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Fundamentos da Neurociências 1 Fundamentos da Neurociências 2 Leandra Celso Constantino FUNDAMENTOS DA NEUROCIÊNCIAS 2019 Fundamentos da Neurociências 3 UNIVERSIDADE DO CONTESTADO –UnC SOLANGE SALETE SPRANDEL DA SILVA Reitora CARLOS EDUARDO CARVALHO Vice-Reitor GABRIEL BONETTO BAMPI Pró-Reitora deEnsino,Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão LUCIANO BENDLIN Pró-Reitor de Administração e Planejamento NEIDE MARIA FAVRETTO Diretora de Educação a Distância Elaboração do conteúdo Leandra Celso Constantino Coordenação Editorial Neide Maria Favretto Irineu José Vieira Júnior Diagramação Neide Maria Favretto Irineu José Vieira Júnior Capa Camila Candeia Paz Fachi Janice Adriana Becker Equipe Técnico-Pedagógica Neide Maria Favretto Irineu José Vieira Júnior Catalogação na fonte - Biblioteca Universitária – UnC S587S Constantino, Leandra Celso Fundamentos da Neurociências / Leandra Celso Constantino Concórdia, SC : Universidade do Contestado – UnC / NEAD, 2019. 51 p. ............................................................ CDD 301 Bibliotecária: Josiane Liebl Miranda CRB 14/1023 Fundamentos da Neurociências 4 Visão geral da neurociência SEÇÃO 1 – VISÃO GERAL DA NEUROCIÊCIA SEÇÃO 2 – INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS BÁSICOS DE NEUROANATOMIA SEÇÃO 3 – INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS DE NEUROFISIOLOGIA SEÇÃO 4- INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS BÁSICOS DE NEUROQUÍMICA SEÇÃO 5- INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS BÁSICOS DE NEUROPSICOLOGIA SEÇÃO 6- RELAÇÃO ENTRE APRENDIZAGEM, EDUCAÇÃO, DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO SEÇÃO 7- O CONHECIMENTO DA NEUROCIÊNCIA APLICADO AO ENSINO E NA ABORDAGEM DOS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 1 Fundamentos da Neurociências 5 SEÇÃO 1 – CÉREBRO E COMPORTAMENTO Estudar a relação entre o cérebro e o comportamento é o principal objetivo da Neuropsicologia. É por meio dessa área de atuação que se pode entender como diferentes áreas cerebrais atuam em conjunto para produzir comportamentos complexos, tal como é o caso da aprendizagem. Problemas em qualquer área do sistema nervoso central (SNC) podem gerar disfunções e prejudicar o aprendizado. Historicamente, diferentes áreas de conhecimento têm se interessado pelo estudo cérebro e comportamento, dentre as quais se destacam a matemática, física, química, biologia, psicologias, filosofia e medicina. Entretanto, a conscientização de que a interdisciplinaridade favoreceria a melhor compreensão do cérebro humano possibilitou a criação de uma nova área de conhecimento chamada Neurociência e revolucionou os estudos científicos sobre o tema, a fim de explicar o comportamento, o processo de aprendizagem e cognição humana bem como os mecanismos de regulação do organismo. Conforme demonstrado no Quadro 1, atualmente diferentes disciplinas estão envolvidas no estudo do desenvolvimento e funcionamento cerebral. Quadro 1 – Áreas de conhecimentos da Neurociências Profissionais Disciplinas Áreas de interesse Neuroquímicos Neurociência molecular Estuda as reações químicas entre as moléculas que são importantes para o sistema nervoso. Neurofisiologistas Neurociência celular Estuda os circuitos elétricos e celulares que possibilitam a comunicação entre o sistema nervoso Neurobiólogos Neurociência comportamental Estuda os circuitos complexos de células neuronais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos, Fundamentos da Neurociências 6 como sono, comportamento emocional, sexual, entre outros. Neuropsicólogos Neurociência cognitiva (ou Neuropsicologia) Estuda a relação entre cérebro e comportamento, destacando- se as capacidades mentais mais complexas típicas do ser humano, como linguagem, autoconsciência, memória e aprendizagem. SEÇÃO 2 – APRESENTANDO A NEUROCIÊNCIA PARA A EDUCAÇÃO Como nós educamos e nutrimos cidadãos criativos e livres para o nosso mundo cada vez mais complexo? Nosso sistema educacional está realmente preparando nossos jovens para os futuros desafios culturais e sociais? Se olharmos para os nossos dados educacionais atuais, a resposta parece dizer: "Talvez não" - onde estamos falhando? Quais são os problemas que enfrentamos hoje na educação? Os avanços de pesquisas na área da neurociência aplicada à educação contribuem significativamente para a avaliação e descobertas de novas práticas pedagógicas que reconhecem a importância do estudo sobre o cérebro, como o órgão responsável pela aprendizagem. Não podemos pensar em educação como um martelo e todo estudante como um prego. Pesquisas demonstram que predisposições genéticas podem esclarecer nossas estratégias para o desenho de currículos centrado no aluno e educação. Também entendemos que a idade biológica pode não prever o estágio cognitivo e emocional do desenvolvimento de estudantes. Por exemplo, as diferenças de gênero indicam que conjuntos de habilidades emocionais e cognitivas de meninos e meninas diferem os vários estágios de desenvolvimento; portanto, o sistema da nossa educação não deve apenas abordar a cognição, mas também as emoções e o desenvolvimento social dos alunos. Quando reconhecemos e abraçamos a Fundamentos da Neurociências 7 individualidade e focamos no desenvolvimento emocional, social e cognitivo, nós estabelecemos as bases para o sucesso na educação. Nos últimos anos, uma profunda transformação conceitual ocorreu na neurociência: caiu por terra a ideia de que o nosso cérebro é todo formado durante a vida embrionária, nada mais restando após o nascimento senão aproveitar as nossas capacidades congênitas para aprimorá-las. Essa concepção conservadora do cérebro como um órgão rígido, pré-formado sob estrita ordenação genética, agride o senso comum, mas possivelmente se cristalizou no século 20 pela grande influência de Santiago Ramón y Cajal (1832-1934), pesquisador espanhol que estabeleceu a doutrina do neurônio como unidade básica do sistema nervoso. Dotado de forte espírito imaginativo, Cajal viu além das formas que desenhou, propondo mecanismos e funções para os neurônios e seus circuitos (Figura 1). Apesar disso, via formas, mapas, circuitos. Talvez por essa razão, opinou sempre que o sistema nervoso adulto seria rígido e invariante. Um paradoxo, tendo em vista a grande flexibilidade comportamental e cognitiva de que somos todos dotados. Figura 1: Desenhos de Cajal. A. Neurônio de um lobo óptico de ave. B. Neurônio do cerebelo de um roedor Sugestão para leitura:"CÉREBRO SE DESENVOLVE DE FORMA DIFERENTE EM MENINOS E MENINAS PREMATUROS" https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/cerebro-se-desenvolve-de-forma-diferente-em- meninos-e-meninas-prematuros-7g4olyl0xqyb5vprgn14bw56v/ Copyright © 2019, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados. Fundamentos da Neurociências 8 Fonte: Llinás, RR. The contribution of Santiago Ramón y Cajal to functional neuroscience. Nature Reviews Neuroscience, 2003. Novas técnicas revelaram o funcionamento dinâmico dos circuitos neurais dentro do cérebro vivo. Resultou desse esforço de pesquisa uma nova concepção: o cérebro é mutante, e não estático! Responde aos estímulos ambientais não apenas com operações funcionais imediatas, mas também com alterações de longa duração, algumas das quais podem se tornar permanentes. Emergiu o conceito de neuroplasticidade, que sintetiza essa capacidade dinâmica, mutante, transformadora. A neuroplasticidade implica mudanças na transmissão de informações entre os neurônios, tornando alguns mais ativos, outros menos, de acordo com as necessidades impostas pelo ambiente externo e pelas próprias operações mentais. Ao conversarcom alguém, é preciso que você mantenha na sua memória por algum tempo as frases que emitiu e os assuntos que abordou. No dia seguinte, talvez isso não seja tão necessário. Essa é a chamada memória operacional, de curta duração, baseada apenas na persistência das informações nos circuitos neurais durante minutos ou horas. Os informatas a chamariam de memória RAM do cérebro. Fenômenos neuroplásticos mais duradouros ocorrem com o treinamento e a aprendizagem. Nesses casos, os circuitos neurais envolvidos tornam-se fortes e permanentes. O hardware cerebral se modifica, com a emergência de novos circuitos entre os neurônios e o fortalecimento daqueles mais utilizados.A informação obtida persistirá Fundamentos da Neurociências 9 durante muito tempo, às vezes durante toda uma vida. Quem não lembra até a morte o nome de sua mãe, a data do seu aniversário, o primeiro beijo apaixonado, ou como andar de bicicleta e amarrar o sapato? Assista:https://pt.khanacademy.org/science/health-and- medicine/nervous-system-and-sensory-infor/neural-cells-and- neurotransmitters/v/neuroplasticity SEÇÃO 3 – CÉLULAS NEURAIS E RESPOSTAS COMPORTAMENTAIS As unidades básicas do cérebro, as células neurais, são bastante simples. O cérebro é capaz de produzir comportamentos altamente complexos, por conter um número extraordinariamente grande de células neurais (cerca de 100 bilhões). A descoberta fundamental para a compreensão do cérebro é a de que o potencial para o comportamento complexo não depende muito da variedade das células neurais, mas sim, do número dessas células e das conexões precisas umas com as outras e com os receptores sensoriais e com os músculos. O sistema nervoso contém duas classes de células: os neurônios – as unidades sinalizadoras básicas do sistema nervoso – e as células de suporte, conhecidas como células da glia (glia ou neuroglia). O neurônio, ou a célula nervosa, é a unidade funcional do sistema nervoso. (Uma unidade funcional é a menor estrutura que pode realizar as funções de um sistema.)Um neurônio típico apresenta três regiões morfologicamente definidas: o corpo celular, os dendritos (recebem o sinal de entrada), o axônio (conduzem informações de saída). A forma, o número e o comprimento dos axônios e dendritos variam de um neurônio para o outro, mas essas estruturas são uma característica essencial dos neurônios, permitindo que eles se comuniquem entre si e com outras células, através das sinapses (Figura 2). O corpo celular do neurônio contém o núcleo e também tem organelas bem desenvolvidas para produzir os constituintes da membrana, enzimas sintéticas e outras substâncias químicas necessárias para as funções especializadas das células nervosas. Além disso, o corpo celular possui Fundamentos da Neurociências 10 inúmeras de mitocôndrias (organelas responsáveis por gerar energia para a célula) que dão suporte energético para a célula neural. Figura 2: Partes de um neurônio. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Os dendritos são ramificações do corpo celular que, conforme se dividem, diminuem de espessura, e que, em geral, transmitem a informação para o corpo celular. Os dendritos aumentam a área de superfície de um neurônio, permitindo que este se comunique com muitos outros neurônios. Os neurônios mais simples têm apenas um dendrito. No outro extremo, os neurônios no encéfalo podem ter múltiplos dendritos com uma incrível complexidade de ramificação. O conjunto de dendritos de um neurônio é chamado árvore dendrítica. O axônio é a extensão da célula que leva o estímulo de uma célula para o próximo neurônio ou, no caso do neurônio motor, para um músculo. Em geral, cada neurônio tem apenas um axônio que, normalmente, tem diâmetro uniforme. O comprimento e diâmetro do axônio dependem do tipo de neurônio. Alguns axônios não são maiores do que os dendritos, enquanto outros podem ter mais de um metro de comprimento. Durante muitos anos, os cientistas acreditaram que a função da glia era fornecer suporte físico, e que as células da glia possuíam baixa influência no processamento das informações. Essa visão mudou. Apesar de as células da glia não participarem diretamente na transmissão dos sinais elétricos por longas distâncias, elas comunicam-se com os neurônios e fornecem um importante suporte físico e bioquímico. Fundamentos da Neurociências 11 O sistema nervoso periférico possui dois tipos de células da glia – as células de Schwann e as células satélite –, já o SNC possui quatro tipos de células diferentes: oligodendrócitos, microglia, astrócitos e células ependimárias (Figura 3). Figura 3: As células da glia e suas funções Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Observando-se macroscopicamente, os tecidos do SNCsão divididos em substância cinzenta e substância branca(Figura 4). A substância cinzenta consiste em corpos, dendritose axônios de células nervosas não mielinizadas. Os corposcelulares estão reunidos de maneira organizada tanto no encéfalocomo na medula espinal. A substância branca é constituída principalmente poraxônios mielinizados e contém poucos corpos celulares. A suacor pálida é devida às bainhas de mielina (assunto que será abordado com mais detalhes na próxima unidade)que envolvem os neurônios.Os feixes de axônios que conectam diferentes regiões do SNC são chamados de tratos. O conceito chave da ciência neural moderna é que todo comportamento é um reflexo da função cerebral. De acordo com esta visão - a mente representa uma quantidade de funções desempenhadas pelo cérebro. A ação do cérebro está relacionada não somente com Sugestão para leitura: IGUALDADE DE GÊNERO NO SISTEMA NERVOSO http://cienciahoje.org.br/coluna/igualdade-de-genero-no-sistema-nervoso/ Fundamentos da Neurociências 12 comportamentos muito simples tais como caminhar e sorrir, mas também com funções elaboradas tais como sentir, aprender e escrever um poema. Como consequência, os distúrbios do afeto (emoções) e da cognição (pensamentos) que caracterizam as doenças neuronais e psicóticas podem ser resultado de distúrbios no cérebro. Figura 4: Substância branca e cinzenta em cérebro humano seccionado Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. O papel das ciências neurais é explicar como o cérebro organiza essas unidadespara controlar o comportamento e como, por sua vez, o funcionamento das células constituintes do cérebro de um indivíduo é influenciado pelo comportamento de outra pessoa bem como por uma grande quantidade de fatores ambientais. Fundamentos da Neurociências 13 RESUMO: É por meio da neurociência que se pode entender como diferentes áreas cerebrais atuam em conjunto para produzir comportamentos complexos, tal como é o caso da aprendizagem. Problemas em qualquer área do sistema nervoso central (SNC) podem gerar disfunções e prejudicar o aprendizado.O sistema nervoso contém duas classes de células: os neurônios – as unidades sinalizadoras básicas do sistema nervoso – e as células de suporte, conhecidas como células da glia (glia ou neuroglia). O neurônio, ou a célula nervosa, é a unidade funcional do sistema nervoso. Os neurônios, células especializadas na condução e no processamento da informação. Os neurônios foram circuitos complexos entre si e se agrupam no interior do sistema nervoso nas áreas de substância cinzenta. A ação do cérebro está relacionada não somente com comportamentos muito simples tais como caminhar e sorrir, mas também com funções elaboradas tais como sentir, aprender e escrever um poema. Como consequência, os distúrbios do afeto (emoções)e da cognição (pensamentos) que caracterizam as doenças neuronais e psicóticas podem ser resultado de distúrbios no cérebro.O papel das ciências neurais é explicar como o cérebro organiza essas unidades para controlar o comportamento e como, por sua vez, o funcionamento das células constituintes do cérebro de um indivíduo é influenciado pelo comportamento de outra pessoa bem como por uma grande quantidade de fatores ambientais. Dessa forma, os avanços de pesquisas na área da neurociência aplicada à educação contribuem significativamente para a avaliação e descobertas de novas práticas pedagógicas que reconhecem a importância do estudo sobre o cérebro, como o órgão responsável pela aprendizagem. Nos últimos anos emergiu o conceito de neuroplasticidade, que sintetiza essa capacidade dinâmica, mutante, transformadora das células neuronais.Fenômenos neuroplásticos mais duradouros ocorrem com o treinamento e a aprendizagem.O comportamento humano é função da atividade dos circuitos neuronais que funcionam em diversas áreas do sistema nervoso. Fundamentos da Neurociências 14 Introdução aos conceitos básicos de neuroanatomia Nesta unidade veremos como se organiza o sistema nervoso em termos anatômicos e funcionais a fim de compreender seu envolvimento na interação do organismo com o ambiente e nos processos de aprendizagem. SEÇÃO 1 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Todos os seres vivos precisam estar em permanente interação com o meio em que vivem. Nos animais, é o sistema nervoso que se encarrega de estabelecer essa comunicação com o mundo ao redor e também com o próprio organismo. O cérebro, como sabemos, é a parte mais importante do nosso sistema nervoso, pois é através dele que tomamos consciência das informações que chegam pelos órgãos dos sentidos e processamos essas informações, comparando-as com nossas vivências e expectativas. É dele também que procedem as respostas voluntárias e/ou involuntárias, que fazem com que o corpo, eventualmente atue sobre o ambiente. O SNC consiste no encéfalo e na medula espinal. A medula espinal é a porção mais simples do SNC. Ela se estende da base do crânio até a primeira vértebra lombar, recebendo informação sensorial da pele, das articulações e dos músculos do tronco e dos membros. Além disso, a medula espinal contém redes neurais responsáveis pela locomoção. Se for seccionada, há perda da sensibilidade da pele e dos músculos, bem como paralisia, a perda da capacidade de controlar os músculos voluntariamente. A medula espinal é dividida em quatro regiões: cervical, torácica, lombar e sacra, nomes que correspondem às vértebras adjacentes. Cada região é subdividida em segmentos, e de cada segmento surge um par bilateral de nervos espinais. Pouco antes de um nervo espinal se juntar à 2 Fundamentos da Neurociências 15 medula espinal, ele divide-se em dois ramos, chamados de raízes (Figura 5a). A raiz dorsal de cada nervo espinal é especializada em conduzir a entrada de informações sensoriais. Os gânglios da raiz dorsal, dilatações encontradas na raiz dorsal antes de entrar na medula (Figura 5b), contêm os corpos celulares dos neurônios sensoriais. A raiz ventral carrega informações provenientes do SNC para músculos e glândulas. Em uma secção transversal, a medula espinal tem um centro de substância cinzenta, em forma de borboleta ou da letra H, rodeado de substância branca. As fibras sensoriais da raiz dorsal fazem sinapse com interneurônios dos cornos dorsais da substância cinzenta. Os corpos celulares dos cornos dorsais estão organizados em dois núcleos distintos, um para informações somáticas, e o outro para informações viscerais (Figura 5b). Os cornos ventrais da substância cinzenta contêm corpos celulares de neurônios motores que conduzem sinais eferentes para músculos e glândulas. Estão organizados em núcleos motores somáticos e autonômicos. As fibras eferentes deixam a medula espinal pela raiz ventral. A substância branca da medula espinal é o equivalente biológico a cabos de fibra óptica que as companhias telefônicas utilizam para conduzir os nossos sistemas de comunicação. A substância branca pode ser dividida em diversas colunas compostas de tratos de axônios que transferem informações para cima e para baixo na medula. Os tratos ascendentes conduzem informações sensoriais para o encéfalo. Eles ocupam as porções dorsal e lateral externa da medula espinal (Figura 5c). Os tratos descendentes conduzem principalmente sinais eferentes (motores) do encéfalo para a medula. Eles ocupam as porções ventral e lateral interna da substância branca. Os tratos propriospinais são aqueles que permanecem dentro da medula. Fundamentos da Neurociências 16 Figura 5: Organização da medula espinal Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. O encéfalo é considerado a sede da alma, a fonte misteriosa das características que nós acreditamos que distinguem os seres humanos dos outros animais. O encéfalo e a medula espinal são também centros integradores da homeostasia, do movimento e de muitas outras funções corporais. Eles são o centro de controle do sistema nervoso, uma rede de bilhões ou trilhões de células nervosas ligadas umas às outras de modo extremamente organizado para formar o sistema de controle rápido do corpo. Desse modo, o encéfalo é composto por seis regiões: o bulbo, a ponte, o mesencéfalo, o cerebelo, o diencéfalo e os hemisférios cerebrais ou telencéfalo. Cada uma dessas divisões é encontrada em ambos os hemisférios do encéfalo com poucas diferenças bilaterais. Cada uma das seis subdivisões é subdividida posteriormente em várias áreas distintas dos pontos de vista anatômico e funcional. As três divisões do sistema nervoso central imediatamente rostrais (rostral significa em direção à região nasal) à medula espinal – o bulbo, a ponte e o mesencéfalo – são denominadas conjuntamente de tronco encefálico (Figura 6). O bulbo, é uma extensão direta da medula espinal, sendo semelhante a ela tanto na organização como na função. Grupos neuronais do bulbo participam da regulação da pressão sanguínea e da respiração, além da manutenção do equilíbrio, assim como controle das musculaturas faciais e do pescoço. Fundamentos da Neurociências 17 A ponte está localizada entre o bulbo e o mesencéfalo e contém agrupamentos de neurônios que retransmitem a informação acerca do movimento e das sensações do córtex cerebral para o cerebelo. Além disso, contém estruturas envolvidas na respiração, na gustação e no sono. O mesencéfalo, é a menor porção do tronco encefálico, é rostral à ponte. Os núcleos do mesencéfalo fornecem ligações importantes entre os componentes do sistema motor, em particular o cerebelo, os núcleos da base e os hemisférios cerebrais. A principal função do mesencéfalo é controlar o movimento dos olhos, mas ele também retransmite sinais para os reflexos auditivos e visuais. O cerebelo é a segunda maior estrutura no encéfalo. Ele está localizado na base do crânio, logo acima da nuca. O nome cerebelo significa “pequeno cérebro” e, de fato, a maioria das células nervosas do encéfalo está no cerebelo. A função especializada do cerebelo é processar informações sensoriais e coordenar a execução dos movimentos. As informações sensoriais que nele chegam vêm de receptores somáticos da periferia do corpo e de receptores do equilíbrio, localizados na orelha interna. O cerebelo também recebe informações motoras de neurônios vindos do cérebro. Fundamentos da Neurociências 18 Figura 6: Visão lateral do tronco encefálico Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.O diencéfalo, ou “entre-encéfalo”, situa-se entre o tronco encefálico e o cérebro (Figura 7). É composto de duas porções principais, o tálamo e o hipotálamo, e duas estruturas endócrinas, as glândulas hipófise e pineal. A maior parte do diencéfalo é ocupada por diversos pequenos núcleos que compõem o tálamo. O tálamo recebe fibras sensoriais do trato óptico, das orelhas e da medula espinal, bem como informação motora do cerebelo. Ele envia fibras para o cérebro, onde a informação é processada. O cérebro é a porção maior e mais evidente do encéfalo humano e preenche a maior parte da cavidade craniana. Ele é composto por dois hemisférios ligados principalmente pelo corpo caloso, uma estrutura diferenciada, formada por axônios que cruzam de um lado do cérebro para o outro. Esta conexão assegura que os dois hemisférios se comuniquem e cooperem um com o outro. Cada hemisfério cerebral é dividido em quatro Fundamentos da Neurociências 19 lobos, denominados pelos ossos do crânio, onde cada um está localizado: frontal, parietal, temporal e occipital (Figura 8). Figura 7: O diencéfalo Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Figura 8: Anatomia do encéfalo – Visão lateral do encéfalo Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. A superfície do cérebro em seres humanos e em outros primatas tem uma aparência enrugada, como a de uma noz, com ranhuras, chamadas Fundamentos da Neurociências 20 de sulcos, dividindo circunvoluções, chamadas de giros. Durante o desenvolvimento, o cérebro cresce mais rápido do que o crânio em seu entorno, forçando o tecido a dobrar-se sobre si mesmo, para se ajustar a um volume menor. O grau de dobramento é diretamente relacionado ao nível de capacidade de processamento do encéfalo. O encéfalo de mamíferos menos desenvolvidos, como os roedores, possui uma superfície relativamente lisa. O encéfalo humano, por outro lado, é tão convoluto que, se inflado o suficiente para ficar com a superfície lisa, seria três vezes maior e precisaria de uma cabeça do tamanho de uma bola de praia. SEÇÃO 2 – ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL DO CÉREBRO O sistema nervoso consiste em sistemas funcionais que são relativamente autônomos. Há, por exemplo, sistemas separados para cada um dos cinco sentidos especiais (tato, visão, audição, gustação e olfato), para diferentes classes de movimento (movimentos dos olhos, dos braços, das mãos) e para a linguagem. Cada sistema funcional é formado por numerosos sítios anatômicos interconectados através do encéfalo. Vários desses sistemas funcionais encefálicos devem atuar cooperativamente. Nos sistemas sensoriais, por exemplo, os neurônios sensoriais da periferia projetam-se, direta ou indiretamente, para uma ou mais regiões da medula espinal, do tronco encefálico ou do tálamo. O tálamo projeta-se até as áreas sensoriais primárias do córtex cerebral, que, por sua vez, projetam-se a outras regiões do córtex.Cada sistema funcional é organizado hierarquicamente. Dentro de um sistema, algumas áreas do córtex cerebral são designadas como áreas primária, secundária ou terciária, dependendo de sua sequência funcional dentro da via. O córtex cerebral atua como centro integrador para a informação sensorial e como uma região de tomada de decisões para muitos tipos de respostas motoras. Se examinarmos o córtex do ponto de vista funcional, podemos dividi-lo em três especializações: (1) áreas sensoriais (também Fundamentos da Neurociências 21 chamadas de campos sensoriais), que recebem estímulos sensoriais e os traduzem em percepção consciência); (2) áreas motoras, que direcionam o movimento do músculo esquelético; e (3) áreas de associação (córtices de associação), que integram informações de áreas sensoriais e motoras, podendo direcionar comportamentos voluntários (Figura 9). A informação que transita por uma via é geralmente processada em mais de uma dessas áreas. As áreas funcionais do córtex cerebral não necessariamente correspondem aos lobos anatômicos do encéfalo. Por uma razão, a especialização funcional não é simétrica no córtex cerebral: cada lobo tem funções especiais não compartilhadas com o lobo correspondente do lado oposto. Essa lateralização cerebral da função é muitas vezes referida como dominância cerebral, mais popularmente conhecida como dominância cérebro direito/cérebro esquerdo (Figura 10). A linguagem e as habilidades verbais tendem a estar concentradas no lado esquerdo do cérebro, e as habilidades espaciais, no lado direito. O hemisfério esquerdo é o hemisfério dominante para as pessoas destras e parece que o hemisfério direito é dominante para muitas pessoas canhotas. Figura 9: Áreas funcionais do córtex cerebral Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Todavia, até mesmo essas generalizações estão sujeitas a mudanças. As conexões neurais no cérebro, assim como em outras partes do sistema nervoso, exibem certo grau de plasticidade. Por exemplo, se uma pessoa Fundamentos da Neurociências 22 perde um dedo, as regiões dos córtices motor e sensorial, previamente destinadas a controlar o dedo, não ficam sem função. Em vez disso, regiões adjacentes do córtex estendem os seus campos funcionais e assumem a parte do córtex que não é mais utilizada pelo dedo ausente. De maneira similar, habilidades normalmente associadas a um lado do córtex cerebral podem ser desenvolvidas pelo outro hemisfério, como ocorre quando uma pessoa destra com a mão direita quebrada aprende a escrever com a mão esquerda. Muito do que sabemos sobre as áreas funcionais do córtex cerebral é proveniente de estudos com pacientes ou que apresentavam lesões neurológicas herdadas ou que sofreram danos por acidentes ou guerras. Em alguns casos, lesões cirúrgicas realizadas para tratar alguma condição clínica, como uma epilepsia incontrolável, acabaram revelando relações funcionais a áreas particulares do encéfalo. Técnicas de imagem, como a tomografia por emissão de pósitrons (TEP), fornecem meios não invasivos para que possamos observar o encéfalo humano em atividade. Fundamentos da Neurociências 23 Figura 10: Lateralização cerebral. A distribuição das áreas funcionais nos dois hemisférios cerebrais não é simétrica Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. SEÇÃO 3 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO O SNP supre o SNC com uma corrente contínua de informação sobre os meios externo e interno do corpo. Ele é constituído por fibras nervosas que transportam informações entre o SNC e as outras partes do corpo. Desse modo, as fibras do SNP podem ser classificadas em aferentes, que transmitem as informações provenientes de estímulos sensoriais e viscerais ao SNC, conhecido como sistema nervoso somático; e eferentes, que transmitem as informações provenientes do SNP, relacionadas com o controle da musculatura lisa e cardíaca, secreção de glândulas e função de órgãos viscerais, conhecido como sistema nervoso autônomo. Fundamentos da Neurociências 24 O sistema nervoso autônomo é ainda subdividido em simpático e parassimpático. Esse sistema é controlado pelo hipotálamo e é responsável pelo controle de todas as funções vegetativas inconscientes, como controle da frequência cardíaca, mobilização de glicose, frequência respiratória, produção hormonal, entre outras. Além disso, o sistema nervoso entérico também pode ser incluído como parte do sistema nervoso autônomo. As subdivisões autonômicas simpática e parassimpática controlam as funções fisiológicas geralmentede maneira antagônica, no qual uma subdivisão autonômica é excitatória e a outra é inibitória. Por exemplo, a inervação simpática aumenta a frequência cardíaca, enquanto a estimulação parassimpática diminui. Embora as duas divisões autonômicas, em geral sejam antagônicas no controle de determinado tecido alvo, algumas vezes elas trabalham em cooperação em diferentes tecidos para atingir um objetivo comum. Por exemplo, durante uma ereção peniana o fluxo sanguíneo está sob controle da subdivisão parassimpáticae a contração muscular para a ejaculação do esperma é controlada pela subdivisão simpática. De forma geral, a subdivisão simpática está mais associada a respostas relacionadas a situações pontuais de estresse, de modo que se atribui ao sistema simpático o controle de respostas do tipo luta-ou-fuga. Já o sistema parassimpático está relacionado a funções de “descanso e digestão”. Essas diferentes respostas podem ser compreendidas através da seguinte situação: Após um delicioso piquenique, você está sonolento, deitado na grama, sob o sol da primavera, digerindo a sua refeição (sistema nervoso parassimpático). De repente, sente algo se movendo sobre sua perna, você abre os olhos e vê uma cobra de aproximadamente um metro de comprimento. Mais por instinto do que por razão você chuta a cobra para longe e pula rapidamente para cima da mesa de piquenique. Nesse momento sua respiração está profunda e seu coração acelerado (sistema nervoso simpático). Em menos de um segundo, o seu corpo passou de um estado tranquilo de repouso e digestão para um estado de pânico e agitação. Nessa situação, quando a vida está em perigo, a digestão torna-se um processo de menor importância, e o sangue é desviado do trato gastrointestinal para os músculos esqueléticos (Figura 11). Fundamentos da Neurociências 25 Figura 11: Sistema nervoso autônomo Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Na figura abaixo (Figura 12) pode-se verificar alguns dos efeitos da estimulação simpática e parassimpática sobre os diferentes tecidos alvo. Figura 12: Representação esquemática mostrando as vias simpática e parassimpática. As vias simpáticas são mostradas em vermelho e as parassimpáticas em azul. Fonte: BERNE & LEVI. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Em geral, quando os centros simpáticos ficam excitados, eles estimulam todos os nervos simpáticos a um só tempo. Como resultado, a Fundamentos da Neurociências 26 pressão arterial fica elevada, o metabolismo celular aumenta, o grau de atividade mental fica estimulado e aumenta, também, o teor de glicose sanguínea. Considerando-se todos esses efeitos em conjunto, pode ser visto que a descarga maciça do sistema nervoso simpático prepara o corpo para a atividade. Já o sistema nervoso somático diz respeito a como os nossos sentidos se desenvolveram para que pudéssemos captar a energia presente no ambiente, embora saibamos que, das muitas formas de energia que nos rodeiam, somos sensíveis a apenas algumas, para as quais possuímos os receptores específicos. Tomemos como exemplo a visão, a luz é uma forma de energia eletromagnética, encontrada em uma ampla faixa de frequências. Contudo, somos capazes de ver apenas uma pequena fração dessas frequências. As ondas radiofônicas, ou os raios-X, que podem mostrar o interior do corpo, também são energia eletromagnética, mas não são visíveis, pois não temos receptores para a sua faixa de frequência. Um outro exemplo seria os daltônicos, que não são capazes de distinguir certas cores porque não possuem os receptores que permitiriam essa distinção. De forma semelhante, muitas outras formas de energia presentes em nosso ambiente não afetam nossos sentidos, embora possam ser percebidas por outros animais que tenham os receptores capazes de percebê-las. Os processos sensoriais começam sempre nos receptores especializados em captar um tipo de energia. Neles tem início um circuito, em que a informação vai passando de uma célula para outra, até chegar em uma área do cérebro, geralmente no córtex cerebral, responsável pelo seu processamento, conforme mostrado na figura 13. Fundamentos da Neurociências 27 Figura 13: Vias sensoriais no encéfalo Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Dessa forma, o sistema sensorial é a ferramenta do corpo que possibilita a percepção de si e do mundo através das informações sensoriais levadas ao SNC. Esse, utiliza as informações para quatro funções principais: percepção, manutenção do estado vigília, controle dos movimentos e regulação dos órgãos viscerais internos. As consequências neurais causadas por um estímulo físico são estudadas pela fisiologia sensorial, ou seja, como o estímulo é transmitido pelos receptores sensoriais e processados no cérebro. Tais estímulos estão associados com sentidos especiais, como a visão, a audição, a gustação e o equilíbrio e com os sentidos somáticos, como tato, temperatura, nocicepção, prurido (coceira) e propriocepção. Todas as vias sensoriais têm certos elementos em comum. Elas começam com um estímulo, na forma de energia física que atua sobre um Fundamentos da Neurociências 28 receptor sensorial. O receptor é um transdutor que converte o estímulo em um sinal intracelular, em geral uma mudança no potencial de membrana (assunto abordado na próxima unidade). Se essa mudança atinge o limiar, são gerados potencias de ação que passam ao longo de um neurônio sensorial para o SNC onde os sinais são integrados. Os receptores são classificados em cinco tipos de acordo com os estímulos que detectam, conforme apresentado no quadro 2. Cada tipo de receptor é muito sensível a um tipo de estímulo para o qual ele é especializado e ao mesmo tempo é insensível a outros tipos de estímulos sensoriais. Qualquer que seja o tipo de estímulo que excite o receptor, seu efeito imediato é o de alterar o potencial de membrana do receptor. Os diferentes receptores podem ser excitados de várias maneiras: por deformação mecânica do receptor; pela aplicação de substâncias químicas; pela alteração de temperatura da membrana e por efeitos eletromagnéticos. Quadro 2: Classificação dos receptores sensoriais Fonte: Autor, 2019. Cada um dos principais tipos de sensibilidade que experimentamos (tato, visão, gustação) é chamado de modalidade sensorial. A modalidade sensorial de um estímulo é indicada por quais neurônios sensoriais são Modalidade sensorial Estímulo Tipo de receptor Olfato Substâncias químicas voláteis Quimiorreceptor Visão Luz Fotorreceptor Gustação Substâncias químicas Quimiorreceptor Audição Ondas de pressão sonora Mecanorreceptor Equilíbrio Movimento da cabeça Mecanorreceptor Tato Pressão/vibração Mecanorreceptor Temperatura Quantidade de calor Termorreceptor Nocicepção Lesões teciduais Nociceptor Propriocepção Estímulos mecânicos Mecanorreceptor Fundamentos da Neurociências 29 ativados e por onde as vias dos neurônios são ativadas terminam no cérebro. Por exemplo, se a fibra para o tato for estimulada, o indivíduo percebe o tato porque as fibras táteis se dirigem para áreas encefálicas específicas para o tato. Cada uma das principais divisões do encéfalo processa umou mais tipos de informação sensorial (Figura 13). Por exemplo,o mesencéfalo recebe informação visual, e o bulbo recebe aferênciasgeradas a partir dos sons e do gosto. As informações doequilíbrio são processadas principalmente no cerebelo. Estas vias,junto àquelas que levam informações do sistema somatossensorial,projetam-se ao tálamo, o qualatua como uma estação de retransmissão e processamento antes que a informação seja repassadaao cérebro. Apenas a informação olfatórianão passa pelo tálamo.O sentido da olfação, um tipo de quimiorrecepção, é consideradoum dos sentidos mais antigos, e mesmo os encéfalos de vertebradosmais primitivos possuem regiões bem desenvolvidas parao processamento da informação olfatória. A informação sobreo odor vai do nariz para o bulbo olfatório, e daí ao córtex olfatório, no cérebro. É provávelque essa aferência direta ao cérebro seja a causa de os odores seremtão intimamente vinculados à memória e à emoção. A maioriadas pessoas já experimentou sentir um cheiro que subitamentetraz à memória um fluxo de lugares ou pessoas do passado. Resumindo, a especificidade das vias sensoriais é estabelecida de diversas maneiras: 1) cada receptor é sensível a um tipo particular de estímulo; 2) um estímulo acima do limiar desencadeia potenciais de ação em um neurônio sensorial que se projeta para o SNC; 3) cada via sensorial projeta-se para uma região específica do córtex cerebral dedicada a uma área específica. O cérebro pode então determinar a origem de cada sinal de entrada, a partir das informações recebidas pelos neurônios sensoriais aferentes. Fundamentos da Neurociências 30 RESUMO: O cérebro é a porção mais importante do sistema nervoso e atua na interação do organismo com o meio externo, além de coordenar suas funções internas.O SNC consiste no encéfalo e na medula espinal. A medula espinal é a porção mais simples do SNC. O encéfalo é considerado a sede da alma, a fonte misteriosa das características que nós acreditamos que distinguem os seres humanos dos outros animais. O encéfalo e a medula espinal são também centros integradores da homeostasia, do movimento e de muitas outras funções corporais. Eles são o centro de controle do sistema nervoso, uma rede de bilhões ou trilhões de células nervosas ligadas umas às outras de modo extremamente organizado para formar o sistema de controle rápido do corpo. O sistema nervoso consiste em sistemas funcionais que são relativamente autônomos. As fibras do sistema nervoso autônomo podem ser classificadas em aferentes, que transmitem as informações provenientes de estímulos sensoriais e viscerais ao SNC, conhecido como sistema nervoso somático; e eferentes, que transmitem as informações provenientes do SNP. O sistema nervoso autônomo é ainda subdividido em simpático e parassimpático.De forma geral, a subdivisão simpática está mais associada a respostas relacionadas a situações pontuais de estresse, de modo que se atribui ao sistema simpático o controle de respostas do tipo luta-ou-fuga. Já o sistema parassimpático está relacionado a funções de “descanso e digestão”.As vias sensoriais chegam ao cérebro por meio de cadeias neuronais, que levam a informação até uma região do córtex, que é específica para o processamento daquela modalidade sensorial. A via motora voluntária também é constituída por uma cadeia neuronal que tem origem no córtex motor e termina em contato com os músculos esqueléticos. O córtex cerebral se organiza em unidades funcionais com regiões primárias, secundárias e terciárias, que atuam de forma hierárquica para permitir a interação com o ambiente e o processamento das funções superiores. Fundamentos da Neurociências 31 Introdução aos conceitos básicos de neurofisiologia Nesta unidade vamos aprender sobre como os fluxos de corrente iônica podem gerar diferenças de potencial elétrico, influenciando na percepção do meio externo, fluxo de informação pelas células e estímulos a ações. Vamos compreender ainda as diferenças entre os potenciais de repouso e ação, como ocorrem despolarização, repolarização e outros eventos da transmissão de informações pelo sistema nervoso. SEÇÃO 1 – POTENCIAIS DE MEMBRANA Todas as células do corpo humano apresentam um potencial elétrico através de sua membrana que é chamado simplesmente de potencial de membrana. Os potenciais de membrana desempenham papel fundamental na transmissão de sinais neurais, bem como no controle da contração muscular, da secreção glandular e sem qualquer dúvida, em muitas outras funções celulares. A propriedade que caracteriza as células musculares e os neurônios como tecidos excitáveis é sua capacidade de propagar sinais elétricos rapidamente em resposta a um estímulo. Em condições de repouso (sem estímulo) o potencial é negativo no interior da membrana. Dessa forma, o potencial de repouso da membrana é mantido pela presença de três principais componentes: (1) fluido intra e extracelular (composto principalmente por água e íons dissolvidos); (2) a membrana plasmática em si e (3)proteínas que estão inseridas nessa membrana. Cada um desses componentes possui propriedades que contribuem para estabelecer o potencial de repouso. 3 Fundamentos da Neurociências 32 Nas células a carga elétrica não está distribuída uniformemente através da membrana, o interior é eletricamente negativo em relação ao exterior. Além da diferença de carga elétrica que ocorre entre as superfícies interna e externa da membrana, o potencial de membrana é causado por diferenças nas concentrações iônicas do meio intra e extracelular. Especialmente pelo fato de que o meio intracelular contém uma concentração muito elevada de íons potássio (K+), enquanto que no meio extracelular, a concentração desse íon é muito reduzida. Exatamente o oposto ocorre com o íon sódio (Na+) – concentração muito elevada no meio extracelular e muito reduzida no meio intracelular. Nesse sentido, ressalta-se a importância dos gradientes de concentração iônica, que são estabelecidos pelas bombas iônicas na membrana celular. Um exemplo importante é a bomba de sódio-potássio, encontrada em todas as membranas celulares do organismo. Essa bomba transporta ativamente íons Na+ desde o interior do axônio, por exemplo, para o exterior, enquanto que ao mesmo tempo, transporta íons K+ para o interior. O efeito final desses processos de transporte, sobre as concentrações de Na+ e K+, no interior e no exterior do axônio é a seguinte: a concentração de Na+ no interior do axônio é de 142 mEq/L e de apenas 14 mEq/L no interior. Para o K+, a diferença de concentração tem sentido oposto: 140 mEq/L no interior para 4 mEq/L no exterior do axônio. Contudo, a membrana axônica em repouso é quase que impermeável a íons Na+, mas muito permeável aos íons K+. Como resultado, o íon K+, altamente concentrado no interior da membrana, tende sempre a passar para fora do axônio (gradiente químico). Uma vez que, os íons K+ possuem carga positiva, sua passagem para o exterior carrega carga elétrica positiva. Por outro lado, no interior da fibra existem grandes quantidades de moléculas com carga negativa (ânion orgânico – p.ex.: proteínas) e essas moléculas não saem da fibra. Consequentemente, o interior da fibra nervosa torna-se muito negativo, devido à falta de íons positivos e o excesso de moléculas com carga negativa. Dessa forma, em condições de “repouso”, todas as células mantêm um potencial interno negativo situado entre – 30 e – 80 mV, dependendo do tipo de célula. Fundamentos da Neurociências 33 Sabendo a carga elétrica do íon e a sua concentração através da membrana, pode-se deduzir se o interior da célula está mais positivo ou negativo, através da equação de Nernst: Potencial de membrana (em mV) = - 61 x log [ ] interna [ ] externa Para o potássio: - 61 x log 140 = - 94 mV 4 SEÇÃO 2 – SINALIZAÇÃO PROPAGADA: POTENCIAL DE AÇÃO O potencial de ação resulta de alterações sucessivas, rápidas e transitórias na condutância da membrana plasmática ao íon Na+ e K+. Deforma semelhante ao que ocorre com o potencial de membrana, o potencial de ação depende das concentrações iônicas opostas. Um aumento na concentração extracelular de K+ despolariza as células, ou seja, altera o valor do potencial de repouso de membrana normal para um valor menos negativo. Os potenciais de ação podem ser produzidos em fibras nervosas, por exemplo, por qualquer fator que aumente bruscamente, a permeabilidade da membrana aos íons Na+ (Figura 14). Um aumento rápido na condutância (g) do Na+ e corrente iônica (i) do Na+, na fase final, faz com que o potencial de membrana se desloque na direção do potencial de equilíbrio do Na+ (+65 mV). O pico do potencial de ação não atinge +65 mV porque os canais de Na+ são rapidamente inativados, reduzindo a gNa+ e a iNa+ e porque o aumento mais lento de gK+ e a iK+ oferece a oposição crescente á despolarização. Nesse sentido, o rápido retorno do potencial de membrana para o potencial de repouso é causado pelo aumento contínuo de gK+, bem como redução de gNa+. Durante a hiperpolarização que se segue ao potencial de ação, o potencial de membrana fica mais negativo que o potencial de repouso, pois Fundamentos da Neurociências 34 a gNa+ retornou aos seus níveis basais, mas a gK+ permanece elevada. Assim, o potencial de repouso da membrana fica bem mais próximo ao potencial de equilíbrio do K+ (- 94 mV) e a membrana permanecerá hiperpolarizada enquanto a gK+permanecer elevada. Conforme dito anteriormente, o potencial de ação começa com aumento rápido da gNa+. Esse aumento reflete a abertura de milhares de canais de Na+, em resposta à despolarização. Os canais abertos permitem o influxo de íons Na+ e essa corrente despolariza ainda mais a membrana. A abertura dos canais de Na+ dependentes de voltagem e a ação despolarizante da corrente de Na+ são responsáveis pela fase de aumento rápido do potencial de ação. Figura 14 – Alterações da permeabilidade iônica e da voltagem durante o potencial de ação Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. A fase de decréscimo do potencial de ação resulta de dois processos: redução da gNa+ e aumento da gK+. A redução da gNa+ Fundamentos da Neurociências 35 resulta da repolarização da membrana, devido à dependência da voltagem do canal de Na+. Quando o aumento transitório da gNa+ termina, a gK+ de repouso permite o desenvolvimento de corrente que repolariza a membrana. Em alguns axônios, a variação da gNa+ contra a gK+ fixa explica todo o potencial de ação. Entretanto em outros casos, também ocorre a contribuição dos canais de K+ dependentes de voltagem. Quando a membrana se despolariza, durante o potencial de ação, muitos desses canais de K+ se abrem, resultando em aumento de gK+, permitindo o fluxo da corrente de K+. Essa corrente de K+, oposta à corrente do Na+, causa a repolarização da membrana. Como os canais de K+ dependentes de voltagem não se fecham imediatamente quando ocorre a repolarização, a condutância da membrana ao K+ é maior, no final do potencial de ação. Do que era antes do seu início. Isso significa que o potencial de membrana ficará mais perto do potencial de Nernst para o K+, sendo a base da pós- hiperpolarização que se segue ao pico. Contudo o potencial de membrana retorna ao seu valor original de repouso a medida que os canais de K+ dependentes de voltagem se fecham. Durante a maior parte do potencial de ação, a célula fica totalmente refratária a novos estímulos, ou seja, enquanto durar a fase de repolarização será difícil a célula iniciar outro potencial de ação. Esse estado de ausência de resposta é chamado de período refratário absoluto. A célula fica refratária, pois grande fração de seus canais de Na+ está inativada pela voltagem, não podendo ser reaberto até que a membrana se repolarize. Após a fibra nervosa ter ficado repolarizada, os íons Na+ que penetraram no seu interior e os íons K+ que passaram para o exterior são “devolvidos” a seus locais de origem nas duas faces da membrana. Isso é realizado pela bomba sódio-potássio. Essa bomba transporta ativamente os íons Na+ que estão em excesso no interior da fibra para o meio externo, e os íons K+ na direção oposta. Dessa forma, esse processo restabelece as diferenças iônicas, repondo as concentrações em seus valores iniciais. A condução de um potencial de ação é como a queima de um pavio, uma vez que, o pavio é aceso em uma extremidade, apenas queima em um sentido. Da mesma forma um potencial de ação iniciado em uma extremidade de um axônio, apenas se propaga em um senti, ele não volta Fundamentos da Neurociências 36 pelo caminho já percorrido. A propagação envolve a geração de “novos” potenciais de ação conforme invadem a célula, ou seja, a propagação envolve ciclos recorrentes de despolarização para gerar um fluxo local de corrente suficiente para a geração de um potencial de ação nas áreas adjacentes da membrana celular. O potencial de ação pode ser gerado pela despolarização na metade do axônio, sendo conduzido nas duas direções simultaneamente. Entretanto, no sistema nervoso, os potenciais de ação, são inicialmente, gerados no segmento inicial (onde o axônio se une ao corpo do neurônio) e conduzidos para a extremidade terminal. O potencial de ação é gerado no segmento inicial do axônio porque esse segmento tem grande densidade de canais de Na+ controlados por voltagem, o que confere à membrana o menos limiar da célula. A velocidade na qual o potencial de ação se propaga ao longo do axônio depende de quão longe a despolarização se projeta à frente do potencial de ação e isso depende de características físicas do axônio. Portanto a velocidade aumenta com o diâmetro axonal. Os vertebrados desenvolveram uma solução para aumentar a velocidade de condução do potencial de ação: envolver o axônio com um material isolante chamado mielina. A bainha de mielina consiste em muitas voltas de membrana plasmática fornecidas por células gliais, as células de Schwan (localizadas no sistema nervoso periférico) ou de oligodendrócitos (no sistema nervoso central). Essa bainha não se estende continuamente ao longo do axônio, existem quebras no isolamento, são os chamados nodos de Ranvier (Figura 15). Fundamentos da Neurociências 37 Figura 15 – Desenhos esquemáticos de cortes transversais e longitudinais, do nodo de Ranvier, de célula de Schwann, em torno do axônio, formando a bainha de mielina. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Os canais de Na+ dependentes de voltagem, responsáveis pela geração do potencial de ação, são muito concentrados nos nodos de Ranvier. Por isso, o potencial de ação só é regenerado nos nodos de Ranvier, não sendo regenerados, continuamente, ao longo da fibra, como ocorre com fibras não-mielinizadas (Figura 16). Assim, o isolamento elétrico fornecido pela mielina ajuda a acelerar a condução do potencial de ação de um nodo a outro. Esse tipo de propagação é chamado condução saltatória. A grande velocidade de condução permite o desenvolvimento de reflexos rápidos e, também, suporta o processamento mental eficiente e complexo. Fundamentos da Neurociências 38 Figura 16 – Alterações da permeabilidade iônica e da voltagem durante o potencial de ação. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. Por fim, vale salientar que o potencial de ação é continuamente regenerado à medida que se propaga como uma onda ao longo do axônio. Essa informação é distribuída e integrada por outros neurônios ou até mesmo células musculares, e essa transferência de informação é chamada de transmissão sináptica. Dentrodesse contexto, é interessante lembrar que muitas doenças são decorrentes de alteração da geração e condução do potencial de ação. Dentre elas, podemos citar as arritmias cardíacas, a epilepsia e a esclerose múltipla. Assista:https://pt.khanacademy.org/science/health-and- medicine/nervous-system-and-sensory-infor/neuron-membrane- potentials-topic/v/neuron-action-potential-description Fundamentos da Neurociências 39 VOCÊ SABIA? A epilepsia é uma das principais desordens neurológicas, com ampla distribuição, chegando a afetar cerca 1% da população mundial. Os canais de Na+ dependentes de voltagem são um dos principais responsáveis pela rápida despolarização da membrana neuronal presente amplamente e de forma desordenada nos processos epilépticos. Outra família de canais iônicos dependentes de voltagem que tem se mostrado importante nos processos epilépticos são os canais de K+. Sua importância como alvo de drogas anticonvulsivantes tem sido descrita na literatura. Crianças com epilepsia constituem-se como um grupo educacional vulnerável apresentando risco elevado para desenvolver transtornos específicos do aprendizado e consequentemente comprometimentos no rendimento acadêmico, além de ajustamento psicossocial pobre, o que pode resultar em abandono da escola. Fundamentos da Neurociências 40 RESUMO: O potencial de ação origina-se graças a uma perturbação do estado de repouso da membrana celular, com consequente fluxo de íons, por meio da membrana e alteração da concentração iônica nos meios intra e extracelular. Os potenciais de ação iniciam da zona de gatilho se um único potencial graduado ou a soma de vários potenciais excederem a voltagem do limiar. Os potenciais graduados despolarizantes tornam mais provável que o neurônio dispare um potencial de ação. Os potenciais graduados hiperpolarizantes tornam menos provável que o neurônio dispare um potencial de ação. Os potencias de ação são uniformes, despolarizações tudo ou nada que conseguem percorrer longas distâncias sem perder a sua força. A fase ascendente do potencial de ação ocorre devido ao aumento da permeabilidade do Na+. A fase descendente do potencial de ação ocorre devido ao aumento da permeabilidade do K+. A bainha de mielina em torno de um axônio acelera a condução, aumentando a resistência da membrana e diminuindo o vazamento de corrente. Os axônios de diâmetro maior conduzem mais rapidamente os potenciais de ação do que os axônios de diâmetro menor. Os saltos visíveis dos potenciais de ação de um nó para outro são chamados de condução saltatória. Fundamentos da Neurociências 41 Introdução aos conceitos básicos de neuroquímica Nesta unidade vamos aprender como ocorre a transferência de informação entre as células do sistema nervoso, conhecida como transmissão sináptica. E qual o papel das sinapses no aprendizado e memória. SEÇÃO 1 – TRANSMISSÃO, INTEGRAÇÃO E MODULAÇÃO SINÁPTICA A transmissão sináptica refere-se à propagação dos impulsos nervosos de uma célula a outra. Esse fenômeno ocorre em estruturas celulares especializadas conhecidas como sinapse, na qual parte de um neurônio faz contato e se comunica com outro neurônio ou tipo celular (célula muscular ou glandular) (Figura 17). O sentido normal do fluxo de informação é do neurônio para célula-alvo, dessa forma o primeiro é chamado de neurônio pré-sináptico e o segundo de pós-sináptico. Figura 17 - Sinapse 4 Fundamentos da Neurociências 42 Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. Existem dois tipos de sinapses. As sinapses elétricas e as sinapses químicas. As sinapses elétricas são relativamente simples em estrutura e função e permitem a transferência direta da corrente iônica de uma célula para outra. Esse tipo de sinapse ocorre em sítios especializados, conhecidos como junções comunicantes. Nas junções comunicantes a membrana de uma célula está muito próxima a membrana da célula adjacente, cerca de 3nm e a conexão das junções é constituída por proteínas denominadas conexinas, que formam um canal chamado conéxon (Figura 18). Esse canal permite a passagem de íons e pequenas moléculas do citoplasma de uma célula para outra, portanto as sinapses elétricas são bidirecionais. Figura 18- Junções comunicantes Fonte: Adaptado de: Neuroscience. Third Edition. Edited by Dale Purves, et al., 2004. As sinapses elétricas são muito rápidas, dessa forma um potencial de ação no neurônio pré-sináptico pode produzir quase instantaneamente um potencial de ação no neurônio pós-sináptico (Figura 19). Nos últimos anos, estudos têm demonstrado que as sinapses elétricas estão presentes em todo o Sistema Nervoso Central (SNC) de mamíferos. As funções das sinapses elétricas variam de uma região encefálica para outra, Fundamentos da Neurociências 43 frequentemente são encontradas em regiões onde requer atividade altamente sincronizada e particularmente nos estágios iniciais da embriogênese. Por outro lado, ao contrário do que ocorre nas sinapses elétricas, nas sinapses químicas não existe comunicação direta entre o citoplasma das duas células. No sistema nervoso humano maduro a sinapse química é mais predominante. Nesse tipo de sinapse as membranas de uma célula pré- sináptica e outra pós-sináptica estão mais separadas do que nas sinapses elétricas, cerca de 20 a 50 nm. Esse espaço é chamado de fenda sináptica, sendo preenchido por uma matriz extracelular rica em proteínas fibrosas, cuja função é manter a adesão entre as membranas pré e pós-sinápticas (Figura 19). O lado pré-sináptico da sinapse geralmente é um terminal axonal, essa região é constituída de pequenas organelas esféricas delimitadas por uma membrana, conhecidas como vesículas sinápticas. Essas vesículas armazenam substâncias químicas, chamadas neurotransmissores, que fazem a comunicação com neurônios pós-sinápticos. As vesículas sinápticas são agrupadas no citoplasma adjacente às zonas ativas – regiões onde ocorrem os sítios de liberação de neurotransmissores. No neurônio pós-sináptico forma-se uma espessa camada proteica sob a membrana que é denominada densidade pós-sináptica. Essa região contém os receptores para os neurotransmissores, os quais convertem sinais químicos em sinal intracelular no neurônio pós-sináptico. Figura 19 – Sinapse elétrica e sinapse química Fundamentos da Neurociências 44 Fonte: Adaptado de: Neuroscience. Third Edition. Edited by Dale Purves, et al., 2004. A sinapses químicas ocorrem em diferentes partes dos neurônios. Tradicionalmente, tem-se focado nas sinapses entre um axônio e os dendritos ou soma de outra célula (sinapses axodendríticas). Entretanto, existem outros tipos de sinapses químicas, como axo-axônica (entre dois axônios), dendrodendrítica (entre dois dendritos) e dendrossomática (entre dendrito e soma). Além disso, as sinapses químicas podem existir fora do SNC. Elas podem ocorrer, por exemplo, entre o axônio de um neurônio motor da medula espinal e um músculo esquelético. Esse tipo de sinapse é chamado de junção neuromuscular e apresenta aspectos estruturais semelhantes aos das sinapses químicas do SNC. O terminal pré-sináptico contém um grande número de zonas ativas e a membrana pós-sináptica é chamada de placa motora terminal e contém dobras juncionais com receptores para os neurotransmissores. Fundamentos da Neurociências 45 SEÇÃO 2 – LIBERAÇÃO DE NEUROTRANSMISSORES E SEUS RECEPTORES A transmissão na sinapse química é iniciada pela despolarização da membrana pré-sináptica, desencadeada pelo potencial de ação, levando a abertura de canais de cálcio (Ca+2) dependentes de voltagem nas zonas ativas.Esse fenômeno favorece a entrada de Ca+2 na célula, esse aumento na concentração intracelular de Ca+2 nas zonas ativas, cria uma região chamada de microdomínio, que dura menos de um milissegundo, favorecendo a liberação de neurotransmissores que estão armazenados nas vesículas sinápticas. Esse processo é chamado de exocitose e ocorre rapidamente, porque o Ca+2 entra exatamente onde as vesículas estão prontas e “esperando” para liberar seus conteúdos, assim, a membrana da vesícula sináptica se funde com a membrana pré-sináptica permitindo que o conteúdo (neurotransmissores) seja liberado na fenda. O mecanismo pelo qual o aumento da concentração de Ca+2 intracelular leva à exocitose ainda não é completamente compreendido, mas sabe-se que esse processo depende de uma família de proteínas denominadas SNAREs (do inglês – soluble N- Ethylmaleimide- sensitive fusion protein attachment proteins receptors), que permitem que uma membrana seja atracada a outra. Após a liberação de seu conteúdo, existem dois mecanismos distintos pelos quais as vesículas são recuperadas. Um mecanismo é chamado de endocitose, no qual ivaginações formadas na membrana plasmática formam vesículas revestidas no citoplasma do terminal sináptico. Essas vesículas perdem seu revestimento e adquirem um revestimento proteico adequado, para serem novamente cheias com neurotransmissores e se tornarem de novo vesículas sinápticas prontas para serem liberadas. Outro mecanismo envolve a fusão transitória da vesícula com a membrana sináptica, chamado de beije e fuja (kiss and run). Nesse caso a fusão da vesícula com a membrana plasmática, leva à formação de um poro pelo qual o transmissor é liberado, mas não ocorre o colapso da vesícula com a membrana. Assim, a vesícula retém sua identidade molecular. Fundamentos da Neurociências 46 Os neurotransmissores são os mediadores da sinalização química entre os neurônios. Para que uma substância seja considerada um neurotransmissor, ela deve preencher os seguintes critérios: 1) estar presente no terminal pré-sináptico e a célula deve ser capaz de sintetizá-la; 2) ser liberada durante a despolarização do terminal e 3) existir receptores específicos na membrana pós-sináptica. Atualmente três categorias de neurotransmissores são conhecidas: aminoácidos, aminas e peptídeos. Figura 20 – Principais neurotransmissores Fonte: Autor, 2019. Uma vez que, o neurotransmissor é liberado na fenda sináptica, ele se difunde por ela e se une a receptores específicos na membrana pós- sináptica. Esses receptores são divididos em dois grupos: canais iônicos controlados por ligantes, conhecidos como receptores ionotrópicos, e receptores acoplados à proteína G, conhecidos como receptores metabotrópicos (Figura 21). Os receptores ionotrópicos são proteínas transmembrana, compostas por 4 ou 5 subunidades, que formam um poro Fundamentos da Neurociências 47 entre elas. A união do neurotransmissor no seu sítio específico leva à abertura desse canal. Com relação aos receptores metabotrópicos, uma vez que o neurotransmissor se une ao receptor, ativa uma proteína G, a qual se move ao longo da face intracelular da membrana e ativa proteínas efetoras que podem ser canais iônicos ou enzimas que sintetizam segundo mensageiros que ativam uma série de enzimas no citosol, alterando o metabolismo celular. Além disso, esses receptores podem ser encontrados na membrana pré-sináptica, sendo sensíveis aos neurotransmissores liberados no próprio terminal pré-sináptico, denominados autorreceptores, os quais parecem desempenhar a função de reduzir a liberação de neurotransmissores, quando esses atingem concentrações muito altas na fenda sináptica. Figura 21 – Tipos de receptores. (A) receptores ionotrópicos e (B) receptores metabotrópicos. Fonte: Adaptado de: Neuroscience. Third Edition. Edited by Dale Purves, et al., 2004. Assim que os neurotransmissores são liberados na fenda sináptica e tenham interagido com seus receptores pós-sinápticos, eles devem ser removidos da fenda. Essa retirada, para a maioria dos neurotransmissores do tipo aminoácidos e aminas, é feita através da receptação para dentro do terminal pré-sináptico por transportadores proteicos presentes na membrana, no citosol, os neurotransmissores podem ser degradados por enzimas ou novamente estocados em vesículas. Esses transportadores também estão presentes nas células da glia, que auxiliam na remoção de Fundamentos da Neurociências 48 neurotransmissores da fenda sináptica, principalmente o glutamato (principal neurotransmissor excitatório do SNC de mamíferos). Outra forma de cessar a ação do neurotransmissor é pela degradação enzimática na própria fenda, como é o caso da acetilcolina que é removida da junção neuromuscular pela ação da acetilcolinesterase. Dentro desse contexto fica evidente que a compreensão da transmissão sináptica é de suma importância, visto que defeitos na neurotransmissão são a base de muitos distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Além disso, praticamente todas as drogas psicoativas, terapêuticas ou não, exercem efeitos sobre as sinapses químicas. SEÇÃO 3 – O PAPEL DAS SINAPSES NO APRENDIZADO E NA MEMÓRIA Vamos aprofundar o assunto aprendizagem e memória na Unidade V, mas para compreender o papel das sinapses no aprendizado e memória é preciso esclarecer de modo simples a diferença entre esses dois parâmetros. Sendo assim, o aprendizado pode ser definido como a aquisição de novas informações ou novos conhecimentos. Já a memória é a retenção da informação aprendida. Não há uma estrutura encefálica ou um mecanismo celular que, sozinho seja encarregado de todo o aprendizado. Além disso, a forma como determinado tipo de informação é armazenada pode mudar com o tempo. Durante as últimas décadas, a pesquisa avançou de modo significativo na análise e na compreensão do aprendizado e da memória. Dentre os mecanismos celulares estudados, o mecanismo sináptico tem sido bem estabelecido para compreender o aprendizado e memória. Uma série de eventos intracelulares é necessária para que ocorram as modificações estruturais na sinapse requerida para o aprendizado. Dessa forma, novas sinapses são formadas e antigas se fortalecem. Esse fenômeno, denominado de plasticidade sináptica, é observado em todas as regiões do cérebro. Fundamentos da Neurociências 49 Um elemento chave nesses eventos é uma via de transdução de sinal, via das MAPKs (proteína cinase ativada por mitógeno) que são proteínas sinalizadoras importantes ativadas por neurotransmissores e por fatores de crescimento. Um membro dessa família é a cinase regulada por sinais extracelulares (ERK), cuja sua ativação é requerida para a formação de novas memórias. A ativação dessa via leva à síntese proteica, por meio da fosforilação de fatores de transcrição. O fortalecimento persistente destas sinapses ativadas (conexões) entre os neurônios é chamado potenciação de longa duração (LTP), a LTP é o mecanismo celular mais reconhecido para explicar a memória, porque ela pode alterar a força entre as conexões de células do cérebro. Se esta força é mantida, uma memória pode ser formada. Potenciação de longa duração acontece quando há um aumento da resposta pós-sináptica (por horas, dias ou meses) após uma breve estimulação pré-sináptica repetitiva. O glutamato, principal neurotransmissor excitatório do SNC de mamíferos é o elemento chave desse processo (Figura 22). Da mesma forma, a sua capacidade de lembrar de certas memórias depende de manter a força dessa ligação de longo prazo entre contatos sinápticos. A potenciação de longa duração age como um cabo Ethernet1 – permitindo que o seu cérebro possa carregar, descarregar e processar a uma taxa superior – o que pode explicar por que algumas memórias são mais vivas doque outras: o caminho em que você os contatar realiza em um ritmo mais rápido. “O cérebro é um órgão plástico”. Isso significa que ele pode facilmente reconfigurar ou modificar-se. Se você não o usar irá perdê-lo. À medida que as sinapses e vias entre os neurônios são utilizados, eles ganham a capacidade de se tornar fortalecida ou permanentemente melhorada. Este é o bloco de construção de como funciona a memória. Fundamentos da Neurociências 50 Figura 22 – Potenciação de Longa Duração (LTP) Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 1 A Ethernet (também conhecida como norma IEEE 802.3) é um padrão de transmissão de dados para rede local baseada no seguinte princípio: todas as máquinas da rede Ethernet estão conectadas a uma mesma linha de comunicação, constituída por cabos cilíndricos. Fundamentos da Neurociências 51 ESUMO: Nas sinapses elétricas, um sinal elétrico passa diretamente do citoplasma de uma célula à outra através de junções comunicantes. As sinapses químicas utilizam neurotransmissores para transmitir a informação de uma célula à outra, uma vez que os neurotransmissores se difundem através da fenda sináptica para se ligarem aos seus receptores nas células- alvo. Os receptores para neurotransmissores são ou canais iônicos dependente de ligante (receptores ionotrópicos) ou receptores acoplados à proteína G (receptores metabotrópicos). Os neurotransmissores são sintetizados no corpo celular ou no terminal axonal. Eles são armazenados nas vesículas sinápticas e liberados por exocitose quando um potencial de ação chega ao terminal axonal. A ação dos neurotransmissores é rapidamente finalizada pela receptação dos mesmos pela célula, pela difusão para longe da sinapse ou pela degradação enzimática. A transmissão sináptica pode ser modificada em resposta à atividade na sinapse, um processo denominado plasticidade sináptica. Os receptores acoplados à proteína G ou geram potenciais sinápticos lentos ou modificam o metabolismo celular. Os canais iônicos geram potencias sinápticos rápidos. A potenciação de longa duração e a depressão de longa duração são mecanismos pelos quais os neurônios alteram a força das suas conexões sinápticas. Fundamentos da Neurociências 52 Introdução aos conceitos básicos de neuropsicologia Nesta unidade vamos compreenderconceitos básicos de neuropsicologia e neurociências para estudar assuntos como linguagem, memória e aprendizado SEÇÃO 1 – NEUROPSICOLOGIA COGNITIVA E NEUROCIÊNCIAS A Neuropsicologia é um ramo da psicologia que, considerando as variáveis biológicas, socioafetivas e culturais, se une à neurociência para estabelecer as relações entre o funcionamento do sistema nervoso, especialmente o cérebro, com as funções cognitivas (linguagem, memória e percepção), e a expressão comportamental, tanto nas suas condições normais quanto nas patológicas. A Neuropsicologia Cognitiva tem incrementado a demanda de produções a partir das trocas de informações, material teórico e experiência clínica. Sem perder o perfil tradicional, a neuropsicologia mantem-se estudando a localização e organização funcional, bem como a ação dinâmica de seus componentes. A psicologia cognitiva, mais do que o nível de analise teórica, ganhou maior clareza e agilidade na comprovação de suas hipóteses. A formação de grupos interdisciplinares parece ser uma tendência viável para a ciência do novo milênio. Por exemplo, as neurociências englobam: o estudo da neuroanatomia; neurofisiologia; neuroquímica e as ciências do comportamento (psicofísica, psicologia cognitiva, antropologia e linguística). Essas áreas de estudo tiveram um período de isolamento maior entre si, até por volta de 1970. Atualmente, poucas mudanças 5 Fundamentos da Neurociências 53 ocorreram em termos de objetos de estudo, contudo, os neurocientistas têm atuado de forma mais sincronizada e harmoniosa, “monitorando” os resultados entre as áreas. Essa mudança de atitude tem gerado maior rapidez e aumento do conhecimento sobre o cérebro e do controle que ele exerce sobre o comportamento. Sendo assim a neuropsicologia cognitiva e a neurociências estudam assuntos em comum como, linguagem, memória e aprendizado, que serão abordados nas seções subsequentes. SEÇÃO 2 – NEUROBIOLOGIA DA LINGUAGEM A linguagem humana é um sistema de comunicação incrivelmente complexo, flexível e poderoso, que envolve o uso criativo das palavras de acordo com as regras de uma gramática sistemática. Comparados com humanos, entretanto, os primatas não-humanos possuem um sistema de comunicação muito limitado, empregado em situações estereotipadas. A linguagem humana é um sistema muito mais criativo, onde novas combinações de palavras e sentenças estão constantemente sendo feitas e essas combinações possuem significados claros, de acordo com os significados das palavras individuais mais as regras para o seu arranjo. O fato de a linguagem ser ou não uma característica exclusiva de humanos parece envolver uma questão de definição. Os animais certamente comunicam-se, e, para alguns cientistas os sistemas de comunicação são suficientemente sofisticados para serem considerados uma linguagem rudimentar. Para outros, a distância entre a linguagem humana e os sistemas de comunicação dos animais é grande demais para se concluir que os animais usam uma linguagem. Qualquer que seja a conclusão, é importante distinguir entre linguagem e inteligência. A linguagem não é necessária para se pensar. Por exemplo, macacos, assim como humanos que cresceram sem qualquer linguagem, podem fazer muitas coisas que demandam abstrato. Fundamentos da Neurociências 54 Como em muitas áreas da neurociência, somente no século XX é que houve um razoável desenvolvimento na compreensão da relação entre linguagem e encéfalo. Muito do que se sabe sobre a importância de certas áreas cerebrais provém de estudos acerca de afasias – perda parcial ou completa das capacidades da linguagem em função de lesões encefálicas, muitas vezes sem a perda das capacidades cognitivas ou de mover os músculos utilizados na fala. Um dos achados marcantes dentro da área da linguagem foi publicado por Paul Broca em 1863, descrevendo oito casos, nos quais a linguagem estava comprometida por lesão no lobo frontal do hemisfério esquerdo. Um ano depois, Broca propôs que a expressão da linguagem é controlada apenas por um hemisfério, quase sempre o esquerdo. Esse ponto de vista é apoiado por um procedimento mais moderno de determinação do papel dos dois hemisférios na linguagem, chamado de procedimento de Wada, no qual um único hemisfério cerebral é anestesiado. Na maioria dos casos a anestesia do hemisfério esquerdo, mas não do direito, bloqueia a fala. Quando um hemisfério está mais intensamente envolvido em uma determinada tarefa, dizemos que ele é dominante para essa tarefa a região do lobo frontal esquerdo dominante, que Broca identificou como sendo crítica para a articulação da fala, veio a ser conhecida como área de Broca. Dez anos depois, Karl Wernicke mostrou que lesões no hemisfério esquerdo, em uma região distinta da área de Broca, também prejudicavam a fala normal. Localizada na superfície superior do lobo temporal, entre o córtex auditivo e o giro angular, essa região é atualmente chamada de área de Wernicke. Assim, foram feitas hipóteses acerca de interconexões entre o córtex auditivo, a área de Wernicke, a área de Broca e os músculos necessários para a fala, e diferentes tipos de incapacidades relacionadas à linguagem foram atribuídas a lesões em diferentes partes desses sistemas. A habilidade da linguagem requer a entrada de informações sensoriais (principalmente da