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LLLNa inata: A diminuição progressiva da reserva funcional do organismo, que ocorre naturalmente em todos os sistemas na medida em que eles envelhecem (senescência), provocará limitações também na resposta de defesa, que se agravarão em condições de estresse imunológico, situação na qual, muitas vezes, as reservas já foram esgotadas.¹ O fenômeno progressivo e fisiológico do declínio da reserva funcional e imune é chamado imunossenescência, isso se traduz em um conjunto de modificações tanto na imunidade inata quanto adquirida.¹ Os estudos recentes mostram três principais alterações em relação a esse sistema: Os neutrófilos encontram-se com duas funções diminuídas: a capacidade fagocitária e a quimiotática, isso dá mais tempo para a proliferação bacteriana e o dano tecidual. As células dendríticas, que relacionam a inata com a adquirida, vão ter a sua principal função, ser apresentadora de antígeno, reduzida. Levando a uma menor estimulação dos linfócitos T. Os monócitos/macrófagos apesar de aumentarem em quantidade, sua diferenciação estará reduzida. As células NK aumenta, mas são células killers de menor competência.¹ Imunossenescência e Iartrogenia IMUSSENESCÊNCIA E IMUNIZAÇÃO DO IDOSO, FARMOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA DO IDOSO, IARTROGENIA E POLIFARMÁRCIA. IMUNOSSENESCÊNCIA Lorena Lima, M7 NO IDOSO LLL Na adaptativa: Os linfócitos T estarão com menor capacidade de reagir a novos antígeno, isso porque a proporção de células naives (virgens) será bem menor que os linfócitos T ativos/efetores. Também com a involução do timo, o seu arsenal de células estará reduzidos, principalmente os linfócitos reguladores que permitiam um equilíbrio entre as efetoras-assim, processos autoimunes tem maiores chances de acontecer. Além disso, envelhecimento é marcado por um aumento progressivo de células disfuncionais, aumentam os linfócitos T com fenótipo senescente. Isso significa que esses linfócitos virgens tem defeitos funcionais, redução dos telômeros, da interleucina 2, da sua habilidade de resposta antigênica e prejuízo na expansão e diferenciação. Sendo essa perda na capacidade de replicar-se a principal!¹ Já os linfócitos B serão afetados principalmente na sua qualidade, pois a medula óssea com a idade perder na capacidade de expansão dos linfócitos B, que também serão menos estimulados. Isso resulta em uma maior população de células de memória diante dos linfócitos B virgens, reduzindo a capacidade de reconhecer novos antígenos. Assim, no idoso os títulos de anticorpos para partículas estranhas diminui, bem como a resposta secundária, contudo há aumento LLL dos autoanticorpos, que parece se originar de uma diminuição do potencial de autorregulação. Os anticorpos produzidos pelos idosos é ainda de baixa afinidade, isso significa que eles tem menor especificidade e afinidade na eliminação dos antígenos, o que leva a uma menor eficácia da vacina nessa população.¹ Quanto as interleucinas, que são importantes ativadores e sinalizadores da imunidade, elas terão modificações na velhice. A IL-2, importante para o crescimento do linfócito T, tem sua produção diminuida, além disso, após a ativação algumas células parecem poder liberar a IL-2 e a interferon-γ, em vez disso, há a liberação citocinas inflamatórias (IL-6 e TNF-α).¹ Assim, todos essas deficiência irão se agravar frente a necessidade de uma resposta defensiva imediata, ao passo que também há um produção prolongada de mediadores inflamatório. Dessa forma, se instala uma situação de cronicidade inflamatória, seja por antígenos que não foram devidamente inativados, ou por restos celulares não completamente eliminados, levando a uma estimulação continuada e contribuindo para o estabelecimento de doenças crônico- degenerativas.¹ Estas alterações que estimulam a produção de citocinas pró-inflamatórias, proteases, quimiocinas, entre outros, são conhecidas como fenótipo secretor relacionado à senescência, que pode ser benéfico ou deletério, dependendo do momento no qual ele é desencadeado e por quanto tempo é mantido.¹ O estado inflamatório prolongado, de baixa intensidade (inflamm-aging), é o resultado da ativação de macrófagos e linfócitos T dirigidos, em que há um desequilíbrio entre a rede inflamatória e a anti-inflamatória. Lorena Lima, M7 Concentrações elevadas de interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF- α) são relacionados como preditores de fragilidade, morbidade e mortalidade. A maior sobrevivência associada a uma boa qualidade de saúde dependerá do nível particular de citocinas anti-inflamatórias e de um “genótipo protetor”. Dessa forma os centenários parecem estar equipados com variantes de genes que lhes permitem otimizar o equilíbrio entre os agentes pró e anti-inflamatórios.¹ A longevidade e o envelhecimento saudável têm sido relacionados também com altos níveis de citotoxicidade das células NK que desempenham importante papel contra células infectadas por vírus e tumores, enquanto baixos níveis funcionais têm sido associados ao aumento da morbidade e mortalidade por infecções, má resposta a vacinação contra a gripe e aterosclerose.¹ Há ainda dois aspectos que vêm sendo estudados: o encurtamento dos telômeros e o estresse oxidativo igualmente envolvidos na diminuição da eficiência imunológica relacionada à idade. Tal fenótipo, a chamada senescência celular replicativa, indica que a capacidade de proliferar chegou à exaustão com o encurtamento máximo dos telômeros (Effros, 2012). Essas modificações poderiam explicar o aumento da morbidade relacionado com o envelhecimento, incluindo não somente as doenças infecciosas, mas também doenças vasculares, demência e neoplasias.¹ Existe ainda um papel neuroendócrino relacionado ao envelhecimento e ao sistema imune. Pois o sistema imune é modulado por padrões hormonais, principalmente em relação ao estresse cotidiano, psicossocial e crônico, o eixo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e do eixo simpático-adrenal-medular (SAM) LLL serão os mais afetados. O estresse desencadeando a liberação do hipotálamos de ACTH, que nas suprarrenais fará a liberação de glicocorticoides, o principal, o cortisol- hormônio do estresse. Em níveis fisiológicos, o cortisol será um imunossupressor, diminuindo a resposta inflamatória e a resposta da imunidade adquirida.² No caso do estresse psicossocial crônico, parece que a liberação crônica de glicocorticóides e catecolaminas na circulação, em consequência à resposta ao estresse ativo, produz alterações citológicas que induzem estresse oxidativo. Por sua vez, o estresse oxidativo predispõe à ocorrência de uma resposta inflamatória sistêmica crônica e também ao encurtamento telomérico.³ Lorena Lima, M7 VACINAÇÃO DO IDOSO Vacina Dupla bacteriana do tipo adulto- dT As doenças infecciosas são responsáveis por elevadas taxas de morbidade, hospitalização e letalidade da população idosa. Para diminuir o risco de certas infeções graves e promover melhor qualidade de vida para essa população, os programas de imunização são ferramentas simples e de comprovado custo/benefício na prevenção e promoção de saúde do idoso.¹ Algumas doenças de incidência na infância (sarampo, caxumba, coqueluche e rubéola) e passíveis de prevenção com a vacinação também podem acometer os adultos. Porém, essas doenças apresentam menor taxa de incidência do que em crianças, assim, nenhuma dessas vacinas tem indicação formal na população geriátrica.¹ A vacina disponível na rede pública é uma combinação do toxoide tetânico com o diftérico, sendo, portanto, protetora contra o tétano e a difteria. Na rede particular, existe a dTpa (vacina acelular com Terceira dose cobertura adicional à coqueluche). A maior suscetibilidade da faixa etária geriátrica a essas infecções pode ser explicada pela diminuição da resposta imunológica própria do processo de envelhecimento. Além disso, o idoso costuma apresentar maior taxa de déficit psicomotor e de percepção do espaço, estando mais propenso a acidentes dos quais há possibilidade da contaminação tetânica.-Estratégia de vacinação: Pelo MS consiste me vacinar com três idosos com histórico vacinal desconhecido, senha os intervalos de 0-1-6 ou 12 meses. Já a SBIm recomenda que idosos nunca vacinados recebam a 1º dose de dTpa, seguida de duas doses de dT (2-4 ou 8 meses); LLL Influenza e aqueles com histórico vacinal completo, receberiam apenas o reforço da dTpa. Assim, todos os adultos que completarem um intervalo de 10 anos após a série primária da vacinação deverão receber uma dose de reforço da vacina dT (rede pública) ou dTpa (rede privada). -Efeitos adversos: Após administração da vacina dT, podem ocorrer reações locais como dor, eritema e enduração. Febre e outras manifestações sistêmicas são menos comuns.¹ -Contraindicações: A vacina dever ser adiada no caso de doença febril aguda. No caso de reação anafilática prévia às vacinas ou a algum de seus componentes, a vacina tem contraindicação absoluta.¹ -Intramuscular As vacinas contra influenza utilizadas em nosso meio são preparadas a partir do cultivo do vírus em fluidos alantoicos de embriões de galinha. O vírus é purificado, inativado e fragmentado, ou seja, a vacina não oferece risco de causar doença no paciente e apresenta boa imunogenicidade e tolerabilidade. Na composição das vacinas são incluídas duas cepas de vírus influenza A e B.¹ -Estratégia de vacinação: Campanha anual para idosos (60 anos). Dose única.¹ -Efeitos adversos: Reações sistêmicas como mialgia, febre baixa, mal-estar geral e cefaleia, ou locais como dor, sensibilidade no local da injeção, eritema e enduração regridem espontaneamente em no máximo 48 h. A reação anafilática (eritema, angioedema, asma alérgica e anafilaxia) raramente acontece e resulta provavelmente de hipersensibilidade a alguns componentes da vacina, geralmente a proteínas residuais do ovo. - Contraindações: A vacinação deve ser adiada na presença de doença febril aguda moderada ou grave.¹ Lorena Lima, M7 Vacina pneumocócica ara pacientes com trombocitopenia ou qualquer distúrbio de coagulação, com risco de sangramento pela via intramuscular, deve-se considerar a via subcutânea. vacina é contraindicada nos casos de reação anafilática prévia ou alergia grave relacionada com o ovo de galinha e seus derivados, assim como a qualquer componente da vacina.¹ -Intramuscular ou subcutânea O pneumococo é uma das principais causas de pneumonia adquirida na comunidade em idosos e resulta em elevada morbimortalidade, mas nem sempre é acompanhada de bacteriemia.¹ A infecção pelo pneumococo é mais comum nos extremos de vida. Além disso, doença cardiovascular, pulmonar, hepática, renal, diabetes e imunossupressão são comorbidades frequentes em pacientes acima de 60 anos e fatores de risco bem estabelecidos para doença invasiva. Assim, a vacinação da população idosa é de extrema importância.¹ Existem atualmente duas opções estabelecidas para a vacina pneumocócica: vacina polissacarídica e vacinas conjugadas. A vacina polissacarídica induz resposta T- independente, de curta duração, que não que induz memória imunológica e, portanto, não confere soroproteção abaixo de 2 anos de idade.¹ Em virtude dessas limitações, a vacina contra pneumococo polissacarídica não conjugada é utilizada apenas para determinados grupos de pacientes que apresentam suscetibilidade aumentada à infecção pneumocócica, como por exemplo, os idosos. A vacina disponível atualmente no Brasil contém polissacarídios da cápsula de 23 sorotipos do Streptococcus pneumoniae.¹ LLLHerpes Zoster -Esquema vacinal: nunca vacinados- iniciar com dose única de 13valente, seguida de 23valente 2 meses após e o reforço pós 5 anos a 1º com 23valente. com 1 dose de 23valente- após 12 meses, aplica uma dose de 13 valente, aplicar 2 dose da 23 valente 5 anos após a 23 valente e no mínimo 2 meses da 13. com 2 doses de 23valente- Se a segunda dose foi aplicada antes dos 65 anos, está indicada uma terceira dose depois dessa idade, com intervalo mínimo de 5 anos da última dose.¹ -Contraindicação: A única contraindicação formal é história de reação anafilática a dose anterior da vacina ou algum de seus componentes. No caso de síndrome febril aguda, a vacina pode ser adiada e, no caso de trombocitopenia grave, deve-se considerar a administração por via subcutânea.¹ -Efeitos adversos: Os eventos adversos mais comuns são os locais (dor, eritema), que regridem espontaneamente em curto intervalo de tempo. Febre ou reações mais graves são muito raras (anafilaxia, por exemplo).¹ O herpes-zóster (HZ), conhecido popularmente como “cobreiro”, é uma doença resultante da reativação da infecção latente causada pelo vírus varicela-zóster (VVZ), que se mantém não manifesta nas células dos gânglios da raiz dorsal dos nervos sensoriais após a infecção primária. Aproximadamente 3% dos pacientes acometidos por HZ são hospitalizados. A principalcomplicação do HZ é a neuralgia pós-herpética (NPH). Aproximadamente 10 a 18% dos pacientes com HZ são acometidos pela NPH que interfere negativamente nas atividades de vida diária, piorando a qualidade de vida.¹ Lorena Lima, M7 Hepatite B O herpes-zóster acomete geralmente adultos com mais de 50 anos, mais da metade das pessoas acometidas são idosas. Essa alta prevalência em idosos pode ser explicada pelo fato de que à medida que envelhecemos, ocorre o declínio fisiológico da imunidade celular, o que parece estar relacionado com o aumento da incidência e prevalência do HZ e da NPH.¹ No Brasil, não há grandes estudos sobre a prevalência e a incidência de HZ em idosos. Uma investigação epidemiológica realizada na cidade de São Paulo demonstrou prevalência de 4,8%. -Estratégia vacinal: Dose única -Contraindicações: Pessoas imunodeprimidas. Alergia grave (anafilaxia) a algum dos componentes da vacina. Pessoas com tuberculose ativa não tratada. Gestantes. -Efeitos adversos: Trata-se de uma vacina segura; os efeitos colaterais mais comuns foram eritema, dor e prurido no local da aplicação.¹ -Subcutânea *não tem no caléndario do MS A indicação de vacina contra hepatite B para idosos não é recomendação de rotina, porém as especificidades dessa faixa da população, como baixa imunidade, concomitância de doenças crônicas e internações hospitalares recidivantes, requerem que sua utilização.¹ Além disso, houve uma mudança no padrão de atividade sexual entre os idosos após o surgimento de medicações para o tratamento de disfunção erétil, o que deve deixar os médicos atentos na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis nessa faixa etária.¹ -Estratégia vacinal: iniciar ou completar, 0- 1-6 meses. -Intramuscular LLL Hepatite A Febre Amarela Tríplice viral Meningocócica ACWY Aos 50 anos, são poucos os indivíduos que não tiveram ainda contato com o vírus. Assim sendo, para os idosos, a vacinação é indicada apenas para aqueles suscetíveis, com sorologia negativa para a doença.¹ -Estratégia vacinal: duas doses, 0-6 meses -Intramuscular Essa vacina está disponível apenas na rede particular, onde também é encontrada na forma combinada com a vacina contra hepatite B. A vacina contra febre amarela deve ser realizada em todos os residentes em área de risco e habitantes de outras regiões maiores de 9 meses de idade que se dirijam às áreas de risco. Vacina com dose única e realização de dose de reforço a cada dez anos.¹ A vacina é composta por vírus vivo atenuado e já foram descritos efeitos adversos graves da vacina, sobretudo na população acima de 60 anos, fato esse não verificado no Brasil.¹ A vacina contra sarampo, caxumba e rubéola não é recomendada de forma rotineira para idosos, pode ser indicada em casos de surto ou caso o paciente tenha viagem programada para locais onde essas doenças são endêmicas.¹ É considerado protegido o indivíduo que tenha recebido duas doses da vacina após 1 ano de idade, com intervalo mínimo de 1 mês entre elas. Está disponível em redes privadas e na rede pública apenas em situações especiais.¹ São poucos os estudos na população idosa e não é uma vacina recomendada no calendário de rotina para idosos,devendo ser realizada apenas em situações de epidemia. Lorena Lima, M7 LLL Idosos são os principais consumidores de medicamentos em uma população. A terapêutica medicamentosa em idosos é altamente influenciada pelas alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas próprias do envelhecimento, que alteram a sensibilidade e o efeito de vários fármacos. Além disso, a elevada prevalência de multimorbidades nessa população aumenta a chance de eventos adversos, levando à necessidade por parte do geriatra do conhecimento de determinadas particularidades associadas ao uso de medicamentos.¹ FARMARCOLÓGIA DO IDOSO Lorena Lima, M7 Distribuição Metabolismo As significativas alterações de massa corporal (+40% lipídio e -15% H2O) que acontecem na velhice interferem diretamente na distribuição dos medicamentos. Fármacos hidrofílicos gentamicina, lítio e digoxina) terão prejuízo na distribuição, por desse desbalanço lipídico/água, tendendo ao aumento da concentração plasmático, e contando com a perda fisiológico do clearance total (capacidade de excreção total) esse fármaco sofrerá pouca efeito na sua meia vida, tendo tempo de chegar aonde precisa.¹ Em contrapartida, fármacos lipofílicos (benzodiazepínicos, morfina e amiodarona), a distribuição tende a aumentar, assim o tempo de meia vida dessa substância também aumenta, levando a um maior risco de efeitos colaterais mesmo após o encerramento da tomada do fármaco.¹ Além disso, o principal fator que determina o efeito medicamentoso é a concentração livre do fármaco. Medicamentos ácidos– diazepam, fenitoína, varfarina, ácido acetilsalicílico – ligam-se à albumina sérica, enquanto fármacos básicos– lidocaína, propranolol– agregam-se à alfa-1 glicoproteína ácida. Em idoso saudáveis não mudanças significativas na concentração dessas proteínas, mas quando há algum desajuste entre a ligação do fármaco e a sua carreadora isso muda a interação medicamentosas e os efeitos fisiológicos do medicamento. Exemplos é a fenitoína, que tem efeito colateral máximo em vigência de baixa [albumina]. A depuração hepática depende do fluxo sanguíneo e da capacidade intrínseca dele. FARMACOCINÉTICA Absorção Define-se farmacocinética como o conjunto de processos sofridos pelos fármacos no corpo humano, dentre elas a absorção, distribuição, metabolismo eexcreção: No idoso, as alterações fisiológicas do sistema digestório podem interferir com esse processo. A absorção oral de medicamentos sofre interferências quando ocorre aumento do pH gástrico, retardo no esvaziamento do estômago, redução na mobilidade e no fluxo sanguíneo do sistema digestório.¹ Essas alterações interferem mais em substâncias que dependem do transporte ativo para a absorção intestinal como a glicose e a vitB12, mas, felizmente, a maioria dos medicamentos irão passar por difusão.¹ Em contrapartida, a primeira passagem hepática – importante em processos de biodisponibilidade farmacológica – encontra-se geralmente reduzida em idosos. Deve-se isto à redução do parênquima e do fluxo sanguíneo hepático durante o envelhecer.¹ LLLExcreção Classificam-se os fármacos quanto ao seu grau de depuração hepática (DH) em três grupos: (1) alto (DH > 0,7) como propranolol, meperidina e lidocaína; (2) intermediário (DH entre 0,3 e 0,70) como ácido acetilsalicílico, codeína, morfina e triazolam; e (3) baixo (DH < 0,3) como carbamazepina, diazepam, fenitoína e varfarina.¹ Sabe-se quando a DH é baixa ocorrem poucas alterações na depuração por conta da redução fisiológica do fluxo sanguíneo hepático, contudo, para DH baixa essa função será prejudicada pelo fluxo baixo. Assim sendo, a progressiva redução do fluxo sanguíneo do fígado durante o envelhecimento afeta principalmente medicamentos com alto grau de DH.¹ No fígado está ocorrendo a biotransformação, conversão de medicamentos em metabólitos. Das suas duas fases, a I, que converte fármacos em metabólitos ativos ou inativos por meio da oxidação/redução está prejudicada, isso porque o volume e a atividade do complexo enzimático citocromo P-450 tá 30% reduzido na velhice.¹ A redução da taxa de filtração glomerular provocada pelo envelhecimento afeta a depuração de vários medicamentos como, por exemplo, anti-inflamatórios não hormonais, anticoagulantes orais (rivaroxabana e dabigatrana), diuréticos, digoxina, betabloqueadores hidrossolúveis (atenolol e nadolol), antibióticos hidrossolúveis (cefalosporinas e aminoglicosídios) e lítio. A importância clínica dessa redução relaciona-se ao risco potencial de toxicidade do fármaco. Medicamentos com doses terapêuticas estreitas como lítio, aminoglicosídios e digoxina tornam- FARMARCOLÓGIA DO IDOSO Lorena Lima, M7 FARMACODINÂMICA se altamente suscetíveis a efeitos colaterais graves.¹ Define-se farmacodinâmica como o(s) efeito(s) do fármaco no organismo, que, no paciente idoso, depende de alterações em mecanismos homeostáticos e de modificações em receptores e sítios de ação.¹ Alterações homeostáticas da senilidade, como redução do fluxo cerebral secundária à aterosclerose, interfere na sensibilidade a fármacos de ação central, levando o paciente a quadros de confusão mental e/ou disfunção cognitiva (benxodiazepínicos e antidepressivos). Anti-hipertensivos podem acarretar na hipotensão ortostática, por conta do menor reflexo de barorreceptores que ocorre na velhice. Igualmente, a associação das alterações da termorregulação em idosos com medicamentos como psicofármacos apresenta potencial de gerar quadros de hipotermia nessa faixa etária.¹ Já as modificações dos receptores de ação que supostamente ocorre na velhice, alterações no número e na afinidade, modulações celulares alteradas, levam a uma alteração na resposta padrão dos fármacos.¹ Interação medicamentosa Interações medicamentosas correspondem à capacidade de um medicamento modificar a ação de outro administrado sucessivamente ou simultaneamente. Existem interações benéficas, em que há aumento da eficácia.¹ Essas alterações podem ser farmacodinâmicas, ocorrendo no órgão- alvo com ação local de outro fármaco LLL ou farmacocinéticas, quando um medicamento afeta o metabolismo/excreção ou outro momento do processo de outro fármaco. ¹ A prevalência de interações medicamentosas na população idosa é considerável, qualquer que seja a situação estudada, podendo ocorrer em 54 a 80% de todos os idosos da comunidade. Prejuízo da funcionalidade, piora da qualidade de vida e até eventos adversos potencialmente fatais são outras complicações das interações medicamentosas.¹ O risco da ocorrência de eventos adversos é de 13% com o uso de dois medicamentos, aumentando para 58% com o uso de cinco medicamentos, e 82% quando são prescritos 7 ou mais medicamentos. Além de aumentar com o número de medicamentos prescritos, a prevalência de interações medicamentosas também se eleva linearmente com o aumento da idade.¹ Os medicamentos implicados com mais frequência em interações potenciais são justamente aqueles usados de rotina por idosos portadores de doenças crônicas, como os de ação no sistema cardiovascular e no sistema nervoso central. Tais medicamentos costumam estar implicados com interações medicamentosas graves, ou seja, aquelas que podem levar a eventos adversos sérios, inclusive risco de morte (IECAS e diuréticos).¹ Outro fator que influência essa interação medicamentosa é a aderência medicamentosa, que é entendida como a utilização correta (horário, dose e tempo de tratamento) em pelo menos 80%. Pois pacientes com uso inferior a 80% apresentam risco 4x maior de FARMARCOLÓGIA DO IDOSO Lorena Lima, M7 complicações, como eventos cardiovasculares agudos. Estimativas conservadoras sugerem que a má aderência está associada a 10% das admissões hospitalares de pacientes idosos e a 23% das institucionalizações. A aderência medicamentosa em idosos é assunto complexo e multifacetado, que sofre influência de ampla gama de fatores, como polifarmácia, declínio cognitivo e funcional, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, sintomas depressivos, faltade suporte social e dificuldades financeiras.¹ A aderência deve sempre ser considerada uma via de mão dupla, e, desse modo, tanto o médico quanto o paciente exercem papel fundamental. Cabe ao médico acolher, orientar, informar, explicar sobre possíveis eventos adversos, ensinar a montar tabelas com horários de administração e de doses, e encaminhar o paciente a programas públicos e privados de disponibilização de medicamentos, quando for o caso.¹ LLL Com o aumento da expectativa de vida da população, aumenta o contingente de portadores de doenças crônicas não transmissíveis, que demandam assistência contínua e na qual os medicamentos têm um papel importante. O uso de vários medicamentos pode causar problemas tais como o aumento do risco do uso de medicamentos inadequados (incluindo interações medicamentosas e duplicação de terapia), a não adesão ao tratamento e a ocorrência de efeitos adversos.¹ Polifarmácia pode ser definida como: “uso de 5 ou mais medicamentos”, “uso de pelo menos um medicamento potencialmente inapropriado” ou ainda “mais medicamentos usados do que clinicamente indicados”. A prevalência de polifarmácia varia nos diferentes países, compreendendo 27 a 59% em pacientes ambulatoriais e 46 a 84% em pacientes internados. IARTROGENIA E POLIFARMÁCIA Lorena Lima, M7 Cascata iatrogênica Consideram-se como afecções iatrogênicas aquelas decorrentes da intervenção do médico e/ou de seus auxiliares, seja ela certa ou errada, Cascade iatrogenesis Prescribing iatrogenesis justificada ou não, mas da qual resultam consequências prejudiciais para a saúde do paciente. Ou cascata iatrogênica que é “o desenvolvimento de complicações médicas múltiplas associadas com redução dos mecanismos para lidar com estressores externos”, tendo como exemplo um paciente com dor pós- operatória que é muito sedado, evoluindo para insuficiência respiratória, levando a necessidade de ventilação mecânica e que, subsequentemente, desenvolve uma pneumonia associada à ventilação mecânica. Ou iatrogenia prescritiva que “ocorre quando um evento adverso é interpretado incorretamente como nova condição médica que exige nova prescrição. No caso do Brasil, essa é a definição aplicada. Reação adversa A Organização Mundial da Saúde (OMS) define “reação adversa a medicamento” (RAM) como “qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se manifeste após a administração do medicamento, em doses normalmente utilizadas no homem para profilaxia, diagnóstico ou tratamento de uma enfermidade”.¹ As RAM em pessoas idosas são um grave problema de saúde pública, uma vez que os idosos são mais propensos a RAM por causa de mudanças fisiológicas próprias LLL IARTROGENIA E POLIFARMÁCIA Lorena Lima, M7 do envelhecimento que alteram a farmacocinética e a farmacodinâmica dos fármacos. Cabe lembrar que, no âmbito da Geriatria, muitas reações adversas a medicamentos podem apresentar-se como síndromes geriátricas ou por meio de outros sintomas, como por exemplo: confusão mental, incontinência urinária, fraqueza excessiva, alterações do sono, quedas e déficit cognitivo. De modo geral, as RAM são associadas a desfechos negativos da terapia.¹ Reação adversa Algumas categorias de medicamentos passaram a ser consideradas impróprias para o uso nessa população, seja por falta de eficácia terapêutica ou por um risco aumentado de efeitos adversos que supera seus benefícios quando comparadas com outras categorias de medicamentos, devendo ter seu uso evitado.¹ Estudos mostram que os medicamentos inapropriados mais prescritos são os benzodiazepínicos de meia-vida longa e os anti-histamínicos que, por provocarem sedação prolongada, aumentam o risco de quedas e fraturas, e os antidepressivos tricíclicos que, por terem propriedades anticolinérgicas, podem agravar quadros de constipação intestinal e retenção urinária em idosos, prejudicando, dessa forma, a qualidade de vida desses indivíduos.¹ Para identificar medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, diversos critérios estão sendo amplamente utilizados na prática clínica e na educação médica. As versões dos critérios de Beers e outros (Beers et al., 1991) e posteriormente a de Beers-Fick (Fick et al., 2003) tornaram- se as mais citadas e utilizadas mundialmente.¹ Em um estudo publicado em 2011, cerca de 25% dos medicamentos disponíveis no Programa Farmácia Dose Certa (programa para fornecimento de medicamentos gratuitos em São Paulo) eram potencialmente inapropriados para idosos de acordo com os critérios de Beers- Fick e a maioria desses medicamentos poderiam ser substituídos por outros mais adequados para essa faixa etária.¹ A versão mais atual do critério de Beers- Fick foi publicada em 2012 (Campanelli, 2012) e é dividida em três listas. A primeira contém 34 medicamentos ou classes de medicamentos que devem ser evitados por idosos, seus potenciais riscos e algumas de suas dosagens. A segunda contém os medicamentos que devem ser evitados considerando o diagnóstico e a terceira contém 14 medicamentos ou classes de medicamentos que devem ser usados com cautela.¹ Em 2015, foram publicados dados preliminares de um consenso brasileiro de especialistas (Oliveira et al., 2015) sobre o uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos brasileiros. Por meio de uma avaliação utilizando o método de Delphi, foram analisados 22 critérios de Beers (2012) com 11 critérios de STOPP (2006) e 9 critérios de ambos. Na lista parcial foram incluídos 42 critérios contendo medicamentos utilizados no Brasil, que não deveriam ser utilizados em idosos independentemente da condição clínica. Provavelmente, no futuro teremos a oficialização desses critérios para nossa realidade, necessitando então da validação dos mesmos no cenário nacional.¹ LLL 1- TRATADO DE GERIATRIA 2- EFEITO NEUROPROTETOR DO ÓLEO DE ABACATE (PERSEA AMERICANA) EM UM MODELO IN VITRO DE ESTRESSE INDUZIDO POR CORTISOL 3-ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DO ENVELHECIMENTO Lorena Lima, M7 REFERÊNCIAS LLL
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