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Taiane Viana Linfonodomegalia Objetivos Realizar a avaliação diagnóstica inicial da linfadenopatia no cenário da APS Saber diferenciar casos benignos de malignos Considerar a epidemiologia relacionada às linfadenopatia e identificar fatores associados a doenças graves Selecionar e aplicar de forma racional as ferramentas para avaliação etiológica de linfadenopatia Realizar a avaliação diagnóstica e o manejo inicial do paciente com linfadenopatia sugerido pela literatura (Medicina Baseada em Evidências - MBE) O que é? A linfadenopatia é uma alteração histopatológica causada pela invasão ou proliferação de células inflamatórias ou neoplásicas em um nódulo linfático O quadro abrange múltiplas alterações patológicas possíveis, e, em consequência, pode conduzir a uma grande gama de diagnósticos Desafio para o MFC Diferenciar de forma eficiente os pacientes com doença grave daqueles com doença leve e autolimitada (maligna X benigna) Na APS, a maioria dos casos tem etiologia benigna, sendo necessária uma abordagem racional a fim de não só assegurar o diagnóstico de doenças graves, mas também de resguardar o paciente de iatrogenias por procedimentos invasivos desnecessários → identificar os casos no início e conduzir o mais rápido possível os malignos Epidemiologia Pacientes menores de 40 anos com linfadenopatia não explicada apresentam um risco de malignidade de aproximadamente 0,4%, enquanto esse mesmo risco, para os maiores de 40 anos, é próximo de 4% → idade do paciente é um fator de risco para avaliar A literatura apresenta dados de malignidade de 40 a 60% em maiores de 30 anos (viés de seleção, o estudo exclui 97% da população total, que não necessitou de biopsia) Na população pediátrica, a ocorrência de linfadenopatia é muito comum e, na maioria dos casos, este relacionada com etiologias benignas Um estudo mostrou que 40% das crianças saudáveis tem linfadenopatia palpável (principalmente menores de 7 anos) Etiologia Na avaliação inicial com anamnese e exame físico, existe grande probabilidade de se encontrar uma causa etiológica Um erro comum na prática clínica é buscar descartar etiologias malignas e não considerar na hipótese diagnosticar causas atípicas de linfadenopatia, como doenças autoimunes, granulomatosas ou induzidas por fármacos 1/3 da cadeia ganglionar é palpável: • Inguinais • Cervicais • Axilares • Epitroclear (cotovelo) – as vezes 2/3 são mais profundos e não é possível palpar: • Abdominais • Mediastino • Quando palpa tem mais chance de malignidade Causas mais prováveis ➢ Linfadenopatia reacional (IVAS, IST/HIV, infecções de pele) → mais comum ➢ Linfadenite strepto ou esfilococcica → invasão ➢ Tuberculose ➢ Mononucleose → comum em pacientes jovens Causas graves que devem ser consideradas ➢ Doença de Kawasaki ➢ Infecção por HIV e outras oportunistas ➢ Neoplasia metastática ➢ Linfomas ➢ Leucemia Causas frequentemente esquecidas ➢ Doença de Kawasaki ➢ Micoses sistêmicas ➢ Doença da arranhadura do gato ➢ Doenças reumáticas ➢ Sarcoidose/medicamentos Lembrar quando for fazer diagnóstico diferencial Principais etiologias Linfonodomegalia localizada: Auricular: em crianças procurar pediculose (piolho fez coçar) → palpa linfonodo região occipital Linfonodomegalia supraclavicular: sinal sugestivo de malignidade! Axilar: • Satélite: tumor de mama • Jovem desodorante roll on: obstrui saída da glândula e faz foliculite → antibiótico (pensa em estrepto e estafilo) Inguinal → criança: infecção de pele ou urinária Linfonodomegalia generalizada (corpo todo): Avaliação clínica Rastrear para sinais de malignidade ou sinais de infecção Exposição a fatores de risco (comida contaminada, lesões por animais, comportamento de risco) Sintomas constitucionais associados. Febre se destaca Viagens recentes, medicações diferentes Idade: maiores de 40 anos tem maior chance de malignidade Anamnese • Idade • Duração do quadro • Localização do linfonodo • Sintomas associados • Infecções previas • Histórico de doença oncológica • Exposições ambientais e laborais • Situação vacinal • Viagens realizadas no período • Contato om animais • Picadas de inseto • Exposição ao tabaco → preguntar se fuma! • Uso de álcool ou drogas ilícitas • Exposição à radiação ionizante Ao se avaliar linfadenopatias cervicais e inguinais, deve-se indagar sobre relações sexuais, incluindo sexo oral e exposição a fluidos genitais Exposição crônica ao sol é fator de risco para carcinomas epidermoides de cabeça e pescoço Palpar cadeias → os 2 lados A presença de sintomas associados, auxilia no diagnóstico de doenças graves Artralgia, fraqueza muscular e rash cutâneo podem sugerir doença autoimune Febre, calafrios e mal-estar podem indicar etiologia infecciosa Perda de peso involuntária (mais de 10% nos últimos 3 meses), sudorese noturna e febre alertam para linfomas → tuberculose! Linfadenopatia com duração inferior a 2 semanas ou superior a 1 ano apresentam baixa probabilidade de ser neoplasia → provavelmente é benigno (se maligno fosse superior a 1 ano já teria metástase) Em crianças é fundamental questionar sobre histórico de vacinas Alguns fármacos podem induzir a linfadenopatia → conferir todos os fármacos que o paciente faz uso Exame físico Palpar tudo, até as que não são queixas do paciente Linfonodos são palpáveis desde o período neonatal, crianças saudáveis podem apresentar linfonodos cervicais, axilares ou inguinais palpáveis Em presença de linfadenopatia, um exame sistemático das cadeias linfáticas deve ser realizado a fim de descartar linfadenopatia generalizada, este exame deve ser completo, principalmente nos casos de pacientes que não apresentam sintomas gerais Palpar as palpáveis: • Cervicais • Supraclaviculares • Axilares • Epitrocleares • Inguinais Características a serem observadas Tamanho: normal até 1 cm na região cervical, 1,5cm região inguinal e 0,5cm epitroclear e supraclavicular → até esse tamanho é provável benigno Consistência: linfonodos endurecidos e aderidos são sugestivos de processo neoplásico, ao passo que linfonodos fibroelásticos e dolorosos são mais comuns devido a processos infecciosos e inflamatórios → duro e aderido (mexe e não sai do lugar): provável maligno Dor: geralmente causa inflamatória, mas pode ter origem de necrose num processo neoplásico (Ex: tuberculose) Agrupamento: Considera-se linfonodomegalia generalizada quando esta acomete duas ou mais cadeias linfonodais não contíguas simultaneamente Como descrever um linfonodo palpável LOCALIZAÇÃO: Cervical anterior, supraclavicular... definir lateralidade; TEMPO DE EVOLUÇÃO: aguda (dias), subagudas (semanas) e crônicas (meses); TAMANHO: Estimar diâmetro em cm; CONSISTENCIA: Mole, firme, duro(pétreo), elástico; MOBILIDADE: Imóveis(aderidos) → maligno; DOR: indicam crescimentos rápidos com distensão capsular e tende a ser infecciosas e inflamatórias; PRESENÇA DE FÍTULA CUTÂNEA: saída de material caseoso ou purulento (adenite tuberculosa e paracoccidiomicose) OBS: Isso é colocado no “Objetivo” do SOAP Dados de história e exame físico que podem sugerir alguns diagnósticos etiológicos Linfonodomegalia cervical aguda acompanhada de sintomas gerais variados, como febre, mal-estar e náuseas, ou locais, como coriza e secreção nas vias aéreas superiores (maior parte dos casos) → síndrome gripal Tabagismo, etilismo e idade avançada com linfonodomegalia cervical → sugestivo de neoplasia de cabeça e pescoço Linfonodomegalia supraclavicular direita ou esquerda → altamente sugestivo de malignidade: tumor gastrintestinal, pulmonar, mediastinal, retroperitoneal,linfoma, infecções bacterianas ou fúngicas de caixa torácica ou retroperitônio ➢ OBS: normalmente linfonodos epitrocleares e supraclaviculares não são palpáveis em nenhuma idade, porém pela manobra de Valsava pode-se palpar linfonodo supraclavicular Linfonodomegalia axilar com nódulo mamário → neoplasia de mama Linfonodomegalia localizada ou generalizada associada a sintomas constitucionais e hepatoesplenomegalia → linfomas Linfonodomegalia generalizada (pode ser localizada), associada a sangramentos espontâneos, hematomas, infecções e anemia → leucemia Linfonodomegalia cervical aguda com febre, cefaleia, mialgia. Pode haver rash cutâneo. Ocorre em áreas endêmicas, principalmente no verão → dengue Linfondomegalia generalizada (predomina em região cervical) e contato com gatos ou ingestão de carne mal- cozida → toxoplasmose Linfonodomegalia generalizada aguda com febre, faringite, (síndromes mono- like) → Infecções virais sistêmicas (mononucleose, HIV, citomegalovírus, rubéola, hepatite B), toxoplasmose, sífilis secundária) ➢ Mononucleose (“doença do beijo”): dor de garganta aguda; linfonomegalia cervical; comum em paciente jovem; pode ter rash cutâneo Linfonodomegalia generalizada aguda com febre associada a comportamento sexual de risco, transfusões ou uso de drogas injetáveis → HIV agudo, hepatite B, sífilis secundária Linfonodomegalia generalizada associada a lesões eritematosas maculopapulares (sífilis primária não tem lesão de pele) e contato sexual de risco → sífilis secundária Linfonodomegalia inguinal unilateral com úlcera indolor na genitália associada a contato sexual de risco → sífilis primária Linfonodomegalia inguinal (unilateral ou bilateral) associada a erosões, fissuras ou a vesículas agrupadas sobre base eritematosa. Pode ser redicivante → herpes genital Linfonodos coalescidos e dolorosos em região inguinal (geralmente unilateral), febre e mal-estar associado a contato sexual de risco → linfogranuloma venéreo Linfonodomegalia inguinal unilateral com úlcera dolorosa na genitália associada a contato sexual de risco → cancro mole Linfonodomegalia supurativa em região cervical → tuberculose, paracoccidioidomicose ou infecção bacteriana Linfonodomegalia hilar, tosse produtiva, infiltrado pulmonar podendo cavitaria → tuberculose ou paracoccidioidomicose Linfonodomegalia hilar, tosse, dispneia, infiltrado pulmonar difuso, eritema nodoso → sarcoidose, tuberculose miliar ou infecções fúngicas Linfonodomegalia hilar, tosse, dor torácica, infiltrado pulmonar difuso e contato com fezes de morcego ou aves → histoplasmose Linfonodomegalia generalizada associada a artrite, alterações cutâneas típicas, serosites, manifestações renais, hematológicas ou neurológicas → lúpus eritematoso sistêmico Linfonodomegalia generalizada associada a artrite → artrite reumatoide Linfonodomegalia generalizada, febre, rash cutâneo e artrite; principalmente se for criança → doença de Still Linfonodomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia, febre intermitente, artralgias e cefaleia associada a contato ou ingestão de carne contaminada e laticínios não pasteurizados → brucelose Linfonodomegalia generalizada (pouco frequente), dor abdominal, diarreia, hepatoesplenomegalia ou constipação, febre, rash, dissociação pulso- temperatura. Viagens com ingestão de alimentos ou água contaminados → febre tifoide Inflamatório X Neoplásico Manejo inicial O MFC deve questionar sobre os medos específicos do paciente a fim de esclarecer dúvidas sobre diagnósticos específicos, diminuindo assim, os transtornos causados pela preocupação e pelos temores Medo de diagnóstico pode fazer com que demore procurar consulta → principalmente adulto e idoso (criança mãe vê e leva) Tanto em crianças como adultos se há sinais compatíveis com infecção viral, apenas acompanhe Um retorno em 3 dias a 1 semana pode ajudar a delimitar melhor o processo sem prejuízo para a conduta Exames complementares ➢ Hemograma completo: ▪ Linfocitose sem atipia pode indicar infecções virais; ▪ Leucocitose com neutrofilia pode sugerir infecção bacteriana; ▪ Aumento no número de blastos ou nos linfócitos pode sugerir, respectivamente, leucemia aguda ou leucemia linfoide crônica; ▪ Linfócitos atípicos, em uma pessoa jovem com linfonodomegalia generalizada, podem sugerir mononucleose; ▪ Eosinofilia pode sugerir reação a fármacos. ➢ SOROLOGIAS: anti-HIV, HBsAg, anti-HVC, VDRL, monoteste, PPD ➢ Ultrassonografia: pode confirmar que um nódulo palpável é realmente um linfonodo, além de descrever suas características – por exemplo, necrose central, que pode sugerir tuberculose. Pode, também, ser útil na avaliação de hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia abdominal → quanto mais ovalado mais característico de benignidade (reacional); quanto mais circular mais chance de maligno ➢ RX de tórax: ajuda na investigação de linfonodomegalia hilar em casos de linfonodomegalia generalizada Biópsia de linfonodo Quando tem suspeita clínica e fatores de risco A suspeita clínica e a preocupação do paciente são fatores a ser considerados A biópsia de linfonodo é o método diagnóstico de escolha para linfonodomegalia localizada ou generalizada inexplicadas, excetuando-se a linfonodomegalia cervical localizada com suspeita de tumor de cabeça e pescoço, em que o primeiro exame é a punção-biópsia por agulha fina, pois a exérese do gânglio, nesse caso, pode mudar o estadiamento do tumor e piorar o prognóstico 1. O maior dos linfonodos deve ser escolhido e retirado inteiro para análise 2. Se nenhum linfonodo predominar (ou se tiver 2 do mesmo tamanho), dar preferência para a escolha do linfonodo supraclavicular e cervical, pela maior incidência de complicações infecciosas e traumáticas nas biópsias de linfonodomegalia axilar e inguinal → quando não tumor de cabeça e pescoço 3. Um método diagnóstico que é útil em centros com experiência no procedimento é a biópsia com agulha grossa (core biopsy), guiada por exame de imagem, tomografia ou ultrassonografia Tratamento Não utiliza mais aciclovir tópico na Herpes (aciclovir: SUS) Erros mais frequentemente cometidos Solicitar exames sem estabelecer uma estratégia de investigação ou cuja estratégia não tem relação com os achados de anamnese e exame físico Não usar o tempo permitido e o princípio da longitudinalidade, oferecendo retorno breve nos casos indiferenciados Não estabelecer, no início da investigação, qual o risco de neoplasia da pessoa → avaliar fatores de risco para malignidade Não diferenciar se se trata de linfonodomegalia generalizada ou localizada → palpar todas as cadeias palpáveis Não verificar se há infecção ou tumor drenando para a cadeia linfonodal acometida no caso de linfonodomegalia localizada Realizar múltiplos exames subsidiários tentando investigar a origem de uma linfonodomegalia inexplicada ao invés de proceder à biópsia do linfonodo Não entrar em contato com o patologista informando a suspeita diagnóstica para que seja informado que tipo de material deverá ser encaminhado se for optado pela biópsia → passar as informações para o patologista que for fazer a biópsia Acerte! Anamnese bem realizada Exame físico completo e focado → procure causas visíveis Diferencie linfonodomegalia localizada de generalizada Use sua vantagem de continuidade, acompanhe o paciente