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Literatura Infanto Juvenil Questão 1) - 0,50 ponto(s) Para a solução desta questão, leia e interprete o seguinte texto: Características da poesia infantil brasileira em tempos diversos: Transpondo esta noção de criança como noção histórica para o panorama verde-amarelo da infância brasileira e dos livros a ela destinados, cumpre ao professor de Língua Portuguesa entender que a criança que JANSEN tinha em mente ao traduzir clássicos infantis para a editora Laemmert era diferente, por exemplo, da criança para a qual Olavo BILAC compôs suas Poesias Infantis; esta, por sua vez, não se confundia com a criança para a qual Monteiro LOBATO criou o Sítio do Picapau Amarelo, e nenhuma delas, com a criança para a qual Francisco MARINS escreveu a saga de Taquara Poca, a qual também não se confunde com a criança que lê e se identifica com O Gênio do Crime, de João Carlos MARINHO. [...] Assim inscritas na história, as formulações apressadas que fazem das crianças anjos ou animais começam a mostrar o percurso de construção de tais formulações, para as quais muito contribuíram disciplinas diversas, como a Pedagogia e a Psicanálise (para ficarmos só na letra P). E, se é verdade que o educador não precisa acreditar em nenhuma delas, precisa conhecê-las todas para posicionar-se frente a elas, discuti-las sempre, de forma a poder reconhecer com transparência quando uma ou outra se manifesta nas entrelinhas de propostas de alfabetização, ou projetos de leitura. (LAJOLO, Marisa. A Formação do Professor e a Literatura Infanto-Juvenil. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_05_p029- 034_c.pdf). Como se pode depreender do texto acima, as concepções de infância e a escolha de textos mais adequados a cada perfil e a cada objetivo pedagógico são saberes essenciais aos operadores da leitura na escola, especialmente professores e bibliotecários. Mostre que você sabe analisar textos com diferentes concepções, interesses e finalidades, para sua adequada aplicação em sala de aula. Para isso, relacione cada trecho de texto a seguir com sua respectiva interpretação. A - Chapeuzinho Amarelo - Chico Buarque [...] E de todos os medos que tinha o medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO. Um LOBO que nunca se via, que morava lá pra longe, do outro lado da montanha, num buraco da Alemanha, cheio de teia de aranha, numa terra tão estranha, que vai ver que o tal do LOBO nem existia.[...] (Publicado em 1979) B - A Pátria – Olavo Bilac Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este! Olha que céu! que mar! que rios! que floresta! A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, É um seio de mãe a transbordar carinhos. Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos, [...] Criança! não verás país nenhum como este: Imita na grandeza a terra em que nasceste! (Publicado no início do século XX, sem data oficial) C - Cuidados maternais – Zalina Rolim [...] Minha filhinha, a todo o encanto alheia, Descansa em meus joelhos; E nos seus lábios doces e vermelhos, Leve sorriso ondeia. Pesa-lhe o sono; já entreabre a custo Os olhos sonolentos, E adormecê-la assim exposta aos ventos, Causa-me grande susto. Tão melindrosa e frágil! Pobre anjinho! Traz-me em perpétuo anseio... Quem me dera escondê-la no meu seio Em faixas de carinho!... E conservá-la assim -meu sonho eterno - No íntimo do peito, E de amor construir-lhe o níveo leito No coração materno!... (Publicado em 1897) D - Jogo de Bola – Cecília Meireles A bela bola rola; a bela bola do Raul. Bola amarela a da Arabela. A do Raul, azul. Rola a amarela e pula a azul. A bola é mole, é mole e rola. A bola é bela, é bela e pura. (Publicado em 1964) E - Saci Pererê Menino negrinho, levado e arteiro Só tem uma perna, mas salta de lá pra cá o dia inteiro A carapuça vermelha o deixa invisível Adora traquinagens, se acha invencível. Fuma cachimbo E tem joelho machucado Mas não se engane, Ele não é nenhum coitado. [...] (Conto do folclore popular brasileiro, s. d.) Interpretações: ( ) Exploração do ritmo, da rima e de outros valores linguísticos e sonoros, revestindo conteúdo valores nacionalistas, demonstrando objetivo de formar nas crianças os cidadãos destinados a consolidar uma nação forte, que busca respeito e valorização das comunidades interna e internacional. ( ) Poesia em sua dimensão lúdica, acentuada pelo movimento das letras e pela rima, um recurso para agradar o ouvido, mostrando requinte e elaboração por parte do autor, que tem intenção estética na sua relação com a criança leitora. ( ) Sátira contemporânea, estabelecendo intertextualidade com narrativa infantil dos Irmãos Grimm, Século XIX. ( ) Texto popular, que circula entre as comunidades pobres, de cultura oral, visto que as crianças da nobreza liam os grandes clássicos da literatura infantil. ( ) Expressa valores burgueses, voltados para a consolidação de uma sociedade tradicional, com estereótipos familiares explorados em versos destinados a crianças, mas com métrica, sonoridade e vocabulário distantes do universo infantil. A sequência CORRETA é a seguinte: A) B, D, E, A, C B) C, E, D, A, B C) C, D, E, A, B D) D, A, B, C, E E) B, D, A, E, C Literatura Infanto Juvenil Questão 2) - 0,50 ponto(s) As operações envolvidas em reconhecer as letras e seus sons, compor a sílaba e identificar a palavra ou expressão acontecem recursivamente ao longo do texto, cujo processamento mais global, ou seja, de parágrafos ou trechos maiores, interfere no processamento mais local, ou seja, no reconhecimento das letras, sons, sílabas e palavras, gerando um ciclo em que o significado do todo colabora para a identificação das partes e as partes, por sua vez, desempenham também um papel fundamental para a construção do todo. Desde a alfabetização, uma leitura fluente depende de uma decodificação bem feita. Isso não significa que o leitor precise decompor, uma por uma, as palavras em sílabas e as sílabas em letras. Uma leitura assim demandaria muito tempo de processamento e prejudicaria a construção do sentido. A fluência da leitura depende de uma decodificação rápida e precisa, em que o leitor reconhece palavras e expressões como um todo, sem precisar identificar conscientemente cada uma das suas partes. Essa decodificação rápida é crucial, uma vez que libera mais recursos cognitivos do leitor para a construção de sentidos do texto e para utilização de outras estratégias de leitura que ampliarão seus níveis de proficiência. Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/deco dificacao. Acesso em: 08 mai. 2019 (adaptado). Considerando a perspectiva da leitura como decodificação, avalie as posturas metodológicas a seguir. I. A leitura decodificação, também conhecida como busca de informação, envolve informações que estão na superfície do texto, devendo, para isso, serem priorizados textos de natureza informativa, não literária. II. A leitura de um material escrito, que visa à busca de informações, seja em nível superficial ou mais profundo, não só é aplicada em aulas de Língua Portuguesa, quando de atividades de interpretação de texto, por exemplo, mas também em outras disciplinas em várias outras atividades de ensino. III. Há, minimamente, duas formas metodológicas para a abordagem da leitura decodificação em sala de aula: busca de informação com roteiro previamente elaborado, por exemplo, um estudo dirigido, e a busca de informação sem roteiro previamente elaborado, quando o aluno lê o texto e retira de lá as informações que julgar importantes. É correto o que se afirma em A) II e III, apenas. B) I, II e III. C) I, apenas. D) III, apenas. E) I e II, apenas. Literatura Infanto Juvenil Questão 3) - 0,50 ponto(s)Leia o texto: O imaginário na literatura (Marcial Salaverry) “Partindo-se do princípio que "imaginário", é algo que só existe em nossa imaginação, pode-se chegar à conclusão de que tudo aquilo que não puder ser materialmente provado, pertence ao imaginário. Coisas imaginárias são aquelas cuja existência não pode ser comprovada. Vamos então imaginar a importância do imaginário na produção literária. A grande maioria dos livros existentes fala de coisas imaginárias, exceção feita aos livros de cunho científico, bem como daqueles que tratam de fatos e feitos históricos que podem ser provados por documentos legítimos. Existem muitos que falam de fatos que nos são passados por depoimentos através dos anos. Serão reais, ou pertencem ao imaginário das pessoas? Certos fatos narrados, como por exemplo, o propalado romance entre Cleópatra e Marco Antônio, ou mesmo a beleza de Cleópatra, são fatos reais, ou imaginados. Não existem fotografias provando... nem sequer um VT da morte da Cléo... Teria ela existido? Não se pode em definitivo separar o que é história, do que é estória...” O imaginário nas histórias e estórias pode ser compreendido, principalmente A) porque desvela o mundo, trabalhando com aspectos que achamos que existe, mas na verdade inexiste. B) porque evidencia a racionalidade, com criações objetivas, despreocupadas com o caráter lúdico. C) porque apresenta um jogo de palavras que não se atribui a fatos verossímeis. D) porque reequilibra fatos verídicos com fatos ficcionais. E) porque foca nos mitos antigos, uma vez que esse gênero trabalha exclusivamente com temáticas inverossímeis. Literatura Infanto Juvenil Questão 4) - 0,50 ponto(s) Leia os textos a seguir. TEXTO 1 Fábula é um tipo de história que traz uma moral, ou seja, ensina uma lição. É geralmente uma narrativa curta, em que animais falam, pensam e agem como gente. E, por destacarem qualidades e defeitos humanos, os animais mostram quão bobas ou sábias as pessoas podem ser. As fábulas são muito usadas nas sessões de contação de histórias. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/fábula/481262. Acesso em: 9 dez. 2019. TEXTO 2 Considere a atividade a seguir, elaborada para ser trabalhada com alunos do Ensino Fundamental. Disponível em: https://revistazunai.com.br/atividades-com- fabulas-1o-2o-3o-e-4o-ano/. Acesso em: 09 dez. 2019. A partir do conceito de fábula, da atividade em análise e considerando o trabalho com a narrativa infantil em ambiente escolar, avalie as asserções a seguir e a relação entre elas. I. Embora a atividade apresente o gênero fábula, típico gênero de natureza narrativa, não se vê priorizado aspectos relacionados à abordagem de aspectos da narrativa infantil. PORQUE II. O foco da atividade é o preenchimento das lacunas com as palavras previamente indicadas, deixando, por exemplo, em segundo plano a abordagem de elementos como: o enredo, as personagens etc. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. B) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. C) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. D) As asserções I e II são proposições falsas. E) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. Literatura Infanto Juvenil Questão 5) - 0,50 ponto(s) Dentro da ética e integridade moral do professor, tem a responsabilidade social e o mesmo entra como motivador na busca incessante de promover condições do aluno aprender a conhecer a si e ao seu próximo, o seu meio e outros inseridos no mesmo mundo que o seu. Ao professor é atribuído, além da responsabilidade do ensino, o de conduzir o aluno à vontade de ler, ao hábito da leitura, ou seja, de ler por prazer. Ainda, o professor tem a necessidade de desenvolver mecanismos para que seus alunos consigam não só decodificar os escritos dos textos, mas principalmente que haja a compreensão da ideia transmitida pelo mesmo. COELHO, Kesia. A importância da leitura na educação infantil: um estudo teórico. Disponível em:<https://fapb.edu.br/wp- content/uploads/sites/13/2018/02/especial/4.pdf>. Acesso em: 01 jun.2019 Considerando o texto apresentado e as atribuições do professor, é correto afirmar que A) o professor é responsável por todo o processo, compete-o recorrer a meios e estratégias para manter uma educação clássica e centralizadora. B) o professor deve auxiliar o aluno diante das suas dificuldades e apresentá-lo o mundo da leitura perante ao modelo educacional já estruturado. C) o professor é peça fundamental nesse processo e cabe-lhe direcionar o aluno a partir de métodos já estabelecidos e respeitar a educação formal tradicional. D) o professor é o componente fundamental para o sucesso do aluno, visando manter o equilíbrio e modelo educacional até então estabelecido. E) o professor tem a função de viabilizar o processo de desenvolvimento do aluno e ajudar a potencializá-lo, estimulando a imaginação e o hábito da leitura para o êxito do ensino. Literatura Infanto Juvenil Questão 6) - 0,50 ponto(s) Gregorin Filho (s.d.), em texto transcrito na Coletânea de Textos da disciplina Literatura infantil e o Imaginário da Criança, afirma o seguinte: "Então, falar de literatura infantil é, de certo modo, vincular um determinado tipo de texto com as práticas sociais que foram se impondo na comunidade e na educação das novas gerações, principalmente após a segunda metade do século XIX. Assim, na maioria dos livros que buscam tratar do assunto, há o questiona mento: a literatura infantil é instrumento pedagógico ou é arte?" Sobre as relações entre o trabalho com a literatura infantil como arte e como recurso pedagógico de ensino de outros conteúdos, julgue as afirmações a seguir. I. A literatura infantil trabalhada na escola apenas como arte está presente nas fábulas e nos poemas nacionalistas, que partem de uma moral dogmática para a formação da sociedade. II. Tratada como recurso pedagógico, a literatura é um instrumento manipulado por uma intenção educativa, uma literatura informativa, com fatos cientificamente comprováveis. III. A escolha pelo professor de um trabalho moralizante com as obras literárias, dentro de paradigmas sociais tradicionais, revela uma tendência conservadora de docência, mais comum no início século XX. IV. A polêmica entre arte e pedagogia é gerada porque não há obras que pertencem, simultaneamente, ao universo lúdico da literatura e ao mundo real dos valores de cada época. V. Obras de cunho didático pedagógico, segundo as fontes estudadas na disciplina "Literatura infantil e o imaginário da criança", têm sido utilizadas para que o ato de ensinar seja duplamente relevante: desenvolve o hábito de leitura e os valores morais. É CORRETO apenas o que se afirma em A) I, IV, V. B) II, III, V. C) I, II, III. D) II, III. E) II. III, IV. Literatura Infanto Juvenil Questão 7) - 0,50 ponto(s) A circulação da poesia oral é um fenômeno comum a todas as culturas. Mesmo as culturas letradas, como a nossa, não deixam morrer ou se apagar da memória as parlendas, as canções, os brincos, as quadras, os dísticos e os trava-línguas. Todo esse repertório fica em nossas mentes pela musicalidade, pelo caráter brincalhão, e, sobretudo, por nos suspender um pouco de trabalho duro, as dificuldades do cotidiano e nos colocar num regime de sonho ou de contenda, do modo mais gratuito possível. Para transmitir esse material, herança familiar, de amigos próximos, de professores é preciso cultivar a oralidade. Se não sabemos mais de cor, é possível ler e reler com as crianças o que já foi escrito. Mas não é só ler para a criança, é ler para nós mesmos e reencontrar a alegria daaudição de um verso bonito, de uma história musical, de uma adivinha que mobiliza nossa fantasia. [...] ALVES, J. H.; SOUZA, J. R.; GARCIA, Y. M. R. Lendo e brincando com sextilhas e outros versos. In: SOUZA, R. J.; FEBA, B. L. T. (Org.) Leitura literária na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2011. A partir do texto supracitado, analise as seguintes asserções e a relação entre elas. I. No que tange à Educação Infantil, um dos objetivos de aprendizagem que a Base Nacional Curricular aponta é levar a criança a "manipular textos e participar de situações de escuta para ampliar seu contato com diferentes gêneros textuais", o que leva metodologicamente a considerar que aspectos da oralidade possam ocorrer a partir de textos que se associem a fontes escritas. PORQUE II. Embora não haja uma receita a ser aplicada de modo invariável para o trabalho voltado para a oralidade, é perceptível que é, muitas vezes, necessária a materialização desse trabalho a partir de alguns gêneros orais que têm claras manifestações escritas, como as músicas e as parlendas. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. B) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. C) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. D) As asserções I e II são proposições falsas. E) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. Literatura Infanto Juvenil Questão 8) - 0,50 ponto(s) O poeta Oswald de Andrade escreveu os seguintes versos: “ Aprendi com meu filho de dez anos / Que poesia é a descoberta / das coisas que nunca vi.”. Em sala de aula, a poesia pode ser explorada de muitas formas. É papel do professor promover práticas que estimulem o desenvolvimento da criança em vista dessa exploração. Para tanto, julgue os itens a seguir. I. Um poema, ao ser escolhido pelo professor, precisa voltar-se para uma visão moralizadora, falando de costumes, portanto, de uma maneira de educar as crianças até sete anos, algo essencial nessa faixa etária. II. Um poema a ser trabalhado com crianças, sobretudo da Educação Infantil, precisa necessariamente ser de pequena extensão, para que sua leitura não seja cansativa, e tratar de temas associados à sua realidade. III. Um poema precisa ser trabalhado visando ao desenvolvimento pleno da criança, por isso priorizar o lúdico é uma estratégia metodológica para alcançar esse objetivo. IV. A escolha de um poema para crianças, seja da Educação Infantil, seja do Ensino Fundamental I, precisa priorizar a qualidade do texto, permitindo que o trabalho com ele tanto mostre o mundo que a criança já conhece, quanto abra as portas para um mundo novo, voltado para a exploração da imaginação. V. A leitura em voz alta do poema associada à exploração de aspectos sensoriais, como ritmo e rima, pode estimular a imaginação da criança, por conseguinte a compreensão do poema. É CORRETO o que se afirma em A) II e III. B) II, III e IV. C) I, IV e V. D) I, II e III. E) III, IV e V. Literatura Infanto Juvenil Questão 9) - 0,50 ponto(s) As histórias a que chamamos mitos exercem grande influência sobre o contexto cultural; sua universalidade e permanência, até hoje revelam sua relevância para a humanidade. Os mitos são uma narrativa de mundo, uma maneira de reconhecer os povos pela sua cultura e por seu período histórico. Além disso, os mitos, como narrativas do discurso oral, se aproximam dos gêneros a que Baktin (1998, apud Schneuwly, 2004) chama de primários, todavia como as narrativas escritas da literatura incorporam as primeiras e transformam-se em gêneros secundários, sendo mais complexificado; instrumentos de enunciação, dialogia, de formação de pensamento, as narrativas míticas tornam-se, também, fundamentais ao processo de apropriação da língua, visto o seu valor social, e não como sistema. Tais pressupostos encaminham-nos para pensar a prática de apropriação da leitura/escrita por meio de atividade literária com narrativas míticas de forma mais coerente com o entorno da própria criança, pois as escolhas realizadas no momento da leitura/escrita, quanto à palavra lida/utilizada, quando ao estilo e às formas linguísticas levam em consideração a relação existente entre os correspondentes. GIROTTO, C. G., REVOREDO, M. Narrativas míticas e a apropriação da leitura/escrita literária: uma proposição prática. In: SOUZA, R. J. de; FEBA, B. L. T. Leitura literária na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2011, pp. 155-156. Partindo do texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas. I. A adoção de narrativas míticas no contexto escolar volta-se para a formação de um leitor literário, por meio de práticas que visem ao encantamento pelo texto de natureza literária. PORQUE II. O gênero mito pertence, conforme propõe a Base Nacional Comum Curricular, ao campo artístico-literário, devendo, portanto, o professor pensar, por exemplo, em levar os alunos a elaborarem outros textos a partir das narrativas míticas, como um texto de natureza teatral. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta. A) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. B) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. C) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. D) As asserções I e II são proposições falsas. E) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. Literatura Infanto Juvenil Questão 10) - 0,50 ponto(s) Analise a página transcrita a seguir, do livro “Chapeuzinho Amarelo”, com texto de Chico Buarque de Holanda e ilustração de Ziraldo, para responder à questão colocada a seguir, sobre ilustrações das histórias infantis. [...] Tinha medo de trovão. Minhoca, pra ela, era cobra. E nunca apanhava sol Porque tinha medo de sombra. Não ia pra fora pra não se sujar. Não tomava sopa pra não ensopar. Não tomava banho pra não descolar. Não falava nada pra não engasgar. Não ficava em pé com medo de cair. Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo. [...] Julgue as afirmações a seguir, levando em consideração os estudos empreendidos em sala de aula. I. O professor deve fazer com os alunos uma leitura crítica da ilustração do livro: se tem qualidade, se corresponde ao texto da página onde se encontra, se há espaço suficiente para garantir o conforto visual. II. É preciso observar se a ilustração e o texto são frutos do diálogo sadio e harmonioso entre os dois artistas autores. III. O professor deve preferir livros com ilustrações que reproduzam fielmente o texto, que sejam a cópia exata do escrito. IV. A escolha de um livro deve recair sobre aqueles cujas ilustrações sejam conotativas, permitindo que as crianças imaginem e recriem o texto. V. A ilustração deve prevalecer nos livros das crianças a partir de nove anos. É CORRETO apenas o que se afirma em A) I e II. B) I, IV e V. C) I, II e IV. D) II, III e IV. E) III, IV e V. Literatura Infanto Juvenil Questão 11) - 0,50 ponto(s) As histórias na Educação Infantil são fundamentais para a formação da criança. Acerca do papel das histórias na educação infantil, julgue os itens a seguir. I. Desenvolve, na criança, o gosto pela leitura, e amplia seu vocabulário. II. Desenvolve o poder de observação da criança, além da sua linguagem oral e escrita. III. Educa a atenção das crianças e desenvolve o gosto artístico e literário delas. É CORRETO o que se afirma em A) II apenas. B) I, II e III. C) II e III, apenas. D) I e III, apenas. E) I apenas. Literatura Infanto Juvenil Questão 12) -0,50 ponto(s) O processo de leitura, muitas vezes, inicia-se em casa com pais leitores que dão exemplo aos seus filhos. No entanto, quando essa prática não tem início no seio familiar, é na escola que esse contato com os livros acontecerá. [...] Magnani (2001) diz que, para aprender a ler e a escrever, é preciso, antes de tudo, ser alfabetizado, processo que cabe diretamente à escola. À escola fica a responsabilidade de incentivar, motivar o hábito de leitura, mostrar que o ato de ler é algo interessante. Segundo o PCN (1997, p.43) “[...] [u]ma prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente”. COELHO, Kesia. A importância da leitura na educação infantil: um estudo teórico. Disponível em: https:// fapb.edu.br/wp-content/uploads/sites/13/2018/02/especial/4.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2019 (adaptado). Em relação à leitura infantil e à formação do leitor infantil, julgue os itens a seguir. I. É de suma importância estimular a criança ao hábito da leitura tanto no âmbito familiar quanto no escolar, porque esse fato ajuda a desenvolver diversos pontos, como o raciocínio lógico. II. Observa-se a importância de despertar, desenvolver e cultivar o hábito da leitura nas crianças desde cedo, pois uma educação que não desperta o interesse pelos livros está fadada ao fracasso. III. Compete à escola encontrar metodologias que despertem o interesse dos alunos pela leitura, transformando-os em leitores assíduos. IV. Acesso a diferentes suportes de leitura deve ser incentivado desde a Educação Infantil, pois o acesso ao impresso não é mais suficiente para garantir o gosto pela leitura. É correto o que se afirma em A) II e III, apenas. B) I, III e IV, apenas. C) I e II, apenas. D) I, II, III e IV. E) II e IV, apenas. Literatura Infanto Juvenil Questão 13) - 0,50 ponto(s) Ao longo de seu percurso histórico, a literatura infantil passou por diversas fases, tendo experimentado perfis diferentes. Sobre a história da literatura infantil, avalie os itens a seguir. I. Ao longo da história, a literatura para crianças acompanhou as concepções de infância de cada época. II. A literatura infantil é uma decorrência da adaptação de textos literários para adultos, sendo, por isso, um gênero menor, secundário, reduzido em seu valor intrínseco. III. A literatura infantil passou a ser escrita diretamente para crianças de grupo familiar configurado como burguês, com a nucleação doméstica. IV. Como arte e fruição estética, a história da literatura infantil teve seu próprio caminho, com autonomia em relação ao percurso histórico da humanidade. V. Em sua travessia, a literatura infantil refletiu ideologias e posições políticas do autor/produtor e, dessa forma, de seu contexto. É correto apenas o que se afirma em A) IV e V. B) I, III e V. C) I, II e III. D) II, III e V. E) II e IV. Literatura Infanto Juvenil Questão 14) - 0,50 ponto(s) As narrativas infantis abarcam diversas espécies literárias, que podem ser divididas de acordo com a origem, em folclóricas e em artísticas. Nas folclóricas, pode-se incluir as histórias elaboradas de forma coletiva pela sociedade em diversas épocas, como as fábulas, os contos populares, contos tradicionais e as lendas. Já nas narrativas artísticas, podem-se identificar os autores pelo nome, como exemplo desta modalidade, estão os contos de fadas modernos e os textos infantis. Deste modo, quanto mais interessada a criança fique com as narrativas, mais prazeroso e fácil será o processo de alfabetização. Apresentar temáticas, espécies e assuntos diversificados aumenta a chance dos alunos se identificarem com a produção literária. Acerca das espécies literárias das narrativas infantis, analise as assertivas abaixo. I. Diferentemente do apólogo e da parábola, a fábula traz um ensinamento moral com o transcorrer da história dos personagens. II. A lenda procura explicar acontecimentos naturais como o dia e a noite, além de preparar as crianças para as relações interpessoais, por meio da narrativa acerca dos hábitos e costumes. III. Os contos populares do Brasil estão inclusos no folclore. Entre as obras desta espécie estão Pequeno polegar, O gato e a raposa e O Chapeuzinho Vermelho. Está correto o que se afirma em A) I, apenas. B) I e II, apenas. C) I, II e III. D) II, apenas. E) II e III, apenas. Literatura Infanto Juvenil Questão 15) - 0,50 ponto(s) "O pedaço de madeira é capaz de disparar raios. A colcha da cama vira manto de princesa. O carro minúsculo pode percorrer todas as estradas do mundo. Ao brincar, o pensamento da criança desprende-se dos objetos e a ação que ela interpreta depende mais de suas ideias do que das coisas com que brinca. Ela vive uma situação imaginária, que simula com movimentos. Às vezes, também com narrações mínimas que faz a si mesma. Enquanto brinca, ela se diverte e reordena as próprias vivências. Explora livremente o mundo. As histórias infantis cumprem função semelhante à do brinquedo. Ninguém questiona que, em algumas delas, tapetes voem ou bichos falem. Iniciada a história, entra-se no jogo. Ele permitirá que circunstâncias e sentimentos, antes confusos, sejam simbolizados e ordenados. Nada muito diferente do que acontece com o adulto, quando se envolve com um romance, um filme, uma novela." Esse mundo imaginário, recheado de aventuras, é concedido à criança que lê através dos textos narrativos. A narrativa literária infantil consiste, principalmente, em A) trabalhar com argumentos que apresentam caráter científico e dados reais. B) descrever personagens e objetos capazes de ativar aspectos sensoriais na criança. C) apresentar histórias de personagens que se encontram em situações confortáveis, deixando que a criança imagine o desfecho à narrativa. D) copiar um modelo de história real, trazendo muitas vezes a abstração da linguagem. E) contar histórias que apresentam personagens, ações concatenadas e um desfecho. Literatura Infanto Juvenil Questão 16) - 0,50 ponto(s) A história alimenta a imaginação da criança, há quem conte histórias para enfatizar mensagens, transmitir conhecimento, disciplinar e até fazer uma espécie de chantagem: ‘se ficarem quietos, conto uma história’, ‘se isso’, ‘se aquilo’, quando o inverso que funciona. A história aquieta, serena, prende atenção, informa, socializa e educa. O compromisso do narrador é com a história, enquanto fonte de sofisticação de necessidades básicas das crianças. Se elas escutarem desde pequeninas, gostarão de livros, vindo a descobrir neles histórias como aquelas que lhes eram contadas. COELHO, Betty. Contar histórias: uma arte sem idade. 10. ed. São Paulo: Ática, 2002. A respeito das funções do educador (professor) no que se refere à promoção da leitura por meio da literatura infantil, julgue os itens a seguir. I. O professor deve apresentar livros com textos complexos com a finalidade de superar os níveis e interpretação. II. É necessário que o professor propicie situações de interação aos alunos, nas quais possam relacionar teoria e prática a respeito das leituras realizadas. III. Devem-se apresentar livros de qualidade, de diferentes temas e gêneros a fim de atender ao gosto dos alunos. IV. No momento de seleção de livros, é preciso estar atento às provocações estilística do autor, à adequação do texto à faixa etária e também ao desenvolvimento cognitivo do educando. V. O professor deve selecionar os livros adequados à sua turma, decidindo o livro que será lido, pois é ele quem conhece o que melhor se adequa aos seus educandos. É correto apenas o que se afirma em A) II, III e IV. B) II, III, e V. C) I, III, e V. D) I, IV e V. E) I, II e IV. Literatura Infanto Juvenil Questão 17) - 0,50 ponto(s) Leiao trecho a seguir para responder ao que se pede. “As narrativas orais são criações populares e de cunho anônimo que surgiram num momento em que a ênfase era a oralidade e se espalharam devido à memória e à habilidade dos narradores que, de geração em geração, mantinham a tradição viva. São histórias que foram vinculadas ao imaginário popular ou à memória coletiva, destinadas a ouvintes, adultos e crianças, que, como não viviam numa cultura escrita, reuniam-se, à noite, ao redor de fogueiras ou lareiras, para escutar as histórias. O interesse pela temática Narrativa Oral na Educação Infantil surgiu a partir da observação de como as histórias, lidas ou contadas exercem um fascínio sobre as crianças.” Disponível em: <http://www.ceelufpe.com.br>. Acesso em: 22 maio 2012. As narrativas orais surgiram por uma necessidade do homem em explicar sua própria origem, bem como a origem das coisas, trazendo significados a sua existência, porém quanto a sua forma A) a história oral narrada sofre influência, acréscimos e alterações a partir de informações relativas à época e aos valores da comunidade onde é narrada B) a história oral transforma o desfecho, situando cada lição de moral às necessidades do que precisa ser evidenciado em cada região. C) a história narrada mantém as características da versão original, assim como a escrita. D) a história oral constantemente adapta versões, aspectos sociais e culturais bem diferentes em cada região que é narrada. E) a história oral considera o que está em voga na mídia e se transforma, adequando-se à contemporaneidade. Literatura Infanto Juvenil Questão 18) - 0,50 ponto(s) Nas palavras de Nelly Novaes Coelho, a fábula é "[...] narrativa de uma situação vivida por animais que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. A fábula é uma narração alegórica, quase sempre em versos, cujos personagens são geralmente animais, e que encerra em uma lição de caráter mitológico, ficção, mentira, enredo de poemas, romance ou drama. Contém afirmações de fatos imaginários sem intenção deliberada de enganar, mas, sim de promover uma crença na realidade dos acontecimentos." SILVA, Janaina Aires da e VIANA, Janielly Santos de Vasconcelos. Entre a imaginação e a reflexão: uma proposta de trabalho com o gênero fábula em sala de aula. IV Simpósio nacional de Linguagens e gêneros textuais. Disponível em https://www.editorarealize.com.br/revistas/sinalge/t rabalhos/TRABALHO_EV066_MD1_SA16_ID1264_15032017164 407.pdf. Acesso em 31/03/2019. A fábula, no âmbito ético, se desenvolve a partir A) de conceitos antagônicos e imaginativos, o que produz uma compilação de fenômenos, de sentimentos e de imagens que não procedem no cotidiano. B) do contexto moral por propiciar uma construção de identidade lúdica infantil, a qual se manifesta como fantasia desconexa da realidade. C) de fantasias que contribuem para a construção do imaginário literário da criança. D) da dimensão da conduta humana, porque a alegoria objetiva favorecer a interação, o que colabora para o desenvolvimento de comportamentos sociais, além de contribuir para a formação do caráter da criança. E) de ideias soltas e abstratas, as quais fazem com que a criança se desenvolva apenas no campo do imaginário, fora do contexto real. Literatura Infanto Juvenil Questão 19) - 0,50 ponto(s) Sobre as funções da Literatura Infantil, são feitas as seguintes afirmações: I- A primeira e grande função da Literatura Infantil é divertir, o que é demonstrado pela manifestação da criatividade através do poder poético-lúdico com a palavra. Isso pode ser comprovado em um texto como: O anãozinho alisou as antenas, escovou as grandes asas coloridas e saiu voando. - Zzzzzzzzz! - exclamou bem humorado. E a velhinha bem velhinha, que não pensava mais em nada, ficou pensando que o anãozinho verde era uma borboleta azul. (Disponível em: www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/17310?locale=en. Acesso em 30 de set. 2017) II- Emocionar é uma das funções da Literatura Infantil no sentido que ela manifesta a sensibilidade através da expressividade das palavras combinadas pelo poeta para produzir efeitos de sentido. Isso pode ser comprovado em um texto como: A Lua foi ao Cinema Paulo Leminski A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado, a história de uma estrela que não tinha namorado. Não tinha porque era apenas uma estrela bem pequena, dessas que, quando apagam, ninguém vai dizer, que pena! Era uma estrela sozinha, ninguém olhava para ela, e toda a luz que ela tinha cabia numa janela. A lua ficou tão triste com aquela história de amor, que até hoje a lua insiste: – Amanheça, por favor! (Disponível em: http://leiturinha.com.br/blog/10-poemas-famosos- para-ler-com-as-criancas/. Acesso em 27 de set. 2017) III- Educar, conscientizar e instruir são duas funções da Literatura Infantil que se aproximam muito, mas que, por seu caráter, muitas vezes, moralizador, devem ser preteridas no processo de ensino aprendizagem, principalmente, na Educação Infantil, evitando-se, assim, que se entre em choque com os parâmetros familiares. Contudo, um exemplo de texto que exemplifica essas funções é: Um rato que morava na Cidade, acertando de ir ao campo, foi convidado por outro, que lá morava, e levando-o à sua cova, comeram ambos cousas do campo, ervas e raízes. Disse o Cidadão ao outro: – Por certo, compadre, tenho dó de ti, e da pobreza em que vives. Vem comigo morar na Cidade, verás a riqueza, e a fartura que gozas. Aceitou o rústico e vieram ambos a uma casa grande e rica, e entrados na despensa, estavam comendo boas comidas e muitas, quando de súbito entra o despenseiro, e dois gatos após ele. Saem os Ratos fugindo. O de casa achou logo seu buraco, o de fora trepou pela parede dizendo: Ficai vós embora com a vossa fartura; que eu mais quero comer raízes no campo sem sobressaltos, onde não há gato nem ratoeira. E assim diz o adágio: Mais vale magro no mato, que gordo na boca do gato. Moral da história: Mais vale magro no mato, que gordo na boca do gato. (Disponível em: http://fabulasinfantis.blogs.sapo.pt/. Acesso em 27 de set. 2017) É correto apenas o que se afirma em A) II. B) I e III. C) I e II. D) I. E) III. Literatura Infanto Juvenil Questão 20) - 0,50 ponto(s) Leia a seguinte definição de Literatura Infantil, proposta por Nelly Novaes Coelho: "Literatura Infantil é abertura para a formação de uma nova mentalidade que objetiva a educação integral da criança, propiciando-lhe a educação humanística e ajudando-a na formação de seu próprio estilo, além de ser um instrumento de emoções, diversão ou prazer desempenhado pelas histórias, mitos, lendas, poemas, contos, teatro etc., criadas pela imaginação poética, ao nível da mente infantil”. A partir dessa definição, considere o texto a seguir. PÔR DE SOL DE TROMBETA O pôr do sol de hoje é de trombeta — disse Emília, com as mãos na cintura, depezinha sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas — "quero ver se tem saci dentro". E o Visconde dava as explicações científicas de todas as coisas. O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr de sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol "tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso". Diante dum pôr de sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem. Mas Dona Benta não se conteve. — Quemaravilhoso fenômeno é o pôr do sol! — disse ela. Emília deu um pisco para o Visconde por causa daquele "fenômeno", e resolveu encrencar. — Por que é que se diz "pôr do sol", Dona Benta? — perguntou com o seu célebre ar de anjo de inocência. — Que é que o Sol põe? Algum ovo? Dona Benta percebeu que aquilo era uma pergunta-armadilha, das que forçavam certa resposta e preparavam o terreno para o famoso "então" da Emília. — O Sol não põe nada, bobinha. O sol põe-se a si mesmo. — Então ele é o ovo de si mesmo. Que graça! Dona Benta teve a pachorra de explicar. — “Pôr do sol" é um modo de dizer. Você bem sabe que o Sol não se põe nunca; a Terra e os outros planetas é que se movem em redor dele. Mas a impressão nossa é de que o Sol se move em redor da Terra — e portanto nasce pela manhã e põe-se à tarde. — Estou cansada de saber disso — declarou Emília. — A minha implicância é com o tal de pôr. "Pôr" sempre foi botar uma coisa em certo lugar. A galinha põe o ovo no ninho. O Visconde põe a cartola na cabeça. Pedrinho põe o dedo no nariz. — Mentira! — gritou Pedrinho desapontado, tirando depressa o dedo do nariz. — Mas o Sol — continuou Emília — não põe cartola na cabeça, nem tem o péssimo costume de tirar ouro do nariz. — É um modo de dizer, já expliquei — repetiu Dona Benta. — Estou vendo que tudo que a gente grande diz são modos de dizer, continuou a pestinha. Isto é, são pequenas mentiras — e depois vivem dizendo às crianças que não mintam! Ah! Ah! Ah!... Os tais poetas, por exemplo. Que é que fazem senão mentir? Ontem à noite a senhora nos leu aquela poesia de Castro Alves que termina assim: Andrada! Arranca esse pendão dos ares1 Colombo! Fecha a porta dos teus mares! Tudo mentira. Como é que esse poeta manda o Andrada, que já morreu, arrancar uma bandeira dos ares, quando não há nenhuma bandeira nos ares, e ainda que houvesse, bandeira não é dente que se arranque? Bandeira desce-se do pau pela cordinha. E como é que esse poeta, um soldado raso, se atreve a dar ordens a Colombo, um almirante? E como é que manda Colombo fechar a "porta" dos "teus" mares, se o mar não tem porta e Colombo nunca teve mares — quem tem mares é a Terra? Dona Benta suspirou. — Modos de dizer, Emília. Sem esses modos de dizer, aos quais chamamos "imagens poéticas", Castro Alves não podia fazer versos. — Mas é ou não é mentira? (LOBATO, Monteiro. A chave do Tamanho, 1942.) No tocante à matéria literária que caracteriza o texto de Lobato, no que diz respeito ao espaço, ao gênero narrativo e à personagem Emília, julgue os itens a seguir. I. A caracterização da boneca Emília é feita pelas suas falas em discurso direto, somadas à descrição feita pelo narrador. II. Emília é uma personagem-tipo “plana”, isto é, bastante simples em sua construção, representando função ou estado social. III. Emília, como uma boneca que fala, é a personificação da imaginação infantil. IV. Emília, no texto, representa a anulação das fronteiras entre o real e o maravilhoso. É correto apenas o que se afirma em A) I, II e IV. B) II e III. C) II e IV. D) I e III. E) I, III e IV.
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