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PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV Erisipela A pele possui bactérias residentes, que vivem como comensais, e transitórias, que, ocasionalmente, podem colonizar a pele. • A flora residente é formada, principalmente, por: cocos gram-positivos (Staphylococcus epidermidis), difteroides (Corynebacterium e Brevibacterium) e bastonetes anaeróbios (Propionibacterium). • Os organismos da flora residente contribuem para a resistência contra a colonização por bactérias patogênicas ao hidrolisar lipídeos e produzir ácidos graxos livres, que são tóxicos para muitas bactérias. • A flora transitória está representada, principalmente, pelo Staphylococcus aureus (coagulase positivo) e pelo Streptococcus pyogenes. Estas bactérias, provenientes do ambiente, demonstram patogenicidade, usualmente na presença de um distúrbio de integridade da pele. • As piodermites são definidas como infecções cutâneas primárias provocadas, principalmente, por bactérias piogênicas dos gêneros Staphylococcus e Streptococcus. • Entre os estafilococos, os Staphylococcus aureus (S. aureus) são os patógenos mais importantes, causando infecções superficiais ou profundas e doenças relacionadas à ação de suas toxinas. O tegumento é o habitat natural de muitas espécies de estafilococos. Em 20% da população, encontra-se colonização permanente por S. aureus na narina anterior. Aproximadamente 60% dos indivíduos saudáveis apresentam colonização ocasional por S. aureus em algum local, especialmente em axilas, períneo, faringe, mãos e narinas. • A principal defesa contra os estafilococos é a fagocitose realizada pelos neutrófilos. Condições predisponentes para a colonização da pele por baixa resistência ao agente incluem: dermatite atópica, diabetes mellitus, diálise, uso de droga endovenosa, disfunção hepática e infecção por HIV. • A invasão direta a partir de pequenas soluções de continuidade das mucosas, da pele e seus anexos resulta em uma variedade de infecções superficiais. • Os estreptococos quase sempre participam da microbiota oral ou do tubo digestivo, estando entre os agentes mais comuns de doenças humanas. O Streptococcus pyogenes (S. pyogenes) é responsável pela maioria das infecções causadas pelas bactérias da família Streptococcaceae, sendo encontrado na orofaringe de 10% da população geral. Apenas 1% das pessoas o apresenta na pele normal. Os mais virulentos pertencem ao grupo A e possuem, em sua superfície, a proteína M que os protege contra a fagocitose e aumenta a aderência para os tecidos epiteliais. • As infecções por S. pyogenes são mais comuns na infância e na adolescência. Isso se deve ao fato de que infecções sucessivas, sintomáticas ou inaparentes pelos sorotipos prevalentes na comunidade vão conferindo imunidade específica e duradoura contra este patógeno. A frequência das piodermites varia de acordo com diversos fatores. Em geral, atinge cerca de 7% da população. • O verão é a estação propícia para as infecções de pele, uma vez que favorece a instalação e manutenção do microclima, calor e umidade, necessários ao desenvolvimento dos agentes infecciosos. • Na patogenia das piodermites, devemos considerar fatores relacionados ao hospedeiro: presença da flora residente, que dificulta a colonização de outras bactérias e produz ácidos graxos não-saturados que formam a barreira química; a barreira mecânica; o grau de umidade da pele que, quanto maior, mais fácil torna a multiplicação bacteriana; o pH alcalino, que facilita a colonização bacteriana e a capacidade imunológica do indivíduo. • Em relação ao microorganismo, consideram-se a sua patogenicidade e o grau de virulência que decorrem, fundamentalmente, do potencial invasivo determinado pela presença de elementos antifagocitários na superfície da bactéria e da sua capacidade de produção de toxinas. • Embora a etiologia das piodermites seja basicamente a mesma, existem várias formas clínicas distintas quanto a morfologia, evolução, patogenia, complicações e terapêutica. PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV Com essa imagem, fica mais fácil entender que o estrato córneo é responsável pela proteção da epiderme, e que qualquer ruptura dessa camada, como picada de insetos, mordedura de cães e gatos, queimadura, escoriações, corpos estranhos, distúrbios dermatológicos importantes, cirurgia ou úlceras, pode permitir que as bactérias penetrem os tecidos mais profundos e causem infecções. Têm como fatores de risco a insuficiência venosa, o linfedema (fator predisponente e também fator de complicação da celulite), a doença vascular periférica, a diabetes mellitus, a obesidade, a Tinea pedis, as úlceras de membros inferiores, o trauma local, e as picadas de inseto. As principais diferenças entre elas são: • A lesão da erisipela apresenta bordas bem definidas, diferente da lesão da celulite, que tem suas bordas de difícil delimitação. A coloração da erisipela é vermelha viva, e da celulite é mais rosada. • A erisipela acomete a superfície da pele apenas, e a celulite acomete também o tecido subcutâneo. • A erisipela apresenta manifestações sistêmicas mais pronunciadas. Caso clínico: Paciente masculino, 16 anos, branco, estudante do ensino médio, natural e procedente de Anagé (BA), acompanhado da mãe na Unidade Básica de Saúde Vila América. Queixa principal: dor e inchaço em tornozelo há cinco dias. HMA: paciente, previamente hígido, refere que há cerca de quatro dias percebe inchaço na perna direita, com calor, dor e vermelhidão local, sentiu o corpo quente, tendo um início abrupto de febre elevada, 39°C, acompanhada de mal-estar e astenia há três dias. Conta que há sete dias sentiu algo perfurante entrando em seu pé direito durante uma partida de futebol com os amigos da vizinhança, retirou o objeto pontiagudo, mas não soube especificar o conteúdo do material, apenas que era pequeno e pontiagudo. Nega outras queixas. Afirma diabetes mellitus tipo I. Mãe com diabetes mellitus tipo I, nega outras doenças familiares. Calendário vacinal atualizado. Afirma uso contínuo e correto de insulina. Ao exame, você percebe um paciente em bom estado geral e nutricional, fácies atípica. Aparelho respiratório, cardiovascular, neurológico sem alterações. Exame físico das extremidades: Membro inferior direito há grande lesão eritematosa que se estende do tornozelo à panturrilha, com margens bem delimitadas e elevada, dolorida, com área endurecida e aparentemente superficial. Além disso, haviam bolhas de conteúdo seroso e hemorrágico no local afetado, em região maleolar medial. Foi observado também discreta linfonodomegalia local. Você já tem uma suspeita, não é mesmo? Isso! Erisipela. A lesão superficial, eritematosa, unilateral, bem delimitada, em adolescente diabético, com histórico de perfuração em pé por um objeto desconhecido é bastante sugestiva de infecção por continuidade, principalmente por S. pyogenes. Lógico que você pode ter outras suspeitas como, por exemplo, trombose venosa, mas bem menos provável pelo histórico clínico do paciente ou alguma complicação venosa do diabetes e pode sim investigá-las detalhadamente. PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV 1. INTRODUÇÃO: • A erisipela é uma infecção bacteriana da derme mais superficial e com importante comprometimento linfático, tendo como agente principal o estreptococo β-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes). O sexo feminino é o mais atingido e é mais frequentemente observada em adultos com 40-60 anos de idade, sobretudo naqueles que apresentam alguns fatores predisponentes, como insuficiência venosa e linfática crônica, obesidade, diabetes, hipertensãoarterial, tabagismo e alcoolismo. • Afeta com mais frequência os membros inferiores, também podendo envolver a região facial em menor frequência. A penetração da bactéria ocorre por soluções de continuidade que pode ocorrer nas micoses interdigitais e lesões traumáticas ou cirúrgicas. • A erisipela é uma infecção cutânea aguda e inflamatória, caracterizada por eritema, edema e dor, geralmente causada pelo estreptococo-hemolítico do grupo A, sendo menos comum grupo C e G. Sthapylococcus aureus mais raramente pode ser isolado. • Possui uma incidência estimada entre 10 e 100 casos por 100.000 habitantes/ano. Afeta, sobretudo, adultos, dos 40 aos 60 anos, com predomínio do sexo feminino. • A localização de acometimento é, em 85% dos casos, nos membros inferiores, podendo acometer a região facial. Pode originar-se de um ferimento traumático ou cirúrgico, mas, na maioria dos casos, nenhuma porta de entrada costuma ser encontrada. • A erisipela consiste na infecção bacteriana de pele com acometimento das camadas superficiais, logo, é uma infecção que chega até a derme. Enquanto isso, a celulite é uma infecção bacteriana profunda da pele, com acometimento do tecido subcutâneo, até a hipoderme. 2. QUADRO CLÍNICO: • Classicamente, o quadro clínico é caracterizado por um início súbito, com febre (38,5- 40ºC) e calafrios seguido, em cerca de 12-24 horas, pelo aparecimento de placa eritematosa (vermelha viva), edematosa, quente e dolorosa, de limites bem definidos e geralmente localizada a um membro inferior. • Com a progressão da doença, o paciente pode apresentar confusão mental e leucocitose polimorfonuclear de 20.000 células/mm3 ou mais. A infecção pode se disseminar através dos vasos linfáticos causando linfangite e linfadenite supurativa, e através da corrente sanguínea, produzindo bacteremia. • As áreas mais acometidas são os membros inferiores e a face. Nos casos de erisipela facial, o edema é marcante e os olhos estão frequentemente inchados. • O quadro é caracterizado por eritema, edema, calor e dor, acompanhado por febre, calafrios, mal-estar e, muitas vezes, náuseas ou vômitos. • Caracteriza-se, em geral, por lesão única elevada em relação à pele circunscrita, tendo em média 10 a 15 cm no seu maior eixo, e borda nítida, que avança com a progressão da moléstia. Podem surgir bolhas, geralmente flácidas, de conteúdo translúcido. • No exame físico é possível notar a presença de placa eritematosa, habitualmente única, edemaciada, infiltrada e dolorosa, com bordas que crescem centrifugamente, bem delimitadas e elevadas que avançam rapidamente sobre a pele circunvizinha. • Em alguns casos, ocorrem vesículas ou bolhas, geralmente flácidas, de conteúdo translúcido e por vezes contendo líquido seropurulento. A apresentação bolhosa confere gravidade ao processo, podendo evoluir com necrose e ulceração posterior. • A erisipela com localização facial também confere gravidade ao processo. Outra característica relevante é sua capacidade de recorrência na mesma região e, após cada uma delas, permanece certo grau de edema duro (linfedema). • A seqüela mais comum é o linfedema, que é o inchaço persistente e duro localizado principalmente na perna e no tornozelo, resultante dos surtos repetidos de erisipela. • Os diagnósticos diferenciais de um quadro de erisipela são vários e inclui patologias infecciosas e não infecciosas. Do ponto de vista prático se deve essencialmente considerar durante a avaliação inicial destes doentes: a fasceíte necrosante e a trombose venosa profunda, pelas as suas importantes implicações terapêuticas; a dermite de contacto, dada a sua elevada incidência na população geral. Entretanto, em cada um deles, febre, dor e sensibilidade estão ausentes e a coceira é intensa. • O principal diagnóstico diferencial é com a Celulite, infecção cutânea que compromete uma parte maior dos tecidos moles, estendendo-se profundamente através da derme e tecido subcutâneo, sendo quadro doloroso e com bordas mal delimitadas. Sua demarcação com pele sã é quase indistinguível. Algumas complicações PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV como septicemia, celulite profunda, fasceíte necrosante e formação de abscesso podem ocorrer, especialmente em pacientes obesos e aqueles com abuso crônico de álcool. • São fatores de risco para erisipela: insuficiência venosa, infecções cutâneas por fungos, linfedema, diabetes mellitus, obesidade, imunossupressão, infecção do trato respiratório e alcoolismo. Do ponto de vista prático são essencialmente três os diagnósticos diferenciais a considerar durante a avaliação inicial destes doentes: a fasceíte necrosante e a trombose venosa profunda, pelas as suas importantes implicações terapêuticas; a dermite de contacto, dada a sua elevada incidência na população geral. PATOLOGIAS INFECCIOSAS • Fasceíte necrosante Osteomielite Bursite Miosite Herpes Zoster (Zona) PATOLOGIAS NÃO INFECCIOSAS • Trombose venosa profunda Síndrome de compartimento Intolerância próteses ortopédicas Celulite de Wells Síndrome de Sweet Febre mediterrânica familiar Carcinomas inflamatórios Dermatite de contacto Fasceíte necrosante (FN) • Trata-se de uma infecção rara, mas letal em cerca de 30% dos casos. Caracteriza-se pela existência de necrose da hipoderme, presença de tromboses vasculares, necrose da aponevrose superficial (fasceíte) e secundariamente necrose da derme. • O estreptococo do grupo A é o agente mais frequentemente implicado, mas não é rara a presença de uma flora polimicrobiana (S. aureus, anaeróbios, enterobactérias).. • A dor local é, geralmente, um sintoma inicial proeminente; a presença de febre associada a alteração do estado geral e, na pele envolvida, o rápido desenvolvimento de bolhas, necrose cutânea e crepitação são sugestivos. Constituem fatores de risco: feridas traumáticas ou cirúrgicas, diabetes, obesidade, alcoolismo crónico, arteriopatia, imunodepressão e terapêutica prévia com anti-inflamatório. • O diagnóstico diferencial entre erisipela e FN é crucial, já que a realização de desbridamento cirúrgico em tempo útil é essencial em termos de prognóstico. • Propõe-se a utilização de uma pontuação, baseada em indicadores laboratoriais de risco (proteína C reativa, contagem de leucócitos, hemoglobina, natremia, creatininemia e glicemia) para facilitar o diagnóstico de FN, com um valor máximo de 13. • Um valor ≥ 6 seria suspeito de FN e ≥ 8 fortemente preditor. • Outros autores apresentam esquemas mais simplificados, incluindo apenas a leucocitose e a hiponatremia. Porém, estes esquemas de pontuação, exclusivamente laboratoriais, não entram em linha de conta com outros dados de natureza clínica, sempre indispensáveis na decisão diagnóstica. Trombose venosa profunda (TVP) Dentro das patologias não infecciosas é o diagnóstico diferencial mais frequentemente evocado. A presença de febre elevada associada a placa eritematosa de limites bem definidos, característicos da erisipela, contrasta geralmente com o aspecto pouco inflamatório da TVP (phlegmasia alba dolens); a presença de linfangite e adenopatia associadas é também menos frequente. Dermatite de contato (DC) Surgindo geralmente como complicação da aplicação de medicamentos tópicos (anti-sépticos ou antimicrobianos) no contexto do tratamento de feridas traumáticas ou úlceras crónicas, caracteriza-se, na fase aguda, pela presença de prurido intenso e lesões cutâneas eritemato-vesico- exsudativas de limites imprecisos. Muitas vezes a erisipela e a DC coexistem, sendo necessário uma anamnese e um exame clínico cuidadosos para o diagnóstico correto. PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV 4. CONDUTA: • O diagnóstico éessencialmente clínico. • No hemograma, leucocitose leve com desvio nuclear à esquerda e velocidade de sedimentação globular pouco aumentada podem estar presentes. A presença de leucocitose neutrofílica (geralmente entre 13000- 15000 leucócitos µl) é o único exame biológico não bacteriológico considerado como critério diagnóstico da erisipela; contudo está ausente em cerca de metade dos casos. • O aumento significativo da velocidade de sedimentação e da proteína C reativa são frequentes, mas desprovidos de especificidade e, geralmente, a sua determinação não está disponível no momento da avaliação inicial do doente. • Histologicamente, caracteriza-se por edema de derme e dilatação linfática. • Na erisipela a contribuição diagnóstica da bacteriologia é limitada pela sua fraca sensibilidade ou positividade tardia. As hemoculturas são positivas em somente 5% dos casos. O isolamento do agente responsável através da cultura de amostras da pele afetada, obtidas por diversos métodos (aspiração de bolhas, aspiração por agulha após injeção de soro fisiológico, biopsia cutânea) tem uma sensibilidade baixa (5-41%) e coloca problemas de interpretação dada a possibilidade de contaminação por flora comensal. • A sorologia estreptocócica, que deve incluir a determinação seriada dos títulos de anti-estreptolisina O e anti-desoxiribonuclease B, com 10 a 15 dias de intervalo para garantir a sua especificidade, só permite um diagnóstico retrospectivo. • Os parâmetros clínicos e analíticos considerados encontram-se resumidos no Quadro 2. • A realização de cultura para identificação do agente infeccioso se mostra importante quando os pacientes apresentam toxicidade sistêmica. Radiografias são úteis para o diagnóstico de exclusão na suspeita de abscessos e osteomielite. A ultrassonografia com Doppler é útil apenas para pacientes com fator de risco para trombose venosa profunda (TVP). • Nos casos de apresentação atípica, em que o diagnóstico diferencial com a TVP se coloque, pode ser útil a realização de ecodoppler venoso dos membros inferiores. O risco de TVP é baixo em doentes hospitalizados por erisipela e, na ausência de suspeita clínica documentada, não está indicada a sua pesquisa sistemática através deste exame. • Num estádio inicial da infecção e nas situações em que estejam presentes, na admissão, sinais locais de gravidade (sobretudo necrose e hipostesia) a distinção entre erisipela grave e FN pode ser difícil com base exclusiva em critérios clínicos. A ressonância magnética nuclear (RMN) pode ser um exame de extrema utilidade, permitindo a identificação de alterações ao nível do tecido adiposo da hipoderme e fáscias musculares profundas (colecções líquidas, espessamento e captação de contraste). • No entanto, a realização de um estudo imagiológico não deve atrasar a atitude cirúrgica, fundamental quando a probabilidade de FN é elevada. Quadro 2 – Erisipela: Critérios de Diagnósticos • Início súbito • Febre ≥ 38º C, calafrios, mal-estar • Placa eritematosa, edematosa, dolorosa e de limites bem definidos • Ausência de necrose • Adenopatia e/ou linfangite • Estado geral conservado • Leucocitose com neutrofilia • Hemoculturas positivas TRATAMENTO • Na prática, na ausência de sinais clínicos de gravidade, em indivíduo imunocompetente e sem patologias coexistentes clinicamente significativas, o tratamento pode ser instituído em regime de ambulatório por via oral ou por via intramuscular. A duração do tratamento deve ser de 10 a 14 dias. • O tratamento é composto por orientações e medicação sistêmica. A terapia medicamentosa consiste, no essencial, na instituição de antibioterapia empírica tendo em conta a epidemiologia desta infecção e, se necessário, sintomáticos (analgésicos). Nos casos de febre de difícil controle ou queixas álgicas intensas, o paracetamol é uma alternativa adequada. • Pelo mesmo receio associado à utilização dos AINEs, o uso de corticosteróides não está indicado no tratamento da erisipela, excetuando na forma particular de erisipela hemorrágica, • A escolha do antibiótico vai depender da gravidade da doença (tabela). Adicionalmente, devem ser instituídas medidas de caráter geral, dentre as medidas gerais, orienta-se repouso, uso de meias compressivas e elevação do membro acometido. • Constitui um importante passo na delineação da abordagem terapêutica a avaliação da necessidade de hospitalização (Quadro 3). Antibioticoterapia na Erisipela: Casos leves a moderados 1ª escolha: Penicilina G procaína na dose de 400 a 600.000 UI, IM, de 12 em 12 h, por 10 dias. Outras opções: ▪ Cefalexina, 500 mg, VO, 4x ao dia, por 10 dias; ▪ Amoxicilina 500 mg, VO, 3x ao dia, por 10 dias; PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV • Casos graves 1ª escolha: Penicilina G cristalina na dose de 1 a 2. 000. 000 UI de 4 em 4 horas IV. Outras opções: ▪ Ceftriaxone 1g IV a cada 24 horas; ▪ Cefazolina 1-2g IV a cada 8 horas. • Casos recorrentes Penicilina G benzatina,1.200.000 UI, IM, de 3/3 semanas, por 1 ano. • Se houver suspeita de S. aureus: combinação de penicilina e clindamicina, ou clindamicina até que os resultados das culturas estejam disponíveis. ➢ Alergia à penicilina: macrolídeos. Eritromicina 500 mg de 6 /6 horas. Quadro 3 – Erisipela: critérios de internamento • Idade superior a 60 anos; • Localização na face; • Sinais de gravidade local, como bolhas e necrose, ou gravidade geral, como confusão e hipotensão; • Fatores de comorbidades, como imunossupressão, insuficiência cardíaca ou renal; • Terapêutica em ambulatório ineficaz. ➢ O manejo terapêutico da erisipela consiste na instituição de antibioticoterapia, além de medidas de caráter geral, como repouso e elevação do membro afetado. ➢ O tratamento de escolha é a penicilina via oral ou parenteral. Pacientes sem sinais de gravidade local ou geral podem ser tratados, por via oral, com amoxacilina, 3-4,5g/dia, por 10 a 14 dias em regime ambulatorial. ➢ Formas graves, geralmente, necessitam de antibióticos por via intravenosa, penicilina G 12-20 milhões de unidades/dia ou cefazolina 4g/dia. Em casos de uma evolução favorável à antibioticoterapia endovenosa inicial, pode ser empregada a via oral para completar o tratamento de 10-20 dias. ➢ Nas erisipelas com manifestações sistémicas (tais como febre e arrepios) deve ser tratado com a terapia parenteral. Os doentes com infecção ligeira ou aqueles que melhoraram após o tratamento inicial com terapia antibiótica parenteral podem ser tratados com a terapia oral. ➢ Quadros leve a moderado podem ser tratados com penicilina ou amoxicillin, macrolídeos (particularmente eritromicina), cefalexina, clindamicina ou linezolida. ➢ Quadros mais graves e poucos responsivos ao tratamento inicial devem ser tratados por via parenteral com ceftriaxona (1g de 24/24hs) ou com cefazolina (1-2g de 8/8hs). CONSIDERAÇÕES • Após ter tido erisipela em uma extremidade inferior, 46% dos pacientes desenvolvem edema persistente e 47%, erisipelas recorrentes. • Pacientes apresentando-se com um primeiro episódio de erisipela em uma extremidade inferior demonstram, com frequência, sinais pré existentes de prejuízo linfático no membro não-afetado clinicamente, sugerindo que a disfunção linfática subclínica de ambas as pernas pode ser um importante fator predisponente. • Recomenda-se que o tratamento da erisipela atue não apenas sobre a infecção, mas também nos aspectos linfáticos. A terapêutica de longa data para o linfedema é essencial a fim de evitar recorrência da erisipela e agravamento do distúrbio linfático. • Em ambiente nosocomial e forte suspeita de infecção por Staphyloccocus aureus meticilinoresistente (MRSA), a vancomicina e, mais recentemente, a linezolida são opções indicadas. • A linezolida é aprimeira de uma nova classe de antibióticos, chamada oxazolidinonas. Apesar de relativamente nova, mostra uma grande promessa no tratamento de uma variedade de organismos gram- positivos, incluindo MRSA. • Tendo em conta o baixo risco de ocorrência de trombose venosa profunda (4,9%), o uso sistemático de anticoagulação profilática não está indicado no tratamento da erisipela. Somente a existência de contexto clínico, que condicione um risco tromboembólico moderado a alto, justifica a sua utilização. • Recorrência é a principal complicação da erisipela, que ocorre em cerca de 20% dos casos. Medidas para reduzir as recidivas de erisipela incluem o tratamento dos fatores predisponentes. • Com a instituição de terapêutica adequada a evolução de uma erisipela é geralmente favorável (80%), observando-se apirexia nas 48-72h após início da antibioterapia, seguida pela melhoria progressiva dos sinais locais (geralmente entre 4º e 6º dia) e resolução completa em duas semanas. • Nas formas de erisipela bolhosa a evolução pode ser mais lenta, sendo necessário, em média, 20 dias para a completa reepitelização ser atingida. • Por fim, em doentes com múltiplas recidivas, pode estar indicada a instituição de antibioticoterapia profiláctica (penicilina benzatina 2.4 UI 3/3 semanas via intramuscular ou eritromicina 250 mg 12/12h via oral). Esta profilaxia deve ser prolongada, dado que o seu efeito é unicamente supressivo. PIESC III – SAÚDE DA CRIANÇA LUCAS SILVA – MED UESB XV FLUXOGRAMA – ERISIPELA/CELULITE COM INTERNAÇÃO HOSPITALAR
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