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Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 CASO 6 - TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO (TEA+TDAH) TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Critérios Diagnósticos DSM-5 299.00 (F84.0) A. Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, conforme manifestado pelo que segue, atualmente ou por história prévia: 1. Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. 2. Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal. 3. Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. Especificar a gravidade atual: O nível pode variar de acordo com o contexto ou oscilar com o tempo. B. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, conforme manifestado por pelo menos 2 dos seguintes, atualmente ou por história prévia: 1. Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (ex: estereotipias motoras simples como abanar as mãos ou estalar os dedos, alinhar ou girar objetos, ecolalia, repetição atrasada ou imediata de palavras ouvidas, uso de “tu/você” ao referir-se a si mesmo, uso estereotipado de palavras, frases ou padrões de prosódia, frases idiossincráticas). 2. Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (ex: sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). 3. Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (ex: forte apego ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). 4. Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (ex: indiferença aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). Especificar a gravidade atual: Igual ao anterior. C. Os sintomas devem estar presentes precocemente no período do desenvolvimento (mas podem não se tornar plenamente manifestos até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas ou podem ser mascarados por estratégias aprendidas mais tarde). D. Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo no presente. E. Essas perturbações não são mais bem explicadas por deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual ou transtorno do espectro autista costumam ser comórbidos; para fazer o diagnóstico da comorbidade de transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação social deve estar abaixo do esperado para o nível geral do desenvolvimento. Nota: Indivíduos com um diagnóstico do DSM-IV bem estabelecido de transtorno autista, transtorno de Asperger ou transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação devem receber o diagnóstico de TEA. Indivíduos com déficits acentuados na comunicação social, cujos sintomas, porém, não atendam, de outra forma, critérios de TEA, devem ser avaliados em relação a transtorno da comunicação social (pragmática). Especificar se: Com ou sem comprometimento intelectual concomitante Com ou sem comprometimento da linguagem concomitante Associado a alguma condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental Associado a outro transtorno do neurodesenvolvimento, mental ou comportamental Com catatonia Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Muitos indivíduos com TEA também apresentam comprometimento intelectual e/ou da linguagem (atraso na fala, compreensão da linguagem aquém da produção). Mesmo aqueles com inteligência média ou alta apresentam um perfil irregular de capacidades. Déficits motores estão frequentemente presentes, incluindo marcha atípica, falta de coordenação e outros sinais anormais (ex: caminhar na ponta dos pés). Agressão, comportamentos autolesivos e ataques graves de birra são bastante observados. Em geral, é muito difícil superar os ataques graves de birra e, com frequência, o controle dos comportamentos autolesivos (ex: bater a cabeça, beliscar a pele e se morder) é extremamente problemático. Esses sintomas costumam ser produzidos por situações do dia a dia em que esses jovens mudam de uma atividade para outra. Nos casos de crianças com desempenho mais baixo e com deficiências intelectuais, o instintivo agressivo pode surgir de forma inesperada. Algumas crianças apresentam mudanças repentinas de humor, com explosões de riso ou de choro, sem nenhuma razão óbvia. Crianças com TEA respondem de forma intensa a alguns estímulos e fraca a outros estímulos sensoriais (ex: ao som e à dor). Algumas apresentam um limiar alto para dor ou respostas alteradas para ela (ex: não respondem com choro ou busca de conforto). Hiperatividade e desatenção são comuns. Níveis de atividade abaixo da média são menos frequentes; nesse caso, há alternância. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 Alguns têm habilidades precoces ou dissidentes de grande proficiência, tais como habilidade prodigiosa para cálculos e aprendizagem de memória. Outras habilidades precoces potenciais incluem hiperlexia, capacidade precoce para leitura (mesmo que não entendam aquilo que estão lendo), memorização e declamação e habilidades musicais. Insônia é um problema frequente entre crianças e adolescentes com o transtorno do espectro autista, e as estimativas indicam que ocorre em 44 a 83% das crianças em idade escolar. Adolescentes e adultos com TEA são propensos a ansiedade e depressão. Alguns desenvolvem comportamento motor semelhante à catatonia, embora isso tipicamente não costume alcançar a magnitude de um episódio catatônico. É possível, porém, que apresentem deterioração acentuada em sintomas motores e um episódio catatônico completo com sintomas como mutismo, posturas atípicas, trejeitos faciais e flexibilidade cérea. O período de risco de catatonia comórbida parece ser maior na adolescência. Caraterísticas físicas associadas À primeira vista, crianças com TEA não apresentam sinais físicos que indiquem a presença do transtorno. De maneira geral, apresentam taxas mais elevadas de anomalias físicas de menor importância,como: malformações nas orelhas, e outras que podem ser reflexo de anomalias que ocorreram no desenvolvimento fetal. Um número maior do que a expectativa não apresenta destreza manual e lateralidade e permanecem ambidestras na idade em que o domínio cerebral costuma ser estabelecido. Aquelas afetadas o transtorno apresentam incidência mais elevada de dermatoglifia anormal (ex: impressões digitais), o que indica possivelmente alguma perturbação no desenvolvimento neuroectodérmico. Epidemiologia Os transtornos do espectro autista foram diagnosticados de uma forma crescente nas últimas duas décadas. O TEA é diagnosticado 4 vezes mais em meninos. Etiologia e patogênese A heterogeneidade na expressão dos sintomas em famílias com o TEA revela diversos padrões de transmissão genética. Estimativas de herdabilidade variam de 37% até mais de 90%, com base em taxas de concordância entre gêmeos. Atualmente, até 15% dos casos parecem estar associados a mutação genética conhecida. Mesmo nesses casos, não parece haver penetrância completa. O transtorno do espectro autista está associado a diversos biomarcadores, potencialmente resultantes da interação de genes e de fatores ambientais, que influenciam a função neuronal e o desenvolvimento de dendritos, além de contribuírem para alterações no processamento das informações neuronais. Há vários biomarcadores de sinalização anormal no sistema 5-HT, nos mecanismos de plasticidade sináptica ligados ao mTOR e nas alterações do sistema inibitório do ácido-aminobutírico (GABA). Há diversos relatos sugerindo que a incompatibilidade imunológica (anticorpos maternos direcionados ao feto) pode contribuir para o transtorno do espectro autista. Os linfócitos de algumas crianças autistas com anticorpos maternos permitem pensar que os tecidos neurais embrionários tenham sido lesionados durante a gestação, mas essa hipótese ainda se encontra em investigação. Aparentemente, ocorre uma incidência acima das expectativas de complicações pré-natais e perinatais em lactentes que, mais tarde, são diagnosticados com TEA. Os fatores pré-natais mais significativos são idade materna e paterna avançada, hemorragia gestacional materna, diabetes gestacional e bebê primogênito. Os fatores perinatais incluem complicações no cordão umbilical, trauma no nascimento, desconforto fetal, feto PIG, peso baixo ao nascer, baixo Apgar no 5’, malformação congênita, incompatibilidade do grupo sanguíneo ABO ou do fator Rh e hiperbilirrubinemia. Muitas das complicações obstétricas relacionadas ao risco do transtorno também são fatores de risco para hipoxia que, por si só, pode ser um fator de risco subjacente. Não há evidências suficientes para implicar isoladamente qualquer dos fatores de risco pré-natais e perinatais na etiologia do TEA, e alguma predisposição genética pode estar interagindo com fatores perinatais. Anormalidades eletrencefalográficas (EEG) e distúrbios convulsivos ocorrem com uma frequência acima da expectativa em indivíduos com transtorno do espectro autista. Em torno de 4 a 32% dos afetados têm convulsões de grande mal em algum momento, e 20 a 25% apresentam aumento no volume ventricular na TC. Diversas anormalidades eletrencefalográficas são encontradas em 10 a 83% das crianças com definição prévia de TEA e, embora nenhuma seja específica do transtorno, há indicações de lateralização cerebral. Existe um consenso atual considerando o transtorno do espectro autista um conjunto de síndromes comportamentais causadas por uma multiplicidade de fatores que agem no SNC. Alguns estudos que fizeram a comparação entre pais de crianças com transtorno do espectro autista e pais de crianças normais não apresentaram diferenças significativas na capacidade para criação dos filhos. As especulações iniciais de Kanner de que os fatores emocionais dos pais poderiam contribuir para o desenvolvimento do transtorno foram claramente refutadas. Desenvolvimento e Curso Os sintomas costumam ser reconhecidos no segundo ano de vida (12 a 24 meses), embora possam ser vistos antes dos 12 meses, se os atrasos do desenvolvimento forem graves, ou percebidos após os 24 meses, se os sintomas forem mais sutis. Nos casos em que houve perda de habilidades, pais ou cuidadores podem relatar história de deterioração gradual ou relativamente rápida em comportamentos sociais ou nas habilidades linguísticas. Em geral, isso ocorre entre 12 e 24 meses, sendo distinguível dos raros casos de regressão do desenvolvimento que ocorrem após pelo menos 2 anos de desenvolvimento normal (anteriormente descrito como transtorno desintegrativo da infância). As características comportamentais do TEA tornam-se inicialmente evidentes na primeira infância, com alguns casos apresentando falta de interesse em interações sociais no primeiro ano de vida. Algumas crianças com transtorno do espectro autista apresentam platôs ou regressão no desenvolvimento, com deterioração gradual ou relativamente rápida em comportamentos sociais ou uso da linguagem, frequentemente nos 2 primeiros anos de vida. Tais perdas são raras em outros transtornos, podendo ser um sinal de alerta útil para o transtorno do espectro autista. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 Muito mais incomuns e merecedoras de investigação médica ampla são perdas de habilidades além da comunicação social (ex: perda do autocuidado, do controle de esfíncteres, de habilidades motoras) ou as que ocorrem após o segundo aniversário. Os primeiros sintomas do TEA frequentemente envolvem atraso no desenvolvimento da linguagem, em geral acompanhado por ausência de interesse social ou interações incomuns (ex: puxar as pessoas pela mão sem nenhuma tentativa de olhar para elas) padrões estranhos de brincadeiras (ex: carregar brinquedos, mas nunca brincar com eles), e padrões incomuns de comunicação (ex: conhecer o alfabeto, mas não responder ao próprio nome). Durante o segundo ano, comportamentos estranhos e repetitivos e ausência de brincadeiras típicas tornam-se mais evidentes. Como muitas crianças pequenas com desenvolvimento normal têm fortes preferências e gostam de repetição (ex: ingerir os mesmos alimentos, assistir muitas vezes ao mesmo filme), em pré-escolares pode ser difícil distinguir, mas devemos nos basear no tipo, na frequência e na intensidade do comportamento. O TEA não é um transtorno degenerativo, sendo comum que aprendizagem e compensação continuem ao longo da vida. Os sintomas são frequentemente mais acentuados na primeira infância e nos primeiros anos da vida escolar, com ganhos no desenvolvimento sendo frequentes no fim da infância pelo menos em certas áreas (ex: aumento no interesse por interações sociais). Uma pequena proporção apresenta deterioração comportamental na adolescência, enquanto a maioria melhora. Apenas uma minoria vive e trabalha de forma independente na fase adulta; aqueles que o fazem tendem a ter linguagem e capacidades intelectuais superiores, conseguindo encontrar um nicho que combine com seus interesses e habilidades especiais. Em geral, indivíduos com níveis de prejuízo menores podem ser mais capazes de funcionar com independência. Mesmo esses, noentanto, podem continuar socialmente ingênuos e vulneráveis, com dificuldades para organizar as demandas práticas sem ajuda, mais propensos a ansiedade e depressão. Muitos adultos informam usar estratégias compensatórias e mecanismos de enfrentamento para mascarar suas dificuldades em público, mas sofrem com o estresse e os esforços para manter uma fachada socialmente aceitável. Quase nada se sabe sobre a fase da velhice no TEA. Alguns indivíduos aparecem pela primeira vez para o diagnóstico na idade adulta, talvez levados pelo diagnóstico de autismo em alguma criança da família ou pelo rompimento de relações profissionais ou familiares. Pode ser difícil, nesses casos, obter uma história detalhada do desenvolvimento, sendo importante levar em conta as dificuldades autorrelatadas. Quando a observação clínica sugerir que os critérios são preenchidos no presente, pode ser diagnosticado o transtorno do espectro autista, desde que não haja evidências de boas habilidades sociais e de comunicação na infância (ex: relato dos pais que a pessoa teve amizades recíprocas normais e permanentes e boas habilidades não verbais na infância). Prognóstico Os melhores fatores prognósticos estabelecidos são a ausência de deficiência intelectual e comprometimento da linguagem associados (ex: linguagem funcional por volta dos 5 anos; QI > 70) e outros problemas de saúde mental. Epilepsia comorbida está associada a maior deficiência intelectual e menor capacidade verbal. O prognóstico em geral melhora quando há apoio familiar. Consequências Funcionais do Transtorno do Espectro Autista Em crianças pequenas, a ausência de capacidades sociais e comunicacionais pode ser um impedimento à aprendizagem, especialmente à aprendizagem por meio da interação social ou em contextos com seus colegas. Em casa, a insistência em rotinas e a aversão à mudança, bem como sensibilidades sensoriais, podem interferir na alimentação e no sono e tornar os cuidados de rotina extremamente difíceis (ex: cortes de cabelo, cuidados dentários). As capacidades adaptativas costumam estar abaixo do QI medido. Dificuldades extremas para planejar, organizar e enfrentar a mudança causam impacto negativo no sucesso acadêmico, mesmo para alunos com inteligência acima da média. Na vida adulta, pode haver dificuldades na independência devido à rigidez e à dificuldade contínuas com o novo. Muitos, mesmo sem deficiência intelectual, têm funcionamento psicossocial insatisfatório, avaliado por indicadores como vida independente e emprego remunerado. Consequências funcionais no envelhecimento são desconhecidas; isolamento social e problemas de comunicação (ex: redução da busca por ajuda) têm consequências para a saúde. Diagnóstico Diferencial Síndrome de Rett: Uma ruptura da interação social pode ser observada durante a fase regressiva da síndrome de Rett (em geral, entre 1 e 4 anos); assim, uma proporção substancial das meninas afetadas pode preencher critérios diagnósticos para TEA. Depois desse período, no entanto, a maioria melhora as habilidades de comunicação social, e as características autistas não são mais grande foco de preocupação. Mutismo seletivo: A criança exibe habilidades comunicacionais apropriadas em alguns contextos e locais. Mesmo nos contextos em que é muda, a reciprocidade social não se mostra prejudicada, nem há padrões de comportamento restritivos ou repetitivos. Transtornos da linguagem e transtorno da comunicação social (pragmática): Em alguns transtorno da linguagem, pode haver problemas de comunicação e dificuldades sociais secundárias. O transtorno específico da linguagem, porém, não costuma estar associado a comunicação não verbal anormal nem à presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Quando um indivíduo apresenta prejuízo na comunicação social e nas interações sociais, mas não exibe comportamentos ou interesses restritos ou repetitivos, podem ser preenchidos critérios para transtorno da comunicação social (pragmática). O diagnóstico de TEA se sobrepõe sempre que preenchidos os critérios, devendo-se indagar cuidadosamente sobre comportamento restrito/repetitivo anterior ou atual. Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) sem transtorno do espectro autista: Pode ser difícil de diferenciar em crianças muito jovens. Indivíduos com deficiência intelectual que não desenvolveram habilidades linguísticas ou simbólicas também são um desafio para o diagnóstico diferencial, uma vez que comportamentos repetitivos frequentemente também ocorrem em tais indivíduos. Um diagnóstico de TEA em uma pessoa Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 com deficiência intelectual é adequado quando a comunicação e a interação sociais estão significativamente prejudicadas em relação ao nível de desenvolvimento de suas habilidades não verbais. Diferentemente, a deficiência intelectual é o diagnóstico apropriado quando não há discrepância aparente entre o nível das habilidades de comunicação social e outras habilidades intelectuais. Transtorno do movimento estereotipado: Estereotipias motoras estão entre as características diagnósticas do TEA, de modo que um diagnóstico adicional de transtorno do movimento estereotipado não é feito quando tais comportamentos repetitivos são mais bem explicados pela presença do transtorno do espectro autista. Quando as estereotipias causam autolesão e se tornam um foco do tratamento, os dois diagnósticos podem ser apropriados. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: Anormalidades de atenção (foco exagerado ou distração fácil) são comuns no TEA. Um diagnóstico de TDAH deve ser considerado quando dificuldades atencionais ou hiperatividade excedem o tipicamente encontrado em indivíduos de idade mental comparável. Esquizofrenia: Esquizofrenia com início na infância costuma desenvolver-se após um período de desenvolvimento normal ou quase normal. Há descrição de um estado prodrômico no qual ocorrem prejuízo social, interesses e crenças atípicos que podem ser confundidos com os déficits encontrados no TEA. Além disso, alucinações e delírios, características definidoras da esquizofrenia, não são elementos do transtorno de espectro autista. Comorbidade Cerca de 70% dos indivíduos com transtorno do espectro autista podem ter um transtorno mental comórbido, 40% podem ter 2 ou mais. Quando critérios para TDAH e para TEA são preenchidos, ambos os diagnósticos devem ser dados. O mesmo aplica-se a diagnósticos concomitantes de transtorno do desenvolvimento da coordenação, transtornos de ansiedade, transtornos depressivos e outros diagnósticos de comorbidade. Entre indivíduos que não falam ou têm déficits de linguagem, mudanças no sono ou na alimentação e aumento no comportamento desafiante, devem desencadear avaliação para ansiedade ou depressão. As condições médicas normalmente associadas ao transtorno do espectro autista devem ser registradas no especificador “condição médica ou genética conhecida ou a fator ambiental”. Tais condições incluem epilepsia, distúrbios do sono e constipação. Transtorno alimentar restritivo/evitativo se apresenta com frequênciae preferências alimentares extremas e reduzidas podem persistir. Há relatos de crianças mais jovens com TEA que apresentam incidência acima das expectativas de IVAS e outras infecções de menor importância. Os sintomas gastrintestinais observados em geral incluem arrotos excessivos, constipação e movimentos intestinais soltos. Observa-se também um aumento na incidência de convulsões febris. Algumas crianças não apresentam elevações na temperatura na presença de enfermidades infecciosas de menor importância e podem não sentir a indisposição típica de quem está doente. Em outras, os problemas comportamentais e as condições relacionadas aparentam melhorar significativamente nos casos de enfermidades menos graves, e essas mudanças podem ser indicações da presença de alguma enfermidade física. Intervenções psicossociais As metas são focar comportamentos básicos para melhorar as interações sociais e a comunicação; ampliar as estratégias de integração escolar; desenvolver relacionamentos significativos com os pares; e aumentar as habilidades para viver uma vida independente no longo prazo. Há diversas opções: Intervenções evolutivas e comportamentais intensivas precoces; treinamento de habilidades sociais; terapia comportamental; TCC; neurofeedback; gerenciamento da insônia; método TEACCH; abordagens de bases amplas; abordagens computadorizadas; realidade virtual, etc. Intervenções psicofarmacológicas Os sintomas-alvo da terapia farmacológica incluem irritabilidade, agressão, ataques de mau humor, comportamentos autolesivos, hiperatividade, impulsividade e desatenção. A risperidona é considerada o tratamento medicamentoso de primeira linha para irritabilidade grave. Apesar da eficácia, seu uso foi limitado em alguns indivíduos pelos efeitos colaterais principais de ganho de peso e aumento no apetite; efeitos colaterais metabólicos, como hiperglicemia, elevação no nível de prolactina e dislipidemia; em combinação com outros efeitos adversos comuns, como fadiga, sonolência, tontura e sialorreia. A risperidona deve ser usada com muita cautela em indivíduos com anormalidades cardíacas ou hipotensão subjacente, considerando que pode contribuir para a incidência de hipotensão ortostática. Outros medicamentos estudados para o tratamento de irritabilidade no TEA incluem o aripiprazol e a olanzapina. Vários testes foram realizados com o metilfenidato para tratamento de hiperatividade, impulsividade e desatenção em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. O medicamento foi considerado seguro e relativamente eficaz. Para comportamento repetitivo e estereotipado, pode-se fazer o uso de ISRS, antipsicótico atípico e estabilizadores de humor. OBS: As práticas de medicina complementar e alternativa seguras no TEA, incluem terapia musical e ioga. O tratamento com melatonina é seguro e eficaz. Outras práticas incluem vitamina C, multivitaminas, ácidos graxos essenciais, carnosina e carnitina. TRANSTORNOS INCLUÍDOS NO TEA (CID-10) A Classificação Internacional de Doenças não é compatível com o DSM-5 e ainda inclui designações separadas para a síndrome de Rett e transtornos desintegrativo da infância, Asperger e pervasivo do desenvolvimento sem outra especificação. Na prática não se distingue mais, tudo está no espectro. Autismo infantil A. Desenvolvimento anormal ou prejudicado é evidente antes dos 3 anos de idade em pelo menos uma das seguintes áreas: (1) linguagem receptiva ou expressiva conforme utilizada na comunicação social; (2) o desenvolvimento de vínculos sociais seletivos ou de interação social recíproca; (3) jogo funcional ou simbólico. B. Um total de pelo menos 6 sintomas de (1), (2) e (3) devem estar presentes, com pelo menos 2 de (1) e pelo menos 1 de (2) e (3): (1) Anormalidades qualitativas na interação social recíproca são manifestadas em pelo menos 2 das seguintes áreas: Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 (a) fracasso em usar adequadamente contato visual, expressão facial, postura corporal e gestos para regular interação social; (b) fracasso em desenvolver (de maneira adequada à idade mental, e apesar de amplas oportunidades) relacionamentos com iguais que envolvem uma troca mútua de interesses, atividades e emoções; (c) falta de reciprocidade socioemocional conforme demonstrado por uma resposta prejudicada ou desviante às emoções de outras pessoas; ou falta de modulação de comportamento de acordo com o contexto social; ou uma integração fraca de comportamentos sociais, emocionais e comunicativos; (d) falta de desejo espontâneo de compartilhar alegria, interesses ou realizações com outras pessoas (ex: uma falta de objetos de interesse para o indivíduo). (2) Anormalidades qualitativas na comunicação são manifestadas em pelo menos uma das seguintes áreas: (a) um atraso no, ou falta total de, desenvolvimento de linguagem falada que não seja acompanhada por uma tentativa de compensar-se através do uso de gesto ou mímica como uma forma alternativa de comunicação (frequentemente precedido por uma ausência de balbucio comunicativo); (b) fracasso relativo para iniciar ou manter intercâmbio coloquial (em qualquer nível de habilidades de linguagem que esteja presente), no qual haja responsividade recíproca às comunicações da outra pessoa; (c) uso estereotipado e repetitivo de linguagem ou uso idiossincrático de palavras ou frases; (d) ausência de jogo de faz-de-conta espontâneo variado ou (quando pequeno) de jogo imitativo social. (3) Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades são manifestados em pelo menos uma das seguintes áreas: (a) uma preocupação abrangente com um ou mais padrões de interesse estereotipados e restritos que são de conteúdo e foco anormais; ou um ou mais interesses que são anormais em sua intensidade e de natureza circunscrita embora não em seu conteúdo ou foco; (b) adesão aparentemente compulsiva a rotinas ou rituais específicas, não funcionais; (c) maneirismos motores estereotipados e repetitivos que envolvem agitação ou torção das mãos ou dedos, ou movimentos do corpo inteiro complexos; (d) preocupação com parte de objetos ou com elementos não funcionais de materiais de jogo (ex: cheiro, sensação de sua superfície ou ruído ou vibração que eles geram). C. O quadro clínico não é atribuível às outras variedades de transtorno global do desenvolvimento; transtorno específico do desenvolvimento da linguagem receptiva com problemas socioemocionais secundários; transtorno de apego reativo ou transtorno de apego desinibido; retardo mental com algum transtorno emocional ou comportamental associado; esquizofrenia de início geralmente precoce; e síndrome de Rett. Autismo atípico A. Desenvolvimento anormal ou prejudicado é evidente aos 3 anos ou após (critérios para autismo exceto por idade de manifestação). B. Há anormalidades qualitativas na interação social recíproca ou na comunicação, ou padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades. C. O transtorno não satisfaz os critérios diagnósticos para autismo. Autismo pode ser atípico em idade de início ou sintomatologia; os dois tipos são diferenciadoscom um quinto caractere para fins de pesquisa. Síndromes que são atípicas em ambos os sentidos deveriam ser codificadas. Síndrome de Rett A. Há um período pré-natal e perinatal aparentemente normal e desenvolvimento psicomotor aparentemente normal durante os primeiros 5 meses e circunferência craniana normal no nascimento. B. Há desaceleração de crescimento da cabeça entre 5 meses e 4 anos e perda de habilidades de mão intencionais adquiridas entre 5 e 30 meses que estão associadas com disfunção de comunicação concomitante e interações sociais prejudicadas e o aparecimento de marcha e/ou movimentos de tronco mal coordenados/instáveis. C. Há grave prejuízo da linguagem expressiva e receptiva, juntamente com grande retardo psicomotor. D. Há movimentos de mão de linha média estereotipados (tais como torcedura da mão ou “lavagem das mãos”) com início no ou após o período em que movimentos de mão intencionais são perdidos. Outro transtorno desintegrativo da infância A. O desenvolvimento é aparentemente normal até a idade de pelo menos 2 anos. Habilidades adequadas à idade em comunicação, relacionamentos sociais, jogo e comportamento adaptativo aos 2 anos ou após é necessária. B. Há uma perda definida de habilidades adquiridas anteriormente ao tempo de início do transtorno. O diagnóstico requer uma perda de habilidades clinicamente significativa (não apenas um fracasso em utilizá-las em certas situações) em pelo menos 2 das seguintes: (1) linguagem expressiva ou receptiva; (2) jogo; (3) habilidades sociais ou comportamento adaptativo; (4) controle de intestino ou bexiga; (5) habilidades motoras. C. Funcionamento social qualitativamente anormal é manifestado em pelo menos duas das seguintes áreas: (1) anormalidades qualitativas na interação social recíproca; (2) anormalidades qualitativas na comunicação; (3) padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades, incluindo estereotipias motoras e maneirismos; (4) uma perda geral de interesse em objetos e no ambiente. D. O transtorno não é atribuível às outras variedades de transtorno global do desenvolvimento; afasia adquirida com epilepsia; mutismo eletivo; síndrome de Rett; ou esquizofrenia. Síndrome de Asperger A. Não há atraso geral clinicamente significativo na linguagem falada ou receptiva ou no desenvolvimento cognitivo. O diagnóstico requer que palavras isoladas tenham se desenvolvido aos 2 anos ou mais cedo e que frases comunicativas sejam usadas aos 3 anos ou mais cedo. Habilidades de autoajuda, comportamento adaptativo e curiosidade sobre o ambiente durante os primeiros 3 anos deveriam estar em um nível consistente com o desenvolvimento intelectual normal. Entretanto, os marcos motores podem ser um pouco atrasados e movimentos desajeitados são usuais (embora não seja um aspecto diagnóstico necessário). Habilidades especiais isoladas, frequentemente relacionadas a preocupações anormais, são comuns, mas não são necessárias para o diagnóstico. B. Há anormalidades qualitativas na interação social recíproca. C. O indivíduo exibe um interesse incomumente intenso, circunscrito ou padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades (igual autismo, mas menos usual incluir maneirismos motores ou preocupações com partes de objetos ou elementos não funcionais de materiais de jogo). D. O transtorno não é atribuível às outras variedades de transtorno global do desenvolvimento; esquizofrenia simples; transtorno esquizotípico; transtorno obsessivo-compulsivo; transtorno da personalidade anancástica; transtornos de apego reativo ou desinibido da infância. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/ HIPERATIVIDADE Critérios Diagnósticos DSM-5 A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2): 1. Desatenção: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos ( 17 anos), pelo menos 5 sintomas são necessários.≥ a. Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (ex: negligência, deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso). b. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (ex: dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas). c. Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (ex: parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de distração óbvia). d. Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (ex: começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo). e. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (ex: dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais; manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; dificuldade em cumprir prazos). f. Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (ex: trabalhos ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos). g. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular). h. Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados). i. Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (ex: realizar tarefas, obrigações; para adolescentes mais velhos e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados). 2. Hiperatividade e impulsividade: 6 (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas ou profissionais: Nota: Os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos ( 17 anos), pelo menos 5 sintomas são necessários.≥ a. Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira. b. Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (ex: sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar). c. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. (Nota: Em adolescentesou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude.) d. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente. e. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (ex: não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar). f. Frequentemente fala demais. g. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (ex: termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar). h. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (ex: aguardar em uma fila). i. Frequentemente interrompe ou se intromete (ex: mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo). B. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade. C. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão presentes em dois ou mais ambientes (ex: em casa, na escola, no trabalho; com amigos ou parentes; em outras atividades). D. Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade. E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (ex: transtorno do humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno da personalidade, intoxicação ou abstinência de substância). Determinar o subtipo: 314.01 (F90.2) Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1 (desatenção) quanto o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos 6 meses. 314.00 (F90.0) Predominantemente desatenta: A1 é preenchido, mas A2 não é preenchido nos últimos 6 meses. 314.01 (F90.1) Predominantemente hiperativa/impulsiva: A2 é preenchido, mas A1 não é preenchido nos últimos 6 meses. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 Especificar se: Em remissão parcial: Quando todos os critérios foram preenchidos no passado, nem todos os critérios foram preenchidos nos últimos 6 meses, e os sintomas ainda resultam em prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional. Especificar a gravidade atual: Leve: Poucos sintomas, se algum, estão presentes além daqueles necessários para fazer o diagnóstico, e resultam em não mais do que pequenos prejuízos no funcionamento social ou profissional. Moderada: Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave”. Grave: Muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves estão presentes, ou os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional. Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico Atrasos leves no desenvolvimento linguístico, motor ou social não são específicos do TDAH, embora costumem ser comórbidos. As características associadas podem incluir baixa tolerância à frustração, irritabilidade ou labilidade do humor. Comportamento desatento está associado a processos cognitivos subjacentes, e indivíduos com TDAH podem exibir problemas cognitivos em testes de atenção, função executiva ou memória, embora esses testes não sejam suficientemente sensíveis ou específicos para o diagnóstico. No início da vida adulta, o TDAH está associado a risco aumentado de tentativa de suicídio, principalmente quando em comorbidade com transtornos do humor, da conduta ou por uso de substância. Não há marcador biológico que seja diagnóstico de TDAH. Na comparação com pares, crianças com TDAH apresentam EEG com aumento de ondas lentas, volume encefálico total reduzido na ressonância magnética e, possivelmente, atraso na maturação cortical no sentido póstero-anterior, embora esses achados não sejam diagnósticos. Nos raros casos em que há causa genética conhecida (síndrome do X-frágil, síndrome da deleção 22q11), a apresentação do TDAH ainda deve ser diagnosticada. Epidemiologia O TDAH afeta entre 5 a 8% das crianças em idade escolar; 60 a 85% dos diagnosticados quando crianças continuam a atender aos critérios na adolescência, e até 60% permanecem na vida adulta. É mais frequente no sexo masculino com proporção de 2:1 nas crianças e de 1,6:1 nos adultos. Há maior probabilidade do sexo feminino apresentar primariamente características de desatenção. Etiologia Os dados existentes indicam que o TDAH é basicamente genético, com uma hereditariedade de cerca de 75%. Postulou-se a associação entre diversos neurotransmissores e sintomas de TDAH. Entretanto, a dopamina é o foco principal das investigações clínicas, e o córtex pré-frontal foi envolvido com base no papel que desempenha na atenção e na regulação do controle de impulsos. Os agentes estimulantes, reconhecidamente eficazes no tratamento de TDAH, afetam a dopamina e a norepinefrina, levando à hipótese de que os neurotransmissores podem adicionar disfunções aos sistemas adrenérgico e dopaminérgico. Alguns estudos eletrencefalográficos encontraram evidências de aumentos de atividade na faixa de frequência teta, principalmente nas regiões frontais. Estudos posteriores produziram dados mostrando atividade beta elevada. Alguns pesquisadores levantaram a hipótese da existência de redes cerebrais que promovem componentes da atenção, incluindo foco, atenção sustentada e mudança de atenção. Eles descrevem a presença de correlações neuroanatômicas entre os córtices superior e temporal, focalizando a atenção; nas regiões parietal e estriatal externas com funções motoras executivas; no hipocampo com codificação de traços de memória; e no córtex pré-frontal, deslocando-se de um estímulo para outro. Outras hipóteses sugerem o envolvimento do tronco cefálico, que contém a função do núcleo talâmico reticular na atenção sustentada. Uma revisão das imagens por RM, PET E SPECT indica que crianças com TDAH apresentam reduções volumétrica e de atividade nas regiões pré-frontais, do cingulado anterior, do globo pálido, do caudado, do tálamo e cerebelo. Varreduras por PET mostraram também que adolescentes do sexo feminino com TDAH apresentam metabolismo mais baixo da glicose total. Uma das teorias postula que os lobos frontais de crianças com TDAH não inibem de forma adequada as estruturas cerebrais inferiores, efeito que leva a desinibição. As taxas de incidência de TDAH são mais elevadas em crianças com nascimento prematuro e cujas mães tiveram infecções na gestação. Em alguns casos, insulto perinatal ao cérebro na fase inicial da infância causado por infecção, inflamação ou trauma podem ser fatores que contribuem para o surgimento de sintomas. Acredita-se que a exposição pré-natal às infecções típicas de inverno no primeiro trimestre de gestação possa contribuir para o surgimento de sintomas de TDAH em crianças mais suscetíveis. Fatores como abuso crônico grave, maus-tratos e negligência estão associados a determinados sintomascomportamentais que se sobrepõem ao TDAH, incluindo falta de atenção e controle precário dos impulsos. Os fatores predisponentes incluem o temperamento das crianças e fatores genéticos familiares. Desenvolvimento e Curso Muitos pais observam pela primeira vez uma atividade motora excessiva quando a criança começa a andar, mas é difícil distinguir os sintomas do comportamento normal, que é altamente variável, antes dos 4 anos. Na pré-escola, a principal manifestação é a hiperatividade. O TDAH costuma ser identificado com mais frequência no ensino fundamental, com a desatenção ficando mais saliente e prejudicial. O transtorno fica relativamente estável nos anos iniciais da adolescência, mas alguns indivíduos têm piora, com o desenvolvimento de comportamentos antissociais. Na maioria, sintomas de hiperatividade motora ficam menos claros na adolescência e na vida adulta, embora persistam dificuldades com planejamento, inquietude, desatenção e impulsividade. Na adolescência, sinais de hiperatividade são menos comuns, podendo limitar-se a comportamento mais irrequieto ou sensação interna de nervosismo, inquietude ou impaciência. Na vida adulta, além da desatenção e da inquietude, a impulsividade pode permanecer problemática, mesmo quando ocorreu redução da hiperatividade. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 Fatores de Risco e Prognóstico Temperamentais: O TDAH está associado a níveis menores de inibição comportamental, de controle à base de esforço ou de contenção, a afetividade negativa e/ou maior busca por novidades. Ambientais: Muito baixo peso ao nascer (< 1.500g) confere um risco 2 a 3 vezes maior para TDAH, embora a maioria das crianças com baixo peso ao nascer não desenvolva transtorno. Embora o TDAH esteja correlacionado com tabagismo na gestação, parte dessa associação reflete um risco genético comum. Uma minoria de casos pode estar relacionada a aspectos da dieta. Pode haver história de abuso infantil, negligência, múltiplos lares adotivos, exposição ao chumbo, infecções (ex: encefalite) ou exposição ao álcool no útero. Exposição a toxinas ambientais foi correlacionada com TDAH subsequente, embora não se saiba se são causais. Genéticos e fisiológicos: TDAH é frequente em parentes biológicos de 1º grau com o transtorno. A herdabilidade é substancial. Genes específicos foram correlacionados, mas não constituem fatores causais necessários ou suficientes. Deficiências visuais e auditivas, anormalidades metabólicas, transtornos do sono, deficiências nutricionais e epilepsia devem ser considerados influências possíveis. TDAH não está associado a características físicas específicas, ainda que taxas de anomalias físicas menores (ex: hipertelorismo, palato bastante arqueado, baixa implantação de orelhas) possam ser relativamente aumentadas. Modificadores do curso: Padrões de interação familiar no começo da infância provavelmente não causam TDAH, embora possam influenciar seu curso ou contribuir para o desenvolvimento secundário de problemas de conduta. Consequências Funcionais do TDAH TDAH está associado a desempenho escolar e sucesso acadêmico reduzidos, rejeição social e, nos adultos, piores desempenho, sucesso e assiduidade no campo profissional e maior probabilidade de desemprego, além de altos níveis de conflito interpessoal. Crianças com TDAH apresentam probabilidade significativamente maior de desenvolver transtorno da conduta e transtorno da personalidade antissocial, aumentando, assim, casos de transtornos por uso de substâncias e prisão. O risco subsequente para transtornos por uso de substâncias é alto, especialmente quando se desenvolve transtorno da conduta ou da personalidade antissocial. Indivíduos com TDAH são mais propensos a sofrer lesões. Acidentes e violações de trânsito são mais frequentes em condutores com o transtorno. Pode haver probabilidade aumentada de obesidade. Autodeterminação variável ou inadequada a tarefas que exijam esforço prolongado frequentemente é interpretada pelos outros como preguiça, irresponsabilidade ou falta de cooperação. As relações familiares podem se caracterizar por discórdia e interações negativas. Relações com os pares costumam ser conturbadas devido à rejeição por parte daqueles, negligência ou provocações em relação ao indivíduo com TDAH. Em média, pessoas com o transtorno alcançam escolaridade menor, menos sucesso profissional e escores intelectuais reduzidos na comparação com seus pares, embora exista grande variabilidade. Diagnóstico Diferencial Transtorno de oposição desafiante: Indivíduos com transtorno de oposição desafiante podem resistir a tarefas profissionais ou escolares que exijam autodeterminação pois resistem às exigências dos outros. Seu comportamento caracteriza-se por negatividade, hostilidade e desafio. Tais sintomas devem ser diferenciados de aversão à escola ou a tarefas de alta exigência mental causadas por dificuldade em manter esforço mental prolongado, esquecimento de orientações e impulsividade. Alguns indivíduos com TDAH podem desenvolver atitudes de oposição secundárias. Transtorno explosivo intermitente: Aqui, há agressividade importante dirigida aos outros e não há problemas em manter a atenção como se vê no TDAH. Além disso, ele é raro na infância. Outros transtornos do neurodesenvolvimento: No transtorno do movimento estereotipado, o comportamento motor costuma ser fixo e repetitivo, enquanto a inquietude e a agitação no TDAH costumam ser generalizadas. No transtorno de Tourette, tiques múltiplos e frequentes podem ser confundidos com a inquietude generalizada. Transtorno específico da aprendizagem: Crianças com um transtorno específico da aprendizagem podem parecer desatentas devido a frustração, falta de interesse ou capacidade limitada, mas não acarreta prejuízos fora dos trabalhos acadêmicos. Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual): Sintomas de TDAH são comuns entre crianças colocadas em ambientes acadêmicos inadequados à sua capacidade intelectual. Nesses casos, os sintomas não são evidentes durante tarefas não acadêmicas. Um diagnóstico de TDAH na deficiência intelectual exige que desatenção ou hiperatividade sejam excessivas para a idade mental. Transtorno do espectro autista: Crianças com TEA podem ter ataques de raiva devido a incapacidade de tolerar mudanças no curso dos eventos. Em contraste, crianças com TDAH podem se comportar mal ou ter um ataque de raiva durante alguma transição importante devido a impulsividade ou autocontrole insatisfatório. Transtorno de apego reativo: Essas crianças podem apresentar desinibição social, mas não o conjunto completo de sintomas de TDAH, exibindo, ainda, outras características, tais como ausência de relações duradouras, que não são características do TDAH. Transtornos de ansiedade: Indivíduos com TDAH são desatentos pela atração por estímulos externos, atividades novas ou predileção por atividades agradáveis. Isso é diferente da desatenção por preocupação e ruminação dos transtornos de ansiedade. Transtornos depressivos: Indivíduos com transtornos depressivos podem apresentar incapacidade de se concentrar. Entretanto, a dificuldade ficaproeminente apenas durante o episódio depressivo. Transtorno bipolar: Indivíduos com transtorno bipolar podem ter aumento da atividade, dificuldade de concentração e aumento na impulsividade. Essas características, entretanto, são episódicas. No transtorno bipolar, aumento na impulsividade ou desatenção é acompanhado por humor elevado, grandiosidade e outras características bipolares específicas. Crianças com TDAH podem apresentar mudanças importantes de humor em um mesmo dia; essa labilidade é diferente de um episódio maníaco, que deve durar 4 dias ou mais. O transtorno bipolar é raro em pré-adolescentes, mesmo quando irritabilidade grave e raiva são proeminentes, ao passo que o TDAH é comum entre crianças e adolescentes. Distúrbios Psiquiátricos e Comportamentais Maysa Araújo Gomes Ferraz FPS MED14 Transtorno disruptivo da desregulação do humor: O transtorno caracteriza-se por irritabilidade pervasiva e por intolerância a frustração, mas impulsividade e atenção desorganizada não são aspectos essenciais. A maioria, no entanto, preenchem critérios para TDAH, que deve ser diagnosticado em separado. Transtorno por uso de substância: Diferenciar esses transtornos pode ser um problema se a primeira apresentação dos sintomas do TDAH ocorrer após o início do abuso ou uso frequente. Evidências claras de TDAH antes do uso problemático de substâncias, obtidas por meio de informantes ou registros prévios, podem ser essenciais para o diagnóstico diferencial. Transtornos da personalidade: Em adolescentes e adultos, pode ser difícil diferenciar TDAH dos transtornos da personalidade borderline, narcisista e outros transtornos da personalidade. Todos tendem a compartilhar características de desorganização, intrusão social, desregulação emocional e desregulação cognitiva. O TDAH, porém, não é caracterizado por medo do abandono, autolesão, ambivalência extrema ou outras características de transtornos da personalidade. Pode haver necessidade de observação prolongada para que seja feito esse diagnóstico diferencial. Transtornos psicóticos: O TDAH não é diagnosticado se os sintomas de desatenção e hiperatividade ocorrem exclusivamente durante o curso de um transtorno psicótico. Sintomas de TDAH induzidos por medicamentos: Desatenção, hiperatividade ou impulsividade atribuíveis ao uso de medicamentos (broncodilatadores, isoniazida, neurolépticos, terapia de reposição para a tireoide) são diagnosticados como transtorno por uso de outra substância ou transtorno relacionado a outra substância (ou substância desconhecida não especificada). Transtornos neurocognitivos: Essas condições são diferenciadas do TDAH por seu início tardio. Não se sabe se transtorno neurocognitivo maior precoce (demência) e/ou transtorno neurocognitivo leve estão associados ao TDAH, embora possam se apresentar com características clínicas semelhantes. Comorbidade Transtorno de oposição desafiante, transtorno da conduta, transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno específico da aprendizagem são comumente comórbidos. Transtornos de ansiedade, transtorno depressivo maior e transtorno explosivo intermitente ocorrem em uma minoria de indivíduos, embora com maior frequência do que na população em geral. Ainda que transtornos por abuso de substância sejam relativamente mais frequentes entre adultos com TDAH na população em geral, estão presentes em apenas uma minoria deles. Nos adultos, transtorno da personalidade antissocial e outros transtornos da personalidade podem ser comórbidos. Outros transtornos incluem o TOC, os transtornos de tique e o transtorno do espectro autista. Farmacoterapia A terapia farmacológica é o tratamento de primeira linha para TDAH. Os estimulantes do SNC são a primeira escolha de agentes levando-se em conta que têm maior eficácia, e os efeitos colaterais geralmente são toleráveis. Esses agentes são contraindicados em indivíduos com anormalidades e riscos cardíacos conhecidos. Disponíveis no Brasil: - Preparações de metilfenidato: Ritalina, Concerta. - Preparações de dextroanfetamina: Dexedrine. - Lisdexanfetamina: Venvanse. Dexedrine pode ser usado a partir dos 3 anos. Os outros, aos 6. As preparações de metilfenidato são altamente eficazes em até 75% das crianças com TDAH, com poucos efeitos adversos. Venvanse (dimesilato de lisdexanfetamina) é um pró-medicamento da dextroanfetamina que depende do metabolismo intestinal para atingir a forma ativa. Ele ermanece inativo até a metabolização, é um agente com menor probabilidade de risco de abuso ou de overdose. Efeitos colaterais e eficácia assemelham-se aos outros. Os medicamentos não estimulantes aprovados pela FDA incluem a atomoxetina, um inibidor da recaptação de norepinefrina (alerta: aumento potencial em pensamentos ou comportamentos suicidas). Descobriu-se que alfa-agonistas, incluindo clonidina e guanfacina, também são medicamentos eficazes no tratamento de TDAH. Bupropiona tem sido usada com vários graus de sucesso. OBS: Recomenda-se verificar trimestralmente estatura, peso, PA e pulso e fazer um exame físico anual em crianças e adolescentes que estejam em tratamento com estimulantes. Intervenções psicossociais Psicoeducação, habilidades de organização acadêmica, reabilitação, treinamento de pais, modificação comportamental na sala de aula e em casa, TCC e treinamento em habilidades sociais. O nível de ansiedade diminui quando as crianças recebem ajuda para estruturar seus ambientes. Uma das metas terapêuticas mais comuns é ajudar os pais de crianças com TDAH a reconhecer e promover a noção de que, mesmo que não consigam apresentar “voluntariamente” os sintomas do transtorno, as crianças ainda podem ser capazes de atingir expectativas razoáveis.
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