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PERNAS As pernas podem ser acometidas pelo eumicetoma por causa do ponto de inoculação. PÉS Os pés são frequentemente acometidos por serem mais expostos aos nichos ambientais dos fungos durante os trabalhos rurais. Os fungos mais envolvidos nos casos de eumicetomas são Pseudallescheria boydii (grãos brancos), Pirenochaeta romeroi (grãos pretos), Madurella mycetomatis (grãos pretos) e Acremonium recifei (grãos brancos). Na América do Sul, o agente mais encontrado é o Madurella grisea. Esses fungos são achados principalmente em madeira, solos e vegetais e, por isso, também os homens, que são produtores rurais, agricultores e lavradores, são os mais acometidos. O diagnóstico pode ser confirmado pelo achado dos grãos com diferentes texturas, tamanhos e cores. A observação das características macroscópicas dos grãos pode ajudar na identificação do fungo, porém a definição exata da espécie ocorre em associação aos achados da micromorfologia da cultura e do grão. Em alguns casos, são necessários testes complementares, como bioquímicos, para auxiliar na identificação do fungo. Autor: OneMashi / Fonte: Shutterstock O Pseudallescheria boydii é um dos fungos causadores do eumicetoma. MODAL Os trabalhadores rurais são os principais pacientes acometidos pelo eumicetoma Dentre as micoses subcutâneas, o tratamento do eumicetoma é o mais complicado porque é necessária drenagem cirúrgica, uso de antifúngicos intralesionais (Anfotericina B, miconazol, cetoconazol, itraconazol, entre outros) e, em casos mais graves, amputação do membro acometido. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A DERMATOFITOSE É UMA MICOSE QUE ACOMETE A PELE E OS PELOS DE HUMANOS E ANIMAIS E NÃO TEM POTENCIAL LETAL, PORÉM PODE SER MUITO INCÔMODA. TRÊS GÊNEROS FÚNGICOS FORMAM O GRUPO DOS DERMATÓFITOS. QUAIS SÃO ELES? A) Hortaea, Malassezia e Tonsurans. B) Candida, Piedraia e Trichosporon. C) Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton. D) Trichosporon, Malassezia e Epidermophyton. E) Sporothrix, Trichosporon e Piedraia. 2. INDEPENDENTEMENTE DO AGENTE CAUSADOR, AS MICOSES SUBCUTÂNEAS COMPARTILHAM UMA CARACTERÍSTICA EM COMUM. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS COMUNS QUE ESSAS MICOSES COMPARTILHAM: A) A forma de transmissão das micoses subcutâneas ocorre por um trauma cutâneo. B) As micoses subcutâneas são causadas por fungos demáceos melanizados. C) O tratamento das micoses subcutâneas é sempre com antifúngicos e cirurgias. D) No diagnóstico das micoses subcutâneas o cultivo é sempre feito em ágar Sabouraud com antibióticos. E) O exame direto sempre evidencia estruturas de hifas hialinas septadas, em alguns casos com artroconídios. GABARITO 1. A dermatofitose é uma micose que acomete a pele e os pelos de humanos e animais e não tem potencial letal, porém pode ser muito incômoda. Três gêneros fúngicos formam o grupo dos dermatófitos. Quais são eles? A alternativa "C " está correta. Os fungos que pertencem ao grupo dos dermatófitos são os do gênero Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton, pois são os que causam dermatofitose, tanto em humanos quanto em animais. 2. Independentemente do agente causador, as micoses subcutâneas compartilham uma característica em comum. Assinale a alternativa correta sobre as características comuns que essas micoses compartilham: A alternativa "A " está correta. A característica que une as micoses subcutâneas é a necessidade de um trauma cutâneo que inocula o fungo na pele. MÓDULO 3 Reconhecer as micoses sistêmicas e oportunistas MICOSES SISTÊMICAS Assim como as micoses subcutâneas, as micoses sistêmicas são agrupadas por apresentarem várias características em comum. Essas micoses têm distribuição geográfica limitada e, por essa característica, também podem ser conhecidas como “micoses endêmicas”. Os fungos causadores das micoses sistêmicas podem ser encontrados no solo, em excremento de animais e em matéria orgânica vegetal rica em nutrientes. A principal forma de transmissão é pela inalação dos esporos fúngicos ou conídios, sendo o pulmão o primeiro e principal órgão acometido. Apesar disso, a maior parte das infecções pulmonares é autolimitada e assintomática. Mesmo com alto potencial infeccioso ambiental, um indivíduo com micose sistêmica não transmite para outros humanos ou animais. ENDÊMICAS São endêmicas aquelas doenças que acometem a população de uma região geográfica específica. Autor: solar22 / Fonte: Shutterstock A principal forma de transmissão das micoses sistêmicas ocorre pela inalação dos conídios dispersos no ar. javascript:void(0) O tratamento das micoses depende principalmente do agente etiológico e da localização da lesão. Para entender melhor quais são os antifúngicos e os mecanismos de ação de cada um deles, veja o vídeo. HISTOPLASMOSE A histoplasmose clássica é causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum var. capsulatum e pode ser encontrada em várias partes do mundo, sendo endêmica nos Estados Unidos (regiões leste e centrais). Na África, principalmente nos países tropicais, a histoplasmose é causada pelo Histoplasma duboisii. Embora a histoplasmose seja rara no Brasil, houve aumento no número de casos registrados depois do advento do HIV/AIDS. A principal característica desse fungo é que ele tem preferência por crescer em solo que é abundantemente contaminado com fezes de aves ou morcegos. A transmissão ocorre por inalação dos conídios do Histoplasma, que podem ser dispersos no ar durante a limpeza de locais, como galinheiros, sótãos com morcegos ou então quando são revirados materiais do solo dentro de cavernas. Nas regiões endêmicas, é comum um aumento significativo no número de casos após a escavação do solo para construção ou então por exploração de cavernas infestadas de morcegos. Após a inalação do conídio, ocorre a primo-infecção no pulmão. Na maioria dos indivíduos, esse quadro inicial é assintomático, subclínico, e passa despercebido ou é confundido com resfriados ou gripe. Apesar de não apresentar sintomas claros e debilitantes, esse primeiro contato com o fungo pode deixar sequelas, como calcificações nodulares residuais no pulmão, parecido com o que acontece com a tuberculose. javascript:void(0) Fonte: Wikimedia Commons Radiografia torácica mostra infiltrado pulmonar difuso devido à histoplasmose pulmonar aguda causada por H. capsulatum. Muito raramente, mas podendo ocorrer, o H. capsulatum se dissemina e atinge outros órgãos, como rins, fígado, baço, pâncreas, testículos e ainda ocorre a manifestação clássica com lesões na mucosa orofaríngea. Um fator agravante para a histoplasmose é a ocorrência de coinfecção com outros agentes, como o Mycobacterium tuberculosis, que causa tuberculose, dificultando ainda mais o tratamento e diagnóstico. A histoplasmose disseminada pode ocorrer em indivíduos com alguma debilidade imunológica, como pacientes submetidos a quimioterapias imunossupressoras ou então pacientes com AIDS. FEZES DE AVES O Histoplasma capsulatum pode ser encontrado crescendo em fezes de aves MORCEGOS As cavernas ou locais onde há morcegos podem ser favoráveis para o crescimento do Histoplasma capsulatum GALINHEIROS A limpeza de galinheiros pode dispersar conídios de Histoplasma capsulatum que estejam crescendo nas fezes SÓTÃOS COM MORCEGOS Os sótãos com morcegos são locais propícios para o crescimento do Histoplama capsulatum CALCIFICAÇÕES NODULARES RESIDUAIS NO PULMÃO Radiografia torácica mostra infiltrado pulmonar difuso devido à histoplasmose pulmonar aguda causada por H. capsulatum. Autor: LindseyRN / Fonte: Shutterstock No hospedeiro, o H. capsulatum se transforma em leveduras. O H. capsulatum é dimórfico, o que significa que, ao parasitar as células do sistema retículo endotelial, transforma-se em leveduras pequenas, ovais ou redondas. Na natureza, esse fungo cresce como filamentosos com hifas hialinas e macroconídios mamilonados ou tuberculados, que lembram a semente de mamona. Em laboratório, é possível observaras duas fases, crescendo o fungo a 25°C, para verificar sua fase filamentosa, e a 37°C, quando observamos as leveduras. O espécime clínico coletado para diagnóstico da histoplasmose pode ser biópsia, escarro, raspado de lesões superficiais, urina e aspirados de medula óssea, nos casos de histoplasmose disseminada. Os cortes histológicos podem ser corados com metenamina-prata de Gomori, calcofluorado branco ou ácido periódico de Schiff, quando serão observadas estruturas compatíveis com leveduras. O crescimento do Histoplasma em laboratório é lento, podendo levar até quatro semanas para o aparecimento das primeiras colônias. Autor: Putita / Fonte: Shutterstock O Histoplasma capsulatum na natureza se apresenta como fungo filamentoso. FILAMENTOSOS COM HIFAS HIALINAS E MACROCONÍDIOS MAMILONADOS O Histoplasma capsulatum na natureza se apresenta como fungo filamentoso. METENAMINA-PRATA DE GOMORI A coloração metenamina-prata de Gomori evidencia, em tons de marrom, as células fúngicas e, em azul, as outras estruturas do hospedeiro As colônias desse fungo têm aparência algodonosa e branca, sem nenhuma característica muito peculiar que o identificaria, por isso é muito importante realizar a termoconversão em laboratório para verificar sua mudança para a fase leveduriforme. Além dos métodos clássicos de identificação pelo exame direto e cultura, também é possível realizar testes sorológicos, como o teste de imunodifussão, que detecta anticorpos contra o H. capsulatum no soro dos pacientes infectados. Quando os anticorpos contra o antígeno M desse fungo são detectados, indicam que a histoplasmose está ativa. Autor: David A Litman / Fonte: Shutterstock A coloração metenamina-prata de Gomori evidencia, em tons de marrom, as células fúngicas e, em azul, as outras estruturas do hospedeiro. Para os casos assintomáticos ou com sintomas leves, não há indicação de tratamento, porque a resolução da doença ocorrerá de forma espontânea. Nos casos pulmonares mais graves, é indicado o uso de itraconazol, e, para os casos de histoplasmose disseminada, o tratamento de escolha é anfotericina B. Não existe uma forma 100% eficaz de prevenção, mas evitar locais onde o fungo possa crescer ou áreas endêmicas é a melhor forma de evitar a histoplasmose. PARACOCCIDIOIDOMICOSE Autor: Naeblys / Fonte: Shutterstock A paracoccidioidomicose acontece em toda a América Latina. A paracoccidioidomicose também pode ser conhecida como a “blastomicose da América”, pois essa doença acontece principalmente na América Latina, estendendo-se da Argentina até o México, já sendo descritos casos aqui no Brasil em estados como São Paulo, Paraná e Rondônia. O agente causador dessa micose é o fungo dimórfico Paracoccidioides brasiliensis, porém, como foi poucas vezes isolado na natureza, ainda não se sabe ao certo seu habitat natural. Embora acredite-se que ele também está associado à matéria orgânica vegetal, pois muitos dos pacientes acometidos são trabalhadores rurais, também já foi associado à caça ao tatu. Assim como em todas as micoses sistêmicas, a paracoccidioidomicose não é contagiosa. Autor: LightField Studios / Fonte: Shutterstock Os trabalhadores rurais são os mais acometidos pela paracoccidioidomicose. A transmissão ocorre por inalação dos conídios do P. brasiliensis, que pode causar lesões iniciais nos pulmões. Ao contrário do que acontece com a histoplasmose, nessa lesão inicial, o fungo pode ficar latente dentro de um granuloma por anos ou décadas, até que possa ser reativado novamente e, enfim, causar a paracoccidioidomicose. Por essas características, essa micose é considerada crônica e pode disseminar-se para outros locais no organismo a partir do pulmão, como tecido mucocutâneo, baço, linfonodos, fígado, glândulas suprarrenais etc. Uma manifestação típica dessa micose são lesões dolorosas na mucosa oral. Fonte: Wikimedia Commons Manifestação mucocutânea da paracoccidioidomicose. O diagnóstico pode ser realizado pela observação de estruturas leveduriformes características do P. brasiliensis em amostra de escarro, secreções, pus etc., ou por avaliação histopatológica de biópsias. As leveduras desse fungo podem apresentar-se isoladas ou com brotamentos ao redor da célula-mãe, lembrando um timão de barcos. Fonte: Wikimedia Commons As leveduras do P. brasiliensis apresentam brotamentos ao redor da célula-mãe. O crescimento em meio de cultura pode demorar de duas a quatro semanas. Também é possível aplicar testes sorológicos para auxiliar no diagnóstico e acompanhamento terapêutico da paracoccidioidomicose. Fonte: Wikimedia Commons As leveduras do P. brasiliensis pode demora até 4 semanas para começar a crescer. O tratamento é baseado na manifestação clínica e no estado geral do paciente, podendo ser feita uma combinação terapêutica de sulfamidas com itraconazol, trimetoprim, anfotericina B ou miconazol. Por ser uma micose de curso crônico, seu tratamento também é demorado e, mesmo depois da cura clínica, micológica e sorológica, é necessário continuar com uma dose de manutenção do antifúngico por cerca de dois anos. MUCOCUTÂNEO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Manifestação mucocutânea da paracoccidioidomicose. COM BROTAMENTOS As leveduras do P. brasiliensis apresentam brotamentos ao redor da célula-mãe. CRESCIMENTO EM MEIO DE CULTURA As leveduras do P. brasiliensis pode demora até 4 semanas para começar a crescer. CURA CLÍNICA É quando os sintomas desaparecem. MICOLÓGICA Ocorre quando não é mais possível evidenciar estruturas fúngicas nas amostras coletadas ou então sem crescimento no cultivo. SOROLÓGICA Acontece quando não há mais detecção de anticorpos contra antígenos do P. brasiliensis. COCCIDIOIDOMICOSE A coccidioidomicose é causada por fungos dimórficos do gênero Coccidioides, e as espécies mais conhecidas são C. immitis e o C. posadasii. Ambas as espécies são endêmicas nos Estados Unidos, mas também podem ser encontradas no México, na América Central e no Sul. No Brasil, já houve relato de casos nos estados do Piauí, Ceará e Maranhão. Diferente dos outros fungos que têm preferência por locais de clima úmido, esse gênero tem predileção por crescer como saprófita de solo de áreas semidesérticas e desérticas. Autor: Kenneth Keifer / Fonte: Shutterstock Ao contrário dos outros fungos, o Coccidioides tem preferência por crescer em locais de clima desértico ou semidesértico. A infecção ocorre por inalação dos artroconídios, que são dispersos e carreados pelas correntes aéreas. No pulmão, esse artroconídio transforma-se em esférulas de paredes grossas, contendo muitos endósporos irregulares ou globosos. Quando a esférula se rompe, libera os endósporos que vão desenvolver novas esférulas, continuando o ciclo parasitário. Autor: Kateryna Kon / Fonte: Shutterstock Os artroconídios são fragmentações das hifas com função semelhante aos conídios. Na maioria dos casos, a infecção é assintomática, porém menos da metade dos pacientes pode desenvolver pneumonia aguda, e uma parcela muito pequena evolui para o quadro pulmonar crônico cavitário. Dificilmente o Coccidioides se dissemina por via linfo-hematogênica, causando lesões em outros tecidos. Autor: Creative Endeavors / Fonte: Shutterstock As esférulas apresentam paredes grossas cheios de endósporos. O diagnóstico presuntivo dessa micose pode basear-se em sintomas clínicos, dados epidemiológicos e detecção de anticorpos. O diagnóstico definitivo é estabelecido quando se evidencia a presença das esférulas com endósporos na amostra clínica ou embiópsias, bem como pelo isolamento do fungo em cultivo. Geralmente, os pacientes que apresentam a infecção primária pulmonar não precisam de tratamento com antifúngicos, pois a infecção se resolve espontaneamente. Em pacientes imunocomprometidos, porém, é aconselhável a administração da anfotericina B sozinha ou em associação com itraconazol. MICOSES OPORTUNISTASAs micoses oportunistas ocorrem no mundo todo e são causadas por fungos com baixa virulência, que habitualmente vivem pacificamente com o hospedeiro, ou então não causariam doenças em indivíduos saudáveis. Porém, quando há alguma alteração, por exemplo do sistema imunológico, e as condições tornam-se favoráveis ao desenvolvimento desses microrganismos, eles podem invadir os tecidos, causando doenças. Os fatores que podem predispor os indivíduos a essas micoses são classificados como: VIRULÊNCIA É o grau de patogenicidade de um microrganismo que impacta diretamente na gravidade da doença. INTRÍNSECOS Esses fatores são do próprio hospedeiro, como diabetes, neoplasias, hemopatias, AIDS e quaisquer outras doenças ou condições que possam alterar o bom funcionamento da imunidade celular (velhice, prematuridade, gravidez etc.). Autor: Natalia Deriabina / Fonte: Shutterstock A gestação pode ser um fator intrínseco que interfere no sistema imunológico. EXTRÍNSECOS Indivíduos em tratamento com corticoides, antibióticos, cirurgia de transplante e em ambientes hospitalares contaminados. javascript:void(0) Autor: Halfpoint / Fonte: Shutterstock O ambiente hospitalar pode ser um fator extrínseco que facilita a ocorrência das micoses oportunistas. Como os fungos que causam micoses oportunistas convivem cotidianamente e, muitas vezes, estão presentes na microbiota ou no ambiente do nosso dia a dia, o diagnóstico precisa ser muito rigoroso para confirmar que efetivamente é um desses agentes que está ocasionando a doença e que ele não está apenas contaminando a amostra. Para atender a essa necessidade, é importante seguir critérios: verificação do fungo em exame direto da amostra clínica, em várias coletas ou em material de biópsia; cultura seriada positiva com o mesmo microrganismo e ausência de outro patógeno fúngico. CANDIDÍASE A candidíase pode ser causada por várias espécies do gênero Candida, e elas são leveduras encontradas na microbiota normal do trato gastrointestinal, nas mucosas e na pele. A candidemia (candidíase sistêmica) é a micose prevalente no mundo todo que acomete outros órgãos, e as espécies mais frequentemente isoladas são C. albicans, C. dubliniensis, C. tropicalis, C. guilliermondii, C. parapsilosis e C. glabrata. Autor: Tatiana Shepeleva / Fonte: Shutterstock Microscopia eletrônica das células leveduriformes do gênero Candida. LEVEDURAS Microscopia eletrônica das células leveduriformes do gênero Candida. A infecção pode ocorrer por causa de dispositivos médicos, como cateteres, cirurgia, lesão da pele ou da mucosa gastrointestinal, que favorecem a entrada dessas leveduras no organismo. Em pacientes com o sistema imunológico funcionando perfeitamente, as leveduras que entram nessas situações são eliminadas, e a candidemia pode ser transitória. No entanto, pacientes debilitados, com comprometimento da defesa fagocítica, podem desenvolver lesões ocultas em qualquer local do corpo, como rins, olhos, coração, meninges. Autor: Doce flor / Fonte: Shutterstock javascript:void(0) A Candida pode causar inúmeras doenças, e uma debilidade imunológica pode favorecer as formas mais graves. CATETERES Os dispositivos médicos de longa duração podem favorecer a candidemia. A amostra clínica a ser coletada vai depender do local que está sendo acometido, podendo ser coletados swabs de exsudato, sangue, biópsias, urina, líquido cerebrospinal e material retirado de cateteres. O espécime clínico corado pelo Gram ou outras colorações histológicas evidenciam pseudo-hifas e células leveduriformes com brotamentos. Autor: David A Litman / Fonte: Shutterstock As leveduras de Candida podem filamentar quando estão parasitando. As colônias têm crescimento rápido, podem ser incubadas em temperatura ambiente ou a 37°C e têm aparência cremosa, de cor branca ou marfim. Autor: MyFavoriteTime / Fonte: Shutterstock As culturas de Candida crescem rápido e com aparência cremosa. Autor: Mohd Firdaus Othman / Fonte: Shutterstock O ágar cromogênico auxilia na identificação das espécies de Candida em que as principais produzem um padrão de cor distinto. É possível diferenciar as espécies de Candida utilizando um meio cromogênico em que as colônias assumirão diferentes colorações, de acordo com a espécie. O teste do tubo germinativo serve para diferenciar a C. albicans das Candida não albicans, pois somente essa espécie produz essa estrutura. A principal preocupação a respeito das micoses causadas por Candida é o aumento nos relatos de leveduras resistentes aos tratamentos disponíveis. Assim como em outras micoses, em que as manifestações clínicas são variadas, na candidíase, o protocolo terapêutico varia de acordo com a localização das lesões e pode ser baseado em monoterapia com fluconazol ou em associações com outros antifúngicos, como anfotericina B, flucitosina, clotrimazol, entre outros. CRIPTOCOCOSE A criptococose é a micose causada pelas leveduras Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gatii, e a principal característica que diferencia essas leveduras das demais é a presença de uma grande cápsula polissacarídica. O C. neoformans é cosmopolita e pode ser encontrado na natureza, sendo facilmente isolado de fezes secas de pombos, do solo ou em troncos de árvores. Já o C. gatti é mais encontrado em áreas tropicais associadas a árvores. Autor: Dario Lo Presti / Fonte: Shutterstock O Cryptococcus neoformans pode ser encontrado em fezes seca de pombos. A transmissão da criptococose ocorre por inalação das células fúngicas que se dispersam no ar com poeira e pó das fezes dos pombos. Apesar de o pulmão ser o primeiro órgão a entrar em contato com essas leveduras, o sistema nervoso central é o mais afetado, pois esses fungos têm tropismo pela rede neural, migrando para esse sistema. Apesar de a criptococose também acometer indivíduos imunocompetentes, essa micose é mais letal para portadores de HIV/AIDS e outras doenças hematogênicas ou imunossupressoras. Após a inalação das leveduras, ocorre uma infecção primária dos pulmões, que pode ser assintomática ou com sintomas leves, como os de resfriados comuns com resolução espontânea. Autor: Life science / Fonte: Shutterstock O Crytpcoccus tem tropismo pelo sistema nervoso central. O Cryptococcus multiplica-se nos pulmões e, depois, pode disseminar-se para outras partes do corpo, preferencialmente o sistema nervoso central, provocando meningoencefalite criptocócica. Além do sistema nervoso central, pele, olhos, ossos e próstata podem ser acometidos, mas apresentam reação inflamatória mínima ou granulomatosa. Autor: Kateryna Kon / Fonte: Shutterstock A manifestação clínica mais grave associada ao Cryptococcus é a meningoencefalite. Na meningite crônica causada pelo Cryptococcus, as principais queixas do paciente são dor de cabeça, desorientação e rigidez da nuca. Em alguns casos, também podem aparecer lesões cutâneas, pulmonares ou em outros órgãos. O prognóstico é muito variado, porém, se o paciente não for tratado adequadamente, pode ser fatal, mas não é contagiosa. Autor: peterschreiber.media / Fonte: Shutterstock A dor de cabeça é um sintoma frequente dos pacientes com meningite criptocócica. O diagnóstico pode ser feito a partir de exsudatos, escarro, sangue, urina ou líquido cerebroespinhal. O exame direto pode ser feito utilizando-se tinta nanquim para maior destaque da cápsula que caracteriza esse gênero fúngico. Autor: Ge Med / Fonte: Shutterstock O exame direto corado com tinta nanquim evidencia um halo ao redor da levedura. O crescimento das colônias em meio de cultura acontece em poucos dias (três a sete dias) e pode ser incubado à temperatura ambiente ou a 37°C. Também é possível realizar a investigação de antígenos fúngicos em líquor pelo teste de aglutinação em látex. Autor: MyFavoriteTime / Fonte: Shutterstock As colônias do Cryptococcus têm aparência mucoide por causa da cápsula rica em polissacarídeos.A meningite criptocócica é a forma mais grave dessa micose, e o êxito no tratamento depende primordialmente de diagnóstico precoce e do estado geral do paciente. A anfotericina B pode ser usada sozinha ou em associação a 5- fluorcitosina, ou, em outros casos, fluconazol também tem sido usado. TINTA NANQUIM O exame direto corado com tinta nanquim evidencia um halo ao redor da levedura. COLÔNIAS As colônias do Cryptococcus têm aparência mucoide por causa da cápsula rica em polissacarídeos ASPERGILOSE A aspergilose é uma micose oportunista que pode causar amplo espectro de doenças e pode ser causada por inúmeras espécies de Aspergillus, dependendo da localização que infectam, podendo ser olhos, pele, ouvidos ou outros órgãos. Esses fungos são saprófitas na natureza e podem estar em nossas casas, sendo encontrados no mundo, por isso há relatos dessa doença globalmente. O patógeno humano mais comum é o A. fumigatus, mas outras espécies também já foram descritas causando doenças em humanos, como A. nidulans, A. niger, A. terreus e A. flavus. A transmissão ocorre, principalmente, por inalação dos conídios, que são abundantes, pequenos e facilmente aerossolizados. Autor: TachiNui / Fonte: Shutterstock O Aspergillus fumigatus é o patógeno humano mais comum causador da aspergilose. Autor: Designua / Fonte: Shutterstock Os conídios produzidos por fungos do gênero Aspergillus podem ser inalados, causando aspergilose. Em pacientes imunocomprometidos (leucêmicos, transplantados, com uso crônico de corticosteroides etc.), o conídio pode germinar, criando hifas que podem invadir o tecido pulmonar ou outros adjacentes. Quando o Aspergillus coloniza a cavidade pulmonar, pode causar uma doença chamada aspergiloma ou bola fúngica. Esse quadro pode ser restrito ou evoluir para aspergilose invasiva, que geralmente acomete pacientes que estão internados e com importante comprometimento imunológico. Autor: Kateryna Kon / Fonte: Shutterstock O aspergiloma é caracterizado pelo crescimento do Aspergillus no pulmão. Na aspergilose, além do dano diretamente associado ao crescimento fúngico no organismo, a alergia é um importante mecanismo patológico. Pessoas com predisposição a alergias, quando inalam os conídios, comumente desenvolvem reações alérgicas severas aos antígenos do Aspergillus, chamadas de “aspergilose broncopulmonar alérgica”. Devido à origem do fungo, o diagnóstico da aspergilose invasiva é um desafio para a equipe médica e laboratorial. O exame direto do escarro, muitas vezes, pode ser negativo, e é difícil o isolamento do Aspergillus a partir do sangue. As biópsias são as que apresentam o melhor resultado, mas sua execução pode ser dificultada pela debilidade do paciente. Por isso, associar histórico clínico, sintomas, microscopia, histopatologia e radiografia são essenciais para o diagnóstico da aspergilose. Autor: Wikimedia Commons A cabeça aspergilar verificada no histopatológico auxilia no diagnóstico da aspergilose. A análise da amostra clínica pode evidenciar hifas hialinas, septadas e, em alguns raros casos, é possível encontrar a presença da cabeça aspergilar. Autor: Bacteriagram / Fonte: Shutterstock A micromorfologia da cultura evidencia os corpos de frutificação característicos do gênero Aspergillus. Quando essa estrutura característica não é encontrada, é necessária a realização de cultura para confirmação do real agente causador da doença. Outras técnicas de investigação de antígenos do Aspergillus ou investigação molecular por PCR podem auxiliar no diagnóstico. O tratamento da aspergilose depende de quais doenças esses fungos estão causando. No caso da aspergilose invasiva, o tratamento de escolha é com anfotericina B, porém os resultados podem ser discretos. Na aspergilose ocular, a pimaricina é o medicamento de escolha, e, nas otomicoses, o fármaco preconizado é o tolciclato. Os casos de aspergiloma exigem procedimento de remoção cirúrgica. Os pacientes que desenvolvem a aspergilose broncopulmonar alérgica podem ser tratados com antifúngicos e esteroides. Devido à natureza desse fungo, não existe uma medida específica e eficaz de prevenção. CULTURA A micromorfologia da cultura evidencia os corpos de frutificação característicos do gênero Aspergillus. PRESENÇA DA CABEÇA ASPERGILAR A cabeça aspergilar verificada no histopatológico auxilia no diagnóstico da aspergilose. MUCORMICOSE A mucormicose, que também pode ser chamada de zigomicose, é uma doença causada por vários fungos filamentosos do filo Glomerulomytcota, que são saprófitas de solo onipresentes e apresentam boa termotolerância. Os principais gêneros descritos por causarem essa micose são Rhizopus, Rhizomucor, Cunninghamella, Absidia e Mucor. Quando os esporos desses fungos são inalados, eles podem germinar nas narinas e invadir os vasos sanguíneos com as hifas, causando a principal forma clínica, a rinocerebral. A maioria dos casos de mucormicose é rinocerebral, que é a manifestação clínica mais grave, com altas taxas de mortalidade. Nesses fungos, por terem características angioinvasivas, suas hifas podem causar obstrução dos vasos sanguíneos, consequentemente evoluindo para trombose, infarto e necrose tecidual, também podendo atingir os nervos faciais. Fonte: Wikimedia Commons A manifestação clínica mais frequente é a rinocerebral. Essa evolução pode ser rápida, com comprometimento dos seios nasais, ossos cranianos, olhos e cérebro. Se esses esporos chegarem aos pulmões, pode ocorrer mucormicose torácica, com invasão dos vasos pulmonares e do parênquima, com necrose isquêmica e destruição maciça dos tecidos. O grupo de risco para essa micose são pacientes com risco de acidose (particularmente associada ao diabetes), linfoma, tratamentos prolongados com corticosteroides, leucemia, queimaduras graves, imunodeficiências e muitos outros quadros que debilitam o estado geral de saúde do paciente. RINOCEREBRAL A manifestação clínica mais frequente é a rinocerebral. Autor: David A Litman / Fonte: Shutterstock Os exames a partir da amostra clínica podem evidenciar hifas características desses fungos, conhecidos também como asseptadas e ramificações irregulares. O diagnóstico pode ser feito por exame direto de amostras clínicas, como escarro ou secreção nasal, que, quando clarificadas pelo KOH (10 a 20%), evidenciam a presença de hifas hialinas, largas, asseptadas e ramificações irregulares. O histopatológico de biópsia corado por metenamina prata (Gomori) ou por ácido periódico de Schiff também mostram essas estruturas fúngicas e alterações teciduais. A cultura micológica é a forma mais adequada para a definição da espécie que está causando a mucormicose, pois permite a observação das características macro (colônias) e micromorfológicas (corpos de frutificação). O tratamento preconizado consiste em uma associação da anfotericina B com desbridamento cirúrgico agressivo para remoção do tecido necrosado. É extremamente importante a administração precoce do antifúngico, pois, além da alta letalidade, os pacientes também podem ficar com sequelas, como perda de um olho ou paralisia parcial da face. Também é indicada a suspensão de medicações ou tratamentos que debilitem o sistema imunológico. Embora existam tratamento e medidas cirúrgicas, a taxa de mortalidade continua elevada. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS MICOSES SISTÊMICAS, TAMBÉM CONHECIDAS POR MICOSES ENDÊMICAS, APRESENTAM CARACTERÍSTICAS SEMELHANTES QUE POSSIBILITAM SEU AGRUPAMENTO. SOBRE ESSAS CARACTERÍSTICAS É POSSÍVEL AFIRMAR QUE: A) Os fungos que causam essas micoses são filamentosos, hialinos e transmitidos por contato com solo contaminado. B) As micoses sistêmicas ocorrem em todo o mundo e são agrupadas pelas manifestações clínicas que causam. C) Todas as micoses sistêmicas podem ser tratadas com anfotericina B e o diagnóstico é sempre realizado por testes sorológicos. D) Essas micoses têm distribuição geográfica limitada e a principal formade transmissão ocorre por inalação de conídios. E) A transmissão das micoses sistêmicas sempre envolve fezes de animais, principalmente de aves e morcegos. 2. NAS MICOSES OPORTUNISTAS, OS FUNGOS QUE JÁ FAZEM PARTE DA MICROBIOTA OU QUE EM SITUAÇÕES NORMAIS NÃO CAUSARIAM DOENÇAS, APROVEITAM-SE DA DEBILIDADE DO PACIENTE PARA MULTIPLICAR-SE E INVADIR TECIDOS. ALGUNS FATORES ESTÃO ENVOLVIDOS NA DEBILIDADE DO PACIENTE E PODEM SER CLASSIFICADOS EM DOIS TIPOS. QUAIS SÃO ESSES FATORES E SEUS RESPECTIVOS EXEMPLOS? A) Fatores extrínsecos como prematuridade; fatores intrínsecos como imunidade celular. B) Fatores intrínsecos como neoplasias; fatores extrínsecos como uso de corticosteroides. C) Fatores ambientais como habitat do fungo; fatores do paciente como diabetes. D) Fatores do paciente como a idade; fatores ambientais como presença de fezes de aves e morcegos. E) Fatores intrínsecos como virulência do fungo; fatores extrínsecos como histórico do paciente. GABARITO 1. As micoses sistêmicas, também conhecidas por micoses endêmicas, apresentam características semelhantes que possibilitam seu agrupamento. Sobre essas características é possível afirmar que: A alternativa "D " está correta. Ao contrário do visto em outras micoses, as sistêmicas são limitadas ao nicho ambiental onde esses fungos são encontrados e a principal forma de transmissão ocorre após alguma movimentação que dispersa os conídios e, então, eles são inalados. 2. Nas micoses oportunistas, os fungos que já fazem parte da microbiota ou que em situações normais não causariam doenças, aproveitam-se da debilidade do paciente para multiplicar-se e invadir tecidos. Alguns fatores estão envolvidos na debilidade do paciente e podem ser classificados em dois tipos. Quais são esses fatores e seus respectivos exemplos? A alternativa "B " está correta. Os fatores intrínsecos são aqueles relacionados ao próprio organismo do paciente, já os extrínsecos são aqueles que ocorrem por interferência externa como uso de medicações ou ambiente com contaminação excessiva. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS
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