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CARIOLOGIA @andreiadivensi 3 Interações químicas entre os dentes e os fluídos orais A hidroxiapatita biológica é formada durante o período de mineralização e maturação pré-eruptivos e representa o mineral presente na estrutura dental. Recebe alguns substituintes químicos (contaminantes), os quais alteram significativamente as propriedades desse mineral em relação à hidroxiapatita pura. Dois substituintes são mais frequentes e importantes considerando o efeito que causam no mineral: CARBONATO. Nesses locais, sua presença desestabiliza o mineral, tornando o local mais instável e, portanto, mais solúvel. * Decíduos possuem maior concentração de carbonato, motivo para maior velocidade de progressão de lesões de cárie neles. Dentina radicular também possui bastante carbonato. FLUORETO. O flúor é um íon muito reativo que consegue ocupar espaço de outro íon dentro da hidroxiapatita. Chamamos de fluorapatita quando o flúor desloca a hidroxila de posição e entra no lugar do carbonato. Ele vai melhorar o acumulo dos íons dentro da hidroxiapatita e consequentemente diminui a solubilidade, fazendo com que o mineral fique mais resistente a ação dos ácidos. ESMALTE X DENTINA A dentina entra em contato com a cavidade bucal em situações de exposição radicular (quando cemento se desgasta pelo atrito da escovação), e nas lesões de cáries cavitadas atingindo dentina. A dentina possui cristais de hidroxiapatita biológica menores e com estrutura cristalina menos perfeita que a do esmalte. Também possui mais carbonato (portanto maior solubilidade que o esmalte), ou seja, uma menor queda de ph na faixa de 6,2-6,3 já é capaz de solubilizar o mineral da dentina (em esmalte ph 5,5). Esmalte Dentina Tecido + mineralizado do corpo humano Cristais de hidroxiapatita permeados por uma rede de fibras colágenas tipo 1 95% de minerais na sua composição Túbulos dentinários que atravessam a dentina Estrutura em cristais de hidroxiapatita Prolongamentos citoplasmáticos dos odontoblastos pH CRÍTICO pH crítico: ph abaixo do qual os fluídos bucais se tornam subsaturados em relação a solubilidade dos minerais dentais. Como consequência do pH crítico, ocorre a dissolução (desmineralização) dos tecidos dentais. A saturação será em relação a quantidade de minerais presentes na saliva/estrutura dental. O trânsito de minerais sempre será do meio MAIS SATURADO para o meio MENOS SATURADO. A saturação sempre será em comparação entre 2 meios (dente e saliva ou fluido do biofilme). SALIVA A saliva possui muita concentração de íons e seu pH, que espelha os mesmos de plasma sanguíneo, tornam a saliva supersaturada em relação aos minerais dentais. Na saliva que não tem contato com outros tipos de íon (flúor), não vai ter formação de fluorapatita e consequentemente se o seu ph for sempre abaixo de 5,5 vai ter desmineralização e cárie. A saliva sem interferência de outras substancias é considerada supersaturada em relação aos tecidos dentais. CARIOLOGIA @andreiadivensi 4 O efeito tampão da saliva é o efeito de neutralizar o ácido, e manter o pH neutro (tampões químicos que bloqueiam o excesso de ácidos e bases). O ph salivar apenas abaixa logo após o consumo de produtos ácidos (nesse caso o ph da mistura da saliva + resíduo do produto na cavidade bucal que é baixo), ou raramente em situações de baixíssimo fluxo salivar, quando há uma estagnação de ácidos produzidos no biofilme dental na cavidade bucal. FLUIDO DO BIOFILME DENTAL Representa a porção líquida que permeia as células e a matriz do biofilme dental e é a solução responsável pelas trocas iônicas com o mineral dental. Mesmo em condições de jejum ou repouso, o fluido do biofilme terá concentração de íons minerais mais elevadas do que a saliva, pois está em íntimo contato com a superfície dental. Ao se alimentar, ocorre a desmineralização, onde estará subsaturado em relação ao material dental. Recebe minerais dissolvidos do dente devido à subsaturação, pois o biofilme pega os minerais do elemento dental. *quando comemos o fluido tira o mineral do dente – pois quer ficar equilibrado com o dente. DESENVOLVIMENTO DE LESÕES DE CÁRIE E SUA REMINERALIZAÇÃO As lesões de cárie em esmalte são geralmente subsuperficiais (há mais desmineralização no interior do esmalte do que na superfície). Essa lesão ocorre quando o meio está subsaturado em relação ao mineral dental, porém apenas parcialmente A lesão subsuperficial acontece porque mesmo que ocorra a queda do pH e saída de mineral do esmalte para o meio, alguns minerais são redepositados na superfície do esmalte. A partir da queda do pH e perda de mineral do esmalte, inicialmente não é detectável clinicamente (subclínico). Conforme essa perda vai aumentando, surge a mancha branca. A perda mineral da dentina também apresenta um padrão subsuperficial, mas nesse caso, devido à presença de colágeno, não se forma uma lesão branca, mas um amolecimento superficial com consistência de couro. A cárie progride mais rápido em dentina em função de ter mais carbonato (mais solúvel). Pra ajudar a não progredir a cárie (deixar mais solúvel=mais resistente|) é feito aplicação de flúor. Pode-se dizer que uma lesão de cárie é mais resistente à desmineralização futura do que o esmalte hígido, visto que alguns minerais que saem do meio do cristal eles são recolocados na superfície do cristal, assim sendo, fica mais difícil ocorrer a desmineralização. O mineral dental perde primeiros suas porções mais solúveis (devido ao carbonato). A reprecipitação de minerais (ativada pelo fluoreto) incorpora porções menos solúveis. Em todos os estágios e em qualquer tipo de tecido, as lesões cariosas podem sofrer remineralização. Lesão incipiente em esmalte: Para a remineralização é indicado a ação da saliva e terapias com fluoretos. Para a abrasão da superfície rugosa o tratamento é realizado através da ação mecânica da escovação Aspecto da lesão de cárie em esmalte paralisado: superfície brilhante e endurecida. As lesões paralisadas permanecem brancas pois normalmente os cristais de hidroxiapatita são muito bem organizados (conformação espacial perfeita), enquanto os cristais formados pelo processo de remineralizarão não são tão perfeitos quanto aqueles originais. Mancha branca. Devido a diferença entre os índices de refração do ar e da hidroxiapatita. As manchas brancas reduzem de tamanho, e em alguns casos podem desaparecer por completo (lesões mais iniciais). Na região subsuperficial, a mais desmineralizada, ocorre a dissolução total de diversos cristais de hidroxiapatita (o que explica o aspecto branco da lesão, já que o índice de refração do ar é bem distinto daquele do dente. Assim, os espaços deixados pelos cristais dissolvidos, preenchidos por ar, dão o aspecto branco da lesão. Índice de refração do ar: quando a luz bate no dente e como ela será percebida. Esmalte dental IR =1,62 Água IR = 1,33 Ar IR = 1,0 É necessário secar para analisar a mancha branca inicial. Lesão remineralizada em dentina. Endurecimento da lesão ativa. Deposição de minerais na superfície dentinária e formação de dentina reacional. Pigmento da lesão. Por deposição de pigmentos ou em decorrência da dentina reacional. Aspecto da lesão de carie em dentina paralisada: superfície endurecida e escurecida (aspecto de tecido seco). No caso de dentina reacional, a cárie tem maior dificuldade de progressão. CARIOLOGIA @andreiadivensi 5 REAÇÃO DO FLÚOR COM O MINERAL DENTAL O resultado da reatividade do fluoreto com o esmalte ou dentina é a formação de dois produtos de reação: FLUORETO FIRMEMENTE LIGADO (FLUORAPATITA). Representa a reação do fluoreto com o mineral dental a nível estrutural. Tem ph críticomais baixo (4,5). Mineral fica mais resiste a ação dos ácidos. FLUORETO FRACAMANTO LIGADO (FLUORETO DE CÁLCIO). Resultado de reação do fluoreto com íons cálcio, formando precipitações sobre a superfície dental e no interior de lesões de cárie. Mais relevante pois funciona como um reservatório de flúor na superfície dental para interferir com o processo de cárie. A reatividade do mineral dental com o fluoreto varia de acordo com o substrato. Assim, é maior a formação em dentina (+ reativa) do que em esmalte. Também é maior a formação no esmalte com lesão de cárie (+ poroso) do que no hígido. RESUMINDO Esmalte e dentina perdem ou ganham minerais da estrutura dental de acordo com as condições de saturação dos fluidos do meio bucal (saliva ou fluido do biofilme dental) O ph dos fluidos bucais é fator determinante na perda ou ganho de minerais pelos dentes, já que a solubilidade do mineral da estrutura dental é função do ph. As lesões iniciais de cáries apresentam uma região subsuperficial mais desmineralizada, gerando lesões brancas no esmalte e o amolecimento da dentina. A remineralização de lesões iniciais de cárie em esmalte e dentina é possível mediante a remoção dos fatores causais da cárie, potencializada pelo uso de fluoreto. Entretanto, a reversão total da perda mineral raramente é observada. Os subprodutos de reação do fluoreto com a estrutura dental são o flúor firmemente e o fracamente ligados ao mineral, sendo que o segundo, também chamado de mineral tipo fluoreto de cálcio, é o mais relevante, pois funciona como um reservatório de fluoreto na superfície dental para interferir com o processo de cárie. Xylitol inibe a progressão do S. mutans Questões 1. Como que a estrutura mineral dos dentes é mantida íntegra na cavidade oral quando banhada pela saliva? 2. Por que ela é dissolvida por ácidos? 3. Como a desmineralização pode ser revertida?
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