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Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA PROBLEMA 02 1) Compreender o TOC: - Definição: Representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. As obsessões ou compulsões consomem o tempo e causam prejuízo funcional. Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos. - Obsessão: pensamento, sentimento, uma ideia ou uma sensação recorrentes e indesejável -> evento mental. - Compulsão:é um comportamento repetitivo, padronizado e recorrente que o indivíduo se sente obrigado a realizar em resposta a uma obsessão. Tanto a obsessão quanto a compulsão são egodistônicas (indesejadas). Apesar de realizado em uma tentativa de reduzir a ansiedade associada com a obsessão, o ato compulsivo nem sempre tem sucesso nisso e pode até aumentar a intensidade. - Epidemiologia: A prevalência de TOC na população (em geral) é estimada em 2-3% e são consideradas consistentes. O TOC é o 4º diagnóstico mais comum, vindo apenas depois da fobia, de transtornos relacionados a substâncias e do transtorno depressivo maior. Normalmente, homens e mulheres adultos são afetados igualmente, em adolescentes a prevalência é em meninos. A idade média de início é perto dos 20 anos e é mais comum que homens se apresentam inicialmente por volta dos 19 anos, já as mulheres aos 22 anos (aproximadamente). A maioria dos afetados costumam ser solteiros, o que pode refletir a dificuldade de pessoas com TOC manterem um relacionamento. Ocorre com menor frequência em negros, mas essa variação talvez seja explicada pelo acesso à assistência médica e não a diferenças de prevalência. Pessoas com TOC é comum serem afetadas por outros transtornos clínicos. A prevalência de transtorno depressivo maior é de cerca 67% e de fobia social 25%. - Etiologia e fisiopatologia: A fisiopatologia do TOC ainda não é muito elucidada, mas algumas teorias tentam explicar a etiologia desse transtorno com fatores biológicos, comportamentais e psicossociais. Fatores biológicos: As causas genéticas são as mais associadas ao TOC, contudo alguns estudos apontam relação de traumas físicos no período do desenvolvimento e histórico de infecção estreptocócica como possíveis etiologias. O que essas teorias têm em comum é que todas estão ligadas a disfunções no circuito córtico-estriato-tálamo-cortical o que explica fisiologicamente o surgimento do transtorno. ● Genética: Os dados genéticos disponíveis sobre o TOC mostram que o transtorno tem um componente genético significativo, mas ainda não é possível distinguir os fatores herdáveis da influência dos efeitos culturais e comportamentais. Familiares têm uma probabilidade 3-5x maior. Em gêmeos a concordância é bem mais alta para os monozigóticos. ● Sistema serotonérgico: Dados mostram que fármacos serotonérgicos são mais eficazes no tratamento do TOC que fármacos Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA destinados a outros neurotransmissores e muitos ensaios clínicos apontam que a desregulação da serotonina influencia a formação dos sintomas obsessivos e compulsivos, mas ainda não é confirmado. ● Sistema noradrenérgico: Não há muitas evidências sobre a disfunção do sistema noradrenérgico no TOC, mas há dados informais que mostram melhoras em sintomas do TOC com o uso de fármacos que reduzem a quantidade de norepinefrina liberada dos terminais nervosos pré-sinápticos. ● Neuroimunologia: A infecção estreptocócica do grupo α-β hemolítico pode causar febre reumática e com isso, 10-30% dos pacientes desenvolvem coreia de Sydenham e mostram sintomas obsessivos-compulsivos. Fatores comportamentais: De acordo com os teóricos da aprendizagem, as obsessões são estímulos condicionados. Um estímulo relativamente neutro se torna associado ao medo ou ansiedade por meio de um processo de condicionamento replicante ao ser associado com eventos que sejam nocivos ou produzam ansiedade. Quando o paciente descobre que determinada ação reduz a ansiedade associada a um pensamento obsessivo, a pessoa desenvolve estratégias ativas de evitação, na forma de compulsões, para controlar a ansiedade. Fatores psicossociais: ● Fatores de personalidade: A maioria das pessoas com TOC não têm sintomas compulsivos pré-mórbidos (que são encontrados no transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva) e os mesmos não são necessários nem suficientes para o desenvolvimento do transtorno obsessivo-compulsivo. Apenas 15-30% dos pacientes com TOC possuem esses traços obsessivos pré-mórbidos. ● Fatores psicodinâmicos: Os sintomas do TOC podem ser biologicamente motivados, mas também alguns sinais psicodinâmicos podem estar associados. Pacientes podem se sentir motivados a manter a sintomatologia em razão dos ganhos secundários (mais atenção e cuidado, por exemplo). Com relação às dimensões interpessoais, o pensamento psicodinâmico reconhece precipitadores que iniciam ou exacerbam os sintomas – as dificuldades interpessoais e estressores ambientais podem aumentar a ansiedade do paciente e com isso, sua sintomatologia. - Quadro clínico: O TOC tem 4 padrões principais de sintomas: ● Contaminação, que faz com que haja a necessidade de limpeza, lavagem ou ação compulsiva do objeto que está contaminado (presumido). O objeto em questão costuma ser difícil de evitar (ex. fezes, urina, pó ou germes). A resposta emocional mais comum é a ansiedade, mas vergonha e nojo obsessivos (pelo objeto) também são evidentes e os indivíduos costumam acreditar que a contaminação é espalhada objeto/objeto ou pessoa/pessoa com mínimo contato. ● Dúvida patológica,caracteriza-se por uma obsessão de dúvida e é acompanhada pela compulsão de ficar verificando. Os indivíduos sempre se sentem culpados – acreditam que esqueceram ou cometeram algo – e duvidam obsessivamente de si mesmos. Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA ● Pensamentos intrusivos,existem pensamentos intrusivos sem uma compulsão acompanhada. Essas obsessões tendem a ser pensamentos repetitivos de atos agressivos ou sexuais, que são repreensíveis pelo indivíduo. Ideias suicidas também podem ser obsessivas e por isso uma avaliação cuidadosa sobre os riscos de suicídio deve sempre ser feita. ● Simetria é a necessidade de simetria ou precisão, o que pode acarretar uma compulsão de lentidão. Os indivíduos podem demorar horas para realizarem atos por conta dessa necessidade (ex. fazer a barba) - Diagnóstico: - Tratamento: Estudos bem controlados mostram que a farmacoterapia, a terapia comportamental, ou uma combinação de ambas, possuem ação efetiva, resultando numa redução significativa dos sintomas de pacientes com TOC. A decisão sobre qual terapia usar se baseia no julgamento e na experiência médicos, além de na aceitação do paciente das várias modalidades. Tratamento farmacológico: Os efeitos iniciais costumam ser vistos após 4-6 semanas de tratamento, apesar de 8-6 semanas normalmente serem necessárias para se obter o máximo de benefício terapêutico. O tratamento com drogas antidepressivas ainda é controverso, e uma proporção significativa de pacientes que respondem a este tratamento parece ter recaída se a farmacoterapia for descontinuada. A abordagem-padrão é iniciar o tratamento com um ISRS ou clomipramina e depois passar a outras estratégias farmacológicas se as drogas específicas serotonérgicas não forem efetivas. As drogas serotonérgicas aumentaram a porcentagem de pacientes com TOC que tendem a responder melhor ao tratamento em um índice de 50 a 70%. - ISRS: fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina,sertralina. (ISRS: inibidores seletivos da recaptação de serotonina). - Clomipramina: é a mais seletiva. Sua dosagem deve ser titulada para cima por 2 ou 3 semanas para evitar efeitos gastrointestinais adversos e hipotensão ortostática (rápida diminuição da pressão arterial, o que leva ao aparecimento de alguns sintomas, como sensação de tontura, desmaio e fraqueza). - Outras drogas: a adição de valproato, lítio ou carbamazepina. Outras drogas que podem ser Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA experimentadas são venlafaxina e os inibidores de monoaminoxidase.Outros agentes farmacológicos incluem buspirona, L-triptofano e clonazepam. A adição de um antipsicótico atípico, como a risperidona, ajudou em alguns casos. Terapia cognitivo comportamental(TCC): Os efeitos benéficos são mais duradouros com a terapia comportamental. As principais abordagens são a exposição e a prevenção de resposta. Dessensibilização, prevenção de pensamentos, inundação, terapia implosiva e condicionamento aversivo também foram usados em pacientes com TOC. Outras terapias: A terapia familiar costuma ser útil. A terapia em grupo é útil como sistema de apoio para alguns indivíduos. Para casos extremos, que resistem a tratamento e são cronicamente debilitantes, a eletroconvulsoterapia (ECT) e a psicocirurgia devem ser consideradas. 2) Compreender o transtorno do espectro autista: - Definição: O transtorno do espectro autista, antes conhecido por transtornos globais do desenvolvimento, é um grupo fenotipicamente heterogêneo de síndromes neuroevolutivas, com herança genética que se caracteriza por uma ampla gama de problemas na comunicação social e por comportamentos restritos e repetitivos. Antes do desenvolvimento do DSM-5, o conceito de transtorno do espectro autista envolvia cinco transtornos distintos, incluindo transtornos do autismo, de Asperger, desintegrativo da infância, síndrome de Rett e transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação. O transtorno do autismo era caracterizado pela presença de problemas em três domínios: comunicação social, comportamentos restritos e repetitivos e desenvolvimento e uso de linguagem aberrante. Os problemas diagnósticos básicos caíram em dois domínios: deficiências na comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. O desenvolvimento e uso da linguagem aberrante deixaram de ser considerados uma característica básica do transtorno do espectro autista. Embora os problemas linguísticos não sejam critérios diagnósticos primordiais nesse transtorno, os médicos e os pais compartilham preocupações sobre crianças que ainda não tenham desenvolvido linguagem alguma no período de 12 a 18 meses de idade; além disso, retardo linguístico acompanhado de uma retração no comportamento social é, com frequência, um sintoma preditor do transtorno de espectro autista. Em até 25% dos casos ocorre o desenvolvimento de alguma capacidade linguística que se perde subsequentemente. Esse transtorno em crianças com desempenho intelectual normal e com problemas leves no desempenho linguístico pode não ser identificado até o período intermediário da infância, ocasião em que aumentam as demandas acadêmicas e sociais. - Epidemiologia: A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que há 70 milhões de pessoas com autismo em todo o mundo, sendo 2 milhões somente no Brasil. Estima-se que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tem transtorno do espectro autista. Os transtornos do espectro autista foram diagnosticados de uma forma crescente nas últimas duas décadas. Há muitas explicações possíveis para esse aumento Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA aparente, incluindo aumento da conscientização sobre o tema, a expansão dos critérios diagnósticos, melhores ferramentas de diagnóstico e o aprimoramento das informações reportadas. Por definição, o início desse transtorno ocorre na fase inicial do desenvolvimento, ainda que alguns casos não sejam identificados até que a criança esteja bem mais velha. Em virtude desse hiato entre o início do transtorno e o diagnóstico, as taxas de prevalência aumentam com a idade nos casos de crianças mais jovens. O autismo é diagnosticado com uma frequência quatro vezes maior em meninos do que em meninas. - Etiologia e fisiopatologia: ● Tem uma contribuição hereditária significativa → Estudos de famílias revelaram que houve um aumento nas taxas de incidência do transtorno do espectro autista nos irmãos de uma criança→indíce de até 50% em algumas famílias com duas ou mais crianças com transtorno do espectro autista. ● Há vários biomarcadores de sinalização anormal no sistema 5-HT, nos mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao mTOR e nas alterações do sistema inibitório do GABA. ● Estudos adicionais encontraram dados confirmatórios em amostragens de lactentes mais tarde diagnosticados com o transtorno, os quais tinham circunferências normais da cabeça no nascimento; aos 4 anos, 90% tinham volumes cerebrais maiores do que os indivíduos controle, sendo que 37% do grupo com transtorno do espectro autista atendeu aos critérios para macrocefalia. ● Diversos relatos sugerindo que a incompatibilidade imunológica (i.e., anticorpos maternos direcionados ao feto) pode contribuir para o transtorno do espectro autista. Os linfócitos de algumas crianças autistas com anticorpos maternos permitem pensar que os tecidos neurais embrionários tenham sido lesionados durante a gestação. ● A Incidência acima das expectativas de complicações pré-natais e perinatais em lactentes que, mais tarde, são diagnosticados com o transtorno do espectro autista ---> idade materna e paterna avançada no momento do nascimento do bebê, hemorragia gestacional materna, diabetes gestacional e bebê primogênito. ● Os fatores de risco perinatais incluem complicações no cordão umbilical, trauma no nascimento, desconforto fetal, feto pequeno para a idade gestacional, peso baixo ao nascer, baixo índice de Apgar no quinto minuto, malformação congênita, incompatibilidade do grupo sanguíneo ABO ou do fator Rh e hiperbilirrubinemia. Comorbidades- Anormalidades eletrencefalográficas (EEG) e distúrbios convulsivos ocorrem com uma frequência acima da expectativa em indivíduos com transtorno do espectro autista. Em torno de 4 a 32% dos indivíduos afetados têm convulsões de grand mal. Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA - Quadro clínico: O quadro clínico de pacientes com o transtorno do espectro autista tem como base sintomas centrais e sintomas comportamentais associados. Já o diagnóstico é clínico utilizando-se os critérios definidos pelo DSM-5. Sintomas centrais: - Mais afetados nesse transtorno. -Deficiências persistentes na comunicação e interação social, e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades. Deficiências persistentes na comunicação e interação social. Via de regra, crianças com TEA não se adaptam ao nível esperado de habilidades sociais recíprocas e de interações sociais não verbais espontâneas. Os lactentes com esse transtorno possivelmente não desenvolvam sorrisos sociais e, mais tarde, como bebês mais velhos podem não ter a postura antecipatória de serem colocados no colo de uma cuidadora. Contato com os olhos menos frequente e mais fraco é comum durante a infância e a adolescência, em comparação com outras crianças. É possível que essas crianças não reconheçam ou diferenciem explicitamente as pessoas mais importantes em suas vidas – pais, irmãos e professores –, e, no entanto, é provável que não reajam de forma tão intensa quando são deixadas com uma pessoa estranha, se comparadas a outras crianças da mesma idade. É frequente as crianças com autismo sentirem e demonstrarem uma ansiedade extrema quando sua rotina normal é interrompida. Nas crianças mais velhas em idade escolar, as deficiências sociais manifestam-se como uma ausência de conversas convencionais, menor compartilhamento de interesses e uma quantidade menor de gestos corporais e faciais no contato com outras pessoas. Uma das características observadas em crianças com transtorno do espectro autista é a deficiência na capacidade de perceber os sentimentos ou o estado emocional das pessoas ao seu redor. (sentem dificuldades para desenvolver empatia). Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades. Desde os primeiros anos de vida, nas crianças com TEA, as brincadeiras exploratórias esperadas sob a ótica evolucionária são restritas e mudas. Essas crianças não usam brinquedos ou objetos da maneira habitual; Em geral, as crianças autistas não apresentam o nível de brincadeiras imitativas ou de pantomima abstrata exibido pelasoutras da mesma idade, nas quais essas características são espontâneas. Na maior parte das vezes, as crianças afetadas apreciam girar, martelar e ver o fluir de um fluxo de água. Comportamentos compulsivos espontâneos, tais como alinhar objetos, são comuns; e, às vezes, uma criança com esse tipo de transtorno pode demonstrar um forte apego por determinados tipos de objetos inanimados. Sintomas Comportamentais associados: O principal sintoma comportamental associado são perturbações no desenvolvimento e uso da linguagem. O desvio linguístico, assim como o retardo no desenvolvimento da linguagem, é uma característica de subtipos mais graves desse transtorno. As crianças que sofrem com a versão grave do transtorno sentem uma grande dificuldade para organizar as frases de Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA uma forma inteligível, mesmo que tenham um vocabulário amplo. No primeiro ano de vida, o padrão típico de balbucio pode ser mínimo ou ausente. Algumas crianças com autismo vocalizam ruídos – cliques, guinchos ou sílabas sem sentido – de uma forma estereotipada, sem intenção aparente de se comunicar. Ao contrário da maior parte das crianças, que geralmente têm melhores capacidades linguísticas receptivas do que expressivas, na realidade, as autistas podem expressar mais do que compreendem. Em torno de 30% das crianças com TEA apresentam um nível de deficiência intelectual. A irritabilidade é um fenômeno bastante comum em crianças e adolescentes autistas, manifestando-se sobre a forma de agressão, comportamentos autolesivos e ataques graves de birra. É uma ocorrência comum que elas aparentam ser surdas; em geral, respondem muito pouco ao som da voz de uma conversa normal; no entanto, a mesma criança poderá demonstrar um interesse intenso pelo som de um relógio de pulso. Alguns indivíduos com autismo têm habilidades precoces ou dissidentes de grande proficiência, tais como habilidade prodigiosa para cálculos e aprendizagem de memória, geralmente além das capacidades dos pares normais. Outras habilidades precoces potenciais em algumas crianças autistas incluem hiperlexia, uma capacidade precoce para leitura (mesmo que não entendam aquilo que estão lendo), memorização e declamação e habilidades musicais (cantar ou tocar; ou reconhecer peças musicais). A Insônia é um problema frequente do sono entre crianças e adolescentes com TEA, e as estimativas indicam que ocorre em 44 a 83% das crianças em idade escolar. Há relatos de crianças mais jovens com autismo que apresentam incidência acima das expectativas de infecções no trato respiratório superior e outras de menor importância. Os sintomas gastrintestinais observados em crianças com o TEA em geral incluem arrotos excessivos, constipação e movimentos intestinais soltos. - Diagnóstico e diagnóstico diferencial: O diagnóstico do TEA deve ser o mais precoce possível o que se relaciona a melhores prognósticos, apesar de em alguns casos já ser possível notar alterações no comportamento precocemente aos 6 meses, os sintomas tornam-se mais perceptíveis entre os 12-18 meses de vida. Apesar disso, grande parte das crianças só chegam a receber o diagnóstico de TEA entre 4-5 anos de vida, o que é ruim, pois o diagnóstico tardio e consequente intervenção atrasada causam prejuízos no desenvolvimento da criança. Um instrumento importante neste acompanhamento, além dos relatos dados por pais e cuidadores ao longo da consulta de puericultura, é o acompanhamento desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) através da Caderneta de Saúde da Criança. Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA Critérios diagnósticos para Transtorno do Espectro Autista (DSM-5) A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado por tudo o que segue, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. 3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos; ver o texto): 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). 3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). 4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida). D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento. Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (pragmática). Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos e repetitivos de comportamento (ver Tabela 2). Especificar se: Com ou sem comprometimento intelectual concomitante Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental Com catatonia (consultar os critérios para definição de catatonia associada a outro transtorno mental) (Nota para codificação: Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA usar o código adicional 293.89 [F06.1] de catatonia associada a transtorno do espectroautista para indicar a presença de catatonia comórbida.) Níveis de gravidade para transtorno do espectro autista (DSM-5) Nível de gravidade Comunicação social Comportamentos restritivos e repetitivos Nível 3 “Exigindo apoio muito substancial” Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satisfazer as necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas. Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações. Nível 2 “Exigindo apoio substancial” Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha. Inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ou dificuldade de mudar o foco ou as ações. Nível 1 “Exigindo apoio” Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que consegue falar frases completas e envolver-se na comunicação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas. Inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à independência. Tratamento: Intervenção psicológica: ● Intervenções evolutivas e comportamentais intensivas precoces: lembrar do papel dos pais; Abordagens às habilidades sociais (Treinamento de habilidades sociais, prática de iniciar conversação social, cumprimentar as pessoas, iniciar jogos e prestar atenção.) ● Intervenções comportamentais e terapia cognitivo-comportamental para comportamentos repetitivos e sintomas associados (Terapia comportamental {recomenda-se a intervenção precoce para os casos de comportamentos repetitivos autolesivos}, Terapia cognitivo-comportamental (TCC). Intervenções psicofarmacológicas: Raíssa Mafra- P6 TOC e TEA O foco principal das intervenções psicofarmacológicas no transtorno do espectro autista é melhorar os sintomas comportamentais associados. Os sintomas-alvo são: irritabilidade, agressão, ataques de mau humor e comportamentos autolesivos, hiperatividade, impulsividade e desatenção. irritabilidade risperidona hiperatividade, impulsividade e desatenção metilfenidato comp. repetitivo e estereotipado ISRS; antipsicóticos de 2ºG; estabilizador de humor RISPERIDONA: É considerada o tratamento medicamentoso de primeira linha para crianças e adolescentes afetados por esse transtorno com irritabilidade grave. Efeitos colaterais: ganho de peso, aumento no apetite; efeitos colaterais metabólicos, como hiperglicemia, elevação no nível de prolactina e dislipidemia; em combinação com outros efeitos adversos comuns, como fadiga, sonolência, tontura e sialorréia. METILFENIDATO : O órgão Research Units on Pediatric Psychopharmacology descobriu que o metilfenidato é pelo menos moderadamente eficaz em doses de 0,25 a 0,5 mg/kg em jovens autistas e com sintomas de TDAH. Efeitos colaterais: aumento nos estereótipos, desconforto gastrointestinal, problemas de sono e labilidade emocional. Comportamento repetitivo e estereotipado. Esses sintomas básicos do TEA foram estudados com antidepressivos à base de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e agentes estabilizadores do humor, como o valproato. Estudos recentes indicam a diminuição dos sintomas repetitivos devido ao uso de risperidona, em crianças com irritabilidade. A quetiapina vem sendo utilizada na prática clínica em doses de 50 a 200 mg por dia. Os efeitos adversos incluem sonolência, taquicardia, agitação e ganho de peso. MEDICINA COMPLEMENTAR E ALTERNATIVA A Medicina complementar e alternativa (MCA) é um grupo de tratamentos não tradicionais geralmente utilizados em combinação com tratamentos convencionais. As intervenções seguras aplicadas com foco nas características comportamentais básicas e associadas do TEA, com eficácia desconhecida, incluem o seguinte: terapia musical, para promover a comunicação e a expressão; e ioga, para promover a atenção e diminuir o nível de atividade. O tratamento com melatonina, uma prática com base biológica, é considerado seguro e eficaz, sendo muito eficiente para diminuir a latência na fase inicial do sono em crianças. Outras práticas biológicas consideradas seguras, porém com eficácia desconhecida, incluem vitamina C, multivitaminas, ácidos graxos essenciais e os aminoácidos carnosina e carnitina. Em testes randomizados, controlados, a administração de secretina não foi eficaz no tratamento desse transtorno.
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