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9 1 INTRODUÇÃO A corporeidade é uma denominação que pode num primeiro momento ser interpretada de maneira errônea ou estereotipada. Para muitos, a corporeidade está voltada apenas para as questões biológicas do homem, no entanto, a partir de estudos e leituras mais aprofundadas ver-se-á que a corporeidade vai além desta dimensão. Com o olhar de educadores, pode-se compreender que a corporeidade é a maneira do homem estar presente no mundo, isto é, a forma com que este interage com as coisas e pessoas. Acredita-se que a concepção de corporeidade tem no ser humano o principal foco. Todas as características que definem uma pessoa são, por conseguinte, aspectos da corporeidade do homem, como a cultura, a política, a religião, as ideologias, enfim, particularidades que podem diferenciar uma pessoa da outra, onde a identidade singular de cada sujeito pode se assemelhar em determinados grupos de pessoas. Um bom exemplo dessa semelhança são os povos e as civilizações. Nesse sentido, Polak (1997) traz o propósito de um corpo que ocupa o lugar de fusão de fenômenos orgânicos e sociais, sendo o cenário no qual a cultura e a natureza dialogam, onde o coletivo e o individual se interpenetram. O ser humano se faz presente no mundo pelo seu corpo, este último representando uma dimensão construtiva e expressiva do ser do homem, sendo denominado de corpo próprio, corpo vivente. (COMIN; AMORIM, 2010, p. 262). A partir desse foco, pode-se considerar que a corporeidade como visão histórica e social do sujeito tem uma ligação direta e profunda com a Educação. Isto porque, a Educação como construção social, permite que os homens troquem informações/conhecimentos propiciando a socialização e a transformação dos saberes já existentes. De acordo com Freire (1979, p.28), “A educação, portanto, implica uma busca realizada por um sujeito que é homem. O homem deve ser sujeito de sua própria educação. Não pode ser o objeto dela. Por isso ninguém educa ninguém.”. Valores, tanto de ordens sociais ou políticas, como os de ordens religiosas ou de comportamentos, se perpetuam de geração em geração e, portanto, revelam a Educação como forma de abertura e possibilidade para novas realizações/descobertas. Porém, o que se percebe em alguns momentos é um movimento contrário ao que a própria Educação propõem, pois ao invés de trabalhar a ascensão do sujeito e valorizar as suas diferenças em determinadas situações simplesmente molda seus alunos em pessoas passivas, igualando-as, de forma que só consigam reproduzir e decorar informações pré-determinadas. 10 Considera-se que, a corporeidade faz parte do homem por natureza, e que esta não é apenas um aspecto biológico, mas também de caráter social, já que no corpo estão gravados os códigos e valores de cada ser humano. E por isso ao se valorizar a corporeidade como linguagem, deve-se levar em conta a importância da mesma se fazer presente em sala de aula como parte do processo pedagógico, agregando a aprendizagem com as vivências corporais. Mas meu corpo, este corpo de carne, ossos e vísceras; este corpo que joga, dança, faz esportes, canta interpreta e representa histórias; este corpo mais ou menos bonito ou feio; mais ou menos forte ou fraco, mais ou menos habilidoso; mais ou menos feliz ou triste; mais ou menos deprimido ou ansioso; este corpo sempre carente de aprendizagens, vive o mundo real. É a minha forma estar no mundo. Assim, por mais que a arrogante prepotência de ser racional queira negar minha corporalidade sou antes de tudo um corpo no mundo. Como afirma Damásio (2000) não há mente sem corpo. Portanto, é chegada a hora de a escola e sua pedagogia o acolherem e o reconhecerem. (GAYA, 2006, p. 255). As vivências corporais estão presentes nas expressões individuais, onde cada sujeito é entendido por sua particularidade, sendo nas vivências das brincadeiras, dos movimentos, das dança ou dos jogos, ou na troca de conhecimentos e experiências. Com isso acredita-se que a corporeidade dentro da Educação está em forte sintonia com o ensinar e com a construção das aprendizagens, pois ao se considerar o sujeito em suas particularidades/corporeidades estará indo ao encontro da Educação emancipatória, onde as aprendizagens são significativas, prazerosas e contextualizadas com a realidade de cada um. Durante a caminhada acadêmica, foi possível perceber que as reflexões sobre a Educação aliadas às práticas do prazer e das brincadeiras só se faziam presentes em narrativas e estudos relacionadas às Series Iniciais e na Educação Infantil. Entretanto, a formação do curso inclui a docência na Educação de Jovens e Adultos – EJA. Para tanto, se faz pertinente conhecer e refletir as práticas que promovam o conhecimento a partir da satisfação, da alegria e das brincadeiras. A partir disso pensou-se na possibilidade de mediar à aprendizagem na EJA a partir de práticas que promovam a satisfação utilizando o próprio corpo para a efetivação destas aprendizagens. Se mãos, olhos e ouvidos já auxiliam a aprendizagem é possível valorizar o corpo inteiro e não somente algumas partes. O corpo do homem é entendido como expressão de suas identidades e culturas e este corpo precisa vir para a sala de aula e ao contrário do que se faz, ele não precisa ficar imóvel na carteira, ele pode ensinar e aprender. Aprender na escola, algumas vezes, é difícil e cansativo. Por isso, a corporeidade também faz sentido na Alfabetização da EJA, uma vez que os alunos que ficaram afastados da escola por muitos anos voltam cheios de experiências de vida, com frustrações, com vitórias. 11 Desta forma, as reflexões que se faz servirão de suporte para a pesquisa sobre a temática corporeidade na Educação de Jovens e Adultos. A partir das leituras e dos debates realizados durante as aulas que envolveram a Educação de Jovens e Adultos no curso de Pedagogia na Universidade Municipal de São José - USJ foi que surgiu a vontade de “descobrir”, cada vez mais, como acontece a Educação de Jovens e Adultos/EJA. Neste sentido, apesar dos estudos teóricos realizados, as inquietações e curiosidades quanto a esta Modalidade de Ensino continuam, isso causado pelo desconhecimento da práxis e do que acontece em uma sala de aula da EJA. Sabe-se que o perfil dos alunos da EJA, na sua maioria, é retratado por trabalhadores que necessitaram abandonar/largar os estudos ou até mesmo por adultos que nunca freqüentaram a escola. Não por destino, preguiça, ou má vontade, mas ocasionado na maioria das vezes por causa da auto-estima baixa, por questões financeiras, pela necessidade de subsistência ou pela falta de políticas públicas. Na sua grande maioria, são adultos que a sociedade em alguns momentos desistiu, negligenciou e que hoje freqüentam pela primeira vez uma escola ou retornam a sala de aula atrás de cursos de Alfabetização, Ensino Fundamental e Médio. Esses sujeitos pagam suas contas de luz, água, compram comida e roupas, andam de ônibus, vão ao mercado, porque criaram/desenvolveram seus próprios códigos em busca da autonomia e da sobrevivência no mundo letrado. Os alunos que freqüentam os cursos de Educação de Jovens e adultos vivenciam ou vivenciaram múltiplas experiências em função das localidades em que residem das diferentes influencias étnicas e culturais que sofreram e também em função individuais e familiares [...]. Em linhas gerais, os alunos jovens e adultos constituem, do ponto de vista sócio econômico, um grupo relativamente homogêneo, pois fazem parte de classes populares, cuja condição de vida muitas vezes é precária, em que a necessidade de trabalho se coloca desde muito cedo, consequentemente, envolvidos em serviços que exigem pouca escolaridade. (ARNS, 2005, p. 28). Diante deste contexto, sentiu-se/percebeu-se a necessidade de conhecer na prática as particularidades dos alunos da EJA, uma vez que nas discussões sobre esta Modalidadede Ensino ocorridas no curso de Pedagogia trouxeram à tona o elevado índice de evasão, logo no início do ano letivo das turmas de Alfabetização da EJA. Acerca dessa questão da evasão, Arns (2005) trás algumas reflexões: [...] a permanência dos alunos na escola é hoje um dos grandes problemas a serem enfrentados, por todos na educação brasileira: órgãos governamentais, comunidades e equipes escolares. Embora as causas da não-permanência sejam múltiplas, cabe enfatizar entre elas a falta de acolhimento dos alunos, ou seja, um tratamento 12 especial por parte da escola, uma vez que, de certo modo, esse fator condiciona demais. (ARNS, 2005, p. 28-29) Essa observação abriu espaço para pesquisar então, uma nova maneira de trabalhar a mediação na Educação - EJA, preocupando-se com as práticas que facilitem e também que seduzam o processo de ensino e aprendizagem. Assim, se faz pertinente pesquisar se existe um olhar mais atento à sensibilidade e à afetividade destes alunos e se os mesmos se sentem valorizados/reconhecidos e conscientes de seu papel enquanto sujeitos de/da transformação. A partir deste olhar, fechou-se o foco da pesquisa na expressão corporal dos alunos da EJA. Ou seja, pesquisar-se-á como seria o processo de ensino e aprendizagem na EJA com vivências corporais que envolva brincadeiras e/ou jogos, as danças e os movimentos e expressões. Segurar um lápis, desenhar as letras, são ações que exigem coordenação motora. Nesta perspectiva, acredita-se que conhecer e valorizar o corpo através do lúdico é mais do que pensar somente no prazer no decorrer do processo de aprendizagem, mas também, pensar em desenvolver habilidades e vivenciar questões históricas e culturais com outros tipos de estratégias. A idade adulta é rica em transformações e dá continuidade ao desenvolvimento psicológico do individuo. O adulto é alguém que evolui e se transforma continuamente. Seu desenvolvimento cognitivo relaciona aprendizagem, interação com o meio sociocultural e os processos de mediação. (ARNS, 2005, p. 31). Paralelamente a estas questões que permearam o Trabalho de Conclusão de Curso do primeiro semestre TCC 1 e o Estágio na Educação para Jovens e Adultos – EJA, e a pesquisa se faz a seguinte indagação: é possível oferecer uma Educação de qualidade aos sujeitos Jovens e Adultos, que contextualize a realidade, através da interação com o meio, com os pares, com a sociedade formando sujeitos críticos e em verdadeiro exercício de cidadania a partir do olhar da corporeidade? A corporeidade que está intrínseca muitas vezes á Educação Física trabalhada com as crianças e da qual a Educação de Jovens e Adultos em sua maioria não tem acesso, pode tornar o processo ensino e aprendizagem mais atraente e significativo e dessa forma vir a reduzir os índices de evasão e quem sabe, estimular o retorno ou o ingresso dos alunos a esta Modalidade de Ensino. 1.2 Objetivos 13 1.2.1 Objetivo Geral Pesquisar e Compreender como ocorre a vivência das diversas linguagens do corpo, na Educação de Jovens e Adultos – EJA, especificamente em uma turma de Alfabetização I localizada em uma Escola da Rede Municipal Pública de São José. 1.2.2 Objetivos Específicos - Pesquisar e buscar compreender o que é corporeidade. - Contextualizar a aprendizagem através do corpo. - Investigar se é possível vivenciar a corporeidade na Educação de Jovens e Adultos. 14 2 CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA 2.1 Re-Conhecendo a Corporeidade O corpo do ser humano carrega marcas culturais, assim como o jeito que ele se vê e se expressa. Segundo Gonçalves (2005, p.15-14), “Cada corpo expressa a história acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores, suas leis...”, ou seja, pode-se perceber o corpo como algo dinâmico, que faz parte da sociedade e da história. Houve um tempo na história da humanidade em que o corpo valia mais que a razão. Nesta época o corpo mostrava a agilidade, a competência, o poder que o homem possuía. Desta forma, como afirma Gonçalves (2005, p.18) “as relações sociais eram construídas e consolidadas pelo corpo”. Maria Augusta Salin Gonçalves (2005 p. 18) contextualizou o olhar que a sociedade trazia do corpo desde muito cedo, “Na idade Média, as ações do homem, em sua vida cotidiana, estavam diretamente ligadas ao seu corpo, o que fazia com que este estivesse no centro dos acontecimentos.”, e relata ainda que “nas sociedades pré-industriais, era grande a significação do corpo para a identidade pessoal e social [...] eram valorizadas qualidades corporais como força, destreza e agilidade.”, mostrando que a relação dos homens com sua corporalidade é antiga e geralmente foi envolta à estética e às necessidades de sobrevivência, como os escravos, os índios, os negros, os artesãos e outros trabalhadores manuais. No entanto, essa ligação íntima do corpo com a sobrevivência/existência, pelo trabalho, fortalecida pela cultura, passa a ser transformada com o surgimento das indústrias, com o início da divisão do trabalho e com os operários obedecendo e/ou sendo asujeitados ao ritmo das máquinas e dos relógios, e dos interesses do capital. A sociedade começa a valer-se do corpo como um produto industrial e, ao mesmo tempo, a igreja censura-o estereotipando todas as relações entre os corpos, como o tocar-se e o mostrar-se. Foucault (1987, p.124), em seu estudo, Vigiar e Punir lembra do “quadriculamento” dos operários nas fábricas, onde os espaços de trabalho eram delimitados e cita ainda os corredores onde era possível “realizar uma vigilância ao mesmo tempo geral e individual”. Essa é uma das demonstrações de como se pode perceber o início de um poder sobre o corpo visto como subsidiário à mente, a inteligência e que influencia a sociedade até os dias de hoje. 15 Para Gonçalves (2005, p. 19), o operário moderno tornou-se indiferente em relação ao seu trabalho. Embora nem toda a sociedade trabalhe com as máquinas, o olhar que começa a difundir-se é de uma nova sociedade, a sociedade industrializada. O corpo também foi alvo das punições que durante séculos se caracterizou por punições violentas e sangrentas como as torturas. No entanto, revela-se que as punições para o corpo não se redimem com castigos, existe um poder contra o corpo dentro da sociedade, mesmo sendo um poder oculto e mascarado, ele está presente em toda e em qualquer forma de controle e detenção. [...] ainda que não recorram a castigos violentos ou sangrentos, mesmo quando utilizam métodos “suaves” de trancar ou corrigir, é sempre do corpo que se trata - do corpo e de suas forças, da utilidade e da docilidade delas, de sua repartição e de sua submissão. (FOUCAULT, 1987, p. 25). A corporeidade, portanto, exprime esse comportamento antropológico em que se procura e se promove uma conduta ideal para o corpo modelando o sujeito passivo e conformado. A escola, por conseguinte, também reproduziu essa ideologia, “acorrentando” os alunos às carteiras por horas, privando-os das vivências com a natureza, com os demais alunos e mantendo a docilidade a centenas de corpos, mascarando uma igualdade entre os alunos e separando-os apenas por idades. A posição sentada é reconhecidamente nefasta para a postura e para a circulação, e, no entanto, eis nosso homem ocidental com problemas de coluna, as veias esclerosada, os pulmões retraídos, hemorróidas e nádegas achatadas [...] Faz um século que vemos as crianças arrastando os pés embaixo das carteiras, entortando o corpo e pulando como rãs quando a sineta bate (sem falar nos 20% de escolioses). (HARPER et al, 1986, p.47). A relação de poder de um corpo sobre outro corpo, dentro da escola, é de toda a forma uma violência, o aluno permanece sentado, quieto não podendo quase nada. O controle do corpo dentro da escola universalizouo homem, individualizando-o, incutindo a ideia de torná- los iguais. No entanto, nos dias atuais percebe-se que a cultura corporal está voltada para o cuidar do corpo, referindo a estética. Vestir-se, analisar-se no espelho, ir à academia, fazer dietas e utilizar tratamentos estéticos são sinais da atual cultura corporal. Ou seja, um movimento inverso ao anterior: fazer-se visto pelo corpo. De certa forma este novo comportamento pode também ser entendido como um rebelar contra o excesso de igualdade incutida nos homens, onde as diferenças que durante anos foram rejeitadas começam a se fazer presente de uma forma mais ampla. 16 Não são todas as diferenças que são aceitas pela sociedade, algumas características ainda permanecem imutáveis. No entanto, as instituições começam a perceber a necessidade da mudança, os sujeitos passaram a se manifestar e o diferente começa a ser respeitado. Tatuagens, roupas, cabelos coloridos, piercing, são alguns exemplos de atitudes ligadas à corporeidade que representam as formas de se relacionar com o corpo. Neste sentido, entende-se que a corporeidade está em diálogo com o mundo, com a mente, interligando pensamentos e emoções como uma forma de se expressar. A corporeidade implica a inserção de um corpo humano num mundo significativo, a relação dialética do corpo consigo mesmo, com outros corpos expressivos e com os objetos do seu mundo [...], portanto as produções humanas são possíveis pelo fato de sermos corpo. Nosso corpo traz marcas sociais e históricas, dessa forma, questões culturais, de gênero e sociais podem ser lidas nele. (RODRIGUES, s/ano, s/p.). Desta forma, compreende-se que a corporeidade é a maneira com que o homem se comunica e interage com o mundo, com as pessoas, com os animais, consigo mesmo, vivenciado através das expressões e dos movimentos, sendo que esses movimentos corporais nem sempre são intencionais, mas que é igualmente um diálogo com o mundo exterior. Polak (1997) traz o propósito de um corpo que ocupa o lugar de fusão de fenômenos orgânicos e sociais, sendo o cenário no qual a cultura e a natureza dialogam, onde o coletivo e o individual se interpenetram. O ser humano se faz presente no mundo pelo seu corpo, este último representando uma dimensão construtiva e expressiva do ser do homem, sendo denominado de corpo próprio, corpo vivente. [...] concebe o corpo como algo que percebe e é simultaneamente percebido, devendo ser compreendido não apenas como objeto. Este conceito de "corpo vivente" ou "corpo vivido" seria uma forma de se estar no mundo em relação com os outros e com as coisas. Esta noção coloca a centralidade da alteridade, na medida em que a corporeidade se dá na relação com o mundo, na qual o outro nos constitui e ao qual constituímos continuamente. (COMIN; AMORIM, 2010, p. 262). A corporeidade passa a ser percebida como a forma de estar no mundo e não mais, como uma forma de passar pelo mundo. Através do corpo o homem interage com o meio, mas também com o corpo ele apreende a cultura e as normas de comportamento. O corpo, muito mais que uma máquina que a sociedade busca para o trabalho ou que a escola trata como aparelho de coordenações e reproduções, é lugar de vivência, de aprendizagem, está vivo. A corporeidade deve ser a referência que os homens possuem de si mesmo e de sua cultura humanística e possui algumas características de comportamento que traduzem muito mais do que os gostos, as preferências, as regras de sobrevivências, as crenças, os aspectos sociais e econômicos e as políticas ideológicas. Gonçalves (2005, p. 152-153) defende que “O corpo expressa não somente nossa história, mas também a história acumulada de uma sociedade, que nele imprimiu seus códigos.”. 17 Entende-se, então, que o homem expressa sua corporeidade quando ele simplesmente entra em contato com o mundo, abrindo-se às experiências e aos sentimentos. Ser-no-mundo com o corpo significa estar aberto ao mundo e, ao mesmo tempo, vivenciar o corpo na sua intimidade do Eu: sua beleza, sua plasticidade, seu movimento, prazer, dor, harmonia, cansaço, recolhimento e contemplação. [...] Ser- no-mundo com o corpo significa a presença viva do prazer e da dor, do amor e do ódio, da alegria e da depressão, do isolamento e do comprometimento. (GONÇALVES, 2005, p. 103). A partir dessas reflexões, pode-se perceber que a corporeidade não é subsidiária à mente, nem a mente subsidiaria ao corpo. Os dois coexistem, simplesmente, um está no outro. Ou seja, um homem completo, como ele o é, com corpo, razão e sentimento. A natureza do homem é ambígua, pois, ao mesmo tempo em que se constitui em nossa própria presença, está também sujeito a leis físicas, fisiológicas e mecânicas, como os outros objetos do mundo, que, de certo modo, fogem a nosso controle. O corpo, entretanto, não é um objeto entre outros - como foi considerado na fisiologia clássico -, reagindo mecanicamente a estímulos internos ou externos, mas é próprio ser do homem impregnado pela subjetividade que o anima. A fisiologia mecanicista, separando a sensação da afetividade e da motricidade, gerou um corpo autônimo, desprovido de interioridade. (GONÇALVES, 2005, p. 102). Segundo Oliveira (1992), para Vygotsky o homem aprende quando entra em contato com o mundo social [...] o funcionamento do cérebro humano fundamenta-se em sua ideia de que as funções psicológicas superiores são construídas ao longo da história social do homem. Na sua relação com o mundo, mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o distinguem de outros animais. (OLIVEIRA, 1992, p. 24). A Afirmação fortalece a ideia de que o homem é completo e de que todos os seus sentidos são importantes para o desenvolvimento intelectual e motor, demonstrando que esses dois aspectos se co-habitam, interligando funções onde a corporeidade favoreça o processo de desenvolvimento humano. 2.2 Aprendendo com o Corpo O homem muitas vezes é reconhecido e conceituado a partir da sua “casca”, sendo a expressão facial, os movimentos, as roupas, a “beleza” ou a “feiúra” esta casca capaz de inseri-lo ou excluí-lo dos grupos sociais, assim tudo vai depender de como ele se mostra ou tenta se esconder. No entanto, mais do que uma representação cultural de gostos e identificações, o corpo do homem - essa casca - manifesta sentimentos e emoções. Neste sentido, a escola ao ensinar matemática, ciências e outros conteúdos à centenas de corpos necessita compreender que a razão perpassa pelas emoções e pelos sentimentos. 18 Freire (1996, p. 34) apresenta essa mesma ideia ao postular que para as palavras falta a corporeidade já que “ensinar exige corporeificação das palavras pelo exemplo”. Wallon, de acordo com Dantas (1992, p. 38), estudou o desenvolvimento da pessoa e apresentou o desenvolvimento de pessoa inteira. Assim entende-se, pelo pensamento e estudos de Wallon, que o homem se constitui pelo cognitivo e pelo motor. Ou seja, “assim é para Wallon, o ato mental – que se desenvolve a partir do ato motor – passa em seguida a inibi-lo sem deixar de ser atividade corpórea.”. Não que uma fase do desenvolvimento supra a outra, ao contrário, para Wallon elas se encontram e se re-constroem. Os estudos de Wallon se fazem importantes, pois, segundo ele, o homem é mais que mente, ele têm corpo e se desenvolve também através dele, pelo comportamento. A motricidade humana, descobre Wallon em sua análise genética, começa pela atuação sobre o meio social antes de poder modificar o meio físico. O contato com este, na espécie humana, nunca é direto: é sempre intermediado pelo social, tanto em sua dimensão interpessoal quanto cultural. (LA TAILLE et al, 1992, p.38). Neste sentido, entende-se que o corpo fala, aprende, sente e reage aos estímulos internos e externos. Desenvolver a mente é, também, desenvolver o corpo, e estes nãoestão separados, muito pelo contrário: se completam. Considerando a ação educacional como uma ação exclusiva do ser humano, onde todo o ato educacional é dirigido por nós e para nós, buscamos entender a singularidade de nossa existência com a especificidade de cada elemento produzido pela história humana, entendendo que todo ato educacional expressa uma caracterização histórica e cultural. (LISBOA; SCHEFFLER, 2005, p. 9). Reconhecer o ato educacional, como essencialmente humano, compreende o quão inteiro o homem é. Ele aprende e ensina constantemente e é esta a ideia de aprender com o corpo, percebendo-se por inteiro, que passa a considerá-lo em todos os seus aspectos: racional, emocional e sentimental. Nesse movimento faz-se uma dialética interior entre esses aspectos e rompe-se o velho discurso de que o corpo é inerte para o aprendizado e, de acordo com Gaya (2006, p. 151), torna-se “[...] necessário reivindicar o lugar do corpo na escola.”. Então, como pode a escola, enquanto ambiente que exala cultura, não contemplar o homem por inteiro? E neste sentido Gaya (2006) referenda a necessidade de repensar o lugar do corpo na escola atual. Todavia o discurso pedagógico contemporâneo tão rico em intenções e inovações e que tanto exalta relações de necessária interdisciplinaridade, pluridisciplinaridade, transdisciplinaridade e complexidade, permanece míope. É uma visão míope reduzir o ensino escolar apenas à formação do res cogitans. Ora, não há mente, não há razão e não há espírito que não estejam encarnados. Sou corpo. Corpo vivido. Sou sentimentos, emoções e razões num corpo humano. (GAYA, 2006, p. 152) 19 Antigamente, as crianças das classes populares aprendiam em casa com seus pais, pois não existiam escolas. Ensinava-se apenas a caçar, a plantar e a colher. A Educação era ensinada de pai para filho, nesta época o corpo era indissociável da razão. Segundo Harper (1986, p. 25), “todo adulto ensinava”, aprendia-se a partir da própria experiência e da experiência dos outros. Aprendia-se fazendo o que tornava inseparáveis o saber, a vida e o trabalho. Na idade Média, a igreja passou a oferecer a Educação formal, “A atividade de ensinar passou então a se desenvolver em espaços específicos, cuidadosamente isolados do mundo dos adultos e sem qualquer relação com a vida de todo dia.”. (HARPER et al, 1986, p.26). No entanto, com o crescimento da sociedade as necessidades foram mudando. Iniciou- se então a busca por mão de obra qualificada. Desta forma, a Educação passou a ser oferecida a todas as pessoas. Hoje, a escola é entendida como a detentora do saber e é ela quem muitas vezes decide/pensa o que e como o conteúdo deve ser ensinado. A escola passou, então, a ser o principal espaço onde se ensina e se aprende, e tudo que acontece fora dela é rejeitado. Para Lisboa e Scheffler (2005, p. 14), “Fora dos muros da escola pode-se brincar à vontade, mas na escola só pode aprender. [...] Nossa intenção é indicar que há a possibilidade de brincar, aprender, teclar, escrever, ler [...]” e que isso pode ser feito com prazer. Para muitos, o corpo não tem função alguma na escola, é uma massa inerte e que precisa estar ali sentado, imóvel e vigiado pelo professor enquanto a mente, a cabeça, precisa estar atenta e direcionada ao quadro. Além disso, a escola, como instituição de ensino e de troca de vivências, lida todos os dias com diversas pessoas de diferentes idades, pensamentos, culturas e realidades. No entanto, quase sempre essa realidade é esquecida por quem faz à Educação escolarizante, concentrando-se em uma tentativa frustrada de igualar esses sujeitos através do comportamento. Desta forma, o sujeito quando visto individualmente é percebido e classificado como melhor, mais inteligente, estudioso, bagunceiro... Desigualdades e diferenças são produzidas e exercidas na instituição escola. Ela se incumbiu de separar os sujeitos através de múltiplos mecanismos de classificação, ordenamento e hierarquização. Mecanismos esses que muitas vezes reproduzem comportamentos estereotipados culturalmente e socialmente na civilização ocidental. A escola delimita espaços, ela afirma o que pode ou não pode fazer, ela separa e institui. Informa o “lugar” das crianças, dos adolescentes e dos adultos; dos meninos e das meninas. (RODRIGUES, 2007, p. 80). 20 O comportamento, apesar de dizer “quem é quem”, não deveria classificar as pessoas em melhores e piores, principalmente dentro da escola. Por isso, educar a partir da corporeidade significa também re-conhecer o corpo do homem como um reservatório de sentimentos, cultura e sensibilidade. Assim, trabalhar a corporeidade é aprender a ver o homem em sua totalidade, em sua plenitude. Gonçalves (2005, p. 152) salienta que O corpo sente, ao mesmo tempo em que estrutura a percepção e se move. Os sentidos se intercomunicam, formando uma síntese perceptiva, que é uma experiência pré-objetiva e pré-consciente. O pensar assenta-se sobre essa experiência, em que o homem se abre para o mundo. Ver o homem em sua totalidade é aceitá-lo com suas “esquisitices”, com suas “feiúras”, com seu mau-humor, no entanto para a escola ver o aluno em sua totalidade é absurdamente mais do que isso, pois é deixar as diferenças de lado e entender sua particularidade, garantir escolarização humanizada e de qualidade para cada sujeito, seja ele com necessidades especiais, criança, adulto, idoso, jovem, bagunceiro, tímido, entre outras especificações. É de responsabilidade da escola aprender a vê-lo e acolhê-lo. A partir dessas considerações, pode-se perceber que não existe aprendizagem quando se separa o corpo da mente. Os dois se complementam e não há aprendizagem quando não se deseja ou não se tem interesse em aprender. Por isso, é necessário seduzir o aluno contextualizando o que é ensinado. De acordo com Freire (2009, p. 7-8), Na sociedade globalizada de hoje, também os grandes problemas são globalizados. O cidadão formado nas escolas terá de aprender a lidar com questões coletivas muito complexas, como a poluição das águas e do ar, a destruição das florestas, a escassez de água potável [...]. Uma educação que o isole; que não promova trabalhos coletivos; que não incentive a ousadia, a emancipação e a autonomia estará, certamente em desacordo com os desafios que qualquer cidadão terá que enfrentar daqui por diante. Nossas escolas precisam romper as barreiras entre os prédios escolares e os acontecimentos do mundo. A prática da valorização da corporeidade em sala não construirá conhecimento algum se estiver dissociada da contextualização do tema que se apresenta aos alunos. O corpo aprende aquilo que lhe interessa. Freire (2009, p.7) sugere “incorporar a necessidade de educar os sentidos” e continua postulando que “ensinar a ver, ouvir, cheirar saborear e tocar é tão possível e tão importante quanto ensinar química”. É assim que a Educação pelo corpo construirá o conhecimento e, mesmo quando oculto, esse aspecto aparece em sala, seja pelo relato das experiências vividas pelos alunos, seja pela sua relação com o meio onde está inserido. Harper (1986, p. 108) já afirmava que: “Em todo canto, educadores motivados por uma profunda insatisfação [...] têm tentado instaurar uma relação mais autêntica e dinâmica 21 com seus alunos, procurando desenvolver sua criatividade e autonomia.” E como isso já foi escrito há mais de dez anos, é possível perceber que, atualmente, a Educação está mais perto de se consolidar pela corporeidade, pois favorece as diversas vivências em sala com experiências e jogos que propiciam o contato e a cooperação. Freire (2009, p. 8) estabelece que “o corpo tem de ser protagonista da cena educativa, sem, no entanto, diminuir a importância da razão”, mostrando que a Educação pela corporeidade é possível, fortalecendo a concepção de coexistência entre o corpo e a mente. A corporeidadequando valorizada na escola vem instaurada como uma estratégia para o processo de ensino e aprendizagem e através dela é possível desenvolver habilidades essenciais para este processo. Neste sentido, não se trata de pensar apenas em brincadeiras e jogos, mas de refletir acerca de uma Educação em que a mente apreende o que o corpo vê e sente. Assim, compartilha-se do pensamento de Freire (2009, p. 9) quando ele sugere que “Sugerimos uma Educação que insira a razão numa trama de dimensões que produza outro modo de ser inteligente”. Sendo este novo modo num contexto que perceba o homem e que o liberte das carteiras rígidas e estanques das salas de aula e que, juntamente com objetivos bem fundamentados, leve este aluno a experimentar o abstrato a partir do concreto. 2.3 Corporeidade na Educação de Jovens e Adultos: Por uma aprendizagem O Plano Nacional Educação - PNE (2001, p. 73) apresenta a EJA como modalidade de ensino e diz que, com ela, “Desenvolve-se o conceito de Educação ao longo de toda a vida, que há de se iniciar com a alfabetização. Mas não basta ensinar a ler e a escrever.”. Desta forma, percebe-se que as políticas de Educação começam a entender a EJA como uma Educação Contínua e, não mais, somente como compensatória. Este incentivo à Educação ao Longo da Vida e também o interesse pela EJA é resultado dos altíssimos índices de analfabetos. Números estes que segundo o PNE “envergonham o País” (PNE, 2001, p. 70). Tabela 1 - Não eram estudantes na população de 15 a 17 anos de idade (Percentual) (%)1 Ano Não estudantes na população de 15 a 17 anos de idade (Percentual) 1 Tabela retirada do site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 22 1992 40.3 1993 38.1 1995 33.4 1996 30.5 1997 26.7 1998 23.5 1999 21.5 2001 18.9 2002 18.5 2003 17.6 2004 17.8 2005 18.0 2006 17.5 2007 17.7 Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Percebe-se, a partir dos dados pontuados, que o número de analfabetos no Brasil é grandioso. Em 1992, quase metade da população entre 15 e 17 anos se encontrava fora da escola. Assim entende-se porque a EJA passou a ser preocupação das Políticas Publicas Educacionais. O PNE ao exibir esta apreensão e o novo conceito de Educação ao Longo da Vida, traz a ideia de uma escolaridade que prepare o sujeito para a prática da cidadania, e menciona que: Para inserir a população no exercício pleno da cidadania, melhorar sua qualidade de vida e de fruição do tempo livre, e ampliar suas oportunidades no mercado de trabalho, a educação de jovens e adultos deve compreender no mínimo, a oferta de uma formação equivalente às oito séries iniciais do ensino fundamental. (PNE, 2001, p 73). Aos poucos se ascende certa preocupação com a Educação de Jovens e Adultos, causada pelos números e pelo acelerado desenvolvimento da sociedade. No entanto, é esta mesma sociedade que passa a repensar a escola. A escola sendo uma instituição responsável pela universalização do conhecimento, nem sempre consegue cumprir sua função de garantir a apropriação do conhecimento cientifico como forma de inserção social e cultural do sujeito no mundo. Perante tal contexto, faz-se necessário repensar a escola, e aqui, o papel da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que visualizamos como um direito do cidadão, buscando entender nesse repensar o que significam tais mudanças e suas implicações para a vida, para a escola e para a educação. (SÃO JOSÉ, 2000, p. 117). Os sujeitos que retornam às escolas, voltam porque querem, muito, aprender a ler e a escrever. É um desejo e Barcelos (2007, p. 75) postula que “O retorno à escola é em muitos 23 casos, um acontecimento esperado, festejado pelos educandos Jovens e Adultos”. É por isso que esta Modalidade de Ensino necessita estar voltada às particularidades dos discentes, uma vez que os sujeitos que retornam à escola ou, que pela primeira vez, frequentam-na, não o fazem por obrigação, mas porque possuem consciência da importância da Educação em suas vidas, seja para fins profissionais ou pessoais. Quando se está diante dos Jovens e Adultos que frequentam a EJA, é importante que se dê todo o suporte necessário, uma vez que não se pode modificar ou apagar o passado, nem as feridas desses sujeitos, mas se pode oportunizar o acesso à aprendizagem, acolhê-los e respeitá-los enquanto sujeitos de direitos. Este retorno ao estudo é de grande importância para a sociedade, por isso também é necessário que as escolas estejam preparadas para oferecer essa modalidade de Ensino e que este ambiente seja acolhedor e agradável para quem o procura. Um dos grandes desafios da escola, que também vai além de promover o acesso a ela, é fazer com que seja possível a permanência desses Jovens e Adultos e, neste sentido, cabe salientar que a responsabilidade é muito grande, reconhecendo que mesmo as pequenas atitudes podem causar o afastamento. Sendo que cabe também ao educador acolher seus alunos e fazer o melhor trabalho que for possível, evitando que os erros assumam espaço comprometedor nesse processo. Paralelamente a isto se podem construir maneiras que reforcem a motivação do retorno à escola, criando situações que fortaleçam a autoestima e a autonomia dos alunos a fim de prepará-los para a alfabetização. Propor atividades que venham facilitar o processo de aquisição da leitura e escrita é necessário, a fim de desenvolver mecanismos para que a alfabetização seja facilitada. Vygotsky ao falar sobre o desenvolvimento humano apresenta a compreensão de um desenvolver ao longo da existência. Segundo Oliveira (1992, p. 24), “Vygotsky rejeitou, portanto, a ideia de funções mentais fixas e imutáveis trabalhando com a noção do cérebro com um sistema aberto, de grande plasticidade.”. Além disso, Vygotsky também considerava o homem como ser biológico “que só se desenvolve no interior de um grupo cultural.” (OLIVEIRA, 1992, p. 24). Junto a isto Freire (1979, p. 28) afirma que: “O homem não é uma ilha. É comunicação. Logo, a uma estreita ligação entre relação e busca”. Com isso compreende-se que o homem amplia suas experiências, integra-se, e assim recria seus saberes. Atualmente, a escola está percebendo que junto com o crescente desenvolvimento das tecnologias, os alunos, sendo eles as crianças e/ou adolescentes, chegam à escola com 24 conhecimento/informações mais amplas do mundo que as cerca. E neste cenário, compreende- se também e, principalmente, que os alunos da EJA chegam à escola com conhecimentos bem diversificados sobre o mundo e muitos destes saberes são de senso comum. Sendo assim, passa a ser de responsabilidade da escola agregar a essas vivências os conhecimentos científicos, e preparar esses alunos para fazerem verdadeiramente parte da sociedade, e não só como um número passivo, mas como um cidadão capaz de exercer os seus direitos e os seus deveres, enfim a sua cidadania. A aprendizagem escolar, como categoria do processo sócio-histórico de educação, está diretamente ligada com a elaboração de conceitos científicos que subsidiam o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Tais conceitos permitem ao sujeito uma mudança qualitativa, ou seja condições mais ampliadas de relacionar-se com os outros e com o mundo, possibilitando ações conscientes controladas e intencionais executadas no momento em que se fizerem necessárias, mesmo que ocorram temporariamente e espacialmente distantes do momento de ensino- aprendizagem. (SÃO JOSÉ, 2000 p. 123). Partindo desse pressuposto, a Educação para todos os sujeitos deve ser instigadora, problematizadora e contextualizada com a realidade. É necessário, como diz Arns (2005, p. 29), que a escola conheça os alunos “para, a partir daí desenvolver um projeto educativo que contemple as questões mais importantes a serem trabalhadas.”.Ao identificar os problemas, conhecer, conversar e entender como o adulto aprende e em que mundo vive, é possível construir uma Educação de qualidade ou pelo menos atenda as suas necessidades. Trabalhar a partir das experiências e das necessidades do sujeito é educar também pela corporeidade. Trabalhar a aceitação da autoimagem pode também ser tarefa da escola. Não que esta necessidade esteja presente no currículo, mas entende-se que esta Modalidade de Ensino pode e deve abrir espaço para todas as possibilidades e formas de manifestação, principalmente, às que elevam a autoestima do educando. A proposta de trabalhar com a corporeidade na EJA reflete-se na busca de efetivar uma estratégia de ensino que favoreça a aprendizagem, facilitando-a. Segundo Gonçalves (2005, p. 152), “o sentir é anterior ao pensamento”, sendo assim experimentar situações pelo corpo beneficiará os sujeitos no seu processo de apreensão do conhecimento. A autora ainda expõe que “Os sentidos se intercomunicam, formando uma síntese perceptiva, que é uma experiência pré-objetiva e pré-consciente. O pensar assenta-se sobre essa experiência, em que o homem se abre para o mundo.” (GONÇALVES, 2005 p. 152). A corporeidade a ser trabalhada na escola vai além do lúdico, está aliada à mediação, às propostas colocadas para o processo de aprendizagem que possuem como alicerce a construção de conhecimentos para a vida e não apenas como reprodutores de informações. 25 Entretanto é necessário esclarecer que a proposta de se trabalhar com a corporeidade, principalmente na Educação dos Jovens e Adultos, deve incluir objetivos bem estruturados, que ampliem os conhecimentos dos alunos, adequando as práticas às particularidades deles, é essencial que se tenha clareza sobre o que se quer e onde se deseja chegar. E também, neste sentido, a pesquisadora compartilha a ideia de sua pesquisa com Freire (2009, p. 7) quando este postula que “pretendemos demonstrar que o ambiente lúdico, além de facilitar o ensino de diversos conteúdos, cria condições para que o aluno trabalhe com a criatividade, a moralidade e a sociabilidade.” Isso é pertinente, pois se entende que a educação está conectada com a sociedade e suas produções/construções de novas realizações que acontecem a cada dia e, então, compreende-se com isso que a alfabetização na EJA não tem fim nesta escolarização. Os saberes construídos na escola devem seguir com a vida na sociedade letrada. A escola que atende à educação de Jovens e adultos precisa conhecer profundamente as singularidades dos alunos dessa modalidade de educação, sob o risco de perder sua função, precisa ofertar uma escolaridade que cumpra um objetivo especifico, com fins e propostas pedagógicas e não como mera adaptação da escola das crianças, nem como função de suprimento que os alunos não tiveram anteriormente. (ARNS, 2005, p. 29). Assim o trabalho docente, na grande maioria das vezes, é um ato de significar, interligando os saberes escolares e racionais com a realidade mais próxima do aluno. É “Inventar e reinventar. Isto talvez seja o que todo educador da EJA mais careça de fazer.”. (BARCELOS, 2007, p. 95). Freire (1996, p. 47), no livro “Pedagogia da Autonomia”, assinala diversos pontos para os professores, entre eles a ética, a pesquisa, o respeito e o comprometimento. De forma a desmistificar a ideia de que o professor apenas passa conhecimento, reconhecendo que “[...] ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”, tendo o professor como mediador desse processo. O educador como mediador assume o papel de quem ensina e aprende junto, respeita, dialoga e colabora com os sujeitos em suas descobertas. O docente transformador é aquele que busca, se aprimora e é coerente. E como “somos agentes de mudança, temos a responsabilidade de aprender a lidar com o novo, enfrentar desafios e elaborar soluções.”. (LISBOA, 2004, p.103). Ser educador dentro e fora de sala de aula significa acreditar na Educação e trabalhar a afetividade. Barcelos (1979, p. 41) exemplifica o sentimento de que quem se intitula não saber nada: 26 Primeiro dia de aula. O aluno recém-chegado à escola – já um pouco atrasado para o primeiro período – encontra no corredor de entrada uma professora e pergunta: - Professora, sou aluno da alfabetização noturna, onde fica minha sala? A professora devolve a pergunta com outra: - Que série você está cursando, meu rapaz? - Eu sou da turma dos que não sabem nada. Sou da turma dos burros... . - Há então sua sala é lá no final do corredor, a última na porta virando à direita. - Muito obrigado, professora – disse o jovem. O sujeito traz suas experiências, não é vazio. Não é uma “tabula rasa”, um papel em branco. Sendo assim, o processo de “alfabetização não se pode fazer de cima para baixo, nem de fora para dentro, como uma doação ou exposição, mas de dentro para fora pelo próprio analfabeto, somente ajustado pelo educador.”. (FREIRE, 1979, p. 72). Nesse modelo proposto, o educador deixa de ser visto como o “sabedor”, ele aponta os caminhos, questiona o aluno para que ele possa construir seus conhecimentos e suas verdades, “às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor.”. (FREIRE, 1996, p. 42). Com esta perspectiva é que se aponta a necessidade de se pensar a Educação a partir do corpo e pelo corpo, possibilitando ação motivacional e sensações de satisfação. A educação que recorre às práticas corporais [...] intervém mais para desenvolver conhecimentos do que para transmitir verdades. Esses conhecimentos devem advir das relações entre as pessoas e seu mundo, tendo como resultado: A produção de um conhecimento original, de um lado irredutível – isto é, inconfundível, singular, diferente daquele das outras pessoas, porque construído por uma pessoa especifica – e, de outro complementar – pois, sendo produto da relação com o mundo, estabelece ligação com ele e refere-se, em linhas gerais, aos conhecimentos de todas as outras pessoas. (FREIRE, 2009, p. 31). Conhecer e utilizar o corpo através do lúdico e das brincadeiras deixou de ser referência de construção de práticas infantilizadas. Ou seja, a corporeidade se constitui em uma possibilidade de pensar a Educação pela esfera humanizadora, onde os professores trabalham a sensibilidade que de acordo com Freire (2009, p. 32), Somos mais que um corpo biológico; nossa natureza [...] é cultural. [...] Nunca nos ensinaram, na escola, a sermos sensíveis, nem a lidar com as emoções. Nunca nos ensinaram a viver em sociedade, nem a ter uma moral autônoma; muito menos nos ajudaram a desenvolver o sentido estético. A única coisa que, de modo geral interessa ao sistema escolar é o desenvolvimento das funções intelectuais, o que é muito pouco para uma sociedade que, além de raciocínios lógicos, deverá se alimentar de solidariedade, de cooperação, de amor. Assim, o papel do professor na Educação pela corporeidade extrapola o cognitivo e passa a trabalhar a identidade cultural dos seus alunos, entendendo-os como sujeitos presente no mundo. O exercício corporal contextualizado aliado à realidade trabalha a autonomia e a coragem, uma vez que muitos desses alunos demonstram medo de tentar. 27 O Professor passa a ter a responsabilidade de ampliar o olhar que seus alunos têm do mundo, levando-o a perceber o que o cerca em toda a sua extensão (corporal, emocional e cognitiva) ao mesmo tempo em que se expressa. O professor da EJA que educa pela corporeidade passa a ter consciência das particularidades dos sujeitos com os quais atua e busca percebê-los. Em sala, podem ser pontuadas diversas dificuldades: coordenação motora ampla e fina, impaciência, falta de memória... Com o olhar mais apurado para a corporeidade dos seus alunos, o docentebuscará estratégias, a partir do trabalho com movimentos e expressões, para trabalhar essas necessidades, com suas especificidades e mediar à aprendizagem, a construção do desenvolvimento cognitivamente e corporalmente. Não há por que não trabalhar, também na Educação de Jovens e Adultos, a partir da corporeidade. Porém, trabalhar a corporeidade na EJA passa a ser um grande desafio para os educadores: seja pela concepção de escola que os alunos trazem, seja pela necessidade da construção de um vínculo afetivo muito forte e pelo laço de confiança que deve ser construído. Portanto, trabalhar com a corporeidade na Educação de Jovens e Adultos vai depender muito do perfil do docente, dos vínculos construídos e das estratégias de ensino que serão propostas. 28 3 METODOLOGIA Pesquisar é procurar algo novo, descobrir, errar, acertar, esclarecer dúvidas e desafiar- se na busca de novos conhecimentos. A pesquisa é um processo de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novo conhecimento e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento preexistente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. Quem realiza a pesquisa pode, num nível mais elementar, aprender as bases do método científico ou, num nível mais avançado, aprender refinamentos técnicos de métodos já conhecidos. (CLARK; CASTRO, 2003, p. 67). A pesquisa pode ser entendida como uma teia de informações, onde o pesquisador vai tecendo os seus próprios conhecimentos, explorando os conhecimentos e informações já existentes e investigando novas possibilidades, colaborando com a sociedade de forma a indicar novas tendências e novos caminhos. A pesquisa em si é realizada com o objetivo de descobrir algo novo, ou para corroborar ou refutar algo já conhecido. A motivação básica que leva o indivíduo a realizar uma pesquisa científica é o aprendizado, seja do método científico, seja das técnicas empregadas ou ainda do assunto em foco na pesquisa. (CLARK; CASTRO, 2003, p. 68). A presente pesquisa teve a intenção de conhecer o problema, investigar as informações e conceituar a temática. Ou seja, uma pesquisa de caráter exploratória de um universo desconhecido para esta pesquisadora. O percurso de uma pesquisa é delimitado pelo pesquisador, é ele quem decide o tipo de pesquisa, a abordagem, o método científico e outros procedimentos que delineiam o caminho que se vai percorrer, no entanto nada pode ser previsível, de forma que a pesquisa possa seguir caminhos impensáveis dando novas possibilidades para o pesquisador. Na busca pela compreensão e pela necessidade de valorização dos sujeitos da pesquisa em sua singularidade, na vivência em sociedade e em especial como pesquisadora ativa na pesquisa, optou-se pelo alicerce filosófico da fenomenologia. Uma vez que a mesma permitiu explorar os fenômenos envolvidos na pesquisa, os sujeitos participantes, os estudos bibliográficos, a realidade vivenciada e a investigação de novas experiências. O enfoque fenomenológico compreende o humano enquanto ser no mundo, na situação de estar lançado sendo presente e presença. A presente abordagem possibilita-nos, ser no modo do crescimento pessoal e profissional, sobretudo à compreensão do ser, em sua subjetividade enquanto ser existencial, valorizando-o e se permitindo ser presença no lidar com-o-outro, considerando-o em sua vivência, a seu modo, o ser-em-si. (SILVA et al, 2008, s/p). 29 A fenomenologia compreende o sujeito como fenômeno e as suas experiências, suas narrativas e vivências se tornaram bases fundamentais para a pesquisa, sendo assim, a corporeidade do fenômeno pesquisado, as experiências e as suas relações puderam ser compreendidos pela pesquisadora. 3.1 Sujeitos da Pesquisa A pesquisa foi realizada na modalidade da Educação de Jovens e Adultos, em uma turma de Alfabetização 1, no período noturno de uma Escola Municipal em São José. A educadora da referida turma utiliza uma proposta de ensino mais tradicional2, que de acordo com a docente é o único que consegue dar conta da alfabetização (informação verbal) 3. A turma pesquisada é composta por quatorze (14) alunos matriculados, no entanto, nas observações e intervenções realizadas o número era sempre menor. A faixa etária desses alunos varia entre 24 e 62 anos. Os sujeitos possuem particularidades que os diferem uns dos outros, alguns sujeitos são espontâneos conversam, riem, participam ativamente das aulas, enquanto outros são mais reservados, falam pouco e baixo e não gostam de serem percebidos ou chamados pelo nome na frente da turma. Todos os alunos estão na fase da alfabetização, com muita vontade de aprender a ler e escrever. 3. 2 Procedimentos metodológicos A pesquisa exploratória envolveu levantamento bibliográfico, observação da prática da sala de aula e entrevistas. Para Thiollent (1947, p. 52), “A fase exploratória consiste em descobrir o campo de pesquisa, os seus interessados e suas expectativas e estabelecer um primeiro levantamento (ou “diagnóstico”) da situação [...]”. 2 FREIRE (1979, p.75) sugerindo o círculo de cultura diz que a escola tradicional “tem conotação passiva.” Além disso, é possível afirmar com bases em estudos acadêmicos que essa pedagogia além de passiva é reprodutora, visando que o aluno apenas decore o saber já existente. 3 Professora da Educação de Jovens e Adultos, alfabetização, em conversa informal em São José, no dia 19 de agosto de 2010. 30 Inicio-se então, a pesquisa a partir da revisão bibliográfica explorando os livros com a contextualização do tema corporeidade na EJA, através de diversas visitas às bibliotecas e livrarias com objetivo estudar e refletir o tema em questão. O primeiro instrumento de pesquisa foi o estudo bibliográfico, que de acordo com Fachin (2006, p. 119) “[...] é, por excelência, uma fonte inesgotável de informações, pois auxilia na atividade intelectual e contribui para o conhecimento cultural em todas as formas de saber.”. Este momento da pesquisa contribuiu muito para o processo de construção do conhecimento da pesquisadora, uma vez que foi necessário estar em constante aprendizado para analisar o campo científico. Na pesquisa bibliográfica foram utilizados artigos publicados na rede virtual, com a intencionalidade de entrelaçar saberes e informações de uso público e também de procurar outros pesquisadores que tenham trabalhos acadêmicos com temas e focos semelhantes. Fachin (2006, p. 124) postula que “atualmente, o uso da internet na atividade estudantil, ampliou-se de maneira entusiástica sob a forma de pesquisa e até mesmo de estudos nas diversas áreas pedagógicas [...].” Atentando para o fato de que só foram utilizados materiais com dados científicos para os consultados. A Metodologia utilizada nessa pesquisa foi a pesquisa-ação e a observação assistemática como forma de conhecer o sujeito e o espaço de suas vivências escolares. Estudar o sujeito e o ambiente vivo é estar em movimento constante com os conhecimentos científicos e, para tanto, foi necessário observar cuidadosamente, conversar, perguntar, ler e reler, planejar situações e analisar. A observação também é considerada uma coleta de dados para conseguir informações sob determinados aspectos da realidade. Ela ajuda o pesquisador a “identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento” (LAKATOS, 1996:79). A observação também obriga o pesquisador a ter um contato mais direto com a realidade. Esta técnica é denominada observação assistemática, onde o pesquisador procura recolher e registrar os fatos da realidade sem a utilização de meios técnicos especiais, ou seja, sem planejamentoou controle. Geralmente este tipo de observação é empregado em estudos exploratórios sobre o campo a ser pesquisado. (BONI, 2005, p. 71). Diante do contexto apresentado e na busca por um contato direto com os sujeitos pesquisados, que foi escolhida a pesquisa-ação. Para corresponder ao conjunto dos seus objetivos, a pesquisa-ação deve se concretizar em alguma forma de ação planejada, objeto de análise, deliberação e avaliação [...] trata-se de uma ação na qual os principais participantes são os membros da situação ou da organização sob observação. (THIOLLENT, 1947, p.75). 31 Desta forma, foram utilizados os planos de ação com objetivos específicos para o grupo pesquisado a fim de atender os objetivos da pesquisa. Esses planos/intervenções foram organizados previamente e flexíveis, tendo em vista as expectativas do grupo. Assim como evidencia Thiollent (1947, p. 75), “a pesquisa ação deve se concretizar em alguma forma de ação planejada, objeto de análises deliberação e avaliação.”. Para explorar e valorizar ainda mais os fenômenos da pesquisa foi realizada uma entrevista aberta, onde os alunos que se disponibilizaram a participar eram entrevistados na própria sala de aula, nos intervalos, no inicio ou no fim das aulas, assim pode-se conhecer mais os sujeitos da pesquisa, seus pensamentos e ideologia, a trajetória escolar destes e contextualizando ainda mais a pesquisa. A técnica de entrevistas abertas atende principalmente finalidades exploratórias, é bastante utilizada para o detalhamento de questões e formulação mais precisas dos conceitos relacionados. Em relação a sua estruturação o entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. As perguntas são respondidas dentro de uma conversação informal. A interferência do entrevistador deve ser a mínima possível, este deve assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o término precoce da entrevista, pode interromper a fala do informante. (BONI, 2005, p. 74). Por fim, pode-se afirmar que a presente pesquisa traz um importante referencial com pesquisadores renomados que nortearam a caminhada na busca de respostas aos objetivos e a problemática. 3. 3 Procedimentos de análise de dados Após os estudos bibliográficos, a entrevista, as observações e as intervenções foram analisadas as informações e os dados obtidos no decorrer dessa caminhada. A partir do material proveniente da pesquisa foram delineadas considerações acerca desta, a fim de responder os objetivos iniciais. 3.4 Análise de dados Após as três observações, as cinco intervenções e uma entrevista, é o momento de descrever e analisar as informações obtidas com os fenômenos da pesquisa. O objetivo geral foi pesquisar como ocorriam as vivências das diversas linguagens do corpo na Educação de Jovens e Adultos – EJA – e, com este olhar, foi possível compreender 32 ao longo das observações, que essas vivências não ocorriam em sala. As atividades observadas refletiram práticas tradicionais: aulas expositivas e atividades de treino da escrita e da leitura. Viu-se então que durante toda a aula os alunos permaneceram sentados nas carteiras, a sala está sempre silenciosa, ouve-se em geral apenas a voz da professora, os alunos pouco falam, principalmente, durante as atividades de registro. (Apêndice A p. 44 - Relatório da primeira observação – dia 19.08.2010). A análise realizada na primeira aula observada se reafirmou no segundo dia de observação. Os alunos não participavam da aula, apenas reproduziam o que era trabalhado através da oralidade e da escrita. A aquisição da habilidade, já que não se pode afirmar que seja construção do conhecimento em função do trabalho de memorização que foi desenvolvido, só era construído depois de muito treino de memorização. No entanto, os alunos, também, apresentavam certa dificuldade para memorizar. Percebe-se então que falta aos alunos às vivências do prazer em aprender, os alunos permanecem estáticos por duas horas, onde só trabalham as mãos no exercício de desenhar as letras e a mente ao relacionar sons e letras. Essas capacidades motoras e cognitivas podem ser também estimuladas de diferentes formas durante as brincadeiras, cantigas, jogos ou dinâmicas onde os alunos terão a possibilidade de aprender através da corporeidade. (Apêndice A p. 46 - Relatório da segunda observação – dia 26.08.2010.). Para ir além dos dados observados, foi realizada também uma rápida entrevista com alguns alunos, que aceitaram participar. Quando perguntado se preferiam fazer atividades de responder no caderno ou atividades em que tenham que falar, cantar ou se movimentar, dos oito (8) entrevistados 6 (seis) responderam que preferem fazer atividades no caderno, apenas 1 (um) respondeu que prefere atividades prática e de movimentos e 1 (um) dos alunos respondeu que a professora não faz esse tipo de atividade. Também foi perguntado se eles achavam possível aprender de outra forma, dando como exemplo o jogo e a brincadeira e a maioria dos alunos, 7 (sete), responderam que não acreditam, enquanto somente 1 (um) aluno respondeu que poderia aprender e exemplificou o uso do computador. É possível a partir daí perceber que os alunos desta sala estavam presos a uma prática pedagógica que não lhes oferecia novas possibilidades, sendo assim os alunos, que já desconhecem outras maneiras de aprender, não aceitam com facilidade as mudanças, e 33 desacreditam que a aprendizagem possa ocorrer de outra forma a não ser dentro da sala fazendo cópias e memorizando letras. Contudo, buscando contextualizar a visão dos alunos, foi perguntado sobre a aprendizagem a partir do corpo e explorando o olhar deles quanto ao lugar do corpo na aprendizagem. Uma (1) aluna disse que o corpo servia para ficar sentada, 2 (dois) alunos responderam que o corpo servia para escrever, outros 2 (dois) alunos citaram partes do corpo como os olhos e os ouvidos. No entanto, o aluno mais velho da turma respondeu que É tudo, é cabeça, orelha pra pensar, pra estar no lugar. Corpo e mente tem que tá junto. (Apêndice C, p. 62 - Entrevista). Esses olhares - dos sujeitos do processo - mostram o que uma parte significativa da sociedade escolar por muitos anos incutiu nas pessoas, a partir das práticas pedagógicas que foram e são propostas. São conceitos muito fortes, onde o corpo de nada serve e que apenas a cabeça/ a mente funciona e aprende. Já o aluno que demonstra uma compreensão significativa da importância do corpo para a sua existência, não representa a maioria do grupo. Desta forma é possível, então, reforçar a análise em que a corporeidade e suas vivências não são valorizadas nesta turma de alfabetização. No entanto, durante o processo de pesquisa bibliográfica foi possível constatar que a aprendizagem a partir da corporeidade, suas vivências e experiências fazem sentido dentro da Educação de Jovens e Adultos. De acordo com Gonçalves (2005, p. 152), Na experiência corporal, sensação, percepção e ação formam uma unidade indissociável. O corpo sente ao mesmo tempo em que estrutura a percepção e se move. Os sentidos se intercomunicam, formando uma síntese perceptiva, que é uma experiência pré-objetiva e pré-consciente. O pensar assenta-se sobre esta experiência, em que se abre para o mundo. A pesquisadora compartilha a mesma ideia que Comin e Amorim (2010, p. 262), acerca da corporeidade quando afirmam que A corporeidade é, no entanto, vista para além do ponto de vista biológico, sendo interpenetrada fortemente pela cultura, pelas políticas e pelas práticas sociais. Mais ainda, Paterson e Hughes (1999) consideram o corpo/corporeidade enquanto algo ativo, como produtor de discursos. Hoogland (2002), nesse sentido, destaca a contribuição merleau-pontyana de rompercom a visão mecanicista de corpo - que o vê em termos de suas partes e funções, não o considerando enquanto totalidade em constante interpenetração com o mundo (cultura, sociedade, alteridade). Aquele autor destaca também a necessidade de envolver simultaneamente os aspectos materiais e não materiais de nossa experiência, atentando para as teorias culturalistas, pelas quais se pode discutir pessoa e contexto. Dessa forma, o corpo enquanto corporeidade indica que a forma como a pessoa sente seu corpo, como o experiência, é temporal e espacialmente específica. 34 Com esse mesmo olhar, Freire (2009, p. 31), traz também considerações importantes sobre a corporeidade integrada à aprendizagem ao pontuar que A educação que recorre às práticas corporais [...] intervém mais para desenvolver conhecimentos do que para transmitir verdades. Esses conhecimentos devem advir das relações entre as pessoas e seu mundo, tendo como resultado: A produção de um conhecimento original, de um lado irredutível – isto é, inconfundível, singular, diferente daquele das outras pessoas, porque construído por uma pessoa especifica – e, de outro complementar – pois, sendo produto da relação com o mundo, estabelece ligação com ele e refere-se, em linhas gerais, aos conhecimentos de todas as outras pessoas. Quando é perguntado aos entrevistados sobre a aula perfeita, tem-se uma surpresa causada pela sinceridade deles. Nesta pergunta e resposta ficam novamente evidentes as expectativas imediatas destes alunos na alfabetização, indicadas pelo desejo de saber ler e escrever. Dos entrevistados, três (3) não indicaram nenhuma vontade em particular, um (1) indicou gostar da aula de matemática, no entanto o que chama atenção e, que também reafirma a questão do anseio de saber ler e escrever, é que três (3) alunos afirmaram que a aula perfeita será quando conseguirem ler e escrever, assim como um dos alunos que respondeu: O sonho que eu quero é ler, sempre peço para Deus para aprender a ler e escrever. (com lágrimas nos olhos). (Apêndice C, p. 61-62 - Entrevista). E um (1), dos jovens alunos da sala, indicou a vontade de seguir para a universidade. Neste aspecto é possível co-relacionar esses desejos de logo conseguir ler e escrever com as dificuldades recorrentes deste processo difícil e também árduo que muitas vezes acabam por cansar/desgastar e que a pesquisadora observou, pelas expressões dos alunos, ser uma constante na sala: Outro ponto que chamou a atenção é que os alunos também ficam nervosos após várias tentativas e vários erros: eles colocam as mãos no cabelo, esfregam o rosto, ficam avermelhados. (Apêndice A, p. 44 - Registro da primeira observação. – dia 19.08.2010). Portanto a corporeidade também é vista com uma perspectiva positiva frente a estas situações. É necessário romper a barreira em que os alunos esperaram/acreditam que a Educação na EJA tenha como fim apenas a alfabetização. Faz-se necessário mostrar que a aprendizagem é permanente, contemplando reflexões nas quais os alunos compreendam que ler e escrever se aprende aos poucos e que os erros fazem parte deste processo. Desta forma, possibilitar reflexões acerca dos motivos que os fizeram retornar à escola é uma forma de trabalhar com a corporeidade, vista com as experiências e alimentar a motivação pela escolarização. 35 [...] todos se levantaram e organizarem-se em círculo, para dançar a música “Escravos de Jó”. A princípio os alunos se assustaram e não levantaram das cadeiras, mas após muito diálogo eles aceitaram, mesmo que nervosos e um pouco tímidos. A música foi cantada e dançada de acordo com a letra. A maioria dos alunos afirmou conhecer a música, porém já haviam esquecido. Ainda em círculo foi perguntado o que a palavra “Guerreiros” fala para nós, na nossa realidade. Alguns alunos expressaram-se oralmente outros apenas balançaram a cabeça concordando. - Eu sou guerreira, pois acordo todos os dias e vou trabalhar, e trabalho bastante, ralo mesmo, e ainda venho estudar no fim do dia. - Ah eu sou guerreira porque trabalhei quando era nova, casei, criei os filhos tudo, dei educação, agora que eles tão tudo encaminhado eu resolvi voltar a estudar. (Apêndice B, p. 57 - 4º Plano de aula - 27.10.2010). Nesta situação percebe-se que inicialmente os alunos ficaram com vergonha e com medo de participar, daí a importância do dialogo e da compreensão, foi preciso insistir pela participação de todos e ter paciência, o professor deve portanto, abrir espaço aos alunos e acreditar que suas contribuições possam realmente auxiliar a turma em seu aprendizado, atentando também a importância dos objetivos, pois atividades soltas não colaboram com a aprendizagem. Logo após a atividade da roda, percebeu-se que os alunos ficaram mais “soltos” e desinibidos, o que possibilitou a troca de cumplicidades sobre a vida pessoal de cada qual. Desta forma a corporeidade aqui auxiliou com a autoestima e a alegria aos alunos, onde estes puderam perceber que a escola é um lugar de trocas, de construção de amizade, e isso é fundamental dentro da instituição escolar. Com este cenário, nota-se que em muitos casos a falta dos estímulos, aqui se atentando especificamente á corporeidade, pode ser um dos fatores que torna o processo de ensino e aprendizagem meramente reprodutor, a Educação ao contemplar vivencias corporais favorece o ensino pois vai ao encontro de situações que são observáveis e vividas. A corporeidade traz significativas reflexões acerca da Educação, apresentando-se como um instrumento de ensino. E, por meio das intervenções, foi possível encontrar um espaço para as vivências da corporeidade na EJA. No entanto, os alunos no início se mostraram pouco a vontade com as atividades que envolvem expressões orais, por exemplo: Assim, chegamos ao fim da primeira intervenção e já se percebe como é difícil trabalhar a partir das vivências corporais em uma sala da Educação de Jovens e Adultos. A sensação que se tem é que os alunos não acreditam na aprendizagem quando lhes é permitido discussões em sala, para eles isso é apenas conversa e não promove aprendizado. Apenas ao 36 registrar, ao escrever todos os alunos participam, todos ficam calados, sozinhos, levantando o dedo quando se têm alguma duvida. (Apêndice B, p. 50 - 1º Plano de aula - dia 14.10.2010). Nas primeiras intervenções, foi difícil conseguir a participação de todos os alunos, alguns se isolaram. No entanto, deve-se lembrar que, para esses sujeitos, foi apresentada uma nova forma de ver e viver a escola, e assim torna-se compreensível que haja desconfiança nas primeiras intervenções, não há como gostar do que não se conhece. Em geral esses adultos já tem uma idéia de escola, são acostumados com a rotina de sala de aula, de silêncio, de copiar, no entanto, não se pode dizer que são alunos acomodados, pois durante a entrevista e nas observações, eles se posicionaram quanto ao fato da prática pedagógica não proporcionar experiência de aprendizagem a partir da corporeidade. Contudo, a participação e o interesse dos alunos foi se transformando aos poucos, quando eles iam conhecendo as possibilidades do aprender, onde o conhecimento vai se construindo pouco a pouco. Ao perceber a aceitação da turma, é possível dizer, como pesquisadora, que a partir das atividades que envolveram algum tipo de vivência, os sujeitos da pesquisa começaram a sentir segurança e perder o medo de errar, pois todos riam dos seus erros, dos erros dos outros, inclusive dos erros da pesquisadora. Percebeu-se que as alunas que negaram a participação nas primeiras intervenções estavam mais seguras, se expressavam, sorriam e brincavam com os demais alunos, situação bem diferente do início, pois essas alunas não conversavam, não sorriam e não se falavam. (Apêndice B, p. 56 - 4º Plano de aula – dia 27.10.2010). Desta forma, pode-se analisar a Educação de Jovense Adultos como uma modalidade de ensino onde é possível realizar práticas corporais, bem como expressões, pesquisas, danças, cantigas, entre outras brincadeiras e jogos que favoreçam a aprendizagem. Por isso, defende-se que na EJA seja adotada a reflexão radical de Merleau – Ponty (1994), sobre o corpo enquanto experiência pessoal do sujeito, experiência perceptiva que ocorra numa multiplicidade de espaços e de tempos, na qual a união entre o corpo e a alma, em lugar de ser dada por uma decisão exterior nos termos de sujeito e objeto, deva ser buscada na existência e não no pensamento. Ou seja, a possibilidade da união da alma com o corpo abre-se como possibilidade da consciência. [...] Merleau-Ponty (1994, p. 195) afirma, também, que a experiência motora do corpo não é um caso particular de conhecimento; ela fornece uma maneira de ter acesso ao mundo e ao objeto. Conhecer, explorar o corpo possibilita uma gama de descobertas, liberação de sensações às vezes inexploradas, desconhecidas. Isso nos remete às diretrizes da EJA/RS, que retratam o equilíbrio entre a objetividade e a subjetividade, com o educando contextualizado no mundo em que vive [...]. (SCHROEDER; LOEBLEIN, 2005, p. 28). Trabalhar a partir da corporeidade representou ir além do que era lúdico, com as brincadeiras e os jogos, significou tentar uma Educação que visa à formação do sujeito como um todo. 37 As atividades de expressão oral, por exemplo, compreenderam a busca pela identidade de cada sujeito, com seus saberes próprios, sua cultura, sua história. No entanto, pode-se perceber, enquanto pesquisadora ativa do processo, que para os alunos se expressarem oralmente durante as aulas era muito difícil, as falas se atropelavam, eles ficavam vermelhos e nervosos. Quase sempre, as falas eram realizadas de cabeça baixa e em tom baixo. Mas como pontua Freire (2009, p. 6-7), As atitudes educam. Não esqueçamos que, em doze anos de escolaridade, a atitude de permanecer sentado por tantas horas educa o aluno. Se ele não aprender muito sobre geografia ou matemática, aprenderá, sem dúvida, a ficar sentado. Assim como amar se aprende amando, ou jogar se aprende jogando, outras coisas também aprendemos ao praticá-las. Se essa atitude corporal condicionar uma postura de obediência, o aluno aprenderá a ser obediente. Se condicionar uma postura não crítica, ele aprenderá a ser resignado. Se o aluno permanecer isolado em sua carteira, terá dificuldades para socializar conhecimentos [...]. A vivência da corporeidade na Educação de Jovens e Adultos também é um novo aprendizado, é necessário mostrar que aprendemos ao nos expressar e com a troca de ideias. Assim, na atividade que contemplava o autorretrato e visava à percepção de como os alunos se viam como corpo, permitiu a descoberta de si, com os detalhes do rosto, do cabelo, da boca: Os alunos em geral se desenharam de acordo com a própria estética, os gordos, os magros, os de cabelo crespo, os negros e os brancos. Esta atividade nos remete a reflexão acerca dos padrões de beleza e pela forma como os alunos se veem, se percebem e se aceitam. Estimular a criatividade dos sujeitos a partir das artes é muito importante no processo de aprendizagem, permite romper as barreiras dos conteúdos compartimentados dentro de sala de aula. A instituição de ensino é um lugar para estimular a criatividade e para os sentimentalismos. A corporeidade está inserida neste cenário sempre que essas vivências são valorizadas e compreendidas como aprendizagens e estimulações. Apêndice B, p. 53-54 (3º Plano de aula – dia 21.10.2010). Diante da aceitação, pelo grupo pesquisado, é possível conceber a Educação para jovens e adultos a partir da corporeidade, uma vez que as vivências propiciadas transformaram a escolarização imutável em um processo de ensino e aprendizagem interessante, sedutor, flexível e amplo (cognitivo, motor, afetivo). 38 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Antes de iniciar a pesquisa de campo, as inúmeras referências estudadas traziam a corporeidade e suas vivências como uma real possibilidade de ampliar a significação da alfabetização e que esta possibilidade de aprender, iria atrair os alunos para a escolarização. No entanto, ao entrar no campo houve um choque com todas as leituras, todas as expectativas, todas as informações e estudos sobre a corporeidade e a aprendizagem realizados até ali. Ao entrar em contato com a turma eu acreditei que a prática da corporeidade pudesse verdadeiramente auxiliar, facilitar e seduzir a aprendizagem, no entanto nas primeiras intervenções os alunos me surpreenderam e me assustaram ao rejeitar as novas práticas/atividades propostas. Inicialmente pude perceber que muitos dos alunos tinham dificuldade em se expressar oralmente enquanto os outros não gostavam de se manifestar, e assim também compreendi e senti o quanto é difícil favorecer as vivências corporais em uma sala de aula da Educação de Jovens e Adultos. Durante as propostas em sala, a sensação que se tinha é que os alunos não acreditavam que estavam aprendendo nas discussões e nas trocas de experiências. Para a grande maioria, apenas as atividades como cópias e registros no caderno eram considerados importantes, paralelamente a isto também pude observar que durante estas atividades os alunos sempre ficavam calados, sozinhos e bastante concentrados. Contudo, no caminhar da pesquisa de campo constatei que mesmo com uma proposta pedagógica reprodutora/tradicional os alunos pesquisados demonstravam uma aprendizagem satisfatória e nas narrativas de alguns alunos, isso também ficou evidenciado. Portanto, pude concluir que a prática pedagógica da professora atende as expectativas dos alunos. Neste contexto, os meus estudos começaram a ser confrontados e ir de encontro com as minhas certezas, e, portanto posso dizer que houve uma grande frustração nesse momento. Com isso, posso postular que as situações encontradas no campo me chocaram. Uma vez que, a prática em sala de aula ia “na contramão” de tudo o que eu acreditava e havia estudado e pesquisado até então. Entretanto, aos poucos, enquanto as visitas de campo iam acontecendo, pude compreender que a corporeidade unida à aprendizagem vem como instrumento de trabalho e promovendo a construção de conhecimento. Trabalhar a partir da corporeidade pode ser 39 significativo para esses alunos da EJA, desde que venha acompanhada de atividades que promovam o desenvolvimento das habilidades de escrita e leitura. Estimular a criatividade dos sujeitos é muito importante no processo de aprendizagem, pois permite romper as barreiras dos conteúdos compartimentados dentro de sala de aula e nesse contexto, a instituição de ensino é um espaço que também pode estimular a criatividade, as expressões, as diversas capacidades e inteligências. A corporeidade, portanto, estará inserida neste cenário sempre que essas vivências forem valorizadas e compreendidas, mas também é importante mencionar a importância de se fazer um paralelo com os desejos dos alunos, tais como ler e escrever. Levantar das cadeiras, andar pela sala, cantar e dançar foi um aprendizado, e revelaram a alegria de ter e estar na escola. Por isso, a corporeidade se faz necessária no processo de ensino e aprendizagem, uma vez que promove o prazer, a alegria e a estimulação das habilidades dos sujeitos inseridos neste processo. Foi preciso romper algumas barreiras para responder o problema e atingir os objetivos. Desta forma foi essencial estudar a Corporeidade, suas características e suas contribuições e relacioná-la com a Educação. E foi assim, que também pude perceber o quanto é reduzido o número de livros, artigos e outras formas de informações pertinentes a esta área. A ausência de material na área dificultou o processo de apropriação dos conceitos e também a captação/compreensão do assunto. Junto a estas
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