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Adaptado de Siqueira, A.J.S.; Remião, J.O.R. e Azevedo, A.M.P. Bioquímica: Guia de Aulas Práticas PONTO N.º 6 PONTO ISOELÉTRICO DOS AMINOÁCIDOS PRÁTICA: Curva de titulação da glicina OBJETIVOS 1. Reconhecer as modificações, na estrutura de um aminoácido neutro, por efeito da variação do pH do meio onde ele se encontra. 2. Identificar os grupos tamponantes do aminoácido glicina e os valores de pH onde eles ostentam a maior capacidade tamponante. 3. Comparar os valores de pH, das zonas de tamponamento da glicina, obtidos experimentalmente com aqueles calculados teoricamente, pelo uso da equação de Henderson-Hasselbalch. 4. Identificar o valor de pH onde a glicina existe como um íon dipolar e definir ponto isoelétrico de um aminoácido. 5. Identificar a existência de dois pKs para a glicina, identificando as respectivas formas iônicas predominantes. PRINCÍPIOS TEÓRICOS Ionização dos aminoácidos A glicina, sendo um aminoácido neutro, apresenta três formas de ionização: COOH COO - COO - ½ H + ½ H + ½ +H 3 N - C - H + H 3 N - C - H H 2 N - C - H ½ H + ½ H + ½ H H H íon carregado íon dipolar(A±) íon carregado positivamente (A+) negativamente (A-) Em meio bastante ácido (pH 1) a glicina estará completamente protonada forma (A+) e, em meio bastante alcalino (pH 12), ocorrerá a forma carregada negativamente (A-). A carga elétrica da molécula, portanto, varia com o pH do meio. Considerando a dissociação da glicina, esquematizada anteriormente, podemos distinguir duas reações químicas distintas: A+ A+ + H+ e A+ A- + H+ As respectivas constantes de equilíbrio seriam: K1 = e K2 = Isolando os valores de [H+], teríamos: [H+] = K1 e [H+] = K2 Invertendo-se os termos podemos escrever: e Aplicando o logaritmo e substituindo os valores, conforme indicado no estudo dos tampões (Ponto n.º 2), podemos escrever: pH = pK1 + log e pH = pK2 + log Os valores de pK são facilmente encontrados em tabelas e, para a glicina, são: pK1 = 2,34 e pK2 = 9,6. Quando o pH for igual ao pK, teremos: pH - pK1 = log e pH - pK2 = log logo, 0 = log e 0 = log Como zero é o logaritmo de 1,0, no primeiro caso [A ]=[A+] e, no segundo, [A-]= [A ] ou seja, no pK1 50 % das moléculas estão na forma de íon dipolar e 50 % completamente protonadas. No pK2, 50 % estarão na forma de íon dipolar e 50 % na forma de íon carregado negativamente. Ponto isoelétrico da glicina Considerando as formas de ionização da glicina presentes, em valores de pH correspondentes ao pK1 e ao pK2, podemos deduzir que o íon dipolar predominará em valores de pH que estejam situados entre os valores de pK1 e o pK2. Também, por dedução lógica, podemos afirmar que a maior proporção do íon dipolar deverá ser encontrada em um valor de pH que esteja eqüidistante do pK1 e pK2. Segue-se daí que, para calcular o ponto isoelétrico (pI) da glicina, basta somar os valores do pK1 e do pK2 e dividir por 2. Para comprovar o raciocínio descrito acima, vamos calcular a relação entre as formas A e A+ quando o pH estiver 2 unidades acima do pK1 (caso A) ou 2 unidades abaixo do pK2 (caso B). [ ][ ] [ ] A H A ± + + [ ][ ] [ ] A H A - + + [ ] [ ] A A + ± [ ] [ ] A A ± - 1 1 1[ ] [ ] [ ]H K A A+ ± += × 1 1 2[ ] [ ] [ ]H K A A+ - ±= × [ ] [ ] A A ± + [ ] [ ] A A - ± [ ] [ ] A A ± + [ ] [ ] A A - ± [ ] [ ] A A ± + [ ] [ ] A A - ± ± ± ± Caso A: pH = pK1 + log , ou 4,34 = 2,34 + log , donde log = 2,0. Como 2 é o logaritmo de 100, teremos: = 100, ou [A ] = 100 [A+], ou seja, em pH 4,34 (duas unidades acima do pK1) já teremos o íon dipolar correspondendo a 100 vezes a forma protonada. Caso B: pH = pK2 + log , ou 7,6 = 9,6 + log , donde log = - 2,0. Como - 2 é o logaritmo de 0,01, teremos: = , ou [A ] = 100 [A-], ou seja, em pH 7,6 (duas unidades abaixo do pK2) já teremos o íon dipolar correspondendo a 100 vezes a forma carregada negativamente. Curva de titulação da glicina A glicina, na sua forma completamente protonada, é um ácido que pode ceder dois prótons durante a sua titulação completa com uma base. O comportamento da glicina numa solução ácida (pH 1) pode ser calculado a partir da adição de quantidades crescentes de equivalentes de base. A tabela, publicada na próxima página, orienta este cálculo e deve ser preenchida conforme indicado, observando-se que os valores teóricos são obtidos pelo uso da equação de Henderson-Hasselbalch, exceto nas proximidades do ponto isoelétrico. Os dados obtidos serão suficientes para traçar uma curva de titulação da glicina, em papel milimetrado, onde os valores de pH deverão ser registrados na ordenada e, os de equivalentes de base, na abcissa. A curva deverá ter uma característica bifásica, onde cada fase apresenta um ponto onde a modificação do pH, por adição da base, é mínima, correspondendo o valor de pH ao do pKa correspondente (pK1 ou pK2).O pI situa-se no ponto equidistante entre os dois pKs e é a zona onde a adição da base causa as maiores alterações do pH. As formas iônicas predominantes deverão ser identificadas nos principais pontos da curva obtida. A simples inspeção da curva obtida já nos permite afirmar que, no pK1 e no pK2, observa-se uma resistência maior à variação do pH por adição da base, constituindo-se as zonas onde a capacidade tamponante é máxima, pois os [ ] [ ] A A ± + [ ] [ ] A A ± + [ ] [ ] A A ± + [ ] [ ] A A ± + ± [ ] [ ] A A - ± [ ] [ ] A A - ± [ ] [ ] A A - ± [ ] [ ] A A - ± 1 100 ± prótons liberados pelas formas A+ e A+, respectivamente, neutralizam a maior parte da base adicionada e tamponam o meio. Nas proximidades do pI, onde a quase totalidade dos prótons da forma A+ já foi liberada e os prótons da forma A+ ainda não estão sendo liberados, o poder tamponante é menor e as variações de pH, por adição da base, são mais intensas. EXPERIMENTO: Curva de titulação da glicina Reagentes: Solução de glicina 0,02 M Ácido clorídrico 1 M Hidróxido de sódio 0,1 M Papel indicador de pH ou pHmetro portátil Técnica: 1. colocar 20 mL da solução de glicina em um frasco de Erlenmeyer; 2. misturar por agitação e medir o pH, anotando-o no quadro abaixo; 3. lavar o eletrodo do pHmetro com água destilada e secar com papel absorvente entre cada medida; 4. adicionar 1 mL de NaOH 0,5 M, misturar por agitação e medir o pH, anotando o resultado no quadro abaixo; 5. repetir o item n.º 4 até que o pH chegue ao valor de 12; 6. construir um gráfico de pH x volume de NaOH 0,5 M adicionado, em papel milimetrado. Quadro de acompanhamento NaOH adicionado (mL) pH NaOH adicionado (mL) pH 0 15 1 16 2 17 3 18 4 19 5 20 6 21 7 22 8 23 9 24 10 25 11 12 13 14 Resultados obtidos Volume de NaOH 0,1 Mol/L adicionado (mL) pH da solução de glicina 1 0,96 2 0,94 3 0,94 4 0,95 5 0,96 6 0,98 7 1 8 1,02 9 1,04 10 1,06 11 1,09 12 1,11 13 1,14 14 1,16 15 1,2 16 1,23 17 1,26 18 1,29 19 1,32 20 1,36 21 1,4 22 1,44 23 1,48 24 1,53 25 1,58 26 1,62 27 1,67 28 1,73 29 1,78 30 1,85 31 1,93 32 2,01 33 2,1 34 2,22 35 2,35 36 2,53 37 2,76 38 3,11 39 4,28 40 8,95 41 9,82 42 10,36 43 10,92 44 11,53 45 11,91 4612,14 47 12,28 48 12,4 49 12,47 50 12,54 51 12,59 52 12,65 53 12,7 Titulação da Glicina 1. Construa o gráfico da titulação da glicina 2. Encontre o pI da glicina e identifique a forma iônica predominante neste ponto. pI = (pK1 + pK2) / 2 = 13,23 /2 = 6,615 pK1 = 4,28 pK2 = 8,95 A glicina neste ponto está predominantemente na sua forma iônica dipolar, totalmente ionizada, sem carga elétrica final. 3. Identifique e explique as duas zonas de tamponamento da glicina e o grupamento responsável por cada uma delas. Dependendo do valor do pH, o grupamento amino com carga positiva ou o grupamento carboxila com carga negativa podem ter uma predominância na titulação. O grupamento amino predomina em pH abaixo do pI e o grupamento carboxila acima do pI. Em uma titulação, a glicina (ou os aminoácidos em geral) funcionam como tamponantes pois podem manter o pH estável mesmo com uma grande adição de ácidos ou bases, mantendo o pH da solução quase constante. 4. Se a glicina fosse encontrada em altas concentrações no sangue, ela desempenharia um papel importante na manutenção (tamponamento) do pH fisiológico? Justifique a resposta. Não, a glicina não desempenharia um papel importante na manutenção do pH fisiológico pois seu pH é aproximadamente 7,3 que ao observar no gráfico podemos concluir que ficaria entre as zonas de tamponamento próximo ao pI (= 6,615) e assim, não estando em nenhuma zona de maior tamponamento para exercer um papel importante na manutenção do pH fisiológico.
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