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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS INTRODUÇÃO SOCIOLOGIA II FELIPE PEREIRA DE SOUSA GOMES GOSTOS DE CLASSE E ESTILOS DE VIDA Pierre Bourdieu Salvador – BA Outubro, 2021 Pierre Bourdieu nasceu em 1 de agosto de 1930, em Dengeun, localidade francesa, onde foi criado por família camponesa. Anos depois, ao finalizar seu brevet, mudou-se para Paris onde estudou letras na faculdade parisiense. Já em 1954, ao se formar em filosofia iniciou sua vida como professor. Durante este período foi convocado pelas Forças Armadas para servir ao exército do país, porém ao recusar, foi enviado a Árgelia, e aproveitou para aprimorar seus estudos relacionados a questões sociológicas. Ao retornar para a França, se tornou assistente de Raymond Aron, um importante sociólogo e filósofo da época, e no mesmo ano se tornou membro do centro de sociologia europeia. Com isso, Bourdieu é considerados um dos mais prestigiosos sociólogos da língua francesa das últimas décadas – com críticas concretas à respeito das desigualdades sociais, e a se dedicar a um profundo estudo abrangendo o social francês, a exemplificar na moda, gosto e estilo de vida, os seus estudos. Discutir a ideia de habitus é o que trata o seu texto “Gostos de Classes e estilos de vida”, e mostra como as divergentes posições no âmbito social e diferentes estilos de vida são resultados de um mesmo agente, que seria o habitus. Este pode ser definido como comportamentos e pensamentos que objetivam um ethos em forma de ideologias, necessidades da qual advém. O habitus também orienta a ação, porém por ser resultado das relações sociais, garante a perpetuação daquelas circunstâncias que o criaram. Outrora, é uma ação que impulsiona relações perceptivas e de apropriação socialmente construídos. As distinções de indivíduos dependem das condições econômicas e sociais, além da representação simbólica de tais posições sociais, e isto se torna a prática onde estes se implementam no social. A obra se destaca ao exibir além de tais características socioeconômicas e mostrar que o estilo de vida se adere em toda contextualização e internalização ideológica. Referente ao gosto, a disposição e afinidade à ter um bem de determinada configuração de itens ou práticas que podem ser classificadas e/ou classificatórias, é o segredo generalizado que define o estilo de vida, e menor parcela que este pode transparecer. É a partir do gosto do indivíduo que o autor observa as distinções de classes. O estilo de vida cria nos indivíduos preferências distintas que podem ser observadas tais como vestimentas, comportamentos, mobília, linguagens, etc. E forma uma única ideologia de estilo, que é seguido e incorporado pelos indivíduos de tais classes. O interesse, nesse caso, se torna indicador de classe ao se portar e ser influenciador daquilo que se deve preferir e recusar. É importante destacar que o habitus não atua apenas no âmbito ideológico de cognição do indivíduos, mas sim em suas maneiras pessoais, tais como educação particular, maneira de falar, andar, beber, e realizar atividades cotidianas; "O corpo é a materialização do gosto de classe: o gosto de classe está corporificado" expressa o pensador. No tópico do texto, "O Luxo e a Necessidade", segundo Bourdieu, as divergências no estilo de vida ocorrem de acordo com as variações de distância com o mundo, necessidades consideradas básicas para se viver. Assim, as classes populares, tais como os operários e subjacentes irão preferir a praticidade das necessidades diárias, tais como limpeza, economia, conformidade. As classes médias, a já terem a liberdade para exigir alguns luxos, irão buscar originalidade, tendências e conforto. Já as classes consideradas de alto escalão, privilegiados, tem tais luxos como natural, e pede seu caráter distintivo, a buscar por práticas e produtos mais raros, de difícil acessibilidade, para transparecer exclusividade. A conformidade das classes populares, fazem com que esta não se preocupe com a questão do exclusivo, pois não se interessam na identificação ou distinção perante as outras classes. Para Bourdieu, a disposição da estética constitui a condição da apropriação da arte, é aquilo que exprime as características da condição de vida do indivíduo, e esse é o princípio da experiência da burguesia na sociedade. Assim, quanto mais cresce o afastamento com as necessidades, mais o estilo de vida se torna produto de uma "estilização", com interesses além daquele básico e uma escolha sistemática que organiza as práticas. Assim, nada é capaz de distinguir mais as classes do que os gostos e competências para a valorização da arte, como consumo da mesma, pois são capazes de compreender um sentido figurativo que as classes populares e médias dificilmente se preocupam em ter. Nos tópicos seguintes, “Distância Respeitosa e Familiaridade” e “Desapossamento Cultural” de acordo com o pensador, aquilo que caracteriza a obra de arte seria uma disposição estética que é capaz de validar e constitui-lá como obra de arte. Ele tenta colocar como discussão o que são obra de arte e como são designadas daquela maneira, assim como a interpretação, que ele chama de aptidão, tanto àqueles da “classe popular” como os da “classe privilegiada”. Por meio das pesquisas ilustradas ao longo da obra, é possível se observar que a classe popular tende a considerar fotografável tudo aquilo que seria agradável aos olhos, a excluir e desconsiderar tudo aquilo que os mesmos idealizam como feios ou insignificantes. Para seu ethos, ao utilizarem concepções comuns do cotidiano, se guia de maneira imperceptível a adesão dos valores de seu grupo social. Já a classe privilegiada, por terem uma estilização de vida onde procura além da estética, e tem tal percepção interiorizada, tendem a interpretar a arte com a mesma intenção da que foi feito pelo artista. Segundo o autor, para uma parte considerável da amostra coletada, a cultura erudita é vista como distante e inacessível, e somente a partir de do nível superior que é possível as disposições estéticas necessárias que afasta a compreensão de um privilégio para se tornar um “atributo estatutário. No tópico “O Operário e o Pequeno Burguês”, Bourdieu explora as diferenças entre o pequeno- burguês e os operários como também entre os próprios operários. Os dois principais marcadores de diferenças existentes entre os operários se dá no âmbito do “tempo de serviço” e o da “instrução”. Ou seja, na medida em que se eleva o cargo a instrução dos trabalhadores (e também dos pais destes) provavelmente também aumenta, da mesma forma como o tempo livre é maior para investir em cultura, arte, etc.). No entanto, vale ressaltar que para o autor o fato de os operários de cargo mais elevados possuírem estes privilégios não o fazem pertencente das camadas mais inferiores da pequenas burguesia. “Assim, eles se distinguem de muitas maneiras, principalmente quando se comportam enquanto trabalhadores manuais, até no uso que fazem de seu tempo livre” (BOURDIEU). Ou seja, essa distinção está no estilo de vida que se diferencia tanto na forma como estes trabalhadores se utilizam do seu tempo livre até no uso da vestimentas, tipos de programas de TV entre outros. Neste sentido, tudo que tange essa dimensão simbólica da posição social e rotina destes. Ademais, Bourdieu afirma que o distanciamento entre a classe dominada com relação aos valores da classe dominante não está no domínio da cultura. Ou seja, para o autor, a ideia de uma “cultura popular” no sentido de uma contracultura (conscientemente politizada em oposição a cultura dominante) não existe, pois esta cultura popular seria apenas uma reprodução da cultura dominante, onde as relações hierárquicas de poder se repetem também nesta cultura. Além disso, a dominaçãosimbólica age de uma forma fazendo com que coexista o reconhecimento da legitimidade cultural e a contestação desta legitimidade. No tópico seguinte, “A Boa Vontade Cultural”, para o autor, a fim de entender o estilo de vida da pequena burguesia vai ser fundamental compreender como se dá toda sua relação com a cultura. Essa relação, Bourdieu diz, ocorre pela distância entre conhecimento e reconhecimento que vai estar na base do princípio de pretensão e distinção. Essa distância pode ser observada pela origem social e pelo modo de aquisição cultural do indivíduo. E a escolarização ser responsável por esse processo, assim gerando sua inclinação cultural e criando também uma distância da pessoa com sua origem familiar. A escola é que vai transmitir, sem passar o seu devido reconhecimento, o conhecimento, os saberes, e de maneira desigual, hierarquizados, para a reafirmação do sistema arbitrário da cultura dominante, e tendo, assim, títulos hierarquizados, o que iria refletir em suas trajetórias, nas carreiras, na possibilidade de sucesso. Além disso, há também o autodidata, que o autor se refere ao que é reconhecido, que por um empreendimento autônomo adquiriu um acúmulo de capital cultural, e que tem seus saberes mais valorizados por terem sido obtidos fora do sistema regularizado da escola. A pretensão da pequena burguesia vai ser então a de querer se distanciar de sua origem popular e se aproximar da classe erudita, e vai ser isso a boa vontade cultural, que é justamente a disposição de investir nas práticas e bens culturais, mesmo que em forma menores, ou seja, os gostos médios, o que se foi vulgarizado e que se possa apreciar de maneira imediata, a fotografia, o cinema, a opereta, músicas como jazz, revistas, e visitas a monumentos. No caso das classes populares, para elas esse gosto erudito está fora de sua realidade, o gosto popular vai valorizar suas próprias práticas, estando, assim, fora dessas lutas simbólicas. Referências Bibliógráficas: SILVA, José Alexandre; CERRI, Luis Fernando. Norbert Elias e Pierre Bourdieu: biografia, conceitos e influências na pesquisa educacional. Revista Linhas, Florianópolis: 2013. BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. Ática, São Paulo: 1983
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