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Artigo - Intermediario de Libras (1)

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Pós-Graduação em Educação
Libras
Intermediário de Libras
Lídia da Silva
FAEL
Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar
Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo
Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes
EDITORA FAEL
Autoria Lídia da Silva
Gerente Editorial William Marlos da Costa
Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues
Revisão Thaisa Socher
Programação Visual e Diagramação Patrícia Librelato Rodrigues
ATENÇÃO: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael.
É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael.
EDITORA FAEL
Rua Castro Alves, 362
Curitiba | PR | CEP 80.240-270
FAEL
Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427
Lapa | PR | CEP 83.750-000
FOTOS DA CAPA
Anissa Thompson
Jos van Galen
Julia Freeman-Woolpert
Krishnan Gopakumar
Stefan Krilla
Viviane Stonoga
Todos os direitos reservados.
2012
Intermediário de Libras
 1 . Aspectos gramaticais 
da Libras
A Libras foi oficializada em 2002, antes disso 
porém, já existiam pesquisadores brasileiros de língua 
de sinais (Brito, 1995; Felipe, 1997; Quadros, 1998), 
discutindo e publicando suas investigações sobre esta 
língua, com o intuito de combater aos mitos que se 
tinham sobre ela.
Um destes mitos é que “A língua de sinais seria 
uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, 
incapaz de expressar conceitos abstratos” ou que 
“as línguas de sinais derivam da comunicação ges-
tual espontânea dos ouvintes”. Porém, considerando 
que a pantomina e a mímica são formas artísticas 
de expressão elas não podem ser comparadas com 
a Libras que é uma língua gramaticalmente orga-
nizada. Tão pouco devemos colocar a Libras e os 
gestos na mesma categoria de análise pois mesmo 
ambas sendo produções visuais possuem natureza 
muito diferentes.
Os gestos são as expressões espontâneas das 
pessoas, são nossas expressividades naturais. Por 
exemplo, quando colocamos a mão no rosto ou na 
cintura, ou quando cruzamos os braços, apertamos 
os dedos uns contra os outros ou ainda quando pas-
samos as mãos repetidas vezes no cabelo, estamos 
produzindo gestos.
Diferentemente, para produzirmos a Libras precisa-
mos passar por um processo formal de aprendizagem, 
pois este sistema linguístico é abstrato e não faz parte 
da nossa expressividade natural – se assim fosse, todos 
seríamos falantes natos da Libras.
É bem verdade que a Libras é composta por sinais 
que representam manualmente as formas e os movi-
mentos dos objetos do mundo, como os sinais abaixo 
reproduzidos, porém eles não são o todo da língua, há 
outros que não tem relação alguma com os objetos da 
realidade, conforme vemos nas ilustrações. Esta possibi-
lidade do referente linguístico ter relação com os objetos 
reais – a iconicidade – também é presente nas línguas 
orais, como é o caso do português.
Há poucas décadas a língua de sinais brasileira tem 
sido estudada e pesquisada. Isto porque, a população 
de modo geral e o corpo acadêmico até então tiveram 
um olhar pejorativo sobre esta forma de comunicação. 
Ocorre que há – no meio dos estudos linguísticos – 
alguns postulados que verificam a natureza das formas 
de comunicação para então a validarem como língua 
natural e/ou artificial.
A Libras passou por todos os itens avaliados e 
hoje é considerada língua. Neste capítulo percorrermos 
os mesmos passos históricos de asseveração linguís-
tica da Libras, ou seja, demonstraremos os mitos que 
se tinham sobre ela e os universais linguísticos a ela 
conferidos. Posteriormente, adentraremos no estudo 
gramatical focado na morfologia e neste escopo defini-
remos nossos pressupostos basais tais como: palavra 
e morfema.
Olharemos para a formação e classificação das 
palavras da Libras e dentro deste primeiro escopo trata-
remos dos modos de negação que esta língua permite, 
dos modos de composição, de demonstração de gêne-
ros e categorias e na parte destinada à classificação 
limitaremo-nos a conhecer a variação entre nomes e 
verbos, sendo que deste ultimo trataremos dos seus três 
tipos: simples, manual e classificador.
Percorreremos também as questões morfologica-
mente complexas que são os casos de flexão nominal 
e verbal da Libras e neste aspecto demonstraremos 
as possibilidades de cada um. Finalmente, situaremos, 
brevemente, algumas questões de ordem semântica no 
quesito da polissemia e da gíria.
Palavras-chave:
Libras. Gramática. Morfologia.
Resumo
LIBRAS
2.
Um exemplo disso são as palavra bem-te-vi e 
bumbo que dão o nome ao som produzido pelos 
objetos. O primeiro grupo de sinais são os chama-
dos icônicos e os segundos são os chamados sinais 
arbitrários.
SINAIS ICÔNICOS
Passar batom
SINAIS ARBITRÁRIOS
Vencer
Escovar os dentes
Vingar
Varrer
Opinar
É bom ressaltar que os sinais icônicos não são 
iguais no mundo todo, pois a representação que cada 
falante faz da realidade é diferente, por exemplo, o sinal 
de ÁRVORE no Brasil é icônico assim como o é nos 
Estados Unidos. A diferença é que aqui representamos o 
tronco da arvore e o balanço dos galhos enquanto lá se 
faz apenas o tronco, conforme abaixo representado:
Sinal de ÁRVORE Libras
BRASIL
Sinal de ÁRVORE ASL
EUA
Só esta informação de que a iconicidade se realiza 
de acordo com a perspectiva referencial de determinado 
grupo já é um forte argumento para combater o mito 
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
3.
que aponta que a língua de sinais deriva da comunica-
ção gestual espontânea dos ouvintes. Se assim fosse, 
quando um surdo sinalizasse o sinal de árvore para um 
ouvinte, ele rapidamente identificaria o significado, mas 
como sabemos não é isso que ocorre. Então, fica refu-
tada a ideia de que os sinais da Libras são extraídos da 
expressividade natural dos ouvintes.
Além destes, há também o mito de que “haveria 
uma única e universal língua de sinais usada por todas 
as pessoas surdas.” Isto nos revela que muitas pessoas 
pensavam que a Libras seria universal, que os sinais 
eram iguais em todos os países. Contudo, esta afirmação 
não procede, pois se Libras é a sigla da língua brasileira 
de sinais, então podemos pensar que se no nome da lín-
gua mencionamos sua nacionalidade, é porque existem 
outras línguas de sinais espalhadas por outros países, 
tais como: língua holandesa de sinais, língua francesa 
de sinais, língua americana de sinais, língua alemã de 
sinais e outras.
Assim, em cada país, há uma língua de sinais 
específica, que reflete a cultura da nação e daquela 
comunidade surda. E não é só pelo nome que enten-
demos haver uma língua de sinais para cada país, 
mas, também baseando-nos na própria teoria gerativa 
segundo a qual todas as línguas, inclusive as de sinais, 
apresentam organização sintática com os mesmos 
princípios comuns à linguagem humana, que são ape-
nas diferentes em sua natureza e comportamento. Isto 
significa que as línguas de sinais se diferenciam, como 
qualquer língua, na sua organização semântica e dis-
cursiva para atender a aspectos culturais e ideológicos 
das diferentes comunidades de surdos.
Quando a informação de que a Libras não é univer-
sal começou a percorrer espaços sociais, muitas vezes 
havia um questionamento de que seria muito mais fácil 
para comunicação dos surdos se todos sinalizassem da 
mesma forma. Porém, se estamos entendendo que a 
língua de sinais tem o mesmo valor que a língua oral, 
então um questionamento como este também perde 
sua validade já que as línguas orais não são iguais e 
ninguém questiona esse fenômenos pois sabem que 
devido a colonização local houve um alastramento de 
determinado idioma naquele determinado lugar. Da 
mesma forma ocorreu com as línguas de sinais. Cada 
uma tem uma história linguística, no caso da Libras ela 
tem sua origem na língua francesa de sinais.
As pessoas também pensam que“haveria uma 
falha na organização gramatical da língua de sinais, 
que seria derivada das línguas orais, sendo um pidgin 
sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas 
orais.” Este mito revela que algumas pessoas acham 
que a Libras é derivada das línguas orais e é um pidgin 
sem estrutura própria, subordinada e inferior. Cada uma 
destas proposições pode ser considerada um mito, pois 
quando as analisamos encontramos conceituação dife-
renciada para os termos empregados. Por exemplo, por 
pidgin entendemos a mistura de duas línguas, como nas 
expressões (1) e (2) a seguir exemplifi cadas. O pidgin é 
utilizado por pessoas que estão em processo de apren-
dizagem e necessitam de um recurso emergente de 
comunicação. Mesmo assim não consideramos o inglês 
e o português como pidgin.
(1) Eu love você.
(2) I amo you.
Uma manifestação de pidgin sinalizada é, por 
exemplo, quando uma pessoa está conversando com 
um surdo em Libras e na ausência de um sinal, resolve 
oralizar pausadamente a fim de que o interlocutor o 
entenda. Esta estrutura se caracterizará por um pidgin, 
pois houve a mistura dos sinais com a voz, da oralidade 
com a sinalização, da Libras com o português. Porém 
não é a Libras que é um pidgin, é o seu mau uso que 
pode tornar-se pidgin.
A Libras tem uma estrutura gramatical bastante 
complexa, portanto, alegar que ela é subordinada a lín-
gua oral além de demonstrar o desconhecimento das 
estrutura linguística também aponta para uma postura 
altamente preconceituosa. Assim como fazer compa-
rativo de superioridade ou inferioridade em relação à 
língua oral é linguisticamente inviável, pois as línguas 
são apenas diferentes entre si, tem constituição interna 
própria. Na linguística este tipo de comparação inexiste, 
nunca nenhuma sistema linguístico será mais complexo 
ou superior a outro já que todos se prestam aos mesmo 
fim: a comunicação. Neste sentido, a única compara-
ção permitida entre as línguas e em sua realização, é o 
conhecimento dos parâmetros de cada sistema e não 
um julgamento de valor. Da mesma forma como há uma 
conscientização ao cessar do preconceito linguístico isto 
já é assegurado no campo da linguística e já foi trans-
mitida a sociedade o que falta são algumas tomadas de 
decisão quanto ao tema. Sabemos que não podemos 
LIBRAS
4.
criticar uma pessoa porque ela fala porta acentuando o R 
como fazem os caipiras ou ainda porque ela fala bicicreta. 
Este jeito de falar diferente compõe o idioleto de cada 
um. Na Libras isto também acontece. Cada um sinaliza 
de um jeito, um tem uma mão mais firma, outro tem uma 
mão mais mole, outro faz os sinais bem no alto, outros 
muito baixo. Podemos admirar uma ou outra forma mas 
nunca taxarmos como “certa” uma única forma.
Outro exemplo de considerações errôneas é que 
“a língua de sinais seria um sistema de comunica-
ção superficial, com conteúdo restrito, sendo estética, 
expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de 
comunicação oral”. Outro apontamento que não pro-
cede as descobertas científicas, mas que muitas vezes 
é verbalizado por desconhecedores da Libras é isto. 
Levando em conta que um sistema de comunicação 
superficial é aquele criado para atender a comunicação 
de máquinas, ou seja, é a linguagem de programação, 
a Libras não se enquadra nesta situação. Toda língua 
humana – como a língua de sinais falada pelos surdos – 
atende aos critérios de criatividade, de flexibilidade e de 
versatilidade, portanto a Libras não é superficial, é uma 
língua natural, que emerge no seio da comunidade e se 
transforma ao longo do tempo, é dinâmica e com con-
teúdo absolutamente ilimitado. É possível falar qualquer 
coisa em Libras – deste de que se o sinalizante tenha 
fluência – pois mesmo não havendo palavras comuns 
entre Libras e português há possibilidade de transmis-
são do conceito da palavra.
Para além disso, há um mito que entende que “as 
línguas de sinais por estarem organizadas espacialmente, 
estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, 
uma vez que esse hemisfério é responsável pelo pro-
cessamento de informação espacial, enquanto que o 
esquerdo, pela linguagem”. Há pessoas que dizem que 
as línguas de sinais por estarem organizadas espacial-
mente estariam representadas no hemisfério direito do 
cérebro uma vez que este hemisfério é responsável pelo 
processamento de informações espacial enquanto que 
o esquerdo é responsável pela linguagem. Pessoas que 
conhecem, minimamente, o cérebro humano sabem 
que ele é dividido em hemisfério direito e hemisfério 
esquerdo e que cada um deles têm uma função diferen-
ciada. Ao hemisfério direito cabem as propriedades para 
o desenvolvimento musical, artístico, emocional, visual, 
espacial, matemático e outros. No hemisfério esquerdo 
estão algumas funções mentais como atenção, memória 
e outras mas, especialmente, é identificada a localização 
da propriedade linguística. Há neste hemisfério duas 
áreas responsáveis pelo desempenho de uma língua. A 
área de Broca que determina a expressividade da fala e 
a área de Wernicke que determina a compreensão de 
uma língua.
Diante disso, há que se pensar onde se localiza a 
Libras já que é uma língua e que por isso, basicamente, 
estaria no hemisfério esquerdo. Portanto, sua modalidade 
é espacial e visual e estas são características alocadas 
no hemisfério direito. Neste sentido, as considerações 
que se tinha até então era que a Libras era instalada 
no hemisfério direito para poder dar conta desta modali-
dade. O que ocorre, na verdade, é que a função de visão 
do hemisfério direito tem uma característica funcional, 
serve para ver no sentido strito do termo, assim também 
como a função do espaço deste hemisfério se relaciona 
a questão geográfica. A partir daí, o cérebro detecta que 
a visão e o espaço serão utilizados pela modalidade 
linguística e então realiza uma transferência hemisferial. 
Então, no hemisfério esquerdo haverá a visão e o espaço 
mas com propriedades distintas,agora com função lin-
guística, e vão servir para “ouvir” e “falar” a Libras.
Estas primeiras pesquisas que se prestaram a des-
mistificar falsas considerações sobre a Libras deram ori-
gem a outras. Todas elas, entretanto, emergiram a partir 
do primeiro trabalho conhecido sobre línguas de sinais 
nos Estados Unidos, por William Stokoe em 1960. Este 
foi o primeiro pesquisador a sistematizar a estrutura gra-
matical de uma língua de sinais mas não foi o primeiro a 
usar esta forma de comunicação pois antes dele, já exis-
tiam os abades franceses que burlavam a lei do silêncio 
que imperava nos mosteiros e conversavam por “códi-
gos visuais”. Depois disso, houve um período em que 
eles – um nome bastante conhecido desta época é o 
Ponce de Leon – se dedicavam a instrução de pessoas 
surdas e daí sim começaram a usar uma língua estrutu-
rada para transmitir conteúdos científicos e teológicos. 
A comunicação espaço-visual se espalhou pela 
Europa e posteriormente para América, chegando ao 
Brasil no século XX. Por isso, alguns sinais da Libras e 
da Língua Francesa de Sinais e também da Língua Ame-
ricana de Sinais são parecidos. São os chamados cog-
natos. Assim como existem palavras muito semelhantes 
no português e no inglês (baby e bebê, por exemplo) há 
também algumas semelhanças de vocabulário nas lín-
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
5.
guas de sinais do Brasil, EUA e França. Como exemplo 
desta similaridade, citamos os sinais de CASA em Libras 
e na Língua Americana de Sinais:
Libras
Língua americana de sinais
O que o Stokoe e os primeiros linguistas brasileiros 
fizeram – além de mostrar o falseacionismo dos mitos 
– apontaram a natureza da Libras, como ela é. Fizeram 
isto, utilizando-se da “regra geral” para validação de que 
uma língua é língua, através dos universais linguísticos. 
Então, passou-se a mostrar a verdade sobre este sis-
tema de comunicação espaço-visualpois para uma lín-
gua ser considerada língua ela deve passar por todos 
os testes postulados pelos pesquisadores, ela deve res-
ponder positivamente as questões levantadas e a Libras 
preenche estes requisitos.
O primeiro quesito que assevera “onde houver 
seres humanos, haverá língua(s)”. A primeira análise feita 
para atestar o status linguístico da Libras foi pautado 
numa simples consideração que é a de que onde há 
seres humanos há língua e quanto a isto não se pode 
deixar de assumir que a reunião de grupo de surdos, 
constitui-se como um grupo de seres humanos e que, 
portanto, isso reitera a existência de uma língua.
O segundo ponto dos universais linguísticos entende 
que “não há línguas primitivas – todas as línguas são 
igualmente complexas e igualmente capaz de expressar 
qualquer ideia. O vocabulário de qualquer língua pode ser 
expandido a fim de incluir novas palavras para expressar 
novos conceitos”. Ao aproximar-se da língua usada pelo 
grupo de surdos pode-se perceber que apesar de se 
apresentar numa modalidade diferente das línguas orais, 
ela não pode ser considerada como uma língua primi-
tiva pois todas as línguas são igualmente complexas e 
igualmente capazes de expressar qualquer idéia. Assim 
também como o vocabulário de qualquer língua pode ser 
expandido a fim de incluir novas palavras para expressar 
novos conceitos, acontece com línguas orais e sinalizadas. 
No português, por exemplo, as palavras são incorporadas 
ao sistema linguístico de um modo geral na língua com 
os empréstimos linguísticos pelo sequente aportuguesa-
mente destes termos ou ainda podemos pensar na inclu-
são de palavras novas ao repertório individual.
Em se tratando de termos técnicos e científicos pode-
mos destacar que são criados de acordo com a neces-
sidade, é o caso de quando entramos na faculdade, há 
uma enxurrada de palavras novas que nos são inseridas 
as quais não utilizávamos antes da faculdade. É o caso 
dos termos paradigmas, piagetianos, demanda 
de mercado, psicanálise, biomorfologia, léxico, 
sintático, pragmática, etc. Na língua de sinais isto 
ocorre da mesma maneira. Os surdos têm a capacidade 
de inserir em sua língua palavras novas conforme sua 
necessidade. Daí surge os novos sinais como os abaixo:
Sinais de neurose
Sinais de mídia
LIBRAS
6.
Sinais de hiperatividade
Sinal de Ambiente Virtual de Aprendizagem
Além destes, um outro universal linguístico apregoa 
que “todas as línguas mudam ao longo do tempo” e nós 
podemos verificar que não há permanência vocabular e 
nem estrutural em nenhuma língua e isto implica dizer 
que as línguas mudam ao longo do tempo. Assim como 
ocorreu com o vocábulo VOSSA MERCÊ que passou 
para VOS MICE, passou para VOCÊ e que hoje é comu-
mente tratado por CÊ ou VC. Na língua de sinais isso 
também acontece. Os sinais muito “trabalhosos” em sua 
realização, sofrem uma economia produtiva e passam a 
ser realizados de maneira mais simplificada. É o caso por 
exemplo do sinal MULHER que era realizado com ambas 
as mãos postas próximas a cabeça, numa imitação de 
colocar o chapéu, descia do rosto em direção ao pes-
coço, onde era encerrado com um movimento que imi-
tava o lançar, o amarrar. Hoje esse sinal preserva apenas 
o trajeto do rosto ao pescoço, é sinalizado, conforme se 
vê na foto abaixo, com o polegar passado na bochecha.
Sinal de mulher
Outro universal a ser considerado é de “as relações 
entre sons e significados das línguas faladas e entre 
gestos (sinais) e os significados das línguas de sinais são 
em sua maioria arbitrários”. Tanto línguas orais quanto 
línguas de sinais apresentam em sua grande maioria 
uma relação arbitrária entre sons (sinais) e significado. 
As palavras e sinais apresentam uma conexão arbitrária 
entre forma e significado visto que dada forma é possí-
vel prever o significado e dado o significado é possível 
prever a forma. Os símbolos utilizados pelas línguas são 
arbitrários. Podemos constatar que não há uma relação 
intrínseca entre a palavra CÃO e o animal que ele sim-
boliza. Quadros e Karnopp (2004) apontam ainda que a 
característica de arbitrariedade das línguas não se res-
tringe a ligação entre forma e significado mas aplica-se 
também a estrutura gramatical das línguas, pois elas 
diferem uma das outras. Isto pode ser constatado na 
dificuldade de aprender uma língua estrangeira, pois é 
um sistema distinto do que estamos habituados a usar.
Além disso, há também a consideração de que 
“toda língua falada inclui segmentos sonoros discretos, 
como p, n, ou a, os quais podem ser definidos por um 
conjunto de propriedades ou traços. Toda língua falada 
tem uma classe de vogais e uma classe de consoantes. 
Línguas de sinais apresentam segmentos discretos na 
composição dos sinais.” Assim como as línguas orais 
apresentam segmentos sonoros discretos (P, M, A) os 
quais podem ser definidos por um conjunto de proprie-
dades ou traços e possuem uma classe de vogais e 
uma classe de consoantes, as línguas de sinais, igual-
mente, apresentam segmentos discretos na composi-
ção dos sinais. 
Ainda com relação a isto, Quadros e Karnopp (2004) 
apontam que há em todas as línguas a característica da 
dupla articulação. Tal característica significa que têm uma 
gama de unidade que são semelhantes em torno de 30 
ou 40, mas que cada fonema é normalmente sem sig-
nificado quando está isolado e ganham um significado 
quando é combinado com outras unidades mínimas. Por 
exemplos os sons de F, G, D, O, A não tem um significado 
expresso, porém quando os combinamos de diferentes 
maneiras podemos, então, encontrar significados. É o 
caso, por exemplo de fogo, dado, gado, fado. Tal 
organização de língua em duas camadas: camada de 
sons que se combinam e camadas de unidades maiores, 
expressa a característica de dualidade ou dupla articula-
ção comum ás línguas orais e sinalizadas.
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
7.
Há também o “universais semânticos, como fêmea 
ou macho são encontrados em todas as línguas.” Há 
ainda outra característica encontrada em línguas orais 
que se manifestam também nas línguas sinalizadas. É 
a característica de descontinuidade. Tal fenômeno está 
em oposição a variação contínua, isto significa que as 
palavras podem diferir de maneira mínima na forma 
mas que apresentam uma diferença considerável no 
significado. É o caso das palavras faca e fada que se 
escrevem e se falam diferentes. Este fenômeno tem por 
efeito demonstrar a característica de descontinuidade da 
diferença formal entre forma e significado.
Além destes, “todas as línguas possuem formas para 
indicar tempo passado, negação, pergunta, comando, 
etc.” e que “todas as línguas apresentam categorias gra-
maticais (ex: substantivo, verbo)”. Mas as línguas não se 
fixam, apenas, nos parâmetros fonológicos pois tanto 
línguas orais como sinalizadas apresentam categorias 
gramaticais (substantivo, verbo e outros) bem como 
universais semânticos tais como a distinção fêmea/
macho. No concernente à sintaxe, sabemos que tanto 
línguas orais quanto as de sinais podem fazer referência 
ao passado, presente e futuro ou a rea lidades remotas 
ou ainda a coisas que não existem e que os falantes de 
todas as línguas são capazes de produzir e compreender 
um conjunto infinito de sentenças. Quadros e Karonopp 
(2004) apontam que esta flexibilidade e versatilidade 
é uma característica comum a todas as línguas, pois 
podemos usar a língua para dar vazão às emoções e 
sentimentos, para fazer solicitações, para fazer ameaças, 
promessas, ordens, perguntas ou afirmações.
Outro universal linguísticos que pode ser contem-
plado na Libras é de que “todas as línguas humanas utili-
zam um conjunto finito de sons discretos (ou gestos) que 
são combinados para formar elementos significativos ou 
palavras, os quais por sua vez formam um conjunto infi-
nito de sentenças possíveis. Todas as gramáticas contêm 
regrasde um tipo semelhante para formação de palavras 
e sentenças”. Estes sons ou sinais discretos compõem 
um conjunto finito que são combinados para formar ele-
mentos significativos, os quais por sua vez formam um 
conjunto infinito de sentenças possíveis. A criatividade e 
a produtividade são apontadas por Quadros e Karnopp 
(2004) como propriedades que possibilitam a construção 
e interpretação de novas enunciados. Todos os sistemas 
linguísticos têm a possibilidade de construção e compre-
ensão de um número infinito de enunciados. Os falantes 
têm a liberdade de agir criativamente construindo um 
número infinito de enunciados.
Há também o universal que diz que: “falantes de 
todas as línguas são capazes de produzir e compreender 
um conjunto infinito de sentenças. Universais sintáticos 
revelam que toda língua tem meios de formar senten-
ças.” Isto revela a criatividade do falante tem para inventar 
novas palavras e de ter um estilo próprio de fala. Isto 
ocorre com Libras pois mesmo cada país adotando uma 
língua de sinais própria, não é possível estabelecer uma 
homogeneidade linguística por todo seu território nacio-
nal, pois sempre que houver a reunião de um grupo de 
sinalizadores, haverá abertura para criação de novos 
falares ou modificação nos falares produzidos e todos 
esses novos modos serão carregados de peculiaridades 
da região onde o grupo está localizado. Estes modos dis-
tintos na fala de cada região são os chamados dialetos 
que existem não só na Libras mas em todas as línguas 
de sinais e também nas línguas orais, como ocorre com 
o português, por exemplo, nas palavras macaxeira, aipim 
e mandioca que se prestam a designar a mesma coisa. 
Vejamos um exemplo do regionalismo da Libras nas 
figuras abaixo. Tratam-se de três sinais diferentes que 
referem-se a palavra VERDE nas cidades de São Paulo, 
Rio de Janeiro e Curitiba, respectivamente.
São Paulo
Rio de Janeiro
Curitiba
LIBRAS
8.
Podemos assim, perceber que a Libras é bastante 
complexa em sua estrutura gramatical e que através dela 
é possível conversar sobre diversos assuntos, inclusive 
utilizar-se de diferentes estilos de fala em diferentes oca-
siões. Então, o modo de sinalizar é diferente se o inter-
locutor for uma autoridade ou se forem colegas na rua 
e estes diferentes registros discursivos são manifestados 
por meio da velocidade dos movimentos e do espaço 
utilizado para sinalização. Se o surdo quer ser bastante 
formal em sua fala, provavelmente usará o espaço a 
frente do seu corpo com certo limite.O espaço para sina-
lização inicia acima do quadril, vai até a cabeça e não se 
estende muito para os lados. Porém, se o contexto de 
fala é informal, então ele sinalizará com muita expres-
são facial, com os braços bastante alargados e, prova-
velmente, vocalizará alguns sons. Desta forma, podemos 
ver como é possível o falante de Libras transitar entre 
diferentes estilos discursivos.
E, finalmente, “qualquer criança, nascida em qual-
quer lugar do mundo, de qualquer origem racial, geo-
gráfica, social ou econômica, é capaz de aprender qual-
quer língua á qual é exposta”. Um fenômeno elucidativo 
disto que estamos tratando é quando as crianças surdas 
estão aprendendo a Libras. Inicialmente elas aprendem 
as unidades mínimas de maneira isolada, como fazem as 
crianças ouvintes. Começam a balbuciar aaaaa, depois 
bababab, até formar palavras complestas. Isto também 
ocorre com as crianças surdas. Tomamos um exemplo 
de quando uma criança surda estava com 2:11 e em 
diálogo com a mãe começa a aprender o sinal de SOR-
RIR (conforme figura a seguir). 
A mãe ensina, inconscientemente cada um dos parâ-
metros – que são a configuração de mão, o ponto de arti-
culação e o movimento – e a menina imita corretamente 
o ponto de articulação e o movimento mas não consegue 
reproduzir da mesma forma a configuração de mão. A 
mãe age com um input favorável fazendo a intervenção 
devida. Toca na filha, ajeita sua mão para que realize o sinal 
de forma correta. A criança gosta do sinal, sorri quando a 
mãe a repreende pelo mau jeito na realização do sinal mas 
tem dificuldade para fazer a configuração apresentada. 
Solicita a mãe por várias vezes que a auxilie. Até que então, 
aprende os 3 parâmetros (configuração de mão, movi-
mento e ponto de articulação) e consegue realizar com 
precisão o sinal de SORRIR. Este jogo discursivo para além 
de mostrar a importância do adulto no contexto de aquisi-
ção da linguagem, a qualidade do input e outros, também 
nos aponta para uma característica das línguas humanas, 
presente, igualmente, na Libras: a regularidade. Conforme 
já apresentamos, as línguas humanas – e portanto, a Libras 
também, têm parâmetros de realização que não podem 
ser alterados para sua efetiva comunicação. Assim, há exi-
gência de que os elementos fonológicos sejam adequada-
mente produzidos na realização dos sinais.
 2 . Revisão teórica
Se estivermos entendendo que o nível morfológico é 
aquele que compreende o trabalho de seleção das pala-
vras se faz necessário, primeiramente, definimos o que 
entendemos por palavra. Nas palavras de (SANDALO, 
2001, p. 183) “palavra é a unidade mínima que pode 
ocorrer livremente em várias posições sintáticas”.
Entretanto, dentro das palavras há elementos que 
carregam significado. Estes elementos, chamados de 
morfemas é que são as unidades mínimas da morfologia 
(SANDALO, 2001, p. 183).
Na Libras, conforme Felipe (1998, 2001), os parâ-
metros fonológicos podem ser comparados também a 
morfemas, pois, às vezes, eles apresentam significado 
isoladamente, assim como ocorre em português, os fone-
mas podem ter a natureza de um morfema; por exemplo, 
os fonemas /a/ e /o/ podem ser artigos ou desinências de 
gênero, assim como o fonema /s/ pode indicar o plural.
Do mesmo modo, em Libras, determinada configu-
ração de mão, por exemplo, pode constituir um morfema. 
Abaixo ilustramos alguns sinais que podem ser considera-
dos morfemas:
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
9.
Sinal de 2 meses
Sinal de 3 meses
Sinal de 4 meses
Sinal de 1 dia
Sinal de 2 dias
Sinal de 3 dias
Sinal de 1 semana
Sinal de 2 semanas
Sinal de 3 semanas
Vemos que nestes sinais as configurações de mão 
carregam o significado do numeral. Nesse caso, elas 
constituem um morfema preso, ou seja, não podem 
ocorrer isoladamente, mas somente com os morfemas 
que indicam os meses, os dias e as semanas (QUA-
DROS; KARNOPP, 2004). Em alguns sinais, no entanto, 
os parâmetros, isoladamente, não constituem morfemas, 
mas, quando articulados juntos, resultam em uma uni-
dade com significado. Os sinais a seguir reproduzidos 
são exemplos de que a articulação conjunta de cada um 
dos parâmetros é que formam o significado:
Ontem
Hoje
Amanhã
LIBRAS
10.
Passado
Futuro
Ano
Vemos que a configuração de mão, movimento, 
locação e orientação, que constituem um único morfema, 
nesse caso, um morfema livre. Ainda de acordo com Brito 
(1995) há na Libras morfemas lexicais (o sinal de SEN-
TAR, por exemplo) e morfemas gramaticais (movimento).
Dadas as primeiras definições passemos as con-
siderações dos processos de formação e classificação 
de palavra (BRITO. 1995; FELIPE, 2001; QUADROS; 
KARONOPP 2004; LEITE, 2008).
Um dos processos de formação de palavras é por 
meio de incorporação de numeral e de negação. No 
caso da incorporação de numeral, a configuração de 
mão que representa o numeral se combina com outro 
morfema preso para formar um sinal, em que apenas a 
configuração de mão se modifica.Como já nos ativemos 
a este ponto quando exploramos a constituição de sinais 
que representam morfemas, passemos a discussão da 
incorporação da negação.
Neste processo, um dos parâmetros do sinal é alte-
rado, em especial o parâmetro do movimento. Em alguns 
casos, altera-se somente a expressão facial do sinaliza-
dor. A seguir vemos o contraste entre os sinais dos ver-
bos e a formaçãode palavras de negação, via alteração 
de movimento e via alteração da expressão facial:
Sinal de TER
Sinal de NÃO TER
(parâmetro movimento alterado)
Sinal de SABER
Sinal de NÃO SABER
(parâmetro movimento alterado)
Sinal de GOSTAR
Sinal de NÃO GOSTAR
(parâmetro movimento alterado)
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
11.
Sinal de QUERER
Sinal de NÃO QUERER
(parâmetro movimento alterado)
Sinal de PODER
Sinal de NÃO PODER
Sinal de CONHECER
Sinal de NÃO CONHECER
(parâmetro expressão facial alterado)
Sinal de ENTENDER
Sinal de NÃO ENTENDER
(parâmetro expressão facial alterado)
Sinal de PRECISAR
Sinal de NÃO PRECISAR
(parâmetro expressão facial alterado)
Sinal de ACEITAR
Sinal de NÃO ACEITAR
(parâmetro expressão facial alterado)
Além destes processos morfológicos que caracteri-
zam formação de palavras, a negação também pode ser 
formada pela adjunção do sinal NÃO ao respectivo sinal, 
conforme exposto nos exemplos a seguir:
LIBRAS
12.
Sinal de não responder
Sinal de não terminar
Sinal de não curar
Há ainda outro processo morfológico que é dado 
pela combinação de dois morfemas lexicais, resultando 
em uma composição. Vejamos nos exemplos a seguir 
que um sinal é formado por dois sinais independentes 
que se juntam para formar uma palavra composta.
CASA + CARNE – Sinal de AÇOUGUE
BOI + LEITE – Sinal de VACA
CAVALO + LISTRAS – Sinal de ZEBRA
MULHER + CRUZ – Sinal de ENFERMEIRA
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
13.
MULHER + BENÇÃO – Sinal de MÃE
PAI + BENÇÃO – Sinal de PAI
ÁGUA + ESPAÇO REDONDO – Sinal de BANHEIRA
O mesmo processo morfológico ocorre em rela-
ção a formação de palavras que denotem gêneros. 
Ocorre a combinação de dois morfemas lexicais, um 
que se refere ao elemento morfológico neutro e outro 
que se refere a marcação de gênero, isto significa 
que na Libras o gênero é dado pelo processo de 
composição morfológica, conforme observamos os 
exemplos a seguir:
HOMEM + CUNHADO (A) – Sinal de CUNHADO
MULHER + CUNHADO (A) – Sinal de CUNHADA
HOMEM + SOGRO (A) – Sinal de SOGRO
LIBRAS
14.
MULHER + SOGRO (A) – Sinal de SOGRA
HOMEM + PRIMO (A) – Sinal de PRIMO
MULHER + PRIMO (A) – Sinal de PRIMA
HOMEM + TIO (A) – Sinal de TIO
MULHER + TIO (A) – Sinal de TIA
HOMEM + IRMÃO (Ã) – Sinal de IRMÃO
MULHER + IRMÃO (Ã) – Sinal de IRMÃ
Não obstante, a formação de palavras que denotam 
categorias também passa pelo processo de composi-
ção, conforme a seguir exemplificado:
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
15.
MAÇÃ + VÁRIOS – Sinal de FRUTA
ALFACE + VÁRIOS – Sinal de VERDURA
ARROZ + VÁRIOS – Sinal de CEREAIS
BATATA + VÁRIOS – Sinal de LEGUMES
LEÃO + VÁRIOS – Sinal de ANIMAIS
Com relação a classificação das palavras, o que se 
tem conhecido é que um nome pode derivar de um 
verbo por meio da repetição e do encurtamento do 
movimento do verbo.
LIBRAS
16.
O sinal de TELEFONE é produzido com a con-
figuração de mão em Y, na locação perto a orelha e 
com movimentos curtos, leves e repetitivos na direção 
do espaço a frente do corpo do sinalizador, enquanto 
que TELEFONAR tem a mesma configuração de mão, 
a mesma locação, mas o movimento é mais alongado, 
firme e único. Se o movimento for alongado, firme e 
feito mais de uma vez pode dar a ideia de TELEFO-
NAR várias vezes. Da mesma forma se configuram estes 
outros sinais que diferem sua classificação nominal ou 
verbal pela alteração do parâmetro movimento:
Sinal de CADEIRA
Sinal de SENTAR
Ainda com relação aos verbos da Libras, destacamos 
neste momento três tipos deles: os verbos simples, manu-
ais e os classificadores. Os verbos que se enquadram na 
categoria flexional serão abordados na próxima seção, 
destinamos aqui um espaço para descrição destes outros.
A seguir apontamos alguns verbos simples da 
Libras. Ser um verbo simples significa que indiferente 
da construção da frase, os parâmetros fonológicos que 
compõe o sinal serão mantidos, processo distinto do 
que ocorre com os verbos vistos na seção flexão.
QUEBRAR
SENTIR
RIR
SUJAR
TRABALHAR
SONHAR
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
17.
GRITAR
VIVER
TRAIR
TENTAR
OUVIR
OPINAR
ROUBAR
A maioria destes verbos são produzidos ancora-
dos no corpo do sinalizador. Ainda que seja para se 
referir a outra pessoa do discurso o verbo será pro-
duzido do mesmo modo, no mesmo ponto de articu-
lação, com a mesma configuração de mão e com a 
mesma orientação.
E com relação aos verbos manuais, apontamos que 
são aqueles que se configuram pela incorporação do 
objeto a que referem. Eles podem ser considerados icô-
nicos pela representação da realidade. Alguns exemplos:
ABRIR (O POTE)
COZINHAR
MENDIGAR
CORTAR (COM TESOURA)
LIBRAS
18.
LAVAR (A ROUPA)
ESCREVER
Postas as questões preliminares dos processos 
morfológicos da Libras, agora daremos a conhecer os 
processos morfológicos mais complexos, especialmente 
aqueles formados por flexão.
 2.1 Flexão na Libras
Segundo Câmara Jr (1985) o termo “flexão” tem 
sua origem na língua alemã e tem os primórdios de 
sua utilização na indicação do desdobramento de uma 
palavra em outros empregos. No português, o autor 
assinala que a flexão apresenta-se sob o aspecto de 
desinências ou sufixos flexionais. Para ele, a flexão é a 
formação de uma palavra por meio de um morfema, 
constituindo uma ideia acessória em que o significado 
base não é alterado. Em outras palavras, isto demons-
tra que flexão é definida como um processo pelo 
qual uma palavra é adaptada a um contexto, com o 
acréscimo de uma desinência correspondente à fun-
ção que exerça na frase, de acordo com a natureza 
desta, numa relação fechada, indicando uma moda-
lidade específica. Câmara Jr (1985) associa também 
ao conceito de flexão, a obrigatoriedade e a siste-
matização coerente sendo que estas são impostas 
pela própria natureza da frase. E é neste escopo da 
morfologia flexional que se destacam os processo de 
flexão nominal e flexão verbal. Desta feita, damos a 
conhecer cada um deles.
O primeiro processo, de flexão nominal, pode 
ser explicitado por meio dos pronomes. Na Libras 
há pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos, 
interrogativos e indefinidos conforme podem ser a 
seguir ilustrados:
Pronomes pessoais podem representar pri- x
meira, segunda e terceira pessoa e podem 
aparecer no singular ou no plural:
SINGULAR
1ª Pessoa – EU
PLURAL
NÓS 2
NÓS 3
NÓS 4
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
19.
NÓS GRUPO
SINGULAR
2ª Pessoa VOCÊ
VOCÊS 2
VOCÊS 3
VOCÊS 4
VOCÊS GRUPO
SINGULAR
3ª Pessoa – ELE (A)
PLURAL
ELES (AS) 2
ELES (AS) 3
ELES (AS) 4
LIBRAS
20.
ELES (AS) GRUPO
Pronomes demonstrativos são iguais aos x
advérbios de lugar. Sua realização sempre 
vem acompanhada da direção dos olhos que 
se voltam para o local referenciado.
ESTE (A) AQUI
ESSE (A) AI
AQUELE (A) LÀ
Pronomes possessivos: x
MEU (MINHA)
TEU (TUA)
SEU (SUA)
Pronomes interrogativos: em alguns aspec- x
tos incorporam alguns advérbios de tempo. 
Sua realização sempre vem acompanhada da 
expressão facial.
QUE QUEM
POR QUE ou PORQUE
ONDE
QUANDO
COMO
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
21.
QUAL
QUANTOS (AS)
Pronomes indefinidos x
NINGUÉM
NADA – SEM
NENHUM
NADA
NADA
Já a flexão para grau é a modificação paramé-
trica capaz de apresentar distinções para “tamanhos”. 
A seguir, apresentamos alguns exemplos para flexão 
nominal de grau.
Sinal de CASA
Sinal de CASINHA
LIBRAS
22.
Sinal de BONITO (A)
Sinal de BONITINHO (A)
Sinal de CALOR
Sinal de CALORÃO
Sinal de INTELIGENTE
Sinal de INTELIGENTÃO (ONA)
Quanto à flexão verbal, temos a possibilidade de fle-
xão para pessoa, número, locativos e aspecto. A seguir, 
apresentamos alguns exemplo de verbos que concordam 
com a pessoa do discurso. Os verbos que se flexionam 
em pessoa são chamados de verbos com concordância. 
Tomando um primeiro exemplo temos o verbo FALAR.
Sinal de FALAR
O verbo falar é produzido com a configuração de 
mão em Y (mão fechada e dedos mínimo e polegar aber-
tos). O ponto de articulaçãoinicia-se com o polegar pró-
ximo a boca do sinalizador e movimenta-se na direção de 
quem receberá a FALA. Isto que dizer que se a pessoa 
que será o receptor está a direita do emissor a direção do 
movimento será a direita, se o receptor da FALA está a 
esquerda o ponto inicial do movimento permanece sendo 
na boca, mas a trajetória do movimento será a esquerda 
e assim sucessivamente para todas as diversas localiza-
ções possíveis para o receptor. Assim, a concordância na 
Libras está na sentença: EU FALO PARA VOCÊ ou seja, 
a primeira pessoa do discurso – EU – falo (verbo com 
concordância) para segunda pessoa do discurso – VOCÊ 
– ocorre que em alguns casos, a trajetória do movimento 
é oposta: inicia-se no objeto indo em direção ao sujeito. 
Estes verbos são chamados verbos reversos (backward 
verbs). É o caso, do sinal FALAR acima ilustrado, ser 
concordado para ELE (A) ME FALOU. Neste caso, haverá 
inversão do ponto inicial do sinal que ao invés de ser na 
boca será no ponto de localização que está referenciado 
para o objeto (segunda pessoa do discurso).
Concordância do verbo FALAR x 1
1sFALAR2s 
1
2sFALAR1s
1 Maiores detalhes sobre as transcrições adotadas no texto estão 
expostos na III parte, adiantamos, entretanto que as pessoas do dis-
curso são transcritas como: 1s = 1 pessoa e assim sucessivamente.
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
23.
2sFALAR3s
Explicando a concordância para pessoa apresentada 
acima, entendemos que há um processo morfologica-
mente complexo envolvido nesta realização, pois, segundo 
Meir (2002) é possível visualizar três componentes:
A raiz do verbo FALAR. x
Um morfema direcional – o movimento da tra- x
jetória, denominado DIR (Directional) – marca 
o argumento semanticamente.
Um afixo verbal – a orientação da mão. x
O mesmo processo pode ocorrer com os seguin-
tes verbos:
PERGUNTAR
MATAR
MANDAR
DAR
RESPONDER
VISITAR
MOSTRAR
MUDAR
OBEDECER
INFLUENCIAR
PAQUERAR
LIBRAS
24.
PEDIR
Em relação a flexão para número, apontamos que 
podem ocorrer com os mesmos verbos colocados acima 
(verbos com concordância) e há, neste caso, possi-
bilidade de indicação do singular, do dual, do trial e do 
múltiplo, assim o sinalizador pode referir-se a PERGUN-
TAR para DUAS PESSOAS ou DAR para TRÊS PESSOAS 
ou MOSTRAR para QUATRO PESSOAS ou VER TODAS 
AS PESSOAS, por exemplo. Além disso, há na Libras a 
possibilidade de várias formas de substantivos e verbos 
apresentarem a flexão de número na Libras. Uma delas é 
a diferenciação entre singular e plural realizada por meio da 
repetição do sinal. Vejamos outros verbos de concordância 
dando indicação de flexão para número e depois a marca-
ção diferenciada pala palavras no singular no plural.
A flexão de número refere-se à distinção feita para 
um, dois, três ou mais referentes. A seguir, apresenta-
mos alguns exemplos do sinal ENTREGAR com concor-
dância para número e outros:
Concordância do verbo ENTREGAR
Sinal de 1s ENTREGAR 2s
Sinal de 1s ENTREGAR 2s + 3
Sinal de 1sENTREGAR2s+3+4
1s ENTREGAR vários
Sinal de 1s ENTREGAR grupo
2
2 Uma variação possível deste sinal é a realização deste 
movimento com ambas as mãos denotando desta forma a ideia 
de ENTREGAR PARA MUITAS PESSOAS ou ENTREGAR PARA UM 
GRUPO GRANDE.
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
25.
A diferença da marcação do singular e do plural e 
que para este segundo faz-se a repetição do primeiro, 
como no caso da marcação de ANOS, por exemplo, 
sinalizamos ANO + ANO + ANO para ÁRVORES usa-
mos o sinal de ÁRVORE repetidamente e assim com 
todos os outros nomes que recebem flexão de número, 
exceto em casos onde houver sinal especifico para 
marcação do plural, como em PESSOAS no sentido 
de multidão.
E quanto flexão de locação temos a incorporação 
de locativo onde na sua realização é possível perceber 
o trajeto percorrido desde o seu inicio até o local de 
chegada, como é o caso do verbo IR flexionado para 
locação que está a frente do corpo do sinalizador, con-
forme abaixo. Os verbos que recebem esta flexão são 
chamados de verbos espaciais.
Sinal de IR
Outros exemplos desses verbos:
Verbo ANDAR
IR DE CARRO
IR DE AVIÃO
A flexão para aspecto é marcada de duas formas: 
lexical e gramaticalmente. Tais marcações dão origem ao 
aspecto lexical e ao aspecto gramatical, respectivamente. 
O primeiro, se refere ao significado intrínseco do verbo, 
a semântica implicada em cada verbo e manifesta seus 
traços (suas propriedades) na composição com seus argu-
mentos. Sua expressividade se manifesta, por exemplo, na 
oposição semântica verificada entre os verbos PROCURAR 
e ENCONTRAR abaixo reproduzidos, pois a flexão codifica 
como se estrutura a situação por eles referida.
Sinal de PROCURAR
Sinal de ENCONTRAR
PROCURAR é um verbo que codifica a situação como 
durativa, já ENCONTRAR codifica a situação como pontual, 
LIBRAS
26.
ou seja, como não durativa. Por outro lado, aspecto gra-
matical é aquele que pode ser codificado em perfectivo 
ou imperfectivo. O perfectivo é produzido com movimen-
tos retos e abruptos e se relaciona a eventos passados 
enquanto que o imperfectivo é produzido com movimentos 
lentos e contínuos e refere-se a eventos presentes. Para 
ilustrarmos o que dissemos até aqui, tomemos o exemplo 
do verbo CUIDAR em seu padrão de movimento:
Sinal de CUIDAR
O sinal raiz do verbo CUIDAR é produzido com a mão 
passiva fechada (configuração de mão em S) colocada a 
frente do corpo sendo que o braço fica na horizontal do 
tronco. A mão ativa configura-se em V e leva o pulso a 
tocar no peito da mão passiva. O movimento que gera o 
contato de ambos os pulsos é curto e firme. Claro que pelo 
próprio léxico, esse verbo transmite o significado aspectual 
durativo, indicando uma situação que se desenvolve ao 
longo do tempo. Todavia, podemos reforçar esta indicação 
lexical por meio do aspecto gramatical imperfectivo, ou 
seja, podemos indicar uma situação que perdura de forma 
ininterrupta, através do movimento representado a seguir:
Sinal de CUIDAR imperfectivo
Nesse caso, mantém a configuração de mão e o 
ponto de articulação do sinal raiz e altera-se o movi-
mento para alongado, lento e contínuo. Isto quer dizer, 
que haverá mais de uma vez o contato do pulso da mão 
ativa com o pulso da mão passiva e que o afastamento 
da mão passiva será mais alongado em relação ao afas-
tamento que há na produção do sinal raiz, a retomada 
do contato será feita de modo mais lento.
Já com relação ao verbo PASSEAR temos a 
seguinte observação:
Sinal de PASSEAR
Vemos aqui que as mãos configuradas em B, pas-
sando alternadamente sobre os ombros. Com movi-
mentos retos e curtos.
Sinal de PASSEARimperfectivo
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
27.
Vemos que para realização do sinal com marca do 
imperfectivo a mesma configuração de mão foi do sinal 
neutro só que o movimento foi mais alongado e contínuo.
O mesmo ocorre com o verbo ESPERAR:
Sinal de ESPERAR
Mãos configuradas como esperar, na direção de 
cima para baixo com movimentos retos, curtos e abrup-
tos no espaço neutro.
Sinal de ESPERAR imperfectivo
Mesma configuração de mão que do sinal neutro com 
movimento lento, alongado, continuo no espaço neutro.
 2.2 Aspectos semânticos 
da Libras
Toda língua tem uma semântica implicada em seus 
itens lexicais, no português por exemplo temos dife-
rentes palavras que são capazes de representar basi-
camente a mesma ideia. É o caso, por exemplo, das 
palavras casa, moradia, lar, abrigo, residência, sobrado, 
apartamento, cabana. Apesar de terem suas especifici-
dades, todas elas representam a ideia de lugar onde se 
mora. Logo, trata-se de uma família de ideias. Por outro 
lado, há palavras que não têm esta possibilidade dúbia 
de expressão, mas têm seu significado restrito a deter-
minado contexto e que se empregado em outro pode 
caracterizar uma comunicação truncada. Poderíamos 
citar como exemplo os casos de desentendimentos de 
detalhes comono discurso reproduzido a seguir:
Esposa: – Amor, que horas você volta?
Marido: – Ah... daqui a pouquinho eu to aqui.
4 horas depois...
Esposa: – Ué! Você não falou que voltava logo?
Marido: – Mas eu não vim logo?
Esposa:- Não você demorou.
Marido: – Não demorei.
Esposa: – Demorou sim. Você disse que daqui a 
pouquinho tava de volta, eu pensei que fosse demorar 
uns 20 minutinhos...
O “problema” no discurso acima é devido a uma 
discordância quanto ao entendimento, quanto ao sig-
nificado, quanto a semântica da expressão “daqui a 
pouquinho”. Especialmente por estar no diminutivo, 
esta expressão ganha um sentido de pouco tempo, de 
brevidade no espaço temporal e, de fato, para quem 
está a espera de alguém quatro horas é muito tempo. 
Podemos assim, inferir que pouco tempo se aproxima 
de uma quantidade determinada de minutos e nem 
chega a completar o ciclo de uma hora do relógio. 
Neste caso, estamos descartando o significado de 
tempo para cada um dos envolvidos no processo, 
apenas estamos brincando com uma situação que é 
recorrente no nosso cotidiano.
Este mesmo fenômeno acontece na Libras. Há 
sinais que se produzidos em determinados contex-
tos são tornam-se mais adequados do que em outros 
pois – mesmo sendo entendidos – podem gerar certo 
“ estranhamento” ao interlocutor. Esta relação entre signi-
ficado e significante (o sinal) da Libras não é análoga a 
relação de significado e significante (palavras) da língua 
portuguesa. A palavra especial é usada no português 
para definir algo ou alguém como muito peculiar, como 
privativo, singular, exclusivo, como fora do comum, exce-
lente, notável. Já na Libras este sinal não é muito usual 
em contextos relacionados as pessoas, assim uma frase 
como “Você é muito especial para mim” ou “Esta criança 
tem necessidades especiais” deve haver a sinalização 
de um outro item lexical que equivalha a este termo do 
português, como IMPORTANTE no caso da primeiro sen-
tença ou então COISAS PRÓPRIAS no caso da segunda. 
O sinal de ESPECIAL é empregado na Libras em con-
texto de definição bela sobre algo ou alguém, de beleza 
que se destaca tal qual o brilho em meio a escuridão, 
que ressalta-se sobre os olhos. Quando um surdo usa o 
sinal de ESPECIAL para alguém ele não está querendo 
LIBRAS
28.
dizer que esta pessoa é importante em sua vida mas 
está querendo destacar suas qualidades que deslum-
bram-se para ele, quer dar ênfase a uma vivacidade 
notaria. Isto significa que ESPECIAL em Libras tem 
uma conotação mais “concreta” do que em portu-
guês, está mais relacionada as coisas que se vê.
SINAL DE ESPECIAL
Este tipo de especificidade de uso ocorre tam-
bém com o sinal de EDUCAÇÃO que não tem corres-
pondência com a palavra em língua portuguesa. Há 
expressões como “educação especial” ou “educação 
de surdos” que se sinalizadas como abaixo podem 
não se adequar semanticamente pois em Libras a 
melhor forma de representação desta ideia seria o 
uso do sinal de ENSINO já que educação tem um 
cunho mais comportamental para os surdos.
Sinal de EDUCAÇÃO
Sinal de ENSINO
Algo semelhante se dá com o sinal de FAMOSO. 
Em Libras seu emprego está relacionado não só ao 
fato de uma pessoa ser muito conhecida mas também 
com uma grande habilidade que ela tenha. Em Libras 
é possível a seguinte construção:
ELE Libras FAMOSO
Sinal de famoso
Esta frase está invocando a informação de que a refe-
rida pessoa é muito fluente, muito proficiente na sinaliza-
ção, que é muito habilidoso nesta área. Em português não 
há o emprego deste termo para definição deste conceito.
Haveria muito mais sinais desta natureza para serem 
detalhados mas encerramos por aqui nossas exemplifica-
ções e passemos ao estudo da polissemia.
 2.2.1 Polissemia
Vamos pensar na polissemia em Libras de duas 
maneiras: a versão que o português impõe aos sinais da 
Libras e a versão que os sinais da Libras impõe ao por-
tuguês. Começando pela primeira maneira, vamos pegar 
uma mesma palavra e ver as várias possibilidades de sina-
lização dependendo do contexto de realização. A palavra 
MAIS. Em relação a segunda maneira, faremos o contrário, 
ou seja, pegaremos um sinal da Libras e averiguaremos as 
possibilidade de tradução para o português.
A palavra MAIS pode ser sinalizada das seguintes 
formas se os contextos de realização implicarem nas infor-
mações correspondentes:
Sinal para marcar a ação de somar, numericamente 
falando, operações matemáticas. Como exemplo: 2 + 2
Sinal para marcar a ação de comparação em relação a 
algo, no sentido de “maior”
INTERMEDIÁRIO DE LIBRAS
29.
Sinal para marcar a ação de juntar, aproximar, 
acrescentar.
Sinal para marcar a ação de “mais uma vez”, de 
repetição.
Sinal para marcar a ação de comparação absoluta, 
como se houvesse um destaque de maioridade, daquele 
que está acima de todos.
Sinal para marcar a necessidade de continuidade no 
percurso.
Sinal para marcar a necessidade de aumentar o som.
Agora temos um único sinal que pode denotar 
várias palavras no português:
Sinal de ocupado
Sentido de OCUPADO x
Sentido de NÃO POSSO x
Sentido de ADVERTIDO x
 2.2.2 Gírias
A gíria é um fenômeno de linguagem usada por 
certos grupos. Normalmente ela se manifesta sob uma 
forma diferente da convencional para designar outras 
palavras com o intuito de fazer humor ou segredo. Em 
relação aos surdos isso também ocorre. Há grupos 
que usam uma linguagem codificada de forma que 
os demais não conseguem entender seu significado 
e fazem isso por meio de alteração do significante, 
mudança da categoria gramatical e criação de metáfo-
ras e metonímias que acabam expressando sua visão 
de mundo, refletindo a ironia, agressividade ou apenas 
o humor. É bom destacar que o uso da gíria não está 
associada a faixa etária e tão pouco ao nível de esco-
laridade das pessoas ao contrário ela pode ser usada 
para aproximar as pessoas ou para marcar um registro 
informal de comunicação. Um exemplo desta gíria tão 
corriqueira em nossas vidas é a palavra cerveja que 
com o passar do tempo foi chamada de: loira, ceva, 
boa, gelada e outras.
Claro que a gíria está atrelada a significação 
social compartilhada e a uma semântica disseminada 
e isto é possível de percebermos quando, por exem-
plo um rapaz diz que estava azarrando a moça na 
escola. Como falantes do português sabemos que a 
palavra AZAR transmite um significa negativo porém 
neste contexto ela toma o sentido de paquerar, flertar, 
namorar.
Na Libras, as gírias são uma parte muito inte-
ressante do discurso pois nele que se manifesta o 
universo metafórico da língua, no qual os sinais são 
“manipulados” de forma a seduzir, enganar, disfarçar, 
determinar.
LIBRAS
30.
O que mais fascina na Libras são os artifícios usados 
pelos surdos para escapar dos olhos dos demais mem-
bros do grupo, em momentos em que necessitam falar 
mensagens subliminares, ou secretas, a algum interlocu-
tor. Pela visualidade que é inerente à sinalização, inúmeros 
sinais “discretos” são criados, reduzindo-se o espaço da 
sinalização ou o ponto de articulação.
Por exemplo, se em uma roda de adolescentes sur-
gem temas tabus como sexo ou masturbação, é comum 
que eles modifiquem os sinais usados convencionalmente. 
Da mesma forma, se uma menina quer confidenciar a outra 
que vai menstruar e há meninos por perto, ela muda a 
forma de sinalizar, usando um sinal “disfarçado”. Quando se 
quer falar de alguém que está presente, usam-se mecanis-
mos conversacionais de indicação disfarçada ou relações 
espaciais em que se estabelece uma localização neutra no 
espaço para que a pessoa que está presente, passando-se 
a enunciar indicando aquele ponto no espaço, sem que 
ninguém saiba de quem, exatamente, se fala.
Há muitos exemplos de gírias que têm como sen-
tido tô nem aí com você, qual é a dele?, você me 
sacaneou, tá me enrolando, fiquei com o rabo 
entre as pernas, e assim por diante,que nada têm a ver 
com os sinais convencionais.
Outros sinais são intraduzíveis isoladamente, pois uma 
mesma forma pode indicar inúmeros sentidos a depender 
do contexto. Um exemplo é o sinal em que a configuração 
de mão com o dedo médio colocado no topo da cabeça, 
acompanhado de uma expressão facial característica (mau 
humor, surpresa), pode significar tô na minha, que 
mico, tô boiando e assim por diante.
A Libras possui elementos que constituem a estru-
tura gramatical, semântica capaz de produzir significações 
diversas, como é o caso da gíria e isto se dá por meio: 
movimentos de sobrancelhas, jogo de olhares, menear 
de ombros e de cabeça, “balanço” ao sinalizar, leveza ou 
ênfase no movimento, duração do olhar ou do movimento 
no ar, maior ou menor amplitude do espaço de sinalização.
 3 . Conclusão
Ao término deste capítulo pudemos averiguar que 
a Libras é uma língua de modalidade espaço-visual e 
que estas características impõe aos seus aprendizes 
ouvintes uma certa dificuldade que deve ser supe-
rada. Isto porque como língua é composta por todos 
os elementos gramaticais e deve ser produzida dentro 
destes moldes para então não infringir sua estrutura. 
Da mesma forma, o fato de sua organização fonoló-
gica, morfológica, sintática e semântica ser construída 
no espaço é um desafio aos ouvintes que produzem 
– naturalmente – tais categorias linguísticas por meio 
da oralidade e da audição. Estas questões devem ser, 
então, um convite ao estudo e a busca contínua de 
aproximação com a comunidade surda e com os estu-
dos linguísticos a fim de sanarmos nossa limitação e 
sermos sinalizadores proficientes que sejam capazes 
de dar conta dos elementos gramaticais imbricados 
nesta língua.
Quanto a questão da morfologia da Libras – objeto 
de estudo deste capítulo – apontamos que esta é uma 
língua verbal e que possui morfologia flexional e que 
estas se manifestam via formulação de elementos de 
negação, de palavras compostas, de abarcamento de 
gêneros e categorias, por exemplo. Além disso, há pos-
sibilidade de classificação de palavras em categorias e 
de estudo das flexões (concordância) de cada um dos 
seus tipos verbais.
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