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LITERATURA E CULTURA BRASILEIRA 4 SEMANA 15/04/2022 PERGUNTA 1 1. “Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a História do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só́ lia os nomes masculinos como defensor da pátria. Então eu dizia para a minha mãe: – Porque a senhora não faz eu virar homem? Ela dizia: – Se você passar por debaixo do arco-íris você vira homem. Quando o arco-íris surgia eu ia correndo na sua direção. Mas o arco-íris estava sempre distanciando. Igual os políticos distantes do povo. Eu cansava e sentava. Depois começava a chorar. Mas o povo não deve cansar. Não deve chorar. Deve lutar para melhorar o Brasil para os nossos filhos não sofrer o que estamos sofrendo. Eu voltava e dizia para a mamãe: – O arco-íris foge de mim”. (Carolina Maria de Jesus, Quarto de despejo) “Sua preocupação reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranquila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.” (Clarice Lispector, Laços de família) Pensando nos trechos lidos, avalie as seguintes afirmações: (I) Ambas as escritoras estão tratando da questão feminina, de como a mulher se constitui como sujeito. (II) Ambos os textos tratam de mulheres que preferiam ter nascido homem, para escapar do destino de mulher imposto pela sociedade. (III) O primeiro texto trata de uma mulher pobre e infeliz enquanto o segundo descreve a felicidade de uma dona de casa de classe média. (IV) Do primeiro texto, infere-se o desejo de reconhecimento pela contribuição para a história do país, enquanto do segundo, o esforço da dona de casa para admitir seu destino de mulher, evitando refletir sobre sua interioridade. Quais afirmações estão corretas: III e IV II e III I, III e IV I, II e IV I e IV 2 pontos PERGUNTA 2 1. Não há muitas escritoras brasileiras no século XIX e as poucas de que temos notícia, como Maria Firmina dos Reis, Nísia Flores, Narcisa Amália ou Julia Lopes de Almeida, não são conhecidas do grande público ou amplamente estudadas na Universidade. Já no século XX, há grandes escritoras brasileiras, como Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Carolina Maria de Jesus, Ana Cristina Cesar, Adélia Prado e Hilda Hilst, entre tantas outras. Qual alternativa explica essa condição? Como as mulheres não podiam trabalhar no século XIX, eram obrigadas a serem donas de casa, preferindo empregar o tempo livre na leitura de romances e poemas, em vez de escrevê-los. Ainda que as mulheres fossem ávidas leitoras de romances e poemas no século XIX, não empregavam seu tempo na escrita de literatura, pois não precisavam trabalhar para sobreviver, uma vez que era obrigação do homem prover a família. As mulheres só se interessaram em produzir literatura a partir do momento em que se tornou lucrativa, a partir da maior circulação de livros. Por isso há um aumento substancial de escritoras no século XX. A grande maioria das mulheres, em comparação aos homens, eram analfabetas, tinham pouca escolaridade e, consecutivamente, interesse em literatura, o que justifica a quase ausência de escritoras no período. Embora as mulheres tenham escrito ativamente no século XIX, encontravam dificuldades para participar do circuito literário, dominado por homens, o que acarretou um posterior apagamento de suas atuações como escritoras. 2 pontos LITERATURA E CULTURA BRASILEIRA 4 SEMANA 15/04/2022 PERGUNTA 3 1. “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.” (Machado de Assis, Dom Casmurro, p. 35, disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdf) Sobre Capitu, personagem do romance Dom Casmurro, é correto dizer: Embora Bentinho se esforce para encontrar uma comparação poética que descreva com exatidão os olhos de Capitu, não a encontra, recorrendo à imagem da ressaca, que contradiz sua força misteriosa e enérgica. Capitu traiu Bentinho, como fica evidente na caracterização de seu olhar, oblíquo e dissimulado, como as ondas do mar agitado, que envolve, puxa e traga todos que o olham. A beleza de Capitu é expressa romanticamente por seus olhos misteriosos, os quais ela entrega passivamente à contemplação de Bentinho, que não se cansa de admirá-la. A curiosidade de Capitu é expressa por seus olhos, que José Dias qualifica como “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, mas que Bentinho prefere comparar à ressaca do mar, cujas ondas o envolve, puxa e traga. A metáfora do olhar que Bentinho encontra para Capitu a descreve como curiosa e observadora, semelhante às ondas do mar em dias de ressaca, o que permite concluir que ela era oblíqua e dissimulada, não encontrando dificuldades para mentir. 2 pontos PERGUNTA 4 1. O ultrarromantismo caracteriza-se pela melancolia e morbidez, recorrendo, por vezes, à ironia para melhor expressar o sentimento de frustração e pessimismo. Leia o soneto de Álvares de Azevedo e assinale a alternativa que melhor o descreve: Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar! na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d’alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia! Era mais bela! O seio palpitando... Negros olhos as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando... Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti – as noites eu velei chorando, Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! Embora comparável à virgem do mar e ao anjo entre nuvens, a mulher é descrita como um ser diabólico, de negros olhos, que resvala suas formas nuas no leito. Ela está dormindo entre nuvens do amor e sua palidez remete à morte, imagem reforçada pela comparação com a virgem e o anjo. Quando acorde, ri em retribuição ao amor do eu lírico. A mulher é descrita como ativa, bela e sedutora, em relação à qual o eu lírico prefere velar chorando e morrer sorrindo do que consumar seu amor. O eu lírico contempla uma bela adormecida, passiva e nua, numa atmosfera romântica, mas que é ironicamente desfeita quando ela acorda e ri de sua atitude. Trata-se da descrição do eu lírico como um voyeur que observa escondido sua amada enquanto ela dorme. Flagrado por ela, confessa seu erro e chora. 2 pontos PERGUNTA 5 1. “Quando nasci, um anjo torto desses quevivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000194.pdf) LITERATURA E CULTURA BRASILEIRA 4 SEMANA 15/04/2022 As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.” (Carlos Drummond de Andrade, “Poema de sete faces”, em Alguma Poesia, p. 3) “Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. (...) Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.” (Adélia Prado, “Com licença poética”) Adélia Prado é uma das escritoras brasileiras mais importantes da contemporaneidade. Ao estabelecer um diálogo intertextual com o poema de Carlos Drummond de Andrade, a poeta está: Aprimorando o poema de Carlos Drummond de Andrade e atualizando-o para o século XXI, no qual a mulher conquistou a condição de igualdade social. Criticando o machismo expresso no poema de Carlos Drummond de Andrade, que envergonha a mulher. Propondo uma sátira que zomba da condição maldita do homem na sociedade, em comparação com a mulher desdobrável. Realizando uma paródia, por meio da qual trata da condição feminina e reivindica um lugar igualitário para a mulher na sociedade. Queixando-se de sua condição feminina, envergonhada, desdobrável e que tem de carregar bandeira.
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