Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Princípios da Técnica Cirúrgica Introdução - Diz respeito a todos os procedimentos que são necessários para atender o paciente: Avaliação e preparo pré-operatório, princípios da assepsia, técnica cirúrgica e cuidados pós-operatórios. Avaliação e Preparação Pré-operatória • Exame Clínico - Anamnese: Feita por meio de questionário a respeito das condições de saúde do paciente; - Exame Físico: Faz parte do exame clínico, juntamente com a anamnese; • Elaboração do Diagnóstico - Exames de Imagem: Periapicais, panorâmicas, tomografias computadorizadas, ressonância; • Avaliação das Condições Gerais - Exames Laboratoriais: Como hemograma, coagulograma, glicemia em jejum, hemoglobina glicada – principalmente no caso de pacientes diabéticos; OBS.: Se o paciente apresenta a quantidade de nitritos – o nitrato se transforma em nitrito – elevada, isso é um indicativo de infecção urinária. - ECG: Pacientes com + de 40 anos, com histórico de problemas cardíacos; - Raio-X do tórax: Pacientes com + 60 anos, com gripes recorrentes, reclamação de dor ao respirar, cansaço exacerbado, etc.; • Planejamento Cirúrgico - Etapa onde vai ser feita a organização, baseado em todos os exames e necessidades do paciente, o cirurgião irá determinar qual procedimento será necessário e o que é necessário para a realização do mesmo – anestesia, instrumentais; OBS.: Uma das necessidades básicas para o sucesso da cirurgia é uma boa visibilidade, que depende basicamente de → acesso apropriado (boa exposição do campo cirúrgico, do tamanho e do tipo da incisão e da retração do retalho), boa iluminação e campo cirúrgico livre de fluidos. - No planejamento, deve-se observar também as necessidades de preparo do paciente, visando minimizar a possibilidade de contaminações → remoção de placa bacteriana, tártaro, raízes residuais e curativos em cárie; • Instruções e Prescrições. Exame Clínico - O exame clínico é composto por anamnese e exame físico, que, por sua vez, é dividido em exame extra-oral e exame intra-oral; • Exame Extra-oral - São avaliados os linfonodos, em busca de possíveis focos de infecção ou lesões malignas, as glândulas salivares, observa-se a simetria facial e alterações na ATM, além de outros aspectos, como textura e coloração da pele; • Exame Intra-oral - São analisadas as estruturas moles, é observado se o paciente possuir todos os dentes, se há a presença de cáries e se é possível recuperar o elemento dentário, se o paciente é desdentado, se faz uso de próteses e se a mesma está mal adaptada. Princípios Básicos - A amplitude do acesso deve permitir uma boa visibilidade ao local cirúrgico e deve expor por inteiro a lesão patológica/elemento dentário sem distender ou dilacerar o tecido; - Deve ser feita a incisão em tecido sadio para evitar complicações periodontais no processo de cicatrização – e evitar problemas na hora de suturar, uma vez que tecidos inflamados são mais friáveis; - Após remoção de lesões, deve-se proporcionar uma margem óssea sólida ao redor dela para evitar deiscência – abertura espontânea dos pontos cirúrgicos ou da cicatriz ao longo de sua linha de incisão cirúrgica; - As incisões verticais não devem ser feitas sobre as eminências radiculares – pois são regiões com pouco tecido, e friável, o que dificulta a sutura; - A base do retalho deve ser mais ampla que a sua margem livre – aproximadamente o dobro da medida – pois é da base que advém a nutrição para o retalho, se ela for menor há grandes chances de se ter uma necrose da extremidade livre. Além disso, os lados devem sempre divergir para o ápice e, no máximo, ser paralelos quando houver necessidade de se desviar de certos estruturas anatômicas. Tempos Fundamentais da Cirurgia - São quatro tempos: diérese – punção, incisão, divulsão, descolamento, curetagem, dilatação – hemostasia, exérese e síntese. Diérese - Diérese é toda manobra que visa criar descontinuidade de tecidos, ou seja, ato pelo qual o cirurgião separa/divide os tecidos, gerando uma via de acesso. Existem alguns tipos de diérese praticadas pelos cirurgiões: • Punção - É o tipo mais simples. Realizada por meio de agulhas ou trocartes, os quais penetram nos tecidos separando-os sem seccioná-los; - Geralmente, tem como objetivo remover substância líquida – por meio de agulhas – ou mais espessa – por meio de trocarte – para fins diagnósticos; • Incisão - É quando ocorre corte do tecido, usando bisturi, raios laser, etc.; - O cabo do bisturi deve se segurado com uma caneta e o apoio da mão do cirurgião deve ser feito sobre estruturas duras – dente e osso – deve- se evitar pressão sobre os tecidos moles; - A direção da lâmina ao entrar e sair do tecido deve ser sempre perpendicular a superfície dele – para cortar inclina-se a lâmina, mas para sair ela deve voltar para a posição perpendicular. O ângulo reto reproduz margens mais quadradas – não biseladas – facilitando a recolocação das bordas da ferida; - As lâminas descartáveis usadas no cabo de bisturi apresentam-se com várias formas e tamanhos. Para uso intrabucal, devemos dar preferências para lâminas pequenas, como as de n° 15; OBS1.: Cortes superficiais e repetidos, feitos principalmente com lâminas sem corte, aumentam a lesão tecidual, a quantidade de sangramento e o edema pós-operatório. OBS2.: As incisões longas aumentam o campo cirúrgico, permitindo melhor visibilidade da região a ser operada. Não se deve economizar no tamanho da incisão, achando que assim estamos poupando o paciente de maior agressão, pois a reparação de uma incisão longa ocorre tão rapidamente quanto a de uma incisão curta. OBS3.: Um retalho que oferece resistência ao ser retraído deve ser aliviado com cortes laterais, as chamadas incisões relaxantes, para que não haja dilaceração desse tecido. • Divulsão - Consiste no afastamento dos tecidos, sem seccioná-los, por meio de tesouras ou pinças rombas; - O instrumento fechado é penetrado dentro do tecido a ser separado e logo após, essa manobra é feita a sua abertura, proporcionando desta forma a divulsão e o afastamento dos tecidos; OBS.: Afastamento tecido-osso → Nesse processo, os afastadores devem sempre estar apoiados em osso. O retalho não deve estar tensionado e/ou isquêmico. Quanto menor o trauma aos tecidos gengivais menor é o edema e melhor é a recuperação tecidual. • Descolamento - Consiste na separação rumba dos tecidos, por meio de um espaço anatômico virtual; - Utilizando-se instrumental como deslocadores, sindesmótomos, ruginas e outros; • Curetagem - É feita com instrumentos em forma de colher, as curetas, os quais apresentam bordas cortantes e tem como objetivo raspar a superfície de um tecido; • Dilatação - Essa manobra é feita aumentando-se o calibre de vias naturais. Como exemplo na cirurgia bucal, podemos citar a luxação feita em uma exodontia; OBS.: Todas essas formas de diérese citadas são do tipo mecânica. Mas existem também outros tipos, como a diérese térmica – crioterapia é um exemplo – e a diérese com raio laser, ambas pouco usadas na área odontológica. Tipos de Incisão • Retilíneas - Trata-se de uma incisão única, reta. Muito realizada nos tecidos moles, oferecendo uma cicatrização mais rápida que uma incisão pequena e regular; • Envelope - A incisão é feita acompanhando o colo do dente, abrangendo dois dentes anteriores e dois dentes posteriores ao dente que será removido. O rebatimento é feito sem incisões relaxantes, descolando papila e gengiva vestibular; • Em Arco - Concavidade Para Apical – Partsch - Concavidade Para Cervical – Pichler • Trapezoidais - Wasmund: Feita acima da gengiva inserida. É uma adaptação entre o semilunar e trapezoidal, sendo o tipo mais indicado para dentes com restaurações protéticas – evita retração após oprocesso de cicatrização, uma vez que a incisão não é feita acompanhando o colo do dente, como a de Neumann e Novak – principalmente na região anterior; OBS.: Retalho de Ochsebein → Semelhante ao de Wasmund, porém a base – horizontal – acompanha a arquitetura das papilas. - Neumann: A parte vertical é paralela ao longo eixo do dente anterior ao que será operado, devendo ser iniciada próxima a mucosa vestibular e se estendendo até a margem. A parte horizontal da incisão segue acompanhando a curvatura do colo do dente, devendo ser intrasulcular. Esse tipo abrange gengiva inserida, livre e papila dental com uma incisão relaxante do lado mais próximo da linha média – no lado distal seria difícil fazer a sutura. Geralmente, esse tipo é usado quando vai se fazer procedimentos em dentes localizados mais distalmente – molares e, às vezes para 2° PM; OBS.: A primeira sutura é feita na região entre as papilas. - Neumann Modificada ou Novak-Peter: Permite uma ampla visibilidade da região e é possível expandir a incisão. Esse tipo abrange gengiva inserida, livre e papila dental com duas incisões relaxantes; • Palatinos - Utilizado em cirurgias de segundo pré-molar e molares. A incisão horizontal é feita na face palatina, devendo ser intrasulcular. Pode-se fazer uma incisão relaxante entre o canino e o primeiro pré-molar – zona neutra – ou fazer uma do tipo envelope; OBS.: A extensão da incisão deve permitir o acesso à patologia, o feixe neurovasculares do forame palatino é protegido, o que gera menor risco de hemorragia. O afastamento pode ser feito com o afastador de Minnesota ou através do fio de sutura preso em um dente contralateral. - Incisão em Y: Muito utilizado para remoção de torus palatino. São feitos dois ramos anteriores que servem como incisões relaxantes, gerando um acesso maior; - Incisão em Duplo Y: São feitos dois ramos anteriores e posteriores, que servem como incisões relaxantes, gerando um acesso maior; OBS.: Reposicionamento do Retalho → O retalho deve ser adequadamente reposicionado sobre a loja cirúrgica, a fim de evitar recessões gengivais ou retardos no processo de reparo. OBS.: As incisões nunca devem ser feitas acima da papila interdental, sempre ao lado, para que seja possível a realização de uma boa sutura. Hemostasia - Hemostasia é toda a manobra destinada a evitar ou estancar a hemorragia. Essa detenção de perdas sanguíneas poderá ser fisiológica ou provocada pelo cirurgião, por um conjunto de manobras usadas para prevenir, deter ou coibir o sangramento; - Com a hemostasia o cirurgião consegue: 1° Evitar o excesso de perdas sanguíneas; 2° Cria maior visibilidade do campo operatório; 3° Evita a formação de hematomas, que diminuem a vascularização e atuam como meio de cultura, potencializando o desenvolvimento de uma infecção; • Manobras - Compressão com Gaze: É feita uma ligeira compressão com gaze, que serve para melhorar a adaptação dos retalhos e para garantir o hemostasia. Os vasos de pequeno calibre necessitam de, aproximadamente, 20-30 s de compressão contínua, enquanto os de maior calibre, necessitam de 5-10 min; OBS.: Nunca se deve esfregar a ferida para remover o excesso de sangue extravasado, pois isso pode gerar a reabertura dos vasos já tamponados e pequenas hemorragias. - Pinçagem: Nessa manobra, o cirurgião aplica uma pinça hemostática do tipo Kelly, por exemplo, provocando a aproximação de suas paredes e parando o sangramento excessivo, promovendo a coagulação. Quando o calibre do vaso for muito pequeno, de maneira que não se visualize sua luz, pode-se fazer uma pinçagem em massa, pinçando uma quantidade de tecido que envolva a região sangrante, incluindo o vaso; - Ligadura: Depois de pinçar o vaso, passasse um fio de algodão 3.0 ou 4.0 em volta do vaso, apertando o com um nó, solta-se a pinça, e, se realmente se conseguiu a hemostasia dá-se o segundo nó; - Termocoagulação (Cauterização): Nesse procedimento, o vaso é tocado com uma ponta de bisturi elétrico, a ponta de cauterização gera uma fusão da parte terminal do vaso cortado. Esse toque pode ser direto ou por meio de instrumento metálico, sendo esta segunda forma a melhor para evitar queimaduras indesejadas; - Uso de Substâncias Químicas: Adrenalina – 7min antes da cirurgia – colágeno e trombina – esses dois últimos, geralmente sobre tecido ósseo – esponja de gelatina absorvível, esponja de fibrina, celulose oxidada regenerada, cera para osso. Exérese - Trata-se da operação propriamente dita, feita após a diérese e a hemostasia; - Para facilitar e minimizar o tempo da cirurgia recomenda-se que se monte uma mesa cirúrgica, seguindo os tempos fundamentais da técnica cirúrgica, ou seja, colocando inicialmente os instrumentais de diérese, seguido dos instrumentais de exérese, hemostasia e síntese, além de instrumentais acessórios; • Tipos - Osteotomia: Desgaste ósseo; - Ostectomia: Remoção de fragmento ósseo; - Curetagem; - Avulsão: Via alveolar e via não alveolar; • Cuidados Transoperatórios - Curetagem: Se necessário; - Limagem: Remoção de espículas ósseas; - Manobra de Chompret: Reposiciona as paredes alveolares; - Tamponamento com gaze. Síntese - A síntese é a etapa final de um procedimento cirúrgico, constituindo o conjunto de manobras que o cirurgião emprega para aproximar os tecidos que foram separados, prevenindo infecções, protegendo o coágulo e evitando a formação de espaço morto; - Seu objetivo é reconstruir a região operada de maneira voltar à condição que se encontrava antes da cirurgia, restituindo-se a função e acelerando-se a cicatrização; • Tecido Ósseo - Para a osteossíntese, pode-se lançar mão de fios de aço, placas e parafusos de titânio; • Tecidos Moles - Sutura; PRINCÍPIOS DA SUTURA 1° A sutura pode ser feita com pontos interrompidos e fio 3.0; 2° Deve-se iniciar pelos ângulos, seguindo pela incisão horizontal e, em seguida, o pontos verticais; 3° As papilas interdentais podem ser suturadas com pontos interrompidos – simples; 4° O retalho a ser aproximado deverá ser estabilizado com pinça; 5° A agulha deve ser presa ao porta agulha, aproximadamente, no meio. A agulha deve entrar perpendicular ao tecido e após a penetração, deve-se seguir a curvatura da agulha e girar o pulso; 6° As estruturas em mucosa devem ser mantidas por 5 dias e as feitas em superfície cutânea, no máximo por 4 dias; 7° As extremidades do fio devem ser puxadas juntas e amarradas o suficiente para aproximar as bordas da ferida, sem comprometer a vascularização; 8° O nó da sutura pode ser realizado com auxílio do porta agulha; 9° O corte do fio excedente ao nó deve ser feito cerca de 2-3 mm acima deste, devendo-se evitar pontas compridas demais, que podem incomodar o paciente, gerar lesões e servir como local para acúmulo de placa e microrganismos; TIPOS DE SUTURA • Com Pontos Separados - Consiste em pontos isolados até o fechamento total e adequado da ferida. Os nós devem ser sempre colocados lateralmente ao traço da incisão, e não sobre ele – pois acumulam mais sujidades e poderiam levar a uma infecção; - Esse tipo de sutura é o mais comumente utilizado, pois, apesar de exigir um tempo maior para a sua realização, permite melhor orientação do profissional para adaptação das bordas da ferida e, não há comprometimento total da estrutura, caso haja o rompimento de um dos pontos; !!! Dentre os pontos usados nesse tipo de sutura, tem-se: - Ponto simples: Aproximação das bordas; - Ponto em U Horizontal: Sustentação; - Ponto em X: Manutenção do coágulo; - Pontos Donati ou em U Vertical: Sustentação e aproximação; • Contínua - A sutura contínua é feita de uma série de pontos praticados com um único fio que percorre toda a linha da incisão sem interrupção. Tem-se apenas dois nós, um no começo e outro no fim dasutura; - Tem como vantagem a execução mais rápida e é indicada em grandes extensões, por exemplo, sobre o rebordo alveolar; !!! Essa estrutura pode ser feita do tipo: - Simples; - Ancorado ou festonada; - Grega ou contínua em U; - Intradérmica; FIOS DE SUTURA • Características Essenciais - Resistência a tração e torção; - Calibre fino e regular; - Ausência de reação tecidual; - Ser fácil de esterilizar; - Ser mole, flexível e pouco elástico; - Ter baixo custo; • Tipos - Absorvíveis: Natural – categute – e sintético – ácido poliglicólico, poligalactina 910; - Não Absorvíveis: Naturais – seda, linho e algodão – e sintéticos – naylon, poliéster e polipropileno; OBS.: O tipo de agulha acoplada ao fio de sutura pode ser classificado, quanto a secção transversal, em cônica, cortante e cortante reversa. As agulhas cortantes têm ponta afiada e permitem melhor penetração em tecidos mais duros, como gengiva e pele. A ponta cônica – dificilmente usado na odontologia – é mais romba, que permite um menor traumatismo ao tecido, desde que sua resistência seja suficiente a sua penetração. Cuidados Pós-Operatórios - É importante orientar o paciente a fazer uma boa higienização do local – limpeza da ferida – com cuidado para não agredir a área, mas se atentando em remover restos alimentares que podem servir de ponto infeccioso; OBS.: O cirurgião também deve fazer uma boa limpeza. - Orientações e prescrição pós-operatória: Deve-se utilizar compressa fria nos dois dias após a cirurgia, passados esses dois dias deve-se fazer compressa quente, deve-se também evitar baixar a cabeça; - Orientações de repouso e alimentação; - Remoção de pontos: Deve-se cortar o nó exatamente na base, sem deixar pontas, para evitar que partes contaminadas do fio entrem em contato com a parte interna do tecido no momento da retirada do fio.
Compartilhar