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DESCRIÇÃO Apresentação dos fundamentos da gestão participativa e da experiência brasileira, bem como das concepções de participação e do papel da liderança dentro da gestão pública participativa. PROPÓSITO Descrever os conceitos relacionados ao tema da gestão pública participativa, além da experiência brasileira de participação cidadã nas decisões da administração pública. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever o conceito de gestão pública participativa, além da experiência brasileira a respeito do tema MÓDULO 2 Identificar o papel da liderança dentro da gestão pública participativa INTRODUÇÃO Neste tema, trataremos dos principais tópicos relacionados ao estudo da gestão pública participativa. Já adiantamos, sem nenhuma novidade, que, no centro das discussões sobre a crise do modelo de democracia representativa, estão as reflexões a favor dos mecanismos de controle social sobre o Estado. Além disso, o empoderamento da sociedade civil eleva a potencialidade de se “democratizar” a democracia. Discutiremos, portanto, como a cidadania é a bússola que guia a relação entre o Estado (governo) e a sociedade. Sobre essa questão, entendemos que os movimentos sociais e as associações de cidadãos são, de forma geral, a origem da participação social na gestão pública. A sociedade civil da atualidade exige outros canais de participação além dos mecanismos tradicionais da democracia representativa: voto direto (eleições), plebiscito e referendo. Notemos que a própria história mostra a evolução da sociedade. Por isso mesmo, seguindo essa linha, os cidadãos desejam a criação de novas ferramentas de participação social que possam aproximar a administração pública e as demandas concretas da sociedade. Sob um aspecto geral, falaremos também acerca dos fundamentos da gestão pública participativa nas constituições de países democráticos. No Brasil, a Constituição de 1988 deu o primeiro passo – tanto que ela é chamada de Constituição Cidadã –, mas, ao longo dos anos, as formas e as ferramentas de participação têm ganhado um amparo na legislação e no campo político. Tendo isso em vista, destacaremos neste tema os conceitos e as características do orçamento participativo (OP) e dos conselhos. Ambos são exemplos de ferramentas inovadoras nas experiências de gestão participativa na administração pública. Já o tópico da liderança da gestão pública fechará o nosso estudo. MÓDULO 1 Descrever o conceito de gestão pública participativa, além da experiência brasileira a respeito do tema FUNDAMENTOS DA GESTÃO PARTICIPATIVA Você sabe o que significa a junção de democracia e participação? A razão de ser da democracia é a participação. Ela é, portanto, a maior presença possível do povo no governo. Sem participação popular, frisa Bonavides (2003, p. 283), a democracia é uma ilusão, ou seja, uma promessa não cumprida. As lutas pela liberdade e pela igualdade revelam ao mundo democrático a necessidade constante de que esses valores estejam presentes nos debates, sejam eles feitos no campo acadêmico ou no político. Somente dessa forma será possível verificar na prática o que é lido na Carta Magna. De tantas reflexões acerca do estado democrático de direito, marcam presença, na primazia desses valores, aquelas que: Analisam as relações entre o poder estatal e a sociedade, dando especial atenção à participação cidadã nos debates públicos. O processo de participação popular, em outros lugares, está presente há tempos na dinâmica da vida política, no processo das escolhas e nas decisões de governo. Segundo Amaral (2015), ele modernamente envolve temas como os descritos a seguir: 1 Controle dos atos 2 Deliberação 3 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Responsabilidade da administração pública 4 Mecanismos da transparência Entende-se a democracia como uma forma de governo pelo povo. Essa definição mais clássica, mesmo com o passar dos séculos, não sofreu alterações em sua essência. No entanto, conforme frisa Bobbio (1990, p. 37), na passagem da democracia dos gregos para a dos modernos, uma alteração se deu não no que diz respeito ao titular do poder político, que sempre será o povo, e sim no modo, mais ou menos amplo, de se exercer o direito de tomar decisões coletivas. A história mostra uma vitória do cidadão já ambientado em um estado de direito consagrador das garantias fundamentais, da igualdade de todos perante a lei e das limitações e prerrogativas dos governantes. “É a era da liberdade de pensar, das escolhas políticas, das associações e da fé religiosa, todos consagrados no Texto Fundamental.” BOBBIO, 1990, p. 37. Fonte: Claudio Divizia/Shutterstock.com Norberto Bobbio Como bem assentam Amaral e Carvalho (2020), a democracia participativa nesse ambiente é, a partir da metade do século XX, entendida como uma nova “onda” ou forma de democracia. Com esse entendimento, foi possível verificar uma aproximação entre a democracia representativa e a antiga direta; afinal, ambas estavam imbricadas pelos instrumentos participativos. Neles, a cidadania não fica restrita apenas ao exercício democrático de eleger representantes, mas inclui também a participação ativa das transformações sociais na tomada de decisões. javascript:void(0) O exercício da cidadania, destacam Amaral e Carvalho (2020), deixa de ser uma retórica “popularesca” de época de eleição para se firmar como um modus operandi da democracia. Ao longo de suas conquistas históricas, a sociedade civil, com forte conscientização democrática, passou a exigir mudanças na estrutura dos governos representativos, impondo uma maior participação em suas questões públicas. Na verdade, essa tendência – que, para muitos, era um indicativo de crise do sistema político – foi: 1 Uma manifestação na crença em novos arranjos sociais. 2 A constituição de ferramentas que geraram mudanças nos alicerces democráticos dos Estados. Sob essa perspectiva, temos de partir do pressuposto que, no século XXI, a democracia representativa não mais atende à concretização, em sua concepção ampla, do princípio democrático. É necessário evoluir, tendo um olhar atento às novas ondas da democracia, e verificando como tal princípio encontrará espaço para sua efetivação. Você pôde observar que, nas últimas décadas, das análises acadêmicas sobre as teorias democráticas, manteve-se evidenciada a forte influência das vertentes participativas como um celeiro de ideias desse estágio mais avançado do sistema. As vertentes democratas... PARTICIPACIONISTAS DELIBERACIONISTAS ... Surgem dos aspectos discursivos do processo político somados à nossa estrutura normativa, pela qual, aliás, deve existir a participação de todos no debate. Nesse processo, isso se torna um fator de legitimidade das decisões. As duas vertentes mencionadas se ocupam das discussões sobre o significado e o destino da democracia. De diferentes formas, estão respectivamente vinculados a essas correntes figuras como John Rawls e Jürgen Habermas. Barreto (2006) postula que, fundada em uma visão crítica, a democracia deliberativa se tornou, sob o ponto de vista liberal, um importante centro de discussões e de ideias. Isso proporciona um rico campo científico para se pensar em novas formas de participação social e decisões políticas e administrativas da administração pública. A democracia deliberativa ou representativa fixa suas premissas na ideia de que a produção legítima de leis surge da própria deliberação pública dos cidadãos. Em outras palavras, as normas de um Estado são fruto da discussão permanente entre cidadãos iguais e livres em uma esfera pública e democrática. Na visão tradicional do que é uma democracia liberal, a racionalidade dos cidadãos constitui o pilar que sustenta a república e que a diferencia de outros sistemas políticos não democráticos. Os líderes políticos têm suas ações legitimadas pelos eleitores, porém, ao mesmo tempo, têm suas decisões controladas e limitadas por eles. Santos e Avritzer (2009, p.39-82) propõem três teses para o fortalecimento da democracia participativa: RACIONALIDADE DOS CIDADÃOS A racionalidade, nesse sentido, é a capacidade dos eleitores de tomar decisões bem informadas. SISTEMAS POLÍTICOS NÃO DEMOCRÁTICOS Nesses sistemas políticos, o poder está concentrado na mão de uma pessoa ou de um pequeno grupo de pessoas. A maior parte da população não é levada em consideração na formulação de leis e decisões de políticas públicas. TESE 1 Fortalecimento da “demodiversidade”. TESE 2 javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Fortalecimento da articulação contra a hegemonia entre o local e o global. TESE 3 Ampliação do experimentalismo democrático. “DEMODIVERSIDADE” Trata-se da convivência de diferentes modelos de democracia. De certa forma, ao longo dos anos, a experiência participativa vem gravitando em torno desses três eixos na tentativa de configurar uma experiência modelo que transite entre diferentes modelos (liberal e popular) de democracia. O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO PARTICIPATIVA NO BRASIL Sob uma perspectiva das Ciências Sociais, os arranjos sociais, de forma geral, sejam eles movimentos sociais ou ações coletivas, formaram as bases iniciais do que identificamos atualmente como ferramentas, mecanismos ou instituições participativas de participação na gestão pública. Sabemos que, frente às avançadas tecnologias facilitadoras de agrupamento e de organização das ideias (como as redes sociais), novos arranjos e atores sociais surgiram ao longo dos últimos anos. Também estamos cientes de que, entre suas inúmeras reivindicações, a mais contundente é a que requer uma maior eficácia da participação social nos debates públicos. Fonte: Shutterstock.com Esse ambiente levou à reformulação do papel do Estado frente às demandas sociais. Movimentos sociais vistos como novas ações sociais abrem as esferas públicas culturais compostas de sujeitos e temáticas. O objetivo deles é propiciar uma interação com o sistema político. Para compreendermos isso da melhor forma possível, analisaremos o seguinte pensamento de Gohn (2009): O movimento social é entendido como a expressão de uma ação coletiva decorrente de uma luta sociopolítica, econômica ou cultural. No Brasil, a cultura autoritária atravessou grande parte da história política. Por essa razão, não é uma tarefa fácil implementar a gestão participativa no âmbito da administração pública. A ausência de democracia no país impediu a criação de uma cultura de responsabilidade e de participação cívica nas decisões de gestão pública. Os cidadãos não podiam expressar livremente suas opiniões – e muito menos se associar a outros a fim de influenciar as decisões de governo. Mesmo assim, nas décadas de 1970 e 1980, em razão da realidade política brasileira, muitos movimentos populares reivindicatórios de melhorias urbanas já estavam articulados com certos movimentos religiosos. Fonte: Shutterstock.com As comunidades eclesiais de base (CEBs) são um exemplo disso. As CEBs são grupos formados por leigos e religiosos que se multiplicaram pelo país após a década de 1960 sob a influência da teologia da libertação. Desde então, elas vinculavam o compromisso cristão à luta por justiça social e participavam ativamente da vida política do país. As CEBs sempre estiveram associadas a movimentos de reivindicação social e partidos políticos (normalmente de esquerda). Para Gohn (2009), “nessa época, em oposição ao regime militar, usava-se para ‘ter direito a ter direitos’; em uma visão universal, aqueles movimentos não estavam autocentrados, não miravam apenas a si próprios”. Mas a crescente conscientização da população — no que tange a seus direitos e às garantias individuais e coletivos – fez crescer, já no final dos anos 1980, o número de organizações da sociedade civil. Isso moldou a cultura de se recusar modelos autoritários e privados de gestão da coisa pública. No período da transição política da abertura à nova era democrática brasileira, o processo de eclosão dos movimentos sociais culminou em uma série de aberturas de núcleos de participação social. No entanto, foi a partir de 1988 que a mobilização participativa passou a ter uma capilaridade institucional e uma presença na gestão pública. Com isso, as lutas e conquistas político-democráticas abraçadas pela Constituição da República de 1988 ampliaram bastante a participação social na esfera pública. Conforme podemos observar, diante dos novos desafios, muitas políticas públicas sociais passaram a priorizar a inclusão social. Desenvolvidas por seus órgãos e agentes políticos, essas políticas contam com a participação de entes de colaboração. Apontaremos três exemplos a seguir: Fonte: Shutterstock.com ONGS Fonte: Shutterstock.com ASSOCIAÇÕES CIVIS Fonte: Shutterstock.com SINDICATOS Se você está se perguntando qual foi a consequência disso, saiba que, com essa forma de agir, deslocou- se o eixo... Da identidade política para a política de identidade e da coordenação das ações civis da sociedade civil para a sociedade política de gabinetes e secretarias. Verificou-se, ao longo das últimas décadas, um aperfeiçoamento nas relações entre o poder público e a sociedade. Isso ocorreu em um ambiente no qual a democratização das instituições políticas e administrativas estava presente e impunha novas bases à gestão participativa. Observemos que a cidadania ultrapassou a fronteira simplista de condição política somente para o exercício do voto, como predominava nos anos anteriores ao novo marco constitucional. Ela promoveu, com isso, o crescimento dos próprios elos proativamente nas escolhas públicas. Trata-se, na verdade, do aperfeiçoamento nas relações entre o poder público e a sociedade. Com a democratização das instituições políticas e administrativas, houve o aprimoramento das bases da gestão participativa. A cidadania deixa de ser exercida apenas pelo voto. Pelo contrário: esse aprimoramento das bases da gestão passa a encorajar o crescimento da cidadania proativa. Essa nova atuação cidadã rompeu, de uma vez por todas, com a tradicional e pura democracia representativa. Houve o estabelecimento de uma nova onda democrática brasileira, aliando a participação popular direta à representação. O destaque neste tema é a Lei no 10.257/01 (Estatuto da Cidade). Com essa norma, o gestor municipal fica incumbido da obrigação legal de organizar e pautar a administração da cidade no ideário de uma gestão eficiente, democrática e inclusa, garantindo o direito de suas localidades serem sustentáveis. O Estatuto da Cidade orienta que a gestão municipal seja a mais democrática possível conforme preceitua o capítulo intitulado: “Da gestão democrática da cidade”. Ele ainda indica princípios e instrumentos que orientarão o administrador local na condução participativa e transparente da governança municipal. Em seus incisos, o artigo 43 do mesmo dispositivo estabelece que, ao garantir a gestão democrática tanto administrativa como orçamentária, o gestor municipal tem um leque de ferramentas a seu dispor: FERRAMENTA 1 FERRAMENTA 2 FERRAMENTA 3 FERRAMENTA 4 FERRAMENTA 1 Órgãos colegiados de política urbana. FERRAMENTA 2 Debates, audiências e consultas públicas. FERRAMENTA 3 Conferências sobre assuntos de interesse urbano. FERRAMENTA 4 Iniciativa popular de projetos de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano e planejamento orçamentário participativo. Cabe ainda lembrar que, na dinâmica da participação, os mecanismos podem ser classificados como: Simples Ouvidorias, mesas de diálogo, reuniões em associações de moradores e outros afins. Complexos Conferências municipais, estaduais e nacionais, conselhos nacionais, conselhos gestores municipais e estaduais de políticas públicas (CGMPPS), audiências públicas e orçamento participativo. Com a adoção de importantes instrumentos de participação social, os cidadãos dos municípios tomam para si as tarefas de relevono cenário federativo. Isso ocorre tanto na elaboração e na implementação de políticas públicas voltadas à satisfação das necessidades locais quanto na condução e no controle das despesas públicas por intermédio da construção de um orçamento público sensível à participação. Entendamos que a gestão participativa se desenha a partir do poder local e com a criação de esferas públicas para debates sobre a gestão pública municipal. Por ser o poder político mais perto do cidadão, ela eleva a cidadania ativa organizada ao nível mais alto de participação. QUAL É O RESULTADO DISSO? RESPOSTA RESPOSTA Entre tantos resultados, podemos dizer que ocorre uma melhor adequação e racionalização das metas e dos recursos por parte do poder público. Como reflexo, passa a existir uma inclinação natural para a canalização dos investimentos em projetos voltados aos temas levantados pelos munícipes nos debates transcorridos nas arenas públicas instituídas. A agenda dos governos democráticos, em sua maioria, está ancorada nas políticas públicas, as quais, por sua vez, são conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo governo. Essas políticas funcionam de forma correlata à dos direitos assegurados constitucionalmente ou daqueles que se afirmam graças a um reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes públicos. javascript:void(0) A gestão participativa une política pública e participação ativa em um sistema de corresponsabilidade e coadministração. Destacaremos em nosso estudo o orçamento participativo (OP) e os conselhos municipais por entendermos que ambos constituem ferramentas exitosas nas experiências de gestão participativa na administração pública. Fonte: Shutterstock.com AS FERRAMENTAS PARTICIPATIVAS NA REALIDADE BRASILEIRA ORÇAMENTO PARTICIPATIVO O OP é uma experiência pioneira e genuinamente brasileira. Ele nasceu na cidade de Porto Alegre, no governo do prefeito Olívio Dutra, em 1989. Segundo Avritzer (2003), o OP é uma política participativa local que responde às demandas dos setores da população urbana organizada. Ele é visto como um instrumento inclusivo, tendo por dinâmica a reunião de: Fonte: Shutterstock.com ATORES SOCIAIS Fonte: Shutterstock.com MEMBROS DE ASSOCIAÇÕES DE BAIRRO Fonte: Shutterstock.com CIDADÃOS COMUNS O OP opera em um processo de negociação e deliberação com o gestor local nas funções executivas. Como você pode perceber, ele configura um mecanismo governamental de democracia participativa... Pois permite aos cidadãos influenciarem ou decidirem sobre os orçamentos públicos – geralmente, aqueles referentes a investimentos de prefeituras – por meio de processos da participação da comunidade. Adaptado a partir dos anos 1990 em inúmeras cidades brasileiras, o OP de Porto Alegre ganhou notoriedade internacional, tendo o reconhecimento de organismos internacionais e agências multilaterais de financiamento. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial (BM), por exemplo, o consideraram uma “boa prática de controle dos gastos públicos”. O OP, portanto, é um exemplo por excelência de ferramenta de participação e de accountability social. Nosso experimento ficou internacionalmente conhecido em 1996 na Conferência de Istambul (também conhecida como Habitat II da ONU ou Cúpula das Cidades). O evento reconheceu o orçamento participativo na capital do Rio Grande do Sul como uma: ACCOUNTABILITY SOCIAL javascript:void(0) Accountability significa a condição de ser responsável, de prestar contas. O accountability social diz respeito à relação de prestação de contas entre os líderes políticos e os cidadãos. “Prática bem-sucedida de gestão local, sendo a experiência como uma das 40 melhores práticas de gestão pública urbana no mundo”. BIOMANIA, 2021. ATENÇÃO Devemos mencionar que a experiência brasileira do OP se tornou uma referência para os gestores públicos que aperfeiçoam essa participação numa ação conjunta entre governo e sociedade civil. Na trajetória brasileira, inúmeras cidades brasileiras, desde 1987, vêm aplicando ou ainda estão aprimorando essa ferramenta participativa. Em muitas delas, o OP está previsto e regulamentado nas respectivas legislações locais. Uma pesquisa levantada pela Rede Brasileira de Orçamento Participativo (2016) revelou que o número de experimentos de OP passou das 13 cidades em 1989 para 482 municípios em 2015. O quadro a seguir demonstra a historicidade desse processo: Fonte: Adaptado de PORTUGAL PARTICIPA, 2016. Tabela: Linha histórica da expansão do OP no Brasil. CONSELHOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS Sobre o tema “direito à participação popular na formulação das políticas públicas” garantido pela Constituição de 1988, podemos indicar como exemplos de grande representatividade as políticas de saúde e assistência social. Esse espírito de participação está em evidência na legislação brasileira: LEI NO 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990 — LEI ORGÂNICA DA SAÚDE (LOS) Sobre a LOS, fica a seu cargo dispor sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e demais providências. Pelo artigo 1° dessa lei, em cada nível de governo haverá, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, as seguintes instâncias colegiadas: conferência de saúde e o conselho de saúde. LEI Nº 8.742, DE DEZEMBRO DE 1993 — LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS) Na mesma linha, o artigo 5º da LOAS prevê suas diretrizes, ou seja, que a participação se faz por meio das organizações representativas na gestão, na formulação e no controle das ações. Essa matéria será organizada sob a forma de um sistema descentralizado e participativo denominado Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nos três níveis de poder na federação, sendo o conselho o instrumento ou ferramenta para a efetivação da participação. Nesse panorama, você pode verificar que os conselhos municipais setoriais estão presentes na gramática participativa brasileira desde a década de 1990. Como instituições participativas, apresentando desenhos institucionais diferenciados, eles incorporaram as demandas sociais nos diversos setores da vida coletiva. Sua contribuição, como bem podemos inferir, possibilita uma maior transparência às ações dos gestores públicos. Fonte: Shutterstock.com Além disso, com esse mecanismo, pode-se favorecer uma justa distribuição dos recursos públicos, havendo menos desperdício e maior eficiência nos serviços prestados. Se a atuação dos conselhos gestores podia ser considerada fragmentária até a Constituição de 1988, eles vêm, ao longo das últimas três décadas, se tornando importantes instituições participativas das políticas públicas. De caráter interinstitucional, esses conselhos – com assento constitucional e vasta legislação após 1988 – desempenham o papel mediador entre a sociedade e o Estado. INTERINSTITUCIONAL O caráter interinstitucional é realizado em grupo, por parceria e em colaboração entre as instituições. Em outras palavras, os conselhos gestores são como instrumentos de expressão, representação e participação social, instituindo um novo tipo de esfera pública não estatal (em sua maioria, de caráter deliberativo). A participação direta de entidades da sociedade civil de forma institucionalizada, permanente, paritária e deliberativa ganhou forma pelos conselhos. Essa ação pode ocorrer por meio da gestão de políticas pública setoriais, como, por exemplo, educação, saúde e emprego, ou por intermédio de segmentos, como o dos direitos da criança e do adolescente, da mulher, do negro ou do idoso. De forma geral, você pode constatar que os conselhos setoriais são formados por uma gama diversificada de atores sociais com interesses plurais voltados ao interesse comum. Eis alguns exemplos: movimentos sociais, centrais sindicais ou sindicatos, associações, ONGs, igrejas, entidades sem fins lucrativos e outras afins. Com isso, pode-se afirmar que uma das principais atuações dos conselhos é a de estabelecer os mecanismospara a formulação de diretrizes, prioridades e programas sociais. Além disso, eles buscam as instalações dos métodos de acompanhamento e controle da gestão, sem deixarem escapar a transparência e o fornecimento de informações públicas. Também atuam na criação de indicadores necessários ao planejamento e às avaliações das ações. Por lei, a presença desses dois conselhos já dá a noção de uma gestão participativa nessas matérias. Devemos entender que a temática dos conselhos se inscreve no debate das políticas de descentralização. Por meio dessas políticas, busca-se o fortalecimento da autonomia dos municípios. Sendo assim, a descentralização aparece articulada com a abertura de canais que incorporam os diferentes segmentos sociais e a ampliação dos interesses representados no âmbito da cidade. Na seara da saúde pública, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) é considerado a instância máxima de deliberação do SUS, sendo de caráter permanente e deliberativo, conforme indica o artigo 36 da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. O SUS conta, em cada esfera de governo, com seus conselhos de saúde. Esses conselhos são órgãos colegiados compostos por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários. Sua atuação se dá na formulação de estratégias e no controle da javascript:void(0) execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive no tocante a seus aspectos econômicos e financeiros. O SUS é um órgão vinculado ao Ministério da Saúde, sendo composto por 48 conselheiros titulares representados por usuários, profissionais de saúde, entidades representativas de trabalhadores da área da saúde, governo e prestadores de serviços de saúde. Suas principais funções são: FUNÇÃO 1 Deliberação FUNÇÃO 2 Fiscalização FUNÇÃO 3 Acompanhamento e monitoramento das políticas públicas de saúde. FUNÇÃO 4 Aprovação a cada quatro anos do Plano Nacional de Saúde. Cabe ressaltar que seu caráter participativo e deliberativo é uma norma cogente (De cumprimento obrigatório, coercitivo) em razão do que dispõe a Lei no 8.142, de 1990, ao vincular a participação da comunidade na gestão do SUS, bem como nos assuntos sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde. Desse modo, devemos destacar ainda sua função orçamentária. Vale dizer que o conselho também tem por missão elaborar um cronograma de transferência de recursos financeiros consignados ao SUS aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) CONSELHOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS Aprofundaremos neste vídeo a discussão sobre o funcionamento de conselhos de políticas públicas no Brasil. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1) A CONFERÊNCIA DE ISTAMBUL (HABITAT II DA ONU), EM 1996, RECONHECEU A SEGUINTE INCIATIVA COMO UMA DAS 40 MELHORES EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICAS DE GESTÃO PÚBLICA DEMOCRÁTICA E URBANA NO MUNDO: A) A audiência pública do Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro. B) O orçamento participativo de Porto Alegre. C) A experiência brasileira com a urna eletrônica. D) O fim da possibilidade de coligações entre partidos políticos nas eleições brasileiras. E) A audiência pública do projeto de reforma do Estádio do Maracanã. 2) SEGUNDO OS ENSINAMENTOS DE BOBBIO, A DEMOCRACIA CRIADA NA GRÉCIA ANTIGA É A FONTE DE INSPIRAÇÃO DAQUELA IMPLEMENTADA NOS TEMPOS MODERNOS. SOBRE A PASSAGEM DA DEMOCRACIA DOS GREGOS PARA A DA ERA MODERNA, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Não houve alteração no seu conteúdo e na sua dimensão. B) Houve uma alteração que diz respeito à mudança do titular do poder político. C) Houve uma alteração que não se deu na titularidade do poder político, e sim na forma de se exercer o voto. D) Houve uma alteração que se deu não na titularidade do poder político, que sempre será o povo, e sim no modo de se exercer o direito de tomar decisões coletivas. E) Houve uma alteração disruptiva que dificulta a comparação entre os dois períodos históricos. GABARITO 1) A Conferência de Istambul (Habitat II da ONU), em 1996, reconheceu a seguinte inciativa como uma das 40 melhores experiências de práticas de gestão pública democrática e urbana no mundo: A alternativa "B " está correta. O orçamento participativo de Porto Alegre é um exemplo de inovação democrática reconhecido internacionalmente. Diversas cidades ao redor do mundo se inspiraram na experiência gaúcha para fortalecer sua gestão. 2) Segundo os ensinamentos de Bobbio, a democracia criada na Grécia Antiga é a fonte de inspiração daquela implementada nos tempos modernos. Sobre a passagem da democracia dos gregos para a da era moderna, é correto afirmar que: A alternativa "D " está correta. Mesmo com o desenvolvimento dos sistemas de democracia na era moderna, ela continua como uma forma de governo em que o povo é soberano e titular do poder político. Isso quer dizer que o seu significado clássico, mesmo com o passar dos séculos, não sofreu mudanças em sua essência. MÓDULO 2 Identificar o papel da liderança dentro da gestão pública participativa A LIDERANÇA E A EVOLUÇÃO DOS MODELOS DE GESTÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL É possível identificar três momentos pelos quais passou a gestão da administração pública no Brasil: patrimonialista, burocrática e gerencial. Falaremos agora sobre cada um deles. A ADMINISTRAÇÃO PATRIMONIALISTA ANTERIOR A 1937 Trata-se do modelo de administração no qual o Estado era entendido como propriedade do rei. O nepotismo e o empreguismo constituíam a norma. Fonte: Shutterstock.com Esse tipo de administração revelou-se incompatível com o capitalismo industrial e as democracias parlamentares que surgiram no século XIX. Portanto, tornou-se necessário desenvolver um tipo de administração que partisse não apenas da clara distinção entre o público e o privado, mas também da separação entre o político e o administrador público. ADMINISTRAÇÃO BUROCRÁTICA ENTRE 1937 E 1995 Ela foi proposta por Weber (1864-1920), passando a ser o modelo adotado. Mais racional e eficiente, a administração burocrática gerou uma evolução das práticas e das rotinas típicas do setor público, enfatizando os procedimentos e o controle das atividades. A centralização foi a sua principal marca, mas não podemos esquecer outras. Indicaremos quatro delas a seguir: IMPESSOALIDADE HIERARQUIA SISTEMA DE MÉRITO SEPARAÇÃO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO Depois de muitas décadas (e com o crescimento da população e do êxodo rural), esse modelo acarretou... Uma máquina pública lenta, cara e pouco ou nada eficiente diante das demandas sociais complexas. Com isso, foi necessário buscar um novo modelo de administração. ADMINISTRAÇÃO GERENCIAL DE 1995 ATÉ O PRESENTE Este novo modelo está baseado na busca permanente de novas iniciativas e nos conceitos de: EFICIÊNCIA EFICÁCIA PRODUTIVIDADE QUALIDADE TOTAL CLIENTES METAS RESULTADOS PARCERIAS A administração gerencial deve ser construída sobre os alicerces da administração pública burocrática, aproveitando seus aspectos positivos. Segundo Almeida (2016), esse novo tipo de administração trouxe de inovador ao setor público quatro pilares fundamentais: 1 2 3 4 1 Autonomia gerencial, com flexibilidade de gestão. 2 Alcance de resultados sob a ótica da eficiência, eficácia e efetividade, com a reorientação dos mecanismos de controle (no caso, de procedimentos para resultados). 3 Foco no cidadão em vez de ser autorreferida. 4 Controle social, com a introdução de mecanismos e de instrumentos que garantam a transparência e a publicidade da política e da ação governamental, assim como a participação e o controle por parte do cidadão. Liderança na administração pública gerencial A liderança no serviço público passa a ser um tema importante na administração pública gerencial. Nas sociedades dinâmicas, uma administração autorreferida não mais se sustenta, já que ela é desatenta com os custos e não enxerga a satisfação do usuário doserviço público. Por outro lado, a estrutura moderna das condições de trabalho acarreta uma melhoria no desempenho dos governos. Criando a cultura de gestores públicos comprometidos com as missões primordiais do Estado, a atenção se volta para a prestação de serviços de qualidade ao cidadão. A liderança e a evolução dos modelos de administração pública no Brasil passaram a ser peças fundamentais nos governos com o objetivo de se atingir os resultados esperados. No Brasil, destaca Bresser-Pereira (apud ALMEIDA, 2016), as teorias sobre a liderança receberam um destaque a partir do processo de redemocratização da década de 1980. Tal ideia surgiu como uma resposta à crise da administração pública. Naquele momento, novos paradigmas de gestão propunham a substituição de estruturas centralizadas, hierarquias rígidas e sistemas de controle típicos do período “taylorista” que se faziam presentes mesmo após 60 anos de existência. Fonte: Shutterstock.com GESTÃO PÚBLICA: DA DESCENTRALIZAÇÃO À GESTÃO PARTICIPATIVA LIDERANÇA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARTICIPATIVA Quais são os principais conceitos dessa liderança? A gestão pública abarca inúmeras atividades e ações, como a aplicação de leis, a supervisão, a fiscalização, o desenvolvimento e a criação de técnicas essenciais ao bom desempenho da “máquina pública” em geral. Ou seja, a organização dos órgãos de administração do Estado. Como se sabe, diversos setores lidam com as necessidades fundamentais do cidadão em uma sociedade complexa. Listaremos a seguir alguns exemplos: EDUCAÇÃO SAÚDE SANEAMENTO BÁSICO TRANSPORTE CULTURA Para que eles sejam colocados em prática e funcionem com eficiência, o gestor deve pensar também na melhoria desses quesitos. Isso vale para todas as esferas: federal, estadual e municipal. A partir do momento em que o gestor público domina o funcionamento do órgão público no qual desempenha as funções de gestão, ele consegue avançar nas transformações efetivas, baseando-se em pesquisas, estudos, estratégias e habilidades próprias para isso. Segundo esse ideário, é possível evoluir para um estágio de administração pública no qual todos tenham seus direitos e deveres igualitários. Os termos e as metas da gestão pública participativa podem auxiliar nesse processo. Em uma sociedade democrática, a boa governança pública participativa pressupõe o acompanhamento e o controle, por parte dos cidadãos, dos atos de gestão do Executivo. Nesse sentido, a governança participativa alarga o leque das ações acima apontadas, pois ela pressupõe que o acompanhamento e o controle das ações governamentais sejam feitos em uma parceria constante com os cidadãos e no exercício pleno de sua cidadania. No estudo do tema “participação”, o ponto que merece atenção é o que envolve a terminologia empregada. “Participação pública” é um termo de maior amplitude, sendo, em geral, empregado em processos que são mais propriamente informativos e consultivos do que participativos. É por intermédio deles que a administração pública informa à população sobre as questões que pretende dar cabo – e que foram decididas no âmbito dos gabinetes – ou realiza consultas públicas. Por essa razão, embora esses processos sejam de extrema valia para as práticas democráticas, eles não são significativamente participativos. Isto porque essa participação é limitada, não havendo uma atuação direta da sociedade que lhe permita uma percepção da realidade e dos problemas a serem resolvidos em ações conjuntas com o poder público na solução das demandas. A noção de participação cidadã em sentido estrito é diferente. Existe nela um grau mais elevado de desenvolvimento político, em que a forma dita objetiva, semidireta ou direta de participação se coloca ao lado do poder público nas escolhas públicas. Em outras palavras, pode-se entender que a verdadeira participação está presente nas escolhas públicas de forma deliberativa, ou seja, vinculativa. Também pode-se dizer que ocorre uma aderência da vontade direta social participativa em decisões públicas envolvidas nas questões postas em debate público. Por essas passagens conceituais, diferentes espaços públicos foram sendo construídos para inserir o cidadão diretamente nos debates de questões afeitas aos interesses sociais. De forma ampla ou estrita, tais questões tendem a tornar eficaz a tutela dos direitos humanos fundamentais. A DESCENTRALIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E TIPOLOGIAS No contexto da gestão pública participativa, deve haver, no compartilhamento das decisões entre o governo e sociedade, uma divisão da responsabilidade das ações. Essa divisão seria uma forma de permitir a construção de espaços de diálogos públicos com a presença efetiva de vários segmentos de representação social da sociedade civil organizada e dos movimentos sociais. Essa abertura permite a definição da agenda do governo, direcionando as ações prioritárias e as políticas públicas a serem implementadas (todas em função das demandas sociais). Dessas novas práticas de gestão pública, emergem a corresponsabilidade e a coparticipação no destino das políticas públicas sociais mais demandadas. Tipologias No âmbito da administração, a tipologia da participação popular na gestão pública mereceu da doutrina uma atenção especial e, em consequência disso, valiosas classificações. Maurizio Cotta (apud TEIXEIRA, 1996, p. 216) propõe duas tipologias que englobam várias formas de participação concebidas (ou, de alguma forma, exercitadas em algumas experiências analisadas): Fonte: rafapress/Shutterstock.com PARTICIPAÇÃO INDIRETA (SENTIDO AMPLO) OU DICOTOMIA Trata-se do conjunto de todas as manifestações do cidadão no sentido da incorporação a um sistema político, desde os atos eleitorais até as ações que busquem definir as orientações políticas dos órgãos de poder ou controlá-los por meio de mecanismos de intermediação. Fonte: Shutterstock.com PARTICIPAÇÃO DIRETA (SENTIDO ESTRITO) Envolve a ação sem intermediação nas várias instâncias da estrutura da gestão administrativa, bem como nas tomadas de decisão, em um sistema de cooperação e corresponsabilidade. A LIDERANÇA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARTICIPATIVA Atitudes positivas do gestor participativo Você certamente já ouviu que os líderes precisam ser eficientes e capazes de resolver situações críticas de caráter organizacional e social. Além de saber gerenciar pessoas, eles têm de alinhar os objetivos pessoais aos organizacionais. Pois saiba que, na gestão participativa, o cidadão é mais do que o consumidor final dos serviços públicos: ele passa a ser cogestor e corresponsável na gestão. Tendo isso em vista, o gestor público que desejar obter êxito nessa gestão deverá, além de utilizar as ferramentas participativas, criar práticas rotineiras participativas para a construção de uma gramática participativa. Vamos conhecer alguns exemplos dessas práticas de participação? CONSULTAS À POPULAÇÃO Essa cultura é muito importante na gestão participativa. Consultar os cidadãos é a melhor forma de descobrir do que eles precisam. Essas consultas ainda podem verificar a possibilidade de sua realização. Fonte: Shutterstock.com O cidadão se sentirá valorizado ao ver que o poder público busca a sua opinião, o que ajuda a legitimar as decisões tomadas. Exemplos de ferramentas: audiências públicas e ouvidorias. O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA A comunicação pública trata do instrumental do processo de comunicação realizado pela gestão. Se for bem montada, ela fortalecerá a formação de uma sociedade democrática mais participativa, visando à melhoria do coletivo. Fonte: Shutterstock.com Podem ser citados como meios ou instrumentos: canal de SMS, intranet e internet (página da gestão central atualizada), além de um site oficial com ferramentas de comunicação (central do cidadão, fale conosco, serviços públicos oferecidos nas cidades, turismo e lazer públicos, escolas, hospitais e outros). PESQUISAS DE OPINIÃO Essaspesquisas podem acontecer no formato de questionários e pesquisas online. Hoje em dia, pode haver até mesmo a utilização de aplicativos como canais de comunicação com os habitantes da cidade. Fonte: Shutterstock.com FERRAMENTAS PARTICIPATIVAS Podemos pensar em órgãos colegiados de política urbana; em debates, audiências e consultas públicas; em conferências sobre assuntos de interesse urbano; em iniciativas populares de projetos de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; e, por fim, em planejamento orçamentário participativo. Fonte: Shutterstock.com Os mecanismos empregados para tal podem ser simples, como as ouvidorias, as mesas de diálogo e as reuniões em associações de moradores. Há um interessante estudo realizado por Leite (2000) sobre as funções positivas em uma gestão participativa. Segundo o autor, elas podem ser usadas pelo gestor que deseje dar esse perfil à sua gestão. O estudo ainda elenca os benefícios que justificam a implantação da gestão participativa, considerando, para tal, as dimensões econômica, social, política, organizacional e psicológica: Dimensão Função positiva primordial Conceito Econômica Eficiência Melhorar a eficiência e a eficácia da gerência, proporcionando melhor produção e produtividade. Social Distribuição e segurança Melhorar a distribuição dos benefícios do trabalho e entre aqueles que colaboram na obtenção dos resultados, além de aumentar a segurança social do emprego. Política e sua organização Democratização e descentralização Redistribuir o poder na organização a fim de que seus membros tenham maior influência nas decisões sobre seu destino profissional e sobre o de sua organização. Organizacional Integração Aumentar a interação e o compartilhamento de valores, buscando desenvolver a identificação, a lealdade e a aceitação de valores comuns. Psicológica Autorrealização Satisfazer aspirações individuais de iniciativa e criatividade, além de assegurar melhor integração e interação com o grupo organizacional de referência. Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal Tabela: Funções positivas da participação por dimensões específicas. Fonte: Tabela adaptada de: MOTTA apud LEITE, 2000. Devemos ter em mente que a gestão pública participativa ainda é uma fronteira aberta de inovação no setor público. Como observamos na tabela anterior, os benefícios da utilização de ferramentas participativas são variados, tendo um grande potencial de impacto positivo na administração pública. Desde as grandes manifestações de junho de 2013, a sociedade brasileira tem demonstrado constantemente sua insatisfação com os governos e a qualidade dos serviços públicos. Nesse contexto, os líderes políticos têm de enxergar as ferramentas participativas como uma oportunidade de atender a essas demandas da sociedade e de entender quais são as prioridades dos cidadãos em termos de políticas públicas. A LIDERANÇA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARTICIPATIVA Aprofundaremos neste vídeo o papel da liderança em um modelo de administração pública gerencial. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1) NA HISTÓRIA DA GESTÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL, PODEMOS CITAR COMO MODELOS ADOTADOS A: A) Administração patrimonialista e administração participativa. B) Administração burocrática e administração gerencial. C) Administração patrimonialista e administração social. D) Administração gerencial e administração funcional. E) Administração jurídica e administração partidária. 2) SÃO EXEMPLOS DE ATITUDES POSITIVAS DO GESTOR PARTICIPATIVO NA LIDERANÇA DE UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARTICIPATIVA: A) Consultas à população e eleição para secretários. B) Consultas à população e isenções aos turistas. C) Ferramentas participativas e processo de comunicação. D) Eleição para diretor de escolas e pesquisa de opinião. E) Enquetes nas redes sociais e promessas eleitorais. GABARITO 1) Na história da gestão da administração pública no Brasil, podemos citar como modelos adotados a: A alternativa "B " está correta. Na história recente do país, foram adotados os modelos de administração burocrática, entre 1937 e 1995, e gerencial, de 1995 até o presente momento. 2) São exemplos de atitudes positivas do gestor participativo na liderança de uma administração pública participativa: A alternativa "C " está correta. As ferramentas participativas e o processo de comunicação são a base de sustentação de um processo de gestão pública participativa. Os líderes políticos, portanto, implementam canais de diálogo com a população. E isso vai além dos canais tradicionais já existentes com senadores, deputados e vereadores, ou seja, os líderes eleitos para representar os interesses coletivos do povo. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste tema, destacamos os principais pontos que possibilitam a você formar um entendimento próprio acerca das bases que sustentam uma gestão pública no viés da gestão participativa. No módulo 1, descrevemos o conceito de gestão pública participativa, além da experiência brasileira a respeito do tema. No módulo 2, identificamos o papel da liderança dentro dessa gestão. Descrevemos, por fim, os conceitos relacionados ao tema da gestão pública participativa e a experiência brasileira de participação cidadã nas decisões da administração pública. Como sabemos, a gestão pública vem sofrendo mudanças. O comprometimento com o bom atendimento ao o público por parte dos servidores púbicos cada vez é mais cobrado. Por essa razão, também apresentamos modelos de gestão participativa pública descentralizada, apontando as atitudes que um líder deve adotar nesses casos para que sua gestão seja exitosa. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALMEIDA, D. C. de. Liderança no serviço público: algumas reflexões. In: Anais do V SINGEP. São Paulo, nov. 2016. AMARAL, C. T. G. do. Democracia e participação na gestão pública: conquistas da cidadania brasileira nos 27 anos de Constituição. A cidade como início. In: AIETA, V. S. (Org.). Direito da cidade. 1. ed. v. 1. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. AMARAL, C. T. G. do; CARVALHO, F. T. de. Democracia e deliberação: a escolha popular das políticas públicas locais - o caso do orçamento participativo de Porto Alegre (OPPOA). In: Revista de direito da cidade. v. 10. n. 1. 2018. AVRITZER, L. Instituições participativas e desenho institucional: algumas considerações sobre a variação da participação no Brasil democrático. In: Opinião Pública. v. 14. n. 1. 2008. p. 43-64. AVRITZER, L. Limites e potencialidades da expansão democrática no Brasil. In: Fórum Social Brasileiro. Ciclo de seminários "Agenda pós-neoliberal: fazendo possível um outro mundo". Belo Horizonte, nov. 2003. AVRITZER, L. O orçamento participativo e a teoria democrática: um balanço crítico. In: AVRITZER, L.; NAVARRO, Z. (Orgs.). A inovação democrática no Brasil: o orçamento participativo. São Paulo: Cortez, 2003. BARRETO, V. de P. (Coord.). Dicionário de Filosofia do Direito. São Leopoldo; Rio de Janeiro: Unisinos; Renovar, 2006. BIOMANIA. A conferência Habitat II (1996) - introdução. Consultado em meio eletrônico em: 14 jan. 2021. BOBBIO, N. Liberalismo e democracia. São Paulo: Brasiliense, 1990. BONAVIDES, P. Teoria constitucional da democracia participativa. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. GOHN, M. da G. Novas teorias dos movimentos sociais. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2009. LEITE, F. T. (Org.). Por uma teoria da gestão participativa: novo paradigma de administração para o século XXI. Fortaleza: Unifor, 2000. PORTUGAL PARTICIPA. Rede Brasileira de Orçamento Participativo - RBOP. In: Conferência Internacional Portugal Participa. Lisboa, 12 abr. 2016. SANTOS, B. de S.; AVRITZER, L. Introdução: para ampliar o cânone democrático.In: SANTOS, B. de S. (Org.). Democratizar a democracia: os caminhos da democracia participativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. SANTOS, B. de S.; MENDES, J. M. (Org.). Demodiversidade: imaginar novas possibilidades democráticas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. TEIXEIRA, E. C. Movimentos sociais e conselhos. In: Cadernos ABONG — as ONGs e a realidade brasileira. n. 15. São Paulo. jul. 1996. EXPLORE+ Leia os livros sugeridos a seguir para se aprofundar e conhecer mais sobre a temática da gestão participativa: CITTADINO, G. Pluralismo, direito e justiça distributiva. Elementos da filosofia constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013. DALLARI, P. B. de. Institucionalização da participação popular nos municípios brasileiros. In: Caderno n. 1. Instituto Brasileiro de Administração Pública. 1996. p. 13-51. MAXIMIANO, A. C. A. de. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 8. ed. São Paulo: Gen, 2017. Pesquise na internet três textos que mostram as experiências sobre a gestão participativa no Brasil e no mundo: BORGES, L. O orçamento participativo não mudou o mundo. Mas teve sucesso. In: Público. Publicado em: 20 out. 2019. CARDOSO, JR., J. C. P. C. Nota técnica nº 3. Considerações sobre a integração das instituições participativas ao ciclo de gestão de políticas públicas: subsídios à formulação de um sistema de participação. Brasília: Ipea, 2012. MAIA, A. C. Espaço público e direitos humanos: considerações acerca da perspectiva habermasiana. In. Direito, Estado e sociedade. Revista do Departamento de Direito da PUCRio. n. 11. ago.-dez. 1997. p. 15- 40. CONTEUDISTA Claudia Tannus Gurgel do Amaral CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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