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1 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC INTRODUÇÃO É um grupo fenotipicamente heterogêneo de síndromes neuroevolutivas, com hereditariedade poligênica, que se caracteriza por uma ampla gama de problemas na comunicação social e por comportamentos restritos e repetit ivos . Um consenso clínico recente mudou o conceito de transtorno do espectro autista para um modelo de transição gradual, em que a heterogeneidade dos sintomas é reconhecida como inerente ao transtorno, e os problemas diagnósticos básicos caíram em dois domínios: deficiências na comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. O desenvolvimento e uso da linguagem aberrante deixaram de ser considerados uma característica básica do transtorno do espectro autista. O desenvolvimento e uso da linguagem aberrante não é uma característica definidora, porém uma particularidade associada em alguns indivíduos com esse transtorno. Via de regra, o transtorno do espectro autista se torna evidente no decorrer do segundo ano de vida , e, em alguns casos, se observa uma ausência de interesse evolutivo apropriado nas interações sociais , mesmo no primeiro ano de vida. Alguns estudos sugerem a possibilidade de que ocorra um declínio na interação social entre o primeiro e o segundo ano de vida. Entretanto, em casos mais brandos, deficiências básicas no transtorno do espectro autista talvez não sejam identificadas por muitos anos. Embora os problemas linguísticos não sejam critérios diagnósticos primordiais nesse transtorno, os médicos e os pais compartilham preocupações sobre crianças que ainda não tenham desenvolvido l inguagem alguma no período de 12 a 18 meses de idade; além disso, retardo linguístico acompanhado de uma retração no comportamento social é um sintoma preditor do transtorno de espectro autista. É frequente que as crianças com transtorno do espectro autista mostrem algum interesse idiossincrático intenso em uma pequena faixa de atividades, resistam a mudanças e, de forma típica, não reajam ao ambiente social conforme seus pares . Antes do desenvolvimento do DSM-5, o conceito de transtorno do espectro autista envolvia cinco transtornos distintos, incluindo transtornos do autismo, de Asperger, desintegrativo da infância, síndrome de Rett e transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação. Cabe ressaltar que, de acordo com o DSM-IV-TR, a síndrome ou transtorno Rett parece ocorrer exclusivamente em mulheres e se caracteriza pelo desenvolvimento normal durante pelo menos 6 meses, seguido por movimentos estereotipados das mãos, perda de movimentos intencionais, redução no compromisso social, descoordenação e redução no uso da linguagem. Nos termos do DSM-5, os critérios diagnósticos para o transtorno do espectro autista incluem deficiências na comunicação social e interesses restritos, que se apresentam na fase inicial do período evolutivo; entretanto, quando sutis, esses sinais talvez não sejam identificados até alguns anos mais tarde. Aproximadamente um terço das crianças que atendem aos critérios diagnósticos do DSM-5 para o transtorno do espectro autista apresenta incapacidade intelectual. Na antiga denominação de transtorno desintegrativo da infância, há um progresso normal no desenvolvimento durante cerca de 2 anos e, a partir de então, a criança começa a perder as habilidades previamente adquiridas em duas ou mais entre as seguintes áreas: uso da linguagem, responsividade social, brincadeiras, habilidades motoras e controle da bexiga ou dos intestinos. O antigo transtorno de Asperger caracteriza-se por problemas no relacionamento social e por um padrão repetitivo e estereotipado de comportamento sem retardo ou aberração marcante no uso e no desenvolvimento da linguagem. No transtorno de Asperger, as capacidades cognitivas e as habilidades adaptativas mais importantes são compatíveis com a idade, embora existam problemas na comunicação social. Uma pesquisa envolvendo crianças com os antigos transtornos do espectro autista revelou que a idade média do diagnóstico foi de 3,1 anos para aquelas com o transtorno autista, 3,9 anos para aquelas diagnosticadas com transtorno pervasivo do desenvolvimento sem outra especificação e 7,2 anos para jovens com o transtorno de Asperger. As crianças com transtorno do espectro autista que apresentavam deficiências linguísticas graves receberam o diagnóstico de transtorno do espectro autista em média um ano antes daquelas sem problemas de linguagem. As crianças com esse transtorno que apresentavam comportamentos repetitivos, como bater palmas, caminhar na ponta dos dedos e brincadeiras estranhas, também foram identificadas com transtornos do espectro autista em uma idade mais jovem em relação àquelas que não tinham esses comportamentos. O transtorno do espectro autista é diagnosticado com uma frequência quatro vezes maior em meninos do que em meninas. 2 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC ETIOLOGIA E PATOGÊNESE FATORES GENÉTICOS Embora até 15% dos casos de transtorno do espectro autista pareçam estar associados a mutações genéticas conhecidas, na maior parte das situações sua expressão depende de múltiplos genes. Os irmãos de uma criança com esse transtorno também correm um grande risco de apresentar uma multiplicidade de problemas de desenvolvimento nas habilidades comunicativas e sociais, mesmo nas situações em que não atendam aos critérios para o transtorno do espectro autista. Alguns estudos genéticos identificaram dois sistemas biológicos que são influenciados no autismo: a descoberta consistente de níveis elevados de serotonina plaquetária (5-ht) e do alvo mtor (do inglês mammalian target of rapamycin), ou seja, mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao alvo da rapamicina em mamíferos, que aparentemente se rompe no transtorno do espectro autista. Inúmeras síndromes com causas genéticas incluem o transtorno do espectro autista como parte de um fenótipo mais amplo. O mais comum desses transtornos hereditários é a s índrome do X frágil , um transtorno recessivo ligado ao X. Crianças com essa síndrome possuem incapacidade intelectual, problemas motores graves e finos, expressão facial atípica, macro-orquidismo e habilidade linguística expressiva significativamente reduzida. Esclerose tuberosa, outro distúrbio genético caracterizado pela presença de vários tumores benignos, herdada por transmissão autossômica dominante, é encontrada com maior frequência entre crianças com transtorno do espectro autista. BIOMARCADORES NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA O transtorno do espectro autista está associado a diversos biomarcadores, potencialmente resultantes da interação de genes e de fatores ambientais, que influenciam a função neuronal e o desenvolvimento de dentritos, além de contribuírem para alterações no processamento das informações neuronais. Há vários biomarcadores de sinalização anormal no sistema 5- HT, nos mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao mTOR e nas alterações do sistema inibitório do ácido gama- aminobutírico (GABA, do inglês gamma-aminobutyric acid). O primeiro biomarcador identificado no transtorno do espectro autista foi um nível elevado de serotonina no sangue total, quase apenas nas plaquetas. Considerando-se que o 5-HT está envolvido no desenvolvimento encefálico, é possível que as alterações em sua regulação resultem em alterações na migração neuronal e no crescimento do cérebro. O foco principal dos estudos de imagens por ressonância magnética funcionais (IRMf) é a identificação de biomarcadores, isto é, correlatos cerebrais funcionais de vários sintomas encontrados no transtorno do espectro autista. Os estudos de IRMf encontraram diferenças na ativação de regiões do cérebro, tais como o lobo temporal direito, e de outras áreas que reconhecidamente são ativadas em controles durante a execução de tarefas envolvendo a teoriada mente. Alguns pesquisadores levantaram a hipótese de que essa diferença represente uma disfunção no sistema de neurônios -espelho (MNS, do inglês mirror neuron system). Padrões atípicos de ativação do lobo central foram encontrados em diversos estudos do transtorno do espectro autista durante as tarefas de processamento da face, indicando que essa área do cérebro é de extrema importância na percepção social e no raciocínio emocional. FATORES IMUNOLÓGICOS Há diversos relatos sugerindo que a incompatibilidade imunológica (i.e., anticorpos maternos direcionados ao feto) pode contribuir para o transtorno do espectro autista. Os linfócitos de algumas crianças autistas com anticorpos maternos permitem pensar que os tecidos neurais embrionários tenham sido lesionados durante a gestação. FATORES PRÉ-NATAIS E PERINATAIS Aparentemente, ocorre uma incidência acima das expectativas de complicações pré-natais e perinatais em lactentes que, mais tarde, são diagnosticados com o transtorno do espectro autista. Os fatores pré-natais mais significativos associados a esse transtorno em descendentes são idade materna e paterna avançada no momento do nascimento do bebê, hemorragia gestacional materna, diabetes gestacional e bebê primogênito. Os fatores de risco perinatais incluem complicações no cordão umbilical, trauma no nascimento, desconforto fetal, feto pequeno para a idade gestacional, peso baixo ao nascer, baixo índice de Apgar no quinto minuto, malformação congênita, incompatibilidade do grupo sanguíneo ABO ou do fator Rh e hiperbilirrubinemia. Não há evidências suficientes para implicar isoladamente qualquer dos fatores de risco pré-natais e perinatais na etiologia do transtorno do espectro autista, e alguma predisposição genética para o transtorno pode estar interagindo com fatores perinatais. TRANSTORNOS NEUROLÓGICOS COMÓRBIDOS Anormalidades eletrencefalográficas (EEG) e distúrbios convulsivos ocorrem com uma frequência acima da expectativa em indivíduos com transtorno do espectro autista. Em torno de 4 a 32% dos indivíduos afetados têm convulsões de grand mal em algum momento, e 20 a 25% apresentam aumento no volume ventricular nas varreduras por tomografia computadorizada (TC). DIAGNÓSTICO DE ACORDO COM O DSM-5 - Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por 3 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos): 1. Déficits na reciprocidade socioemocional , variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social , variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. 3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos. - Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos dois dos seguintes, atualmente ou por história prévia (os exemplos são apenas ilustrativos, e não exaustivos): 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (p. ex., sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente) 3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos) 4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (p. ex., indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento) Especificar a gravidade atual: A gravidade baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento. - Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as deman das sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde na vida). - Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. - Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento. Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de transtorno do espectro autista. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de transtorno do espectro autista, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (pragmática). ESPECIFICAR SE: • Com ou sem comprometimento intelectual concomitante • Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante • Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental • Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental • Com catatonia (consultar os critérios para definição de catatonia associados a outro transtorno mental) SINTOMAS COMPORTAMENTAIS ASSOCIADOS QUE PODEM OCORRER NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA PERTURBAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO E USO DA LINGUAGEM As deficiências no desenvolvimento da linguagem e as dificuldades no uso da linguagem para comunicar ideias não fazem parte dos critérios básicos para diagnosticar o transtorno do espectro autista; entretanto, esses problemas ocorrem em um subgrupo de indivíduos com esse tipo de condição. Algumas crianças com esse transtorno não se recusam apenas a falar, e suas anormalidades na fala não resultam da ausência de motivação. O desvio linguístico, assim como o retardo no desenvolvimento da linguagem, é uma característica de subtipos mais graves desse transtorno. 4 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC Algumas crianças com o transtorno do espectro autista vocalizam ruídos – cliques, guinchos ou sílabas sem sentido – de uma forma estereotipada, sem intenção aparente de se comunicar. É bastante comum o fato de algumas usarem uma palavra uma vez e não a usar novamente durante uma semana, um mês ou vários anos. Uma criança com o transtorno pode dizer, por exemplo, “Você quer obrinquedo”, quando, na realidade, ela é quem deseja o brinquedo. Algumas das mais brilhantes têm uma fascinação especial por letras e números. Às vezes, são excelentes na execução de determinadas tarefas ou têm habilidades especiais; por exemplo, uma criança pode aprender a ler fluentemente na idade pré-escolar (hiperlexia). Embora consigam ler muitas palavras, crianças muito jovens com transtorno do espectro autista compreendem muito pouco o sentido daquilo que foi lido. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Em torno de 30% das crianças com transtorno do espectro autista apresentam um nível intelectualmente incapaz no desempenho intelectual. As pontuações do quociente de inteligência (QI) desse transtorno em crianças com deficiências intelectuais tendem a refletir os problemas mais graves nas habilidades de sequenciamento e abstração, com forças relativas nas habilidades visuais e espaciais ou na aprendizagem de memória. IRRITABILIDADE No sentido amplo, a definição de irritabilidade inclui agressão, comportamentos autolesivos e ataques graves de birra. Esses fenômenos são bastante observados em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. Esses sintomas costumam ser produzidos por situações do dia a dia em que esses jovens mudam de uma atividade para outra, permanecem sentados na sala de aula ou ficam quietos quando sentem vontade de sair correndo. Nos casos de crianças afetadas pelo transtorno com desempenho mais baixo e com deficiências intelectuais, o instintivo agressivo pode surgir de forma inesperada, sem um desencadeador ou propósito óbvio, sendo observados também comportamentos autolesivos, como bater a cabeça, beliscar a pele e se morder. INSTABILIDADE NO HUMOR E NO AFETO Algumas crianças com transtorno do espectro autista apresentam mudanças repentinas de humor, com explosões de riso ou de choro, sem nenhuma razão óbvia. A melhor compreensão desses episódios se torna ainda mais difícil nas situações em que elas não conseguem expressar pensamentos associados ao afeto. RESPOSTA A ESTÍMULOS SENSORIAIS Observa-se que crianças com transtorno do espectro autista respondem de forma intensa a alguns estímulos e fraca a outros estímulos sensoriais (p. ex., ao som e à dor). É uma ocorrência comum que elas aparentem ser surdas; em geral, respondem muito pouco ao som da voz de uma conversa normal; no entanto, a mesma criança poderá demonstrar um interesse intenso pelo som de um relógio de pulso. Algumas crianças apresentam um limiar alto para dor ou respostas alteradas para ela. Na realidade, algumas não respondem a uma lesão com choro ou busca de conforto. Alguns jovens autistas persistem em alguma experiência sensorial; por exemplo, com frequência cantarolam uma música ou cantam a canção de algum anúncio comercial, antes de expressar palavras ou de usar a fala. Outros gostam particularmente da estimulação vestibular – rotação, oscilação e movimentos para cima e para baixo. HIPERATIVIDADE E DESATENÇÃO Hiperatividade e desatenção são comportamentos comuns em crianças com o transtorno do espectro autista. Níveis de atividade abaixo da média são menos frequentes; nesse caso, há alternância com excesso de atividade. Comportamentos como déficit de atenção e incapacidade para se concentrar em uma tarefa específica também interferem no desempenho diário. HABILIDADES PRECOCES Alguns indivíduos com o transtorno do espectro autista têm habilidades precoces ou dissidentes de grande proficiência, tais como habilidade prodigiosa para cálculos e aprendizagem de memória, geralmente além das capacidades dos pares normais. Outras habilidades precoces potenciais em algumas crianças autistas incluem hiperlexia, uma capacidade precoce para leitura (mesmo que não entendam aquilo que estão lendo), memorização e declamação e habilidades musicais (cantar ou tocar; ou reconhecer peças musicais). INSÔNIA Insônia é um problema frequente do sono entre crianças e adolescentes com o transtorno do espectro autista, e as estimativas indicam que ocorre em 44 a 83% das crianças em idade escolar. Terapias comportamentais e farmacológicas foram aplicadas como intervenções. As intervenções comportamentais incluem mudança no comportamento parental, antes e no momento de ir para a cama, bem como criação de rotinas que eliminem os estímulos para permanecer acordado. As farmacológicas referem-se ao uso de medicamentos como a melatonina, que aparentemente é um agente promissor em doses variando de 1 mg com liberação rápida a 4 mg com liberação controlada, conforme demonstraram alguns estudos envolvendo jovens com esse transtorno. INFECÇÕES MENORES E SINTOMAS GASTRINTESTINAIS Há relatos de crianças mais jovens com transtorno do espectro autista que apresentam incidência acima das expectativas de infecções no trato respiratório superior e outras de menor 5 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC importância. Os sintomas gastrintestinais observados em crianças com o transtorno do espectro autista em geral incluem arrotos excessivos, constipação e movimentos intestinais soltos. Observa-se também um aumento na incidência de convulsões febris. FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO O Autism diagnostic observation schedule -generic (ADOS-G) é um instrumento padronizado bastante útil para a obtenção de informações sobre o transtorno do espectro autista. TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO As intervenções nos tratamentos psicossociais têm como foco principal ajudá-las a desenvolver habilidades nas convenções sociais, estimular comportamentos socialmente aceitáveis e prossociais com os pares e diminuir os sintomas de comportamentos estranhos. Além disso, as metas dos tratamentos costumam incluir a redução de comportamentos irritáveis e disruptivos que possam surgir na escola ou em casa e ser exacerbados nos períodos de transição. É frequente também que os pais de crianças com o transtorno se beneficiem da educação psicológica , do suporte e da orientação para otimizar o relacionamento e a eficiência com suas crianças. INTERVENÇÕES EVOLUTIVAS E COMPORTAMENTAIS INTENSIVAS PRECOCES 1. MODELO COM BASE NA UCLA/LOVAAS A base da intervenção manualizada e intensiva são técnicas derivadas da análise comportamental aplicada, as quais são administradas separadamente durante várias horas por semana. O terapeuta e a criança trabalham na prática de habilidades sociais específicas, no uso da linguagem e em outras habilidades-alvo para brincadeiras, com reforço e prêmios para a realização e domínio de habilidades. 2. MODELO COM BASE NO EARLY START DENVER MODEL (ESDM) As intervenções são administradas em ambientes naturais, como em creches, em casa e durante as brincadeiras com outras crianças. Via de regra, os pais aprendem a atuar como coterapeutas e fazem o treinamento em casa, enquanto as instituições educacionais se responsabilizam pelas intervenções. O foco principal dessas intervenções é o desenvolvimento de brincadeiras básicas e das habilidades de relacionamento, e as técnicas da análise comportamental aplicada são integradas às intervenções. Essa abordagem tem como objetivo o treinamento de crianças muito jovens, sendo aplicadas no contexto de suas rotinas diárias. 3. ABORDAGENS DE TREINAMENTOS PARA OS PAIS Essas abordagens incluem o treinamento de respostas fundamentais , em que os pais aprendem a facilitar o desenvolvimento social e comunicativo no lar e durante atividades focando o domínio, pelas crianças, da via de acesso ou de comportamentos sociais fundamentais, na expectativa de que, após a obtenção desse domínio, ocorra uma generalização natural dos comportamentos sociais. Os pais e os membros da família são integrados nesse tipo de intervenção. Outras abordagens ao treinamento dos pais focalizam a aquisição da linguagem e, especificamente para eles, a frequência pode ser menor, como, por exemplo, uma vez por semana; entretanto,depois que os cuidadores forem treinados, as intervenções com a criança ocorrem durante todo o dia. ABORDAGENS ÀS HABILIDADES SOCIAIS 1. TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS De maneira geral, esse tipo de treinamento é ministrado por líderes terapêuticos para crianças de várias idades no contexto de grupos com pares; elas são orientadas na prática de iniciar conversação social, cumprimentar as pessoas, iniciar jogos e prestar atenção. O objetivo principal é que a prática em grupo permita às crianças aplicarem essas técnicas em ambientes menos estruturados e internalizarem estratégias para que possam interagir de forma positiva com os pares. INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PARA COMPORTAMENTOS REPETITIVOS E S INTOMAS ASSOCIADOS 1. TERAPIA COMPORTAMENTAL A análise comportamental aplicada é bastante eficaz para reduzir alguns comportamentos repetitivos em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. Recomenda-se a intervenção precoce para os casos de comportamentos repetitivos autolesivos; eventualmente, as intervenções comportamentais precisam ser combinadas com tratamentos farmacológicos para possibilitar o gerenciamento dos sintomas de forma adequada. 2. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL (TCC) Há evidências significativas com base em testes randomizados, controlados, que confirmam a eficácia das TCCs no tratamento dos sintomas de ansiedade, depressão e transtornos obsessivo-compulsivos em crianças. Existem menos testes controlados desse tipo de tratamento em crianças com o transtorno do espectro autista, embora haja pelo menos dois estudos publicados em que a TCC foi usada no tratamento de comportamentos repetitivos em indivíduos com esse transtorno. INTERVENÇÕES PARA SINTOMAS COMÓRBIDOS NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 1. NEUROFEEDBACK 6 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC A administração dessa modalidade de tratamento foi uma tentativa de influenciar os sintomas do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), a ansiedade e o aumento na interação social por meio de jogos de computador ou outros em que o comportamento desejado seja reforçado, enquanto o uso de eletrodos permite monitorar a atividade elétrica no cérebro das crianças. O objetivo principal é influenciar a atividade das ondas cerebrais para prolongar ou produzir a atividade elétrica durante os comportamentos desejados. Essa modalidade ainda se encontra em fase de investigação no tratamento de sintomas do transtorno do espectro autista. 2. GERENCIAMENTO DA INSÔNIA NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTIST A A insônia é uma preocupação predominante entre crianças e adolescentes com esse transtorno, sendo possível melhorar essa condição por intermédio da administração de intervenções comportamentais e farmacológicas. A intervenção comportamental mais comum para insônia no transtorno do espectro autista se baseia na mudança do comportamento dos pais, primeiro em relação à criança no horário de dormir e durante toda a noite, de modo a remover o reforço e a atenção por estar acordada, e, em seguida, extinguindo gradualmente o comportamento de “permanecer acordada”. Vários estudos que utilizaram massagem terapêutica antes de dormir nessas crianças entre as idades de 2 e 13 anos melhoraram o adormecimento e a sensação de relaxamento. INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS EM CRIANÇAS COM O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA 1. TRATAMENTO E EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS AUTISTAS E COM DEFICIÊNCIAS RELACIONADAS A COMUNICAÇÃO (TEACCH) Envolve a aprendizagem estruturada que se fundamenta na noção de que as crianças com transtorno do espectro autista têm dificuldade com a percepção; sendo assim, esse método de ensino incorpora diversos suportes visuais e um programa de apresentação de quadros para facilitar a aprendizagem de assuntos acadêmicos e de respostas apropriadas sob a ótica social. A organização do ambiente físico serve de suporte para a aprendizagem visual, e as atividades diárias são estruturadas para promover autonomia e relacionamento social. 2. ABORDAGENS DE BASES AMPLAS Esses planos educacionais incluem uma mistura de estratégias de aprendizagem que utilizam análises comportamentais e focam também a reabilitação da linguagem. O reforço comportamental é aplicado aos comportamentos socialmente aceitáveis, durante o processo de aprendizagem de assuntos acadêmicos. 3. ABORDAGENS COMPUTADORIZADAS E REALIDADE VIRTUAL A aprendizagem com base em abordagens computadorizadas e na realidade virtual é centralizada no uso de programas de computador, jogos e programas interativos com a finalidade de ensinar a aquisição da linguagem e as habilidades de leitura. O programa Let’s Face it! é um jogo computadorizado que ajuda a ensinar às crianças com transtorno do espectro autista o reconhecimento de rostos. Esse programa consiste em sete jogos computadorizados interativos com foco em mudanças na expressão facial, atenção na região facial dos olhos, reconhecimento facial holístico e identificação da expressão emocional. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO IRRITABILIDADE Antipsicóticos de segunda geração → risperidona e aripiprazol A RISPERIDONA , um antipsicótico com alta potência, em combinação com as propriedades da dopamina (D2) e do antagonista do receptor de serotonina (5-HT2), controla os comportamentos agressivos e autolesivos em crianças com e sem esse transtorno. Variar a dose entre 0,5-1,5mg. Apesar de sua eficácia, seu uso foi limitado em alguns indivíduos pelos efeitos colaterais principais de ganho de peso e aumento no apetite; efeitos colaterais metabólicos, como hiperglicemia, elevação no nível de prolactina e dislipidemia; em combinação com outros efeitos adversos comuns, como fadiga, sonolência, tontura e sialorreia. A risperidona deve ser usada com muita cautela em indivíduos com anormalidades cardíacas ou hipotensão subjacente, considerando-se que esse medicamento pode contribuir para a incidência de hipotensão ortostática. Outros medicamentos estudados para o tratamento de irritabilidade no transtorno do espectro autista incluem o aripiprazol e a olanzapina. ARIPIPRAZOL : As doses aplicadas variaram de 5 a 15 mg por dia. Os efeitos colaterais principais incluem sedação, tontura, insônia, acatisia, náusea e vômito. HIPERATIVIDADE, IMPULSIVIDADE E DESATENÇÃO O órgão Research Units on Pediatric Psychopharmacology descobriu que o METILFENIDATO é pelo menos moderadamente eficaz em doses de 0,25 a 0,5 mg/kg em jovens autistas e com sintomas de TDAH. TOMOXETINA : efeitos colaterais incluíram sedação, irritabilidade, constipação e náusea. Outros: CLONIDINA E GUANFACINA COMPORTAMENTO REPETITIVO E ESTEREOTIPADO Antidepressivos à base de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), antipsicóticos de segunda geração (ASGs) e agentes estabilizadores do humor, como o valproato. A RISPERIDONA foi considerada eficaz nos tratamentos com foco na irritabilidade, além de ter melhorado os comportamentos restritivos e repetitivos. 7 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC Um estudo recente, com 12 semanas de duração, que utilizou o VALPROATO em 55 crianças autistas com idade média de 9 anos e meio, descobriu que as crianças que reagiram em relação à irritabilidade também foram as que consumiram menos tempo em comportamentos repetitivos AGENTES ADMINISTRADOS EM TESTES ABERTOS PARA TRATAMENTO DE DEFICIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA A QUETIAPINA é um antipsicótico com propriedades mais potentes para o bloqueio do receptor do 5-H2 do que do receptor de D2. Embora tenham sido feitos apenas testes abertos com esse agente, às vezes ele é usado quando a risperidona e a olanzapina não são eficazes ou bem toleradas. A quetiapina vem sendo utilizada na prática clínica em doses de 50 a 200 mg por dia. Os efeitos adversos incluem sonolência, taquicardia,agitação e ganho de peso. A administração de LÍTIO foi comprovadamente eficaz em crianças agressivas sem transtorno do espectro autista; além disso, o lítio tem utilidade clínica no tratamento de comportamentos agressivos e autolesivos nas situações em que o uso de agentes antipsicóticos não é bem-sucedido. AGENTES USADOS EM DEFICIÊNCIAS COMPORTAMENTAIS NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA SEM EVIDÊNCIAS DE EFICÁCIA Um estudo duplo-cego investigou a eficácia da AMANTADINA, que bloqueia os receptores do N-metil-d- aspartato (NMDA), no tratamento de perturbações comportamentais, como irritabilidade, agressividade e hiperatividade em crianças com autismo. A TETRA-HIDROBIOPTERINA , uma coenzima que intensifica a ação enzimática, foi utilizada em um estudo duplo-cego, cruzado, controlado por placebo, envolvendo 12 crianças com transtorno autista e baixas concentrações de tetra-hidrobiopterina espinal. Doses diárias de 3 mg desse agente por quilograma de peso corporal durante um período de 6 meses. A análise post hoc dos três sintomas básicos de autismo – interação social, comunicação e comportamentos estereotipados – revelaram que ocorreu uma melhora relevante na pontuação de interação social após 6 meses de tratamento ativo. O relato de um caso recente apontou que a administração de baixas doses de VENLAFAXINA foi eficaz em três adolescentes e adultos jovens com o transtorno autista e comportamento autolesivo e hiperatividade. A dose utilizada foi de 18,75 mg por dia, sendo mantida a eficácia por um período de 6 meses. INTRODUÇÃO Condição neuropsiquiátrica que afeta pré-escolares, crianças, adolescentes e adultos em todo o mundo, tendo como característica um padrão de redução sustentada no nível de atenção e uma intensificação na impulsividade ou hiperatividade. Embora diversas regiões do cérebro e vários neurotransmissores tenham sido implicados no surgimento dos sintomas, a dopamina continua sendo o foco das investigações. O envolvimento do córtex pré-frontal deve-se à alta utilização de dopamina e às conexões recíprocas com outras regiões cerebrais que participam da atenção, da inibição, das tomadas de decisão, da inibição a respostas, do trabalho de memória e da vigilância. Adolescentes e adultos com TDAH apresentam deficiências s ignificativas na função acadêmica e em situaçõ es sociais e interpessoais . Esse transtorno costuma estar associado a transtornos comórbidos, tais como os da aprendizagem, de ansiedade, do humor e o do comportamento disruptivo. Enquanto no passado era necessária a presença dos sintomas de TDAH na idade de 7 anos, atualmente, nos termos do DSM- 5, é imprescindível a presença de “diversos sintomas de déficit de atenção e de hiperatividade e impulsividade” aos 12 anos. Antes, havia dois subtipos: tipo envolvendo déficit de atenção e tipo hiperativo/impulsivo. Entretanto, no DSM-5, esses subtipos foram substituídos por três especificadores que, em essência, denotam os mesmos grupos: (1) apresentação combinada; (2) apresentação predominantemente desatenta; (3) apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva . No manual, para adolescentes com idade igual ou superior a 17 anos e para adultos são necessários apenas cinco, e não seis, sintomas de desatenção ou hiperatividade e impulsividade. ETIOLOGIA FATORES GENÉTICOS Até 70% das crianças com TDAH preenchem os critérios de algum transtorno psiquiátrico comórbido, incluindo transtornos da aprendizagem, de ansiedade, do humor, da conduta e por uso de substância. Foram propostas diversas hipóteses a respeito do modo de transmissão de TDAH, incluindo uma relacionada ao sexo, que possivelmente explique o aumento significativo nas taxas de incidência do transtorno em indivíduos do sexo masculino. Outras teorias focaram em um tipo de modelo de interação de vários genes que produzem os diversos sintomas de TDAH. A maioria das pesquisas moleculares sobre TDAH tiveram como foco principal os genes que influenciam o metabolismo ou a ação da dopamina. FATORES NEUROQUÍMICOS Estudos com animais mostraram que outras regiões do cérebro, como o locus ceruleus , que consiste 8 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC predominantemente em neurônios noradrenérgicos, também têm uma função importante na atenção. O sistema noradrenérgico inclui o sistema central (com origem no locus ceruleus) e o sistema simpático periférico. Qualquer disfunção na epinefrina periférica, que provoca o acúmulo periférico do hormônio, tem um grande potencial para realimentar o sistema central e “reajustar” o locus ceruleus para um nível mais baixo. Os estimulantes, que reconhecidamente são os agentes mais eficazes no tratamento de TDAH, afetam a dopamina e a norepinefrina, levando à hipótese de que os neurotransmissores podem adicionar disfunções aos sistemas adrenérgico e dopaminérgico. Os estimulantes aumentam as concentrações das catecolaminas, promovendo sua liberação e bloqueando sua reabsorção. FATORES NEUROFISIOLÓGICOS Alguns estudos eletrencefalográficos feitos nas últimas décadas em crianças e adolescentes com TDAH encontraram evidências de aumentos de atividade na faixa de frequência teta, principalmente nas regiões frontais . Estudos posteriores em jovens com o transtorno produziram dados mostrando atividade beta elevada nos achados eletrencefalográficos. Ao estudarem as descobertas eletrencefalográficas em crianças e adolescentes nas duas últimas décadas, Clarke e colaboradores chegaram à conclusão de que as crianças afetadas por TDAH, com tipos combinados do transtorno, foram as que apresentaram atividade beta significativamente mais elevada nesses estudos, tendo estudos posteriores indicado que esses jovens também tendem a apresentar aumento na labilidade do humor e ataques de mau humor. FATORES RRELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO As taxas de incidência de TDAH são mais elevadas em crianças com nascimento prematuro e cujas mães tiveram infecções durante o período de gestação . Em alguns casos, condições como insulto perinatal ao cérebro na fase inicial da infância causado por alguma infecção, inflamação ou trauma podem ser fatores que contribuem para o surgimento de sintomas de TDAH. FATORES PSICOSSOCIAIS Fatores como abuso crônico grave, maus -tratos e negligência estão associados a determinados sintomas comportamentais que se sobrepõem ao TDAH, incluindo falta de atenção e controle precário dos impulsos. Os fatores predisponentes incluem o temperamento das crianças e fatores genéticos familiares. DIAGNÓSTICO - UM PADRÃO PERSISTENTE DE DESATENÇÃO E/OU HIPERATIVIDADE-IMPULSIVIDADE QUE INTERFERE NO FUNCIONAMENTO E NO DESENVOLVIMENTO, CONFORME CARACTERIZADO POR (1) E/OU (2): 1. Desatenção: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários. a) Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (p. ex., negligencia ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso). b) Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (p. ex., dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas). c) Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (p. ex., parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia). d) Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no localde trabalho (p. ex., começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo). e) Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (p. ex., dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos). f) Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (p. ex., trabalhos escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos). g) Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular). h) Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados). i) Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (p. ex., realizar tarefas, obrigações; para adolescentes mais velhos e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados). 2. Hiperatividade e impulsividade: Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade 9 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos cinco sintomas são necessários. a) Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira. b) Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (p. ex., sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar). c) Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. (Nota: Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude.) d) Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente. e) Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (p. ex., não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar). f) Frequentemente fala demais. g) Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (p. ex., termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar). h) Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (p. ex., aguardar em uma fila). i) Frequentemente interrompe ou se intromete (p. ex., mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo). - VÁRIOS SINTOMAS DE DESATENÇÃO OU HIPERATIVIDADE-IMPULSIVIDADE ESTAVAM PRESENTES ANTES DOS 12 ANOS DE IDADE. - VÁRIOS SINTOMAS DE DESATENÇÃO OU HIPERATIVIDADE-IMPULSIVIDADE ESTÃO PRESENTES EM DOIS OU MAIS AMBIENTES (P. EX., EM CASA, NA ESCOLA, NO TRABALHO; COM AMIGOS OU PARENTES; EM OUTRAS ATIVIDADES). - HÁ EVIDÊNCIAS CLARAS DE QUE OS SINTOMAS INTERFEREM NO FUNCIONAMENTO SOCIAL, ACADÊMICO OU PROFISSIONAL OU DE QUE REDUZEM SUA QUALIDADE. - OS SINTOMAS NÃO OCORREM EXCLUSIVAMENTE DURANTE O CURSO DE ESQUIZOFRENIA OU OUTRO TRANSTORNO PSICÓTICO E NÃO SÃO MAIS BEM EXPLICADOS POR OUTRO TRANSTORNO MENTAL (P. EX., TRANSTORNO DO HUMOR, TRANSTORNO DE ANSIEDADE, TRANSTORNO DISSOCIATIVO, TRANSTORNO DA PERSONALIDADE, INTOXICAÇÃO OU ABSTINÊNCIA DE SUBSTÂNCIA). DETERMINAR O SUBTIPO 314.01 (F90.2) APRESENTAÇÃO COMBINADA : Se tanto o Critério A1 (desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade- impulsividade) são preenchidos nos últimos 6 meses. 314.00 (F90.0) APRESENTAÇÃO PREDOMINANTEMENTE DESATENTA : Se o Critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o Critério A2 (hiperatividade- impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses. 314.01 (F90.1) APRESENTAÇÃO PREDOMINANTEMENTE HIPERATIVA/IMPULSIVA : Se o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses. Especificar se: Em remissão parcial: Quando todos os critérios foram preenchidos no passado, nem todos os critérios foram preenchidos nos últimos 6 meses, e os sintomas ainda resultam em prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional. Especificar a gravidade atual: LEVE: Poucos sintomas, se algum, estão presentes além daqueles necessários para fazer o diagnóstico, e os sintomas resultam em não mais do que pequenos prejuízos no funcionamento social ou profissional. MODERADA: Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave” estão presentes. GRAVE: Muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves estão presentes, ou os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS O TDAH pode iniciar na primeira infância, embora raras vezes seja reconhecido até a idade em que a criança começa a andar. Em geral, os lactentes com esse transtorno são ativos no berço, dormem pouco e choram bastante. Na escola, crianças com TDAH podem se engajar rapidamente em um teste, porém respondem apenas às duas primeiras perguntas. Elas costumam não ter paciência para esperar a chamada e respondem antes de qualquer outra pessoa. Em casa, não conseguem esperar nem sequer por um minuto. Impulsividade e incapacidade para esperar elogios são reações típicas. Com frequência, são suscetíveis a acidentes. As características mais citadas de crianças com TDAH em ordem de frequência são hiperatividade, déficit de atenção (memória curta), distração, perseverança, incapacidade para concluir tarefas, desatenção, má concentração, impulsividade (agir antes de pensar, mudanças súbitas de atividade, falta de organização, dar pulos na sala de aula), déficits de memória e de raciocínio, incapacidade de aprendizagens específicas e deficiências na fala e na audição . 10 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC Os problemas médicos que podem produzir sintomas que se sobrepõem ao TDAH incluem epilepsia de petit mal, deficiências auditivas e visuais, anormalidades tireoidianas e hipoglicemia. Uma execução contínua de tarefas de desempenho, como as tarefas computadorizadas nas quais as crianças pressionam um botão toda vez que surgir na tela uma sequência determinada de letras ou números, não é especificamente útil como ferramenta diagnóstica para TDAH. Entretanto, pode ter alguma utilidade para fazer comparações no desempenho de uma criança antes e depois do tratamento com medicamentos, sobretudo em doses diferentes. Crianças com déficit de atenção tendem a cometer erros de omissão, isto é, não pressionam o botão no momento em que a sequência surge na tela. Com frequência, a impulsividade se manifesta por erros de omissão, nos quais uma criança impulsiva não resiste à tentação de pressionar o botão, mesmo que a sequência desejada. TRATAMENTO MEDICAMENTOS ESTIMULANTES Algumas crianças apresentam efeito de rebote em que se tornam levemente irritáveis e aparentam ser um pouco hiperativas por um breve período de tempo, até o medicamento perder o efeito. Outra preocupação muito comum em relação ao uso de preparações de meti l fenidato durante longos períodos de tempo é o potencial para supressão do crescimento.Os medicamentos estimulantes têm efeitos adrenérgicos e produzem elevações moderadas na pressão arterial e na frequência do pulso. Na linha de base, os parâmetros práticos mais recentes da American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP) recomenda a realização dos seguintes exames completos antes de iniciar o uso desses medicamentos: exame físico, pressão arterial, pulso, peso e estatura. Recomenda-se verificar trimestralmente estatura, peso, pressão arterial e pulso e fazer um exame físico anual em crianças e adolescentes que estejam em tratamento com estimulantes. INTERVENÇÕES PSICOSSOCIAIS As intervenções psicossociais em crianças com TDAH incluem modalidades como psicoeducação, habilidades de organização acadêmica, reabilitação, treinamento de pais, modificação comportamental na sala de aula e em casa, terapia cognitivo- comportamental (TCC) e treinamento em habilidades sociais. Fatores como grupos de habilidades sociais, treinamento comportamental para pais de crianças com TDAH e intervenções comportamentais na escola e em casa foram estudados isoladamente e em combinação com o tratamento médico do TDAH. A avaliação e o tratamento de transtornos coexistentes da aprendizagem ou transtornos psiquiátricos adicionais são medidas de extrema importância. TDAH EM ADULTOS INTRODUÇÃO Tipo de transtorno neuroevolutivo produzido por interações de fatores evolutivos e ambientais que influenciam a capacidade cerebral de perceber ou processar de maneira eficiente informações verbais e não verbais. Ele é caracterizado pela dificuldade persistente nas habilidades acadêmicas de aprendizagem relacionadas a leitura, expressão escrita ou cálculos matemáticos , que começa logo no início da infância e é incompatível com a capacidade intelectual total de uma criança. As habilidades acadêmicas que podem ser comprometidas com esse transtorno incluem fluência na leitura de palavras e frases simples, expressão escrita e ortografia e cálculos e soluções de problemas matemáticos. O aumento no risco de déficits de leitura em parentes em primeiro grau varia de 4 a 5 vezes, e de cerca de 5 a 10 vezes para deficiências em matemática, em comparação à população em geral. A incidência do transtorno específico da aprendizagem é 2 a 3 vezes maior em homens do que em mulheres. De acordo com os termos do DSM-5, os déficits de aprendizagem na leitura, na expressão escrita e em matemática são designados por meio de especificadores. O manual observa que DISLEXIA é um termo equivalente que descreve um padrão de dificuldades de aprendizagem, incluindo uma deficiência no reconhecimento preciso e fluente de palavras, decodificação precária e habilidades ortográficas fracas. Observa-se que DISCALCULIA é um termo alternativo que se refere a um padrão de deficiências relacionadas à aprendizagem de fatos aritméticos, processamento de informações numéricas e execução de cálculos exatos. 11 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC O transtorno específico da aprendizagem de todos os tipos afeta cerca de 10% da juventude. Para atender aos critérios de transtorno específico da aprendizagem, o desempenho de uma criança deve ser s ignificativamente inferior em relação ao esperado em uma ou mais entre as seguintes capacidades: habilidades de leitura, compreensão, ortografia, expressão escrita, cálculo, raciocínio matemático e/ou problemas da aprendizagem que interfiram nas realizações acadêmicas ou nas atividades cotidianas . TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM COM PREJUÍZO NA LEITURA Crianças com transtorno específico da aprendizagem na área da leitura podem ser identificadas por problemas no reconhecimento de palavras, na velocidade lenta de leitura e por problemas de compreensão, em comparação à maioria das crianças da mesma idade. O consenso atual é que as crianças com problemas de leitura têm dificuldade para reconhecer as palavras e para “reproduzir os respectivos sons” , tendo em vista que não conseguem processar e usar os fonemas com eficiência (pedaços menores de palavras que são associados a determinados tipos de sons). A deficiência de leitura caracteriza-se pela presença de fatores como dificuldade para reconhecer palavras, leitura lenta e inadequada, má compreensão do texto e dificuldades ortográficas. ADOÇÃO DO TERMO DISLEXIA Esse termo foi usado de forma extensa durante muitos anos para descrever uma síndrome de deficiência de leitura que costuma incluir deficiência de fala e linguagem, bem como confusão entre os lados direito e esquerdo. Em geral, a deficiência de leitura é acompanhada por deficiências em outras habilidades acadêmicas, e dislexia continua sendo um termo alternativo para um padrão de dificuldades de leitura e ortografia. ETIOLOGIA Uma vez que, via de regra, o prejuízo na leitura inclui uma deficiência de linguagem, teoricamente o lado esquerdo do cérebro tem sido considerado o sítio anatômico desse tipo de disfunção. Vários estudos sugeriram que a consciência fonológica (i.e., capacidade para decodificar sons e reproduzir os sons das palavras) está relacionada ao cromossomo 6, e a capacidade para identificar palavras simples foi associada ao cromossomo 15. Atualmente, a deficiência de leitura e ortografia foi vinculada aos locais de suscetibilidade em diversos cromossomos, incluindo os cromossomos 1, 2, 3, 6, 15 e 18. Não há evidências indicando que as crianças com deficiência de leitura tenham problemas visuais ou dificuldades com o sistema visual e motor. Uma incidência crescente de deficiências de leitura ocorre em crianças com nível intelectual médio e paral isia cerebral e epilepsia. Crianças com lesões cerebrais pós- natais no lobo occipital esquerdo, resultando em cegueira no campo visual direito, assim como jovens com lesões no esplênio do corpo caloso que bloqueiam a transmissão de informações visuais do hemisfério direito intacto para as áreas de linguagem do hemisfério esquerdo, apresentam deficiências de leitura. Crianças malnutridas por longos períodos de tempo na fase inicial da infância têm um grande risco de comprometimento do desempenho cognitivo, incluindo a leitura. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Crianças com incapacidades para leitura costumam ser identificadas em torno da idade de 7 anos (2a série). A dificuldade de leitura pode ser aparente entre estudantes nas salas de aula em que as habilidades de leitura sejam esperadas ainda na 1a série. Eventualmente, as crianças compensam o transtorno da leitura nas séries elementares pelo uso da memória e de inferências, sobretudo aquelas com nível elevado de inteligência. Nessas circunstâncias, o transtorno pode não se tornar aparente até a idade de 9 anos (4a série) ou mais tarde. A maior parte dessas crianças não gosta de ler e escrever e evita essas atividades. A ansiedade agrava-se ainda mais quando se defrontam com demandas que envolvam a linguagem impressa. OBS.: diagnóstico em anexo TRATAMENTO As estratégias corretivas para crianças com problemas de leitura têm como foco a instrução direta que encaminha a atenção do jovem para as conexões entre sons da fala e ortografia. Os programas corretivos eficazes iniciam a partir do momento em que a criança aprende a associar letras e sons de uma forma precisa. Essa abordagem fundamenta-se na teoria de que as deficiências básicas em problemas de leitura estão relacionadas com dificuldade para reconhecer e lembrar as associações entre letras e sons. após o domínio dessas associações, a intervenção corretiva pode ser direcionada para componentes mais importantes da leitura, como sílabas e palavras . O foco exato de qualquer programa de leitura somente pode ser determinado após a avaliação precisa das deficiências e fraquezas específicas da criança. As estratégias positivas de exercícios de cópia incluem a formação de grupos de leitura pequenos e bem estruturados que ofereçam atençãoindividual e facilitem à criança pedir ajuda. TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM COM PREJUÍZO NA MATEMÁTICA Crianças com dificuldades em matemática têm também dificuldade para aprender e lembrar os números, não conseguem lembrar fatos números básicos e são lentas e imprecisas nos cálculos . Quatro grupos de habilidades com mau desempenho foram identificados no transtorno da matemática: habi lidades l inguísticas 12 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC (relacionadas à compreensão de termos matemáticos e à conversão de problemas escritos em símbolos matemáticos), habilidades perceptivas (capacidade para reconhecer e entender símbolos e agrupamentos de ordens de números), habilidades matemáticas (conhecimentos básicos de adição, subtração, multiplicação, divisão e acompanhamento do sequenciamento das operações básicas) e habilidades de atenção (copiar figuras com exatidão e observar os símbolos operacionais de forma correta). As deficiências básicas na discalcul ia referem-se ao processamento dos números, e as capacidades linguísticas satisfatórias são habilidades necessárias para contagens, cálculos e compreensão exata dos princípios matemáticos. Entretanto, as deficiências em matemática ocorrem isoladamente ou em conjunto com prejuízos na linguagem e leitura . De acordo com os termos do DSM-5, o diagnóstico do transtorno específico da aprendizagem com prejuízo na matemática consiste em deficiências na contagem e nos cálculos aritméticos, dificuldade para lembrar os fatos matemáticos e contagem numérica com auxílio dos dedos . As deficiências adicionais incluem dificuldades com o raciocínio e com os conceitos matemáticos, criando dificuldades na aplicação de procedimentos para solucionar problemas quantitativos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS As características mais comuns da deficiência em matemática incluem dificuldade para aprender a denominação dos números; para lembrar os sinais de adição e de subtração; aprender as tabelas de multiplicação; traduzir problemas com palavras em computações; e fazer cálculos na velocidade esperada. A maior parte das crianças com essa deficiência pode ser identificada na 2a e na 3a séries da escola primária. As deficiências em matemática geralmente coexistem com outros transtornos que afetam atividades como leitura, escrita expressiva e linguagem. É bastante comum a presença de problemas com ortografia, déficits de memória ou atenção e problemas emocionais ou comportamentais. O keymath diagnostic arithmetic test faz a medição de várias áreas da matemática, incluindo conhecimento do conteúdo matemático, função e cálculo. Esse teste é utilizado para avaliar a capacidade matemática de crianças da 1a à 6a séries. TRATAMENTO As melhores alternativas para corrigir as dificuldades em matemática são as intervenções precoces que levam a melhora das habilidades em cálculo básico. No início do jardim de infância, crianças com indicações do transtorno da matemática precisam de ajuda para entender qual dos dígitos em um par é o maior; para contar; para identificar os números; e para lembrar as sequências numéricas. O uso de fichas, cadernos de exercícios e jogos de computador podem ser uma das partes viáveis desse tratamento. O Projeto MATH, um programa multimídia de treinamento de instrução individual ou em grupo, tem obtido muito sucesso com algumas crianças portadoras do transtorno da matemática. TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM COM PREJUÍZO NA EXPRESSÃO ESCRITA As deficiências na expressão escrita caracterizam-se por habilidades para escrever que estão significativamente abaixo do nível esperado para a idade e a educação de uma criança. Os componentes do transtorno da escrita incluem erros de ortografia, de gramática e de pontuação e má caligrafia. Os erros de ortografia estão entre as dificuldades mais comuns em crianças com esse transtorno. Erros de ortografia são, com frequência, erros fonéticos, isto é, pronúncia errônea que se parece a pronúncia correta. Os exemplos mais comuns desses erros são: “fone” em vez de “phone” ou “beleeve” em vez de “believe”. Historicamente, a disgrafia (i.e., habilidades de escrita fracas) era considerada uma forma de transtorno da leitura, contudo, nos dias atuais, está claro o suficiente que os problemas na expressão escrita podem ocorrer de forma isolada. Ao contrário do DSM-5, que inclui o transtorno específico da aprendizagem com prejuízo na expressão escrita, a International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems (CID-10), em sua 10a edição, inclui um transtorno separado específico para ortografia. DIAGNÓSTICO Nos termos do DSM-5, o diagnóstico de transtorno específico da aprendizagem com prejuízo na expressão escrita baseia-se em fatores como a baixa capacidade de uma criança para usar com precisão a pontuação e a gramática nas frases, incapacidade para organizar parágrafos ou para articular ideias com clareza ao escrever . O mau desempenho para compor textos escritos inclui também má caligrafia, capacidade ortográfica fraca e dificuldades para colocar as palavras sequencialmente em frases coerentes, em comparação a outros indivíduos da mesma idade. Além dos erros de ortografia, os jovens com deficiência na expressão escrita cometem muitos erros gramaticais , como, por exemplo, usar mal os tempos verbais, omitir palavras nas frases e colocar as palavras na ordem incorreta. A pontuação pode ser errada e as crianças talvez tenham dificuldade para lembrar das palavras que iniciam com letras maiúsculas . Os sintomas adicionais de deficiências na expressão escrita incluem formação de letras ilegíveis, letras invertidas e mistura de letras maiúsculas e minúsculas. Outras características dos transtornos da escrita incluem má organização de histórias escritas, com omissão de elementos importantes, como “onde”, “quando” e “quem” ou ausência de expressão clara da trama. TRATAMENTO O tratamento corretivo para incapacidade de escrever inclui prática direta em ortografia e formação de frases e uma revisão das regras gramaticais . Aparentemente, a 13 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC administração individual de terapia intensiva e contínua de escrita criativa e expressiva produz resultados favoráveis. Os professores de algumas escolas especiais dedicam até 2 horas por dia a essas instruções de escrita. Os problemas emocionais ou comportamentais associados secundários devem receber atenção imediata, com tratamento psiquiátrico e aconselhamento parental apropriado. INTRODUÇÃO O DSM-5 define o TDO como “um padrão de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou índole vingativa com duração de pelo menos seis meses ”. Os comportamentos opositivos podem assumir diversas formas, podendo ser passivos, quando uma criança não responder a um dado estímulo, permanecendo inativa e acomodada, ou desafiadores, incluindo verbalizações negativas, comportamentos hostis e resistência física que incidiriam junto com a desobediência. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A apresentação dos sintomas, segundo o DSM-5, manifesta-se geralmente em casa, limitando-se a apenas um ambiente, sendo que, em casos mais graves, os sintomas podem se apresentar em ambientes diversos. Relacionado ao fato de a criança com o transtorno discutir excessivamente com adultos, incomodando as pessoas, sendo resistente à aceitação de regras, além de perder o controle facilmente em caso de ser frustrada em suas intenções. Relação do transtorno com o uso abusivo de álcool e de outras drogas. Antes da puberdade o transtorno é mais frequente em homens do que em mulheres, assumindo, no entanto, em proporções mais semelhantes depois da puberdade. Contudo, os comportamentos externalizantes entre os indivíduos do sexo masculino tendem a ser mais persistentes e conflituosos. O DSM-5 aponta que os primeirossintomas do transtorno, geralmente, surgem durante os anos de pré-escola, sendo que sua ocorrência após o início da adolescência é muito rara. Há um alto índice de crianças com TDO que apresentam um diagnóstico comórbido de TDAH. Também é comum identificar concomitantemente transtornos de comunicação e de aprendizagem. DIAGNÓSTICO Um padrão de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou de índole vingativa, com duração de pelo menos seis meses, como evidenciado por pelo menos quatro sintomas de qualquer das categorias seguintes e exibido na interação com pelo menos um indivíduo que não seja um irmão. • HUMOR RAIVOSO/ IRRITÁVEL 1. Com frequência perde a calma. 2. Com frequência é sensível ou facilmente incomodado. 3. Com frequência é raivoso e ressentido. • COMPORTAMENTO QUESTIONADOR/DESAFIANTE 4. Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, no caso de crianças e adolescentes, adultos. 5. Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a obedecer a regras ou a pedidos de figura de autoridade. 6. Frequentemente incomoda deliberadamente outras pessoas. 7. Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau comportamento. • ÍNDOLE VINGATIVA 8. Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos últimos seis meses. B. A perturbação no comportamento está associada a sofrimento para o indivíduo ou para os outros em seu contexto social imediato, ou causa impactos negativos no funcionamento social, educacional e profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um transtorno psicótico ou de transtorno de humor. D. Não são satisfeitos os critérios para transtorno da conduta e, se o indivíduo tem 18 anos ou mais, não são satisfeitos os critérios para transtorno da personalidade antissocial. O DSM-5 situa a gravidade na condição leve quando os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (na casa, na escola, no trabalho, com os colegas). A gravidade moderada ocorre quando alguns sintomas estão presentes em pelos menos dois ambientes e a grave, quando alguns sintomas estão presentes em três ou mais ambientes. TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO Modelos comportamentais como modificação do comportamento, terapia comportamental e análise aplicada do comportamento. Os autores enfatizam a eficácia no tratamento do TDO das estratégias cognitivo- comportamentais, mencionando os seguintes procedimentos: terapia familiar, psicoeducação familiar, 14 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC treinamento de pais, psicoeducação escolar e intervenções escolares. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO A) ANTIPSICÓTICOS OU NEUROLÉPTICOS: empregados no tratamento de quadros de agressividade, impulsividade e explosões de raiva, que se apresentam reiterados no transtorno. Os antipsicóticos atípicos são os mais utilizados atualmente, sendo eles a risperidona, a quetiapina e o ariprazol. B) ESTABILIZADORES DO HUMOR: empregados no controle de comportamentos agressivos, violentos, proporcionam a diminuição da agressividade. São também usados nos casos associados ao transtorno bipolar do humor. Os mais empregados são: carbonato de lítio, divalproato de sódio, carbamazepina, oxcarbazepina, lamotrigina e o topiramato. C) PSICOESTIMULANTES: utilizados para o tratamento do TDAH, devido à associação frequente com TDO, sendo eles o metilfenidato e a lisdexanfetamina. D) ANTIDEPRESSIVOS INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA: utilizados para o tratamento de episódios depressivos ou de quadros ansiosos associados ao TDO. Os principais fármacos são: fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopram, escitalopram e venlafaxina. DESENVOLVIMENTO DO PRÉ-ESCOLAR Pré-escolar → 2-5 anos APÓS 2 ANOS • Crescimento somático e do cérebro fica lento • Diminuição do apetite → avaliar nas curvas de crescimento e desenvolvimento se a criança está em desnutrição ou se está normal • Aumento de 2kg/ano e 6-7cm/ano • Acuidade visual: 20/20 aos 4 anos • Todos os 20 dentes decíduos (de leite) nascerão até os 3 anos (os primeiros dentes crescem em torno dos 6-8 meses) • Controle esfincteriano durante o dia (2,5 anos) • Urinar na cama é normal até 4 anos nas meninas e 5 anos nos meninos AOS 3 ANOS • Geralmente corre bem • Preferência pelo uso de uma das mãos ao escrever/desenhar (pode ser aos 4 anos também) QUAL O MELHOR PARÂMETRO PARA AVALIAR O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO? • A linguagem • Gagueira → 5% das crianças desenvolvem e 1% permanece - Quando tratar a gagueira? Quando ela persiste além de 6 meses • Cognição vence a lógica (experimento de Piaget com vasos e líquidos) • Explicação verbal não funciona tanto quanto a ação (por exemplo, mostrar a agulha furando uma boneca no hospital é mais eficiente que dizer para a criança que tirar sangue não dói) • Fase do pensamento mágico - Dá vida para objetos inanimados - Acredita na força dos desejos • Egocentrismo - Só consegue entender a realidade sob o ponto de vista dele (não consegue fazer acordos) - Consola adulto chateado com algum de seus brinquedos • Brincadeiras/social - 1 a 2 anos: brinca sozinho ou em paralelo - 3 a 4 anos: também brinca junto • Fase dos medos - Monstro dentro do armário (falar que os pais têm um “spray” para o monstro resolve) • Mau humor (pirraça) - Início fim do primeiro ano - Pico 2 aos 4 anos • Educação - Não é aconselhável bater - Time-out (1min/ano de idade) fora da brincadeira ou do lazer SÍNDROME DE ASPERGER • Desenvolvimento normal da linguagem • Deficiência na comunicação não verbal (expressão facial, gestos) • Diferença do autismo • Faz parte do espectro autista • Risco maior de doenças psiquiátricas associadas • Autismo: - Ecolalia - Rimas sem sentido - Entonação diferente (prosódia) - Habilidade para brincar bastante alterada - Movimentos corporais estereotipados e repetidos - Dificuldade de fixar - Associação com outras doenças: síndrome do X frágil, convulsões e esclerose tuberosa - Não tem relação com mães distantes emocionalmente (“mãe geladeira”) e com a vacina tríplice viral - Contato visual anormal - Falha em apontar, mostrar - Falta do brincar interativo - Falha em rir - Falha em dividir - Combinação de atraso de linguagem e atraso social → sinal vermelho para autismo 15 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC - Exame físico: perímetro cefálico, exame da pele com lâmpada de wood (manchas hipocrômicas devido a esclerose tuberosa) - O tratamento inicial deve ser com a terapia comportamental intensiva DESENVOLVIMENTO DO ESCOLAR • 6 a 12 anos COGNIÇÃO • Capaz de fazer uma avaliação própria e considerar a avaliação do outro • Operações lógicas (bom desenvolvimento na escola e nas matérias, bem como relações sociais) DESENVOLVIMENTO FÍSICO • 3-3,5kg/ano e 6cm/ano DISLEXIA E TDAH • Dislexia - Grande dificuldade na aprendizagem da leitura e consequentemente da escrita - Dificuldade nos fonemas (fonoaudióloga) 16 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC 17 VALESSA VALENÇA | PSIQUIATRIA INFANTIL | 2021.2 | MARC
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