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Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli É uma reação dos tecidos a um agente agressor caracterizada morfologicamente pela saída de líquidos e de células do sangue para o interstício (plasma e leucócitos). A reação inflamatória representa um dos componentes mais importantes da execução das respostas imunitárias inata e adaptativa e, embora faça parte dos mecanismos defensivos contra inúmeras agressões, em muitos casos pode também causar danos ao organismo. A resposta imunitária e a inflamação são indissociáveis, da mesma forma que seus efeitos defensivos e reparadores. A inflamação é um processo regulado: algumas moléculas de alarme induzem mediadores pró- inflamatórios, enquanto outras estimulam mediadores responsáveis por limitar e terminar o processo. Durante a evolução das inflamações, muitas vezes surgem danos ao hospedeiro pois os efeitos lesivos das inflamações dependem do balanço entre mecanismos pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. Diferentes agressões físicas, químicas ou biológicas constituem o que se denominam agentes inflamatórios, que carregam ou promovem a síntese de moléculas sinalizadoras de agressão (alarminas), as quais induzem a liberação de outras moléculas, genericamente conhecidas como mediadores da inflamação; estes resultam em modificações na microcirculação necessárias para a saída de plasma e de leucócitos dos vasos e em estímulos para reparar os danos produzidos pelas agressões. Ou seja, tudo que pode causar lesão pode causar uma inflamação. A inflamação é caracterizada pelos sinais cardinais: dor, rubor, calor e tumor aos quais os médicos romanos acrescentaram as alterações funcionais, que muitas vezes acompanham as inflamações. Fenômenos da Inflamação Irritativa: Toda inflamação começa com os fenômenos irritativos, eles irritam porque liberam tanto PAMPs quanto Alarminas, as quais são moléculas sinalizadoras de agressão, atuam em receptores celulares e induzem a liberação de mediadores que desencadeiam os demais fenômenos inflamatórios. Essa etapa inicial da inflamação é crucial para se definir o curso do processo: as moléculas sinalizadoras de agressão determinam a síntese de diferentes mediadores, Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli pró- e anti-inflamatórios, dependendo deles o início do processo e suas intensidades e evolução. Se a agressão induz inicialmente maior quantidade de mediadores anti-inflamatórios, a inflamação pode ser suprimida na sua fase inicial. Nesse caso, o organismo pode ficar mais suscetível aos efeitos da agressão. Muitos parasitos conseguem se instalar no organismo porque, no momento da invasão, induzem mediadores anti-inflamatórios que minimizam a resposta inflamatória local, possibilitando ao microrganismo instalar-se e acionar sua defesa contra os mecanismos defensivos montados pelo organismo. Vascular: são representados por modificações hemodinâmicas e reológicas da microcirculação comandadas por mediadores liberados durante os fenômenos irritativos e, menos frequentemente, por ação direta do agente inflamatório. As principais modificações são: (1) vasodilatação arteriolar, produzida inicialmente e na maioria das vezes por ação da histamina e do reflexo axonal (por ação da substância P das terminações nervosas e da histamina) e mantida por prostaglandinas, leucotrienos e fator de agregação plaquetária (PAF). Em consequência, há aumento do fluxo de sangue para a área agredida, gerando hiperemia ativa e fluxo sanguíneo rápido. A hiperemia inicial com fluxo rápido é transitória e seguida de um período em que a vasodilatação é mantida; com isso, os capilares se abrem, o leito vascular aumenta e a velocidade do sangue se reduz (hiperemia passiva); (2) as vênulas menores dilatam-se, mas as maiores sofrem pequena constrição, aumentando a pressão hidrostática na microcirculação. De modo geral, os mediadores dessas alterações hemodinâmicas aumentam a permeabilidade vascular, iniciando a exsudação de plasma para o interstício. Com isso, há hemoconcentração local e as hemácias tendem a empilhar-se e a formar aglomerados, tornando o sangue mais viscoso e a circulação mais lenta. A hiperemia ativa de fluxo rápido vai se tomando progressivamente hiperemia passiva de fluxo lento. Exsudativa: são complexos e variados, consistem na saída dos elementos do sangue (plasma e células) do leito vascular para o interstício. Embora independentes, em geral a exsudação plasmática precede a exsudação celular; a predominância de uma ou de outra varia de acordo com os mediadores liberados. A exsudação de leucócitos é o elemento morfológico mais característico das inflamações. Exclusiva da inflamação aguda. (1) Plasmática: começa nas fases iniciais de hiperemia e continua durante o processo inflamatório. O exsudato líquido pode ser rico ou pobre em proteínas (inflamações fibrinosas e serosas, respectivamente), e sua quantidade varia bastante. A saída de plasma, que depende principalmente do aumento da permeabilidade vascular e ocorre sobretudo em inflamações vênulas, resulta da formação de poros interendoteliais por contração do citoesqueleto dessas células, induzida pelos mediadores, especialmente histamina, substância P, prostaglandinas e leucotrienos. Em agressões pouco intensas, a exsudação imediata ocorre principalmente por ação da histamina; em agressões mais graves, é provocada por lesão direta no endotélio. (2) Celular: é a marginação leucocitária, processo em que os leucócitos deixam o centro da coluna sanguínea e passam a ocupar a periferia do vaso. Em seguida, são capturados e aderem frouxamente ao Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli endotélio, deslocando-se sobre a superfície endotelial (fenômeno de captura e rolamento); logo depois, são ativados, aderem firmemente ao endotélio e sobre ele se espraiam (fenômeno de adesão e espraiamento); finalmente, migram através da parede de vênulas, passando entre as células endoteliais (migração ou diapedese). Os leucócitos saem dos vasos por processo ativo, enquanto hemácias e plaquetas o fazem de modo passivo, através de lesões existentes na parede vascular. Degenerativa ou necrótica: são produzidos por ação direta ou indireta do agente inflamatório e podem aparecer no início ou no curso de uma inflamação. Algumas vezes, representam o efeito imediato da ação do agente inflamatório, e a partir deles inicia- se a irritação, com liberação de alarminas e de mediadores dos fenômenos vasculares e exsudativos. É o que ocorre, por exemplo, na agressão pela soda cáustica sobre a mucosa do esôfago: o agente tóxico causa necrose imediata na parede do órgão, a partir da qual surgem moléculas sinalizadoras de agressão que induzem os mediadores dos fenômenos vasculares e exsudativos. Degenerações e/ou necrose em inflamações, no entanto, resultam principalmente de trombose na microcirculação, da atividade de produtos das células do exsudato ou de fenômenos imunitários. Em algumas inflamações, necrose é componente comum e muito importante na doença (tuberculose). Produtiva ou reparativa: Uma agressão que induz a inflamação pode provocar lesões degenerativas ou necrose, as quais devem ser reparadas por regeneração ou por cicatrização, quimiocinas, citocinas e fatores de crescimento liberados pelos tecidos inflamados, em especial pelas células do exsudato, orquestram os fenômenos de reparação, em paralelo com os fenômenos resolutivos, de tal modo que a resolução e a reparação se processem de maneira simultânea e coordenada. Inflamação Aguda >Existe uma perda de função significativa< Possui três componentes principais: (1) dilatação de pequenos vasos levando a aumento no fluxosanguíneo; (2) aumento de permeabilidade da microvasculatura, que permite que as proteínas do plasma e os leucócitos saiam da circulação; (3) emigração de leucócitos da microcirculação, seu acúmulo no foco da lesão e sua ativação para eliminar o agente agressor. Quando um organismo encontra um agente lesivo, como um microrganismo infeccioso ou células mortas, os fagócitos que residem em todos os tecidos tentam eliminar esses agentes. Ao mesmo tempo, os fagócitos e outras células do tipo sentinela nos tecidos reconhecem a presença da substância estranha ou anormal e reagem por meio da liberação de citocinas, mensageiros lipídicos e outros mediadores da inflamação. Alguns desses mediadores agem nos pequenos vasos sanguíneos no entorno, promovendo o efluxo de plasma e o recrutamento de leucócitos circulantes para o sítio no qual o agente agressor está localizado. Inflamação Crônica* A inflamação crônica é a inflamação de duração prolongada (semanas ou meses) em que a inflamação, a lesão tecidual e as tentativas de reparo coexistem em variadas combinações. Ela sucede a inflamação aguda ou pode se iniciar insidiosamente, como uma resposta de baixo grau e latente, sem nenhuma manifestação prévia de uma reação aguda. Padrões Morfológicos das Inflamações Serosa → muito fluído derivado do plasma (rinite); é marcada pela exsudação de fluidos com poucas células nos espaços criados pela lesão celular ou em cavidades corporais revestidas pelo peritônio, pleura e pericárdio. Tipicamente, o fluido na inflamação serosa não é infectado pelos organismos destrutivos, e não contém muitos leucócitos. Fibrinosa → aspecto de pão com manteiga, membrana de fibrina; um exsudato fibrinoso se desenvolve quando ocorrem grandes extravasamentos ou na presença de um estímulo pró-coagulante local (p. ex., células neoplásicas). O exsudato fibrinoso é característico de inflamação no Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli revestimento das cavidades do corpo, tais como meninges, pericárdio e pleura. Pseudomembranosa → o tecido morto forma uma falsa membrana; geralmente de origem bacteriana, na qual o agente produz toxinas que determinam necrose do epitélio, iniciando os fenômenos de exsudação de células e fibrina. A fibrina forma uma camada espessa sobre a mucosa, tomando o aspecto de uma membrana (pseudomembrana), geralmente esbranquiçada, que, se for arrancada, deixa uma superfície cruenta. É a inflamação que ocorre na laringe de pacientes com difteria Ulcerada → defeito na superfície com perda de tecido necrótico; as ulcerações são mais bem exemplificadas pela úlcera péptica do estômago ou do duodeno, onde a inflamação aguda e a crônica coexistem. Durante a fase aguda, há intensa infiltração polimorfonuclear e dilatação vascular nas margens da lesão. Com a cronicidade, as margens e as bases da úlcera desenvolvem proliferação fibroblástica, cicatrização e acúmulo de linfócitos, macrófagos e plasmócitos Purulenta → abscessos e furúnculos; a inflamação purulenta é caracterizada pela produção de pus, um exsudato constituído por neutrófilos, resíduos liquefeitos de células necróticas e fluido de edema. A causa mais frequente da inflamação purulenta (também chamada supurativa) é a infecção por bactérias que causam a necrose por liquefação de tecidos, como os estafilococos; esses patógenos são chamados de bactérias piogênicas (produtoras de pus). Abscessos são coleções localizadas de tecido inflamatório purulento, causados por supuração mantida em um tecido, um órgão ou um espaço confinado. Hemorrágica → o processo é tão intenso que causa um extravasamento sanguíneo. Predominância dos eventos produtivo-reparativos. É a soma das reações do organismo devido a permanência do agente agressor que não foi eliminado pelas mecanismo da inflamação aguda. Pode se seguir de uma inflamação aguda, caso a primeira inflamação não elimine os agentes agressores, surge uma inflamação crônica ou ser insidiosa no início. É de longa duração e está associada à presença de linfócitos e macrófagos, sendo seguida por uma proliferação de vasos sanguíneos, fibrose e destruição tecidual. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS ➔ Infiltração com células mononucleares (macrófagos, linfócitos e células plasmáticas); ➔ Destruição tecidual; ➔ Tentativas de cura (nem sempre bem sucedidas) pela substituição d0 tecido danificado por tecido conjuntivo (cicatriz, angiogênese e fibrose) CAUSAS: ➔ Infecções persistentes; ➔ Doenças Inflamatórias Imunomediadas (Autoimunes e alérgicas); ➔ Exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos, exógenos e endógenos TIPOS: ➔ Específica: Produzidos diretamente para aquele agente agressor. ➔ Inespecífica – granuloma: Quando temos mais um agente etiológico envolvido. Poli bacteriana. Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli TIPOS DE AGENTES ➔ Agente piogênico – abscesso ➔ Agente inerte – granuloma de corpo estranho ➔ Agentes antigênicos – inflamação crônica específica granulomatosa e inflamação crônica inespecífica (poli bacterianos). COMPONENTES: Células mononucleares: linfócitos, macrófagos, plasmócitos, proliferação de fibroblastos, neoformação vascular (angiogênese) → tecido de granulação: infiltração com células mononucleares, destruição tecidual e tentativa de cura (angiogênese e fibrose tecidual, fatores de crescimento. GRANULOMA: é uma assembleia (coleção organizada) de macrófagos e suas células derivadas (linfócitos circundando os macrófagos), acompanhadas ou não por células linfoides em organização variada, dependendo do agente agressor. Na lâmina: o agente agressor é um fio de sutura que foi deixado do tipo corpo estranho. Os granulomas do tipo corpo estranho, que se formam em torno de partículas não imunogênicas, são muito comuns ao redor de fios de sutura e de partículas de talco em estruturas submetidas a intervenção cirúrgica (talco de luvas) ou em pulmões de usuários de drogas ilícitas (talco misturado a drogas de uso intravenoso). Os fenômenos irritativos dos corpos estranhos dependem da adsorção de proteínas do plasma e da matriz extracelular que servem de sítios de ligação para outras proteínas, principalmente do complemento, que iniciam a produção de moléculas sinalizadoras. Como são partículas geralmente insolúveis e de difícil degradação, os macrófagos as envolvem ou tentam envolvê-las, formando células gigantes do tipo corpo estranho. Nesses granulomas, que são geralmente menores, frouxos e com menor número de linfócitos e outros leucócitos, os macrófagos sofrem pouca transformação epitelioide; os granulomas curam-se por fibrose, e o tecido cicatricial, geralmente formado com pouca neoformação vascular, tende a encarcerar o corpo estranho caso este não possa ser digerido. Os macrófagos formam este círculo circulando o corpo estranho, às vezes acompanhados de linfócitos. Os macrófagos se unem para formar uma célula gigante multinucleada; quando os macrófagos não conseguem eliminar esse corpo estranho e acabam se fundindo na tentativa de formar uma célula com capacidade fagocítica maior ;( Células gigantes com núcleos na periferia, denominadas células de Langhans, são encontradas caracteristicamente na tuberculose, enquanto células gigantes com núcleos distribuídos irregularmente no citoplasma são Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli conhecidas como células gigantes do tipo corpo estranho. Na foto: fibrose ao redor dos vasos do sistema porta clássica da esquistossomose hepática, fibrose periportal com uma característica morfológica em haste de cachimbo de barro. Dentro do cachimbo são os ramos intra-hepáticos da veia porta. Causando uma perda de função hepática. “Inflamaçõesgranulomatosas caracterizam-se por modificações nas células do exsudato, que se organizam e formam agregados circunscritos, denominados granulomas. Embora macrófagos representem o componente comum em todo granuloma, outras células tomam parte na sua formação. Granuloma, portanto, pode ser entendido de forma simplificada como um conjunto organizado de células inflamatórias.” Só se pode verificar granulomas na microscopia. Colar fibrótico e linfócitico com células epitelióides. Ou granuloma imunogênico, em que os macrófagos agrupam-se e formam pregas interdigitantes entre si, unindo-os de modo semelhante a células epiteliais, inclusive com diferenciação de áreas de adesão mais íntimas; por essa razão, são denominados células epitelioides; estas não mais fagocitam, embora permaneçam com capacidade de pinocitar e de transportar vesículas endocíticas no citoplasma. As células epitelioides tendem a organizar-se em camadas concêntricas em torno do agente inflamatório, com disposição em paliçada, e são mais ou menos características de acordo com os estímulos imunogênicos que recebem. Granulomas epitelioides são provocados por agentes inflamatórios imunogênicos, particulados ou insolúveis, como ovo de Schistosoma mansoni, M. tuberculosis, Paracoccidioides brasiliensis etc. Os granulomas epitelioides evoluem para cura por fibrose. Suas células produzem citocinas que induzem a síntese de proteínas da matriz extracelular, de modo que há deposição de colágeno, algumas fibras elásticas e componentes amorfos da matriz extracelular de forma centrípeta, produzindo cicatrizes que, às vezes, tomam aspecto de bulbo de cebola. Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli Em granulomas, pode ocorrer necrose com características próprias segundo sua etiologia. A necrose é caseosa nos granulomas da tuberculose, gomosa nos granulomas da sífilis e tem aspecto granular e acidófilo nos granulomas esquistossomóticos na fase aguda. A gênese da necrose em inflamações granulomatosas não é bem conhecida. Necrose caseosa deve-se, em grande parte, à apoptose de macrófagos epitelioides, além da ação de linfotoxinas (TNF-alfa) e de produtos excretados por macrófagos (enzimas, radicais livres etc. Após o agente ser removido vamos observar um nódulo fibrótico, quantos maiores forem os granulomas mais fácil esses nódulos se fundirem, assim causando uma perda de função. EVOLUÇÃO: ➔ Perpetuação: episódios de reagudização; comum em lesões crônicas com formação de abscessos. Um potencial microbiano também pode causar uma nova fase de reconhecimento mais significativa. ➔ Reparação: mais comum uma cicatrização fibrosa, no tecido hepático vai causar uma perda de função. EFEITOS SISTÊMICOS DA INFLAMAÇÃO: ➔ Febre: principalmente na inflamação aguda quando observamos um agressor de forma infecciosa; às vezes sendo necessário controlar essa temperatura pois pode lesar outras células; ➔ Taxa de sedimentação de eritrócitos elevada pela ligação das hemácias com fibrinogênio; ➔ Leucocitose (15.000 – 20.000 céls/ul) FORMAS DE CURA DA INFLAMÇÃO: ➔ Cura com restituição da integridade: é a forma mais favorável de cura. Ocorre quando a destruição é discreta, a absorção do exsudato e do tecido necrosado é completa e a regeneração não ultrapassa os limites esperados. Inflamações purulentas de pouca extensão e em tecidos com alto poder regenerativo podem curar-se com restituição da integridade. É o que acontece em pequenos furúnculos e em inflamações da mucosa intestinal. Em inflamações destrutivas do tecido nervoso, sempre fica alguma sequela. Também em inflamações de músculos esqueléticos e do miocárdio não há recuperação de suas fibrocélulas. No fígado, é possível a cura com reconstituição anatômica e funcional, pois os hepatócitos podem se reproduzir, como acontece em muitos casos de hepatite. Em inflamações dos rins, essa forma de cura é rara; é possível apenas em lesões discretas que atingem somente o conjuntivo intertubular e os túbulos, cujo epitélio pode regenerar-se. Os glomérulos não se regeneram; nas glomerulonefrites com destruição glomerular, a cura se dá por cicatrização. ➔ Cura por cicatrização: é uma forma comum de cura de muitas inflamações, especialmente aquelas em que os fenômenos alterativos são mais intensos. As consequências da cicatrização são várias. Uma cicatriz pode determinar alterações secundárias graves e causar, por sua vez, uma outra doença. Em certas pneumonias, a fibrina contida nos alvéolos não é completamente reabsorvida e é substituída por tecido fibroso que obstrui permanentemente os espaços aéreos distais e impede a penetração de ar. Cicatrização de lesões sifilíticas pode levar a graves deformações. A cura por cicatrização de enterocolites (p. ex., úlceras tuberculosas) é causa frequente de estenose e obstrução intestinal. ➔ Cura por cicatrização em serosas: ocorre especialmente em derrames fibrinosos abundantes, não digeridos nem absorvidos rapidamente e, por isso mesmo, persistentes durante longo tempo. Fibrina e fibrinopeptídeos estimulam fibroblastos, junto com citocinas produzidas por macrófagos do exsudato, dando origem ao tecido de granulação, que depois é transformado em tecido conjuntivo. Maysa Veiga – UFPE – Odontologia 2020.2 FONTE: Bogli ➔ Cura por encistamento: quando a inflamação se cura, em geral o exsudato é absorvido e as áreas de necrose são reparadas; outras vezes, quando a necrose é extensa, o material necrótico se mistura com as células do exsudato, podendo ser reabsorvido ou eliminado por vias naturais. Em certos casos, a eliminação não ocorre e o processo inflamatório se cura com cicatrização periférica, originando uma cápsula fibrosa; permanecendo o exsudato misturado a restos necróticos na parte central, forma-se um cisto. O processo é conhecido como cura por encistamento, podendo ocorrer em inflamações purulentas localizadas (abscessos). Nesses casos, em geral há eliminação do agente infeccioso (bactérias), e o conteúdo líquido é estéril. ➔ Cura por calcificação: a calcificação inicia-se na parte periférica do exsudato ou do tecido necrótico e progride lentamente para o centro; pode ser parcial ou total. No primeiro caso, podem persistir microrganismos vivos no foco inflamatório, capazes de readquirir virulência e de reativar a inflamação (p. ex., tuberculose). Um nodo calcificado pode ossificar-se total ou parcialmente (metaplasia óssea). Calcificação aparece em inúmeras inflamações, como em certas endocardites crônicas, pericardites, pleurites etc.; é especialmente frequente na primoinfecção tuberculosa, da qual constitui um dos mecanismos habituais de cura. MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS E REGIONAIS DA INFLAMAÇÃO: Inflamações localizadas podem acompanhar-se de manifestações sistêmicas, as quais têm as mesmas características daquelas observadas diante de outros tipos de agressão enquanto células do exsudato em grande quantidade podem exacerbar alguns dos componentes da reação de fase aguda.
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