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Cirurgia maxilo-facial Aula 9 – Infecções odontogênicas Infecções odontogênicas Infecções odontogênicas, geralmente, são causadas por bactérias que têm tendência a formar abscessos. Além disso, as raízes dos dentes propiciam uma via para bactéria infectante entrar nos tecidos profundos das regiões periodontais e periapicais. Portanto, infecções odontogênicas causam abscessos localizados profundamente e eles, quase sempre, requerem alguma forma de terapia cirúrgica, variando de tratamentos endodônticos e curetagem gengival, a extração, e incisão e drenagem dos espaços profundos da face da cabeça e pescoço. As infecções odontogênicas possuem duas origens principais: (1) periapical, em consequência de necrose pulpar e invasão bacteriana subsequente do tecido periapical; (2) periodontal, resultando de uma bolsa periodontal profunda, que possibilita a inoculação das bactérias nos tecidos subjacentes. Dessas duas, a origem periapical é a mais comum na infecção odontogênica. Princípios do tratamento das infecções odontogênicas 1. Determinar a gravidade da infecção • História completa O propósito inicial é descobrir a queixa principal do paciente. As queixas principais típicas são: “Estou com dor de dente”, “Meu maxilar está inchado” e “Tenho um tumor na minha boca”. A queixa deve ser registrada nas palavras do próprio paciente. O próximo passo da anamnese é determinar há quanto tempo a infecção está presente. A próxima etapa é elucidar os sintomas do paciente. As infecções representam uma resposta infl amatória grave, de modo que os sinais típicos da inflamação são percebidos clinicamente com facilidade. Esses sinais e sintomas são: dor, tumor, calor, rubor e perda de função. Finalmente, o dentista deve perguntar como o paciente se sente de forma geral. Aquele que se sente fatigado, febril, fraco e doente, geralmente, é classifi cado como tendo mal- estar. Mal-estar costuma indicar uma reação à uma infecção de moderada a grave. • Exame físico O primeiro passo no exame físico é coletar os sinais vitais, que incluem temperatura, pressão sanguínea, taxa de pulso e taxa respiratória. Uma vez que os sinais vitais sejam obtidos, a atenção deve voltar-se para o exame físico do paciente. A parte inicial desse exame deve ser a inspeção da aparência geral do paciente.Aqueles com infecção um pouco mais extensa apresentam aspecto fatigado, estado febril e indisposição. Isso é caracterizado como “facies tóxica”. A cabeça e o pescoço do paciente são examinados cuidadosamente em busca de sinais de infecção. O paciente deve ser inspecionado em busca de evidência de tumefação e eritema sobre a área. Deve-se pedir a ele para abrir bem a boca, engolir e realizar respirações profundas para que o dentista possa avaliar trismo, disfagia ou dispneia. Estes são sinais preocupantes de uma grave infecção, e o paciente deve ser encaminhado imediatamente para um cirurgião oral e maxilofacial ou para a sala de emergência. As áreas de tumefação devem ser examinadas pela palpação. O dentista deve apalpar delicadamente a área de tumefação afim de verificar sensibilidade, calor do local e a consistência da tumefação. Esta pode variar de muito mole a quase normal até uma tumefação mais consistente, tumefação carnuda (descrita como uma sensação pastosa) e até mesmo uma tumefação mais firme ou dura (descrita como sensação de enrijecimento). Uma tumefação endurecida tem a mesma firmeza de um músculo tenso. Outra característica da consistência é a flutuação. Esta é sentida como um balão cheio de líquido. A tumefação flutuante, quase sempre, indica que há acúmulo de pus no centro da área endurecida. O dentista faz, então, o exame intraoral para tentar encontrara causa específica da infecção, que pode ser dentes com cárie avançada, abscesso periodontal, doença periodontal grave ou a combinação de doença periodontal e cárie, ou uma fratura de um dente infectado ou dos maxilares. O dentista deve inspecionar e palpar as áreas de aumento gengival e fl utuação, assim como abscessos vestibulares localizados ou trajetos fistulosos. 2. Avaliar o estado dos mecanismos de defesa do hospedeiro • Condições médicas que comprometem a defesa do hospedeiro Delinear as condições médicas que possam resultar na diminuição da defesa do hospedeiro é importante. Esses comprometimentos permitem que mais bactérias entrem nos tecidos e se tornem mais ativas, ou impedem que a defesa celular ou humoral do hospedeiro exerça sua função completa. Doenças metabólicas não controladas, como diabetes não controlado, doença renal em estágio terminal com uremia e grave alcoolismo com desnutrição, resultam na diminuição da função leucocitária, incluindo diminuição da quimiotaxia, fagocitose e morte bacteriana. Das doenças metabólicas, o diabetes tipo 1 (insulino-dependente) e tipo 2 (insulino não-dependente) são as mais comuns doenças imunocomprometedoras e o controle reduzido de hiperglicemia está correlacionado, diretamente, com a baixa de resistência para todos os tipos de infecções. O segundo principal grupo de doenças imunocomprometedoras engloba aquelas que interferem nos mecanismos de defesa do hospedeiro, como leucemia, linfomas e muitos tipos de câncer. Essas doenças resultam na diminuição da função dos leucócitos e diminuem a síntese e a produção de anticorpos. Indivíduos soropositivos para HIV são capazes de combaterinfecções odontogênicas muito bem até que a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) progrida para um estágioavançado, no qual os linfócitos B estão, também, severamente diminuídos. • Fármacos que comprometem a defesa do hospedeiro Pacientes que fazem uso de certas medicações também possuem o sistema imune comprometido. Agentes quimioterápicos para câncer podem fazer com que o nível da contagem de leucócitos circulantes diminua, geralmente, inferiores a 1.000 células por mililitro. 3. Decidir se o paciente deve ser tratado por um dentista clínico geral ou cirurgião bucomaxilofacial. A maioria das infecções odontogênicas observada pelos dentistas pode ser tratada com a expectativa de uma resolução rápida. Infecções odontogênicas, quando tratadas por meio de pequenos procedimentos cirúrgicos e antibióticos, se indicados, quase sempre respondem rapidamente. No entanto, algumas infecções odontogênicas podem potencialmente pôr em risco a vida dos pacientes e exigem tratamentos médicos e cirúrgicos agressivos. Nessas situações especiais, o reconhecimento precoce da infecção é essencial, e esses pacientes devem ser indicados para um cirurgião oral e maxilofacial para o tratamento definitivo. 4. Tratamento cirúrgico da infecção O princípio básico do tratamento das infecções odontogênicas é executar uma drenagem cirúrgica e remover a causa da infecção. Esse tratamento pode variar desde algo muito simples, como a abertura de um dente e a extirpação da polpa necrosada, até um tratamento muito complexo, com incisão ampla nos tecidos moles das regiões submandibular e cervical em infecções graves, ou ainda abrir uma abertura de drenagem no mediastino. O objetivo primário do tratamento cirúrgico da infecção é remover a sua causa; a mais comum é uma polpa necrosada ou uma bolsa periodontal profunda. Um objetivo secundário é proporcionar a drenagem do pus acumulado e dos restos necróticos. 5. Suporte médico para o paciente 6. Escolher e prescrever os antibióticos apropriados • Determinar a necessidade de administrar antibióticos Para fazer essa determinação, três fatores devem ser considerados: o primeiro deles é a gravidade da infecção quando o paciente procura o dentista. O segundo fator é se o tratamento cirúrgico adequado pode ser alcançado. A terceira consideração é o estado da defesado paciente. Quando esses três fatores estão equilibrados, torna-se claro que em Odontologia há várias indicações específicas para o emprego de antibióticos. A primeira indicação, e mais comum, é a presença de uma infecção aguda inicial, com tumefação difusa e dor moderada a severa. Essa infecção, geralmente, encontra-se no estágio de celulite; e, com antibioticoterapia adequada, ID e tratamento dos dentes afetados, uma resolução rápida é esperada. A segunda indicação é praticamente para qualquer tipo de infecção em paciente medicamente com prometido. Tais pacientes que têm infecções de qualquer gravidade devem ser considerados candidatos para administração de antibióticos. A terceira indicação para antibioticoterapia é a presença de infecção que progrediu até o envolvimento dos espaços faciais profundos. Nessas situações, a infecção é agressiva o suficiente para se disseminar além dos processos alveolares dos ossos maxilares, indicando que a defesa do hospedeiro é inadequada para conter a infecção. A quarta indicação é a pericoronarite grave com temperaturas maiores que 37,7ºC, trismo e tumefação unilateral da face que ocorre, mais comumente, na região dos terceiros molares impactados. Finalmente, os pacientes que tem osteomielite requerem antibioticoterapia, além da cirurgia, para alcançar a resolução da infecção. Casos que são contraindicados: A primeira é um abscesso reduzido, crônico e bem localizado, no qual a extração do dente afetado resulta em completo esvaziamento do abscesso periapical, assumindo que a defesa do paciente está intacta e que o paciente não tem outras condições comprometedoras. Uma segunda contraindicação, embora similar, é um abscesso dentoalveolar bem localizado, com pequena ou nenhuma tumefação facial. A quarta abrange os pacientes que possuem pericoronite leve com pequeno edema gengival e dor moderada não necessitando de antibióticos para resolução de sua infecção. Em resumo, antibióticos devem ser usados quando há evidência clara de que existe invasão bacteriana para tecidos profundos, maior que a capacidade do hospedeiro em superá-la. • Uso rotineiro na terapia empírica Os antibióticos administrados oralmente que são efetivos contra infecções odontogênicas incluem penicilina, amoxicilina, clindamicina, azitromicina, metronidazol e moxifloxacina. Esses antibióticos são efetivos contra estreptococos e aeróbocos facultativos (com exceção do metronidazol) e anaeróbicos orais. O metronidazol é efetivo somente contra bactérias obrigatoriamente anaeróbicas; A droga escolhida, em geral, é a penicilina. Os fármacos alternativos para pacientes alérgicos à penicilina são a clindamicina e a azitromicina. O metronidazol é útil somente contra bactérias anaeróbicas e deve ser reservado para situações nas quais se suspeita do envolvimento somente de bactérias anaeróbicas (ou em combinação com antibióticos que têm atividade aeróbica, como a penicilina). • Uso de antibióticos em espectro reduzido • Uso de antobióticos com baixa toxicidade e efeitos colaterais reduzidos A maioria dos antibióticos tem uma variedade de toxicidade e efeitos colaterais que limitam a sua utilidade. Esses efeitos variam de moderados a tão acentuados que os antibióticos não podem ser usados clinicamente. Os antibióticos mais antigos, em geral usados em infecções odontogênicas, têm uma surpreendente baixa incidência de problemas relacionados com a toxicidade. Os antibióticos mais novos, no entanto, podem ter toxicidades signifi cativas e interações com outras medicações. Portanto, tem se tornado cada vez mais importante para o clínico entender a toxicidade, os efeitos colaterais e as interações medicamentosas em relação ao fármaco a ser prescrito. A alergia é o principal efeito colateral da penicilina. Cerca de 2% a 3% da população são alérgicos à penicilina. Pacientes com reações alérgicas à penicilina, que se manifestam por urticária, coceira ou difi culdade de respirar, não devem tomar penicilina novamente. A penicilina não apresenta efeitos colaterais ou tóxicos maiores na faixa normal de dosagem empregada pelos dentistas. Do mesmo modo, a azitromicina e a clindamicina apresentam uma incidência de toxicidade e de efeitos colaterais baixa. A clindamicina pode causar uma diarréia grave, chamada de colite pseudomembranosa. • Uso de antibiótico bactericida, se possível Antibióticos podem matar bactérias (p. ex., antibióticos bactericidas) ou interferir na sua reprodução (p. ex., antibióticos bacteriostáticos). Os bactericidas, geralmente, interferem com a síntese da parece celular das bactérias recém- formadas. Antibióticos bacteriostáticos interferem no crescimento e na reprodução bacteriana. Essa lentidão na reprodução bacteriana possibilita que as defesas do hospedeiro se desloquem para a área da infecção, fagocitem as bactérias existentes e as destruam. Os antibióticos bacteriostáticos exigem defesas do hospedeiro relativamente intactas. Esse tipo de antibiótico deve ser evitado em pacientes que possuem um sistema de defesa comprometido. Para esses pacientes, antibióticos bactericidas deve ser a medicação de escolha. Por exemplo, deve-se preferir o antibiótico bactericida penicilina ao bacteriostático azitromicina em pacientes que estão recebendo quimioterapia contra câncer. 7. Administrar o antibiótico apropriadamente Uma vez que é tomada a decisão de prescrever um antibiótico para o paciente, a medicação deve ser administrada em dose e intervalos corretos. 8. Avaliar frequentemente o paciente Princípios da prevenção das infecções O uso de antibióticos para tratar uma infecção estabelecida é uma técnica bem aceita e bem defi nida. Essas drogas providenciam maior assistência para o paciente em superar uma infecção estabelecida. O uso de antibióticos para prevenção (p. ex.,profilaxia) da infecção é pouco aceito. Princípios da profilaxia da infecção de feridas 1. Procedimento deve ter o risco significativo de infecção Para antibióticos administrados profi laticamente com o objetivo de reduzir a incidência de infecção, o processo cirúrgico deve ter uma incidência elevada o sufi ciente de infecção para esta ser reduzida pela antibioticoterapia. 2. Escolha certa do antibiótico A escolha do antibiótico correto para profi laxia contra as infecçõesapós cirurgia na cavidade bucal deve se basear nos seguintes critérios: primeiro, o antibiótico deve ser efetivo contra o organismo mais provável de causar infecção na cavidade oral. Como previamente discutido, estreptococos facultativos são, originariamente, organismos invasores na infecção oral. Segundo, o antibiótico escolhido dever ser um antibiótico de curto espectro. Terceiro, o antibiótico deve ser o menos tóxico disponível para o paciente. Finalmente, a droga selecionada deve ser um antibiótico bactericida. Como na maioria dasvezes o uso profilático rotineiro dos antibióticos no consultório dentário se dá em pacientes com defesas comprometidas, é importante que o antibiótico destrua, efi cazmente, as bactérias. Considerando esses quatro critérios, o antibiótico de escolha para profilaxia antes da cirurgia oral é a penicilina ou a amoxicilina. 3. O nível plasmático do antibiótico deve ser elevado Quando antibióticos são usados profilaticamente, o seu nível plasmático deve ser mais alto que quando são usados com fins terapêutico. O pico de níveis no plasma deve ser alto para assegurar a difusão do antibiótico para todos os fluidos e tecidos onde a cirurgia será executada. 4. Tempo correto de administração do antibiótico Para o antibiótico ter a efi cácia máxima na prevenção da infecção pós-operatória, deve ser administrado 2 horas ou menos, antes do inícioda cirurgia. O tempo de administração da dosagem antes da cirurgia varia de acordo com a via de administração utilizada, permitindo a absorção do antibiótico pelos tecidos no momento em que a incisão é realizada. Para a via oral, esse período é de, geralmente, 1 hora; na administração intravenosa, o menor intervalo de dosagem pré-operatória possível. A administração de antibióticos após a cirurgia tem a sua eficácia amplamente reduzida e não tem qualquer efeito na prevenção da infecção; há evidência que indica que antibióticos administrados profi laticamente 2 horas ou mais após a cirurgia pode aumentar o risco de infecções da ferida. Se a cirurgia for prolongada e doses adicionais de antibióticos forem necessárias, os intervalos das doses transoperatórias devem ser encurtados (p. ex., a metade do intervalo da dose terapêutica usada). Portanto, a penicilina e a clindamicina devem ser administradas a cada 3 horas. Isso assegura que o pico do nível plasmático de antibiótico permanecerá adequadamente alto e evitará períodos de nível inadequado nos fluidos teciduais. 5. Usar o menor tempo possível de exposição aos antibióticos que seja eficaz Para que a profilaxia antibiótica seja efetiva, o antibiótico deve ser administrado antes de a cirurgia começar, e níveis plasmáticos adequados devem ser mantidos durante o procedimento cirúrgico. Espaços fasciais Os espaços fasciais são compartimentos teciduais revestidospor fáscias, preenchidos por tecido conjuntivo frouxo areolar,que pode tornar-se inflamado quando invadido por micro- organismos.
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