Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Regime internacional de prevenção à lavagem de dinheiro A Literatura de RI não dá muita conta de discutir lavagem de dinheiro, essa discussão aparece mais na Economia e no Direito. Documentário "Na rota do dinheiro sujo"- seletividade penal, too big to fail, impunidade, corrupção, EUA aparecem em ambos os casos, impedir o rastreamento da origem do dinheiro do ouro, movimentação de dinheiro nas fronteiras, HSBC - México e EUA, ouro - Peru, mineração ilegal na região amazônica, é caro legalizar, ouro vai parar na casa da moeda (falta de compliance), questão de saúde no episódio do ouro (contato direto com o mercúrio) e precarizacao do trabalho e casos de prostituição. Porém, por ser uma produção na Netflix pode-se perceber um pouco de neocolonialismo estadunidense, como salvadores, mostrando que a lei dos EUA que vale. Esquema do ouro começa na venda de drogas, o dinheiro vai para o Peru, para ser usado na compra de ouro ilegal, tem uma empresa de fachada que vende esse ouro para uma refinaria nos EUA, quando a refinaria dos EUA compra esse ouro, a empresa transfere o dinheiro para o banco para a pessoa do começo (é uma empresa pagando para outra, mas uma é de fachada). O que é lavagem de dinheiro? - Definição do texto: "conduta fraudulenta de legitimação de capital sujo realizada com o objetivo de torná-lo apto para uso". Ideia de "capital sujo" é um pouco ruim, "capital de origem duvidosa é melhor". - Definição da Interpol: qualquer ato ou tentativa de ocultar ou disfarçar a identidade de proventos obtidos ilegalmente, de modo que pareçam ter se originado de fontes legais". - Reciclagem- produto (dinheiro) entra de um jeito e volta de outro, para ser usado e não parecer que foi ilegal. Etapas da lavagem de dinheiro: - 1- Colocação: quando introduz no sistema financeiro formal os ganhos obtidos em fonte ilícita ou duvidosa. Essa etapa é bem delicada, pois é quando a entrada do dinheiro está mais visível, mais vulnerável. Guardar dinheiro em casa não caracteriza lavagem pois não está colocando o dinheiro no sistema financeiro, ainda que esse dinheiro seja de origem ilegal. - 2- Ocultação: tentar distanciar a ponte de quem tem a posse final - distanciar a origem do dinheiro de quem terá a posse final dele. Quebrar a trilha que leva de um local a outro, assim como a definição da Interpol. Várias transações financeiras, comprar bens ou propriedades, fazer doações, comprar obras de arte ou antiguidades, dar presentes, etc, são formas de esconder a origem. Criar camadas, ter intermediários (laranja), distanciar as coisas o máximo possível. Igrejas, emissoras de tv, ONGs, etc, são paraísos para lavagem. - 3- Reintegração: aproveitar dos ganhos da atividade criminosa. Usufruir dos recursos comprando bens e vivendo uma vida luxuosa. Bem ligada com a ocultação. O Regime Internacional de PLD - Internacionalidade- agências internacionais (DEA, por exemplo), atores internacionais envolvidos. Não adianta nada um só país ter normas de prevenção, o esforço de combater isoladamente é inútil. - Entende-se, portanto, como necessário uniformizar os mecanismos de lavagem de dinheiro. Paraísos fiscais acabam se beneficiando dessa condição, por receitas do governo, turismo, etc, e acabam não tendo incentivos econômicos para acabar com isso (ainda que tenha a pressão internacional e política) (por que a Suíça é um paraíso fiscal tão usado? tem confiabilidade. Por isso nem todos os países podem se tornar paraísos fiscais, como a África, com muitos países sem sistema bancário Quais são as lacunas no Regime Internacional de PLD (prevenção à lavagem de dinheiro)? - Conhecimento: como se adquire conhecimento sobre lavagem de dinheiro? Depende do vazamento de documentos e de denúncias (um dos maiores casos de vazamento é o do Panamá Papers, foram 11.5 milhões de documentos que foram sendo acumulados desde a década de 70 e foram enviados para o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos em 2016. O escritório de advocacia Moussaka Fonseca operava com empresas offshore (são de um país diferente do proprietário, em paraísos fiscais (regime de fiscalidade privilegiada é um termo melhor na literatura)). Macri, Messi, familiares de Xi Jinping, pessoas ligadas a Putin, e muitos outros. Outra forma de ter conhecimento é quando agências formais de controle e investigação descobrem algo. Geralmente, nesses "paraísos fiscais" é possível criar empresas anônimas (sem o nome do dono), só precisa de um procurador (laranja, por meio de uma empresa de advocacia, por exemplo) para abrir a empresa para você. A lacuna é que só temos conhecimento sobre os esquemas quando eles acontecem e alguém descobre. - Normas + instituições- Bank Secrecy Act (1970) exige que toda empresa financeira dos EUA precisa passar informações para o governo (se chama lei do sigilo bancário, mas é basicamente uma quebra de sigilo), EUA queria que outros países também aplicassem normas contra a lavagem de dinheiro. Norma surge no âmbito doméstico e vai para o internacional, Princípios de Basiléia (1988) são a primeira difusão dessa norma dos EUA- o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (reúne presidentes dos bancos centrais dos países mais importantes do sistema financeiro, dita as melhores práticas para garantir a estabilidade financeira) e esses princípios colocam normas para impedir que o sistema financeiro seja usado em lavagem de dinheiro, foi a primeira vez que esses princípios foram definidos, depois foram sendo atualizados com a evolução do sistema financeiro (basileia 1, 2, 3…), os países começam a adotar práticas parecidas com as que foram adotadas pelos EUA em 1970. Convenção de Viena (1988)- sobre drogas, é a primeira vez que a ONU criminaliza a lavagem de dinheiro (no contexto de drogas, depois passa a não ser associada apenas a isso) - difusão e internalização - países adotam a convenção. Regulamento Modelo da OEA sobre lavagem de dinheiro- regulamentações do internacional são levadas ao âmbito regional, elas estão baseadas nas diretrizes do GAFI, principal instituição de combate à lavagem de dinheiro. - Instituições: o GAFI (Grupo de Ação Financeira Internacional): Criado na reunião do G7 em 1989, sede na OCDE em Paris - objetivo: vigiar o sistema internacional, pensar em medidas regulatórias e boas práticas para combater a lavagem, especialmente vinda de tráfico de drogas ou crimes de corrupção. Desde 2001, também incluiu o combate ao financiamento do terrorismo. Existem críticas ao GAFI que dizem que é um clube dos países ricos, até por ter nascido do G7 (hoje tem 38 membros, sendo dois observadores (Indonésia e Arábia Saudita) e duas organizações regionais, também tem todos os membros do G20 financeiro, Brasil, Argentina e México são os únicos da América Latina). Apesar de seleto, com poucos membros, o GAFI consegue difundir normas e tem, portanto, atuação global. Em 1990 lançou 40 recomendações especiais para evitar que o sistema financeiro seja usado para fins ilícitos, essas recomendações são adotadas não só pelos países membros, como também por outros (o Regulamento Modelo da OEA é baseado nessas recomendações do GAFI). Harmonização das leis internacionalmente vem da adoção dessas recomendações. Uma das recomendações é a criação de uma Unidade de Inteligência Financeira, que recebe dados dos bancos e afins, para identificarem transações suspeitas (no Brasil essa unidade é o COAF, nos EUA é o FinCEN). Todos os membros do GAFI passam por um processo de avaliação mútua (AEA faz isso com energia atômica também), através de um grupo de técnicos que vai nos países avaliar a situação da lavagem de dinheiro (Brasil já passou por 3 e a próxima está prevista para 2021, pois foi adiada ano passado por conta da pandemia, Brasil não cumpria até 2016 a norma do GAFI sobre combate ao terrorismo e era pressionado). - Regime Internacional de PLD dos EUA- FinCEN (Financial Crimes Enforcement Network - 1996)- tem o objetivo de identificar fluxossuspeitos de dinheiro e reportar ao governo, serve como transparência financeira. As informações coletadas servem para o governo adotar sanções, por meio do OFAC que fica dentro do Departamento do Tesouro (Office of Foreign Assets Control) que impõe sanções econômicas a pessoas, empresas ou países (nos anos 50 tentaram na Coreia, nso 60 aplicaram em Cuba, 79 no Irã (congelando ativos iranianos nos EUA do governo ou indivíduos ou empresas), etc). Também dentro do Departamento do Tesouro, pela Specially Designated Nationals (SDNs), fazem uma lista de pessoas ligadas ou suspeitas a crimes financeiros, que são excluídas do sistema americano. HSBC fazia vista grossa a essa lista. Essas listas são importantes por serem um mecanismo de impedir que esses atores tenham interação financeira com os EUA e, apesar da lista ser doméstica, acaba sendo um mecanismo multilateral por conta da dimensão econômica dos EUA, não acessar o sistema financeiro dos EUA pode ser um grande prejuízo. Programa de sanções econômicas. (https://home.treasury.gov/policy-issues/financial-sanctions/sanctions-programs-and- country-information) aqui se encontram todas as listas e sancões aplicadas. - Regime Internacional de PLD no Brasil- país pós ditadura quer criar uma imagem de credibilidade, de um sistema financeiro íntegro. Começa a pleitear a vaga no GAFI, em 1998 cria uma lei sobre lavagem de dinheiro, o COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que era ligado ao Ministério da Fazenda, mas Bolsonaro passou para o da Justiça em 2019, abaixo do Moro, depois foi para o da Economia, com Guedes, depois para o Banco Central, onde permanece ainda). Em 2019, o COAF identificou movimentações suspeitas de pessoas do gabinete do Flávio quando deputado do RJ, incluindo Queiroz. Não é tradicional que uma unidade como o COAF seja do Banco Central, geralmente fica atrelada ao Ministério da Economia. COAF produz os RIFs (Relatórios de Inteligência Financeira). Bancos, corretoras de seguros, lotéricas, instituições de pagamentos, planos de saúde, empresas de contabilidade, instituições de arte, etc, são setores obrigados a passar dados suspeitos para o GAFI. - Políticas- ENCCLA - política de fiscalização do Brasil, analisa informações, está no ministério da justiça, pois tem um caráter normativo também, de propor normas. "Conheça seu cliente", política adotada por bancos, para saber todas as informações sobre o cliente e poder identificar movimentações suspeitas (monitora a vida da pessoa, transações, redes sociais, endereço, etc). Aliado a essa política, há os perfis de risco, mas todo cliente deve ser avaliado. Monitoramento das transações - suspeitas? O que configura uma transação suspeita? há softwares para isso, mas não basta identificar um valor suspeito, há um trabalho humano para verificar o perfil do cliente, valores que recebe, etc. Sanções são políticas possíveis também ONU também tem um comité de sanções dentro do CSNU. Listas também (há listas para tudo: terroristas, exclusão aérea (não podem viajar de avião), lista de devedores, lista de pessoas e países não confiáveis, etc). Essas listas são resultado de um esforço de inteligência que leva à composição dessa lista. O Brasil adota principalmente a lista da ONU, de lavagem e terrorismo, nos anos 90 muitos países adotaram "a lista Clinton" dos EUA que continha muitos cartéis - isso mostra que pode-se adotar listas domésticas de outros países. - Compliance- O uso da força não é usado nesse sentido. O naming and shaming é o principal. Exemplo- líderes ligados ao Panamá Papers. Rainha Elizabeth está no Paradise Papers, por evasão fiscal (nem sempre os vazamentos são lavagem). É a principal lacuna do regime, não há cumprimento das normas e políticas.
Compartilhar