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Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 1 ESTAFILOCOCCIAS Os estafilococos, que são cocos Gram-positivos da família Micrococcaceae, formam estruturas semelhantes a cachos de uva na coloração de Gram. Esses microrganismos são catalase-positivos (diferentemente das espécies de estreptococos), imóveis, aeróbios e anaeróbios facultativos. TIPOS DE ESTAFILOCOCOS Cocos gram positivos que se organizam em cachos. Todos são catalase positivos S. aureus é o único do tipo coagulase positivo Staphylococcus aureus Coloniza 30% das pessoas Estafilococos coagulase negativa (36 cepas) Staphylococcus epidermidis: faz parte da microbiota da pele em 100% da população. O Staphylococcus aureus, a mais virulenta das muitas espécies de estafilococos, tem demonstrado sua versatilidade pelo fato de ainda ser uma causa significativa de morbidade e mortalidade apesar da disponibilidade de vários antibióticos antiestafilocócicos eficazes. O S. aureus é um patógeno muito versátil, podendo causar doenças mediadas por toxinas ou por mecanismos diretos. Esse microrganismo é responsável por numerosas infecções hospitalares e adquiridas na comunidade, as quais incluem desde infecções relativamente menores da pele e dos tecidos moles até infecções sistêmicas que comportam risco de vida. Os “outros” estafilococos, designados coletivamente como estafilococos coagulase-negativos (CoNS), são muito menos virulentos do que o S. aureus, porém ainda são patógenos importantes em infecções que estão principalmente associadas a dispositivos protéticos. INFECÇÕES POR STAPHYLOCOCCUS AUREUS O S. aureus é um patógeno tanto comensal quanto oportunista. Aproximadamente 30٪ dos indivíduos sadios são colonizados pelo S. aureus, e uma menor porcentagem (cerca de 10%) apresenta colonização persistente. A parte inferior das narinas e a orofaringe constituem locais frequentes de colonização no ser humano. A taxa de colonização apresenta-se elevada entre diabéticos dependentes de insulina, pacientes infectados pelo HIV, pacientes submetidos à hemodiálise, usuários de drogas injetáveis e indivíduos com lesões cutâneas. Transmissão: A transmissão do S. aureus resulta com mais frequência de contato pessoal direto. A colonização de diferentes partes do corpo possibilita a transferência do microrganismo de uma pessoa para outra durante o contato. Contudo, os indivíduos que adquirem infecções por S. aureus são infectados, em sua maioria, por uma cepa que já constitui parte de sua própria flora comensal. A infecção é iniciada através de rupturas da pele ou das mucosas. O S. aureus constitui uma importante causa de infecções associadas a cuidados de saúde. Constitui a causa mais comum de infecções de feridas cirúrgicas e é superado apenas pelos CoNS como causa de bacteremia primária. Patogênese O S. aureus é um patógeno piogênico conhecido por sua capacidade de induzir a formação de abscessos nas infecções localizadas ou metastáticas. As bactérias desencadeiam uma resposta inflamatória, que se caracteriza por uma infiltração inicial intensa de neutrófilos, seguida da infiltração por macrófagos e fibroblastos. A resposta celular do hospedeiro (incluindo o depósito de fibrina e colágeno) controla a infecção ou o processo espalha-se para os tecidos adjacentes ou para a corrente sanguínea. Na doença estafilocócica mediada por toxinas, a infecção nem sempre está presente. Por exemplo, uma vez formada a toxina nos alimentos, o paciente pode apresentar intoxicação alimentar estafilocócica na ausência de bactérias viáveis. Na síndrome do choque tóxico (SCT) estafilocócico, as condições que permitem a elaboração da toxina nos locais colonizados (p. ex., a presença de um tampão superabsorvente) são suficientes para desencadear doença clínica. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 2 Staphylococcus aureus - Resistências MSSA S. aureus sensível a meticilina (oxacilina no Brasil) Melhor droga para tratamento: Oxacilina MRSA S. aureus resistente a meticilina (oxacilina no Brasil) Tratamento principal: Vancomicina VISA (raro) S. aureus com resistência intermediária à Vancomicina VRSA (raro) S. aureus resistente à Vancomicina Estafilococos e Antibióticos Dentro dos grupos de antibióticos, as penicilinas em geral não tratam infecção por Estafilococos. Drogas para Estafilococos Simples – MSSA) Meticilina / Oxacilina Amoxicilina com clavulanato Cefalosporinas (todas) Carbapenêmicos Drogas para Estafilococos resistentes – MRSA (resistentes aos antibióticos citados anteriormente e para outras classes como quinolonas e aminoglicosídeos): Vancomicina Tigeciclina Linezolida Daptomicina Ceftarolina Drogas para CA-MRSA Sulfametoxazol-Trimetropim Clindamicina ... e os ATB úteis para MRSA em geral citados acima. Epidemiologia Nessas últimas duas décadas, houve uma notável mudança na epidemiologia das infecções causadas por S. aureus resistente à meticilina (MRSA, de methicillinresistant S. aureus). Além de seu importante papel como patógeno hospitalar, o MRSA tornou-se um patógeno estabelecido na comunidade. Foram relatados numerosos surtos de infecções por MRSA adquiridos na comunidade (CA-MRSA), em ambientes tanto rurais quanto urbanos, em regiões amplamente distantes no mundo inteiro. Os surtos ocorreram entre grupos distintos, como crianças, prisioneiros, atletas, índios norteamericanos e usuários de drogas. Os fatores de risco comuns a esses surtos incluem condições higiênicas precárias, contato íntimo, material contaminado e lesão da pele. As cepas de CA-MRSA também têm sido responsáveis por um crescente número de infecções hospitalares. Ademais, a aparente capacidade do MRSA-AC de causar doença em indivíduos imunocompetentes tem sido objeto de preocupação. H-MRSA e CA-MRSA H-MRSA CA-MRSA Antes só havia o H-MRSA (hospitalar) – 1960 – estafilococos associados a uma série de fatores de risco. Em 2000, surgem relatos do surgimento do CA-MRSA – infecção por estafilococos resistente a ATB em pacientes sem fatores de risco. Fatores de risco bem conhecidos: - Internação recente - Uso de ATB - Contatos com sistema de saúde: hemodiálise, home-care, asilos, etc. Ausência de fatores de risco bem conhecidos. É difícil suspeitar quando há ou não infecção por CA-MRSA, pois não há fatores de riscos claros associados ao CA-MRSA Sensível à: Vancomicina, Tigeciclina, Linezolida, Daptomicina e Ceftarolina Sensível à: Sulfametoxazol-Trimpetropim (100%) Clindamicina (70%) O que caracteriza o CA-MRSA é a sensibilidade ao SMT-TMP. Em geral, menos virulento que o CA-MRSA. Mais virulento e maior risco de gravidade (óbito), pode haver: - Produção de toxinas - Pneumonias graves (crianças) Menor ação depois do advento do CA-MRSA. Hoje, o CA-MRSA é o principal Estafilococos resistente dentro de hospitais. Vancomicina + Oxacilina O MSSA é melhor tratado com oxacilina. O MRSA é melhor tratado com vancomicina. Apesar de a vancomicina abranger o MSSA, ela tem velocidade de ação menor do que a oxacilina e por isso associamos as duas drogas: O uso da oxacilina associado à vancomicina resulta em menos complicações – menor tempo de internação, menos chance de formação de abscesso, etc. Com isso, em infecções graves por estafilococos, iniciamos Vancomicina e Oxacilina e após cultura descalonamos os atntibióticos: Crescimento de MSSA: Oxacilina Crescimento de MRSA: Vancomica Em casos mais graves a tendência é a realização de um tratamento mais longo – 14 dias. Poder mais bactericida e mais rápido: Oxacilina (mais eficiente)+ Poder bactericida S. aureus resistentes: Vancomicina. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 3 Desvantagem do Sulfametoxazol + trimetropim Reação de hipersensibilidade Insegurança quanto a cobertura a de Estreptococos, que pode ser um dos responsáveis por infecção piogênica e com isso, pode ser confundido com infecção estafilocócica. Em casos de dúvida, há indicação de associação do SMT-TMP com uma cefalosporina, para desse modo, garantir cobertura para estreptococos. Metahemoglobinemia em pacientes com deficiência de G6PD Abscesso e Ação de Antibióticos Abscessos são coleções de pus em espaços teciduais confinados, em geral causados por infecção bacteriana. Os sintomas incluem dor local, sensibilidade, calor e edema (se próximos da pele) ou sintomas constitucionais (se profundos). A dor ocorre devido ao estiramento de pele. Na drenagem, não é útil o uso de anestésico, pois devido à acidez do ambiente tecidual, a lidocaína perde a função (a molécula é destruída) e desse modo não promove analgesia. Quando há um abscesso envolvido num processo infeccioso, muitas vezes somente o ATB também não resolve a infecção, isso ocorre porque o ATB também é inativado pelo ambiente ácido do abscesso. Doenças causas pelos estafilococos INFECÇÃO DE PELES E PARTES MOLES O S. aureus causa várias infecções cutâneas, muitas das quais também podem ser causadas por estreptococos do grupo A ou (menos comumente) por outras espécies de estreptococos. Os fatores predisponentes comuns para a infecção cutânea por S. aureus incluem: Afecções crônicas da pele (p. ex., eczema) Lesões cutâneas (p. ex., picadas de insetos, traumatismos mínimos) Injeções (p. ex., diabéticos e usuários de drogas injetáveis) Higiene pessoal precária. Essas infecções caracterizam-se pela formação de bolhas contendo pus, as quais geralmente começam nos folículos pilosos e espalham-se para os tecidos adjacentes. Foliculite Infecção da base do pelo Comum em zonas de atrito Diagnóstico: clínico A foliculite é uma infecção superficial que envolve o folículo piloso, com uma área central de purulência (pus), circundada por induração e eritema. Tratamento Mais comum: cuidados locais Limpeza com água e sabão; Calor local; Orientar para não manipular a lesão. Em casos de muitos pontos de foliculite ou foliculite de repetição, podemos considerar tratamento com ATB e descolonização do paciente (se repetição). Pesquisar CA-MRSA, se positivo descolonizar! Esquema para descolonização Mupirocina (limpeza do nariz) por 3 a 5 dias; Clorexidina degermante (banhos) por 3 a 5 dias. Esse esquema pode ser utilizado tanto para foliculite como para furúnculo de repetição. Não é eficaz a descolonização na vigência de infecção ativa (pois o paciente pode recolonizar), com isso, essa deve ser realizada após o 1º tratamento ATB em pacientes com história de recorrência (foliculite, furunculose). Se após descolonizar, continuar a recorrência, devemos descolonizar os familiares/contatos próximos. . Foliculite Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 4 Furunculose Os furúnculos (bolhas) são lesões mais dolorosas e extensas que tendem a ocorrer nas regiões pilosas e úmidas do corpo e a espalhar-se a partir dos folículos pilosos, formando um abscesso propriamente dito com área de purulência central. Porta de entrada: pequena lesão de pele nesse local a bactéria se prolifera, gerando uma pequena área de celulite e se tratando de uma bactéria piogênica, ocorre a formação de pus. Ocorre formação de pus porque o S. aureus possui muitos fatores de virulência (enzimas: catalase, hialuronidade, entre outras, que conferem proteção e maior potencial de ação dessas bactérias, permitindo a invasão dessa no tecido subcutâneo). É autolimitado... Em geral, com o rompimento do abscesso, a infecção culminará com cura. Furúnculo Na pele, surge um “botão” endurecido, avermelhado, quente e doloroso que acaba por se transformar em um abscesso de pus. Com o tempo, este botão amolece e drena o “carnegão”. O “carnegão” é uma massa de pus misturada com restos de pele. A depender do paciente, essa lesão pode evoluir e causar problemas maiores: Disseminação da lesão infecciosa Celulites intensas Aprofundamento do abscesso Sintomas sistêmicos (manifestação: febre) Carbúnculo Os carbúnculos localizam-se mais comumente na região inferior do pescoço e são lesões ainda mais graves e dolorosas que resultam da coalescência de outras lesões que acometem as camadas mais profundas dos tecidos subcutâneos. Em geral, os furúnculos e carbúnculos são diagnosticados de imediato e frequentemente há pus, o qual pode ser espremido do abscesso ou drenado espontaneamente. Tratamento de Furunculose CASO SIMPLES Nos quadros localizados (furúnculo pequeno, localizado e sem sintomas sistêmicos concomitantes) o tratamento também é local: Higienização (água e sabão) Calor local (estímulo à reabsorção) Não manipulação CASOS COMPLICADOS Furúnculo único com área eritematosa extensa (> 3cm de raio) Sinais de acometimento sistêmico (febre, prostração importante) Disseminação da lesão Lesão em face (a face tem drenagem venosa para seio cavernoso e com furúnculo na face pode ocorrer tromboflebite de seio cavernoso) Opções de tratamento antibiótico: Cefalexina VO por 7 dias (Iniciar e reavaliar em 48h) ↓ Se não melhorou, substituir por ATB que cubra CA-MRSA: ↓ Sulfametoxazol e Trimetoprim VO 7 dias ou Clindamicina (2ª opção) ou Linezolida CASOS GRAVES (PACIENTE COM SIRS) Vancomicina + oxacilina (cobertura de MRSA e MSSA) Drenagem do furúnculo: se formação de coleção. A cultura do material do furúnculo pode ser feita para avaliar se o S. aureus é do tipo MSSA ou MRSA. Sempre que pudermos fazer a cultura, devemos faze-la. Não fazer na face aumenta o risco de alcance do S. aureus ao seio cavernoso. Caso Clínico Paciente, 19 anos, há 6 dias com lesão dolorosa, eritematosa, nodular, de aproximadamente 1cm de diâmetro na coxa esquerda. Após 1 dia, observou-se presença de pus na região central da lesão e a área de eritema aumentou. No 3º dia começou a ter febre e outras lesões semelhantes começaram a aparecer na coxa direita (aquisição mais provável: colonização prévia). Qual a indicação de tratamento antimicrobiano? O paciente está apresentando lesões com característica de infecção estafilocócica (S. aureus) – pus e abscesso e com sinais de complicação: Febre Disseminação lesionar Tratamento de escolha: Sulfametoxazol e Trimetoprim VO 7 dias Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 5 Caso Clínico Paciente de 13 anos, sexo feminino, procura atendimento médico devido a um “tumor inflamado” que surgiu há 3 dias na região medial da coxa direita. FC: 84 | FR: 24 | PA: 110x70mmHg | Tax: 37.8°C Regular estado geral. Presença de lesão nodular arredondada, eritematosa, quente e dolorosa, de aproximadamente 2cm, com halo hiperemiado de 3cm de diâmetro na coxa direita. O médico aspira de forma asséptica o conteúdo do nódulo (material válido – pústula ainda fechada) e envia para cultura e antibiograma. Prescreve cefalexina e solicita retorno da paciente. Após 72h a paciente retorna com febre, não melhora da lesão e surgimento de nova lesão em região adjacente. Resultado da cultura: Staphylococcus coagulase positiva Resistente a: oxacilina, cefazolina, ampicilina com sulbactam, penicilina G. Sensível a: SMZ-TMP, vancomicina, Linezolida, Tetraciclina, etc. Qual motivo da não melhora da paciente? Em casos de não melhora do paciente, os motivospossíveis poderiam ser: presença de alguma outra complicação (abscesso em outro local ou bacteremia) que não estejamos vendo ou a infecção poderia ser devido à CA-MRSA (como avaliado na cultura desse caso). Como a cefalexina não abrange CA-MRSA, essa paciente não melhorou por conta da falha antibiótica. Considere a situação acima. Qual terapia poderia ser considerada (droga, via e duração)? Justifique. Tratamento de furúnculo por CA-MRSA – complicado, mas não grave: Sulfametoxazol e Trimetoprim VO 7 dias Celulite A inoculação de microrganismos na pele pode levar à celulite, uma infecção que acomete a pele e os tecidos subcutâneos. Deve-se suspeitar de infecção estafilocócica se a celulite surgir ao redor de ferida ou úlcera; A celulite faz diagnóstico diferencial com erisipela, porém as lesões podem ser diferenciadas clinicamente pelos limites (bem delimitada – erisipela; mal delimitada – celulite), pois em ambos, haverá febre, calafrio, queda do estado geral, sinais flogísticos, etc. A celulite é mais difusa e sem delimitação clara porque ela ocorre no tecido subcutânea. A erisipela é causada na maioria das vezes pelo Streptococcus pyogenes, já a celulite pode ser causada pelo S. pyogenes ou S. aureus (é mais comum ser estafilocócica). Se origem for um furúnculo, temos certeza que a celulite é estafilocócica. Se não, temos que ter um tratamento que abranja S. aureus e S. pyogenes. Tratamento da Celulite A decisão entre fazer o tratamento intra-hospitalar ou ambulatorial é baseada na gravidade do paciente. Tipos de gravidade: Leve: infecção local, limitada, sem sinais sistêmicos e paciente em BEG. Moderado: lesão de extensão intermediárias, sem muitos sinais sistêmicos associados. Grave: infecção muito extensa (ocupa um membro inteiro, p. ex.) e com presença de sinais sistêmicos importantes. Em geral, no caso de lesões leves e moderadas, podemos optar por tratamento ambulatorial. No entanto, nos casos graves a melhor opção é pelo tratamento hospitalar (internação com ATB IV). Casos Leves e Moderados Sulfametoxazol + Trimetropim (VO – ambulatorial) ou (IV - hospitalar) Abrangem CA-MRSA + Cefalexina VO ou Amoxacilina VO ou Cefazolina IV ou Cefalotina IV ou Ampicilina IV Abrange o S. pyogenes Tempo de tratamento: 7 a 10 dias Se não soubermos se a causa da celulite é o MRSA, devemos incluir ATB que abranja Streptococcus pypgenes Ambulatorial ou internação: essa escolha depende da condição clínica, tamanho da lesão e comorbidades. Casos graves Sinais sistêmicos exuberantes, lesões mais difusas Tratamento IV com VANCOMICINA associando OXACILINA Flutuação: sempre tem indicação de cultura. Piomiosite: tem indicação de USG para avaliar a infecção, pois essa é mais profunda. Caso 2 Paciente, do sexo masculino, 23 anos, 5 dias com dor na coxa, tendo observado posteriormente a presença de edema, rubor, calor no local. Refere febre alta, calafrio desde o 2º dia do início do quadro. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 6 Sofreu uma pancada na coxa 3 dias antes do início do quadro (porta de entrada). Ao exame: PA:120x80mmHg, FC:90bpm, FR:20irpm, Tax:39,8oC. MVUA, sem ruídos, sem sopro, RCR2T. Abdome indolor, sem visceromegalias. MMII direito com área de edema, eritema, calor em toda a coxa direita, sem limites precisos entre área sã e a comprometida (celulite). Celulite pode se apresentar com áreas bolhosas (conteúdo seroso ou purulento). Que exames complementares são indicados para o diagnóstico? Nenhum. Pois o diagnóstico é clínico. Considerações: Se suspeita de abscesso profundo: a USG de partes moles. Hemocultura (se disponível, pode ser realizada) Podemos fazer cultura do abscesso que ainda não esteja drenando espontaneamente, caso contrário, há risco de contaminação com a microbiota da pele. Exames inespecíficos, como hemograma e PCR, podem ser solicitados caso estejam disponíveis. Cite a droga/associação de drogas indicada para o tratamento e via de administração. Justifique. Infecção francamente estafilocócica O caso do paciente acima pode ser considerado moderado. Desse modo, a antibioticoterapia mais indicada seria: Cefalexina VO + Sulfametoxazol + Trimetropim VO Podemos instituir tratamento ambulatorial com ATB oral. Contudo, não é inadequada a indicação de tratamento hospitalar com ATB IV (pelo menos parte do tratamento poderia ser realizada numa internação). INFECÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS O S. aureus está entre os agentes etiológicos mais comuns das infecções ósseas – tanto as que resultam da disseminação hematogênica quanto as que surgem por contiguidade a partir de um foco infeccioso dos tecidos moles. Osteomielite Na maioria dos casos, a osteomielite hematogênica das crianças acomete os ossos longos. As infecções causam febre e dor óssea, ou a criança reluta em sustentar peso sobre o membro acometido. A contagem de leucócitos e a velocidade de hemossedimentação geralmente estão elevadas e as hemoculturas são positivas em cerca de 50% dos casos. As radiografias de rotina podem ser normais por até 14 dias depois do início dos sintomas. Em geral, a cintilografia com fosfonato 99mTc demonstra evidências precoces de infecção. A ressonância magnética (RM) é mais sensível do que as outras modalidades para firmar o diagnóstico radiológico. Em adultos, a osteomielite hematogênica dos ossos longos é menos comum. Entretanto, a osteomielite vertebral é uma das apresentações clínicas mais frequentes. Pé-diabético ocorre por contiguidade. Tratamento de Osteomielite Desbridamento (osteomielite) Tratamento se via hematogênica: VANCOMICINA + OXACILINA, IV, no mínimo 6 semanas (cobrir CA-MRSA). Tratamento se por contiguidade: Geralmente é crônica usar: VANCOMICINA + CIPROFLOXACINO, IV + RIFAMPICINA, VO Artrite Séptica Tanto em crianças quanto em adultos, o S. aureus constitui a causa mais comum da artrite séptica em articulações naturais. Essa infecção evolui rapidamente e pode estar associada à destruição extensa da articulação se não for tratada. O paciente tem dor intensa à mobilização da articulação afetada, edema e febre. A aspiração da articulação demonstra líquido turvo com >50.000 PMN/μL e cocos Gram-positivos em cachos na coloração de Gram. Nos adultos, a artrite séptica pode resultar de traumatismo, cirurgia ou disseminação hematogênica. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 7 INFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO As infecções respiratórias causadas pelo S. aureus ocorrem em algumas situações clínicas especiais. Essa bactéria causa infecções graves do trato respiratório em recém-nascidos e lactentes; tais infecções produzem dispneia, febre e insuficiência respiratória. As radiografias de tórax podem demonstrar pneumatoceles (cavidades irregulares de paredes finas). O pneumotórax e o empiema são complicações reconhecidas. Nos adultos, as infecções pulmonares hospitalares causadas por S. aureus são comuns entre pacientes intubados em unidades de terapia intensiva. DOENÇAS MEDIADAS POR TOXINAS Choque tóxico Estafilocócico Forma grave de infecção por S. aureus É causada por uma cepa de S. aureus não invasiva que coloniza e produz toxinas (não ocorre infecção – pneumonia, celulite, osteomielite, etc.). Para investigar podemos fazer cultura de orofaringe, nasal, vaginal, ou seja, em locais de microbiota. Cepa produtora de toxina que induz sepse importante o Toxinas: enterotoxina ou TSCT-1, estruturalmente semelhante à enterotoxina. Esse quadro infeccioso necessita de condições especiais para causar infecção: ambiente rico em oxigênio, de alto conteúdo protéico e pH mais básico Situações Associadas Tampão vaginal mantidopor muito tempo durante a menstruação Tamponamento nasal para epistaxe Tamponamento em cicatriz cirúrgica Quadro clínico Hipotensão Rash Disfunção orgânica. O Choque Tóxico Estafilocócico começa com sintomas gripais relativamente inespecíficos. Nos casos menstruais, a doença geralmente tem início dois ou três dias depois do começo da menstruação. As pacientes têm febre, hipotensão e eritrodermia de intensidade variável. O acometimento das mucosas é comum (p. ex., hiperemia conjuntival). Após 2 semanas é característica a descamação cutânea ao nível das palmas das mãos e plantas dos pés. A doença pode evoluir rapidamente e causar sintomas como vômitos, diarreia, confusão, mialgias e dor abdominal. Essas manifestações clínicas refletem a natureza multissistêmica da doença, na qual há acometimento do fígado, dos rins, do trato gastrintestinal e/ou do SNC. A descamação da pele ocorre durante o período de convalescença, geralmente 1 a 2 semanas depois do início da doença. PS.: Pode ou não ocorrer isolamento do Estilococos em hemocultura, pois quem causa o choque é a toxina. Tratamento Vancomicina + Oxacilina (IV) Associar Clindamicina ou Linezolida No choque tóxico estafilocócico é útil o uso de antibióticos com mecanismo de ação diferente daqueles que atuam na parede celular. O ideal seria associar ATB que atue na redução de produção protéicas pela bactéria (atuação em ribossomos), para desse modo, reduzir a produção de toxina. Os melhores exemplos para associação são: Clindamicina e Linezolida. Síndrome da Pele Escaldada Contaminação de bebês Pele com aspecto queimado Doença causada por estafilococos produtores de toxinas que atuam nos desmossomos das células epiteliais. É grave, pois ocorre em crianças muito pequenas Funciona como grandes queimados Alteração de eletrólitos Pode ocorre infecção secundária Não ocorre formação de cicatriz, pois é muito superficial Cepa de S. aureus é colonizadora e não invasora, mas precisamos usar ATB para tratamento do quadro cutâneo. Forma de aquisição: mãe ou profissionais do hospital que manipularam o bebê sem limpeza adequada das mãos. Quadro Clínico A doença pode variar desde uma bolha localizada até esfoliação de grande parte da superfície cutânea. A aplicação de pressão suave resulta em ruptura das lesões, Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 8 deixando a pele subjacente desnuda (sinal de Nikolsky). As mucosas geralmente estãop reservadas. Sinal de Nikolsky Diagnóstico Diferencial: Stevens Johnson, Pênfigo. Tratamento ATB para Estafilococos: Vancomicina + Oxacilina + Clindamicina Devemos fazer IV devido a gravidade do caso Intoxicação Alimentar A intoxicação alimentar causada por estafilococos resulta da inoculação do S. aureus produtor de toxinas nos alimentos pelas mãos colonizadas das pessoas que preparam os alimentos. É comum a ocorrência em surtos. Como ocorre: Algumas cepas de S. aureus produzem uma enterotoxina que é resistente ao calor. Com isso, ainda que as bactérias sejam eliminadas pelo aquecimento, a toxina termoestável não é destruída. Essa enterotoxina é da classe das neurotoxinas que atuam no sistema nervoso entérico, mas que também podem atuam no SNC. Quadro Clínico Náuseas e vômitos (mais importante, sempre estará presente) Aumento da peristalse = diarreia Hipotensão Desidratação Ausência de febre O quadro clínico, em geral, se desenvolve em poucas horas após a ingestão do alimento contaminado – 1 a 6h. Nos casos de infecção mais generalizada, muitas vezes há sintomas constitucionais como febre, letargia e irritabilidade, com diminuição da ingestão alimentar. Tratamento Por se tratar de uma toxina, o uso de ATB não é eficaz, logo, o tratamento desses casos é de suporte: Hidratação (oral ou venosa) Anti-emético Extremos etários são mais suscetíveis a gravidade. ESTAFILOCOCCEMIA Bacteremia por S. Aureus A bacteremia por S. aureus pode ser complicada por sepse, endocardite, vasculite ou disseminação metastática (formação de coleções supurativas em outros locais teciduais). É considerada um quadro grave favorecida por situações que quebram a integridade da pele, tais quais: traumas, injeções intra-musculares, etc. Septcemia por S. aureus Clinicamente, a sepse pelo S. aureus causa um quadro semelhante ao observado na septicemia associada a outras bactérias. A evolução bem conhecida das alterações hemodinâmicas – começando com alcalose respiratória e achados clínicos de hipotensão e febre – é comum. O diagnóstico microbiológico é firmado por hemoculturas positivas. Diagnóstico: Suspeita clínica (paciente com quadro de sepse com histórico de lesão de pele prévia). Hemocultura e antibiograma (pelo menos 2 sets) Punção da lesão com cultura e antibiograma; Radiografia de tórax para pesquisa de derrame pleural. Se possível, fazer punção do líquido do derrame (apresentará pus, glicose reduzida, proteínas aumentadas, polimorfonucleados aumentados e pH reduzido). Tratamento: VANCOMICINA + OXACILINA, IV, mínimo de 14 dias No caso de infecção francamente estafilocócica – com porta de entrada bem estabelecida (ex.: furúnculo) – devemos sempre abranger MSSA e CA-MRSA Endocardite por S. aureus A endocardite por S. aureus é encontrada em quatro situações clínicas: (1) Endocardite das câmaras direitas associada ao uso de drogas injetáveis; (2) Endocardite das valvas esquerdas naturais; (3) Endocardite de próteses valvares; e (4) Endocardite hospitalar. Em cada uma dessas situações, deve-se suspeitar do diagnóstico pela identificação de estigmas clínicos sugestivos de endocardite. Esses achados incluem: Manifestações cardíacas, como sopros cardíacos valvares recentes ou modificados; Evidências cutâneas, como lesões vasculíticas, nódulos de Osler ou lesões de Janeway; Sinais de doença embólica direita ou esquerda; História sugestiva de risco de bacteremia por S. aureus. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 9 Se o paciente não tiver sido tratado anteriormente com antibióticos, as hemoculturas quase sempre serão positivas. Embora seja menos sensível do que a ecocardiografia transesofágica, a ecocardiografia transtorácica é menos invasiva e, com frequência, demonstra a existência de vegetações valvares. Os critérios de Duke são, hoje, comumente usados para ajudar a estabelecer a probabilidade desse diagnóstico. Quadro Clínico Sopro associado a febre: considerar a presença de endocardite infecciosa, principalmente se sopro novo. Definição temporal de endocardite aguda: < 6 semanas (oficial) S. aureus: microrganismo mais comumente associado e causa endocardite em menos de 2 semanas. Enterococos: outro possível agente envolvido pode causar um quadro agudo mais arrastado, em até 6 semanas. Critérios Diagnósticos Para definir o diagnóstico de endocardite, usamos os critérios de Duke, para diagnóstico: 2 maiores 1 maior e 3 menores 5 menores Tratamento para Endocardite Aguda Principal: S. aureus Segunda principal: Enterococos Tratamento empírico: Vancomicina + Oxacilina + Gentamicina Abrange MSSA, MRSA e Enterococos Fazemos esse esquema se não temos como assegurar que a infecção é de fato estafilocócico. Descalonando drogas: Vancomicina + Oxacilina ...se somente S. aureus Ampicilina + gentamicina ...se só Enterococos Tratamento: 4 a 6 semanas A endocardite é uma infecção grave, na qual pode ocorrer formação de biofilme no coração e com isso devemos ter um tempo mais prolongado de antibioticoterapia. O enterococo é uma bactéria de mais difícil manejo. Essa bactéria exige maior tempo de tratamento e associação de mais drogas para melhor cobertura e por isso adiciona-se a gentamicina. Com isso, nesse caso, agentamicina é utilizada de forma sinérgica. Caso Clínico Paciente, sexo masculino, 14 anos, morador da Rocinha. Procurou emergência com história de 3 dias de febre alta, calafrios, cefaleia, dores pelo corpo e mal-estar generalizado. Apresentou ao exame Tax:38,8oC e prova do laço positiva sendo os demais dados normais. Desse modo, foi feito diagnóstico de dengue hemorrágica e iniciada a hidratação venosa. No 2º dia de internação, o paciente teve piora dos sintomas, apresentando Tax: 39,8oC, FR:32irpm, FC:120bpm, PA:120x60mmHg. Ao exame: normocorado, normohidratado, anictérico. AR: MVUA, sem ruídos adventícios; ACV: RCR2T, bulhas normofonéticas, sopro 1+ em foco aórtico acessório. Abdômen: Fígado palpável a 1cm do rebordo costal e baço aumentado (hepatoesplenomegalia). Exame de pele: lesão arredondada com área purulenta de 1cm, com halo de eritema de 3cm em região glútea esquerda (porta de entrada). Paciente com história de doença febril aguda evolução mais grave ao longo dos dias, associado a sopros e lesão infectada em glúteo. Que exames complementares ou procedimentos devem ser feitos? Ecocardiograma Transtorácico (inicial) o Ecocardiograma Transesofágico se uso de prótese Hemocultura (3 amostras 0/30/60min) o O espaço de tempo para hemocultura é mais curto se suspeita de endocardite aguda. Qual melhor esquema antimicrobiano para esse paciente? Para o caso, o paciente apresenta uma área de abscesso em glúteo – infecção francamente estafilocócica – logo a maior suspeita é que o agente infeccioso envolvido seja um S. aureus. Nesse paciente, seria importante drenar o foco infecioso e usar Antibioticoterapia para estafilococos: Vancomicina + Oxacilina IV por 4 a 6 semanas. Caso Clínico Paciente, 13 anos, sexo masculino, foi trazido a emergência com quadro de dor coxo-femoral a esquerda há 1 dia e febre. Refere que na emergência recebeu tratamento com penicilina G Benzatina. Após 2 dias, retornou à emergência com hiperemia em nádegas e febre alta. Roxanne Cabral – M8 – 2020.1 – Doenças Infecto-Parasitárias 10 Ao exame: prostrado, hipohidratado (+/4+) e acianótico. FR: 40irpm | FC: 124 | PA: 80x20 | Tax: 39°C Ausculta respiratórias com estertores crepitantes em base direita e MV reduzido em base de esquerda. Hiperemia com bordos pouco nítidos em nádega esquerda, dolorosa e com pequena área de flutuação. Mobilização ativa e passiva muito dolorosa da coxofemoral direita. Presença de lesão cicatricial de furúnculo em nádega direita. Caso de estafilococcemia com acometimento pulmonar (pneumonia e abscesso), celulite em nádega esquerda e artrite séptica em nádega direita. É um quadro grave de choque séptico e necessita de medidas urgentes – protocolo de sepse. Qual a conduta diagnóstica? Hemocultura (pelo menos 2 sets) Radiografia de Tórax Outros: cultura do material da flutuação em área com celulite, cultura do líquido articular a esquerda (artrite séptica), hemograma, PCR, gasometria – lactato, ureia e creatinina, TGO, TGP. Qual a conduta terapêutica imediata? Internação, hidratação vigorosa e iniciar Antibioticoterapia em até 1h. Paciente com infecção sugestiva de Estafilococcemia, logo, podemos realizar o tratamento com: Vancomicina (MRSA) e Oxacilina (MSSA) intravenosos. DOENÇAS CAUSAS POR STAPHYLOCOCCUS EPIDERMIDIS Principal Esfilococo coagulase negativo; Microbiota anfibiótica presente na pele e mucosa (oral, nasal e genital); Sobrevivem em superfícies secas por longos períodos; Fatores de virulência: biofilme e resistência antibiótica É associado a: o Infecção de cateter; o Infecção de prótese; o Endocardite subaguda. Infecções de próteses ortopédicas Staphylococcus epidermidis ou Staphylococcus aureus Tratamento: feito por 3 meses no total se prótese de quadril e 6 meses se prótese de joelho. Se MSSA: OXACILINA (IV) + RIFAMPICINA (IV) 3 semanas no hospital e depois LEVOFLOXACINO (VO) + RIFAMPICINA (VO), pelo resto do tempo, em casa Se CA-MRSA: VANCOMICINA (IV) + RIFAMPICINA (VO), 3 semanas e depois continuar os mesmo por VO até completar 3 meses. Trocar prótese se houver infecção crônica Caso Clínico Paciente, 68 anos, apresenta febre e dor em região coxofemoral a direita, local onde colocou uma prótese óssea há 6 meses atrás. Ao exame: corado, hidratado, PA: 140x80mmHg, FC: 112, FR: 28 e Tax: 38,8°C. Apresenta hiperemia na região coxofemoral a direita. Suspeita: infecção de prótese ortpédica (crônica, pois a cirurgia ocorreu há 6 meses) MAIOR CHANCE de infecção por S. epidermidis. Qual tratamento antibiótico? Justifique. Vancomicina (IV) e rifampicina VO. A vancomicina é indicada para cobertura do Staphylococcus epidermidis, agente mais frequentemente associado a esse tipo de infecção. Já a rifampicina por apresentar poder de penetração no biofilme, consegue penetrar melhor no local infectado e por isso é adicionada ao esquema.
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