relacionados à alimentação e à atividade física e três deles têm grande impacto no surgimento da SM. A predisposição genética, a alimentação inadequada e o sedentarismo estão entre os principais fatores que contribuem para o surgimento da SM, cuja prevenção primária é um desafi o mundial con- temporâneo, com importante repercussão para a saúde. Neste sentido, a adoção precoce por toda a população de estilos de vida relacionados à manutenção Patologia da nutrição e dietoterapia280 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 280 23/06/2017 15:45:59 da saúde, como alimentação adequada e prática regular de atividade física, preferencialmente desde a infância, é componente básico da prevenção da SM. A alimentação adequada, como forma de prevenção primária, deve: permitir a manutenção do balanço energético e do peso saudável; reduzir a ingestão de calorias sob a forma de gorduras; mudar o consumo de gorduras saturadas para gorduras insaturadas; reduzir o consumo de gorduras trans; aumentar a ingestão de frutas, verduras e legumes, assim como de cereais integrais; reduzir a ingestão de açúcar livre; reduzir a ingestão de sal (sódio) sob todas as formas. Ressalta-se que estas considerações sobre a alimentação são em caráter de prevenção primária. A abordagem nutricional na síndrome metabólica (tratamento) será detalhada mais adiante. A atividade física é determinante do gasto de calorias e fundamental para o balanço energético e controle do peso. A atividade física regular ou o exercício físico diminuem o risco relacionado a cada componente da SMe trazem benefícios substanciais também para outras doenças (câncer de cólon e câncer de mama). Baixo condicionamento cardiorrespiratório, pouca força muscular e sedentarismo aumentam a prevalência da SM. Além disso, o exercício físico reduz a pressão arterial, eleva o HDL-colesterol e melhora o controle glicêmico. Com duração mínima de 30 minutos, preferencialmente diário, incluindo exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular, o exercício físico previne a SM. A melhora de hábitos de vida deve contemplar a redução do tempo de lazer passivo (televisão, jogos eletrônicos, atividades em computadores, etc.). O tabagismo deve ser agressivamente combatido e eliminado, pois eleva o risco cardiovascular. Também é recomendada a utilização de programas educativos que abordem as medidas preventivas em escolas, clubes, empresas e comunidades, pois os mesmos atingem um grande número de pessoas e podem contribuir para a prevenção da SM. 281Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 281 23/06/2017 15:45:59 Apesar de não fazerem parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, diversas condições clínicas e fisiopatológicas estão frequentemente associadas a ela, como por exemplo: síndrome de ovários policísticos (SOP), acanthosis nigricans, doença hepática gordurosa não alcoólica, microalbuminúria, estados pró-trombóticos, estados pró-inflamatórios e de disfunção endotelial e hiperuricemia. Isso ratifica o quanto a SM provoca alterações importantes na homeostase do organismo e pode desencadear inúmeros agravos à condição de saúde e, portanto, deve ser prevenida. Abordagem nutricional na síndrome metabólica O tratamento da síndrome metabólica é dividido em medicamentoso e não medicamentoso. O uso de medicamentos é específi co para tratar as comor- bidades que podem estar envolvidas na SM, tais como: hipertensão arterial, diabetes e as dislipidemias. O tratamento não medicamento, por sua vez, é fundamentado em modifi cações no estilo de vida, onde os pilares fundamentais são: alimentação adequada, atividade física em caráter regular, abandono ao tabagismo e ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, além de controle de situações estressantes. Estas mudanças, quando incorporadas ao dia a dia, possibilitam: redução expressiva da circunferência abdominal e da gordura visceral; melhora significativa da sensibilidade à insulina; diminuição da glicose sérica (prevenção/retardo do dm); redução dos níveis pressóricos e de triglicerídeos; aumento do HDL-c. Cuidados nutricionais na Síndrome Metabólica A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exer- cício físico são considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica. A adoção de um plano alimentar saudável é fundamental no tratamento da síndrome metabólica. Veja as indicações a seguir: Patologia da nutrição e dietoterapia282 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 282 23/06/2017 15:45:59 Necessidades de energia: o primeiro passo é estabelecer as necessidades do indivíduo a partir da avaliação nutricional, incluindo a determinação do IMC, circunferência abdominal e, quando possível, a composição corporal. O plano alimentar deve fornecer um valor energético (VET) compatível com a obtenção e/ou manutenção de peso corporal desejável. Ele deve ser individualizado e prever uma redução de peso sustentável de 5 a 10% de peso corporal inicial. Para obesos, a dieta deve ser hipo- calórica, com uma redução de 500 kcal a 1.000 kcal do gasto energético total (GET) diário previsto ou da anamnese alimentar, com o objetivo de promover perdas ponderais de 0,5 kg a 1,0 kg/semana. Um método prático para o cálculo do GET é utilizar 20 kcal a 25 kcal/kg peso atual/ dia, sendo que planos alimentares com VET inferior a 800 kcal não são recomendados, pois não são efetivos para a redução ponderal. Carboidratos: para os carboidratos, é recomendado o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. O açúcar de mesa ou produtos contendo açúcar (fonte de frutose) podem eventualmente ser ingeridos no contexto de um plano alimentar saudável. Não há evidências suficientes para recomendar o uso de alimentos de baixo índice glicêmico como estratégia primária no plano alimentar. Fibras: recomenda-se o consumo de 20 a 30 g/dia sob a forma de ver- duras, legumes, leguminosas, grãos integrais e frutas, pois fornecem minerais, vitaminas e outros nutrientes essenciais para uma dieta sau- dável. Embora altas quantidades de fibras (50 g/dia) mostrem efeitos benéficos sobre o controle glicêmico e lipídico, não é conhecido se a palatabilidade e os efeitos gastrintestinais colaterais dessa quantidade de fibras seriam aceitáveis pela população. Gorduras: a ingestão de gordura é inversamente associada à sensibili- dade insulínica não somente pela relação positiva com o peso corporal, mas também pela qualidade da oferta de ácidos graxos. Em algumas situações, como na hipertrigliceridemia ou quando o HDL-colesterol for inferior ao desejável, pode ser aconselhável aumentar a quantidade de gordura monoinsaturada, reduzindo neste caso a oferta de carboidratos. Esta substituição deve acontecer, pois o aumento dos ácidos graxos monoinsaturados de forma aditiva ao plano alimentar pode promover o aumento de peso. Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 podem ser benéficos na síndrome metabólica, especialmente na ocorrência de hipertrigliceridemia grave em pessoas com diabetes tipo 2. Duas ou três porções de peixe/semana devem ser recomendadas para estimular a oferta deste componente alimentar. Os ácidos graxos trans aumentam 283Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 283 23/06/2017 15:45:59 o LDL-colesterol e triglicerídeos e reduzem a fração do HDL-colesterol e, portanto, o seu consumo deve ser reduzido. A maior contribuição desses ácidos graxosna dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas, margarinas duras e shortenings (gorduras industriais presentes em sorvetes, chocolates, produtos de padaria, salgadinhos tipo chips, molhos para saladas, maionese, cremes para sobremesas e óleos para fritura industrial). As gorduras totais devem representar de 25 a 35% do VET, sendo que os ácidos graxos saturados devem perfazer valores < 10% do VET (até 7% se LDL > 100 mg/dL); os ácidos graxos poli-insaturados 10% do VET e os ácidos graxos monoinsaturados até 20% do VET e o colesterol deve ser < 300 mg/dia (até 200 mg/dia se LDL > 100 mg/dL). Proteína: é recomendada uma ingestão diária de proteínas de 0,8 g a 1 g/kg de peso atual ou 15% do VET. Embora dietas hiperproteicas e baixa em carboidratos possam promover a redução de peso e melhorar a glicemia em curto prazo, não está bem estabelecida a sua efetividade em longo prazo. Vitaminas e minerais:o plano alimentar deve prover a recomendação para o consumo diário de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítricas) e de três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. Recomenda-se, sempre que possível, dar preferência aos alimentos integrais. Sal de cozinha: deve ser limitado a 5 ou 6 g/dia. Devem ser evitados os alimentos processados como embutidos, conservas, enlatados, defuma- dos e salgados de pacotes tipo snacks. Ao contrário, temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são recomendados em vez de condimentos industrializados. Recomendações alimentares complementares: a adoção do modelo dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension)e da Dieta Mediterrânea, que preconizam o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas, laticínios com baixo teor de gordura total, gordura saturada e trans e colesterol, alta quantidade de gordura monoinsaturada (azeite de oliva) e ácidos graxos ômega-3 e fornece altas quantidades de potássio, magnésio e cálcio, pode ser uma opção terapêutica na síndrome metabólica quando associada a uma intervenção no estilo de vida. Ainda, a adoção do modelo dietético DASH e da Dieta Mediterrânea podem aumentar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis pressóricos. Patologia da nutrição e dietoterapia284 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 284 23/06/2017 15:46:00 Você, profissional, precisa estar atendo de que o plano alimentar deve ser fracionado em cinco refeições, sendo três principais e dois lanches. Quanto à forma de preparo dos alimentos, deve-se sugerir os grelhados, assados, cozidos no vapor ou até mesmo crus. Os alimentos diet e light podem ser indicados no contexto do plano alimentar e não utilizados de forma exclusiva. Igualmente, devem ser respeitadas as preferências individuais e o poder aquisitivo do paciente e da família. Para concluir, a SM compreende, na sua definição, doenças crônicas como a hipertensão arterial, diabetes melito e dislipidemia que, isoladamente, apre- sentam controle pouco satisfatório, devido à baixa adesão ao tratamento. Esforços devem ser conjugados no sentido de otimizar recursos e estratégias, com participação ativa do paciente e manutenção da sua qualidade de vida, visando minimizar ou evitar essa problemática tão frequente. A atuação inte- grada dos membros da equipe de saúde: médico, nutricionista, educador físico, enfermeiro, psicólogo, assistente social, farmacêutico, visando à assistência ao paciente, é o grande passo para conquistas futuras de melhores resultados. Para conseguir controlar o consumo de gorduras, deve-se limitar o consumo de carnes gordas, embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco, molhos, cremes e doces ricos em gordura e alimentos refogados e temperados com excesso de óleo ou gordura. Peixes da costa brasileira, como por exemplo, a sardinha, a pescada, a truta e o cherne apresentam boas quantidades de gorduras insaturadas e são ótimas opções de consumo. 285Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do sistema cardiovascular U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 285 23/06/2017 15:46:00 1. A Síndrome Metabólica (SM) tem sido alvo de muitos estudos nos últimos anos. Ela pode ser definida como um grupo de fatores de risco inter-relacionados, de origem metabólica, que diretamente contribuem para o desenvolvimento de doença cardiovascular (DCV) e/ou diabetes do tipo 2. Quais são os dois principais fatores que estão relacionados ao surgimento da SM? a) Hipertensão arterial e dislipidemia. b) Obesidade e diabetes. c) Obesidade abdominal e resistência à insulina. d) Dislipidemia e obesidade periférica. e) Diabetes e dislipidemia. 2. Dentre os critérios para a definição de SM, qual é considerado como fundamental e imprescindível para o diagnóstico e que deve estar presente? a) Hipertensão arterial. b) Circunferência abdominal acima dos valores preconizados. c) Resistência à insulina. d) Triglicerídeos 150 m/dL. e) Glicemia de jejum 100 mg/dL. 3. São considerados comportamentos básicos para a prevenção primária da SM: a) Uso de medicamentos e atividade física. b) Controle da hipertensão arterial e do diabetes. c) Redução do peso corporal e dos lipídios sanguíneos. d) Alimentação adequada e atividade física. e) Diminuição do tabagismo e alimentação adequada. 4. Quanto à abordagem nutricional na SM, O plano alimentar deve fornecer um valor energético (VET) compatível com a obtenção e/ou manutenção de peso corporal desejável. Ele deve ser individualizado e prever uma redução de peso sustentável, que corresponda a: a) 5 a 10% de peso corporal inicial. b) Uma oferta média de 800 kcal/dia. c) Oferta de 25 a 30 kcal/kg peso/ dia para indivíduos obesos. d) Uma oferta de 500 a 1.000 kcal/dia. e) Perdas ponderais de 0,5 kg a 1,0 kg/mês. 5. Na conduta nutricional, além do controle do tipo de gorduras, limitação na ingestão de sal, maior aporte de fibras, frutas, verduras, legumes e cereais integrais, existem recomendações complementares de alimentação, que parecem auxiliar no controle da resistência à insulina e dos níveis pressóricos. Quais são essas recomendações complementares? a) Utilizar temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas em vez de condimentos industrializados. b) Manter a oferta proteica em torno de 15% do VET. Patologia da nutrição e dietoterapia286 U3_C18_Patologia da nutrição e dietoterapia.indd 286 23/06/2017 15:46:00 c) Fracionar o plano alimentar em cinco refeições, sendo três principais e dois lanches. d) Quanto à forma de preparo dos alimentos, preferir os grelhados, assados, cozidos no vapor ou até mesmo crus. e) Adoção do modelo dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) e da Dieta Mediterrânea. BRANDÃO, A. P. et al. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 84, supl. 1, p. 1-28, abr. 2005. Disponível em: <http://publicacoes.cardiol. br/consenso/2005/sindromemetabolica.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017. XAVIER, H. T. et al. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Ar- quivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 101, n. 4, supl. 1, p. 1-18, 2013. 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