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Resenha do artigo "Os direitos humanos e a política internacional" de Rossana Rocha Reis

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Resenha do artigo "Os direitos humanos e a política internacional" de Rossana Rocha
Reis
Rossana Rocha Reis, professora do departamento de Relações Internacionais da USP,
discute, no artigo "Os direitos humanos e a política internacional", questões centrais que
envolvem o tema de direitos humanos, passando por diferentes temas que circundam a
questão e apresentando as reflexões de forma cadenciada.
Na parte inicial do texto, a autora discorre acerca do pensamento atual sobre os
direitos humanos, o qual entende que estes são inalienáveis a qualquer indivíduo e devem ser
protegidos pela comunidade internacional, que começou a ser afirmado apenas após a
Segunda Guerra Mundial.
Reis também menciona as distintas opiniões que se evidenciam acerca do
comprometimento dos Estados com a agenda dos direitos humanos, ora interpretando-o como
uma real evolução dos valores pregados pela comunidade internacional, como um
aprendizado após a Segunda Guerra Mundial, ora como algo mais simbólico do que
realmente efetivo, "uma vez que nem a ONU nem qualquer outro tipo de organização
internacional eram dotados de capacidade ou da legalidade necessária para exigir dos Estados
a observância dos direitos humanos" (REIS, 2006, p. 34), ainda que tivesse o poder de
acalmar as populações após os recentes horrores da Guerra. A autora também expõe, em um
momento posterior do artigo, o longo e dificultoso processo de fazer com que os direitos
humanos tenham força de lei. Discordâncias como a entre os blocos comunista e capitalista
na Guerra Fria moldaram o processo de iniciação dos tratados sobre o tema de direitos
humanos, os quais se seguiram por diversos outros pactos.
Posteriormente, a autora apresenta as diferentes perspectivas acerca do regime de
direitos humanos para a política internacional, já que há autores, tal como Hedley Bull, um
dos principais representantes da Escola Inglesa, que acreditam que a ascensão dos direitos
também humanizaria a competição entre os Estados, porém, há autores, como Edward Carr e
Hans Morgenthau, expoentes da perspectiva realista de análise, que analisam o regime como
sendo algo que não afeta a política internacional, a qual continuará sendo agressiva e
competitiva, e apenas reafirma os interesses individuais das nações mais poderosas.
Reis também propõe uma reflexão acerca dos reais resultados efetivos do regime de
direitos humanos:
"... apesar de alguns casos bem-sucedidos… os pactos e convenções
internacionais relativos aos direitos humanos são considerados como componentes de
um regime de soft law, com poucos mecanismos mais efetivos de execução. Mesmo
no caso da condenação de um Estado, ele sofre no máximo um "constrangimento
político e moral", a menos que a Assembléia Geral da ONU decida acionar o
Conselho de Segurança". (REIS, 2006, p.35)
Em contraponto, a autora também menciona expoentes de opiniões inversas à acima
citada, as quais interpretam que a ascensão dos direitos humanos tem diversos efeitos
positivos e contribuiu, inclusive, para processos de redemocratização na década de 80 e
também para a criação de redes transnacionais em prol da causa. A apresentação de autores
com pensamentos distintos é um instrumento que a autora recorre durante todo o artigo,
promovendo ao leitor um panorama geral das discussões apresentadas, o que faz com que ele
consiga estabelecer uma reflexão mais completa apenas a partir da leitura do artigo.
Posteriormente, a autora se dedica a apresentar os desenvolvimentos recentes no
âmbito dos direitos humanos a partir de meados da década de 90, na qual, segundo a autora,
as expectativas internacionais eram de um aminguamento das necessidades que envolviam
questões de segurança, o que abriria brechas para a priorização de pautas sociais. Nesse
mesmo momento do texto, a autora discorre acerca da conferência de Viena e do Tratado de
Roma e, consequentemente, da criação do Tribunal Penal Internacional, os quais, segundo a
autora, levam toda a discussão acima discorrida a outro patamar:
"principalmente, porque em função da combinação desse consenso com as
mudanças ocorridas no panorama político internacional, a possibilidade de dotar o
sistema internacional de proteção aos direitos humanos de mecanismos coercitivos
mais fortes na promoção de uma política mais ativa em garantia dos direitos
humanos, passa a ser discutida de forma mais concreta". (REIS, 2006, p. 36)
Finalmente, a abertura dessa discussão, dá início à parte do artigo na qual Rossana
Reis discorre sobre o tema das intervenções humanitárias e suas legitimidades, fazendo uma
conexão com todo o conteúdo exposto anteriormente e, consequentemente, refletindo acerca
de direitos humanos e soberania, novamente, apresentando dois lados da discussão.
Apresentando comentários de intelectuais com pensamentos opostos acerca da
legitimidade das intervenções humanitárias, a autora promove uma reflexão totalmente
pertinente: a de que as intervenções humanitárias acabam sendo uma preocupação para os
países periféricos, ao passo que são mais um meio de dominação aplicado pelo Norte global,
visando a fazer valer seus interesses individuais, sob a suposta justificativa de proteger os
direitos humanos de uma população cujo governo não tem a capacidade de fazê-lo. Por meio
de exemplos, Reis fundamenta esse pensamento, apontando os casos do Iraque e de Ruanda,
sendo que o primeiro, ainda que permeassem diversas dúvidas quanto à real necessidade da
intervenção, a mesma foi realizada violentamente, enquanto o segundo, no qual, embora
ocorram violações gravíssimas dos direitos humanos e um genocídio de elevadas proporções,
a resposta da comunidade internacional foi uma completa imobilidade.
Posto isso, a autora inicia uma discussão acerca do Conselho de Segurança da ONU, o
qual tem o poder de decisão final em casos de violações de direitos humanos. Claramente, há
uma falta de representatividade dos países periféricos no Conselho e também de um controle
efetivo sobre a legalidade das suas decisões, o que resulta em deliberações desiguais e dúbias.
Rossana Reis cita, inclusive, o cientista político Robert Dahl, o qual acredita que a
democracia interna nas Organizações Internacionais é tão ausente que estas não chegam nem
a serem poliarquias e também David Held, o qual diz que as Organizações Internacionais só
poderiam ser democráticas se "firmarem e desenvolverem instituições políticas regionais e
globais como um complemento necessário ao Estado-nação" (HELD, 1991, p.24, citado por
REIS, 2006, p.39).
A última reflexão presente no artigo de Rossana Reis, que encaminha-o para a
conclusão final, é a de que, atualmente, há diversos atores não estatais no cenário
internacional, os quais têm tanto quanto, e às vezes até mais, poderes de influência do que os
Estados. A autora foca nas ONGs, as quais têm ganhado cada vez mais legitimidade e têm
adentrado nas estruturas das organizações internacionais, depositando sua influência nas
decisões, mas há diversos outros atores que também se enquadram, como as corporações
transnacionais. Entretanto, tal como disserta a autora, a atuação efetiva desses atores ainda é
pouco conhecida e, claramente, estes ainda não representam a sociedade civil e não ajudam a
democratizar as organizações internacionais.
O artigo, como um todo, deixa implícito um pensamento muito crítico, mas sem
deixar de mencionar opiniões de intelectuais que interpretam-no de forma oposta, assim, as
mesmas acabam por autenticar ainda mais os ideais críticos, pois o leitor pode perceber as
claras contradições que englobam os temas pelos quais a autora perpassa.
Posto isso, é possível compreender, a partir da leitura do artigo, que as questões que
envolvem os direitos humanos são tão complexas quanto são recentes. Compreender sobre há
quão pouco tempo os direitos humanos são entendidos como inalienáveis a todos os
indivíduos e são parte de uma agenda internacional evidencia reflexões sobre a necessidade
de que esse regimeseja posto em prática de forma efetiva. Da mesma forma, verificar o
tamanho déficit democrático que perpassa internamente das organizações internacionais, bem
como perceber a proeminência de atores centrais em detrimento dos periféricos dentro destas
permite refletir sobre os reais interesses que circundam o campo dos direitos humanos, os
quais acabam sendo suprimidos pelos interesses individuais dos atores poderosos. Reflexão
esta que permite entender um pouco sobre o cerne das intervenções humanitárias e começar a
compreender os motivos de seletividade das organizações no que se refere a essa questão.
Referências:
REIS, Rossana R. Os direitos humanos e a política internacional. Revista de sociologia e
política, Curitiba, 27, p. 33-42, nov. 2006.

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