Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PEDAGOGIA GESTÃO DA ORIENTAÇÃO ESCOLAR Maria da Conceição Mussio Bittencout (Reformulação) Ademir Pinto Adorno de Oliveira Junior http://unar.info/ead GESTÃO DA ORIENTAÇÃO ESCOLAR Maria da Conceição Mussio Bittencout (Reformulação) Ademir Pinto Adorno de Oliveira Junior SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 2 PROGRAMA DA DISCIPLINA ................................................................................................................. 3 UNIDADE 1 - ORIGENS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITOS E SIGNIFICADOS .............................................................................................................. 6 UNIDADE 02 - A LEGISLAÇÃO E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ................................................. 11 UNIDADE 03 - RELAÇÃO ENTRE LEIS ORGÂNICAS E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL .................. 16 UNIDADE 04 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCIPAIS TEORIAS E TENDÊNCIAS .............. 22 UNIDADE 05 - CONSTRUTIVISMO ..................................................................................................... 28 UNIDADE 06 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A EVOLUÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ............................................................................................................ 34 UNIDADE 07 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COTIDIANO ESCOLAR ................................ 39 UNIDADE 08 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O FRACASSO ESCOLAR .................................. 46 UNIDADE 09 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL EM SUAS DIMENSÕES FILOSÓFICAS, POLÍTICAS, SOCIAIS E PEDAGÓGICAS .............................................................................................. 53 UNIDADE 10 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA ....................... 57 UNIDADE 11 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NO CONTEXTO ESCOLAR .................................. 63 UNIDADE 12 - A ATUAÇÃO DA ORIENTAÇÃO NAS QUESTÕES DE TRABALHO .......................... 69 2 APRESENTAÇÃO Prezado Aluno Ao iniciar a preparação desse curso perguntei a mim mesma: “Qual lado da moeda vou mostrar aos meus futuros orientadores educacionais?” O lado da nobreza de tal função, que quando competentemente desempenhada transfigura toda uma unidade escolar e faz dela um recanto de satisfação e aprendizagens para ele, para os professores, para os alunos, e enfim... para a escola inteira; ou o lado das idas e vindas na maneira como foi tratada, compreendida e aceita essa função dentro das escolas e nos sistemas escolares? Para não ser omissa considerei necessário abordar os dois lados da moeda. O orientador escolar caminhando sempre à margem das políticas educacionais estiveram à mercê das transformações pelas quais passou a nossa sociedade e a sociedade do mundo, mudou de posição no decorrer do jogo, várias vezes, sempre com a determinação de cumprir as suas tarefas de maneira digna, embora nem sempre bem aceita. Chegaram a serem colocados fora de jogo, como peças dispensáveis, para a vitória na batalha. Ledo engano! Sem essa peça, a engrenagem emperrou e novas considerações os recolocaram em posições mais adequadas, propiciando-lhe a oportunidade de mostrarem a sua importância e o seu valor na dura luta que o Brasil trava na sua busca por uma educação justa, humana e equitativa para todas as nossas crianças e jovens. O jogo, não terminou, e nunca terminará, dado que o mundo e as suas sociedades estão sempre passando por novas fases, novas ideias, novas transformações. Competência e adaptabilidade são qualidades que eu desejo que vocês adquiram no transcorrer caminho como orientadores e supervisores, agregando essas qualidades às dos outros companheiros que buscam uma excelência para a educação brasileira. Um forte abraço Maria Conceição 3 PROGRAMA DA DISCIPLINA Ementa: Fundamentos históricos e as bases legais da Orientação Escolar. A organização pedagógica do orientador: atendimento, intervenções, projetos e assistência ao docente, aluno e família. Dimensões cognitivas, familiares, sociais e afetivas do processo educativo: análise, interpretação e meios de intervenção no âmbito escolar. Objetivos Compreender a evolução do conceito de orientação educacional. Conhecer as teorias que influenciaram o serviço de orientação educacional Reconhecer o papel do orientador educacional Refletir a sobre a orientação vocacional Contribuir para a compreensão de que a qualidade da educação é mediada pela ação dos profissionais que atuam na reflexão, gestão e regulação dos processos ensino-aprendizagem e sistemas de ensino. Propiciar elementos teóricos e referências legais para a compreensão do sistema educacional brasileiro, com ênfase na ação do coordenador pedagógico e da orientação. Conteúdos Programáticos Origens da orientação educacional e a orientação educacional: conceitos e significados A Orientação Educacional: Conceitos e Significados A legislação e a orientação educacional Relação entre Leis Orgânicas e Orientação Educacional A Orientação Educacional nas leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional A Orientação Educacional: Principais teorias e tendências Construtivismo A Orientação Educacional e a Evolução Teórico-Prática da Orientação Educacional 4 A orientação educacional e o cotidiano escolar A Orientação Educacional e a Realidade Cultural do País A Orientação Educacional e o fracasso escolar A Orientação Educacional face ao fracasso escolar A Orientação Educacional em suas dimensões filosóficas, políticas, sociais e pedagógicas A Orientação educacional e a organização da escola A escola e seus avanços A Orientação educacional no contexto escolar A construção de uma escola de qualidade A atuação da orientação nas questões de trabalho A Orientação Educacional, Hoje, nas Escolas. Metodologia Será adotada uma metodologia que alia a teoria à prática reflexiva, proporcionada por meio de questionamentos que permitam ao aluno enriquecer os seus conhecimentos necessários à sua formação de profissional da educação. Avaliação No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 1) Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares; 5 2) Provas realizadas presencialmente; As estratégias de recuperação incluirão: 1) Retomada eventual dos conteúdos abordados nas unidades, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno. Bibliografia Básica ABELIN, L, SIQUEIRA. A. M. –“Orientação Educacional: novas dimensões para pais e professores” – Editora Vozes, 1998. GRINSPUN, Mirian P. S. Z. – “Orientação Educacional conflito de paradigmas e alternativas para a escola” – Editora Cortez, 2011; ALVES, N. e GARCIA, R. L. O fazer e o pensar dos supervisores e orientadores educacionais. São Paulo: Loyola, 1996. Bibliografia Complementar: GARCIA, R. L. MAIA, E. M. Uma orientação educacional para uma nova escola. São Paulo:Loyola, 1996. GIACAGLIA, L. Orientação educacionalna prática: princípios, técnicas e instrumentos. São Paulo: Pioneira, 1997. 6 UNIDADE 1 - ORIGENS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: CONCEITOS E SIGNIFICADOS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Explicitar as origens da Orientação Escolar. ESTUDANDO E REFLETINDO Ao buscarmos o conceito etimológico de educação, encontraremos nos vocábulos latinos, educare, educere, as fontes iniciais da origem histórica da própria Orientação: educare significa guiar, nortear, orientar o indivíduo; e educere, buscar as potencialidades do individuo no sentido de fazê-las vir de “dentro para fora”. Identificamos, dessa forma, uma estreita relação da Orientação com a educação, fazendo com que suas histórias sejam coincidentes. Do ponto de vista institucional, a trajetória da Orientação Educacional tem início na Orientação Vocacional, voltada para a escolha de uma profissão ou ocupação. Em 1908, Frank Parsons, considerado o precursor desse movimento (Boston), inicia a orientação de seus alunos fora dos sistemas educativos formais. Todos os países que implantaram a Orientação Educacional nas escolas, ou mesmo fora delas, mantiveram essa característica marcante: Orientação Vocacional e aconselhamento, que marcou, significativamente, toda sua trajetória. Ela surge, no contexto mundial, com os movimentos em prol da psicometria, da revolução industrial, da saúde mental e das novas tendências pedagógicas que a impulsionam. A Orientação Educacional surge nas escolas, em 1912, em Detroit, nos Estados Unidos, com Jesse Davis, ainda com a característica de atender à problemática vocacional e social dos alunos. A Orientação Educacional foi implantada, na década de 20, no Brasil, quando eclode todo um movimento em prol da educação do povo. A Educação representaria 7 para o povo uma ascensão social, pela via escolaridade, abafando, dessa forma, os descontentamentos com a grave crise social e política da década de 20. Ao final dessa década, começam a surgir reformas educacionais em diferentes estados, como Ceará, Minas Gerais, Distrito Federal, Bahia, Pernambuco, enfatizando os aspectos inerentes à formação de uma sociedade democrática, em que os alunos experienciassem as questões da liberdade no interior da escola. De um lado, havia o “interesse do governo” em promover a escolarização de seu povo; do outro, intelectuais, no poder, assumindo as reformas educacionais em seus Estados. Foi sendo configurado um ambiente propício à Orientação, porque ela poderia contribuir para a melhoria da educação e ter um lugar certo nas reformas, uma vez que os modelos importados tinham grande receptividade no Brasil. A Orientação também atendia aos “desejos” da época, uma vez que se voltava para aptidões naturais como forma de endosso e valorização nas atividades sociais, fazendo crer que todos teriam a mesma oportunidade nas escolhas efetuadas e nas decisões tomadas. As primeiras experiências da década de 20 surgem com os trabalhos de Roberto Mange, engenheiro suíço que iniciou, em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, os primeiros trabalhos para a criação de um serviço de seleção e orientação profissional para alunos do curso de Mecânica. Seu trabalho teve a ajuda de Henri Pièron e de sua esposa. Outro dado significativo para implantação da Orientação pode ser detectado na década de 30, em que na Estrada de Ferro Sorocabana, ainda sob a direção de Mange e de seu colaborador Ítalo Bologna, teve início um serviço de seleção, orientação e formação de alunos em cursos de aprendizagem mantidos por aquela instituição. Esses serviços deram origem, em 1934, à criação do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP), que passou a ser modelo para outras ferrovias do país. Dentre os princípios que regiam os trabalhos do CFESP, encontra-se a seleção profissional baseada no conhecimento das características individuais e nas aptidões para determinadas funções e ocupações. 8 Em 1931, Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de Orientação Profissional no Brasil, que depois prosseguiu no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo, tendo sido extinto em 1935. Em termos de tentativas isoladas de Orientação, nos moldes americanos e europeus, começam a serem estruturados os serviços de orientação nas escolas, cuja experiência pioneira é de Aracy Muniz Freire e de Maria Junqueira Schmidt, no Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro, em 1934. Com o movimento dos educadores, que reagiram ao desinteresse político pela educação através do “Manifesto dos Pioneiros” de 1932, aparece um alerta às causas e princípios educacionais, exigindo uma educação integral com base nas aptidões naturais e um trabalho mais dinâmico e ativo para os alunos. Dois anos após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, a Associação Brasileira de Educação (ABE) ofereceu um Curso de Extensão sobre Orientação Educacional, aberto a professores interessados em ser orientadores. Nesse curso, que teve como professores Lourenço Filho, Capanema, Faria Góes e Abgar Renault, etc., foram discutidos os aspectos teóricos e técnicos da Orientação Educacional. Esses intelectuais, posteriormente, seriam os formuladores dos objetivos da Orientação Educacional e da conceituação que aparece nas Leis de Ensino, em 1942. Pela Reforma Capanema (1942), a Lei Orgânica do Ensino Industrial institui o Serviço de Orientação Educacional, e o Brasil torna-se o primeiro país no mundo a ter a Orientação Educacional proclamada obrigatória através de documento legal. BUSCANDO CONHECIMENTO A Orientação Educacional: Conceitos e Significados O conceito de Orientação Educacional acompanha sua trajetória histórica, especialmente na realidade brasileira. Seus diferentes significados conceituais estão relacionados à própria questão epistemológica da Orientação e ao tratamento que lhe é emprestado ao ser analisada sob os enfoques que a dimensionam. 9 Isabel Junqueira Schmidt, em seu livro Orientação Educacional, de 1942, diz que no Brasil esse termo equivale ao “guidance” (controle, direção, governo) do inglês, mas que, para “evitar mal-entendidos, adotamos orientação nos estudos, correspondendo à orientação educacional, em inglês, quando empregada no seu verdadeiro sentido”. A concepção inicial de Orientação, no Brasil, era de cunho psicológico, terapêutico e corretivo. Era o “counseling”(aconselhamento), mas o significado que lhe emprestavam na sua implantação, conforme Junqueira Schmidt, era o pedagógico e escolar, já que o orientador deveria “se preparar para resolver satisfatoriamente todos o problemas que defronta o adolescente”, que iam de problemas de saúde e desenvolvimento físico, a problemas de sexo, sociais e econômicos. Em 1988, no X Congresso Brasileiro de Orientação Educacional, no Rio de Janeiro, Paulo Nosella, após ter feito sua conferência sobre “Ideologia e Trabalho”, respondeu a uma orientadora educacional que lhe havia perguntado como fazer Orientação Educacional, dizendo que ele não poderia dar receitas, mas que deveríamos percorrer o caminho da identidade política, “se reconheça e estude teoricamente; se reconheça e participe das lutas sindicais, das lutas dos grupos e participe da luta político-partidária”. Já o 1º Simpósio de Orientação Educacional, em 1957, apresentava o orientador educacional como “uma aparição do amor e da verdade”, que deveria possuir o dom do acolhimento: “seu coração universal deve poder alojar no seu carinho, a cada um segundo, a necessidade do momento”. Uma visão humanística que acompanhou todo o percurso da Orientação Educacional no Brasil. O conceito de Orientação Educacional se reveste de três dimensões, construídascomo respostas às exigências históricas de cada momento. São elas: Legalista – determinada pela maneira como a legislação abordava a Orientação Educacional; funcionalista – resultou da prática da orientação a partir da realidade e das expectativas da comunidade escolar; realista – construída pelos próprios orientadores, como prática pedagógica que se torna legítima pela sua própria necessidade. 10 A análise da Orientação Educacional assinala essa complexidade de que a mesma é revestida, tanto na concepção de seu significado, como na efetivação de sua prática na realidade brasileira. Para definir conceito e funções da Orientação, temos que recorrer a sua trajetória histórica, analisando as diferentes fontes e origens de sua prática, no processo educacional, e às razões de sua conceituação ter sofrido um processo evolutivo ao longo da própria história da educação. À medida que a Orientação passou de uma abordagem psicológica para uma abordagem mais pedagógica, foram sendo gerados novos conhecimentos que levavam a Orientação a uma configuração própria, de acordo com os princípios que ela buscava alcançar. Por outro lado, o processo de institucionalização dessa área nos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus, de acordo com a Lei nº 5692/71, trouxe à Orientação uma concepção legal obrigatória que incluía aconselhamento vocacional, para o qual ela não tinha respaldo psicológico, nem pedagógico. Configura-se mais ainda a complexidade da Orientação, quando, na própria comunidade acadêmica, há uma identificação de Orientação pelo aspecto da divisão do trabalho pedagógico dentro da escola, e a Orientação em vez de somar esforços para a melhoria do processo educacional, passou a ser percebida como uma divisão de forças na consecução dos objetivos pretendidos. A divisão social do trabalho, que ocorre na sociedade, foi também transplantada para dentro da escola, sendo as atribuições dos professores colocadas em contraposição às atribuições dos especialistas. A Educação é uma prática social e a Orientação deve ser vista como uma prática que ocorre dentro da escola, mas cujas atividades podem e devem ultrapassar seus muros; uma prática que caminha no sentido da objetividade, da subjetividade e da totalidade da Educação, na busca das finalidades de um projeto político-pedagógico formulado para a escola, em favor de seus próprios alunos. 11 UNIDADE 02 - A LEGISLAÇÃO E A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Explicitar a importância de se conhecer a legislação educacional. ESTUDANDO E REFLETINDO Conhecer a legislação educacional do país é importante, no caso da Orientação Educacional, porque através dela é possível detectar: a) quais as ideias básicas que os legisladores tinham a respeito das funções da orientação e das atribuições do orientador; b) como a prática da Orientação foi influenciada por embasamentos teóricos que determinavam seu estilo de vida profissional; c) como os conceitos expressos nas leis obrigou o orientador a seguir fundamentos teóricos incompatíveis com nossa realidade sócio-econômica- cultural, levando a resultados inadequados. Uma análise e interpretação da Orientação Educacional só pode ser feita e compreendida, considerando uma situação e período de tempo específicos dos documentos legais. Para tanto, relacionaremos decisões da legislação educacional desde 1931. 1931 – A Reforma Francisco Campos, do Ensino Comercial, previu o serviço de Orientação Profissional com o objetivo de orientar os alunos que, ao terminarem o curso propedêutico, de acordo com os testes organizados pelo Conselho de Ensino Comercial, iriam para os cursos técnicos subsequentes. Essa seleção seria feita por uma comissão composta de um fiscal, que serviria de presidente; o diretor da escola e três professores do estabelecimento. 12 1933 – Uma reforma no sistema escolar de São Paulo, feita por Fernando Azevedo, então Diretor Geral de Instrução, determinou que, no Código de Educação do Estado, ficasse prevista a formação de administradores escolares, técnicos e orientadores de ensino. BUSCANDO CONHECIMENTO Para cumprir os dispositivos da Constituição de 1937, no seu Artigo 129, em que a Orientação Educacional aparece no ensino profissional, mas destinada às classes menos favorecidas, o Ministro da Educação, Gustavo Capanema, apresentou um conjunto de reformas que recebeu o nome de Leis Orgânicas. A importância das Leis Orgânicas está no fato de que nelas se encontram, pela primeira vez, referencias explicitas à Orientação Educacional. São elas: a) 1942 (30/01/1942) – Decreto Lei nº 4.073 – Lei Orgânica do Ensino Industrial – que traz no seu Capítulo XIII – Da Orientação Educacional Art.50 – “Instituir-se-á, em cada escola industrial ou escola técnica, a orientação educacional, que busque, mediante a aplicação de processos pedagógicos adequados, e em face da personalidade de cada aluno, e de problemas, não só a necessária correção e encaminhamento, mas ainda a elevação das qualidades morais”. Art.51- “Incumbe também à orientação educacional nas escolas industriais e escolas técnicas, promover, com o auxilio da direção escolar, a organização e o desenvolvimento, entre os alunos, de instituições escolares, tais como as cooperativas, as revistas e Jornais, os clubes ou grêmios, criando, na vida dessas instituições, num regime de autonomia, as condições favoráveis à educação social dos escolares”. Art.52 – “Cabe ainda à orientação educacional valor no sentido de que o estudo e o descanso dos alunos decorram em termos da maior conveniência pedagógica”. 13 b) 1942 (09/04/1942) – Decreto Lei nº 4.244 – Lei Orgânica do Ensino Secundário – que traz em seu Capítulo VI – Da Orientação Educacional: Art.80 – “Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino secundário, a orientação educacional”. Art.81 – “É função da orientação educacional, mediante as necessárias observações, cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos estudos e na escolha da sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos, sempre em entendimento com a sua família”. Art.82 – “Cabe ainda à orientação educacional cooperar com os professores no sentido da boa execução, por parte dos alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir segurança e atividade aos trabalhos complementares e velar por que o estudo, a recreação e o descanso dos alunos decorram em condições da maior conveniência pedagógica”. c) 1943 (28/12/1943) – Decreto Lei nº 6.141 – Lei Orgânica do Ensino Comercial – que traz no seu Capitulo VI – Da Orientação Educacional e Profissional –: Art.39 – “Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino comercial, a orientação educacional e profissional”. Art.40 – “É função da orientação educacional e profissional, mediante as necessárias observações, velar no sentido de cada aluno execute satisfatoriamente os trabalhos escolares e em tudo o mais, tanto no que interessa à sua saúde quanto no que respeita aos seus assuntos e problemas intelectuais e morais, na vida escolar e fora dela, se conduza de maneira segura e conveniente, e bem assim se encaminhe com acerto na escolha ou nas preferencias de sua profissão”. Art.41 – “A orientação educacional e profissional estará continuamente articulada com os professores e, sempre que possível, com a família dos alunos”. 14 Posteriormente, no governo provisório de José Linhares, tendo como ministro Leitão da Cunha, foram promulgados os seguintes Decretos-Lei que completam na sequência e no espírito, as Leis Orgânicas: d) 1946 (02/01/1946) – Decreto Lei nº 8.259 – Lei Orgânica do Ensino Primário – que traz no seu Capitulo IV – De Orientação Geral do Ensino Primário Fundamental –: Art.10 –“O ensino primário fundamental deverá, atender aos seguintes princípios: a) Desenvolver-se de modo sistemático e graduado, segundo, os interesses naturais da infância; b) Ter como fundamento didático as atividades dos próprios discípulos; c) Apoiar-se nas realidades do ambiente em que se exerça, para que sirva à sua melhor compreensão e mais proveitosa utilização; d) Desenvolver o espirito de cooperação e o sentimento de solidariedade social; e) Revelar as tendências e aptidões dos alunos, cooperando para seu melhor aproveitamento no sentido do bem estar individual e coletivo.” e) 1946 (O2/01/1946) – Decreto Lei nº 8.530 – Lei Orgânica do Ensino Normal – que traz no seu Capitulo III – Dos cursos de Especialização e Administração Escolar – Art.11 – “Os cursos de administradores escolares do grau primário visarão habilitar diretores de escola, orientadores de ensino, inspetores escolares, auxiliares estatísticos e encarregados de provas e medidas escolares” f) 1946 (20/08/1946) – Decreto Lei nº 9.613 – Lei Orgânica do Ensino Agrícola- que traz no seu Capitulo VI – Da Orientação Educacional e Profissional: Art.45 – “Far-se-á, nos estabelecimentos de ensino agrícola, a orientação educacional e profissional”. Art.46 – “É função da orientação educacional e profissional, mediante as necessárias observações, velar no sentido de cada aluno execute satisfatoriamente os trabalhos 15 escolares e em tudo o mais, tanto no que interessa à sua saúde quanto no que respeita aos seus assuntos e problemas intelectuais, na vida escolar e fora dela, se conduza de maneira segura e conveniente, e bem assim se encaminhe com acerto na escolha ou nas preferencias de sua profissão”. Art.47 – “A orientação educacional e profissional estará continuamente articulada com os professores e, sempre que possível, com a família dos alunos”. Obs: Idênticos aos artigos 39, 40 e 41 da Lei Orgânica do Ensino Comercial. São promulgadas, ainda, durante o Estado Novo, o Decreto-Lei nº 4.048 de 22/01/42, que cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e os Decretos-Leis nº 8.621 e 8.622, de 10/01/46, que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Essas instituições ministrarão um ensino profissionalizante, paralelo, uma vez que a rede regular de ensino não comportava, ou não atraia os alunos para esse campo “prático” de uma profissão. 16 UNIDADE 03 - RELAÇÃO ENTRE LEIS ORGÂNICAS E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Estabelecer relações entre as Leis Orgânicas e a Orientação Educacional. Nesta unidade, elucidamos a relação entre as Leis Orgânicas e a Orientação Educacional, com vistas à interpretar as Leis. ESTUDANDO E REFLETINDO A interpretação das finalidades e modos de exercer a Orientação, a partir da observação das leis orgânicas, leva a concluir que: 1- A Orientação Educacional, que aparece pela primeira vez na Lei Orgânica do Ensino Industrial, tinha caráter corretivo e direcionado para o atendimento aos alunos-problema; função moralizadora quando da “elevação das qualidades morais”; está voltada para as áreas de lazer e recreação; e cabe-lhe o desenvolvimento, entre os alunos, de uma série de instituições escolares, como cooperativas, jornais, revistas, grêmios, etc. A Lei Orgânica do Ensino Industrial não fala em Orientação Profissional, embora esse tipo de ensino coloque em questão a decisão profissional. Ela mostra-se desvinculada das finalidades do ensino industrial. Suas palavras-chave são: problema, correção e encaminhamento. 2- Na Lei Orgânica do Ensino Secundário, a Orientação Educacional tem a função explícita da orientação, que é cooperar no sentido de que cada aluno se encaminhe nos estudos, na escolha da profissão, e é incluída também a orientação de lazer. A técnica empregada é o aconselhamento. Destaca-se o 17 aspecto de cooperação da Orientação com os professores, o que hoje é chamado de assessoramento. 3- A Lei Orgânica do Ensino Comercial aparece com um caráter preventivo; moralizador; e deverá também trabalhar as áreas de estudos, saúde e ajustamento. Pela primeira vez, fala-se em Orientação Profissional, com destaque para a escolha da profissão. 4- Na Lei Orgânica do Ensino Agrícola, a Orientação Educacional tem caráter moralizador e os objetivos da Orientação Profissional sugerem mais um ajustamento à profissão do que uma possibilidade de escolha. 5- As áreas da Orientação Educacional nas Leis Orgânicas: lazer e recreação; ênfase a orientação de estudos e profissões; mais a orientação de saúde. 6- As Leis Orgânicas do Ensino Industrial e Agrícola têm semelhança na essência e nas suas finalidades. As Leis do Ensino Agrícola e Comercial apresentam-se idênticas nos artigos. No ensino agrícola, a Orientação poderia atuar junto aos alunos, uma vez que eles tinham possibilidade de escolha; mas isto não ocorria com o ensino industrial, que apresentava um campo restrito de habilitação, diretamente vinculado às necessidades das indústrias. 7- A Orientação Educacional, na Lei Orgânica do Ensino Secundário, não se vincula a uma profissão; destina-se, sim, como ensino característico da classe dominante, a formar os futuros dirigentes da nação, encaminhando-os para o ensino superior. 8- A lei Orgânica não regulamentou a formação do orientador, indicou apenas genericamente, na Lei Orgânica do Ensino Secundário, que ele deveria ter funções especializadas. Em termos de interpretação da Orientação Educacional nas Leis Orgânicas, algumas questões ficam em aberto. Por que a Lei Orgânica do Ensino Industrial instituiu a obrigatoriedade da Orientação? Para atender às demandas da indústria? Por que não 18 foram tomadas medidas para concretizar, nas escolas, a Orientação Educacional? Os legisladores sabiam a diferença entre a Orientação Educacional e a Profissional? No decorrer da leitura da legislação, percebe-se que a Orientação assume um caráter terapêutico, preventivo, psicometrista. Ela visava a identificar aptidões, dons e inclinações dos indivíduos e deveria atuar principalmente no ensino técnico, ajudando na formação de uma mão de obra especializada e qualificada. Foi um “instrumento” para os ajustes das aspirações populares à escolarização e às necessidades do mercado de trabalho, contribuindo para a manutenção das classes sociais. Ela se limitava à identificação das aptidões, através de testes psicológicos e aconselhamento dos indivíduos, em função dos cursos oferecidos. Não tinha um papel preponderante na legislação, em termos de transformação para atender o que era esperado pelo contexto histórico da época, centralizou a definição das suas funções, princípios, objetivos e conceitos, com base nas concepções americanas e francesas da Orientação Educacional. BUSCANDO CONHECIMENTO A Orientação Educacional nas leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional A Orientação Educacional está presente explicitamente na Lei nº 4024/61 através de cinco artigos; 38, 52, 57, 63 e 64. Ela recebeu a qualificação de educativa, ao invés de educacional, porque os legisladores da época acharam que tínhamos um termo próprio na língua vernácula e não precisaríamos recorrer a outras fontes. O Artº 38 – “Na organização do ensino de grau médio serão observadas as seguintes normas: V- instituição da orientação educativa e vocacional em cooperação com a família”. Os artigos 52, 57 e 64 determinam a formação de orientadores para o ensino primário: 19 O Artº 52 – “O ensino normal tem por fim a formação de professores, orientadores, supervisores e administradores escolares destinados ao ensino primário, e o desenvolvimento dos conhecimentos técnicos relativos à educação da infância” – O Artº 57 – “A formaçãode professores, orientadores, e supervisores para as escolas rurais primárias poderá ser feita em estabelecimentos que lhes prescrevem a integração no meio”. O Artº 64 – “Os orientadores de educação do ensino primário serão formados nos Institutos de Educação em curso especial a que terão acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em institutos de educação, com estágio mínimo de três anos no magistério primário”. O artigo 63 trata da formação do orientador para o ensino médio O Artº 63 – “Nas faculdades de filosofia será criado, para a formação de orientadores de educação do ensino médio, curso especial a que terão acesso os licenciados em pedagogia, filosofia, psicologia ou ciências sociais, bem como os diplomados em Educação Física pelas Escolas Superiores de Educação Física e os inspetores federais de ensino, todos com estágio mínimo de três anos no magistério”. Nas Leis Orgânicas temos a Orientação Profissional, e na L.D.B. 4024/61 temos o nome trocado para Orientação Vocacional, que limitar-se-á à identificação das aptidões individuais. Embora a Orientação Educacional não seja explicitada na Lei em termos de conceito, já que o significado que a Lei nos dá refere-se apenas à formação do orientador educacional, o orientador aparece como um profissional muito presente para o cumprimento das diretrizes governamentais, no que se refere à educação. A importância dada à Orientação ocorre, porque, no período que antecedeu à promulgação da LDB, foram realizados inúmeros cursos, jornadas, encontros e simpósios, por iniciativa governamental, que favoreceram o apoio do próprio governo à Orientação Educacional, com um interesse todo especial do próprio Diretor de Ensino Secundário, Prof. Gildásio Amado. No discurso de encerramento do II Simpósio de 20 Orientação Educacional, o prof. Lauro de Oliveira Lima, que o proferiu, afirmou que poderíamos abrir novos rumos para a educação, pois o campo da Orientação já havia sido conquistado. A dimensão psicológica pode ser verificada na formação dos orientadores, regulamentada pelo Parecer nº 347/62, que fixa o currículo mínimo para o curso de Orientação Educativa. Das nove disciplinas que deveriam compor o curso, quatro eram da área de Psicologia, duas eram referentes à Orientação Educacional, uma à área de Orientação Profissional, uma à Administração e a outra à Estatística. Essa LDB reflete as contradições e conflitos que caracterizam as próprias frações de classe da burguesia brasileira; a Orientação Educacional ajustar-se-á ao texto de acordo com o que dela for esperado. Lei nº 5692/71 A Lei nº 5692/71, em seu Artº 10 – “Será instituída obrigatoriamente a Orientação Educacional, incluindo aconselhamento vocacional, em cooperação com professores, a família e a comunidade” – não inova em relação à LDB nº 4024/61. A inovação dar-se-á quanto ao significado que deverá ter o ensino de 1º e 2º graus – sondagens de aptidões, iniciação para o trabalho e profissionalização – e a Orientação Educacional, em termos de aconselhamento vocacional. Ao estabelecer essa relação, os legisladores tanto voltaram às funções da Orientação para o conhecimento do aluno (aconselhamento), como da família e, em especial, da comunidade: conhecer as profissões do meio social no qual está inserida a escola e as características do mercado de trabalho. O Parecer nº 339/72 do Decreto Lei 69450/71 ressaltou a importância da sondagem de aptidões, com isso reforçando o uso de técnicas apropriadas para o conhecimento da+s “vocações” dos alunos. A comunidade, conforme identificada nesse parecer, apresenta-se como algo neutro, limpo, sem problemas, em que o “aluno realizará diferentes tipos de atividade que lhe permitirão evidenciar aptidões, vocações 21 e interesses, para assim escolher, com mais acerto, a profissão que mais se coadune com suas aptidões e traços de personalidade”. A Orientação Educacional, sendo um “mecanismo auxiliar da tarefa educativa” passa a cumprir o que dela se esperava na legislação vigente – ênfase na Orientação Vocacional e ajustamento ao ensino profissionalizante. Outras medidas governamentais reforçaram a informação profissional, com ênfase na forma de adequação de mão de obra para que ela fosse mais produtiva. Entre tais medidas podemos citar os seminários nacionais e regionais de informação e orientação profissional, promovidos pelo Ministério do Trabalho; e o Projeto de Integração Escola, Empresa e Governo. Os primeiros eventos visavam adaptar pessoas para a atividade produtiva de acordo com as necessidades do mercado de trabalho; o segundo propunha-se a reduzir a distância entre a escola e a empresa, oferecendo estágios para o ajustamento entre os resultados do sistema educacional e as exigências da estrutura ocupacional do país. Essas medidas criaram no indivíduo a impressão de que é ele que decide, sendo que quando há fracasso, a culpa é sua. Falta explicitar, nesta LDB, a dimensão sócio-econômica no processo da escolha vocacional. Em um enfoque psicologista, a Orientação, na Lei 5692/71, “serviu” mais para o sistema do que para os próprios alunos. O projeto que foi encaminhado pela Câmara dos Deputados, na Comissão de Educação, sob a presidência do Prof. Florestan Fernandes, contou com ampla participação de órgãos e entidades educacionais. Entretanto, foi o projeto do senador Darcy Ribeiro, o documento principal que deu origem à Lei nº 9394/96. No que diz respeito à Orientação Educacional, na nova Lei ela aparece no artigo 64 e no artigo 39. 22 UNIDADE 04 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: PRINCIPAIS TEORIAS E TENDÊNCIAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Elucidar a teoria e a prática envolvidas na orientação Educacional. Explicitar as principais teorias e tendências educacionais. ESTUDANDO E REFLETINDO Nesta etapa, trazemos à baila algumas teorias educacionais. A primeira possui como autor Pedro Benjamim Garcia, cujos estudos preconizam a teoria da modernização e a teoria da dependência. A teoria da dependência procura mostrar como, no plano interno, a educação reproduz uma estrutura social determinada e, no plano externo, é exercida a dominação da nação hegemônica sobre a periferia. A teoria da modernização procura demonstrar como, no plano interno, a educação “contribui para a modernização da sociedade, criando quadros técnicos, possibilitando a mobilidade social, redistribuindo a renda; no plano externo, através do efeito da demonstração, a educação contribui para a maior proximidade entre as sociedades, numa visão otimista da marcha da história para uma comunidade planetária”. Essas duas teorias tiveram grande influência na Educação nas décadas de sessenta e setenta. Para Moacyr Gadotti essas teorias continuam vivas na teoria e na política da Educação brasileira. Demerval Saviani analisa e teoriza as seguintes tendências: a) Humanista Tradicional:- conceitua a educação a partir de uma visão pré- determinada de homem, ou seja, cada homem é uma “essência imutável”. Neste sentido a educação deve conformar-se à essência humana, sendo as mudanças 23 educativas, apenas acidentais. Centra no educador (homem completo) o modelo a ser seguido pelos educandos (seres incompletos), cuja essência poderá ser potencializada através do processo educativo, porém jamais transformada. b) Humanismo moderno:- difere da tradicional, quando afirma que a existência do Homem precede a sua essência, resultando o conceito de homem como “um ser completo desde o nascimento e inacabado até sua morte”. Considera que a educação caminha segundo o ritmo vital, que varia conforme diferenças existenciais e individuais, desconsiderando, na educação, esquemas pré-definidos e lógicos.Priorizam os métodos, metodologias e a relação educador-educando. c) Concepção analítica:- não embasa seu conceito em uma visão apriorística do Homem. O contexto educacional seria o tempo, o lugar, a situação, os temas de interesse e as histórias pessoais do educador e do educando. Exclui do processo educativo o contexto histórico, e sustenta o caráter da educação e a neutralidade do conhecimento. d) Concepção dialética:- assim como a analítica, não compreende a educação a partir de um conceito pré-definido de Homem. Esta concepção, a exemplo da humanista moderna, afirma se na realidade, porem, uma realidade dinâmica caracterizada pela interação recíproca do todo com as partes. A tarefa da educação é colocar-se a serviço da formação do “novo”, que se constrói no interior do “antigo”. e) Tendência tecnicista:- tem seus pressupostos traduzidos na objetividade, neutralidade e positividade do conhecimento, traduzidos, em termos educacionais, nos princípios da racionalidade, eficiência e produtividade (concepção produtivista da educação). É uma teoria que explica o fenômeno educativo, a partir de sua descrição empírica, visando a chegar a enunciados operacionais capazes de orientar a prática educativa. f) Tendência crítico-reprodutivista:- procura explicar os mecanismos sociais, e diz que compete à educação exercer necessariamente a função de analise das relações 24 sociais entre as classes dominadas e dominantes, independentemente do tipo de prática pedagógica que venha a ser utilizada. Jamil Cury, ao analisar a Concepção Dialética, que busca compreender o fenômeno educativo, afirma que a contradição é o próprio motor interno do desenvolvimento. Ela é inerente ao próprio movimento do real, funcionando como um estopim gerador dos conflitos, das disputas, onde existe o debate ou a argumentação dialética. Cada coisa exige a existência do seu contrário, como determinação e negação do outro. A dialética interpreta os fenômenos enquanto contradição com os anteriores e se revelará produtivo de novos efeitos objetivos, gerando novas ideias, a partir do debate com ideias anteriores. José Carlos Libâneo classifica as tendências pedagógicas da prática escolar em Liberais e Progressistas. BUSCANDO CONHECIMENTO Tendências Liberais a) Liberal Tradicional:- acentua o ensino humanístico, de cultura geral; o aluno é educado para atingir sua realização por esforço próprio; as diferenças de classe social não são consideradas; a prática escolar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno. b) Liberal Renovada Progressista ou Pragmatísta:- acentua o sentido da educação como desenvolvimento das aptidões individuais; a atividade pedagógica centrada no professor (tradicional) desloca-se para o aluno; defende a ideia do “aprender fazendo”; valoriza a pesquisa , a descoberta, o estudo do meio natural e social. c) Liberal Renovada não Diretiva:- preocupa-se mais com os problemas psicológicos do que pedagógicos ou sociais; visa à mudança dentro do aluno para uma adequação pessoal às solicitações do ambiente; aprender é modificar suas próprias 25 percepções; privilegia a auto avaliação. Baseia-se em Carl Rogers, que classifica o aprendizado da seguinte forma: 1) Cognitivo: o aluno é obrigado a aprender alguma coisa porque faz parte do currículo, mas não consegue enxergar nenhuma utilidade prática; 2) Experimental: o estudante aprende com o objetivo de executar uma tarefa especifica. Segundo Rogers, o interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado, e eles se apresentam mais claramente quando o aluno consegue visualizar uma aplicação prática do que está sendo estudado. O aprendizado experimental busca o desenvolvimento pessoal do aprendiz, o que o coloca como uma abordagem humanista. Essa teoria enfatiza a importância das relações interpessoais e inter-grupais. O professor e o aluno são co-responsáveis pela aprendizagem. Rogers afirma que os seres humanos têm uma propensão natural para aprender e o papel do professor é facilitar o aprendizado. Para tanto, o professor/facilitador deve: 1- proporcionar um clima positivo para o aprendizado; 2- esclarecer os objetivos para o aprendiz; 3- organizar e tornar disponíveis os recursos de aprendizado; 4- os componentes intelectual e emocional devem ser equacionados com o objetivo de facilitar o aprendizado; 5- compartilhar sentimentos e pensamentos com os aprendizes, em condição de igualdade, evitando situações que evidenciem dominação; 6- o aluno deve participar completamente do processo de aprendizado e ter controle sobre sua natureza e direção; 7- o aprendizado deve ser baseado na confrontação direta com problemas práticos, sociais, pessoais ou de pesquisa; 8- a auto-avaliação é o método indicado para o aluno acompanhar seu desempenho. 26 d) Liberal Tecnicista:- atua no aperfeiçoamento da ordem social vigente (capitalismo), articulando-se com o sistema produtivo; emprega a ciência da mudança de comportamento, para produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho; não pretende mudanças sociais; o aluno é um depositário de conhecimentos; o ensino tecnicista é implantado a partir de 1971, pela Lei nº 5692/71. Tendências Progressistas: a) Progressista Libertadora: defende a autogestão pedagógica e o ante autoritarismo; e conhecida como a pedagogia de Paulo Freire; vincula a educação à luta e organização de classe do oprimido; aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta, e só tem sentido se resulta em uma aproximação crítica dessa realidade. b) Progressista Libertária: parte do pressuposto que somente o vivido e experimentado pelo aluno é incorporado e utilizado em situações novas; o saber deve ter uso prático; negar toda forma de repressão e objetiva a formação de homens livres. c) Crítico Social dos conteúdos: diferentemente das duas anteriores acentua a primazia dos conteúdos sobre as realidades sociais; visa a uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade; adota o principio da aprendizagem significativa, partindo daquilo que o aluno já sabe. Benno Sander apresenta-nos a Pedagogia do Consenso e a Pedagogia do Conflito: Teoria do Consenso: Os sistemas educacionais, no Brasil, privilegiam a burocracia como controle e, por isso, criam um processo de alienação social e de descompromisso diante da educação. Alienação significa “privação de poder”, ausência de participação que leva à falta de compromisso. É na construção de um sistema educacional que se revela a relação entre educação e política. Num “sistema educacional fechado”, os agentes externos de mudança (movimentos populares, grupos sociais, os pais, etc.) têm 27 reduzida influência sobre o sistema; o conjunto de pressões e interesses externos não é ouvido, e se privilegia as expectativas internas de reprodução do próprio sistema. Exemplo prático: a comunidade deseja cursos noturnos ou supletivos, e a escola argumenta que não dispõe de pessoal, de segurança, etc. Aparentemente, a razão do não atendimento às demandas externas é de ordem técnico-burocrática, mas, na verdade, é de ordem política. Segundo Benno Sander (1984), embora o “enfoque funcionalista” (consenso) apresente alguns elementos úteis, como a “interdisciplinaridade” e a transmissão do conhecimento, ele é determinístico, pois: a) desconsidera as consequências da ação intencional dos “participantes do sistema”; b) é incapaz de equacionar os “temas da mudança” - “inovação”; c) não descuidados os “aspectos éticos” e substantivos dos participantes do sistema, para cultuar a eficiência e a racionalidade instrumental. Teoria do Conflito: o “enfoque dialético”, na constituição do sistema educacional, não pode ser tido meramente, como uma “teoria de resistência”, um enfoque “apenas crítico”. Esse enfoque vem sendo cadavez mais constituído por administrações democráticas e populares no Brasil, na América Latina e nos países do Primeiro Mundo, onde há mais liberdade de expressão e de organização. O consenso e a harmonia são fatores de estagnação, enquanto o conflito é um fator de progresso. Contudo, uma das deficiências da Teoria do Conflito é a ausência, no Brasil, de pelo menos uma “alternativa educacional consolidada” (Sander, 1984), pois esse sistema está apenas sendo experimentado, enquanto o enfoque da Teoria do Consenso tem alguns séculos. Sua força está no estimulo ao conflito como parte de uma estratégia de mudança. Na prática, esses “dois paradigmas contrários” (do consenso e do conflito), encontram-se ecleticamente nos sistemas em mudança, pois não são encontrados em “estado puro”. O sistema tende a integrá-los numa “síntese superadora”, e o dirigente deve levar em conta essas forças em conflito no interior do sistema, para poder governar. 28 UNIDADE 05 - CONSTRUTIVISMO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Apresentar a evolução teórico-prática, da educação no construtivismo. ESTUDANDO E REFLETINDO Construtivismo:- na evolução teórico-prática da educação, uma tendência que hoje se destaca é a construtivista, representada pelas ideias de Piaget, Wallon e pelos soviéticos Vigotsky, Leontiev e Luria, destacando-se a contribuição de Vigotsky. PIAGET O universo sempre foi o que é hoje? Não. As ciências estão sempre demonstrando novas concepções, fazendo desmoronar crenças historicamente acumuladas, como, por exemplo: a terra como centro do universo; a teoria de Darwin que tira do homem o titulo de filho de Deus; Freud que afirma que o homem nem ao menos é dono de sua consciência e seus atos, pois estes sofrem a influencia do inconsciente, etc. Essas concepções de que as ciências foram se construindo refletem-se no pensamento e na realidade objetiva. O principio da transformação está na essência do próprio ser. Neste século, sob a influência deste relativismo, Piaget faz refletir essas ideias na Psicologia, na Filosofia e, mais especificamente, na Epistemologia, construindo uma nova ciência, que chamou de Epistemologia Genética, e que vai mostrar como o homem, logo que nasce, apesar de trazer uma bagagem hereditária que remonta há milhões de anos de evolução, não consegue emitir a mais simples operação de pensamento e que o meio social não consegue ensinar a esse recém-nascido o mais elementar conhecimento objetivo. 29 Isso significa que o sujeito humano é um projeto a ser construído; o objeto é também um projeto a ser construído. Sujeito e objeto não têm existência a priori. Eles se constroem mentalmente, pela interação. Como? O sujeito age sobre o objeto, assimilando-o e transformando-o. O objeto, ao ser assimilado, resiste aos instrumentos de assimilação de que o sujeito dispõe no momento. O sujeito reage, refazendo ou construindo novos instrumentos, com os quais se torna capaz de assimilar, isto é, de transformar objetos de forma cada vez mais complexos. Essas transformações de instrumentos de assimilação constituem a ação acomodadora. Conhecer é transformar o objeto, é transformar a si mesmo. O processo educacional que não transforma, está negando a si mesmo. Construtivismo, então, é a ideia de que nada está pronto, acabado; uma teoria que emerge do avanço das ciências e da Filosofia, uma forma de interpretar o mundo em que vivemos e, no caso de Piaget, o mundo do conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento. Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma técnica de ensino, nem uma forma de aprendizagem; não é um projeto escolar; é, sim, uma teoria que permite reinterpretar o mundo, jogando-nos para dentro de um movimento da História da Humanidade e do Universo. Qual o sentido do construtivismo na educação? Ele poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional, insatisfeito com um sistema que teima em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores. A educação deve ser um processo de construção de conhecimento, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores; por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (acervo cultural da humanidade). WALLON 30 Médico, psicólogo e filósofo francês, sua teoria pedagógica diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro, abalando as convicções, numa época em que memória e erudição eram o máximo em termos de construção do conhecimento. Foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. As emoções têm papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. O aluno exterioriza seus desejos e suas vontades, que expressam um universo importante e perceptível, pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. As transformações fisiológicas em uma criança revelam traços importantes de caráter e personalidade. “A emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos, etc, e esses momentos de tensão e distensão ajudam o ser humano a se conhecer”. A raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. A afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano. Segundo Wallon, as emoções dependem da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação, mas a escola insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessárias para o desenvolvimento completo da pessoa. O eu e o outro: A construção do eu, na teoria de Wallon, depende essencialmente do outro, seja para ser referência, seja para ser negado. A negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si próprio. Isso se dá aos 3 anos de idade, a hora de saber que “eu” sou. “Manipulação (agredir ou se jogar no chão para alcançar o objetivo), sedução (fazer chantagem emocional com pais e professores) e imitação do outro, são características comuns nessa fase”. A dor, o ódio 31 e o sofrimento são elementos estimuladores da construção do “eu”. Isso justifica o espírito crítico da teoria walloniana aos modelos convencionais de educação. Diferente dos métodos tradicionais (que priorizam a inteligência e o desempenho em sala de aula), a proposta walloniana põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada. Elementos como afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram num mesmo plano. As atividades pedagógicas e os objetos devem ser trabalhados de formas variadas. Numa sala de leitura, por exemplo, a criança pode ficar sentada, deitada ou fazendo coreografias da história contada pelo professor. Os temas e as disciplinas não se restringem a trabalhar o conteúdo, mas ajudar a descobrir o eu no outro. Essa relação dialética ajuda a desenvolver a criança em sintonia com o meio. LEV VYGOTSKY – o teórico do ensino como processo social Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais no educacional, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de sócio construtivismo ou sócio interacionismo. A obra do psicólogo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea. Seus estudos sobre o aprendizado decorrem da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com asociedade. “Na ausência do outro, o homem não se constrói homem”, escreveu o psicólogo. Ele rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer, as características que desenvolverá ao longo da vida, quanto as empiristas e comportamentais, que vêem o ser humano como um produto dos estímulos externos. Para Vygotsky, a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade ao seu redor – ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Apenas as funções psicológicas elementares se caracterizam como reflexos. Os processos psicológicos mais complexos (consciência e discernimento) só se formam e se desenvolvem pelo aprendizado. “Uma criança nasce com as condições biológicas de falar, mas só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos da comunidade”, diz 32 Tereza Rego. Outro conceito-chave de Vygotsky é a mediação, ou seja, toda relação do individuo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos (ex. ferramentas agrícolas) que transformam a natureza – e da linguagem, que traz consigo conceitos consolidados da cultura à qual pertence o sujeito. Todo aprendizado é necessariamente mediado- e isso torna importante o papel do ensino e do professor, pois o primeiro contato da criança com as atividades, habilidades ou informações, deve ter a participação de um adulto. O ensino deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. É a isso que se refere um de seus principais conceitos, o de zona de desenvolvimento proximal, que seria a distancia entre o desenvolvimento real de uma criança e aquilo que ela tem o potencial de aprender. A zona de desenvolvimento proximal é o caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela esta perto de conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais habilidades que um professor precisa ter. BUSCANDO CONHECIMENTO Discutir o tema da evolução teórico-prática da Educação, no cenário brasileiro, torna-se um desafio, porque a produção intelectual já conta hoje com um considerável numero de pesquisas, trabalhos e publicações, mas na prática não há o devido entendimento do que propõem as teorias. A Profª. Maria Rita de Oliveira propõe uma reflexão sobre as principais teorias, apontando semelhanças e diferenças entre os estudos, esclarecendo aspectos que limitam a compreensão da totalidade do fenômeno educativo à luz do ideário pedagógico brasileiro e, principalmente, chamar atenção para o fato de que todo pensamento pedagógico tem uma direção a ser considerada. Ela afirma que três 33 aspectos vêm dificultando a compreensão do fenômeno educativo, na forma como ele se apresenta nas escolas, via ideário pedagógico: 1º) as teorias da educação não desvelam como se dá a articulação das teorias com a prática; 2º) a apresentação de novas teorias da educação é feita em geral, no âmbito da descrição proposta, sem explicação de seu processo de construção; 3º) a ampliação da discussão dos projetos históricos que permeiam as posições progressistas na área da Educação, favoreceriam o entendimento da aparente identidade do discurso dito transformador. 34 UNIDADE 06 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A EVOLUÇÃO TEÓRICO- PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Conceituar Orientação Educacional e explicitar a sua associação com a educação. ESTUDANDO E REFLETINDO A educação deve ser entendida, em seu amplo conceito, como orientar, nortear, dirigir. A Orientação Educacional, implícita e explicitamente, está associada à educação, seja qual for o sentido que ela tome em sua fundamentação teórica. Da mesma forma que as características da Educação acompanham o perfil que determinada época ou categoria lhe atribui, identificamos, na Orientação Educacional, igual procedimento. Veremos a seguir, o papel da Orientação Educacional, sob a perspectiva das teorias educacionais. Na educação tradicional, a Orientação tinha uma característica terapêutica e psicológica, destinada aos alunos-problema, com o objetivo de ajustá-los aos modelos apresentados pela família, pela escola e pela sociedade, utilizando testes para uma melhor identificação das aptidões e problemas dos alunos. A Orientação teve, nessa abordagem teórica, seu eixo paradigmático em que o problema, tanto da aprendizagem, como da conduta, era sempre uma questão referente ao aluno, não às variáveis que interferiam nesse contexto. Sob a égide da educação renovada progressivista, a Orientação buscava auxiliar o desenvolvimento cognitivo dos alunos, identificando-os através de testes específicos, e trabalhando muito em termos individuais. Na educação não diretiva, a Orientação tinha a função de “facilitadora de mudanças”, de acordo com os princípios e postulados rogerianos. A própria formação 35 do orientador contemplava o aconselhamento vocacional, ressaltando-se que a teoria de Rogers tinha atenção especial para a abordagem da não diretividade do orientador. Na perspectiva da educação tecnicista, o papel da Orientação seguia uma linha funcionalista, enfatizando as técnicas de seus processos, procurando identificar as aptidões dos alunos para um determinado mercado de trabalho. Nesse período, a Lei nº 5692/71, tornou a Orientação Educacional obrigatória nos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus. O orientador estabelecia a relação escola-comunidade, colhendo dados sobre as possiblidades que o mercado de trabalho oferecia através de visitas a empresas. Cuidava dos estágios para alunos e mesmo de empregos disponíveis. Acompanharia os alunos nos estágios, avaliaria o desempenho, o ajustamento, a receptividade das empresas, e informaria aos alunos os direitos e deveres dos trabalhadores. Na educação libertária, o papel da Orientação era subsidiar e assessorar o professor em seu trabalho de “orientador”, cabendo-lhe tanto a função de “conselheiro” como a de “instrutor e monitor” à disposição dos alunos, já que a pedagogia libertária recusava qualquer forma de poder e autoridade. À Orientação caberia discutir as formas de poder com as classes trabalhadoras, subsidiando a formação dos alunos para vivência e consciência da participação crítica na sociedade. A motivação, o interesse em crescer dentro da vivência grupal são características importantes da educação libertária, que pode e deve ser trabalhada pela Orientação assim como a relevância do saber sistematizado e seu possível uso prático. Neste enfoque a orientação deve compartilhar dos princípios que evidenciam que só o vivido, o experimentado, será incorporado e utilizado em novas situações. Na educação libertadora, a Orientação procurava enfocar os alunos como indivíduos buscando captar o seu mundo real. A Orientação questionava a realidade das relações do homem com a natureza e com os outros homens, visando a uma transformação, sendo, por isso, considerada uma atuação crítica. Outro ponto a ser destacado é a questão do diálogo como seu método básico, onde educador e 36 educandos posicionam-se como sujeitos do ato do conhecimento, desenvolvendo mecanismos estratégicos que evidenciem que o que é aprendido não decorre de uma imposição ou memorização, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo processo da compreensão, reflexão e crítica. Enfocando a educação crítico-social dos conteúdos, observamos que a atuação da Orientação consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe instrumental, por meio da aquisição de conteúdo e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade.A Orientação procura valorizar o aluno, sua experiência em um contexto cultural, participando da busca da verdade dele, aluno, para poder posteriormente, confrontá-la com os conteúdos e modelos apresentados pelo professor. O orientador procura ser um mediador nessa busca, ajudando o aluno a ultrapassar suas necessidades e criar outras, para que ele ganhe autonomia, ajudando-o, dessa forma, a compreender as realidades sociais e sua própria experiência. Na abordagem construtivista, a função da Orientação seria promover meios para a construção do conhecimento por parte do aluno. Nesse sentido, a Orientação busca superar a dicotomia objetividade e subjetividade, resgatando a unidade do conhecimento e a realidade concreta da vida dos alunos. Duas premissas são básicas nessa prática pedagógica: a de que todo conhecimento provém da prática social e a de que o conhecimento é um empreendimento coletivo e, portanto, não se produz na solidão do sujeito. Nas teorias acríticas, a Orientação enfatizava os aspectos individuais, procurando identificar as aptidões dos alunos e seu ajustamento na escola, na família e na sociedade. Ela estava comprometida com o aluno, com o aluno-problema e com as situações de desajustamento do mesmo nas instituições. Na perspectiva das teorias críticas, o comprometimento da Orientação está relacionado à dimensão coletiva que favorece o desenvolvimento do aluno. O orientador educacional tem como objeto de trabalho a articulação currículo-sociedade, 37 homem-natureza, homem-sociedade, escola-trabalho, escola-vida e, como ação fundamental, a leitura crítica permanente da sociedade e do mundo em que vivemos. BUSCANDO CONHECIMENTO Em termos teóricos, a Orientação, atualmente, apresenta novos paradigmas, que acompanham a Educação em um sentido mais abrangente, traduzindo-se no que se convencionou chamar de paradigmas holísticos, ecológicos ou interdependentes. À medida que se procura novos caminhos para a Educação, busca-se também um novo olhar para a função orientadora no cotidiano escolar. Que contribuições pode a Orientação oferecer para a melhoria da qualidade de ensino, para a democratização da escola, para a eliminação (ou, se possível, para a diminuição) do fracasso escolar? Cada tarefa dos profissionais, na escola, é inserida em um projeto coletivo, onde as atividades especificas se articulam com o todo, caracterizado por objetivos e finalidades comuns da escola. Não há separação entre as partes, identificando cada setor como o que detém um saber específico que vai permitir o controle sobre os demais. O que vemos e temos são espaços diferenciados que formam o conjunto – projeto-político-pedagógico – que, seja qual for sua estrutura, é feito pela interação de nós, elos, pontes, que se cruzam e entrelaçam. É uma realidade que vem da prática social e que se desdobra na prática escolar. Não se pode atribuir a ninguém, na escola, o papel de dono de uma área apenas (supervisor/professor, orientador/aluno-problema, professor/aluno, diretor/escola), mas sim protagonista; cada um tem funções relativas à responsabilidade da área na qual se formou e, portanto, nela investe, mas, seja qual for a função dentro da escola, é fundamental não perder de vista o conjunto e o modelo final do projeto coletivo da escola. 38 A Orientação deve buscar os meios para que a escola cumpra seu papel de ensinar/educar, promovendo as condições básicas para a formação da cidadania de nossos alunos. Na evolução teórico-prática da educação brasileira, durante longo período da história do país, a escola tinha o papel de ensinar, e o aluno, de aprender. Tudo que fosse desviado desse objetivo era sinalizado como algo da responsabilidade do aluno e, nesse sentido, ele precisava de um acompanhamento maior para resolver seu problema. Esse encaixe entre o que se desejava e o que objetivamente acontecia era uma das responsabilidades do orientador. O aluno excluído do modelo idealizado não tinha voz nem vez na escola, a não ser que cumprisse religiosamente os mandamentos pré-determinados. A educação contextualizada, além do olhar voltado para a informação, tem um grande compromisso com a formação de cada aluno, enquanto sujeito que conta, faz sua história. 39 UNIDADE 07 - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E O COTIDIANO ESCOLAR Conhecer o cotidiano é como dar um mergulho nos conhecimentos e sentimentos que tecem nosso dia a dia. GRINSPUN, 2011 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Estudar a orientação educacional no cotidiano escolar Estabelecer relações entre Orientação Educacional e cultura brasileira. ESTUDANDO E REFLETINDO Mirian Grinspun relata que no Colégio Estadual Ferreira Viana, no município do Rio de Janeiro, onde trabalhava como orientadora educacional, organizou e apresentou uma peça de teatro, com a colaboração de vários colegas do próprio Colégio. Nesse evento os alunos representavam cenas do cotidiano daquela época, com falas referentes às expectativas em torno de um amanhã, muito desconhecido para todos nós. Diz que dele se recorda agora, quando se percebe a importância do estudo do cotidiano para as transformações desejadas na escola. Segundo seus relatos era aquele cotidiano que os envolvidos queriam resgatar, com suas dificuldades, conflitos, preconceitos, sonhos e ilusões. Isso, dentro de uma escola em que o ensino era questão prioritária, não foi uma tarefa comum, foi bem difícil. A Orientação Educacional, então, foi colocando naquele palco toda a sensibilidade possível, para trazer o cotidiano dos alunos em linguagem simbólica, onde as metáforas falavam melhor do que a própria realidade. Mas nem sempre foi assim em termos de necessidade de falar desse cotidiano escolar, como forma de trazer para mais próximo, o contexto onde o aluno é educado. 40 Uma Orientação contextualizada enfatiza o papel e a relevância do cotidiano para os estudos e a prática onde ela se realiza. Hoje, todos os campos do conhecimento valorizam muito o estudo do cotidiano e, nos últimos anos, essa temática tem se revestido de inúmeras análises, pesquisas e indagações. Entre tantos estudiosos podemos citar Lefebvre, Michel de Certeau, Maffesoli e Heller, que têm se debruçado sobre o tema. Mas o que é o cotidiano? Quais são seus limites? Quais as noções que ele traduz? Qual o sentido dele para se refletir sobre a Educação? Qual o lugar das histórias de vida dos sujeitos, suas memórias, suas experiências, suas práticas, seus saberes, seus poderes, suas origens, suas etnias, etc., para que ocorra o processo educacional? O comportamento cotidiano tem sentido para a prática pedagógica? Essas e outras questões se instalam quando procuramos traçar uma epistemologia do cotidiano como forma de melhor estrutura-lo e compreende-lo. Para Lefebvre, a vida cotidiana apresenta uma totalidade de conhecimentos, ações, reações, etc., um conjunto de fatos históricos, políticos, sociais, culturais e econômicos que se fundem em um todo. É no cotidiano que são tomadas pequenas ou grandes decisões; é dele que emergem as ações e opções que serão feitas. Três termos aparecem quando tratamos desse tema: vida cotidiana, cotidianidade e cotidiano. Para Pichon-Rivière e Quiroga (1998, p.45), assim definem esse termo: Cotidianidade é a manifestação imediata, num tempo, num ritmo, num espaço das complexas relações sociais que regulam a vida dos homens numa determinada época histórica. A cada época histórica e a cada organização social corresponde um tipo de vida cotidiana, já que em cada época histórica e em cada organização social ocorrem diferentes tipos de relações com a natureza e com os outros homens. O cotidiano escolar apresenta a natureza das práticas, das ações desenvolvidas realizadas em seu interior e, na medida em que conheço essa realidade,passo a entender melhor as decisões que a escola efetiva através de seus diferentes protagonistas. O cotidiano escolar envolve, não só questões específicas do currículo escolar, do projeto político-pedagógico, mas também todas as questões de relação de poder, de 41 saber, de afeto, de emoção, etc., que estão em determinado tempo/espaço fazendo parte da vida do aluno/professor. O que nele ocorre não diz respeito apenas à história política/social, ao mundo do trabalho, à família, à ecologia, à mídia, ao sindicato, etc.; ele é tudo, mas é também um pouco de cada. Como? Como pequenos fragmentos que se unem em um todo, constituindo um espaço único, tecendo o que podemos chamar de realidade social. O sujeito que está na escola, tem, direta ou indiretamente, a participação em outros meios e, dessa forma, suas ações e decisões estão valoradas por outros acontecimentos fora da escola. O sujeito que faz parte do cotidiano escolar dispõe de seu conhecimento, de seus valores, de seus temores e desejos para efetivar o que deve, ou pode realizar, como rotina ou como criatividade. O que acontece no cotidiano escolar não pode ser visto apenas como algo que aconteceu na escola e será analisado por terceiros; é preciso ver também o que o sujeito fez para que isso acontecesse, sua parte (potencialidade) e como reagiu ao que aconteceu, enquanto outros também agiram (possibilidade). A prática social mostra sua verdade no cotidiano, como diz Lefebvre. No cotidiano escolar, temos que levar em consideração a valorização do senso comum, do que é imaginário, das representações sociais e do que se convencionou chamar de realidade. Nele observaremos que está implícita a cultura escolar, a cultura que cada um carrega de seu contexto social, a linguagem que o individuo utiliza, os usos e costumes, o saber/fazer que possui. Conhecer esse cotidiano escolar nos direciona a entender a questão, tanto do individuo como do grupo, das construções coletivas que se fazem dentro e em torno da escola. Quanto mais procuro compreender os mecanismos da prática social, que se configuram pelo cotidiano escolar, melhores condições tenho para analisar as rotinas e rupturas que ocorrem nesse interior. O cotidiano escolar, segundo Grispun, traduziu-lhe as práticas sociais que são do domínio de todos e que são colocadas em processo no dia a dia da escola, mas é preciso não esquecer, que nele existem esquemas de resistência, e que, às vezes, a 42 homogeneidade de suas ações se dá por falta de compreensão e de aceitação das diferenças, embora a rotina e a hierarquização de tarefas façam parte do seu contexto. A Orientação Educacional sempre esteve relacionada às ocorrências do cotidiano. Entretanto, este cotidiano tinha uma dimensão um tanto fotografada da realidade, pois era determinado pelas normas da escola, programas, etc., mais do que pelo próprio discurso experienciado pelo aluno. Era um cotidiano comprovado e não analisado. A realidade histórica e a realidade social em que os protagonistas da escola vivem, em especial o aluno, revela-se e oculta-se no cotidiano, onde um sistema de representações o traduz sob diferenciadas formas: a desejável, a possível, a idealizada, a do “faz de conta”. Cada escola, pública ou particular, de determinado segmento ou modalidade de ensino, terá sua particularidade e singularidade. O professor pode ter um desempenho na escola pública que não é o mesmo que ele manifesta na rede particular; o aluno pode ter uma relação na escola que não é a mesma que ocorre dentro de casa. O cotidiano escolar tem uma organização, uma estrutura, um sistema que rege seus acontecimentos. Há uma vida cotidiana em que todos convivem na complexidade que caracteriza, vivendo, também, com as vontades, preocupações, dificuldades, ambiguidades e conflitos de sua própria complexidade interior. Esse espaço do cotidiano, além de privilegiado pela vivencia (por ser único para cada um de nós) , pode reproduzir o que os outros esperam que aconteça ou pode transformar o que os outros acreditam que não seria possível acontecer. Se o cotidiano, como diz Certeau, é um espaço estratégico de uso e táticas (arte de falar, arte de fazer, arte de silenciar) , eu diria que, para a Orientação, o cotidiano escolar é a arte de ouvir e de saber agir para melhor se disponibilizar para o outro e para instituição. BUSCANDO CONHECIMENTO A Orientação Educacional e a Realidade Cultural do País 43 Laraia, em seu livro “Cultura – um conceito antropológico”(2006), diz que a cultura condiciona a visão de mundo do homem, isto é, o modo de ler o mundo; as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais, e mesmo as posturas corporais, são produtos de uma herança cultural. Compreender a cultura é compreender a sociedade onde ela se efetiva. Esse é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar e participar do mundo futuro. Analisando os pontos principais da cultura, pode-se afirmar que existem dois tipos de mudança cultural: uma interna, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural; e outra, resultado do contato de um sistema cultural com o outro. A educação deve levar à compreensão das diferenças entre povos de diferentes culturas, e da mesma forma, saber entender as diferenças que ocorrem dentro do sistema em que vive. Um ponto importante para nosso estudo é a questão que engloba o conceito de cultura nacional, suas relações de poder, o processo de comunicação na cultura. No caso da cultura brasileira, observa-se, segundo Ortiz (1994), que não existe uma identidade nacional, mas sim identidades construídas por diferentes grupos sociais em diferentes momentos históricos. Um ponto importante para estudarmos na cultura brasileira são as relações entre cultura e Estado. A partir das primeiras décadas do século XX, o Brasil sofre mudanças profundas. O processo de urbanização se acelera, desenvolve-se uma classe média, surge um proletariado urbano. Assiste-se a uma transformação cultural profunda, adequando as mentalidades às novas exigências de um Brasil moderno. Para compreendermos a cultura brasileira, temos que entender as relações do Estado com a cultura, seus projetos e políticas nessa área. A presença do Estado é exercida, sobretudo, através da normatização da esfera cultural. A partir de 1964 são baixadas inúmeras leis, decretos-lei e portarias que disciplinam e organizam os produtores, a produção e a distribuição dos bens culturais. Nesse momento, temos que lembrar o papel da censura nas manifestações culturais, em diferentes aspectos. 44 Para entender a cultura de nosso país, temos que entender também a evolução de seu conceito, os mitos, as crenças, as religiões, a etnia, os símbolos, etc., tudo que compõe o tecido social brasileiro, no qual a própria cultura tem seu lugar de destaque. Na medida em que a Orientação desenvolve seu trabalho no e para o cotidiano, a cultura, em seus diferentes enfoques passa a ser uma preocupação do orientador no sentido de ser resgatada, seja pelos movimentos populares, seja pela especificidade de um grupo e de sua etnia correspondente. O papel da Orientação é criar condições favoráveis ao surgimento e desenvolvimento de ações relacionadas a nosso momento cultural e à preparação da cultura brasileira, que apresentar-se-á em outros e novos momentos de nossa história. Inúmeros projetos interdisciplinares poderão ser realizados – projetos com a Educação Artística: artes como pintura, esculturas, visitas a exposições, painéis com trabalhos produzidos pelos alunos; com a Língua Portuguesa: contos, poesias; com a Geografia: espaço diferenciado das culturas; com a História: relações entre educação e culturas no contexto urbano e rural; com a Matemática: processos matemáticos
Compartilhar