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Gestao_da_Orientação_Escolar_20183_PED_SEC

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PEDAGOGIA
GESTÃO DA ORIENTAÇÃO 
ESCOLAR
 Maria da Conceição Mussio Bittencout
(Reformulação) Ademir Pinto Adorno de 
Oliveira Junior
http://unar.info/ead
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DA ORIENTAÇÃO ESCOLAR 
 
 
 
 
 
Maria da Conceição Mussio Bittencout 
(Reformulação) Ademir Pinto Adorno de Oliveira Junior 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 2 
PROGRAMA DA DISCIPLINA ................................................................................................................. 3 
UNIDADE 1 - ORIGENS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: 
CONCEITOS E SIGNIFICADOS .............................................................................................................. 6 
UNIDADE 02 - A LEGISLAÇÃO E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ................................................. 11 
UNIDADE 03 - RELAÇÃO ENTRE LEIS ORGÂNICAS E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL .................. 16 
UNIDADE 04 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCIPAIS TEORIAS E TENDÊNCIAS .............. 22 
UNIDADE 05 - CONSTRUTIVISMO ..................................................................................................... 28 
UNIDADE 06 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A EVOLUÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA DA 
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ............................................................................................................ 34 
UNIDADE 07 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COTIDIANO ESCOLAR ................................ 39 
UNIDADE 08 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O FRACASSO ESCOLAR .................................. 46 
UNIDADE 09 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL EM SUAS DIMENSÕES FILOSÓFICAS, 
POLÍTICAS, SOCIAIS E PEDAGÓGICAS .............................................................................................. 53 
UNIDADE 10 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA ....................... 57 
UNIDADE 11 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR .................................. 63 
UNIDADE 12 - A ATUAÇÃO DA ORIENTAÇÃO NAS QUESTÕES DE TRABALHO .......................... 69 
 
 
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APRESENTAÇÃO 
 
Prezado Aluno 
 Ao iniciar a preparação desse curso perguntei a mim mesma: “Qual lado da 
moeda vou mostrar aos meus futuros orientadores educacionais?” O lado da nobreza 
de tal função, que quando competentemente desempenhada transfigura toda uma 
unidade escolar e faz dela um recanto de satisfação e aprendizagens para ele, para os 
professores, para os alunos, e enfim... para a escola inteira; ou o lado das idas e vindas 
na maneira como foi tratada, compreendida e aceita essa função dentro das escolas e 
nos sistemas escolares? Para não ser omissa considerei necessário abordar os dois 
lados da moeda. O orientador escolar caminhando sempre à margem das políticas 
educacionais estiveram à mercê das transformações pelas quais passou a nossa 
sociedade e a sociedade do mundo, mudou de posição no decorrer do jogo, várias 
vezes, sempre com a determinação de cumprir as suas tarefas de maneira digna, 
embora nem sempre bem aceita. Chegaram a serem colocados fora de jogo, como 
peças dispensáveis, para a vitória na batalha. Ledo engano! Sem essa peça, a 
engrenagem emperrou e novas considerações os recolocaram em posições mais 
adequadas, propiciando-lhe a oportunidade de mostrarem a sua importância e o seu 
valor na dura luta que o Brasil trava na sua busca por uma educação justa, humana e 
equitativa para todas as nossas crianças e jovens. 
 O jogo, não terminou, e nunca terminará, dado que o mundo e as suas 
sociedades estão sempre passando por novas fases, novas ideias, novas 
transformações. Competência e adaptabilidade são qualidades que eu desejo que 
vocês adquiram no transcorrer caminho como orientadores e supervisores, agregando 
essas qualidades às dos outros companheiros que buscam uma excelência para a 
educação brasileira. 
Um forte abraço 
 Maria Conceição
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PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
Ementa: Fundamentos históricos e as bases legais da Orientação Escolar. A organização 
pedagógica do orientador: atendimento, intervenções, projetos e assistência ao 
docente, aluno e família. Dimensões cognitivas, familiares, sociais e afetivas do processo 
educativo: análise, interpretação e meios de intervenção no âmbito escolar. 
 
Objetivos 
 Compreender a evolução do conceito de orientação educacional. 
 Conhecer as teorias que influenciaram o serviço de orientação educacional 
 Reconhecer o papel do orientador educacional 
 Refletir a sobre a orientação vocacional 
 Contribuir para a compreensão de que a qualidade da educação é mediada pela 
ação dos profissionais que atuam na reflexão, gestão e regulação dos processos 
ensino-aprendizagem e sistemas de ensino. 
 Propiciar elementos teóricos e referências legais para a compreensão do sistema 
educacional brasileiro, com ênfase na ação do coordenador pedagógico e da 
orientação. 
 
Conteúdos Programáticos 
Origens da orientação educacional e a orientação educacional: conceitos e significados 
A Orientação Educacional: Conceitos e Significados 
A legislação e a orientação educacional 
Relação entre Leis Orgânicas e Orientação Educacional 
A Orientação Educacional nas leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
A Orientação Educacional: Principais teorias e tendências 
Construtivismo 
A Orientação Educacional e a Evolução Teórico-Prática da Orientação Educacional 
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A orientação educacional e o cotidiano escolar 
A Orientação Educacional e a Realidade Cultural do País 
A Orientação Educacional e o fracasso escolar 
A Orientação Educacional face ao fracasso escolar 
A Orientação Educacional em suas dimensões filosóficas, políticas, sociais e 
pedagógicas 
A Orientação educacional e a organização da escola 
A escola e seus avanços 
A Orientação educacional no contexto escolar 
A construção de uma escola de qualidade 
A atuação da orientação nas questões de trabalho 
A Orientação Educacional, Hoje, nas Escolas. 
 
Metodologia 
Será adotada uma metodologia que alia a teoria à prática reflexiva, proporcionada por 
meio de questionamentos que permitam ao aluno enriquecer os seus conhecimentos 
necessários à sua formação de profissional da educação. 
 
Avaliação 
No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, 
se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, 
todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, 
diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades 
avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de 
estabelecimento de prazos. 
A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes 
instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 
1) Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares; 
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2) Provas realizadas presencialmente; 
 
As estratégias de recuperação incluirão: 
1) Retomada eventual dos conteúdos abordados nas unidades, quando não 
satisfatoriamente dominados pelo aluno. 
 
Bibliografia Básica 
ABELIN, L, SIQUEIRA. A. M. –“Orientação Educacional: novas dimensões para pais e 
professores” – Editora Vozes, 1998. 
GRINSPUN, Mirian P. S. Z. – “Orientação Educacional conflito de paradigmas e 
alternativas para a escola” – Editora Cortez, 2011; 
ALVES, N. e GARCIA, R. L. O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores 
educacionais. São Paulo: Loyola, 1996. 
 
Bibliografia Complementar: 
GARCIA, R. L. MAIA, E. M. Uma orientação educacional para uma nova escola. São 
Paulo:Loyola, 1996. 
GIACAGLIA, L. Orientação educacionalna prática: princípios, técnicas e instrumentos. 
São Paulo: Pioneira, 1997. 
 
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UNIDADE 1 - ORIGENS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A 
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITOS E SIGNIFICADOS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Explicitar as origens da Orientação Escolar. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Ao buscarmos o conceito etimológico de educação, encontraremos nos vocábulos 
latinos, educare, educere, as fontes iniciais da origem histórica da própria Orientação: 
educare significa guiar, nortear, orientar o indivíduo; e educere, buscar as 
potencialidades do individuo no sentido de fazê-las vir de “dentro para fora”. 
Identificamos, dessa forma, uma estreita relação da Orientação com a educação, 
fazendo com que suas histórias sejam coincidentes. 
Do ponto de vista institucional, a trajetória da Orientação Educacional tem início 
na Orientação Vocacional, voltada para a escolha de uma profissão ou ocupação. Em 
1908, Frank Parsons, considerado o precursor desse movimento (Boston), inicia a 
orientação de seus alunos fora dos sistemas educativos formais. Todos os países que 
implantaram a Orientação Educacional nas escolas, ou mesmo fora delas, mantiveram 
essa característica marcante: Orientação Vocacional e aconselhamento, que marcou, 
significativamente, toda sua trajetória. Ela surge, no contexto mundial, com os 
movimentos em prol da psicometria, da revolução industrial, da saúde mental e das 
novas tendências pedagógicas que a impulsionam. A Orientação Educacional surge nas 
escolas, em 1912, em Detroit, nos Estados Unidos, com Jesse Davis, ainda com a 
característica de atender à problemática vocacional e social dos alunos. 
 A Orientação Educacional foi implantada, na década de 20, no Brasil, quando 
eclode todo um movimento em prol da educação do povo. A Educação representaria 
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para o povo uma ascensão social, pela via escolaridade, abafando, dessa forma, os 
descontentamentos com a grave crise social e política da década de 20. Ao final dessa 
década, começam a surgir reformas educacionais em diferentes estados, como Ceará, 
Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia, Pernambuco, enfatizando os aspectos inerentes à 
formação de uma sociedade democrática, em que os alunos experienciassem as 
questões da liberdade no interior da escola. 
 De um lado, havia o “interesse do governo” em promover a escolarização de seu 
povo; do outro, intelectuais, no poder, assumindo as reformas educacionais em seus 
Estados. Foi sendo configurado um ambiente propício à Orientação, porque ela poderia 
contribuir para a melhoria da educação e ter um lugar certo nas reformas, uma vez que 
os modelos importados tinham grande receptividade no Brasil. 
 A Orientação também atendia aos “desejos” da época, uma vez que se voltava 
para aptidões naturais como forma de endosso e valorização nas atividades sociais, 
fazendo crer que todos teriam a mesma oportunidade nas escolhas efetuadas e nas 
decisões tomadas. 
 As primeiras experiências da década de 20 surgem com os trabalhos de Roberto 
Mange, engenheiro suíço que iniciou, em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios, em São 
Paulo, os primeiros trabalhos para a criação de um serviço de seleção e orientação 
profissional para alunos do curso de Mecânica. Seu trabalho teve a ajuda de Henri 
Pièron e de sua esposa. Outro dado significativo para implantação da Orientação pode 
ser detectado na década de 30, em que na Estrada de Ferro Sorocabana, ainda sob a 
direção de Mange e de seu colaborador Ítalo Bologna, teve início um serviço de 
seleção, orientação e formação de alunos em cursos de aprendizagem mantidos por 
aquela instituição. Esses serviços deram origem, em 1934, à criação do Centro 
Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP), que passou a ser modelo para 
outras ferrovias do país. Dentre os princípios que regiam os trabalhos do CFESP, 
encontra-se a seleção profissional baseada no conhecimento das características 
individuais e nas aptidões para determinadas funções e ocupações. 
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 Em 1931, Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de Orientação 
Profissional no Brasil, que depois prosseguiu no Instituto de Educação da Universidade 
de São Paulo, tendo sido extinto em 1935. 
 Em termos de tentativas isoladas de Orientação, nos moldes americanos e 
europeus, começam a serem estruturados os serviços de orientação nas escolas, cuja 
experiência pioneira é de Aracy Muniz Freire e de Maria Junqueira Schmidt, no Colégio 
Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, em 1934. 
 Com o movimento dos educadores, que reagiram ao desinteresse político pela 
educação através do “Manifesto dos Pioneiros” de 1932, aparece um alerta às causas e 
princípios educacionais, exigindo uma educação integral com base nas aptidões 
naturais e um trabalho mais dinâmico e ativo para os alunos. 
 Dois anos após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, a 
Associação Brasileira de Educação (ABE) ofereceu um Curso de Extensão sobre 
Orientação Educacional, aberto a professores interessados em ser orientadores. Nesse 
curso, que teve como professores Lourenço Filho, Capanema, Faria Góes e Abgar 
Renault, etc., foram discutidos os aspectos teóricos e técnicos da Orientação 
Educacional. Esses intelectuais, posteriormente, seriam os formuladores dos objetivos 
da Orientação Educacional e da conceituação que aparece nas Leis de Ensino, em 1942. 
 Pela Reforma Capanema (1942), a Lei Orgânica do Ensino Industrial institui o 
Serviço de Orientação Educacional, e o Brasil torna-se o primeiro país no mundo a ter a 
Orientação Educacional proclamada obrigatória através de documento legal. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A Orientação Educacional: Conceitos e Significados 
 O conceito de Orientação Educacional acompanha sua trajetória histórica, 
especialmente na realidade brasileira. Seus diferentes significados conceituais estão 
relacionados à própria questão epistemológica da Orientação e ao tratamento que lhe 
é emprestado ao ser analisada sob os enfoques que a dimensionam. 
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 Isabel Junqueira Schmidt, em seu livro Orientação Educacional, de 1942, diz que 
no Brasil esse termo equivale ao “guidance” (controle, direção, governo) do inglês, mas 
que, para “evitar mal-entendidos, adotamos orientação nos estudos, correspondendo à 
orientação educacional, em inglês, quando empregada no seu verdadeiro sentido”. A 
concepção inicial de Orientação, no Brasil, era de cunho psicológico, terapêutico e 
corretivo. Era o “counseling”(aconselhamento), mas o significado que lhe emprestavam 
na sua implantação, conforme Junqueira Schmidt, era o pedagógico e escolar, já que o 
orientador deveria “se preparar para resolver satisfatoriamente todos o problemas que 
defronta o adolescente”, que iam de problemas de saúde e desenvolvimento físico, a 
problemas de sexo, sociais e econômicos. 
 Em 1988, no X Congresso Brasileiro de Orientação Educacional, no Rio de Janeiro, 
Paulo Nosella, após ter feito sua conferência sobre “Ideologia e Trabalho”, respondeu a 
uma orientadora educacional que lhe havia perguntado como fazer Orientação 
Educacional, dizendo que ele não poderia dar receitas, mas que deveríamos percorrer o 
caminho da identidade política, “se reconheça e estude teoricamente; se reconheça e 
participe das lutas sindicais, das lutas dos grupos e participe da luta político-partidária”. 
 Já o 1º Simpósio de Orientação Educacional, em 1957, apresentava o orientador 
educacional como “uma aparição do amor e da verdade”, que deveria possuir o dom 
do acolhimento: “seu coração universal deve poder alojar no seu carinho, a cada um 
segundo, a necessidade do momento”. Uma visão humanística que acompanhou todo 
o percurso da Orientação Educacional no Brasil. 
 O conceito de Orientação Educacional se reveste de três dimensões, construídascomo respostas às exigências históricas de cada momento. São elas: Legalista – 
determinada pela maneira como a legislação abordava a Orientação Educacional; 
funcionalista – resultou da prática da orientação a partir da realidade e das expectativas 
da comunidade escolar; realista – construída pelos próprios orientadores, como prática 
pedagógica que se torna legítima pela sua própria necessidade. 
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 A análise da Orientação Educacional assinala essa complexidade de que a mesma 
é revestida, tanto na concepção de seu significado, como na efetivação de sua prática 
na realidade brasileira. 
 Para definir conceito e funções da Orientação, temos que recorrer a sua trajetória 
histórica, analisando as diferentes fontes e origens de sua prática, no processo 
educacional, e às razões de sua conceituação ter sofrido um processo evolutivo ao 
longo da própria história da educação. À medida que a Orientação passou de uma 
abordagem psicológica para uma abordagem mais pedagógica, foram sendo gerados 
novos conhecimentos que levavam a Orientação a uma configuração própria, de 
acordo com os princípios que ela buscava alcançar. Por outro lado, o processo de 
institucionalização dessa área nos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus, de 
acordo com a Lei nº 5692/71, trouxe à Orientação uma concepção legal obrigatória que 
incluía aconselhamento vocacional, para o qual ela não tinha respaldo psicológico, nem 
pedagógico. Configura-se mais ainda a complexidade da Orientação, quando, na 
própria comunidade acadêmica, há uma identificação de Orientação pelo aspecto da 
divisão do trabalho pedagógico dentro da escola, e a Orientação em vez de somar 
esforços para a melhoria do processo educacional, passou a ser percebida como uma 
divisão de forças na consecução dos objetivos pretendidos. A divisão social do trabalho, 
que ocorre na sociedade, foi também transplantada para dentro da escola, sendo as 
atribuições dos professores colocadas em contraposição às atribuições dos 
especialistas. 
 A Educação é uma prática social e a Orientação deve ser vista como uma prática 
que ocorre dentro da escola, mas cujas atividades podem e devem ultrapassar seus 
muros; uma prática que caminha no sentido da objetividade, da subjetividade e da 
totalidade da Educação, na busca das finalidades de um projeto político-pedagógico 
formulado para a escola, em favor de seus próprios alunos. 
 
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UNIDADE 02 - A LEGISLAÇÃO E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Explicitar a importância de se conhecer a legislação educacional. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Conhecer a legislação educacional do país é importante, no caso da Orientação 
Educacional, porque através dela é possível detectar: 
a) quais as ideias básicas que os legisladores tinham a respeito das funções da 
orientação e das atribuições do orientador; 
b) como a prática da Orientação foi influenciada por embasamentos teóricos 
que determinavam seu estilo de vida profissional; 
c) como os conceitos expressos nas leis obrigou o orientador a seguir 
fundamentos teóricos incompatíveis com nossa realidade sócio-econômica-
cultural, levando a resultados inadequados. 
Uma análise e interpretação da Orientação Educacional só pode ser feita e 
compreendida, considerando uma situação e período de tempo específicos dos 
documentos legais. Para tanto, relacionaremos decisões da legislação educacional 
desde 1931. 
 1931 – A Reforma Francisco Campos, do Ensino Comercial, previu o serviço de 
Orientação Profissional com o objetivo de orientar os alunos que, ao terminarem o 
curso propedêutico, de acordo com os testes organizados pelo Conselho de Ensino 
Comercial, iriam para os cursos técnicos subsequentes. Essa seleção seria feita por uma 
comissão composta de um fiscal, que serviria de presidente; o diretor da escola e três 
professores do estabelecimento. 
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 1933 – Uma reforma no sistema escolar de São Paulo, feita por Fernando 
Azevedo, então Diretor Geral de Instrução, determinou que, no Código de Educação do 
Estado, ficasse prevista a formação de administradores escolares, técnicos e 
orientadores de ensino. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 Para cumprir os dispositivos da Constituição de 1937, no seu Artigo 129, em que a 
Orientação Educacional aparece no ensino profissional, mas destinada às classes menos 
favorecidas, o Ministro da Educação, Gustavo Capanema, apresentou um conjunto de 
reformas que recebeu o nome de Leis Orgânicas. A importância das Leis Orgânicas está 
no fato de que nelas se encontram, pela primeira vez, referencias explicitas à 
Orientação Educacional. São elas: 
 
a) 1942 (30/01/1942) – Decreto Lei nº 4.073 – Lei Orgânica do Ensino Industrial – 
que traz no seu Capítulo XIII – Da Orientação Educacional 
Art.50 – “Instituir-se-á, em cada escola industrial ou escola técnica, a orientação 
educacional, que busque, mediante a aplicação de processos pedagógicos adequados, 
e em face da personalidade de cada aluno, e de problemas, não só a necessária 
correção e encaminhamento, mas ainda a elevação das qualidades morais”. 
Art.51- “Incumbe também à orientação educacional nas escolas industriais e escolas 
técnicas, promover, com o auxilio da direção escolar, a organização e o 
desenvolvimento, entre os alunos, de instituições escolares, tais como as cooperativas, 
as revistas e Jornais, os clubes ou grêmios, criando, na vida dessas instituições, num 
regime de autonomia, as condições favoráveis à educação social dos escolares”. 
Art.52 – “Cabe ainda à orientação educacional valor no sentido de que o estudo e o 
descanso dos alunos decorram em termos da maior conveniência pedagógica”. 
 
 
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b) 1942 (09/04/1942) – Decreto Lei nº 4.244 – Lei Orgânica do Ensino Secundário – 
que traz em seu Capítulo VI – Da Orientação Educacional: 
Art.80 – “Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino secundário, a orientação 
educacional”. 
Art.81 – “É função da orientação educacional, mediante as necessárias observações, 
cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos estudos e 
na escolha da sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos, sempre em 
entendimento com a sua família”. 
Art.82 – “Cabe ainda à orientação educacional cooperar com os professores no sentido 
da boa execução, por parte dos alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir 
segurança e atividade aos trabalhos complementares e velar por que o estudo, a 
recreação e o descanso dos alunos decorram em condições da maior conveniência 
pedagógica”. 
 
 
c) 1943 (28/12/1943) – Decreto Lei nº 6.141 – Lei Orgânica do Ensino Comercial – 
que traz no seu Capitulo VI – Da Orientação Educacional e Profissional –: 
Art.39 – “Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino comercial, a orientação educacional 
e profissional”. 
Art.40 – “É função da orientação educacional e profissional, mediante as necessárias 
observações, velar no sentido de cada aluno execute satisfatoriamente os trabalhos 
escolares e em tudo o mais, tanto no que interessa à sua saúde quanto no que respeita 
aos seus assuntos e problemas intelectuais e morais, na vida escolar e fora dela, se 
conduza de maneira segura e conveniente, e bem assim se encaminhe com acerto na 
escolha ou nas preferencias de sua profissão”. 
Art.41 – “A orientação educacional e profissional estará continuamente articulada com 
os professores e, sempre que possível, com a família dos alunos”. 
 
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Posteriormente, no governo provisório de José Linhares, tendo como ministro Leitão 
da Cunha, foram promulgados os seguintes Decretos-Lei que completam na sequência 
e no espírito, as Leis Orgânicas: 
 
d) 1946 (02/01/1946) – Decreto Lei nº 8.259 – Lei Orgânica do Ensino Primário – que 
traz no seu Capitulo IV – De Orientação Geral do Ensino Primário Fundamental –: 
Art.10 –“O ensino primário fundamental deverá, atender aos seguintes princípios: 
a) Desenvolver-se de modo sistemático e graduado, segundo, os interesses naturais da 
infância; 
b) Ter como fundamento didático as atividades dos próprios discípulos; 
c) Apoiar-se nas realidades do ambiente em que se exerça, para que sirva à sua 
melhor compreensão e mais proveitosa utilização; 
d) Desenvolver o espirito de cooperação e o sentimento de solidariedade social; 
e) Revelar as tendências e aptidões dos alunos, cooperando para seu melhor 
aproveitamento no sentido do bem estar individual e coletivo.” 
 
 
 e) 1946 (O2/01/1946) – Decreto Lei nº 8.530 – Lei Orgânica do Ensino Normal – que 
traz no seu Capitulo III – Dos cursos de Especialização e Administração Escolar – 
Art.11 – “Os cursos de administradores escolares do grau primário visarão habilitar 
diretores de escola, orientadores de ensino, inspetores escolares, auxiliares estatísticos e 
encarregados de provas e medidas escolares” 
 
 
f) 1946 (20/08/1946) – Decreto Lei nº 9.613 – Lei Orgânica do Ensino Agrícola- que 
traz no seu Capitulo VI – Da Orientação Educacional e Profissional: 
Art.45 – “Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino agrícola, a orientação educacional e 
profissional”. 
Art.46 – “É função da orientação educacional e profissional, mediante as necessárias 
observações, velar no sentido de cada aluno execute satisfatoriamente os trabalhos 
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escolares e em tudo o mais, tanto no que interessa à sua saúde quanto no que respeita 
aos seus assuntos e problemas intelectuais, na vida escolar e fora dela, se conduza de 
maneira segura e conveniente, e bem assim se encaminhe com acerto na escolha ou nas 
preferencias de sua profissão”. 
Art.47 – “A orientação educacional e profissional estará continuamente articulada com 
os professores e, sempre que possível, com a família dos alunos”. 
 
Obs: Idênticos aos artigos 39, 40 e 41 da Lei Orgânica do Ensino Comercial. 
 São promulgadas, ainda, durante o Estado Novo, o Decreto-Lei nº 4.048 de 
22/01/42, que cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e os 
Decretos-Leis nº 8.621 e 8.622, de 10/01/46, que criam o Serviço Nacional de 
Aprendizagem Comercial (SENAC). 
 Essas instituições ministrarão um ensino profissionalizante, paralelo, uma vez que 
a rede regular de ensino não comportava, ou não atraia os alunos para esse campo 
“prático” de uma profissão. 
 
 
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UNIDADE 03 - RELAÇÃO ENTRE LEIS ORGÂNICAS E ORIENTAÇÃO 
EDUCACIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Estabelecer relações entre as Leis Orgânicas e a Orientação Educacional. 
 Nesta unidade, elucidamos a relação entre as Leis Orgânicas e a Orientação 
Educacional, com vistas à interpretar as Leis. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 A interpretação das finalidades e modos de exercer a Orientação, a partir da 
observação das leis orgânicas, leva a concluir que: 
1- A Orientação Educacional, que aparece pela primeira vez na Lei Orgânica do 
Ensino Industrial, tinha caráter corretivo e direcionado para o atendimento aos 
alunos-problema; função moralizadora quando da “elevação das qualidades 
morais”; está voltada para as áreas de lazer e recreação; e cabe-lhe o 
desenvolvimento, entre os alunos, de uma série de instituições escolares, como 
cooperativas, jornais, revistas, grêmios, etc. A Lei Orgânica do Ensino Industrial 
não fala em Orientação Profissional, embora esse tipo de ensino coloque em 
questão a decisão profissional. Ela mostra-se desvinculada das finalidades do 
ensino industrial. Suas palavras-chave são: problema, correção e 
encaminhamento. 
2- Na Lei Orgânica do Ensino Secundário, a Orientação Educacional tem a função 
explícita da orientação, que é cooperar no sentido de que cada aluno se 
encaminhe nos estudos, na escolha da profissão, e é incluída também a 
orientação de lazer. A técnica empregada é o aconselhamento. Destaca-se o 
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aspecto de cooperação da Orientação com os professores, o que hoje é 
chamado de assessoramento. 
3- A Lei Orgânica do Ensino Comercial aparece com um caráter preventivo; 
moralizador; e deverá também trabalhar as áreas de estudos, saúde e 
ajustamento. Pela primeira vez, fala-se em Orientação Profissional, com 
destaque para a escolha da profissão. 
4- Na Lei Orgânica do Ensino Agrícola, a Orientação Educacional tem caráter 
moralizador e os objetivos da Orientação Profissional sugerem mais um 
ajustamento à profissão do que uma possibilidade de escolha. 
5- As áreas da Orientação Educacional nas Leis Orgânicas: lazer e recreação; ênfase 
a orientação de estudos e profissões; mais a orientação de saúde. 
6- As Leis Orgânicas do Ensino Industrial e Agrícola têm semelhança na essência e 
nas suas finalidades. As Leis do Ensino Agrícola e Comercial apresentam-se 
idênticas nos artigos. No ensino agrícola, a Orientação poderia atuar junto aos 
alunos, uma vez que eles tinham possibilidade de escolha; mas isto não ocorria 
com o ensino industrial, que apresentava um campo restrito de habilitação, 
diretamente vinculado às necessidades das indústrias. 
7- A Orientação Educacional, na Lei Orgânica do Ensino Secundário, não se vincula 
a uma profissão; destina-se, sim, como ensino característico da classe 
dominante, a formar os futuros dirigentes da nação, encaminhando-os para o 
ensino superior. 
8- A lei Orgânica não regulamentou a formação do orientador, indicou apenas 
genericamente, na Lei Orgânica do Ensino Secundário, que ele deveria ter 
funções especializadas. 
 Em termos de interpretação da Orientação Educacional nas Leis Orgânicas, 
algumas questões ficam em aberto. Por que a Lei Orgânica do Ensino Industrial instituiu 
a obrigatoriedade da Orientação? Para atender às demandas da indústria? Por que não 
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foram tomadas medidas para concretizar, nas escolas, a Orientação Educacional? Os 
legisladores sabiam a diferença entre a Orientação Educacional e a Profissional? 
 No decorrer da leitura da legislação, percebe-se que a Orientação assume um 
caráter terapêutico, preventivo, psicometrista. Ela visava a identificar aptidões, dons e 
inclinações dos indivíduos e deveria atuar principalmente no ensino técnico, ajudando 
na formação de uma mão de obra especializada e qualificada. Foi um “instrumento” 
para os ajustes das aspirações populares à escolarização e às necessidades do mercado 
de trabalho, contribuindo para a manutenção das classes sociais. Ela se limitava à 
identificação das aptidões, através de testes psicológicos e aconselhamento dos 
indivíduos, em função dos cursos oferecidos. Não tinha um papel preponderante na 
legislação, em termos de transformação para atender o que era esperado pelo contexto 
histórico da época, centralizou a definição das suas funções, princípios, objetivos e 
conceitos, com base nas concepções americanas e francesas da Orientação 
Educacional. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A Orientação Educacional nas leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
 A Orientação Educacional está presente explicitamente na Lei nº 4024/61 através 
de cinco artigos; 38, 52, 57, 63 e 64. Ela recebeu a qualificação de educativa, ao invés 
de educacional, porque os legisladores da época acharam que tínhamos um termo 
próprio na língua vernácula e não precisaríamos recorrer a outras fontes. 
O Artº 38 – “Na organização do ensino de grau médio serão observadas as seguintes 
normas: V- instituição da orientação educativa e vocacional em cooperação com a 
família”. 
 
Os artigos 52, 57 e 64 determinam a formação de orientadores para o ensino primário: 
19 
 
 
 
O Artº 52 – “O ensino normal tem por fim a formação de professores, orientadores, 
supervisores e administradores escolares destinados ao ensino primário, e o 
desenvolvimento dos conhecimentos técnicos relativos à educação da infância” – 
O Artº 57 – “A formaçãode professores, orientadores, e supervisores para as escolas 
rurais primárias poderá ser feita em estabelecimentos que lhes prescrevem a integração 
no meio”. 
O Artº 64 – “Os orientadores de educação do ensino primário serão formados nos 
Institutos de Educação em curso especial a que terão acesso os diplomados em escolas 
normais de grau colegial e em institutos de educação, com estágio mínimo de três anos 
no magistério primário”. 
 
O artigo 63 trata da formação do orientador para o ensino médio 
 
O Artº 63 – “Nas faculdades de filosofia será criado, para a formação de orientadores de 
educação do ensino médio, curso especial a que terão acesso os licenciados em pedagogia, 
filosofia, psicologia ou ciências sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas 
Escolas Superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio 
mínimo de três anos no magistério”. 
 
Nas Leis Orgânicas temos a Orientação Profissional, e na L.D.B. 4024/61 temos o 
nome trocado para Orientação Vocacional, que limitar-se-á à identificação das aptidões 
individuais. Embora a Orientação Educacional não seja explicitada na Lei em termos de 
conceito, já que o significado que a Lei nos dá refere-se apenas à formação do 
orientador educacional, o orientador aparece como um profissional muito presente 
para o cumprimento das diretrizes governamentais, no que se refere à educação. 
 A importância dada à Orientação ocorre, porque, no período que antecedeu à 
promulgação da LDB, foram realizados inúmeros cursos, jornadas, encontros e 
simpósios, por iniciativa governamental, que favoreceram o apoio do próprio governo à 
Orientação Educacional, com um interesse todo especial do próprio Diretor de Ensino 
Secundário, Prof. Gildásio Amado. No discurso de encerramento do II Simpósio de 
20 
 
 
 
Orientação Educacional, o prof. Lauro de Oliveira Lima, que o proferiu, afirmou que 
poderíamos abrir novos rumos para a educação, pois o campo da Orientação já havia 
sido conquistado. 
 A dimensão psicológica pode ser verificada na formação dos orientadores, 
regulamentada pelo Parecer nº 347/62, que fixa o currículo mínimo para o curso de 
Orientação Educativa. Das nove disciplinas que deveriam compor o curso, quatro eram 
da área de Psicologia, duas eram referentes à Orientação Educacional, uma à área de 
Orientação Profissional, uma à Administração e a outra à Estatística. 
 Essa LDB reflete as contradições e conflitos que caracterizam as próprias frações 
de classe da burguesia brasileira; a Orientação Educacional ajustar-se-á ao texto de 
acordo com o que dela for esperado. 
 
Lei nº 5692/71 
 A Lei nº 5692/71, em seu Artº 10 – “Será instituída obrigatoriamente a Orientação 
Educacional, incluindo aconselhamento vocacional, em cooperação com professores, a 
família e a comunidade” – não inova em relação à LDB nº 4024/61. A inovação dar-se-á 
quanto ao significado que deverá ter o ensino de 1º e 2º graus – sondagens de 
aptidões, iniciação para o trabalho e profissionalização – e a Orientação Educacional, 
em termos de aconselhamento vocacional. Ao estabelecer essa relação, os legisladores 
tanto voltaram às funções da Orientação para o conhecimento do aluno 
(aconselhamento), como da família e, em especial, da comunidade: conhecer as 
profissões do meio social no qual está inserida a escola e as características do mercado 
de trabalho. 
 O Parecer nº 339/72 do Decreto Lei 69450/71 ressaltou a importância da 
sondagem de aptidões, com isso reforçando o uso de técnicas apropriadas para o 
conhecimento da+s “vocações” dos alunos. A comunidade, conforme identificada nesse 
parecer, apresenta-se como algo neutro, limpo, sem problemas, em que o “aluno 
realizará diferentes tipos de atividade que lhe permitirão evidenciar aptidões, vocações 
21 
 
 
 
e interesses, para assim escolher, com mais acerto, a profissão que mais se coadune 
com suas aptidões e traços de personalidade”. 
 A Orientação Educacional, sendo um “mecanismo auxiliar da tarefa educativa” 
passa a cumprir o que dela se esperava na legislação vigente – ênfase na Orientação 
Vocacional e ajustamento ao ensino profissionalizante. Outras medidas governamentais 
reforçaram a informação profissional, com ênfase na forma de adequação de mão de 
obra para que ela fosse mais produtiva. 
 Entre tais medidas podemos citar os seminários nacionais e regionais de 
informação e orientação profissional, promovidos pelo Ministério do Trabalho; e o 
Projeto de Integração Escola, Empresa e Governo. Os primeiros eventos visavam 
adaptar pessoas para a atividade produtiva de acordo com as necessidades do 
mercado de trabalho; o segundo propunha-se a reduzir a distância entre a escola e a 
empresa, oferecendo estágios para o ajustamento entre os resultados do sistema 
educacional e as exigências da estrutura ocupacional do país. Essas medidas criaram no 
indivíduo a impressão de que é ele que decide, sendo que quando há fracasso, a culpa 
é sua. Falta explicitar, nesta LDB, a dimensão sócio-econômica no processo da escolha 
vocacional. 
 Em um enfoque psicologista, a Orientação, na Lei 5692/71, “serviu” mais para o 
sistema do que para os próprios alunos. 
 O projeto que foi encaminhado pela Câmara dos Deputados, na Comissão de 
Educação, sob a presidência do Prof. Florestan Fernandes, contou com ampla 
participação de órgãos e entidades educacionais. Entretanto, foi o projeto do senador 
Darcy Ribeiro, o documento principal que deu origem à Lei nº 9394/96. 
 No que diz respeito à Orientação Educacional, na nova Lei ela aparece no artigo 
64 e no artigo 39. 
 
22 
 
 
 
 UNIDADE 04 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCIPAIS TEORIAS E 
TENDÊNCIAS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Elucidar a teoria e a prática envolvidas na orientação Educacional. 
Explicitar as principais teorias e tendências educacionais. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Nesta etapa, trazemos à baila algumas teorias educacionais. A primeira possui 
como autor Pedro Benjamim Garcia, cujos estudos preconizam a teoria da 
modernização e a teoria da dependência. 
A teoria da dependência procura mostrar como, no plano interno, a educação 
reproduz uma estrutura social determinada e, no plano externo, é exercida a 
dominação da nação hegemônica sobre a periferia. 
A teoria da modernização procura demonstrar como, no plano interno, a 
educação “contribui para a modernização da sociedade, criando quadros técnicos, 
possibilitando a mobilidade social, redistribuindo a renda; no plano externo, através do 
efeito da demonstração, a educação contribui para a maior proximidade entre as 
sociedades, numa visão otimista da marcha da história para uma comunidade 
planetária”. Essas duas teorias tiveram grande influência na Educação nas décadas de 
sessenta e setenta. Para Moacyr Gadotti essas teorias continuam vivas na teoria e na 
política da Educação brasileira. 
Demerval Saviani analisa e teoriza as seguintes tendências: 
a) Humanista Tradicional:- conceitua a educação a partir de uma visão pré-
determinada de homem, ou seja, cada homem é uma “essência imutável”. Neste 
sentido a educação deve conformar-se à essência humana, sendo as mudanças 
23 
 
 
 
educativas, apenas acidentais. Centra no educador (homem completo) o modelo a 
ser seguido pelos educandos (seres incompletos), cuja essência poderá ser 
potencializada através do processo educativo, porém jamais transformada. 
b) Humanismo moderno:- difere da tradicional, quando afirma que a existência do 
Homem precede a sua essência, resultando o conceito de homem como “um ser 
completo desde o nascimento e inacabado até sua morte”. Considera que a 
educação caminha segundo o ritmo vital, que varia conforme diferenças existenciais 
e individuais, desconsiderando, na educação, esquemas pré-definidos e lógicos.Priorizam os métodos, metodologias e a relação educador-educando. 
c) Concepção analítica:- não embasa seu conceito em uma visão apriorística do 
Homem. O contexto educacional seria o tempo, o lugar, a situação, os temas de 
interesse e as histórias pessoais do educador e do educando. Exclui do processo 
educativo o contexto histórico, e sustenta o caráter da educação e a neutralidade 
do conhecimento. 
d) Concepção dialética:- assim como a analítica, não compreende a educação a partir 
de um conceito pré-definido de Homem. Esta concepção, a exemplo da humanista 
moderna, afirma se na realidade, porem, uma realidade dinâmica caracterizada pela 
interação recíproca do todo com as partes. A tarefa da educação é colocar-se a 
serviço da formação do “novo”, que se constrói no interior do “antigo”. 
e) Tendência tecnicista:- tem seus pressupostos traduzidos na objetividade, 
neutralidade e positividade do conhecimento, traduzidos, em termos educacionais, 
nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade (concepção produtivista 
da educação). É uma teoria que explica o fenômeno educativo, a partir de sua 
descrição empírica, visando a chegar a enunciados operacionais capazes de 
orientar a prática educativa. 
f) Tendência crítico-reprodutivista:- procura explicar os mecanismos sociais, e diz que 
compete à educação exercer necessariamente a função de analise das relações 
24 
 
 
 
sociais entre as classes dominadas e dominantes, independentemente do tipo de 
prática pedagógica que venha a ser utilizada. 
Jamil Cury, ao analisar a Concepção Dialética, que busca compreender o 
fenômeno educativo, afirma que a contradição é o próprio motor interno do 
desenvolvimento. Ela é inerente ao próprio movimento do real, funcionando como um 
estopim gerador dos conflitos, das disputas, onde existe o debate ou a argumentação 
dialética. Cada coisa exige a existência do seu contrário, como determinação e negação 
do outro. A dialética interpreta os fenômenos enquanto contradição com os anteriores 
e se revelará produtivo de novos efeitos objetivos, gerando novas ideias, a partir do 
debate com ideias anteriores. 
 José Carlos Libâneo classifica as tendências pedagógicas da prática escolar em Liberais 
e Progressistas. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Tendências Liberais 
a) Liberal Tradicional:- acentua o ensino humanístico, de cultura geral; o aluno é 
educado para atingir sua realização por esforço próprio; as diferenças de classe 
social não são consideradas; a prática escolar não tem nenhuma relação com o 
cotidiano do aluno. 
b) Liberal Renovada Progressista ou Pragmatísta:- acentua o sentido da educação como 
desenvolvimento das aptidões individuais; a atividade pedagógica centrada no 
professor (tradicional) desloca-se para o aluno; defende a ideia do “aprender 
fazendo”; valoriza a pesquisa , a descoberta, o estudo do meio natural e social. 
c) Liberal Renovada não Diretiva:- preocupa-se mais com os problemas psicológicos do 
que pedagógicos ou sociais; visa à mudança dentro do aluno para uma adequação 
pessoal às solicitações do ambiente; aprender é modificar suas próprias 
25 
 
 
 
percepções; privilegia a auto avaliação. Baseia-se em Carl Rogers, que classifica o 
aprendizado da seguinte forma: 
1) Cognitivo: o aluno é obrigado a aprender alguma coisa porque faz parte do 
currículo, mas não consegue enxergar nenhuma utilidade prática; 
2) Experimental: o estudante aprende com o objetivo de executar uma tarefa 
especifica. Segundo Rogers, o interesse e a motivação são essenciais para o 
aprendizado, e eles se apresentam mais claramente quando o aluno consegue 
visualizar uma aplicação prática do que está sendo estudado. O aprendizado 
experimental busca o desenvolvimento pessoal do aprendiz, o que o coloca 
como uma abordagem humanista. Essa teoria enfatiza a importância das 
relações interpessoais e inter-grupais. O professor e o aluno são co-responsáveis 
pela aprendizagem. 
Rogers afirma que os seres humanos têm uma propensão natural para aprender 
e o papel do professor é facilitar o aprendizado. Para tanto, o professor/facilitador 
deve: 
1- proporcionar um clima positivo para o aprendizado; 
2- esclarecer os objetivos para o aprendiz; 
3- organizar e tornar disponíveis os recursos de aprendizado; 
4- os componentes intelectual e emocional devem ser equacionados com o 
objetivo de facilitar o aprendizado; 
5- compartilhar sentimentos e pensamentos com os aprendizes, em 
condição de igualdade, evitando situações que evidenciem dominação; 
6- o aluno deve participar completamente do processo de aprendizado e 
ter controle sobre sua natureza e direção; 
7- o aprendizado deve ser baseado na confrontação direta com problemas 
práticos, sociais, pessoais ou de pesquisa; 
8- a auto-avaliação é o método indicado para o aluno acompanhar seu 
desempenho. 
26 
 
 
 
 
d) Liberal Tecnicista:- atua no aperfeiçoamento da ordem social vigente (capitalismo), 
articulando-se com o sistema produtivo; emprega a ciência da mudança de 
comportamento, para produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho; 
não pretende mudanças sociais; o aluno é um depositário de conhecimentos; o ensino 
tecnicista é implantado a partir de 1971, pela Lei nº 5692/71. 
 
Tendências Progressistas: 
a) Progressista Libertadora: defende a autogestão pedagógica e o ante autoritarismo; e 
conhecida como a pedagogia de Paulo Freire; vincula a educação à luta e 
organização de classe do oprimido; aprender é um ato de conhecimento da 
realidade concreta, e só tem sentido se resulta em uma aproximação crítica dessa 
realidade. 
b) Progressista Libertária: parte do pressuposto que somente o vivido e experimentado 
pelo aluno é incorporado e utilizado em situações novas; o saber deve ter uso 
prático; negar toda forma de repressão e objetiva a formação de homens livres. 
c) Crítico Social dos conteúdos: diferentemente das duas anteriores acentua a primazia 
dos conteúdos sobre as realidades sociais; visa a uma participação organizada e 
ativa na democratização da sociedade; adota o principio da aprendizagem 
significativa, partindo daquilo que o aluno já sabe. 
Benno Sander apresenta-nos a Pedagogia do Consenso e a Pedagogia do 
Conflito: 
Teoria do Consenso: Os sistemas educacionais, no Brasil, privilegiam a burocracia como 
controle e, por isso, criam um processo de alienação social e de descompromisso 
diante da educação. Alienação significa “privação de poder”, ausência de participação 
que leva à falta de compromisso. É na construção de um sistema educacional que se 
revela a relação entre educação e política. Num “sistema educacional fechado”, os 
agentes externos de mudança (movimentos populares, grupos sociais, os pais, etc.) têm 
27 
 
 
 
reduzida influência sobre o sistema; o conjunto de pressões e interesses externos não é 
ouvido, e se privilegia as expectativas internas de reprodução do próprio sistema. 
Exemplo prático: a comunidade deseja cursos noturnos ou supletivos, e a escola 
argumenta que não dispõe de pessoal, de segurança, etc. Aparentemente, a razão do 
não atendimento às demandas externas é de ordem técnico-burocrática, mas, na 
verdade, é de ordem política. 
Segundo Benno Sander (1984), embora o “enfoque funcionalista” (consenso) 
apresente alguns elementos úteis, como a “interdisciplinaridade” e a transmissão do 
conhecimento, ele é determinístico, pois: 
a) desconsidera as consequências da ação intencional dos “participantes do sistema”; 
b) é incapaz de equacionar os “temas da mudança” - “inovação”; 
c) não descuidados os “aspectos éticos” e substantivos dos participantes do sistema, 
para cultuar a eficiência e a racionalidade instrumental. 
 
Teoria do Conflito: o “enfoque dialético”, na constituição do sistema educacional, não 
pode ser tido meramente, como uma “teoria de resistência”, um enfoque “apenas 
crítico”. Esse enfoque vem sendo cadavez mais constituído por administrações 
democráticas e populares no Brasil, na América Latina e nos países do Primeiro Mundo, 
onde há mais liberdade de expressão e de organização. O consenso e a harmonia são 
fatores de estagnação, enquanto o conflito é um fator de progresso. Contudo, uma das 
deficiências da Teoria do Conflito é a ausência, no Brasil, de pelo menos uma 
“alternativa educacional consolidada” (Sander, 1984), pois esse sistema está apenas 
sendo experimentado, enquanto o enfoque da Teoria do Consenso tem alguns séculos. 
Sua força está no estimulo ao conflito como parte de uma estratégia de mudança. Na 
prática, esses “dois paradigmas contrários” (do consenso e do conflito), encontram-se 
ecleticamente nos sistemas em mudança, pois não são encontrados em “estado puro”. 
O sistema tende a integrá-los numa “síntese superadora”, e o dirigente deve levar em 
conta essas forças em conflito no interior do sistema, para poder governar. 
28 
 
 
 
UNIDADE 05 - CONSTRUTIVISMO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Apresentar a evolução teórico-prática, da educação no construtivismo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Construtivismo:- na evolução teórico-prática da educação, uma tendência que hoje se 
destaca é a construtivista, representada pelas ideias de Piaget, Wallon e pelos soviéticos 
Vigotsky, Leontiev e Luria, destacando-se a contribuição de Vigotsky. 
 PIAGET 
O universo sempre foi o que é hoje? Não. As ciências estão sempre 
demonstrando novas concepções, fazendo desmoronar crenças historicamente 
acumuladas, como, por exemplo: a terra como centro do universo; a teoria de Darwin 
que tira do homem o titulo de filho de Deus; Freud que afirma que o homem nem ao 
menos é dono de sua consciência e seus atos, pois estes sofrem a influencia do 
inconsciente, etc. 
Essas concepções de que as ciências foram se construindo refletem-se no 
pensamento e na realidade objetiva. O principio da transformação está na essência do 
próprio ser. Neste século, sob a influência deste relativismo, Piaget faz refletir essas 
ideias na Psicologia, na Filosofia e, mais especificamente, na Epistemologia, construindo 
uma nova ciência, que chamou de Epistemologia Genética, e que vai mostrar como o 
homem, logo que nasce, apesar de trazer uma bagagem hereditária que remonta há 
milhões de anos de evolução, não consegue emitir a mais simples operação de 
pensamento e que o meio social não consegue ensinar a esse recém-nascido o mais 
elementar conhecimento objetivo. 
29 
 
 
 
Isso significa que o sujeito humano é um projeto a ser construído; o objeto é 
também um projeto a ser construído. Sujeito e objeto não têm existência a priori. Eles 
se constroem mentalmente, pela interação. Como? O sujeito age sobre o objeto, 
assimilando-o e transformando-o. O objeto, ao ser assimilado, resiste aos instrumentos 
de assimilação de que o sujeito dispõe no momento. O sujeito reage, refazendo ou 
construindo novos instrumentos, com os quais se torna capaz de assimilar, isto é, de 
transformar objetos de forma cada vez mais complexos. Essas transformações de 
instrumentos de assimilação constituem a ação acomodadora. Conhecer é transformar 
o objeto, é transformar a si mesmo. O processo educacional que não transforma, está 
negando a si mesmo. 
Construtivismo, então, é a ideia de que nada está pronto, acabado; uma teoria 
que emerge do avanço das ciências e da Filosofia, uma forma de interpretar o mundo 
em que vivemos e, no caso de Piaget, o mundo do conhecimento: sua gênese e seu 
desenvolvimento. 
Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma técnica de ensino, 
nem uma forma de aprendizagem; não é um projeto escolar; é, sim, uma teoria que 
permite reinterpretar o mundo, jogando-nos para dentro de um movimento da História 
da Humanidade e do Universo. 
Qual o sentido do construtivismo na educação? Ele poderá ser a forma teórica 
ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional, insatisfeito 
com um sistema que teima em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está 
pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por 
alunos e professores. A educação deve ser um processo de construção de 
conhecimento, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e 
professores; por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído 
(acervo cultural da humanidade). 
 WALLON 
30 
 
 
 
Médico, psicólogo e filósofo francês, sua teoria pedagógica diz que o 
desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalando 
as convicções, numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de 
construção do conhecimento. Foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas 
também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em 
quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o 
movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. As emoções têm papel 
preponderante no desenvolvimento da pessoa. O aluno exterioriza seus desejos e suas 
vontades, que expressam um universo importante e perceptível, pouco estimulado 
pelos modelos tradicionais de ensino. 
As transformações fisiológicas em uma criança revelam traços importantes de 
caráter e personalidade. “A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os 
batimentos cardíacos, etc, e esses momentos de tensão e distensão ajudam o ser 
humano a se conhecer”. A raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais 
profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. A afetividade é 
um dos principais elementos do desenvolvimento humano. 
Segundo Wallon, as emoções dependem da organização dos espaços para se 
manifestarem. A motricidade tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e 
do movimento quanto por sua representação, mas a escola insiste em imobilizar a 
criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, 
tão necessárias para o desenvolvimento completo da pessoa. 
O eu e o outro: A construção do eu, na teoria de Wallon, depende 
essencialmente do outro, seja para ser referência, seja para ser negado. A negação do 
outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si próprio. Isso se 
dá aos 3 anos de idade, a hora de saber que “eu” sou. “Manipulação (agredir ou se 
jogar no chão para alcançar o objetivo), sedução (fazer chantagem emocional com pais 
e professores) e imitação do outro, são características comuns nessa fase”. A dor, o ódio 
31 
 
 
 
e o sofrimento são elementos estimuladores da construção do “eu”. Isso justifica o 
espírito crítico da teoria walloniana aos modelos convencionais de educação. 
Diferente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o 
desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento 
intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. Elementos como afetividade, 
emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades 
pedagógicas e os objetos devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de 
leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da 
história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a trabalhar 
o conteúdo, mas ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a 
desenvolver a criança em sintonia com o meio. 
 LEV VYGOTSKY – o teórico do ensino como processo social 
Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais no educacional, 
tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de 
sócio construtivismo ou sócio interacionismo. A obra do psicólogo ressalta o papel da 
escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela 
pedagogia contemporânea. Seus estudos sobre o aprendizado decorrem da 
compreensão do homem como um ser que se forma em contato com asociedade. “Na 
ausência do outro, o homem não se constrói homem”, escreveu o psicólogo. Ele 
rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer, 
as características que desenvolverá ao longo da vida, quanto as empiristas e 
comportamentais, que vêem o ser humano como um produto dos estímulos externos. 
Para Vygotsky, a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade 
ao seu redor – ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o 
homem. Apenas as funções psicológicas elementares se caracterizam como reflexos. Os 
processos psicológicos mais complexos (consciência e discernimento) só se formam e 
se desenvolvem pelo aprendizado. “Uma criança nasce com as condições biológicas de 
falar, mas só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos da comunidade”, diz 
32 
 
 
 
Tereza Rego. Outro conceito-chave de Vygotsky é a mediação, ou seja, toda relação do 
individuo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos (ex. ferramentas 
agrícolas) que transformam a natureza – e da linguagem, que traz consigo conceitos 
consolidados da cultura à qual pertence o sujeito. Todo aprendizado é necessariamente 
mediado- e isso torna importante o papel do ensino e do professor, pois o primeiro 
contato da criança com as atividades, habilidades ou informações, deve ter a 
participação de um adulto. O ensino deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe 
nem é capaz de aprender sozinho, porque na relação entre aprendizado e 
desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus principais 
conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distancia entre o 
desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender. A 
zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue fazer 
sozinha e o que ela esta perto de conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas 
capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais 
habilidades que um professor precisa ter. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 Discutir o tema da evolução teórico-prática da Educação, no cenário brasileiro, 
torna-se um desafio, porque a produção intelectual já conta hoje com um considerável 
numero de pesquisas, trabalhos e publicações, mas na prática não há o devido 
entendimento do que propõem as teorias. 
 A Profª. Maria Rita de Oliveira propõe uma reflexão sobre as principais teorias, 
apontando semelhanças e diferenças entre os estudos, esclarecendo aspectos que 
limitam a compreensão da totalidade do fenômeno educativo à luz do ideário 
pedagógico brasileiro e, principalmente, chamar atenção para o fato de que todo 
pensamento pedagógico tem uma direção a ser considerada. Ela afirma que três 
33 
 
 
 
aspectos vêm dificultando a compreensão do fenômeno educativo, na forma como ele 
se apresenta nas escolas, via ideário pedagógico: 
1º) as teorias da educação não desvelam como se dá a articulação das teorias com a 
prática; 
2º) a apresentação de novas teorias da educação é feita em geral, no âmbito da 
descrição proposta, sem explicação de seu processo de construção; 
3º) a ampliação da discussão dos projetos históricos que permeiam as posições 
progressistas na área da Educação, favoreceriam o entendimento da aparente 
identidade do discurso dito transformador. 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
UNIDADE 06 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A EVOLUÇÃO TEÓRICO-
PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Conceituar Orientação Educacional e explicitar a sua associação com a educação. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A educação deve ser entendida, em seu amplo conceito, como orientar, nortear, 
dirigir. A Orientação Educacional, implícita e explicitamente, está associada à educação, 
seja qual for o sentido que ela tome em sua fundamentação teórica. 
Da mesma forma que as características da Educação acompanham o perfil que 
determinada época ou categoria lhe atribui, identificamos, na Orientação Educacional, 
igual procedimento. Veremos a seguir, o papel da Orientação Educacional, sob a 
perspectiva das teorias educacionais. 
Na educação tradicional, a Orientação tinha uma característica terapêutica e 
psicológica, destinada aos alunos-problema, com o objetivo de ajustá-los aos modelos 
apresentados pela família, pela escola e pela sociedade, utilizando testes para uma 
melhor identificação das aptidões e problemas dos alunos. A Orientação teve, nessa 
abordagem teórica, seu eixo paradigmático em que o problema, tanto da 
aprendizagem, como da conduta, era sempre uma questão referente ao aluno, não às 
variáveis que interferiam nesse contexto. 
Sob a égide da educação renovada progressivista, a Orientação buscava auxiliar 
o desenvolvimento cognitivo dos alunos, identificando-os através de testes específicos, 
e trabalhando muito em termos individuais. 
Na educação não diretiva, a Orientação tinha a função de “facilitadora de 
mudanças”, de acordo com os princípios e postulados rogerianos. A própria formação 
35 
 
 
 
do orientador contemplava o aconselhamento vocacional, ressaltando-se que a teoria 
de Rogers tinha atenção especial para a abordagem da não diretividade do orientador. 
Na perspectiva da educação tecnicista, o papel da Orientação seguia uma linha 
funcionalista, enfatizando as técnicas de seus processos, procurando identificar as 
aptidões dos alunos para um determinado mercado de trabalho. Nesse período, a Lei 
nº 5692/71, tornou a Orientação Educacional obrigatória nos estabelecimentos de 
ensino de 1º e 2º graus. O orientador estabelecia a relação escola-comunidade, 
colhendo dados sobre as possiblidades que o mercado de trabalho oferecia através de 
visitas a empresas. Cuidava dos estágios para alunos e mesmo de empregos 
disponíveis. Acompanharia os alunos nos estágios, avaliaria o desempenho, o 
ajustamento, a receptividade das empresas, e informaria aos alunos os direitos e 
deveres dos trabalhadores. 
Na educação libertária, o papel da Orientação era subsidiar e assessorar o 
professor em seu trabalho de “orientador”, cabendo-lhe tanto a função de “conselheiro” 
como a de “instrutor e monitor” à disposição dos alunos, já que a pedagogia libertária 
recusava qualquer forma de poder e autoridade. À Orientação caberia discutir as 
formas de poder com as classes trabalhadoras, subsidiando a formação dos alunos para 
vivência e consciência da participação crítica na sociedade. A motivação, o interesse em 
crescer dentro da vivência grupal são características importantes da educação libertária, 
que pode e deve ser trabalhada pela Orientação assim como a relevância do saber 
sistematizado e seu possível uso prático. Neste enfoque a orientação deve compartilhar 
dos princípios que evidenciam que só o vivido, o experimentado, será incorporado e 
utilizado em novas situações. 
Na educação libertadora, a Orientação procurava enfocar os alunos como 
indivíduos buscando captar o seu mundo real. A Orientação questionava a realidade 
das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma 
transformação, sendo, por isso, considerada uma atuação crítica. Outro ponto a ser 
destacado é a questão do diálogo como seu método básico, onde educador e 
36 
 
 
 
educandos posicionam-se como sujeitos do ato do conhecimento, desenvolvendo 
mecanismos estratégicos que evidenciem que o que é aprendido não decorre de uma 
imposição ou memorização, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega 
pelo processo da compreensão, reflexão e crítica. 
Enfocando a educação crítico-social dos conteúdos, observamos que a atuação 
da Orientação consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas 
contradições, fornecendo-lhe instrumental, por meio da aquisição de conteúdo e da 
socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da 
sociedade.A Orientação procura valorizar o aluno, sua experiência em um contexto 
cultural, participando da busca da verdade dele, aluno, para poder posteriormente, 
confrontá-la com os conteúdos e modelos apresentados pelo professor. O orientador 
procura ser um mediador nessa busca, ajudando o aluno a ultrapassar suas 
necessidades e criar outras, para que ele ganhe autonomia, ajudando-o, dessa forma, a 
compreender as realidades sociais e sua própria experiência. 
Na abordagem construtivista, a função da Orientação seria promover meios para 
a construção do conhecimento por parte do aluno. Nesse sentido, a Orientação busca 
superar a dicotomia objetividade e subjetividade, resgatando a unidade do 
conhecimento e a realidade concreta da vida dos alunos. Duas premissas são básicas 
nessa prática pedagógica: a de que todo conhecimento provém da prática social e a de 
que o conhecimento é um empreendimento coletivo e, portanto, não se produz na 
solidão do sujeito. 
Nas teorias acríticas, a Orientação enfatizava os aspectos individuais, procurando 
identificar as aptidões dos alunos e seu ajustamento na escola, na família e na 
sociedade. Ela estava comprometida com o aluno, com o aluno-problema e com as 
situações de desajustamento do mesmo nas instituições. 
Na perspectiva das teorias críticas, o comprometimento da Orientação está 
relacionado à dimensão coletiva que favorece o desenvolvimento do aluno. O 
orientador educacional tem como objeto de trabalho a articulação currículo-sociedade, 
37 
 
 
 
homem-natureza, homem-sociedade, escola-trabalho, escola-vida e, como ação 
fundamental, a leitura crítica permanente da sociedade e do mundo em que vivemos. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Em termos teóricos, a Orientação, atualmente, apresenta novos paradigmas, que 
acompanham a Educação em um sentido mais abrangente, traduzindo-se no que se 
convencionou chamar de paradigmas holísticos, ecológicos ou interdependentes. À 
medida que se procura novos caminhos para a Educação, busca-se também um novo 
olhar para a função orientadora no cotidiano escolar. 
Que contribuições pode a Orientação oferecer para a melhoria da qualidade de 
ensino, para a democratização da escola, para a eliminação (ou, se possível, para a 
diminuição) do fracasso escolar? 
Cada tarefa dos profissionais, na escola, é inserida em um projeto coletivo, onde 
as atividades especificas se articulam com o todo, caracterizado por objetivos e 
finalidades comuns da escola. Não há separação entre as partes, identificando cada 
setor como o que detém um saber específico que vai permitir o controle sobre os 
demais. O que vemos e temos são espaços diferenciados que formam o conjunto – 
projeto-político-pedagógico – que, seja qual for sua estrutura, é feito pela interação de 
nós, elos, pontes, que se cruzam e entrelaçam. É uma realidade que vem da prática 
social e que se desdobra na prática escolar. 
Não se pode atribuir a ninguém, na escola, o papel de dono de uma área apenas 
(supervisor/professor, orientador/aluno-problema, professor/aluno, diretor/escola), mas 
sim protagonista; cada um tem funções relativas à responsabilidade da área na qual se 
formou e, portanto, nela investe, mas, seja qual for a função dentro da escola, é 
fundamental não perder de vista o conjunto e o modelo final do projeto coletivo da 
escola. 
38 
 
 
 
A Orientação deve buscar os meios para que a escola cumpra seu papel de 
ensinar/educar, promovendo as condições básicas para a formação da cidadania de 
nossos alunos. 
Na evolução teórico-prática da educação brasileira, durante longo período da 
história do país, a escola tinha o papel de ensinar, e o aluno, de aprender. Tudo que 
fosse desviado desse objetivo era sinalizado como algo da responsabilidade do aluno e, 
nesse sentido, ele precisava de um acompanhamento maior para resolver seu 
problema. Esse encaixe entre o que se desejava e o que objetivamente acontecia era 
uma das responsabilidades do orientador. O aluno excluído do modelo idealizado não 
tinha voz nem vez na escola, a não ser que cumprisse religiosamente os mandamentos 
pré-determinados. A educação contextualizada, além do olhar voltado para a 
informação, tem um grande compromisso com a formação de cada aluno, enquanto 
sujeito que conta, faz sua história. 
 
 
 
 
 
 
39 
 
 
 
UNIDADE 07 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COTIDIANO ESCOLAR 
 
Conhecer o cotidiano é como dar um mergulho 
nos conhecimentos e sentimentos que tecem 
nosso dia a dia. GRINSPUN, 2011 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Estudar a orientação educacional no cotidiano escolar 
Estabelecer relações entre Orientação Educacional e cultura brasileira. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Mirian Grinspun relata que no Colégio Estadual Ferreira Viana, no município do 
Rio de Janeiro, onde trabalhava como orientadora educacional, organizou e apresentou 
uma peça de teatro, com a colaboração de vários colegas do próprio Colégio. Nesse 
evento os alunos representavam cenas do cotidiano daquela época, com falas 
referentes às expectativas em torno de um amanhã, muito desconhecido para todos 
nós. Diz que dele se recorda agora, quando se percebe a importância do estudo do 
cotidiano para as transformações desejadas na escola. 
Segundo seus relatos era aquele cotidiano que os envolvidos queriam resgatar, 
com suas dificuldades, conflitos, preconceitos, sonhos e ilusões. Isso, dentro de uma 
escola em que o ensino era questão prioritária, não foi uma tarefa comum, foi bem 
difícil. 
A Orientação Educacional, então, foi colocando naquele palco toda a 
sensibilidade possível, para trazer o cotidiano dos alunos em linguagem simbólica, onde 
as metáforas falavam melhor do que a própria realidade. Mas nem sempre foi assim em 
termos de necessidade de falar desse cotidiano escolar, como forma de trazer para 
mais próximo, o contexto onde o aluno é educado. 
40 
 
 
 
Uma Orientação contextualizada enfatiza o papel e a relevância do cotidiano 
para os estudos e a prática onde ela se realiza. Hoje, todos os campos do 
conhecimento valorizam muito o estudo do cotidiano e, nos últimos anos, essa 
temática tem se revestido de inúmeras análises, pesquisas e indagações. 
Entre tantos estudiosos podemos citar Lefebvre, Michel de Certeau, Maffesoli e 
Heller, que têm se debruçado sobre o tema. Mas o que é o cotidiano? Quais são seus 
limites? Quais as noções que ele traduz? Qual o sentido dele para se refletir sobre a 
Educação? Qual o lugar das histórias de vida dos sujeitos, suas memórias, suas 
experiências, suas práticas, seus saberes, seus poderes, suas origens, suas etnias, etc., 
para que ocorra o processo educacional? O comportamento cotidiano tem sentido para 
a prática pedagógica? Essas e outras questões se instalam quando procuramos traçar 
uma epistemologia do cotidiano como forma de melhor estrutura-lo e compreende-lo. 
Para Lefebvre, a vida cotidiana apresenta uma totalidade de conhecimentos, 
ações, reações, etc., um conjunto de fatos históricos, políticos, sociais, culturais e 
econômicos que se fundem em um todo. É no cotidiano que são tomadas pequenas ou 
grandes decisões; é dele que emergem as ações e opções que serão feitas. Três termos 
aparecem quando tratamos desse tema: vida cotidiana, cotidianidade e cotidiano. 
Para Pichon-Rivière e Quiroga (1998, p.45), assim definem esse termo: 
Cotidianidade é a manifestação imediata, num tempo, num ritmo, num espaço 
das complexas relações sociais que regulam a vida dos homens numa 
determinada época histórica. A cada época histórica e a cada organização 
social corresponde um tipo de vida cotidiana, já que em cada época histórica e 
em cada organização social ocorrem diferentes tipos de relações com a 
natureza e com os outros homens. 
 
O cotidiano escolar apresenta a natureza das práticas, das ações desenvolvidas 
realizadas em seu interior e, na medida em que conheço essa realidade,passo a 
entender melhor as decisões que a escola efetiva através de seus diferentes 
protagonistas. 
 O cotidiano escolar envolve, não só questões específicas do currículo escolar, do 
projeto político-pedagógico, mas também todas as questões de relação de poder, de 
41 
 
 
 
saber, de afeto, de emoção, etc., que estão em determinado tempo/espaço fazendo 
parte da vida do aluno/professor. O que nele ocorre não diz respeito apenas à história 
política/social, ao mundo do trabalho, à família, à ecologia, à mídia, ao sindicato, etc.; 
ele é tudo, mas é também um pouco de cada. Como? Como pequenos fragmentos que 
se unem em um todo, constituindo um espaço único, tecendo o que podemos chamar 
de realidade social. O sujeito que está na escola, tem, direta ou indiretamente, a 
participação em outros meios e, dessa forma, suas ações e decisões estão valoradas por 
outros acontecimentos fora da escola. O sujeito que faz parte do cotidiano escolar 
dispõe de seu conhecimento, de seus valores, de seus temores e desejos para efetivar o 
que deve, ou pode realizar, como rotina ou como criatividade. O que acontece no 
cotidiano escolar não pode ser visto apenas como algo que aconteceu na escola e será 
analisado por terceiros; é preciso ver também o que o sujeito fez para que isso 
acontecesse, sua parte (potencialidade) e como reagiu ao que aconteceu, enquanto 
outros também agiram (possibilidade). A prática social mostra sua verdade no 
cotidiano, como diz Lefebvre. 
 No cotidiano escolar, temos que levar em consideração a valorização do senso 
comum, do que é imaginário, das representações sociais e do que se convencionou 
chamar de realidade. Nele observaremos que está implícita a cultura escolar, a cultura 
que cada um carrega de seu contexto social, a linguagem que o individuo utiliza, os 
usos e costumes, o saber/fazer que possui. Conhecer esse cotidiano escolar nos 
direciona a entender a questão, tanto do individuo como do grupo, das construções 
coletivas que se fazem dentro e em torno da escola. Quanto mais procuro 
compreender os mecanismos da prática social, que se configuram pelo cotidiano 
escolar, melhores condições tenho para analisar as rotinas e rupturas que ocorrem 
nesse interior. 
O cotidiano escolar, segundo Grispun, traduziu-lhe as práticas sociais que são do 
domínio de todos e que são colocadas em processo no dia a dia da escola, mas é 
preciso não esquecer, que nele existem esquemas de resistência, e que, às vezes, a 
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homogeneidade de suas ações se dá por falta de compreensão e de aceitação das 
diferenças, embora a rotina e a hierarquização de tarefas façam parte do seu contexto. 
A Orientação Educacional sempre esteve relacionada às ocorrências do 
cotidiano. Entretanto, este cotidiano tinha uma dimensão um tanto fotografada da 
realidade, pois era determinado pelas normas da escola, programas, etc., mais do que 
pelo próprio discurso experienciado pelo aluno. Era um cotidiano comprovado e não 
analisado. A realidade histórica e a realidade social em que os protagonistas da escola 
vivem, em especial o aluno, revela-se e oculta-se no cotidiano, onde um sistema de 
representações o traduz sob diferenciadas formas: a desejável, a possível, a idealizada, a 
do “faz de conta”. Cada escola, pública ou particular, de determinado segmento ou 
modalidade de ensino, terá sua particularidade e singularidade. O professor pode ter 
um desempenho na escola pública que não é o mesmo que ele manifesta na rede 
particular; o aluno pode ter uma relação na escola que não é a mesma que ocorre 
dentro de casa. 
O cotidiano escolar tem uma organização, uma estrutura, um sistema que rege 
seus acontecimentos. Há uma vida cotidiana em que todos convivem na complexidade 
que caracteriza, vivendo, também, com as vontades, preocupações, dificuldades, 
ambiguidades e conflitos de sua própria complexidade interior. Esse espaço do 
cotidiano, além de privilegiado pela vivencia (por ser único para cada um de nós) , pode 
reproduzir o que os outros esperam que aconteça ou pode transformar o que os outros 
acreditam que não seria possível acontecer. Se o cotidiano, como diz Certeau, é um 
espaço estratégico de uso e táticas (arte de falar, arte de fazer, arte de silenciar) , eu 
diria que, para a Orientação, o cotidiano escolar é a arte de ouvir e de saber agir para 
melhor se disponibilizar para o outro e para instituição. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A Orientação Educacional e a Realidade Cultural do País 
43 
 
 
 
 Laraia, em seu livro “Cultura – um conceito antropológico”(2006), diz que a cultura 
condiciona a visão de mundo do homem, isto é, o modo de ler o mundo; as 
apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais, e 
mesmo as posturas corporais, são produtos de uma herança cultural. 
 Compreender a cultura é compreender a sociedade onde ela se efetiva. Esse é o 
único procedimento que prepara o homem para enfrentar e participar do mundo 
futuro. Analisando os pontos principais da cultura, pode-se afirmar que existem dois 
tipos de mudança cultural: uma interna, resultante da dinâmica do próprio sistema 
cultural; e outra, resultado do contato de um sistema cultural com o outro. A educação 
deve levar à compreensão das diferenças entre povos de diferentes culturas, e da 
mesma forma, saber entender as diferenças que ocorrem dentro do sistema em que 
vive. 
 Um ponto importante para nosso estudo é a questão que engloba o conceito de 
cultura nacional, suas relações de poder, o processo de comunicação na cultura. No 
caso da cultura brasileira, observa-se, segundo Ortiz (1994), que não existe uma 
identidade nacional, mas sim identidades construídas por diferentes grupos sociais em 
diferentes momentos históricos. Um ponto importante para estudarmos na cultura 
brasileira são as relações entre cultura e Estado. A partir das primeiras décadas do 
século XX, o Brasil sofre mudanças profundas. O processo de urbanização se acelera, 
desenvolve-se uma classe média, surge um proletariado urbano. Assiste-se a uma 
transformação cultural profunda, adequando as mentalidades às novas exigências de 
um Brasil moderno. 
 Para compreendermos a cultura brasileira, temos que entender as relações do 
Estado com a cultura, seus projetos e políticas nessa área. A presença do Estado é 
exercida, sobretudo, através da normatização da esfera cultural. A partir de 1964 são 
baixadas inúmeras leis, decretos-lei e portarias que disciplinam e organizam os 
produtores, a produção e a distribuição dos bens culturais. Nesse momento, temos que 
lembrar o papel da censura nas manifestações culturais, em diferentes aspectos. 
44 
 
 
 
 Para entender a cultura de nosso país, temos que entender também a evolução de 
seu conceito, os mitos, as crenças, as religiões, a etnia, os símbolos, etc., tudo que 
compõe o tecido social brasileiro, no qual a própria cultura tem seu lugar de destaque. 
 Na medida em que a Orientação desenvolve seu trabalho no e para o cotidiano, a 
cultura, em seus diferentes enfoques passa a ser uma preocupação do orientador no 
sentido de ser resgatada, seja pelos movimentos populares, seja pela especificidade de 
um grupo e de sua etnia correspondente. O papel da Orientação é criar condições 
favoráveis ao surgimento e desenvolvimento de ações relacionadas a nosso momento 
cultural e à preparação da cultura brasileira, que apresentar-se-á em outros e novos 
momentos de nossa história. 
 Inúmeros projetos interdisciplinares poderão ser realizados – projetos com a 
Educação Artística: artes como pintura, esculturas, visitas a exposições, painéis com 
trabalhos produzidos pelos alunos; com a Língua Portuguesa: contos, poesias; com a 
Geografia: espaço diferenciado das culturas; com a História: relações entre educação e 
culturas no contexto urbano e rural; com a Matemática: processos matemáticos

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