Prévia do material em texto
Uso terapêutico da babosa (Aloe Vera) no conhecimento popular em São Luís, MA - Brasil Adjoua B. Koudjo, Juliana R. S. Melo, Kesly L. O. Borges, Maria G. dos S. Ferreira, Thais N. Aguiar, Yasmin A. de Sá Portela Curso de Farmácia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA 9 de novembro de 2020 Resumo Uma das principais abordagens reconhecida por cientistas em todo o mundo, como uma estratégia de seleção de plantas medicinais são as investigações etnofarmacológicas e etno- botânicas. A planta medicinal foco desse trabalho é a babosa (Aloe Vera). Há dezenas de espécies de babosa, uma planta muito utilizada para diversos fins. Algumas dessas espécies possuem toxinas e outras possuem aplicações medicinais e cosmetológicas como é o caso da Aloe barbadensis. Nesse trabalho foi implementado um estudo etnodirigido através de um questionário composto por onze perguntas com o objetivo de avaliar o uso, a aplicação e o conhecimento da babosa na cidade de São Luís, MA - Brasil. Levando em consideração, também, as características das pessoas que utilizam a planta. Os resultados mostraram que a maior utilidade da babosa dentre os entrevistados foi como cosmético para tratamento capilar, no qual 80,8% de todas as 120 pessoas que responderam o questionário são do sexo feminino. Apesar do número de entrevistados não corresponder ao estado da arte, foi possível perceber que o conhecimento popular é um dos principais propagadores de saberes para o uso das plantas como tratamento terapêutico. Palavras-chaves: aloe vera. babosa. estudo etnodirigido. Abstract One of the main approaches recognized by scientists around the world as a strategy for selecting medicinal plants are ethnopharmacological and ethnobotanical investigations. The medicinal plant focus of this work is the Babosa (Aloe Vera). There are many of species of aloe, a plant widely used for various purposes. Some of these species have toxins and others have medicinal and cosmethological applications as is the case of Aloe barbadensis. In this work, an ethnodirected research was implemented through a questionnaire composed of eleven questions was implemented with the objective of evaluating the use, application and knowledge of Babosa in the city of São Luís, MA - Brazil. Also taking into account, the features of the people who use the plant. The results showed that the greatest usefulness of aloe among the interviewees was as cosmetic for hair treatment, in which 80.8% of all 120 people who answered the questionnaire were female. Although the number of interviewees does not correspond to the state of the art, it was possible to perceive that popular knowledge is one of the main propagators of knowledge for the use of plants as a therapeutic treatment. Keywords: aloe vera. babosa. ethnodirected research. 1 1 Introdução As investigações etnofarmacológicas e etnobotânicas têm sido a principal abordagem reconhecida por cientistas em todo o mundo, como uma estratégia de seleção de plantas medicinais. Esse tipo de abordagem possui qualidades e fortalezas suficientemente discutidas, esclarecendo seu potencial e impactos biológicos, econômicos e sociais(ALBUQUERQUE; HANAZAKI, 2006). A abordagem etnodirigida é baseada na seleção de espécies com a indicação de grupos populacionais específicos em determinados contextos de uso, enfatizando a busca pelo conhecimento empírico construído localmente a respeito de seus recursos naturais e a aplicação que fazem deles em seus sistemas de saúde e doença. Duas razões básicas tornam esse método muito eficiente: o tempo e o baixo custo envolvidos na coleta dessas informações (MACIEL et al., 2002). Duas disciplinas científicas têm se destacado nesta tarefa: a etnobotânica e a etnofarmacologia. Por definição, a etnobotânica se ocupa da "inter-relação direta entre pessoas e plantas"(ALBUQUERQUE, 2005), incluindo todas as formas de percepção e apropriação dos recursos vegetais; e a etnofarmacologia se ocupa do estudo dos preparados tradicionais utilizados em sistemas de saúde e doença que incluem isoladamente ou em conjunto plantas, animais, fungos ou minerais. A babosa ou Aloe vera é uma planta muito utilizada para diversos fins, sendo o uso cosmetológico o principal. As variadas maneiras de aplicar ou ingerir a substância gelatinosa presente na planta são difundidas de diversas formas: entre familiares, amigos, indicações de famosos, dentre outras. Além de ser aplicada ou consumida in natura, muitas pessoas fazem uso de outras partes da planta, como a casca que recobre a substância gelatinosa, ou mesmo misturam o gel com outros produtos (produtos para cabelo, água, cremes, etc). A espécie predominantemente utilizada é a Aloe barbadensis, que possui folhas amareladas e largas, cheias de um gel espesso, consistente, transparente e brilhante, característico de plantas desse gênero; inserida na família das Liláceas, são plantas originalmente africanas, ambientadas em clima tropical e apresentam porte médio (RAMOS; PIMENTEL, 2011). Em São Luís, a utilização da babosa é bastante comum, visto que, por ser um vegetal associado a temperaturas mais elevadas, as condições climáticas do Maranhão são favoráveis para o crescimento e cultivo dessa planta. Somado a isso, os benefícios da planta são amplamente divulgados, sendo o público feminino predominante na utilização da planta, aplicando seu substrato principalmente na pele e nos cabelos, com a finalidade de hidratar ambos; outro objetivo, ainda que menos comum, é a cicatrização de feridas, haja vista que esse gel possui substâncias potencialmente cicatriciais. Contudo, seu uso pode trazer riscos a saúde dos usuários, como o surgimento de reações adversas, tais como irritação da área em que foi aplicada, diarreia e vômitos quando ingerida e até mesmo manifestações alérgicas. Por ser um produto fitoterápico, boa parte da população acredita que seja um produto livre de quaisquer riscos: entretanto, caso não seja cautelosamente utilizada, a babosa pode sim apresentar perigos aos seus usuários. 1.1 Histórico da Aloe vera O uso de plantas era predominante nas primeiras civilizações, pois era a partir da natureza que esses povos garantiam sua sobrevivência e, consequentemente, mantinham sua qualidade de vida. A Aloe vera é utilizada a mais de 6.000 anos e registros datados de 4.200 a.C. encontrados em escritos cuneiformes dos babilônios já descreveram os efeitos medicinais da planta. Os faraós utilizavam a substância gelatinosa da planta em suas bebidas, acreditando que assim teriam o elixir da vida. Hipócrates, considerado o pai da Medicina, descreveu os benefícios gerados pela planta nos casos de úlceras e desordens gastrointestinais. Em seus estudos, Galeno também destacava as propriedades medicinais da Aloe vera1 (BANKHOFER, 2005). 1 Site: <https://panoramafarmaceutico.com.br/2018/03/16/saude-os-6-000-anos-de-historia-medicinal-do-aloe-vera> 2 https://panoramafarmaceutico.com.br/2018/03/16/saude-os-6-000-anos-de-historia-medicinal-do-aloe-vera 1.2 Descrição botânica Aloe vera, também conhecida por babosa, é uma espécie de planta suculenta do gênero Aloe. Cresce selvagem em climas tropicais ao redor do mundo e é cultivada para usos agrícolas e medicinais (PERKINS, 2020). É uma planta com caule curto ou longo, que cresce de 0,6 m até 2 metros de altura, multiplicando-se por brotamento. As folhas são grossas e carnosas, de cor verde a cinza-esverdeado, com algumas variedades mostrando manchas brancas nas superfícies superior e inferior das folhas. A borda da folha é serrilhada e tem pequenos dentes ou espinhos. As flores são produzidas no verão em uma espiga de até 1 m de altura, cada flor sendo pendente, de cor amarela e formato tubuloso de 2 ∼ 3 cm de comprimento (YATES, 2015). 1.3 Partes da planta que são utilizadas As folhas, mais especificamente a substância gelatinosa encontrada em seu interior é a parte mais utilizada nos tratamentos medicinais que incluem a babosa. Esse gel é composto principalmente de mucilagens, antraquinonas, aloína, aminoácidos, vitaminas (E,C. . . ), sa- poninas e barbalodina. As indicações da babosa incluírem fins medicinais como queimaduras, inflamações, cortes, irritações na pele, psoríase, constipação ocasional, síndrome do intestino irritável. Entretanto, o seu uso estético tem ganhado maior destaque, e, assim como na civilização egípcia, muitas pessoas, principalmente mulheres, faziam o uso da babosa nos cabelos e na pele, com o fito de hidratar ambos. Registros egípcios sugerem que a Rainha Cleópatra utilizada o gel da planta em seus cuidados com sua pele e seu cabelo e essa seria a natureza de sua beleza (GRUFFAT, 2020). 1.4 Riscos do uso Assim como todo produto de origem natural, a Aloe vera também possui riscos quanto ao seu uso. A casca externa da planta apresenta substâncias tóxicas e deve ser evitada a sua ingestão, pois pode gerar uma série de problemas de intoxicação estomacal. Há relatos de diarreia, disfunção dos rins e dermatites devido à ingestão da babosa. O uso tópico da planta pode causar alergias, irritação e edema local. O informe técnico da ANVISA indica que as substâncias antraceno e antraquinona presentes na aloe vera são mutagênicas, ou seja, podem causar mutação nas células humanas (STUPPIELLO, 2020). 1.5 Características Aloe vera possui potencial de cicatrização em feridas, principalmente cutâneas. Essa capacidade cicatricial expressada pela Aloe vera está relacionada ao glucamanano, substancia que estimula a liberação do fator de crescimento dos fibroblastos e reprodução dessas células, favorecendo a produção de colágeno, contribuindo para essa aceleração cicatricial. Vale ressaltar que esses testes clínicos foram realizados apenas em animais, não em humanos. Porem há divergências em relação ao efeito terapêutico efetivo nos casos de cicatrização e queimaduras solares em humanos. Alguns estudos já relataram que pacientes expostos a feridas cirúrgicas, apresentaram melhora na cicatrização ao fazer uso do creme à base de Aloe vera. Em contrapartida, outro estudo clínico revelou que o uso do gel, da mesma, ampliou o tempo de cicatrização em analogia ao tratamento que não envolvia o gel citado. “Esses resultados conflitantes podem ser parcialmente explicados se levarmos em conta o caráter hidrofílico dos componentes ativos presentes na A. vera, e que estes atravessam com muita dificuldade as barreiras impostas pela pele [...]” (FREITAS; RODRIGUES; GASPI, 2018, p.301). Em relação a queimaduras, a contraposição se dá entre as "usuais"e solares, onde estudos indicaram que o creme de Aloe vera, quando usado em uma queimadura usual, se mostrou eficaz. 3 Entretanto, em queimadura solar, essa eficácia não foi sustentada. Outras finalidades terapêuticas foram relatadas, em frequência menos significativa, Sendo o uso para tratamentos de problemas intestinais, como citado nas respostas, a Disbiose, um desequilíbrio na flora intestinal, causado pelo aumento de bactérias patogênicas, diminuindo a capacidade de absorção dos nutrientes, ocasionando a carência vitamínica no indivíduo. Para tratamento ou melhora dos sintomas provocados por essa enfermidade, o uso do suco de babosa produzido a partir das suas folhas, é popularmente utilizado, possuindo como um de seus benefícios a estimulação da flora intestinal bacteriana. Porém, a comercialização de sucos ou outros alimentos advindos da babosa são proibidos no Brasil, pois já foram relatadas reações adversas ligadas a componentes da babosa, por apresentar um alto grau de toxicidade devido à presença de substâncias como antraceno e antraquinona. De acordo com a ANVISA2, a Aloe Vera não apresenta evidências científicas ou que fundamente a segurança da mesma, no consumo por via oral. Por falta de estudos que comprovem sua não prejudicialidade, é vedado em território nacional, na fabricação e importação, alimentos e bebidas a base de babosa. 2 Metodologia A abordagem utilizada nesse trabalho foi o estudo etnodirigido que é baseada na seleção de espécies com a indicação de grupos populacionais específicos em determinados contextos de uso. Esse estudo foi implementado através de um questionário de onze perguntas. A lista de perguntas foi disposta em um sistema de formulário eletrônico, o Google Forms. Essa abordagem foi escolhida em detrimento da atual pandemia do COVID-19, impossibilitando também a entrevista de pessoas em campo. A pesquisa foi realizada no município de São Luís, entre os meses de setembro de 2020 a novembro de 2020. O formulário foi disseminado de maneira estocástica por todo município atingindo um total de 120 pessoas. A análise para inferência estatística escolhida foi uma distribuição normal dos dados. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário semiestruturado, contendo as variáveis perguntas: 1. Qual o seu gênero? 2. Qual o seu idade? 3. Qual o seu escolaridade? 4. Você conhece a Aloe Vera (Babosa)? 5. Já utilizou a babosa para algum tipo de tratamento? 6. Se sim, para que finalidade foi utilizada? a) Para cuidados com a pele; b) Para hidratação no cabelo; c) Para cicatrização; d) Para queimaduras; e) Outros. 7. Qual o modo de preparo da babosa quando você a utilizou? a) In Natura; b) Misturada com outras substâncias; c) Outros. 2 Site: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/anos-anteriores/ consumo-de-alimentos-a-base-de-aloe-vera-nao-e-seguro> 4 https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/anos-anteriores/consumo-de-alimentos-a-base-de-aloe-vera-nao-e-seguro https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/anos-anteriores/consumo-de-alimentos-a-base-de-aloe-vera-nao-e-seguro 8. Onde teve acesso a planta? a) casa; b) feiras; c) supermercados; d) outros. 9. Onde adquiriu conhecimento a respeito da babosa? a) tv; b) internet; c) parentes; d) amigos. 10. Você obteve o resultado esperado no tratamento? 11. Você já teve alguma reação adversa decorrente do uso da babosa? 12. Você tem conhecimento da existência de reações adversas quanto ao uso incorreto da babosa? 3 Resultados e Discussão Após a análise de 120 respostas, mediante questionário, observou-se que a maior parte dos entrevistados é do gênero feminino (80,8%), a faixa etária predominante está entre 20 e 44 anos (80,9%) e apresenta ensino superior incompleto (42,5%), de acordo com a tabela 1. Tabela 1 – Distribuição numérica e percentual das varáveis sociais e demográficas dos entrevista- dos da cidade de São Luis-MA, Brasil, 2020. Variáveis Qtd. % Sexo Feminino 97 80,8 Masculino 23 19,2 Total 120 100 Faixa etária 14-19 18 15 20-44 97 80,9 >45 5 4,1 Total 120 100 Escolaridade Sem escolaridade 0 0 Ensino fund. incompleto 3 2,5 Ensino fund. completo 3 2,5 Ensino médio incompleto 5 4,2 Ensino médio completo 21 17,5 Ensino superior incompleto 51 42,5 Ensino superior completo 37 30,8 Total 120 100 5 A maior frequência do sexo feminino pode ser explicada pela relação direta desse genero com o uso da planta e estudo, Aloe Vera, devido às suas propriedades terapêuticas e, principal- mente, cosmetológica, tendo em vista a mulher como usuária recorrente de produtos com essa finalidade. A faixa etária dos entrevistados está entre 20 e 44 anos, sendo uma população relativa- mente jovem, demonstrando um maior interesse é curiosidade por plantas medicinais e produtos fitoterápicos, como fonte alternativa para cuidados terapêuticos, buscando nesse sentido profilaxia e tratamentos por fontes naturais. Esse pensamento reforça certa confiança em produtos com essas finalidades, corroborando com o ideal popular de que “se é natural não faz mal”. Com relação à escolaridade, onde a maioria dos entrevistados tem ensino superior incompleto, reflete um possível conhecimento científico a respeito dessa planta, já que estas, dependendo da área de estudo que estão inseridas, podem dispor, ou entender que possuem, de certa compreensão mais específica acerca do uso da babosa, por ter acesso a plataformas de estudos e pesquisas que apresentem embasamentos concretos a respeito do assunto. O Gráfico 1 mostra o percentual de entrevistadosque conhecem a Aloe Vera. 94,2% afirmam ter conhecimento dessa planta ponto, por se tratar de uma planta de grande saber popular, independente da classe social, dita como a “Rainha das Plantas Medicinais”. A espécie de uso mais popular é a Aloe barbadensis (tradicionalmente chamada de Aloe Vera ou babosa), que apresenta flores amarelas e folhas largas recheados de um gel viscoso, de aspecto transparente gelatinoso, visualmente brilhante, extraído do parênquima dessas folhas, com quantidades significativas de proteínas, enzimas, minerais, vitaminas (A, B, C e E) e antioxidantes que lhe proporciona uma multifuncionalidade excepcional. É bastante explorada pelas indústrias, com destaque para as de cosméticos. Gráfico 1 – Distribuição percentual dos participantes que conhecem, ou não, a Aloe Vera na cidade de São Luis-MA, Brasil, 2020. No Gráfico 2, observa-se que 83,9% dos entrevistados já utilizaram a babosa para algum tipo de tratamento. Esse resultado indica o quão popular e multifuncional essa planta é, sendo um dos principais destaques na indústria de cosméticos naturais do país 3. No Gráfico 3, nota-se que a maioria dos entrevistados aplicou a babosa em tratamentos capilares (86,7%), seguido de uso tópico (18,1), e terapêutico, mais especificamente, em cicatrização 3 Site: <https://www.futuremarketinsights.com/press-release/aloe-vera-gel-market.> 6 https://www.futuremarketinsights.com/press-release/aloe-vera-gel-market. Gráfico 2 – Distribuição percentual dos participantes que já utilizaram ou não Aloe Vera para algum tipo de tratamento na cidade de São Luis, MA, Brasil, 2020. (10,5%) e queimaduras (3,8%). 5,7% não souberam responder qual a finalidade do uso, indicando um possível uso indiscriminado da planta. Gráfico 3 – Distribuição percentual da finalidade terapêutica com o uso da Aloe Vera na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. Por possuir propriedades com finalidade lubrificante e condicionante, a babosa é am- plamente empregada, principalmente pelas mulheres, no tratamento dos fios capilares, pois age como um condicionador natural, tornando-os potencialmente hidratados e brilhantes. No uso tópico, sua versão mais aplicada é na forma de cremes, sabonetes, loções e pastas, produzindo efeito hidratante e refrescante para a pele. No que se diz respeito ao tratamento em cicatrizes e queimaduras, a aloe vera tem apresentado, em diversos estudos, eficiência no processo de cicatrização e queimaduras. Sobre seu uso em queimaduras, estudos revelaram que animais expostos a queimaduras induzidas, se recuperaram tecidualmente mais rápido quando se fez o uso do creme de aloe vera, em comparação ao tratamento usual, com Sulfadiazina de Prata 1%. Em relação à cicatrização, algumas pesquisas revelaram que a Aloe vera possui potencial 7 de cicatrização em feridas, principalmente cutâneas. Essa cicatrização ocorreu de forma mais consistente com o uso da mucilagem. “[...] A mucilagem da Aloe vera também aumenta o número de ligações trans- versais entre as proteínas de colágeno, criando uma mudança na estrutura de colágeno, a qual resulta no aceleramento do processo cicatricial.” (MERCES et al., 2017, p. 41) Porém há divergências em relação ao efeito terapêutico efetivo nos casos de cicatrização e queimaduras solares em humanos. Alguns estudos já relataram que pacientes expostos a feridas cirúrgicas, apresentaram melhora na cicatrização ao fazer uso do creme à base de Aloe vera. Em relação a queimaduras, a contraposição se dá entre as "usuais"e solares, onde estudos indicaram que o creme, quando usado nas queimaduras tradicionais, foi mais eficaz. Outras finalidades Terapêuticas foram relatadas, em frequência menos significativa, sendo o uso para tratamentos de problemas intestinais, citado nas respostas. No gráfico 4, observou-se que 51,4% dos entrevistados já utilizaram a Aloe Vera in natura, ou seja, em seu estado natural; 51,4% também já a utilizaram misturada com outras substâncias e 13,1% não souberam responder. De acordo com relatos históricos, o uso da Aloe Vera de forma in natura, vem sendo feito desde os primórdios da humanidade. Já associada à outras substâncias, é comumente utilizada pela indústria, sobretudo cosmetológica e pode ser encontrada em produtos como: cremes, clareadores de pele, pomadas com ação cicatrizante, cremes de cabelo, entre outros produtos. Gráfico 4 – Distribuição percentual do estado da Aloe Vera quando usada na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. O gráfico 5 mostrou que 62,5% dos entrevistados tiveram acesso à planta em suas próprias casas, o que evidencia que trata-se de uma planta de cultivo fácil; 20,2% e 15,4% relataram que tiveram acesso à planta em feiras e supermercados, respectivamente; 9,7% relataram que o acesso à planta foi na casa de amigos e outros 7% não souberam responder. O conhecimento de plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos. O uso de plantas no tratamento e na cura é tão antigo quanto à espécie humana. Ainda hoje nas regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, supermercados e encontradas em quintais residenciais (LOPEZ, 2006). Quando questionados quanto à origem do conhecimento sobre a utilização da Aloe Vera, 50,4% dos entrevistados, como mostra o gráfico 6, afirmaram ter aprendido a partir de ensinamentos de parentes, ficando claro, portanto, que os conhecimentos tradicionais acerca de plantas medicinais seguem sendo compartilhados no contexto familiar. Outros 45,1% e 10,6% , afirmaram ter adquirido conhecimento na internet e televisão, respectivamente. Com isso, 8 Gráfico 5 – Distribuição percentual do acesso da Aloe Vera na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. percebe-se a influência desses meios midiáticos como fontes de informações bem utilizados pelas pessoas para estes fins. Ainda 10,6% afirmaram ter obtido conhecimento por meio de livros, outros 27,4% por meio de amigos e 4% adquiriram por meio de outros veículos, dentre os quais foram mencionados : nutricionistas, faculdades e até durante a formação. Com isso, nota-se a popularidade da planta que é bastante utilizada para fins diversos. Gráfico 6 – Distribuição percentual do conhecimento adquirido acerca da Aloe Vera na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. No gráfico 7, 87,6% dos entrevistados afirmaram ter obtido o resultado esperado, o que corrobora com as evidências científicas acerca da Aloe Vera para finalidades distintas. No entanto, 12,4% , não obtiveram o resultado esperado, o que pode acontecer quando a planta não é administrada de maneira correta e em altas ou baixas concentrações. É importante salientar que o aproveitamento adequado dos princípios ativos de uma planta, e em questão a Aloe Vera, exige um preparo correto, ou seja, para cada parte a ser usada, grupo de princípio ativo a ser extraído ou doença a ser tratada, existe forma de preparo e usos mais adequados. No gráfico 8, 78,6% dos entrevistados, alegaram não ter conhecimento de reações adversas oriundos do uso da Aloe Vera, com isso, percebe-se a falsa concepção que grande parte da população têm de que “o que é natural, não faz mal”. Já 21,4% dos entrevistados alegaram possuir este conhecimento. É importante pontuar que, embora o número de resultados esperados seja superior aos resultados não esperados, como mostrou o gráfico 7, há evidências científicas de reações adversas 9 Gráfico 7 – Distribuição percentual do conhecimento adquirido acerca da Aloe Vera na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. no uso da Aloe Vera, de acordo com a situação do registro de fitoterápicos no Brasil de 2008, a Aloe Vera é reconhecida apenas como uso tópico como cicatrizante, o que inviabiliza a segurança do uso dessa planta via oral (CARVALHO et al., 2008). Por ter ação cicatrizante, antibactericida, antifúngica e antivirótica pela presença de antraquinonas como aloenina, barbaloína e isobarbaloína em sua composição química, tais propriedades justificam seuuso popular, mas, mais uma vez é importante ratificar que, por causa de sua ação nefrotóxica em doses altas não deve ser usada via oral, pois o teor de seu princípio majoritário é aumentado e pode causar severa crise de nefrite aguda (SILVEIRA; BANDEIRA; ARRAIS, 2008). Gráfico 8 – Distribuição percentual do conhecimento sobre reações adversas do uso da Aloe Vera na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. O gráfico 9, mostrou que 97,3% dos entrevistados relataram que não tiveram reações adversas oriundas do uso da Aloe Vera, o que fomenta que as reações adversas são poucas no uso da Aloe Vera, desde que seja utilizada de maneira correta e para o tratamento adequado. Apenas 2,7% dos entrevistados tiveram reações adversas com o uso da Aloe Vera. Faz-se importante frisar que a maioria das reações adversas e efeitos colaterais conhecidos, registrados para plantas medicinais, são extrínsecos à preparação e estão relacionados a diversos problemas de processamento, tais como identificação incorreta das plantas, necessidade de padronização, prática deficiente de processamento, contaminação, substituição e adulteração de plantas, preparação e/ou dosagem incorreta. 10 Gráfico 9 – Distribuição percentual de pessoas que tiveram reações adversas com o uso da Aloe Vera na cidade de São Luís, MA, Brasil, 2020. 4 Conclusão Os estudos etnodirigidos têm como finalidade para a etnofarmacologia, sobretudo, a utilização do método ou da forma de localizar, avaliar e explorar sistemática e legalmente a diversidade de vida existente em determinado local, propiciando dessa forma avanço da ciência farmacêutica, com a descoberta de novos fármacos e a sua inclusão na farmacopéia biomédica; promover o uso local das plantas em combinação com os fármacos já conhecidos e outras tecnologias biomédicas; como também usufruir do conhecimento das comunidades locais respeitando os bens intelectuais das mesmas. Além das considerações sobre rigor metodológico é importante destacar os encadeamentos éticos da pesquisa etnodirigida no que diz respeito às discussões atuais sobre acesso a conhecimentos associados à biodiversidade brasileira e retorno de resultados das pesquisas. A partir dos resultados atingidos neste estudo etnobotânico, foi possível afirmar que a Aloe Vera se encontra presente no conhecimento popular de São Luís - MA, Brasil. A planta é muito utilizada pela grupo em questão, conforme foi visto na pesquisa elaborada. É notável que a maioria dos entrevistados a conhecem através de familiares. Nesse contexto, o conhecimento popular é um dos principais propagadores de saberes para o uso das plantas como tratamento terapêutico. Destaca-se ainda, que muitos desconhecem os efeitos adversos provenientes do uso incorreto da babosa e por esse motivo não se preocupam se existe uma forma correta de utilizá-la. Embora, possua certa efetividade no seu uso para fins terapêuticos, é fundamental que mais estudos fortaleçam essa tese. Logo, é importante que profissionais especializados esclareçam a forma correta de preparo e finalidade da Aloe Vera, garantindo maior segurança para a população e a obtenção de resultados positivos ao utilizar essa planta medicinal. 11 Referências ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à etnobotânica. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2005. (2). Citado na página 2. ALBUQUERQUE, U. P. d.; HANAZAKI, N. A. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse mÃe farmacÃ: fragilidades e pespectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia, scielo, v. 16, p. 678 – 689, 12 2006. ISSN 0102-695X. Disponível em: <http: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2006000500015&nrm=iso>. Citado na página 2. BANKHOFER, H. Das Glück, gesund zu bleiben : die besten Tipps aus dem Fernsehen. 4. ed. München, Deutschland: Mosaik bei Goldmann, 2005. ISBN 3442166624. Citado na página 2. CARVALHO, A. A. et al. Controle de qualidade em fitoterápicos. Taxonomia em Podcasts, 2008. Citado na página 10. FREITAS, V. S.; RODRIGUES, R. A. F.; GASPI, F. O. G. Propriedades farmacológicas da Aloe vera. 2018. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Disponível em: <https: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722014000200020&lang=pt>. Acesso em: 20 out. 2020. Citado na página 3. GOMES, M.; RIBEIRO, I. Aplicação do (Aloe vera) na cicatrização e cosmetologia. 2018. Riuni-Repositório Institucional. Disponível em: <https://riuni.unisul.br/handle/12345/5534>. Acesso em: 20 out. 2020. Nenhuma citação no texto. GRUFFAT, X. Aloe (babosa). 2020. Cria Saúde. Disponível em: <https://www.criasaude.com. br/N2132/fitoterapia/aloe.html>. Acesso em: 03 nov. 2020. Citado na página 3. LOPEZ, C. A. A. Considerações gerais sobre plantas medicinais. 1. ed. Roraima, Brasil: Ambiente: Gestão e Desenvolvimento, 2006. 19-27 p. Citado na página 8. MACIEL, M. A. M. et al. Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidisciplinares. Quim Nova 25, p. 429–438, 2002. Citado na página 2. MERCES, P. L. et al. Avaliação da Atividade Cicatricial do Aloe vera em Feridas em Dorso de Ratos. 2017. Revista Estima. Disponível em: <https://www.revistaestima.com.br/estima>. Acesso em: 23 out. 2020. Citado na página 8. PERKINS, C. Is Aloe a Tropical Plant? 2020. SFGate. Disponível em: <https: //homeguides.sfgate.com/aloe-tropical-plant-67510.html>. Acesso em: 03 nov. 2020. Citado na página 3. RAMOS, A. P.; PIMENTEL, L. C. Ação da babosa no reparo tecidual e cicatrização. 2011. Brazilian Journal of Healt. Disponível em: <http://inseer.ibict.br/bjh/index.php/bjh/article/ viewFile/73/84>. Acesso em: 06 nov. 2020. Citado na página 2. RODRIGUES, M. Babosa: Rainha das plantas medicinais. 2020. Yam. Disponível em: <https://yam.com.vc/equilibrio/769521/babosa-rainha-das-plantas-medicinais>. Acesso em: 19 out. 2020. Nenhuma citação no texto. SILVEIRA, P. F.; BANDEIRA, M. A. M.; ARRAIS, P. S. D. Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade. Revista Brasileira de Farmacognosia, 2008. Citado na página 10. 12 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2006000500015&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2006000500015&nrm=iso https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722014000200020&lang=pt https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722014000200020&lang=pt https://riuni.unisul.br/handle/12345/5534 https://www.criasaude.com.br/N2132/fitoterapia/aloe.html https://www.criasaude.com.br/N2132/fitoterapia/aloe.html https://www.revistaestima.com.br/estima https://homeguides.sfgate.com/aloe-tropical-plant-67510.html https://homeguides.sfgate.com/aloe-tropical-plant-67510.html http://inseer.ibict.br/bjh/index.php/bjh/article/viewFile/73/84 http://inseer.ibict.br/bjh/index.php/bjh/article/viewFile/73/84 https://yam.com.vc/equilibrio/769521/babosa-rainha-das-plantas-medicinais SOUZA, C. et al. Propriedades Farmacológicas da Babosa. 2020. FAVE - Forum Academico Faculdade Vértice. Disponível em: <https://fave.univertix.net/2019/11/05/ propriedades-farmacologicas-da-babosa/>. Acesso em: 19 out. 2020. Nenhuma citação no texto. STUPPIELLO, B. Babosa (Aloe Vera): benefícios para pele, cabelo e como usar. 2020. Minha Vida. Disponível em: <https://www.minhavida.com.br/beleza/tudo-sobre/20065-babosa>. Acesso em: 03 nov. 2020. Citado na página 3. YATES. Garden Guide 2015. 44. ed. Australia: Harper Collins, 2015. ISBN 9780732289874. Citado na página 3. 13 https://fave.univertix.net/2019/11/05/propriedades-farmacologicas-da-babosa/ https://fave.univertix.net/2019/11/05/propriedades-farmacologicas-da-babosa/ https://www.minhavida.com.br/beleza/tudo-sobre/20065-babosa Resumo Abstract Introdução Introdução Histórico da Aloe vera Descrição botânica Partes da planta que são utilizadas Riscos do uso Características Metodologia Resultados e Discussão Conclusão Considerações finais Referências