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ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” Letícia iniciou quadro de dor em hemitórax direito. Incomodada procurou seu médico. O profissional de saúde, após ausculta pulmonar, observou diminuição dos sons respiratórios em base direita. Solicitou uma radiografia de tórax em incidência póstero-anterior, que evidenciou hipotransparência significativa com velamento do seio costofrênico direito. Como também havia diminuição do frêmito toraco-vocal, o médico solicitou nova radiografia de tórax, no entanto, em decúbito lateral direito. O exame demonstrou mudança no padrão de hipotransparência pulmonar, que percorreu todo seguimento médio lateral até o ápice. ♥ Relembrar as morfofisiologia das pleuras ♥ Compreender a fisiopatologia do derrame pleural, manifestações clínicas e fatores de risco ♥ Determinar os tipos de derrame pleural Cada pulmão é revestido e envolvido por um saco pleural seroso formado por duas membranas contínuas: a pleura visceral, que reveste toda a superfície pulmonar, formando sua face externa brilhante, e a pleura parietal, que reveste as cavidades pulmonares. cavidade pleural O espaço virtual entre as camadas de pleura – contém uma camada capilar de líquido pleural seroso, que lubrifica as superfícies pleurais e permite que as camadas de pleura deslizem suavemente uma sobre a outra, durante a respiração. A tensão superficial do líquido pleural também propicia a coesão que mantém a superfície pulmonar em contato com a parede torácica; assim, o pulmão se expande e se enche de ar quando o tórax expande, ainda permitindo o deslizamento (Figura 1 B e c). Derrame Pleural Contexto Objetivos Anatomia das pleuras ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” Figura 1. Divisões da cavidade torácica e revestimento das cavidades pulmonares. A. A TC e o diagrama de interpretação acima são imagens em corte transversal da cavidade torácica que mostram o formato reniforme e a divisão em três compartimentos. Os diagramas dimensionais (B) e transversal coronal (C) mostram os revestimentos das cavidades pleurais e pulmões (pleuras). Cada pulmão é revestido pela lâmina interna de um saco fechado que foi invaginado pelo pulmão. Detalhe: Um punho invaginando um balão pouco cheio mostra a relação entre o pulmão (representado pelo punho) e as paredes do saco pleural (lâminas parietal e visceral da pleura). Pleura visceral A pleura visceral (pleura pulmonar) está aposta ao pulmão e aderida a todas as suas superfícies, inclusive as fissuras horizontal e oblíqua. Na dissecção de cadáveres, em geral não é possível dissecar a pleura visceral da superfície do pulmão. Ela torna a superfície do pulmão lisa e escorregadia, permitindo o livre movimento sobre a pleura parietal. A pleura ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” visceral é contínua com a pleura parietal no hilo do pulmão, onde estruturas que formam a raiz do pulmão (p. ex., o brônquio e os vasos pulmonares) entram e saem (Figura 1 B; 2C). Figura 2. Relação entre o conteúdo torácico e o revestimento da caixa torácica. Pleura parietal Reveste as cavidades pulmonares, aderindo, assim, à parede torácica, ao mediastino e ao diafragma. É mais espessa do que a pleura visceral, e durante cirurgias e dissecções de cadáver, pode ser separada das superfícies que reveste. A pleura parietal tem três partes: ♥ Costal ♥ Mediastinal ♥ Diafragmática ♥ Cúpula da pleura (parte da pleura no pescoço) ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” Pleura costovertebral Cobre as faces internas da parede. Está separada da face interna da parede torácica (esterno, costelas e cartilagens costais, músculos e membranas intercostais e faces laterais das vértebras torácicas) pela fáscia endotorácica. Essa camada extrapleural fina de tecido conjuntivo frouxo forma um plano de clivagem natural para a separação cirúrgica da pleura costal da parede torácica (Figura 1 B e Figura 3). Figura 3. Diafragma, base das cavidades pulmonares e mediastino, e recessos costodiafragmáticos Pleura mediastal Cobre as faces laterais do mediastino, a divisória de tecidos e órgãos que separam as cavidades pulmonares e seus sacos pleurais. Continua superiormente até a raiz do pescoço na forma de cúpula da pleura. É contínua com a pleura costal anterior e posteriormente e com a pleura diafragmática na parte inferior. Superiormente à raiz do pulmão, a parte mediastinal é uma lâmina contínua em sentido anteroposterior entre o esterno e a coluna vertebral. No hilo do pulmão, é a parte mediastinal que se reflete lateralmente sobre a raiz do pulmão e torna-se contínua com a pleura visceral. Pleura diafragmática Cobre a face superior (torácica) do diafragma de cada lado do mediastino, exceto ao longo de suas inserções (origens) costais e no local onde o diafragma está fundido ao pericárdio, a membrana fibrosserosa que envolve o coração. Uma camada fina, mais elástica de fáscia endotorácica, a fáscia frenicopleural, une a parte diafragmática da pleura às fibras musculares do diafragma. cúpula da Pleura Cobre o ápice do pulmão (a parte do pulmão que se estende superiormente através da abertura superior do tórax até a raiz do pescoço. É uma continuação superior das partes costal e mediastinal da pleura parietal. A cúpula da pleura forma uma abóboda sobre o ápice do pulmão, cuja parte mais alta situa- se 2 a 3 cm superiormente ao terço medial da clavícula, no nível do colo da costela I. A cúpula da pleura é reforçada por uma extensão fibrosa da fáscia endotorácica, a membrana suprapleural (fáscia de Sibson). A membrana fixa-se à margem interna da costela I e ao processo transverso da vértebra C VII. Três linhas de reflexão pleurais delimitam a extensão das cavidades pulmonares de cada lado: ♥ Esternal ♥ Costal ♥ Diafragmática Os contornos das cavidades pulmonares direita e esquerda são porque o coração está voltado para o lado esquerdo, pressionando mais a cavidade esquerda do que a direita. ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” Bogliolo 623 A pleura é uma membrana serosa revestida por células mesoteliais e constituída por dois folhetos, um visceral, que envolve os pulmões, e um parietal, que recobre o mediastino, o diafragma e a parede costal. Entre os dois folhetos existe um espaço real, com 10 a 20 μm de espessura, preenchido por pequena quantidade de líquido (cerca de 15 mL). Este líquido é claro, incolor, com baixa concentração de proteínas (< 1,5 g/dL) e cerca de 1.500 células/μL, com predomínio de monócitos, pequeno número de linfócitos, macrófagos e células mesoteliais, mas sem hemácias. A pleura parietal divide-se em três compartimentos (ou telas):♥ Mesotelial, constituído pelas células mesoteliais e membrana basal. ♥ Submesotelial, formado por tecido conjuntivo submesotelial, lâmina elástica externa, vasos sanguíneos e linfáticos e lâmina elástica interna. ♥ Submesotelial do tecido adiposo, representado por tecido adiposo e músculo esquelético. Os vasos sanguíneos da pleura originam-se da artéria brônquica. Os vasos linfáticos drenam para os linfonodos mediastinais, intercostais e esternais. fisiologia das pleuras ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” A membrana pleural apresenta, portanto, não só uma função de barreira como também contribui para a manutenção do balanço homeostático com o espaço pleural. Mecanismo de defesa da pleura Os mecanismos de defesa da pleura incluem funções que vão desde uma barreira mecânica contra invasão de agentes agressores até um sistema sofisticado e coordenado de citocinas e células inflamatórias. As células mesoteliais respondem em grande parte pela imunidade inata da pleura; elas não só reconhecem o organismo agressor como iniciam a resposta inflamatória e coordenam essa ação. Tal resposta varia de acordo com o agente agressor, como microrganismos, agentes químicos ou células tumorais. A superfície das células mesoteliais é coberta por glicoconjugados, as sialomucinas. Estas consistem em moléculas fortemente aniônicas que repulsam a presença de células anormais, partículas e microrganismos; por isso, funcionam como uma cobertura mecânica que impede a aderência desses agentes. A membrana basal pleural secreta ainda enzimas como lisozima, imunoglobulinas (IgG e IgA) e complemento, que ajudam na função antibacteriana. Além disso, as células mesoteliais produzem fibronectina, que inibe a adesão de microrganismos, como Pseudomonas aeruginosa. Outra forma de resposta inata das células mesoteliais da pleura é a produção de radicais de oxido nítrico em resposta a estimulação por citocinas, lipopolissacarídeos e particulados. Indução da enzima oxido nítrico sintase contribui para o controle de infecções no espaço pleural. A pleura é frequentemente acometida por doenças primárias ou secundárias, tanto benignas como malignas. Quase sempre, comprometimento pleural vem acompanhado de aumento de líquido pleural, o que constitui um derrame pleural. Este líquido pode ser um transudato (hidrotórax) ou um exsudato; a distinção entre os dois é importante do ponto de vista clínico porque ajuda no diagnóstico da doença de base. classificação Diferenciação feita a partir dos critérios de Light, os quais levam em conta: Transudato: (aquoso)tem baixa densidade, pequena concentração de proteínas e ausência de células inflamatórias. O líquido acumula-se por distúrbios nos fatores hidrodinâmicos que regulam a formação e a absorção do líquido pleural. Suas causas principais são: ♥ insuficiência cardíaca, cirrose hepática e distúrbios renais, como síndrome nefrótica. Exsudato: (rico em proteínas) caracteriza- se por densidade superior a 1.020, níveis de proteínas maiores que 2 g/dL e células inflamatórias. Na prática clínica, o exsudato é definido pela presença de pelo menos um destes elementos: ♥ relação de proteínas na pleura/soro maior (>) 0,5 ♥ relação DHL (desidrogenase lática) pleura/soro > 0,6 fisiopatologia ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” ♥ teor de DHL no líquido pleural > 2/3 do valor normal máximo da DHL sérica. Exsudato se forma por aumento da permeabilidade capilar sanguínea, por obstrução do fluxo linfático ou por diminuição da pressão no espaço pleural. As causas podem ser: ♥ Inflamatórias (pneumonias, tuberculose, bronquiectasias) ♥ Neoplásicas (primárias da pleura ou ♥ metastáticas). Empiema Empiema consiste na presença de pus na cavidade pleural, que resulta em um exsudato que contém com mais de 100.000 neutrófilos/mm3, glicose, proteínas, leucócitos, restos de células e tecidos mortos. A grande maioria dos empiemas é secundária a infecção pulmonar, sendo os microrganismos mais encontrados Staphylococcus aureus (principalmente em crianças), Streptococcus pneumoniae e germes anaeróbicos. Entre outras causas, existem os empiemas pós- cirúrgicos e, mais raramente, por traumatismos, perfuração esofágica, pneumotórax espontâneo, abscesso subdiafragmático ou hepático (estes dois últimos mais do lado direito). quilotórax É o derrame da linfa na cavidade torácica. O que dá um aspecto leitoso ao líquido. Este aspecto se deve à presença de gorduras, no caso mais de 110 mg/dL de triglicerídeos no líquido pleural. Em geral, o quilotórax é confinado ao hemitórax esquerdo, mas pode ser bilateral. Causas mais frequentes são obstrução linfática por tumores do mediastino ou traumatismo no ducto torácico. É a causa mais comum de derrame pleural no feto e recém-nascido, resultante de malformação congênita dos ductos torácicos ou dos canais linfáticos. hemotórax É a coleção de sangue no espaço pleural, devendo ser diferenciado de pleurite hemorrágica. Muitas vezes fatal, o hemotórax é quase sempre secundário a ruptura de aneurisma da aorta ou traumatismo torácico. Pleurite hemorrágica é um derrame hemorrágico, geralmente devido a neoplasias ou, mais raramente, a infecções (p. ex., Rickettsia). ♥ Pneumonia ♥ Tuberculose ♥ Embolia pulmonar ♥ Doenças cardíacas ♥ Doenças renais ♥ Doenças hepáticas ♥ Neoplasias (como câncer de pulmão, mama e linfomas) As manifestações de derrames parapneumônicos variam de acordo com a causa. ♥ Dispneia, tosse seca, febre, dor torácica e hipoxemia. Fatores de risco Manifestações clínicas ITPAC-CZS Alícia Landazuri APG-SOI 31.03.22 S10P1 “Leite derramado” ♥ Expansibilidade diminuída, sinal de Lemos-Torres nos derrames de grande volume. ♥ Expansibilidade diminuída ♥ Frêmito toracovocal reduzido ou abolido na área do derrame. ♥ Macicez ou submacicez. ♥ Murmúrio vesicular reduzido ou abolido na área do derrame. O diagnóstico de derrame pleural deve se basear no resultado de radiografias, ultrassonografia e tomografia computadorizada (TC) de tórax. Pode ser realizada toracentese (aspiração de líquido do espaço pleural) para obter uma amostra de líquido pleural para o diagnóstico. O tratamento do derrame pleural deve ser dirigido à causa do distúrbio. No caso de grandes derrames, a toracentese pode ser utilizada para remover líquido do espaço pleural e viabilizar a reexpansão do pulmão. Um método usado no tratamento paliativo de derrames pleurais causados por um câncer é a injeção de um agente esclerosante na cavidade pleural. Esse método de tratamento provoca obliteração do espaço pleural e impede que o líquido torne a se acumular. Pode ser necessária uma drenagem torácica nos casos em que o derrame permanece. PORTO, Celmo C. Semiologia Médica, 8ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. 9788527734998. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/bo oks/9788527734998/. Acesso em: 02 abr. 2022. NORRIS, Tommie L. Porth . Fisiopatologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. 9788527737876. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788527737876/. Acesso em: 02 abr. 2022. FILHO, Geraldo B. Bogliolo. Patologia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. 9788527738378. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/bo oks/9788527738378/. Acesso em: 02 abr. 2022. CLÍNICA DE DOENÇAS RESPIRATORIAS AVANÇADAS. O que é derrame pleural e por que acontece?. Disponível em: https://www.cdra.com.br/o-que-e-derrame- pleural-e-por-que-acontece. Acesso em: 02 abr. 2022. Diagnóstico e tratamento referências
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