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DESCRIÇÃO Sistemas de gestão da qualidade em alimentos para controle dos riscos inerentes do processo produtivo. PROPÓSITO Apresentar os sistemas de gestão da qualidade em alimentos e a aplicação dos seus requisitos para a prevenção da contaminação durante a produção, a fim de garantir o consumo de alimentos seguros. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha à mão folhas em branco e caneta para anotações. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle MÓDULO 2 Definir a Norma ISO 22000/2018 INTRODUÇÃO Há um elevado número de casos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) devido ao consumo de alimentos com algum tipo de contaminação, prejudicando a saúde das pessoas e afetando a economia com gastos em tratamentos médicos e indenizações. Esses fatos estimularam o desenvolvimento de sistemas de gestão da segurança de alimentos com o objetivo de prevenir a contaminação em todas as etapas de produção. O sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) representa um próximo passo após a implantação e implementação dos requisitos das Boas Práticas de Fabricação. São controles sistematizados, mais detalhados e contínuos. Após a implementação das Boas Práticas de Fabricação, dos Procedimentos Operacionais Padronizados e do sistema APPCC, a empresa pode implantar a ISO 22000, uma norma internacional direcionada para a gestão da segurança dos alimentos que especifica requisitos para garantir o consumo de alimentos seguros. Com um sistema completo de gestão da segurança de alimentos funcionando corretamente, a empresa agrega mais valor ao seu produto ao demonstrar qualidade e segurança, além de poder ser mais competitiva no mercado nacional e internacional. MÓDULO 1 Descrever o Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle DEFINIÇÕES O Sistema de Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC), também conhecido como Hazard Analysis and Critical Control Points (HACCP), é uma ferramenta baseada em medidas preventivas contra contaminações biológicas, químicas e físicas em toda a cadeia de produção dos alimentos. Essa ferramenta surgiu em 1959, nos Estados Unidos da América (EUA), com o objetivo de fornecer alimentos seguros para os astronautas nas missões espaciais. A Companhia Pillsbury desenvolveu esse sistema em parceria com a National Aeronautics and Space Administration (Nasa) e conseguiu garantir alimentos livres de contaminações em quase 100% dos produtos enviados nas missões. 1973 Em 1973, o Food and Drug Administration (FAO) adotou o sistema APPCC como referência para solucionar problemas de contaminação nas indústrias. 1991 Em 1991, o Codex Alimentarius desenvolveu normas internacionais para a aplicação do APPCC. 1993 No Brasil, o conceito de APPCC começou a ser difundido com a criação da Portaria n° 1428 do Ministério da Saúde, de 26 de novembro de 1993. Essa portaria apresenta orientações básicas para a implantação do sistema. 1998 Poucos anos depois, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou a Portaria n° 46 de 10 de fevereiro de 1998. Esse documento determinou a implantação gradativa do sistema APPCC nas indústrias de produtos de origem animal, inspecionadas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), e apresenta um Manual de Procedimentos com todas as etapas que devem ser aplicadas. ATENÇÃO É importante ressaltar que o sistema APPCC só poderá ser implantado nas indústrias ou em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) que já adotaram e controlam com eficiência os programas de pré-requisitos, como as Boas Práticas de Fabricação (BPF), os Procedimentos Operacionais Padrão (POP) e os Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO). O sistema APPCC é baseado em dados científicos registrados sobre doenças transmitidas por alimentos (DTA), proporciona a organização dos procedimentos de produção e estabelece um processo contínuo de controles nas operações, através do preenchimento de documentos que auxiliam no acompanhamento, na conferência e na detecção rápida de qualquer problema na produção. Melhora a eficiência, reduz as perdas de produtos e aumenta o lucro da empresa, a confiança e a credibilidade dos consumidores. PLANO DO SISTEMA APPCC Para a implantação e o sucesso do sistema APPCC, é fundamental o comprometimento dos responsáveis da empresa para estimular o bom funcionamento do sistema, disponibilizar os recursos necessários e definir a equipe responsável pela coordenação e pelo acompanhamento do sistema. Foto: Shutterstock.com A equipe pode ser multidisciplinar, formada por diferentes profissionais com capacidade de definir estratégias para a elaboração do plano APPCC. Todos os funcionários da empresa devem ser treinados sobre objetivos, importância do sistema e como devem ser adotados os procedimentos. Além disso, todos devem entender os conceitos do sistema para auxiliar na identificação de pontos críticos de controle em seus setores de trabalho. É importante salientar que, para facilitar e padronizar a implementação do sistema, as funções dos funcionários dos setores de produção são definidas pelos responsáveis de cada setor, facilitando a identificação das dificuldades inerentes a cada setor. O plano APPCC é o documento que apresenta todas as informações detalhadas da empresa, dos pontos críticos, dos monitoramentos e das ações corretivas na produção. A primeira etapa consiste em definir os objetivos do plano na empresa, que podem ser para garantir a segurança dos alimentos, o controle de qualidade, o controle de possíveis deteriorações e fraudes (por exemplo, alterações de peso). É essencial a elaboração de um organograma da empresa com a definição das funções de cada funcionário. O número de pessoas na equipe pode variar de acordo com o tamanho da empresa e o número de processos. Imagem: Adaptado de Portaria n° 46 de 10/02/1998 MAPA Modelo de organograma da empresa para o plano APPCC. No plano, deve constar a descrição detalhada de cada produto produzido, com as seguintes informações: NOME DO PRODUTO CARACTERÍSTICAS FÍSICAS (ATIVIDADE DE ÁGUA) E QUÍMICAS (PH, TEOR DE PROTEÍNA, GORDURA) PÚBLICO-ALVO FORMAS DE USO TIPO DE EMBALAGEM PRAZO DE VALIDADE LOCAL DE VENDA INFORMAÇÕES DO RÓTULO INSTRUÇÕES PARA DISTRIBUIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO COMPOSIÇÃO COMPLETA DO PRODUTO Para cada produto, deve ser elaborado um fluxograma com todas as etapas operacionais, desde o recebimento das matérias-primas até o preparo. O mesmo fluxograma pode ser usado para mais de um produto com etapas de produção semelhantes. Após a elaboração, deve ser realizada a validação das etapas na prática, ou seja, no local de produção. VEGETAIS (BATATA, CENOURA, CHUCHU, VAGEM) RECEBIMENTO SELEÇÃO ARMAZENAMENTO HIGIENIZAÇÃO PROCESSAMENTO (DESCASCAR, CORTAR, PICAR) COCÇÃO REFRIGERAÇÃO PREPARO, MISTURA PARA SALADA DISTRIBUIÇÃO Exemplo de fluxograma de produção de vegetais. Após a elaboração do fluxograma, devem ser avaliados e identificados os perigos, os pontos críticos de controle, os monitoramentos e as ações corretivas para cada etapa do processo de produção. PRINCÍPIOS O sistema APPCC é formado por sete princípios que abrangem todas as etapas dos processos de produção, com foco na prevenção de possíveis contaminações. Esses princípios devem ser seguidos para a elaboração do plano APPCC. Os sete princípios são: Imagem: Shutterstock.com Princípio 1 - Analisar perigos (listar e identificar) e medidas preventivas de controle A análise de perigos consiste na identificação de perigos biológicos, químicos e físicos que podem provocar contaminações através de matérias- primas, ingredientes e embalagens, além da contaminação cruzada que pode ocorrer no processo de produção. A severidade do perigo e a probabilidade de sua ocorrência devem ser avaliadas e classificadas em baixa, média e alta. Por meio dessas três variáveis, é geradaa classificação do risco (baixo, médio e alto). Exemplos de severidade de cada perigo estão apresentados na tabela abaixo. Perigo biológico Perigo químico Perigo físico Alta: contaminação por microrganismos ou suas toxinas, Alta: toxinas microbianas (micotoxinas), agrotóxicos, metais pesados, aditivos químicos se usados em doses elevadas e para Alta: materiais como pedras, vidros, metais, objetos provocando um problema de saúde grave. Ex: Clostridium botulinum, Salmonella typhy, Escherichia coli O157:H7 pessoas sensíveis. Contaminação por ingredientes alergênicos em produtos específicos que podem causar reações graves em pessoas sensíveis. pontiagudos, cortantes que podem causar injúrias e risco de vida para o consumidor. Média: contaminação por microrganismos de patogenicidade moderada e potencial de disseminação elevado. Ex: Listeria monicytogenes, Shigella spp. Média: contaminação por ingredientes alergênicos em produtos específicos que podem causar reações moderadas em pessoas sensíveis. Baixa: contaminação por microrganismos de patogenicidade moderada e potencial de disseminação restrito. Ex: Bacillus cereus, Staphylococcus aureus, Giardia lamblia. Baixa: Aditivos que podem causar reações leves em pessoas sensíveis. Ex: sulfitos Baixa: Materiais estranhos que não causam injúrias. Ex: sujidades, insetos inteiros. Para a determinação da severidade e da probabilidade de ocorrência, é necessário consultar materiais científicos para entender o grau de cada perigo e a consequência da sua ingestão para a saúde. Tabela: GERMANO, M. I. S.; GERMANO, P. M. L. Sistemas de gestão: qualidade e segurança dos alimentos. 1. Barueri: Manole, 2013. Cap 14 p.415 Modelo de classificação de risco. ATENÇÃO Após as análises de perigos e classificação do risco, deve-se definir as medidas preventivas de controle que precisam ser adotadas para prevenir, eliminar ou reduzir a nível aceitável os perigos e garantir a segurança dos alimentos. Princípio 2 - Identificar os Pontos Críticos de Controle (PCCs) Os Pontos Críticos de Controle (PCC) são procedimentos ou etapas que necessitam de uma medida de controle. São caracterizados como críticos para a segurança dos alimentos e não são controlados totalmente por programas de pré-requisitos (BPF, POP). Para a determinação dos Pontos Críticos de Controle em cada etapa de produção, como no recebimento, armazenamento e preparo, pode-se utilizar uma árvore decisória, composta por perguntas e respostas que ajudam na confirmação ou não do PCC. A figura abaixo apresenta um modelo de árvore decisória. Imagem: Adaptado de FDA. Modelo de árvore decisória para PCC. Princípio 3 - Estabelecer os limites críticos para cada ponto crítico de controle O limite crítico é o valor máximo e/ou mínimo de um parâmetro para garantir o controle de um perigo. Esses valores podem ser encontrados em legislações, literaturas científicas, análises laboratoriais, entre outros. Os limites devem estar associados a medidas de tempo e temperatura, pH, atividade de água, concentração de sal. EXEMPLO É importante que os critérios para operação dos equipamentos sejam rigorosos para respeitar os limites críticos estabelecidos, além disso, é possível considerar uma margem de segurança. No processo de pasteurização do leite, a temperatura mínima é de 73°C por 15 segundos, mas é possível considerar uma margem de segurança estabelecendo que o processo seja realizado a no mínimo 75°C por 15 segundos. Princípio 4 - Estabelecer procedimentos de monitoramento para cada PCC O monitoramento consiste em medidas planejadas para identificar se os PCC estão adequados, se os limites críticos estão sendo obedecidos e se é necessário realizar ajustes. Todos os procedimentos de monitoramento devem ser registrados em documentos. Os procedimentos podem ser realizados por meio de análises sensoriais, medições químicas (pH, concentração de sal e açúcar, cloro na água) e medições físicas (temperatura, atividade de água). O documento de monitoramento deve apresentar as seguintes perguntas: O que será monitorado? (Qual o produto e etapa do processo) Como será o monitoramento? (Medição de temperatura, entre outros) Quando será monitorado? (Frequência) Quem será o responsável? Foto: Shutterstock.com Monitoramento de temperatura. Princípio 5 - Estabelecer ações corretivas Devem ser aplicadas ações corretivas quando ocorrem desvios nos limites críticos. É um meio para eliminar uma não conformidade. Todas as ações corretivas devem ser registradas e avaliadas pela equipe de APPCC. De acordo com a frequência de ocorrência, pode ser necessário modificações no processo. EXEMPLO Esses são alguns exemplos de ações corretivas que podem ser aplicadas: rejeição de um lote, ajustes de temperatura e tempo, reforço nos processos de higienização, aferição de temperaturas, redução de pH, ajustes de quantidade de ingredientes, alteração nas informações da rotulagem, recolhimento do produto do mercado, definição do destino do produto fora das especificações, destruição do produto. Ao ser detectada alguma alteração no processo, deve-se avaliar a possibilidade de correções imediatas. Caso não seja possível, deve ser interrompida a produção para ajustes e os produtos retirados e separados para posterior avaliação, em seguida, o processo poderá reiniciar. Princípio 6 - Estabelecer procedimentos de verificação Consiste na aplicação de métodos, auditorias e testes para avaliar se o plano APPCC está funcionando de acordo com os requisitos estabelecidos. Podem ser aplicados três processos de verificação: Imagem: Shutterstock.com TÉCNICO CIENTÍFICO Revisão dos limites críticos para verificar se estão eficientes para o controle do perigo. Imagem: Shutterstock.com VALIDAÇÃO DO PLANO Podem ser realizadas análises laboratoriais do produto para verificar se a qualidade pretendida foi alcançada. Podem ser feitas auditorias internas ou externas. Imagem: Shutterstock.com REVALIDAÇÃO É importante uma reavaliação do plano periodicamente, independentemente, de auditorias, para verificação da eficiência. A verificação dos pontos críticos pode ser realizada através de coleta de amostras aleatórias para análises, calibração de equipamentos, revisão dos limites críticos, conferência dos fluxogramas de processos, revisão das ações corretivas, dos registros e outras. ATENÇÃO É importante realizar a verificação rotineiramente sempre que houver dúvidas sobre a segurança do produto e para validar mudanças de equipamentos, processos ou ingredientes. Princípio 7 - Preparar documentação e estabelecer procedimentos de registro É importante que todos os documentos de procedimentos, de monitoramentos e verificações estejam arquivados para posteriores consultas e análises facilitando melhorias no sistema. ANÁLISE DO FLUXO DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS, ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DO SISTEMA APPCC Vamos agora ver um exemplo de aplicação do sistema APPCC para a fabricação de um produto, seguindo todas as etapas de acordo com os princípios estabelecidos. Imagem: Shutterstock.com PRIMEIRA ETAPA Consiste na elaboração da descrição de todas as características do produto. A tabela abaixo apresenta todas as informações do produto salsicha. Modelo de descrição do produto DESCRIÇÃO DO PRODUTO Nome do Produto: Salsicha (produto cárneo resfriado). Características: pH: 5,6 -6,0 Aa: 0,96-0,98 Proteína: 9 -12% Gordura: 20 -25%. Público-alvo: Adultos e crianças. Formas de uso: Usado no preparo de sanduíches, molhos etc. Deve ser fervido em água por 5 minutos. Embalagem: A vácuo, plástico PVdc. Prazo de validade: 60 dias. Local de venda: Supermercados, padarias, mercearias. Rotulagem: Lista de ingredientes completa e alérgicos, modo de conservação (manter refrigerado até 10°C). Controle especial durante a distribuição e comercialização: Manter refrigerado até 7°C. COMPOSIÇÃO DO PRODUTO Matéria-prima Carne mecanicamente separada de frango, carne suína,bovina, miúdos, gordura suína Ingredientes secos Sal, açúcar, fécula, noz-moscada, pimenta branca Proteína texturizada de soja, proteína isolada de soja Ingredientes líquidos Água Outros ingredientes Cebola, alho Alergênicos Derivados de soja, pode conter trigo Aromatizantes Aroma natural de fumaça, coentro e orégano Conservantes Nitrito de sódio Corantes Urucum e carmim de cochonilha Outros aditivos Polifosfato (emulsificante), Eritorbato (antioxidante), Lactato de sódio (regulador de acidez), glutamato monossódico (realçador de sabor) Material de embalagem Tripa artificial/Natural Embalagem plástica Data:_______________________________ Aprovado por:_______________________________ Imagem: Shutterstock.com SEGUNDA ETAPA Deve ser elaborado um fluxograma com as etapas de produção do produto (fluxograma abaixo). Os detalhes de cada etapa devem ser descritos em outro documento para auxiliar na identificação dos perigos (tabela a seguir). Tabela: Adaptado de SENAI. Guia para elaboração do plano APPCC. 2 ed. 2000. p.90 Brasília. Fluxograma do processo de produção da salsicha e pontos críticos de controle (PCC). Descrição do Processo de produção da salsicha Preparo da carne Para esse processo, será usada a carne congelada para facilitar o controle de temperatura durante a trituração. Pesagem, moagem Corte da carne e moagem. Pesagem de aditivos Pesagem deve ser feita de acordo com as especificações, por funcionário treinado em equipamento calibrado periodicamente. Trituração Trituração no cutter para a extração das proteínas miofibrilares da carne. Adicionar os ingredientes seguindo a ordem especificada: carnes magras e sal, gelo, proteína de soja, gordura e sal, gelo. Preparo das tripas As tripas devem ser salgadas, lavadas e hidratadas. Embutimento Tripas naturais de calibre de 22 milímetros. Cozimento Cozinhar a massa em estufa para estabilizar a mistura seguindo as etapas estabelecidas: 20 minutos em calor seco a 55°C com a saída de vapor aberta, 30 minutos a 70°C em calor seco com a saída de vapor fechada, 30 minutos a 80°C em calor úmido com a saída de vapor fechada, até o centro do produto atingir 71°C. Resfriamento Com jatos de água à temperatura ambiente. Refrigeração Manter em câmara fria com temperaturas inferiores a 7°C. Embalagem A vácuo de plástico. Estocagem Estocar a 7°C por no máximo 5 dias. Data:_______________________________ Aprovado por:_______________________________ Imagem: Shutterstock.com TERCEIRA ETAPA De acordo com o processo de produção, devem ser analisadas cada etapa para identificação do perigo, o grau de severidade, o risco e as medidas preventivas (Quadro a seguir). É importante consultar a literatura científica para auxiliar nessa avaliação. Identificação dos perigos - Salsicha Etapa Perigo Justificativa Severidade Risco Medida preventiva Preparo da carne Microrganismos patogênicos Falhas na refrigeração e na higienização provocarão o crescimento de microrganismos. Baixa Baixo Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento Trituração Microrganismos patogênicos Falhas na refrigeração e na higienização provocarão o crescimento de microrganismos. Baixa Baixo Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento Preparo das tripas Toxina estafilocócica Contaminação por S. aureus podendo produzir toxina estafilocócica que não será destruída pelo processo. Baixa Baixo Fornecedor idôneo Uso de água potável Embutimento Microrganismos patogênicos Falhas na refrigeração e na higienização provocarão o crescimento de microrganismos. Baixa Baixo Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento operacional Cozimento Microrganismos patogênicos Falhas no processo de cozimento permitindo a sobrevivência Média a Baixa Baixo Tempo e temperatura adequados Resfriamento Microrganismos patogênicos A água deve ser potável para evitar a contaminação, não pode ser exposto à temperatura adequada de crescimento microbiano por tempo excessivo. Média a Baixa Baixo Água com cloro residual Resfriamento rápido Embalagem Microrganismos patogênicos Falhas nos procedimentos higiênico-sanitários ou manutenção por período prolongado a temperaturas inadequadas podem levar à contaminação e multiplicação de microrganismos patogênicos. Média a Baixa Médio Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento operacional Controle de portadores assintomáticos Controle de vácuo na embalagem Estocagem Microrganismos patogênicos Falhas na refrigeração favorecem a multiplicação de microrganismos patogênicos. Média a Baixa Baixo Tempo e temperatura de estocagem adequados Condições de armazenamento adequadas Câmaras com alarme de luz e/ou sonoro em caso de defeitos Pesagem, Moagem Físico: Fragmentos de metais Fragmentos ou resíduos de metal poderão vir da matéria-prima ou desprender dos equipamentos. Alta Baixo Detecção de metais Pesagem de aditivos Químico: aditivos tóxicos Erro de pesagem dos aditivos podem resultar em excesso, tornando o produto tóxico ao consumidor. Baixa Baixo Pessoal treinado Pesagem correta Data:_______________________________ Aprovado por:_______________________________ Imagem: Shutterstock.com QUARTA ETAPA Após a identificação dos perigos, deve-se determinar os PCC com o auxílio das perguntas e respostas da árvore decisória (Quadro abaixo). Esses PCC devem ser inseridos no fluxograma de processo do produto. Determinação dos PCC de acordo com a árvore decisória. Etapas do processo Perigos identificados Perigo é controlado pelo programa de pré- requisitos? Q1 Existe alguma medida de controle para o perigo identificado? Q2 Essa etapa elimina ou reduz o perigo a nível aceitável? Q3 Poderia a contaminação por esse perigo ocorrer acima dos níveis aceitáveis ou aumentar até níveis não aceitáveis? Q4 Uma etapa posterior pode eliminar o perigo ou reduzir a ocorrência a níveis aceitáveis? É um PCC? Preparo da carne Biológico Sim Não Preparo das tripas Biológico Sim Não Pesagem e moagem Físico Não Sim Sim PCC (Físico) Pesagem dos aditivos Químico Não Sim Sim PCC (Químico) Trituração Biológico Sim Não Embutimento Químico Sim Não Cozimento Biológico Não Sim Sim PCC (Biológico) Resfriamento Biológico Não Sim Sim PCC (Biológico) Embalagem Biológico Sim Não Estocagem Biológico Não Sim Não Sim Não PCC (Biológico) Data:_______________________________ Aprovado por:_______________________________ Imagem: Shutterstock.com QUINTA ETAPA Agrupar todas as informações das etapas anteriores, definir os limites críticos, as ações de monitoramento, as ações corretivas, os registros e verificações (Quadro a seguir). Resumo do Plano APPCC. ssss Etapa PC/PCC Perigos Medidas Preventivas Limite crítico Monitoramento Ação corretiva Regis Preparo da carne PC Microrganismos patogênicos Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento Temperatura do ambiente menor que 15°C Temperatura da carne menor ou igual a 7°C O quê? A temperatura do ambiente e da carne Como? Termômetros Quando? Contínuo com registrador (ambiente) A cada hora (carne) Quem? Funcionário do controle Retenção do produto e avaliação da gravidade do desvio. Manutenção dos equipamentos de refrigeração Correção da temperatura. Pesagem e moagem PCC 1 Físico: Fragmentos de metais Detecção de metais Ausência de fragmentos maiores ou iguais a 0,5 mm O quê? Fragmentos de metais Como? Inspeção visual e detector de metais Quando? Contínua Quem? Funcionário do corte Rejeitar partes com metais. Planilh de descar Relató de produç Pesagem dos aditivos PCC 2 Químico: aditivos tóxicos Pessoal treinado Limite legal de aditivos O quê? Pesagem dos aditivosRejeitar Reprocessar Planilh de Pesagem correta (verificar legislações específicas) Como? Observação visual Quando? Diariamente Quem? Funcionário de pesagem Reter o lote pesage Trituração PC Microrganismos patogênicos Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento Ambiente menor ou igual a 15°C e massa menor ou igual a 16°C O quê? Temperatura do ambiente e da massa. Como? Termômetro Quando? Contínuo (ambiente) Periodicamente (massa) Quem? Funcionário da mistura Retenção do produto e avaliação da gravidade do desvio. Preparo das tripas PC Toxina estafilocócica Fornecedor idôneo Uso de água potável Embutimento PC Microrganismos patogênicos Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento Cozimento PCC 3 Microrganismos patogênicos Tempo e temperatura adequados Temperatura interna final maior que 71°C O quê? Temperatura interna e tempo de penetração do calor Como? Termômetro/relógio Quando? Contínua Quem? Funcionário de cozimento Reprocessar Reter lote para avaliação Planilh de proces Resfriamento PCC 4 Microrganismos patogênicos Água com cloro residual Água com cloro residual Resfriamento rápido Tempo menor que 60 min para alcançar temperatura interna entre 45°C a 55°C O quê? Teor de cloro na água / produto e tempo de resfriamento Como? Kit para determinação de cloro e termômetro Ajustar temperatura de água de resfriamento Ajustar teor de cloro Planilh de proces Teor de cloro mínimo 2 ppm Tempo de resfriamento Quando? Após resfriamento (1 hora) Cloro: diariamente Quem? Funcionário do cozimento/controlador do processo Refrigeração PC Microrganismos patogênicos Tempo e temperatura adequados Temperatura interna do produto menor ou igual a 4°C em tempo menor que 12 horas O quê? A temperatura do produto e tempo de resfriamento. Como? Termômetro Quando? Ao completar 12 horas de resfriamento Quem? Supervisor Reter o produto para avaliação da gravidade do desvio. Ajustar condições de trabalho. Ajustar o equipamento de refrigeração Planilh de proces Embalagem PC Microrganismos patogênicos Ambiente refrigerado BPF: pessoal, equipamentos, instalações e treinamento operacional Controle de portadores assintomáticos Controle de vácuo na embalagem Ambiente menor ou igual a 15°C O quê? Temperatura ambiente Como? Termômetro Quando? Durante a embalagem segundo padrões da empresa Quem? Funcionário da embalagem Ajustar condições de trabalho. Planilh de proces Estocagem PCC 5 Microrganismos patogênicos Tempo e temperatura de estocagem adequados. Condições de armazenamento adequadas. Câmaras frigoríficas com alarme de luz e/ou sonoro em caso de defeitos Estocagem menor ou igual a 7°C por até 5 dias O quê? A temperatura da câmara frigorífica e o tempo de estocagem Como? Medição e registro de tempo e temperatura de estocagem Quando? Registrador contínuo de temperatura e controle diário de estoque Quem? Funcionário do estoque de matéria- prima Ajuste do equipamento. Reter o produto para avaliação da gravidade do desvio. Ajustar condições de Armazenamento. Planilh de estoca (PVPS) Data:_______________________________ Aprovado por:_______________________________ A ÁRVORE DECISÓRIA, UMA VISÃO PRÁTICA NA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA A especialista Roberta Nogueira Pereira da Silva fala sobre cada etapa de uma árvore decisória definindo os PCCs. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O SISTEMA APPCC É UMA FERRAMENTA PARA A PREVENÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS EM TODA A CADEIA DE PRODUÇÃO E O PLANO APPCC É O DOCUMENTO COMPOSTO POR TODAS AS INFORMAÇÕES DETALHADAS DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS PARA O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA. DE ACORDO COM O QUE FOI APRESENTADO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) A equipe responsável pela implantação e implementação do sistema pode ser multidisciplinar, formada por profissionais capacitados para auxiliar na definição de estratégias para o funcionamento do sistema. B) O comprometimento dos responsáveis da empresa com a implantação do sistema é essencial, pois são necessários recursos para a organização dos processos de produção. C) As funções de todos os funcionários da empresa no sistema APPCC é definida pela direção da empresa. D) A descrição dos produtos deve apresentar informações como: características químicas, tipo de embalagem, instruções de armazenamento, formas de uso e prazo de validade. E) Para cada produto deve ser elaborado um fluxograma com as etapas de produção. 2. OS PRINCÍPIOS DO SISTEMA APPCC DEFINEM AS ETAPAS QUE DEVEM SER SEGUIDAS PARA A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA. OS SETE PRINCÍPIOS TÊM POR OBJETIVO GARANTIR A SEGURANÇA DO ALIMENTO DURANTE CADA ETAPA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO. DE ACORDO COM O QUE FOI APRESENTADO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) A análise de perigos consiste na identificação de contaminações biológicas, físicas e químicas que podem ocorrer no alimento durante o processo de produção. B) Os pontos críticos de controle (PCC) são aqueles que precisam de maior atenção dos funcionários durante o processo de produção, pois representam elevado risco de contaminação. C) Os limites críticos são valores de parâmetros, como medida de tempo e temperatura, que devem ser respeitados durante a produção para prevenir um perigo. D) As ações corretivas devem ser aplicadas no término de processo de produção para não interromper o fluxo de produção. E) Os procedimentos de verificação visam avaliar o plano APPCC e verificar se o seu funcionamento está adequado. GABARITO 1. O sistema APPCC é uma ferramenta para a prevenção da contaminação dos alimentos em toda a cadeia de produção e o plano APPCC é o documento composto por todas as informações detalhadas das ações desenvolvidas para o funcionamento do sistema. De acordo com o que foi apresentado, assinale a alternativa INCORRETA: A alternativa "C " está correta. As funções dos funcionários dos setores de produção são definidas pelos responsáveis de cada setor. 2. Os princípios do sistema APPCC definem as etapas que devem ser seguidas para a implantação do sistema. Os sete princípios têm por objetivo garantir a segurança do alimento durante cada etapa do processo de produção. De acordo com o que foi apresentado, assinale a alternativa INCORRETA: A alternativa "D " está correta. Ao ser detectada alguma alteração no processo, deve-se avaliar a possibilidade de correções imediatas. Caso não seja possível, deve ser interrompida a produção para ajustes e os produtos retirados e separados para posterior avaliação, em seguida o processo poderá reiniciar. MÓDULO 2 Definir a Norma ISO 22000/2018 SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE EM ALIMENTOS A organização ISO, denominada International Organization Standardization ou Organização Internacional de Padronização, é responsável pelo desenvolvimento de normas e certificações relacionadas ao aprimoramento do comércio de bens e serviços. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a organização que representa a ISO fornecendo as publicações das normas. A ISO 22000 é uma norma internacional relacionada a sistemas de gestão da segurança dos alimentos (SGSA) e sua última atualização aconteceu em 2018. Essa norma foi elaborada seguindo os requisitos de higiene publicados pelo Codex Alimentarius e pode ser aplicada por qualquer organização dentro da cadeia de produção de alimentos, ou seja, desde o produtor rural até a indústria, distribuidores, varejistas, serviços de alimentação, fabricantes de embalagens, equipamentos, aditivos, produtos de limpeza. Foto: Shutterstock.com Ela define requisitos para os processos de produção baseados na aplicação de um sistema de gestão eficiente, na comunicação clara e interativa com toda a organização, fornecedores e clientes, e no controledos riscos por meio dos programas de pré-requisitos e do plano APPCC com melhorias e atualizações contínuas. A estrutura da ISO 22000 (títulos e número de capítulos) está alinhada com a de todas as outras normas ISO: Imagem: Shutterstock.com QUALIDADE Imagem: Shutterstock.com GESTÃO AMBIENTAL Imagem: Shutterstock.com SAÚDE E SEGURANÇA OCUPACIONAL O objetivo dessa estrutura é facilitar a criação e manutenção de um sistema de gestão integrado, propiciando também uma integração entre os sistemas de auditoria e certificação. A norma não especifica os programas de pré-requisitos que devem ser seguidos, mas exige que a empresa tenha esses programas implementados e controlados adequadamente. Ao receber a certificação ISO 22000, a empresa passa a executar os processos com padrões internacionais, promove a abertura de mercados para exportações e aumenta a credibilidade e competitividade da marca. Imagem: Shutterstock.com Cadeia de produção de alimentos. A estrutura da ISO 22000 é formada por 10 capítulos: Imagem: Shutterstock.com 1. Escopo 2. Referências Normativas 3. Termos e definições 4. Contexto da organização 5. Liderança 6. Planejamento 7. Suporte 8. Operação 9. Avaliação de performance 10. Avanços A abordagem dos processos da ISO 22000 é baseada nos conceitos do ciclo PDCA (Plan - Planejar, Do- Fazer, Check- Verificar e Act- Agir) a nível organizacional e operacional. Imagem: Adaptado de ABNT. NBR ISO 22000: 2018 – Sistema de gestão da segurança de alimentos – Requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. Estrutura da ISO 22000 de acordo com o ciclo PDCA. Vamos conhecer os assuntos abordados nos PRINCIPAIS CAPÍTULOS da norma ISO 22000. Imagem: Shutterstock.com CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO (CAPÍTULO 4) Apresenta as ações internas e externas que devem ser definidas pela organização e que podem influenciar a segurança dos alimentos, as ações para fornecer produtos que atendam às legislações, e as necessidades e expectativas dos funcionários, fornecedores, governos e clientes. É importante salientar que todas as informações devem ser descritas no escopo para que o sistema de gestão de segurança dos alimentos seja objetivo e organizado de acordo com a realidade da empresa. Imagem: Shutterstock.com LIDERANÇA (CAPÍTULO 5) Aborda as questões relacionadas ao comprometimento da direção da empresa para o desenvolvimento, a implementação e a melhoria contínua do sistema de segurança dos alimentos. Além disso, a alta direção deve definir e comunicar as políticas de segurança de alimentos da empresa para todas as partes interessadas, designar e comunicar responsabilidades, incluindo a do líder do SGSA, designar as autoridades e garantir que sejam compreendidas. Imagem: Shutterstock.com PLANEJAMENTO (CAPÍTULO 6) A empresa deve planejar medidas para tratar os riscos que podem impactar (negativamente e positivamente) o sistema de segurança dos alimentos. Além disso, devem ser planejados os objetivos da empresa, levando em consideração o que fazer, como fazer, quem irá fazer e quando. Esses objetivos devem ser mensuráveis, monitorados, comunicados e atualizados. Para todas as mudanças, devem ser consideradas suas consequências e os recursos necessários. Imagem: Shutterstock.com SUPORTE (CAPÍTULO 7) Apresenta as atividades de apoio como o gerenciamento de recursos através do controle rígido de seleção de fornecedores, processos e serviços, descrição de aspectos relacionados à competência e à conscientização de pessoas, comunicação e gerenciamento de informações. Preconiza que, para uma comunicação efetiva, deve-se determinar o que, como, quem e como será essa comunicação. O sistema de gerenciamento de informações deve ser mais focado em avaliações dos processos do que apenas no preenchimento de documentos. Imagem: Shutterstock.com OPERAÇÃO (CAPÍTULO 8) Esse é o ponto principal da norma. Aborda todo o planejamento e controle operacional, os programas de pré-requisitos, o sistema de rastreabilidade e procedimentos documentados de recall de produtos, os controles de perigos (os controles para evitar fraudes e terrorismos também devem ser considerados), controle de monitoramento e medições, verificações dos programas de pré-requisitos (essa norma não especifica os requisitos que devem ser seguidos, mas exige que a empresa tenha esses programas implementados e controlados adequadamente) e controles de riscos (de acordo com os conceitos de análises de riscos). Deve ser elaborado um plano de emergência para casos de incidentes e para controles de não conformidades de processos e produtos. Imagem: Shutterstock.com AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO (CAPÍTULO 9) Aspectos relacionados a monitoramentos, medições, análises e avaliações do sistema de gestão da segurança dos alimentos, auditoria interna e análises críticas pela administração da empresa para avaliação do desempenho do sistema. Imagem: Shutterstock.com MELHORIA (CAPÍTULO 10) Aspectos relacionados às não conformidades e ações corretivas, análises dos processos para melhoria contínua e atualização do sistema de segurança dos alimentos. Para a implantação da norma ISO 22000, geralmente, as empresas contratam consultorias para auxiliar no processo. Para o primeiro passo, deve ser realizada uma auditoria para avaliação e elaboração de um diagnóstico da situação atual da empresa. Em seguida, será criado um plano com o passo a passo de todas as etapas com correções, ajustes e adaptações que a empresa deve cumprir para a implantação do sistema de gestão da segurança dos alimentos. Esse é um processo longo e complexo que exige o esforço de todos os membros da organização. Outro sistema de gestão da qualidade de alimentos que tem sido bastante usado pelas indústrias é o FSSC 22000 (Food Safety System Certification). Ele representa um esquema de certificação, ou seja, não é uma norma. Esse esquema é baseado na ISO 22000, na ISO 9001, que aborda requisitos de qualidade, na ISO/TS 22003, que aborda requisitos para organizações que fornecem auditoria e certificação de SGSA. É baseado em especificações para os programas de pré-requisitos, como as da ISO/TS 22002-1, que aborda o processamento industrial de alimentos e ainda especifica outros requisitos adicionais. A FSSC 22000 é reconhecida pela Iniciativa Global para Segurança de Alimentos (GFSI – Global Food Safety Initiative). Essa fundação possui alta credibilidade entre as empresas do setor, ela avalia normas sobre alimentos e emite reconhecimentos. A ISO 22000 não foi aprovada para ser reconhecida pela GFSI por ser uma norma que não aprofunda muito os seus requisitos, como os relacionados aos programas de pré-requisitos. ATENÇÃO Ao comparar a ISO 22000 e o esquema FSSC 22000, pode-se dizer que a FSSC 22000 é mais detalhada por se basear em várias normas ISO. Entretanto, ela é menos abrangente, pois só pode ser aplicada nas empresas de processamento industrial de alimentos, de catering, agricultura e fabricantes de embalagens de alimentos. A ISO 22000 pode ser aplicada em toda a cadeia de produção. RASTREABILIDADE DE ALIMENTOS A rastreabilidade compreende a capacidade de identificar e acompanhar o movimento de um alimento em todas as etapas de produção, processamento e distribuição. É essencial para o monitoramento do produto até o consumidor final. Representa o registro, por meio de um código para cada lote produzido, de todas as informações relativas à origem e ao destino do alimento. Esse código é definido pela empresa fabricante e pode ser representado por letras e números impressos no rótulo ou embalagem dos produtos, por código de barras, um QR code ou um chip aplicado na embalagem. Foto: Shutterstock.com Representações de códigos para rastreabilidade de alimentos. Os consumidores estão cada vez mais exigentes. O interesse pela procedência dos alimentos é crescente e o sistema de rastreabilidade possibilita disponibilizar todas as informações do produto,desde a sua origem até o consumo. As empresas têm investido na divulgação dessas informações como forma de aproximar o consumidor da marca. Em um QR code, o consumidor consegue ter acesso a essas informações. Pode ser usado em alimentos orgânicos, transgênicos, para disponibilizar informações ambientais e sobre sustentabilidade. Para implementar os controles de rastreabilidade dos produtos, podem ser usados programas de computador especializados ou planilhas para armazenamento das informações. É importante estabelecer os registros para cada etapa de produção. RECEBIMENTO DE MATÉRIA-PRIMA Registrar a data de recebimento, a quantidade, o lote, o prazo de validade, a origem ou o nome do fabricante, não conformidades identificadas durante o recebimento (temperatura, embalagem danificada). PRODUÇÃO Para cada tipo de produto, deve-se registrar a data de produção, o número do lote, a quantidade produzida, os ingredientes usados e o número do lote de cada um, qualquer problema que tenha ocorrido durante a produção. DESTINO Deve-se registrar os dados cadastrais do cliente que adquiriu o produto (CNPJ, endereço, telefone de contato, endereço eletrônico), as informações de identificação do produto, a quantidade e o número do lote. ATENÇÃO Todas essas informações devem ser arquivadas pelo período mínimo de um ano após o vencimento do produto. No Brasil, a Instrução Normativa nº 02 de 07 de fevereiro de 2018 do MAPA em parceria com a ANVISA, estabelece que em toda a cadeia de produção de vegetais frescos deve ser aplicado um sistema de rastreabilidade para monitoramento e controle de resíduos de agrotóxicos. (https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/2915263/do1-2018-02-08-instrucao-normativa-conjunta-inc-n-2-de- 7-de-fevereiro-de-2018-2915259) A Instrução Normativa nº 51 de 01 outubro de 2018 do MAPA estabelece a rastreabilidade de bovinos e búfalos, o Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (SISBOV). Por meio dele, o consumidor pode conhecer toda a cadeia produtiva do animal desde o campo até a compra. (https://www.in.gov.br/web/guest/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/44306336/do1-2018-10-08-instrucao-normativa- n-51-de-1-de-outubro-de-2018-44306204) Modelo de formulário para registro de rastreabilidade. Nome do produto Código de barras javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0); javascript:void(0); Número do lote Data de fabricação e embalagem Quantidade produzida Matérias-primas / Ingredientes usados Código do produto Nome Número do lote Quantidade Material de embalagem usado Código do produto Nome Número do lote Quantidade Destino do produto Nome do cliente Nome do produto Número do lote Quantidade Data:_______________________________ Aprovado por:_______________________________ RECALL DE ALIMENTOS Imagem: Shutterstock.com Recall de alimentos é definido como a retirada gratuita de um produto do mercado, que apresenta alguma não conformidade, em qualquer etapa da cadeia de produção de alimentos, inclusive, os já adquiridos pelos consumidores. Um erro de produção não detectado pela empresa pode gerar um recall. Normalmente, as empresas são informadas da não conformidade pelos consumidores através de uma reclamação. A falha no produto também pode ser detectada nos processos de verificação realizados pelo fabricante. Se o produto já estiver no mercado, é preciso agir rapidamente para retorná-lo à empresa. Por isso, é importante manter um sistema de rastreabilidade eficiente para facilitar a identificação e o recolhimento do produto e evitar riscos para os consumidores. A divulgação do recall pode ocorrer através de comunicados aos consumidores com publicações na mídia (televisão, rádio, jornais, páginas eletrônicas, mídias sociais da empresa). Quanto maior o número de inserções na mídia, maior a probabilidade do consumidor ser informado sobre o recall. ATENÇÃO É importante comunicar as autoridades como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, entre outras. Devem ser fornecidas todas as informações do produto para o recolhimento (CNPJ do fabricante, endereço eletrônico, telefone, identificação do lote, data de validade). Os órgãos fiscalizadores podem auxiliar no recolhimento do produto do mercado. A cadeia de suprimentos (supermercados, distribuidores) também deve ser informada, para retirar o produto do mercado antes de esse chegar ao consumidor. Para agilizar essa ação, o fabricante pode disponibilizar funcionários para realizar o recolhimento nos locais de venda. Após receber os produtos de volta, a empresa deve analisar os problemas identificados, dar-lhes um destino adequado e preparar um relatório para evitar que o problema ocorra novamente. No Brasil, a RDC nº 24 de 08 de junho de 2015 da Anvisa estabelece que todas as empresas produtoras de alimentos, distribuidoras, transportadoras, que importam e comercializam, devem ter um plano de recolhimento de alimentos disponível. A Portaria nº 487 de 15 de março de 2012 dispõe sobre a obrigatoriedade por parte dos fabricantes de comunicar a não conformidade em produtos disponíveis no mercado que representam risco à saúde do consumidor. (https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-vegetal/legislacao-1/biblioteca-de-normas-vinhos-e- bebidas/resolucao-rdc-no-24-de-8-de-junho-de-2015.pdf/view) Exemplos de casos de recall de alimentos que já ocorreram no Brasil: javascript:void(0); Foto: Shutterstock.com DIREITOS DO CONSUMIDOR RELACIONADOS A ALIMENTOS De acordo com o Código de Defesa do Consumidor estabelecido pela Lei nº 8078 de 1990, qualquer pessoa que adquire um produto ou serviço para atender às suas necessidades é um consumidor. Produto é qualquer mercadoria colocada à venda. Alimentos são considerados produtos não duráveis, pois são consumidos. Os direitos básicos do consumidor englobam: PROTEÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE É fundamental que o fornecedor informe possíveis riscos que um alimento pode oferecer. EDUCAÇÃO PARA O CONSUMO Reforçar as orientações para o consumo adequado do produto, como o modo de conservação e preparo correto. LIBERDADE DE ESCOLHA DE PRODUTOS E SERVIÇOS O consumidor é livre para escolher. INFORMAÇÃO Todos os produtos devem ter informações de peso, quantidade, composição, prazo de validade, modo de utilização, preço, entre outras. PROTEÇÃO CONTRA PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA Esse tipo de publicidade é considerado crime. Tudo o que for anunciado deve ser cumprido. INDENIZAÇÃO E ACESSO À JUSTIÇA Caso o consumidor se sinta prejudicado, tem direito de recorrer à justiça e ser indenizado pelo fabricante do produto. Exemplo: não disponibilizar no rótulo de um alimento a composição completa e correta do produto pode ocasionar um processo alérgico em uma pessoa sensível a algum ingrediente não informado. Esse fato pode gerar um processo contra a empresa que deverá indenizar o consumidor pelos danos. Os alimentos considerados inadequados para o consumo são aqueles com prazo de validade vencido, adulterados, contaminados, fraudados ou fora do padrão de acordo com o processo de fabricação. O consumidor, ao comprar um produto inadequado, tem o direito de registrar uma reclamação com o fabricante ou local de compra e exigir a troca ou a devolução do valor pago. Além disso, cabe ressaltar que o rótulo dos alimentos é a principal forma de comunicação entre o fabricante e o consumidor. O rótulo deve contar todas as informações do produto: composição, prazo de validade, alertas de risco ao consumo, como os alérgicos, e aditivos, como os corantes, conteúdo líquido, nome do fabricante, endereço, CNPJ, meio de contato para o consumidor falar com o fabricante, modo de conservação, modo de preparo se necessário, carimbo e registro do serviço de inspeção. Foto: Openfoodfacts.org/ licença (CC BY 3.0) Todasas empresas devem disponibilizar canais de comunicação com o cliente (Serviço de atendimento ao consumidor – SAC, telefone, e-mail, site, mídias sociais) para recebimento de reclamações e para tirar dúvidas dos consumidores. Esse atendimento deve ser realizado por profissionais treinados para atender aos clientes de modo adequado. Todas as reclamações devem ser registradas e investigadas. A IMPORTÂNCIA DA NORMA ISO 22000/2018 PARA QUALIDADE EM ALIMENTOS A especialista Roberta Nogueira Pereira da Silva abordará a Norma ISO 22000/2018 VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A ISO 22000 É UMA NORMA INTERNACIONAL DIRECIONADA PARA GESTÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR, ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DE REQUISITOS BASEADOS EM UMA GESTÃO EFICIENTE, COMUNICAÇÃO CLARA E INTERATIVA COM TODAS AS PESSOAS RELACIONADAS DIRETA OU INDIRETAMENTE COM A ORGANIZAÇÃO E CONTROLE RIGOROSO DE RISCOS EM TODOS OS PROCESSOS. DE ACORDO COM O QUE FOI APRESENTADO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) Pode ser aplicada por qualquer organização dentro da cadeia de produção de alimentos, ou seja, desde o produtor rural até a indústria, distribuidores, varejistas, serviços de alimentação, entre outros B) Esta norma especifica em detalhes os programas de pré-requisitos que a empresa deve adotar. C) Com a certificação ISO 22000, a empresa passa a executar os processos com padrões internacionais, promove a abertura de mercados para exportações. D) A abordagem dos processos da ISO 22000 é baseada nos conceitos do ciclo PDCA (Plan, Do, Check e Act) a nível organizacional e operacional. E) A empresa deve planejar medidas para tratar os riscos que podem impactar (negativamente e positivamente) o sistema de segurança dos alimentos. 2. O SISTEMA DE RASTREABILIDADE DEVE SER IMPLANTADO NA EMPRESA PARA FACILITAR A IDENTIFICAÇÃO DOS PRODUTOS AO SER DETECTADA UMA NÃO CONFORMIDADE EM QUE SEJA NECESSÁRIA A REALIZAÇÃO DE UM RECALL. DE ACORDO COM O QUE FOI APRESENTADO, ASSINALE A ALTERNATIVA INCORRETA: A) A rastreabilidade representa o registro através de um código para cada lote produzido, de todas as informações relativas à origem e ao destino do alimento. B) O recall é a retirada de um produto do mercado, que apresenta alguma não conformidade, em qualquer etapa da cadeia de produção, inclusive os já adquiridos pelos consumidores. C) A divulgação do recall deve ocorrer através de comunicados aos consumidores pelas autoridades sanitárias. D) Ao realizar a logística reversa, a empresa deve analisar os problemas identificados, dar um destino adequado aos produtos. E) É direito do consumidor ser informado sobre os riscos para a saúde que o consumo de um alimento pode representar. GABARITO 1. A ISO 22000 é uma norma internacional direcionada para gestão da segurança alimentar, através da aplicação de requisitos baseados em uma gestão eficiente, comunicação clara e interativa com todas as pessoas relacionadas direta ou indiretamente com a organização e controle rigoroso de riscos em todos os processos. De acordo com o que foi apresentado, assinale a alternativa INCORRETA: A alternativa "B " está correta. Ela não especifica os programas de pré-requisitos que devem ser seguidos, mas exige que a empresa tenha esses programas implementados e controlados adequadamente. 2. O sistema de rastreabilidade deve ser implantado na empresa para facilitar a identificação dos produtos ao ser detectada uma não conformidade em que seja necessária a realização de um recall. De acordo com o que foi apresentado, assinale a alternativa INCORRETA: A alternativa "C " está correta. A divulgação do recall pode ocorrer através de comunicados aos consumidores com publicações na mídia (televisão, rádio, jornais, páginas eletrônicas, mídias sociais da empresa). Pode ser feita pelo fabricante e pelas autoridades sanitárias. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS É fundamental que, ao implantar e implementar um sistema de gestão de segurança de alimentos, a empresa obriga-se a acompanhar, avaliar, verificar e provocar melhorias de forma contínua. Isso é importante, pois os erros de controle podem acarretar processos de recall, levando a prejuízos, com comprometimento da imagem da marca, além de riscos à saúde do consumidor, como intoxicações e alergias. Além disso, os consumidores que se sentirem prejudicados podem procurar a justiça de acordo com o código de defesa do consumidor. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ABNT. NBR ISO 22000. Sistema de gestão da segurança de alimentos – Requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. 2018. ABNT. NBR ISO 14000. Sistema de gestão da segurança de ambiental – Requisitos com orientações para uso. 2004. ABNT. NBR ISO 9001. Sistema de gestão da qualidade – Requisitos. 2015. BRASIL. Instrução Normativa nº 02 de 07 de fevereiro de 2018. Procedimentos para a aplicação da rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva de produtos vegetais frescos destinados à alimentação. Brasília: Anvisa, Ministério da Saúde e MAPA, 2018. BRASIL. Instrução Normativa nº 51 de 01 de outubro de 2018. Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (SISBOV). Brasília: Anvisa, Ministério da Saúde e MAPA, 2018. BRASIL. Lei nº 8078 de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1990. BRASIL. Portaria nº 1.428, de 26 de novembro de 1993. Regulamento Técnico para inspeção sanitária de alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, 1993. BRASIL. Portaria nº 46 de 10 de fevereiro de 1998. Manual Genérico de Procedimentos para APPCC na indústria de produtos de origem animal. Diário Oficial da União, Brasília. 1998. BRASIL. Portaria nº 487 de 15 de março de 2012. Disciplina o procedimento de chamamento dos consumidores ou recall de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, forem considerados nocivos ou perigosos. Diário Oficial da União, Brasília, 2012. BRASIL. RDC nº 24, de 08 de junho de 2015. Dispõe sobre o recolhimento de alimentos e sua comunicação à Anvisa e aos consumidores. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde, Brasília, 2015. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION - FAO. Food Traceability Guidance. Santiago, 2017. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION - FDA. HACCP Principles e Application Guidelines. 2017. FSSC. FSSC 22000 versão 5.1. 2020. FUNDAÇÃO PROCON SÃO PAULO. Relatório de Campanhas de Recall. 2020. GERMANO, M. I. S.; GERMANO, P. M. L. Sistemas de gestão: qualidade e segurança dos alimentos. Barueri: Manole, 2013. HALEEM, A.; KHAN, S.; KHAN, M. I. Traceability implementation in food supply chain: a grey-dematel approach. Information Processing in Agriculture, India, 2019. SENAI. Guia para elaboração do plano APPCC. 2. ed. Brasília, 2000. EXPLORE+ Para aprofundar os seus conhecimentos no assunto estudado neste tema, recomendamos as seguintes leituras: Guia sobre o Programa de Controle de Alergênicos. Esse guia foi elaborado pela Anvisa para auxiliar as empresas na implementação de um sistema de controle de alergênicos e pode ser inserido nos controles do APPCC. Disponível no site da Anvisa. Guia de Rastreabilidade. Guia elaborado pela FAO com informações e exemplos para auxiliar na implementação de um plano de rastreabilidade. Código de Defesa do Consumidor. É importante conhecer os direitos do consumidor relacionados a alimentos. Disponível no site PCD Legal. CONTEUDISTA Roberta Nogueira Pereira da Silva CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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