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Pós-Graduação em Educação Libras Intermediário de Libras Lídia da Silva FAEL Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes EDITORA FAEL Autoria Lídia da Silva Gerente Editorial William Marlos da Costa Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues Revisão Thaisa Socher Programação Visual e Diagramação Patrícia Librelato Rodrigues ATENÇÃO: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael. É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael. EDITORA FAEL Rua Castro Alves, 362 Curitiba | PR | CEP 80.240-270 FAEL Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 FOTOS DA CAPA Anissa Thompson Jos van Galen Julia Freeman-Woolpert Krishnan Gopakumar Stefan Krilla Viviane Stonoga Todos os direitos reservados. 2012 Intermediário de Libras 1 . Aspectos gramaticais da Libras A Libras foi oficializada em 2002, antes disso porém, já existiam pesquisadores brasileiros de língua de sinais (Brito, 1995; Felipe, 1997; Quadros, 1998), discutindo e publicando suas investigações sobre esta língua, com o intuito de combater aos mitos que se tinham sobre ela. Um destes mitos é que “A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos” ou que “as línguas de sinais derivam da comunicação ges- tual espontânea dos ouvintes”. Porém, considerando que a pantomina e a mímica são formas artísticas de expressão elas não podem ser comparadas com a Libras que é uma língua gramaticalmente orga- nizada. Tão pouco devemos colocar a Libras e os gestos na mesma categoria de análise pois mesmo ambas sendo produções visuais possuem natureza muito diferentes. Os gestos são as expressões espontâneas das pessoas, são nossas expressividades naturais. Por exemplo, quando colocamos a mão no rosto ou na cintura, ou quando cruzamos os braços, apertamos os dedos uns contra os outros ou ainda quando pas- samos as mãos repetidas vezes no cabelo, estamos produzindo gestos. Diferentemente, para produzirmos a Libras precisa- mos passar por um processo formal de aprendizagem, pois este sistema linguístico é abstrato e não faz parte da nossa expressividade natural – se assim fosse, todos seríamos falantes natos da Libras. É bem verdade que a Libras é composta por sinais que representam manualmente as formas e os movi- mentos dos objetos do mundo, como os sinais abaixo reproduzidos, porém eles não são o todo da língua, há outros que não tem relação alguma com os objetos da realidade, conforme vemos nas ilustrações. Esta possibi- lidade do referente linguístico ter relação com os objetos reais – a iconicidade – também é presente nas línguas orais, como é o caso do português. Há poucas décadas a língua de sinais brasileira tem sido estudada e pesquisada. Isto porque, a população de modo geral e o corpo acadêmico até então tiveram um olhar pejorativo sobre esta forma de comunicação. Ocorre que há – no meio dos estudos linguísticos – alguns postulados que verificam a natureza das formas de comunicação para então a validarem como língua natural e/ou artificial. A Libras passou por todos os itens avaliados e hoje é considerada língua. Neste capítulo percorrermos os mesmos passos históricos de asseveração linguís- tica da Libras, ou seja, demonstraremos os mitos que se tinham sobre ela e os universais linguísticos a ela conferidos. Posteriormente, adentraremos no estudo gramatical focado na morfologia e neste escopo defini- remos nossos pressupostos basais tais como: palavra e morfema. Olharemos para a formação e classificação das palavras da Libras e dentro deste primeiro escopo trata- remos dos modos de negação que esta língua permite, dos modos de composição, de demonstração de gêne- ros e categorias e na parte destinada à classificação limitaremo-nos a conhecer a variação entre nomes e verbos, sendo que deste ultimo trataremos dos seus três tipos: simples, manual e classificador. Percorreremos também as questões morfologica- mente complexas que são os casos de flexão nominal e verbal da Libras e neste aspecto demonstraremos as possibilidades de cada um. Finalmente, situaremos, brevemente, algumas questões de ordem semântica no quesito da polissemia e da gíria. Palavras-chave: Libras. Gramática. Morfologia. Resumo LIBRAS 2. Um exemplo disso são as palavra bem-te-vi e bumbo que dão o nome ao som produzido pelos objetos. O primeiro grupo de sinais são os chama- dos icônicos e os segundos são os chamados sinais arbitrários. SINAIS ICÔNICOS Passar batom SINAIS ARBITRÁRIOS Vencer Escovar os dentes Vingar Varrer Opinar É bom ressaltar que os sinais icônicos não são iguais no mundo todo, pois a representação que cada falante faz da realidade é diferente, por exemplo, o sinal de ÁRVORE no Brasil é icônico assim como o é nos Estados Unidos. A diferença é que aqui representamos o tronco da arvore e o balanço dos galhos enquanto lá se faz apenas o tronco, conforme abaixo representado: Sinal de ÁRVORE Libras BRASIL Sinal de ÁRVORE ASL EUA Só esta informação de que a iconicidade se realiza de acordo com a perspectiva referencial de determinado grupo já é um forte argumento para combater o mito INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 3. que aponta que a língua de sinais deriva da comunica- ção gestual espontânea dos ouvintes. Se assim fosse, quando um surdo sinalizasse o sinal de árvore para um ouvinte, ele rapidamente identificaria o significado, mas como sabemos não é isso que ocorre. Então, fica refu- tada a ideia de que os sinais da Libras são extraídos da expressividade natural dos ouvintes. Além destes, há também o mito de que “haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas.” Isto nos revela que muitas pessoas pensavam que a Libras seria universal, que os sinais eram iguais em todos os países. Contudo, esta afirmação não procede, pois se Libras é a sigla da língua brasileira de sinais, então podemos pensar que se no nome da lín- gua mencionamos sua nacionalidade, é porque existem outras línguas de sinais espalhadas por outros países, tais como: língua holandesa de sinais, língua francesa de sinais, língua americana de sinais, língua alemã de sinais e outras. Assim, em cada país, há uma língua de sinais específica, que reflete a cultura da nação e daquela comunidade surda. E não é só pelo nome que enten- demos haver uma língua de sinais para cada país, mas, também baseando-nos na própria teoria gerativa segundo a qual todas as línguas, inclusive as de sinais, apresentam organização sintática com os mesmos princípios comuns à linguagem humana, que são ape- nas diferentes em sua natureza e comportamento. Isto significa que as línguas de sinais se diferenciam, como qualquer língua, na sua organização semântica e dis- cursiva para atender a aspectos culturais e ideológicos das diferentes comunidades de surdos. Quando a informação de que a Libras não é univer- sal começou a percorrer espaços sociais, muitas vezes havia um questionamento de que seria muito mais fácil para comunicação dos surdos se todos sinalizassem da mesma forma. Porém, se estamos entendendo que a língua de sinais tem o mesmo valor que a língua oral, então um questionamento como este também perde sua validade já que as línguas orais não são iguais e ninguém questiona esse fenômenos pois sabem que devido a colonização local houve um alastramento de determinado idioma naquele determinado lugar. Da mesma forma ocorreu com as línguas de sinais. Cada uma tem uma história linguística, no caso da Libras ela tem sua origem na língua francesa de sinais. As pessoas também pensam que“haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, que seria derivada das línguas orais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais.” Este mito revela que algumas pessoas acham que a Libras é derivada das línguas orais e é um pidgin sem estrutura própria, subordinada e inferior. Cada uma destas proposições pode ser considerada um mito, pois quando as analisamos encontramos conceituação dife- renciada para os termos empregados. Por exemplo, por pidgin entendemos a mistura de duas línguas, como nas expressões (1) e (2) a seguir exemplifi cadas. O pidgin é utilizado por pessoas que estão em processo de apren- dizagem e necessitam de um recurso emergente de comunicação. Mesmo assim não consideramos o inglês e o português como pidgin. (1) Eu love você. (2) I amo you. Uma manifestação de pidgin sinalizada é, por exemplo, quando uma pessoa está conversando com um surdo em Libras e na ausência de um sinal, resolve oralizar pausadamente a fim de que o interlocutor o entenda. Esta estrutura se caracterizará por um pidgin, pois houve a mistura dos sinais com a voz, da oralidade com a sinalização, da Libras com o português. Porém não é a Libras que é um pidgin, é o seu mau uso que pode tornar-se pidgin. A Libras tem uma estrutura gramatical bastante complexa, portanto, alegar que ela é subordinada a lín- gua oral além de demonstrar o desconhecimento das estrutura linguística também aponta para uma postura altamente preconceituosa. Assim como fazer compa- rativo de superioridade ou inferioridade em relação à língua oral é linguisticamente inviável, pois as línguas são apenas diferentes entre si, tem constituição interna própria. Na linguística este tipo de comparação inexiste, nunca nenhuma sistema linguístico será mais complexo ou superior a outro já que todos se prestam aos mesmo fim: a comunicação. Neste sentido, a única compara- ção permitida entre as línguas e em sua realização, é o conhecimento dos parâmetros de cada sistema e não um julgamento de valor. Da mesma forma como há uma conscientização ao cessar do preconceito linguístico isto já é assegurado no campo da linguística e já foi trans- mitida a sociedade o que falta são algumas tomadas de decisão quanto ao tema. Sabemos que não podemos LIBRAS 4. criticar uma pessoa porque ela fala porta acentuando o R como fazem os caipiras ou ainda porque ela fala bicicreta. Este jeito de falar diferente compõe o idioleto de cada um. Na Libras isto também acontece. Cada um sinaliza de um jeito, um tem uma mão mais firma, outro tem uma mão mais mole, outro faz os sinais bem no alto, outros muito baixo. Podemos admirar uma ou outra forma mas nunca taxarmos como “certa” uma única forma. Outro exemplo de considerações errôneas é que “a língua de sinais seria um sistema de comunica- ção superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral”. Outro apontamento que não pro- cede as descobertas científicas, mas que muitas vezes é verbalizado por desconhecedores da Libras é isto. Levando em conta que um sistema de comunicação superficial é aquele criado para atender a comunicação de máquinas, ou seja, é a linguagem de programação, a Libras não se enquadra nesta situação. Toda língua humana – como a língua de sinais falada pelos surdos – atende aos critérios de criatividade, de flexibilidade e de versatilidade, portanto a Libras não é superficial, é uma língua natural, que emerge no seio da comunidade e se transforma ao longo do tempo, é dinâmica e com con- teúdo absolutamente ilimitado. É possível falar qualquer coisa em Libras – deste de que se o sinalizante tenha fluência – pois mesmo não havendo palavras comuns entre Libras e português há possibilidade de transmis- são do conceito da palavra. Para além disso, há um mito que entende que “as línguas de sinais por estarem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo pro- cessamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem”. Há pessoas que dizem que as línguas de sinais por estarem organizadas espacial- mente estariam representadas no hemisfério direito do cérebro uma vez que este hemisfério é responsável pelo processamento de informações espacial enquanto que o esquerdo é responsável pela linguagem. Pessoas que conhecem, minimamente, o cérebro humano sabem que ele é dividido em hemisfério direito e hemisfério esquerdo e que cada um deles têm uma função diferen- ciada. Ao hemisfério direito cabem as propriedades para o desenvolvimento musical, artístico, emocional, visual, espacial, matemático e outros. No hemisfério esquerdo estão algumas funções mentais como atenção, memória e outras mas, especialmente, é identificada a localização da propriedade linguística. Há neste hemisfério duas áreas responsáveis pelo desempenho de uma língua. A área de Broca que determina a expressividade da fala e a área de Wernicke que determina a compreensão de uma língua. Diante disso, há que se pensar onde se localiza a Libras já que é uma língua e que por isso, basicamente, estaria no hemisfério esquerdo. Portanto, sua modalidade é espacial e visual e estas são características alocadas no hemisfério direito. Neste sentido, as considerações que se tinha até então era que a Libras era instalada no hemisfério direito para poder dar conta desta modali- dade. O que ocorre, na verdade, é que a função de visão do hemisfério direito tem uma característica funcional, serve para ver no sentido strito do termo, assim também como a função do espaço deste hemisfério se relaciona a questão geográfica. A partir daí, o cérebro detecta que a visão e o espaço serão utilizados pela modalidade linguística e então realiza uma transferência hemisferial. Então, no hemisfério esquerdo haverá a visão e o espaço mas com propriedades distintas,agora com função lin- guística, e vão servir para “ouvir” e “falar” a Libras. Estas primeiras pesquisas que se prestaram a des- mistificar falsas considerações sobre a Libras deram ori- gem a outras. Todas elas, entretanto, emergiram a partir do primeiro trabalho conhecido sobre línguas de sinais nos Estados Unidos, por William Stokoe em 1960. Este foi o primeiro pesquisador a sistematizar a estrutura gra- matical de uma língua de sinais mas não foi o primeiro a usar esta forma de comunicação pois antes dele, já exis- tiam os abades franceses que burlavam a lei do silêncio que imperava nos mosteiros e conversavam por “códi- gos visuais”. Depois disso, houve um período em que eles – um nome bastante conhecido desta época é o Ponce de Leon – se dedicavam a instrução de pessoas surdas e daí sim começaram a usar uma língua estrutu- rada para transmitir conteúdos científicos e teológicos. A comunicação espaço-visual se espalhou pela Europa e posteriormente para América, chegando ao Brasil no século XX. Por isso, alguns sinais da Libras e da Língua Francesa de Sinais e também da Língua Ame- ricana de Sinais são parecidos. São os chamados cog- natos. Assim como existem palavras muito semelhantes no português e no inglês (baby e bebê, por exemplo) há também algumas semelhanças de vocabulário nas lín- INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 5. guas de sinais do Brasil, EUA e França. Como exemplo desta similaridade, citamos os sinais de CASA em Libras e na Língua Americana de Sinais: Libras Língua americana de sinais O que o Stokoe e os primeiros linguistas brasileiros fizeram – além de mostrar o falseacionismo dos mitos – apontaram a natureza da Libras, como ela é. Fizeram isto, utilizando-se da “regra geral” para validação de que uma língua é língua, através dos universais linguísticos. Então, passou-se a mostrar a verdade sobre este sis- tema de comunicação espaço-visualpois para uma lín- gua ser considerada língua ela deve passar por todos os testes postulados pelos pesquisadores, ela deve res- ponder positivamente as questões levantadas e a Libras preenche estes requisitos. O primeiro quesito que assevera “onde houver seres humanos, haverá língua(s)”. A primeira análise feita para atestar o status linguístico da Libras foi pautado numa simples consideração que é a de que onde há seres humanos há língua e quanto a isto não se pode deixar de assumir que a reunião de grupo de surdos, constitui-se como um grupo de seres humanos e que, portanto, isso reitera a existência de uma língua. O segundo ponto dos universais linguísticos entende que “não há línguas primitivas – todas as línguas são igualmente complexas e igualmente capaz de expressar qualquer ideia. O vocabulário de qualquer língua pode ser expandido a fim de incluir novas palavras para expressar novos conceitos”. Ao aproximar-se da língua usada pelo grupo de surdos pode-se perceber que apesar de se apresentar numa modalidade diferente das línguas orais, ela não pode ser considerada como uma língua primi- tiva pois todas as línguas são igualmente complexas e igualmente capazes de expressar qualquer idéia. Assim também como o vocabulário de qualquer língua pode ser expandido a fim de incluir novas palavras para expressar novos conceitos, acontece com línguas orais e sinalizadas. No português, por exemplo, as palavras são incorporadas ao sistema linguístico de um modo geral na língua com os empréstimos linguísticos pelo sequente aportuguesa- mente destes termos ou ainda podemos pensar na inclu- são de palavras novas ao repertório individual. Em se tratando de termos técnicos e científicos pode- mos destacar que são criados de acordo com a neces- sidade, é o caso de quando entramos na faculdade, há uma enxurrada de palavras novas que nos são inseridas as quais não utilizávamos antes da faculdade. É o caso dos termos paradigmas, piagetianos, demanda de mercado, psicanálise, biomorfologia, léxico, sintático, pragmática, etc. Na língua de sinais isto ocorre da mesma maneira. Os surdos têm a capacidade de inserir em sua língua palavras novas conforme sua necessidade. Daí surge os novos sinais como os abaixo: Sinais de neurose Sinais de mídia LIBRAS 6. Sinais de hiperatividade Sinal de Ambiente Virtual de Aprendizagem Além destes, um outro universal linguístico apregoa que “todas as línguas mudam ao longo do tempo” e nós podemos verificar que não há permanência vocabular e nem estrutural em nenhuma língua e isto implica dizer que as línguas mudam ao longo do tempo. Assim como ocorreu com o vocábulo VOSSA MERCÊ que passou para VOS MICE, passou para VOCÊ e que hoje é comu- mente tratado por CÊ ou VC. Na língua de sinais isso também acontece. Os sinais muito “trabalhosos” em sua realização, sofrem uma economia produtiva e passam a ser realizados de maneira mais simplificada. É o caso por exemplo do sinal MULHER que era realizado com ambas as mãos postas próximas a cabeça, numa imitação de colocar o chapéu, descia do rosto em direção ao pes- coço, onde era encerrado com um movimento que imi- tava o lançar, o amarrar. Hoje esse sinal preserva apenas o trajeto do rosto ao pescoço, é sinalizado, conforme se vê na foto abaixo, com o polegar passado na bochecha. Sinal de mulher Outro universal a ser considerado é de “as relações entre sons e significados das línguas faladas e entre gestos (sinais) e os significados das línguas de sinais são em sua maioria arbitrários”. Tanto línguas orais quanto línguas de sinais apresentam em sua grande maioria uma relação arbitrária entre sons (sinais) e significado. As palavras e sinais apresentam uma conexão arbitrária entre forma e significado visto que dada forma é possí- vel prever o significado e dado o significado é possível prever a forma. Os símbolos utilizados pelas línguas são arbitrários. Podemos constatar que não há uma relação intrínseca entre a palavra CÃO e o animal que ele sim- boliza. Quadros e Karnopp (2004) apontam ainda que a característica de arbitrariedade das línguas não se res- tringe a ligação entre forma e significado mas aplica-se também a estrutura gramatical das línguas, pois elas diferem uma das outras. Isto pode ser constatado na dificuldade de aprender uma língua estrangeira, pois é um sistema distinto do que estamos habituados a usar. Além disso, há também a consideração de que “toda língua falada inclui segmentos sonoros discretos, como p, n, ou a, os quais podem ser definidos por um conjunto de propriedades ou traços. Toda língua falada tem uma classe de vogais e uma classe de consoantes. Línguas de sinais apresentam segmentos discretos na composição dos sinais.” Assim como as línguas orais apresentam segmentos sonoros discretos (P, M, A) os quais podem ser definidos por um conjunto de proprie- dades ou traços e possuem uma classe de vogais e uma classe de consoantes, as línguas de sinais, igual- mente, apresentam segmentos discretos na composi- ção dos sinais. Ainda com relação a isto, Quadros e Karnopp (2004) apontam que há em todas as línguas a característica da dupla articulação. Tal característica significa que têm uma gama de unidade que são semelhantes em torno de 30 ou 40, mas que cada fonema é normalmente sem sig- nificado quando está isolado e ganham um significado quando é combinado com outras unidades mínimas. Por exemplos os sons de F, G, D, O, A não tem um significado expresso, porém quando os combinamos de diferentes maneiras podemos, então, encontrar significados. É o caso, por exemplo de fogo, dado, gado, fado. Tal organização de língua em duas camadas: camada de sons que se combinam e camadas de unidades maiores, expressa a característica de dualidade ou dupla articula- ção comum ás línguas orais e sinalizadas. INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 7. Há também o “universais semânticos, como fêmea ou macho são encontrados em todas as línguas.” Há ainda outra característica encontrada em línguas orais que se manifestam também nas línguas sinalizadas. É a característica de descontinuidade. Tal fenômeno está em oposição a variação contínua, isto significa que as palavras podem diferir de maneira mínima na forma mas que apresentam uma diferença considerável no significado. É o caso das palavras faca e fada que se escrevem e se falam diferentes. Este fenômeno tem por efeito demonstrar a característica de descontinuidade da diferença formal entre forma e significado. Além destes, “todas as línguas possuem formas para indicar tempo passado, negação, pergunta, comando, etc.” e que “todas as línguas apresentam categorias gra- maticais (ex: substantivo, verbo)”. Mas as línguas não se fixam, apenas, nos parâmetros fonológicos pois tanto línguas orais como sinalizadas apresentam categorias gramaticais (substantivo, verbo e outros) bem como universais semânticos tais como a distinção fêmea/ macho. No concernente à sintaxe, sabemos que tanto línguas orais quanto as de sinais podem fazer referência ao passado, presente e futuro ou a rea lidades remotas ou ainda a coisas que não existem e que os falantes de todas as línguas são capazes de produzir e compreender um conjunto infinito de sentenças. Quadros e Karonopp (2004) apontam que esta flexibilidade e versatilidade é uma característica comum a todas as línguas, pois podemos usar a língua para dar vazão às emoções e sentimentos, para fazer solicitações, para fazer ameaças, promessas, ordens, perguntas ou afirmações. Outro universal linguísticos que pode ser contem- plado na Libras é de que “todas as línguas humanas utili- zam um conjunto finito de sons discretos (ou gestos) que são combinados para formar elementos significativos ou palavras, os quais por sua vez formam um conjunto infi- nito de sentenças possíveis. Todas as gramáticas contêm regrasde um tipo semelhante para formação de palavras e sentenças”. Estes sons ou sinais discretos compõem um conjunto finito que são combinados para formar ele- mentos significativos, os quais por sua vez formam um conjunto infinito de sentenças possíveis. A criatividade e a produtividade são apontadas por Quadros e Karnopp (2004) como propriedades que possibilitam a construção e interpretação de novas enunciados. Todos os sistemas linguísticos têm a possibilidade de construção e compre- ensão de um número infinito de enunciados. Os falantes têm a liberdade de agir criativamente construindo um número infinito de enunciados. Há também o universal que diz que: “falantes de todas as línguas são capazes de produzir e compreender um conjunto infinito de sentenças. Universais sintáticos revelam que toda língua tem meios de formar senten- ças.” Isto revela a criatividade do falante tem para inventar novas palavras e de ter um estilo próprio de fala. Isto ocorre com Libras pois mesmo cada país adotando uma língua de sinais própria, não é possível estabelecer uma homogeneidade linguística por todo seu território nacio- nal, pois sempre que houver a reunião de um grupo de sinalizadores, haverá abertura para criação de novos falares ou modificação nos falares produzidos e todos esses novos modos serão carregados de peculiaridades da região onde o grupo está localizado. Estes modos dis- tintos na fala de cada região são os chamados dialetos que existem não só na Libras mas em todas as línguas de sinais e também nas línguas orais, como ocorre com o português, por exemplo, nas palavras macaxeira, aipim e mandioca que se prestam a designar a mesma coisa. Vejamos um exemplo do regionalismo da Libras nas figuras abaixo. Tratam-se de três sinais diferentes que referem-se a palavra VERDE nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, respectivamente. São Paulo Rio de Janeiro Curitiba LIBRAS 8. Podemos assim, perceber que a Libras é bastante complexa em sua estrutura gramatical e que através dela é possível conversar sobre diversos assuntos, inclusive utilizar-se de diferentes estilos de fala em diferentes oca- siões. Então, o modo de sinalizar é diferente se o inter- locutor for uma autoridade ou se forem colegas na rua e estes diferentes registros discursivos são manifestados por meio da velocidade dos movimentos e do espaço utilizado para sinalização. Se o surdo quer ser bastante formal em sua fala, provavelmente usará o espaço a frente do seu corpo com certo limite.O espaço para sina- lização inicia acima do quadril, vai até a cabeça e não se estende muito para os lados. Porém, se o contexto de fala é informal, então ele sinalizará com muita expres- são facial, com os braços bastante alargados e, prova- velmente, vocalizará alguns sons. Desta forma, podemos ver como é possível o falante de Libras transitar entre diferentes estilos discursivos. E, finalmente, “qualquer criança, nascida em qual- quer lugar do mundo, de qualquer origem racial, geo- gráfica, social ou econômica, é capaz de aprender qual- quer língua á qual é exposta”. Um fenômeno elucidativo disto que estamos tratando é quando as crianças surdas estão aprendendo a Libras. Inicialmente elas aprendem as unidades mínimas de maneira isolada, como fazem as crianças ouvintes. Começam a balbuciar aaaaa, depois bababab, até formar palavras complestas. Isto também ocorre com as crianças surdas. Tomamos um exemplo de quando uma criança surda estava com 2:11 e em diálogo com a mãe começa a aprender o sinal de SOR- RIR (conforme figura a seguir). A mãe ensina, inconscientemente cada um dos parâ- metros – que são a configuração de mão, o ponto de arti- culação e o movimento – e a menina imita corretamente o ponto de articulação e o movimento mas não consegue reproduzir da mesma forma a configuração de mão. A mãe age com um input favorável fazendo a intervenção devida. Toca na filha, ajeita sua mão para que realize o sinal de forma correta. A criança gosta do sinal, sorri quando a mãe a repreende pelo mau jeito na realização do sinal mas tem dificuldade para fazer a configuração apresentada. Solicita a mãe por várias vezes que a auxilie. Até que então, aprende os 3 parâmetros (configuração de mão, movi- mento e ponto de articulação) e consegue realizar com precisão o sinal de SORRIR. Este jogo discursivo para além de mostrar a importância do adulto no contexto de aquisi- ção da linguagem, a qualidade do input e outros, também nos aponta para uma característica das línguas humanas, presente, igualmente, na Libras: a regularidade. Conforme já apresentamos, as línguas humanas – e portanto, a Libras também, têm parâmetros de realização que não podem ser alterados para sua efetiva comunicação. Assim, há exi- gência de que os elementos fonológicos sejam adequada- mente produzidos na realização dos sinais. 2 . Revisão teórica Se estivermos entendendo que o nível morfológico é aquele que compreende o trabalho de seleção das pala- vras se faz necessário, primeiramente, definimos o que entendemos por palavra. Nas palavras de (SANDALO, 2001, p. 183) “palavra é a unidade mínima que pode ocorrer livremente em várias posições sintáticas”. Entretanto, dentro das palavras há elementos que carregam significado. Estes elementos, chamados de morfemas é que são as unidades mínimas da morfologia (SANDALO, 2001, p. 183). Na Libras, conforme Felipe (1998, 2001), os parâ- metros fonológicos podem ser comparados também a morfemas, pois, às vezes, eles apresentam significado isoladamente, assim como ocorre em português, os fone- mas podem ter a natureza de um morfema; por exemplo, os fonemas /a/ e /o/ podem ser artigos ou desinências de gênero, assim como o fonema /s/ pode indicar o plural. Do mesmo modo, em Libras, determinada configu- ração de mão, por exemplo, pode constituir um morfema. Abaixo ilustramos alguns sinais que podem ser considera- dos morfemas: INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 9. Sinal de 2 meses Sinal de 3 meses Sinal de 4 meses Sinal de 1 dia Sinal de 2 dias Sinal de 3 dias Sinal de 1 semana Sinal de 2 semanas Sinal de 3 semanas Vemos que nestes sinais as configurações de mão carregam o significado do numeral. Nesse caso, elas constituem um morfema preso, ou seja, não podem ocorrer isoladamente, mas somente com os morfemas que indicam os meses, os dias e as semanas (QUA- DROS; KARNOPP, 2004). Em alguns sinais, no entanto, os parâmetros, isoladamente, não constituem morfemas, mas, quando articulados juntos, resultam em uma uni- dade com significado. Os sinais a seguir reproduzidos são exemplos de que a articulação conjunta de cada um dos parâmetros é que formam o significado: Ontem Hoje Amanhã LIBRAS 10. Passado Futuro Ano Vemos que a configuração de mão, movimento, locação e orientação, que constituem um único morfema, nesse caso, um morfema livre. Ainda de acordo com Brito (1995) há na Libras morfemas lexicais (o sinal de SEN- TAR, por exemplo) e morfemas gramaticais (movimento). Dadas as primeiras definições passemos as con- siderações dos processos de formação e classificação de palavra (BRITO. 1995; FELIPE, 2001; QUADROS; KARONOPP 2004; LEITE, 2008). Um dos processos de formação de palavras é por meio de incorporação de numeral e de negação. No caso da incorporação de numeral, a configuração de mão que representa o numeral se combina com outro morfema preso para formar um sinal, em que apenas a configuração de mão se modifica.Como já nos ativemos a este ponto quando exploramos a constituição de sinais que representam morfemas, passemos a discussão da incorporação da negação. Neste processo, um dos parâmetros do sinal é alte- rado, em especial o parâmetro do movimento. Em alguns casos, altera-se somente a expressão facial do sinaliza- dor. A seguir vemos o contraste entre os sinais dos ver- bos e a formaçãode palavras de negação, via alteração de movimento e via alteração da expressão facial: Sinal de TER Sinal de NÃO TER (parâmetro movimento alterado) Sinal de SABER Sinal de NÃO SABER (parâmetro movimento alterado) Sinal de GOSTAR Sinal de NÃO GOSTAR (parâmetro movimento alterado) INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 11. Sinal de QUERER Sinal de NÃO QUERER (parâmetro movimento alterado) Sinal de PODER Sinal de NÃO PODER Sinal de CONHECER Sinal de NÃO CONHECER (parâmetro expressão facial alterado) Sinal de ENTENDER Sinal de NÃO ENTENDER (parâmetro expressão facial alterado) Sinal de PRECISAR Sinal de NÃO PRECISAR (parâmetro expressão facial alterado) Sinal de ACEITAR Sinal de NÃO ACEITAR (parâmetro expressão facial alterado) Além destes processos morfológicos que caracteri- zam formação de palavras, a negação também pode ser formada pela adjunção do sinal NÃO ao respectivo sinal, conforme exposto nos exemplos a seguir: LIBRAS 12. Sinal de não responder Sinal de não terminar Sinal de não curar Há ainda outro processo morfológico que é dado pela combinação de dois morfemas lexicais, resultando em uma composição. Vejamos nos exemplos a seguir que um sinal é formado por dois sinais independentes que se juntam para formar uma palavra composta. CASA + CARNE – Sinal de AÇOUGUE BOI + LEITE – Sinal de VACA CAVALO + LISTRAS – Sinal de ZEBRA MULHER + CRUZ – Sinal de ENFERMEIRA INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 13. MULHER + BENÇÃO – Sinal de MÃE PAI + BENÇÃO – Sinal de PAI ÁGUA + ESPAÇO REDONDO – Sinal de BANHEIRA O mesmo processo morfológico ocorre em rela- ção a formação de palavras que denotem gêneros. Ocorre a combinação de dois morfemas lexicais, um que se refere ao elemento morfológico neutro e outro que se refere a marcação de gênero, isto significa que na Libras o gênero é dado pelo processo de composição morfológica, conforme observamos os exemplos a seguir: HOMEM + CUNHADO (A) – Sinal de CUNHADO MULHER + CUNHADO (A) – Sinal de CUNHADA HOMEM + SOGRO (A) – Sinal de SOGRO LIBRAS 14. MULHER + SOGRO (A) – Sinal de SOGRA HOMEM + PRIMO (A) – Sinal de PRIMO MULHER + PRIMO (A) – Sinal de PRIMA HOMEM + TIO (A) – Sinal de TIO MULHER + TIO (A) – Sinal de TIA HOMEM + IRMÃO (Ã) – Sinal de IRMÃO MULHER + IRMÃO (Ã) – Sinal de IRMÃ Não obstante, a formação de palavras que denotam categorias também passa pelo processo de composi- ção, conforme a seguir exemplificado: INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 15. MAÇÃ + VÁRIOS – Sinal de FRUTA ALFACE + VÁRIOS – Sinal de VERDURA ARROZ + VÁRIOS – Sinal de CEREAIS BATATA + VÁRIOS – Sinal de LEGUMES LEÃO + VÁRIOS – Sinal de ANIMAIS Com relação a classificação das palavras, o que se tem conhecido é que um nome pode derivar de um verbo por meio da repetição e do encurtamento do movimento do verbo. LIBRAS 16. O sinal de TELEFONE é produzido com a con- figuração de mão em Y, na locação perto a orelha e com movimentos curtos, leves e repetitivos na direção do espaço a frente do corpo do sinalizador, enquanto que TELEFONAR tem a mesma configuração de mão, a mesma locação, mas o movimento é mais alongado, firme e único. Se o movimento for alongado, firme e feito mais de uma vez pode dar a ideia de TELEFO- NAR várias vezes. Da mesma forma se configuram estes outros sinais que diferem sua classificação nominal ou verbal pela alteração do parâmetro movimento: Sinal de CADEIRA Sinal de SENTAR Ainda com relação aos verbos da Libras, destacamos neste momento três tipos deles: os verbos simples, manu- ais e os classificadores. Os verbos que se enquadram na categoria flexional serão abordados na próxima seção, destinamos aqui um espaço para descrição destes outros. A seguir apontamos alguns verbos simples da Libras. Ser um verbo simples significa que indiferente da construção da frase, os parâmetros fonológicos que compõe o sinal serão mantidos, processo distinto do que ocorre com os verbos vistos na seção flexão. QUEBRAR SENTIR RIR SUJAR TRABALHAR SONHAR INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 17. GRITAR VIVER TRAIR TENTAR OUVIR OPINAR ROUBAR A maioria destes verbos são produzidos ancora- dos no corpo do sinalizador. Ainda que seja para se referir a outra pessoa do discurso o verbo será pro- duzido do mesmo modo, no mesmo ponto de articu- lação, com a mesma configuração de mão e com a mesma orientação. E com relação aos verbos manuais, apontamos que são aqueles que se configuram pela incorporação do objeto a que referem. Eles podem ser considerados icô- nicos pela representação da realidade. Alguns exemplos: ABRIR (O POTE) COZINHAR MENDIGAR CORTAR (COM TESOURA) LIBRAS 18. LAVAR (A ROUPA) ESCREVER Postas as questões preliminares dos processos morfológicos da Libras, agora daremos a conhecer os processos morfológicos mais complexos, especialmente aqueles formados por flexão. 2.1 Flexão na Libras Segundo Câmara Jr (1985) o termo “flexão” tem sua origem na língua alemã e tem os primórdios de sua utilização na indicação do desdobramento de uma palavra em outros empregos. No português, o autor assinala que a flexão apresenta-se sob o aspecto de desinências ou sufixos flexionais. Para ele, a flexão é a formação de uma palavra por meio de um morfema, constituindo uma ideia acessória em que o significado base não é alterado. Em outras palavras, isto demons- tra que flexão é definida como um processo pelo qual uma palavra é adaptada a um contexto, com o acréscimo de uma desinência correspondente à fun- ção que exerça na frase, de acordo com a natureza desta, numa relação fechada, indicando uma moda- lidade específica. Câmara Jr (1985) associa também ao conceito de flexão, a obrigatoriedade e a siste- matização coerente sendo que estas são impostas pela própria natureza da frase. E é neste escopo da morfologia flexional que se destacam os processo de flexão nominal e flexão verbal. Desta feita, damos a conhecer cada um deles. O primeiro processo, de flexão nominal, pode ser explicitado por meio dos pronomes. Na Libras há pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos, interrogativos e indefinidos conforme podem ser a seguir ilustrados: Pronomes pessoais podem representar pri- x meira, segunda e terceira pessoa e podem aparecer no singular ou no plural: SINGULAR 1ª Pessoa – EU PLURAL NÓS 2 NÓS 3 NÓS 4 INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 19. NÓS GRUPO SINGULAR 2ª Pessoa VOCÊ VOCÊS 2 VOCÊS 3 VOCÊS 4 VOCÊS GRUPO SINGULAR 3ª Pessoa – ELE (A) PLURAL ELES (AS) 2 ELES (AS) 3 ELES (AS) 4 LIBRAS 20. ELES (AS) GRUPO Pronomes demonstrativos são iguais aos x advérbios de lugar. Sua realização sempre vem acompanhada da direção dos olhos que se voltam para o local referenciado. ESTE (A) AQUI ESSE (A) AI AQUELE (A) LÀ Pronomes possessivos: x MEU (MINHA) TEU (TUA) SEU (SUA) Pronomes interrogativos: em alguns aspec- x tos incorporam alguns advérbios de tempo. Sua realização sempre vem acompanhada da expressão facial. QUE QUEM POR QUE ou PORQUE ONDE QUANDO COMO INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 21. QUAL QUANTOS (AS) Pronomes indefinidos x NINGUÉM NADA – SEM NENHUM NADA NADA Já a flexão para grau é a modificação paramé- trica capaz de apresentar distinções para “tamanhos”. A seguir, apresentamos alguns exemplos para flexão nominal de grau. Sinal de CASA Sinal de CASINHA LIBRAS 22. Sinal de BONITO (A) Sinal de BONITINHO (A) Sinal de CALOR Sinal de CALORÃO Sinal de INTELIGENTE Sinal de INTELIGENTÃO (ONA) Quanto à flexão verbal, temos a possibilidade de fle- xão para pessoa, número, locativos e aspecto. A seguir, apresentamos alguns exemplo de verbos que concordam com a pessoa do discurso. Os verbos que se flexionam em pessoa são chamados de verbos com concordância. Tomando um primeiro exemplo temos o verbo FALAR. Sinal de FALAR O verbo falar é produzido com a configuração de mão em Y (mão fechada e dedos mínimo e polegar aber- tos). O ponto de articulaçãoinicia-se com o polegar pró- ximo a boca do sinalizador e movimenta-se na direção de quem receberá a FALA. Isto que dizer que se a pessoa que será o receptor está a direita do emissor a direção do movimento será a direita, se o receptor da FALA está a esquerda o ponto inicial do movimento permanece sendo na boca, mas a trajetória do movimento será a esquerda e assim sucessivamente para todas as diversas localiza- ções possíveis para o receptor. Assim, a concordância na Libras está na sentença: EU FALO PARA VOCÊ ou seja, a primeira pessoa do discurso – EU – falo (verbo com concordância) para segunda pessoa do discurso – VOCÊ – ocorre que em alguns casos, a trajetória do movimento é oposta: inicia-se no objeto indo em direção ao sujeito. Estes verbos são chamados verbos reversos (backward verbs). É o caso, do sinal FALAR acima ilustrado, ser concordado para ELE (A) ME FALOU. Neste caso, haverá inversão do ponto inicial do sinal que ao invés de ser na boca será no ponto de localização que está referenciado para o objeto (segunda pessoa do discurso). Concordância do verbo FALAR x 1 1sFALAR2s 1 2sFALAR1s 1 Maiores detalhes sobre as transcrições adotadas no texto estão expostos na III parte, adiantamos, entretanto que as pessoas do dis- curso são transcritas como: 1s = 1 pessoa e assim sucessivamente. INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 23. 2sFALAR3s Explicando a concordância para pessoa apresentada acima, entendemos que há um processo morfologica- mente complexo envolvido nesta realização, pois, segundo Meir (2002) é possível visualizar três componentes: A raiz do verbo FALAR. x Um morfema direcional – o movimento da tra- x jetória, denominado DIR (Directional) – marca o argumento semanticamente. Um afixo verbal – a orientação da mão. x O mesmo processo pode ocorrer com os seguin- tes verbos: PERGUNTAR MATAR MANDAR DAR RESPONDER VISITAR MOSTRAR MUDAR OBEDECER INFLUENCIAR PAQUERAR LIBRAS 24. PEDIR Em relação a flexão para número, apontamos que podem ocorrer com os mesmos verbos colocados acima (verbos com concordância) e há, neste caso, possi- bilidade de indicação do singular, do dual, do trial e do múltiplo, assim o sinalizador pode referir-se a PERGUN- TAR para DUAS PESSOAS ou DAR para TRÊS PESSOAS ou MOSTRAR para QUATRO PESSOAS ou VER TODAS AS PESSOAS, por exemplo. Além disso, há na Libras a possibilidade de várias formas de substantivos e verbos apresentarem a flexão de número na Libras. Uma delas é a diferenciação entre singular e plural realizada por meio da repetição do sinal. Vejamos outros verbos de concordância dando indicação de flexão para número e depois a marca- ção diferenciada pala palavras no singular no plural. A flexão de número refere-se à distinção feita para um, dois, três ou mais referentes. A seguir, apresenta- mos alguns exemplos do sinal ENTREGAR com concor- dância para número e outros: Concordância do verbo ENTREGAR Sinal de 1s ENTREGAR 2s Sinal de 1s ENTREGAR 2s + 3 Sinal de 1sENTREGAR2s+3+4 1s ENTREGAR vários Sinal de 1s ENTREGAR grupo 2 2 Uma variação possível deste sinal é a realização deste movimento com ambas as mãos denotando desta forma a ideia de ENTREGAR PARA MUITAS PESSOAS ou ENTREGAR PARA UM GRUPO GRANDE. INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 25. A diferença da marcação do singular e do plural e que para este segundo faz-se a repetição do primeiro, como no caso da marcação de ANOS, por exemplo, sinalizamos ANO + ANO + ANO para ÁRVORES usa- mos o sinal de ÁRVORE repetidamente e assim com todos os outros nomes que recebem flexão de número, exceto em casos onde houver sinal especifico para marcação do plural, como em PESSOAS no sentido de multidão. E quanto flexão de locação temos a incorporação de locativo onde na sua realização é possível perceber o trajeto percorrido desde o seu inicio até o local de chegada, como é o caso do verbo IR flexionado para locação que está a frente do corpo do sinalizador, con- forme abaixo. Os verbos que recebem esta flexão são chamados de verbos espaciais. Sinal de IR Outros exemplos desses verbos: Verbo ANDAR IR DE CARRO IR DE AVIÃO A flexão para aspecto é marcada de duas formas: lexical e gramaticalmente. Tais marcações dão origem ao aspecto lexical e ao aspecto gramatical, respectivamente. O primeiro, se refere ao significado intrínseco do verbo, a semântica implicada em cada verbo e manifesta seus traços (suas propriedades) na composição com seus argu- mentos. Sua expressividade se manifesta, por exemplo, na oposição semântica verificada entre os verbos PROCURAR e ENCONTRAR abaixo reproduzidos, pois a flexão codifica como se estrutura a situação por eles referida. Sinal de PROCURAR Sinal de ENCONTRAR PROCURAR é um verbo que codifica a situação como durativa, já ENCONTRAR codifica a situação como pontual, LIBRAS 26. ou seja, como não durativa. Por outro lado, aspecto gra- matical é aquele que pode ser codificado em perfectivo ou imperfectivo. O perfectivo é produzido com movimen- tos retos e abruptos e se relaciona a eventos passados enquanto que o imperfectivo é produzido com movimentos lentos e contínuos e refere-se a eventos presentes. Para ilustrarmos o que dissemos até aqui, tomemos o exemplo do verbo CUIDAR em seu padrão de movimento: Sinal de CUIDAR O sinal raiz do verbo CUIDAR é produzido com a mão passiva fechada (configuração de mão em S) colocada a frente do corpo sendo que o braço fica na horizontal do tronco. A mão ativa configura-se em V e leva o pulso a tocar no peito da mão passiva. O movimento que gera o contato de ambos os pulsos é curto e firme. Claro que pelo próprio léxico, esse verbo transmite o significado aspectual durativo, indicando uma situação que se desenvolve ao longo do tempo. Todavia, podemos reforçar esta indicação lexical por meio do aspecto gramatical imperfectivo, ou seja, podemos indicar uma situação que perdura de forma ininterrupta, através do movimento representado a seguir: Sinal de CUIDAR imperfectivo Nesse caso, mantém a configuração de mão e o ponto de articulação do sinal raiz e altera-se o movi- mento para alongado, lento e contínuo. Isto quer dizer, que haverá mais de uma vez o contato do pulso da mão ativa com o pulso da mão passiva e que o afastamento da mão passiva será mais alongado em relação ao afas- tamento que há na produção do sinal raiz, a retomada do contato será feita de modo mais lento. Já com relação ao verbo PASSEAR temos a seguinte observação: Sinal de PASSEAR Vemos aqui que as mãos configuradas em B, pas- sando alternadamente sobre os ombros. Com movi- mentos retos e curtos. Sinal de PASSEARimperfectivo INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 27. Vemos que para realização do sinal com marca do imperfectivo a mesma configuração de mão foi do sinal neutro só que o movimento foi mais alongado e contínuo. O mesmo ocorre com o verbo ESPERAR: Sinal de ESPERAR Mãos configuradas como esperar, na direção de cima para baixo com movimentos retos, curtos e abrup- tos no espaço neutro. Sinal de ESPERAR imperfectivo Mesma configuração de mão que do sinal neutro com movimento lento, alongado, continuo no espaço neutro. 2.2 Aspectos semânticos da Libras Toda língua tem uma semântica implicada em seus itens lexicais, no português por exemplo temos dife- rentes palavras que são capazes de representar basi- camente a mesma ideia. É o caso, por exemplo, das palavras casa, moradia, lar, abrigo, residência, sobrado, apartamento, cabana. Apesar de terem suas especifici- dades, todas elas representam a ideia de lugar onde se mora. Logo, trata-se de uma família de ideias. Por outro lado, há palavras que não têm esta possibilidade dúbia de expressão, mas têm seu significado restrito a deter- minado contexto e que se empregado em outro pode caracterizar uma comunicação truncada. Poderíamos citar como exemplo os casos de desentendimentos de detalhes comono discurso reproduzido a seguir: Esposa: – Amor, que horas você volta? Marido: – Ah... daqui a pouquinho eu to aqui. 4 horas depois... Esposa: – Ué! Você não falou que voltava logo? Marido: – Mas eu não vim logo? Esposa:- Não você demorou. Marido: – Não demorei. Esposa: – Demorou sim. Você disse que daqui a pouquinho tava de volta, eu pensei que fosse demorar uns 20 minutinhos... O “problema” no discurso acima é devido a uma discordância quanto ao entendimento, quanto ao sig- nificado, quanto a semântica da expressão “daqui a pouquinho”. Especialmente por estar no diminutivo, esta expressão ganha um sentido de pouco tempo, de brevidade no espaço temporal e, de fato, para quem está a espera de alguém quatro horas é muito tempo. Podemos assim, inferir que pouco tempo se aproxima de uma quantidade determinada de minutos e nem chega a completar o ciclo de uma hora do relógio. Neste caso, estamos descartando o significado de tempo para cada um dos envolvidos no processo, apenas estamos brincando com uma situação que é recorrente no nosso cotidiano. Este mesmo fenômeno acontece na Libras. Há sinais que se produzidos em determinados contex- tos são tornam-se mais adequados do que em outros pois – mesmo sendo entendidos – podem gerar certo “ estranhamento” ao interlocutor. Esta relação entre signi- ficado e significante (o sinal) da Libras não é análoga a relação de significado e significante (palavras) da língua portuguesa. A palavra especial é usada no português para definir algo ou alguém como muito peculiar, como privativo, singular, exclusivo, como fora do comum, exce- lente, notável. Já na Libras este sinal não é muito usual em contextos relacionados as pessoas, assim uma frase como “Você é muito especial para mim” ou “Esta criança tem necessidades especiais” deve haver a sinalização de um outro item lexical que equivalha a este termo do português, como IMPORTANTE no caso da primeiro sen- tença ou então COISAS PRÓPRIAS no caso da segunda. O sinal de ESPECIAL é empregado na Libras em con- texto de definição bela sobre algo ou alguém, de beleza que se destaca tal qual o brilho em meio a escuridão, que ressalta-se sobre os olhos. Quando um surdo usa o sinal de ESPECIAL para alguém ele não está querendo LIBRAS 28. dizer que esta pessoa é importante em sua vida mas está querendo destacar suas qualidades que deslum- bram-se para ele, quer dar ênfase a uma vivacidade notaria. Isto significa que ESPECIAL em Libras tem uma conotação mais “concreta” do que em portu- guês, está mais relacionada as coisas que se vê. SINAL DE ESPECIAL Este tipo de especificidade de uso ocorre tam- bém com o sinal de EDUCAÇÃO que não tem corres- pondência com a palavra em língua portuguesa. Há expressões como “educação especial” ou “educação de surdos” que se sinalizadas como abaixo podem não se adequar semanticamente pois em Libras a melhor forma de representação desta ideia seria o uso do sinal de ENSINO já que educação tem um cunho mais comportamental para os surdos. Sinal de EDUCAÇÃO Sinal de ENSINO Algo semelhante se dá com o sinal de FAMOSO. Em Libras seu emprego está relacionado não só ao fato de uma pessoa ser muito conhecida mas também com uma grande habilidade que ela tenha. Em Libras é possível a seguinte construção: ELE Libras FAMOSO Sinal de famoso Esta frase está invocando a informação de que a refe- rida pessoa é muito fluente, muito proficiente na sinaliza- ção, que é muito habilidoso nesta área. Em português não há o emprego deste termo para definição deste conceito. Haveria muito mais sinais desta natureza para serem detalhados mas encerramos por aqui nossas exemplifica- ções e passemos ao estudo da polissemia. 2.2.1 Polissemia Vamos pensar na polissemia em Libras de duas maneiras: a versão que o português impõe aos sinais da Libras e a versão que os sinais da Libras impõe ao por- tuguês. Começando pela primeira maneira, vamos pegar uma mesma palavra e ver as várias possibilidades de sina- lização dependendo do contexto de realização. A palavra MAIS. Em relação a segunda maneira, faremos o contrário, ou seja, pegaremos um sinal da Libras e averiguaremos as possibilidade de tradução para o português. A palavra MAIS pode ser sinalizada das seguintes formas se os contextos de realização implicarem nas infor- mações correspondentes: Sinal para marcar a ação de somar, numericamente falando, operações matemáticas. Como exemplo: 2 + 2 Sinal para marcar a ação de comparação em relação a algo, no sentido de “maior” INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS 29. Sinal para marcar a ação de juntar, aproximar, acrescentar. Sinal para marcar a ação de “mais uma vez”, de repetição. Sinal para marcar a ação de comparação absoluta, como se houvesse um destaque de maioridade, daquele que está acima de todos. Sinal para marcar a necessidade de continuidade no percurso. Sinal para marcar a necessidade de aumentar o som. Agora temos um único sinal que pode denotar várias palavras no português: Sinal de ocupado Sentido de OCUPADO x Sentido de NÃO POSSO x Sentido de ADVERTIDO x 2.2.2 Gírias A gíria é um fenômeno de linguagem usada por certos grupos. Normalmente ela se manifesta sob uma forma diferente da convencional para designar outras palavras com o intuito de fazer humor ou segredo. Em relação aos surdos isso também ocorre. Há grupos que usam uma linguagem codificada de forma que os demais não conseguem entender seu significado e fazem isso por meio de alteração do significante, mudança da categoria gramatical e criação de metáfo- ras e metonímias que acabam expressando sua visão de mundo, refletindo a ironia, agressividade ou apenas o humor. É bom destacar que o uso da gíria não está associada a faixa etária e tão pouco ao nível de esco- laridade das pessoas ao contrário ela pode ser usada para aproximar as pessoas ou para marcar um registro informal de comunicação. Um exemplo desta gíria tão corriqueira em nossas vidas é a palavra cerveja que com o passar do tempo foi chamada de: loira, ceva, boa, gelada e outras. Claro que a gíria está atrelada a significação social compartilhada e a uma semântica disseminada e isto é possível de percebermos quando, por exem- plo um rapaz diz que estava azarrando a moça na escola. Como falantes do português sabemos que a palavra AZAR transmite um significa negativo porém neste contexto ela toma o sentido de paquerar, flertar, namorar. Na Libras, as gírias são uma parte muito inte- ressante do discurso pois nele que se manifesta o universo metafórico da língua, no qual os sinais são “manipulados” de forma a seduzir, enganar, disfarçar, determinar. LIBRAS 30. O que mais fascina na Libras são os artifícios usados pelos surdos para escapar dos olhos dos demais mem- bros do grupo, em momentos em que necessitam falar mensagens subliminares, ou secretas, a algum interlocu- tor. Pela visualidade que é inerente à sinalização, inúmeros sinais “discretos” são criados, reduzindo-se o espaço da sinalização ou o ponto de articulação. Por exemplo, se em uma roda de adolescentes sur- gem temas tabus como sexo ou masturbação, é comum que eles modifiquem os sinais usados convencionalmente. Da mesma forma, se uma menina quer confidenciar a outra que vai menstruar e há meninos por perto, ela muda a forma de sinalizar, usando um sinal “disfarçado”. Quando se quer falar de alguém que está presente, usam-se mecanis- mos conversacionais de indicação disfarçada ou relações espaciais em que se estabelece uma localização neutra no espaço para que a pessoa que está presente, passando-se a enunciar indicando aquele ponto no espaço, sem que ninguém saiba de quem, exatamente, se fala. Há muitos exemplos de gírias que têm como sen- tido tô nem aí com você, qual é a dele?, você me sacaneou, tá me enrolando, fiquei com o rabo entre as pernas, e assim por diante,que nada têm a ver com os sinais convencionais. Outros sinais são intraduzíveis isoladamente, pois uma mesma forma pode indicar inúmeros sentidos a depender do contexto. Um exemplo é o sinal em que a configuração de mão com o dedo médio colocado no topo da cabeça, acompanhado de uma expressão facial característica (mau humor, surpresa), pode significar tô na minha, que mico, tô boiando e assim por diante. A Libras possui elementos que constituem a estru- tura gramatical, semântica capaz de produzir significações diversas, como é o caso da gíria e isto se dá por meio: movimentos de sobrancelhas, jogo de olhares, menear de ombros e de cabeça, “balanço” ao sinalizar, leveza ou ênfase no movimento, duração do olhar ou do movimento no ar, maior ou menor amplitude do espaço de sinalização. 3 . Conclusão Ao término deste capítulo pudemos averiguar que a Libras é uma língua de modalidade espaço-visual e que estas características impõe aos seus aprendizes ouvintes uma certa dificuldade que deve ser supe- rada. Isto porque como língua é composta por todos os elementos gramaticais e deve ser produzida dentro destes moldes para então não infringir sua estrutura. Da mesma forma, o fato de sua organização fonoló- gica, morfológica, sintática e semântica ser construída no espaço é um desafio aos ouvintes que produzem – naturalmente – tais categorias linguísticas por meio da oralidade e da audição. Estas questões devem ser, então, um convite ao estudo e a busca contínua de aproximação com a comunidade surda e com os estu- dos linguísticos a fim de sanarmos nossa limitação e sermos sinalizadores proficientes que sejam capazes de dar conta dos elementos gramaticais imbricados nesta língua. Quanto a questão da morfologia da Libras – objeto de estudo deste capítulo – apontamos que esta é uma língua verbal e que possui morfologia flexional e que estas se manifestam via formulação de elementos de negação, de palavras compostas, de abarcamento de gêneros e categorias, por exemplo. Além disso, há pos- sibilidade de classificação de palavras em categorias e de estudo das flexões (concordância) de cada um dos seus tipos verbais. 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