Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO ESTRATÉGICA E INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA PRIVADA AULA 1 Prof. Sivanei de Almeida Gomes CONVERSA INICIAL A primeira aula da disciplina Gestão Estratégica e Inteligência na Segurança Privada terá como assunto principal a difusão de conhecimentos introdutórios sobre o tema, seus aspectos históricos, a evolução da atividade de inteligência no Brasil, o Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP), e o que os compõe, suas missões e base legal. Abordaremos sua composição e como os entes federados podem integrar o SISP. Destacaremos também a diferença entre atividade de inteligência e investigação policial. TEMA 1 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA A atividade de inteligência acompanha a evolução histórica da humanidade, pois a procura por informações e pelo conhecimento remontam aos primórdios da civilização, que lutava pela sobrevivência, segurança e, principalmente, pela manutenção das relações de poder dentro do grupo social. Assim, não há qualquer dúvida de que a atividade de inteligência é vista como estratégica para qualquer organização no mundo dos negócios, tanto nos assuntos públicos como privados, uma vez que o volume de informações produzidas num mundo globalizado aumenta em progressão geométrica, enquanto que a capacidade de processamento desses dados não segue na mesma proporção. Buscando um conceito legal de inteligência, podemos mencionar o Artigo 1º, § 2º, da Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que a define nos seguintes termos: “[...] para os efeitos de aplicação desta lei, entende-se como Inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado [...]”. (Brasil, 1999) TEMA 2 – BREVE HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA A necessidade de conhecimento é intrínseca ao ser humano, pois somente por meio dele é possível sobreviver. O homem primitivo deveria, obrigatoriamente, conhecer todos os perigos que o cercavam, como o frio, os 3 animais perigosos, a maneira de saciar a fome e de se proteger. Portanto, coletar informações e analisá-las, que hoje, a grosso modo, definimos como atividade de inteligência, é uma atividade tão antiga quanto a própria humanidade. Muito embora o domínio da escrita tenha sido o grande meio catalisador das atividades de inteligência, não se pode olvidar que os chamados povos sem escrita também se valiam de outros recursos para a transmissão de informações, como a oralidade, tambores, sinais de fumaça, sinais de reflexo utilizando a luz solar ou lunar, feitos via cerâmicas ou espelhos, entre outros recursos. Exemplos da Antiguidade Clássica nos retratam essa realidade: No primeiro Império Universal (medos e persas), promovido por Ciro, O Grande, Dario, O Grande Rei, sucessor do primeiro, organizou um corpo de espiões: “Os olhos e os ouvidos do rei”, para espionar os sátrapas (vice-reis das unidades políticas e administrativas denominadas satrapias). Na Roma Antiga, era comum a presença de espiões atrás das cortinas para ouvir segredos. Antes do século II, Roma não possuía um corpo diplomático. Para resolver problemas, enviava pequenas missões que agiam em nome do governo, tornando-se, posteriormente, embaixadas permanentes: muitos membros prestaram-se ao serviço de espionagem. Toda a aristocracia romana tinha sua rede permanente de agentes clandestinos e casas com compartimentos secretos para espionarem seus hóspedes. Apesar deste histórico, os ramos só institucionalizaram a atividade de inteligência e espionagem no período do império (Revista Brasileira de Inteligência, 2005, p. 89). TEMA 3 – A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL De acordo com o site da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), temos que no Brasil, a inteligência de Estado desenvolveu-se durante o regime republicano, em especial a partir de 1927, e fez parte da história do país, em maior ou menor intensidade, tanto nos períodos democráticos quanto nas fases de exceção. A atividade de inteligência caracteriza-se pela identificação de fatos e situações que representem obstáculos ou oportunidades aos interesses nacionais. O levantamento e o processamento de dados e a análise de 4 informações ajudam os decisores governamentais a superar obstáculos ou a aproveitar oportunidades. Em todos esses momentos históricos, a inteligência esteve envolvida na produção e na proteção de dados, informações e conhecimentos, sempre a serviço do Estado. Com base na análise da sucessão dos diferentes órgãos de inteligência da histórica republicana, identifica-se quatro fases da atividade no Brasil. 3.1 Fase embrionária (1927 a 1964) A atividade esteve inserida, de forma complementar, em conselhos de governo (1927 a 1946) e no Serviço Federal de Informações e Contrainformações (SFICI – 1946 a 1964). Correspondeu à construção das primeiras estruturas governamentais voltadas para a análise de dados e para a produção de conhecimentos. 3.2 Fase da bipolaridade (1964 a 1990) A atividade esteve atrelada, de forma direta, ao contexto da Guerra Fria, de características notoriamente ideológicas. Abrangeu desde a reestruturação do SFICI até a extinção do Serviço Nacional de Informações (SNI). 3.3 Fase de transição (1990 a 1999) Com a redemocratização, a atividade de inteligência passou por processo de reavaliação e autocrítica para se adequar a novos contextos governamentais de atuação. A inteligência tornou-se vinculada a Secretarias da Presidência da República, primeiro como Departamento de Inteligência (DI) e, posteriormente, como Subsecretaria de Inteligência (SSI). 3.4 Fase contemporânea (1999 até hoje) Foi iniciada com a criação da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), consequência de ampla discussão política com representantes da sociedade no Congresso Nacional. É marcada pelo expressivo avanço da atividade no país – tanto pela consolidação da atuação da ABIN quanto pela expansão do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), também criado em 1999. http://www.abin.gov.br/historico/1927-conselho-de-defesa-nacional-cdn/ http://www.abin.gov.br/historico/1927-conselho-de-defesa-nacional-cdn/ http://www.abin.gov.br/historico/1946-servico-federal-de-informacoes-e-contra-informacoes-sfici/ http://www.abin.gov.br/historico/1946-servico-federal-de-informacoes-e-contra-informacoes-sfici/ http://www.abin.gov.br/historico/1946-servico-federal-de-informacoes-e-contra-informacoes-sfici/ http://www.abin.gov.br/historico/1964-servico-nacional-de-informacoes-sni/ http://www.abin.gov.br/historico/1990-e-1992-departamento-de-inteligencia-di-e-subsecretaria-e-secretaria-de-inteligencia-ssi-e-si/ http://www.abin.gov.br/historico/1990-e-1992-departamento-de-inteligencia-di-e-subsecretaria-e-secretaria-de-inteligencia-ssi-e-si/ http://www.abin.gov.br/historico/1995-e-1999-subsecretaria-de-inteligencia-ssi-e-agencia-brasileira-de-inteligencia-abin/ 5 Durante a maior parte da fase contemporânea da inteligência brasileira, a ABIN esteve vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR) – órgão com status de ministério. A reforma administrativa executada pela presidente Dilma Rousseff, em 2015, levou a agência à estrutura da Secretaria de Governo. Com a entrada em exercício do presidente Michel Temer, o GSI foi recriado e a ABIN foi inserida novamente na hierarquia do GSI.1 TEMA 4 – SISTEMA BRASILEIRO DE INTELIGÊNCIA (SISBIN) O Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) foi instituído pela Lei n. 9.883, no dia 7 de dezembro de 1999, com objetivo de integrar e coordenar as ações de planejamentoe execução da atividade de inteligência no país. Compete ao SISBIN, com base nos temas de interesse definidos pela Política Nacional de Inteligência, a obtenção e análise de dados e informações voltados para a produção e difusão de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório nacional e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado brasileiro. A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) é o órgão central do SISBIN, encarregado de coordenar e integrar as atividades de inteligência no país. No exercício de suas funções, compete à ABIN, nos termos do § 4º, da Lei 9.883/99: I – Planejar e executar ações, inclusive sigilosas, relativas à obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o Presidente da República; II – Planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade; III – avaliar as ameaças, internas e externas, à ordem constitucional; IV – Promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de inteligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e aprimoramento da atividade de inteligência. Atualmente, o Sistema Brasileiro de Inteligência é composto pelos seguintes órgãos: 1 Fonte: Agência Brasileira de Inteligência, disponível em: <http://www.abin.gov.br/institucional/historico/>, acesso em 6 set. 2017. . http://www.abin.gov.br/institucional/historico/ 6 I – Casa Civil da Presidência da República, por meio de sua Secretaria- Executiva; II – Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI); III – Agência Brasileira de Inteligência – ABIN, da Secretaria de Governo da Presidência da República, como órgão central do Sistema; IV – Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da Diretoria de Inteligência Policial do Departamento de Polícia Federal, do Departamento de Polícia Rodoviária Federal, do Departamento Penitenciário Nacional e do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça; V – Ministério da Defesa, por meio da Subchefia de Inteligência Estratégica, da Assessoria de Inteligência Operacional, da Divisão de Inteligência Estratégico-Militar da Subchefia de Estratégia do Estado- Maior da Armada, do Centro de Inteligência da Marinha, do Centro de Inteligência do Exército, do Centro de Inteligência da Aeronáutica, e do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia; VI – Ministério das Relações Exteriores, por meio da Secretaria-Geral de Relações Exteriores e da Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos Transnacionais; VII – Ministério da Fazenda, por meio da Secretaria-Executiva do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, da Secretaria da Receita Federal do Brasil e do Banco Central do Brasil; VIII – Ministério do Trabalho e Previdência Social, por meio da Secretaria-Executiva; IX – Ministério da Saúde, por meio do Gabinete do Ministro de Estado e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA); X – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por meio do Gabinete do Ministro de Estado; XI – Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria-Executiva e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); XII - Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC); 7 XIII – Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, por meio da Controladoria-Geral da União (CGU); XIV – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio de sua Secretaria-Executiva; XV – Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, por meio de sua Secretaria-Executiva, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT; Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC); Secretaria de Aviação Civil (SAC) e Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO); XVI - Ministério de Minas e Energia, por meio de sua Secretaria- Executiva; XII – Ministério do Esporte, por meio de sua Secretaria-Executiva; e XIII – Advocacia Geral da União (AGU). Percebe-se que o SISBIN é integrado não só por órgãos de inteligência. Sua composição é multidisciplinar e definida por decreto do presidente da república levando-se em conta injunções conjunturais. Além dos órgãos e entidades federais que direta ou indiretamente possam produzir conhecimentos sobre assuntos de interesse para a atividade de inteligência e daqueles responsáveis pela defesa externa, relações exteriores e segurança interna, também podem integrar o SISBIN órgãos das Unidades da Federação, mediante convênios e ajustes específicos, devendo, nesses casos, ser ouvida a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional (CCAI). O funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência efetivar-se-á mediante articulação coordenada dos órgãos que o constituem, respeitada a autonomia funcional de cada um e observadas as normas legais pertinentes a segurança, sigilo profissional e salvaguarda de assuntos sigilosos2. TEMA 5 – SUBSISTEMA DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA (SISP) O Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) foi instituído pelo Decreto 3.695/2000 com a finalidade de coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o país, bem como 2 Artigo 5º, do Decreto nº 4.376/2002. 8 suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões nesta área, cabendo aos órgãos que o compõem a missão de identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais de segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem ações para neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natureza. A Agência Central do SISP é a Coordenação Geral de Inteligência (CGI) da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), do Ministério da Justiça (MJ), a quem compete integrar e coordenar as atividades de Inteligência de Segurança Pública, em âmbito nacional e internacional. NA PRÁTICA Em face do aumento da criminalidade mais organizada e violenta, não raro, os chefes das instituições policiais demandam seus órgãos de inteligência visando a produção de conhecimento sobre tais organizações, a fim de poder adotar medidas operacionais diferenciadas para coibir tal criminalidade, cujos métodos tradicionais de enfretamento não apresentam resultados satisfatórios. FINALIZANDO Nesta aula nosso objeto de estudo foi uma visão histórica da atividade de inteligência e seus conceitos, o Sistema Brasileiro de Inteligência e o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, além de suas missões e composição. 9 REFERÊNCIAS BRASIL. Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Histórico da Atividade de Inteligência no Brasil. Disponível em: <http://www.abin.gov.br/institucional/historico/>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Decreto n. 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3695.htm>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Decreto n. 4.376/2002, de 13 de setembro de 2002. Dispõe sobre a organização e funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4376.htm>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Poder Legislativo, Brasília. Disponívelem: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9883.htm>. Acesso em: 6 set. 2017. BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) – Curso de Introdução a Atividade de Inteligência, 2015. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9883.htm GESTÃO ESTRATÉGICA E INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA PRIVADA AULA 2 Prof. Sivanei de Almeida Gomes 2 CONVERSA INICIAL A rota de aprendizagem da segunda aula da disciplina Inteligência na Segurança Privada terá como assuntos principais de nossos estudos: Tema 1: Conceito da atividade de inteligência. Tema 2: Categorias ou espécies de inteligência. Tema 3: Princípios gerais da atividade de inteligência. Tema 4: Ética na atividade de inteligência. Tema 5: Ramos da atividade de inteligência, níveis de assessoramento e fontes de inteligência e classificação. TEMA 1 – CONCEITO DE ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA A Atividade de Inteligência, como já foi mencionada na Aula 1, pode ser definida, de acordo com o parágrafo 2º, do artigo 1º da Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, como a “atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado”. Assim, vemos que o foco da atividade de inteligência é a produção de conhecimentos sólidos para assessorar o tomador de decisão, tanto na iniciativa privada como na área pública. Urge destacar que o termo “inteligência” vem sendo utilizado ao longo da história sob três aspectos: a inteligência como organização, a inteligência como processo e a inteligência como produto. A inteligência como organização entende a inteligência como o órgão ou o setor estruturado que possui a missão de executar todas as tarefas necessárias com a finalidade de produzir conhecimentos para subsidiar os processos decisórios. A inteligência como processo encara a inteligência como uma metodologia, ou seja, como o método científico utilizado para a produção de conhecimentos que servirão de base para subsidiar os processos decisórios. A inteligência como produto considera a inteligência como o resultado final do processo de análise, isto é, como o próprio conhecimento produzido. A realidade é que: sendo a atividade de inteligência, acima de tudo, um método, a noção de inteligência passou a ser aplicada por órgãos públicos e 3 privados no âmbito de suas funções específicas, passando a sua definição a depender, portanto, do referencial utilizado. Apontaremos também as diferenças conceituais entre a inteligência de estado ou clássica, a inteligência de segurança pública e a inteligência competitiva ou empresarial. TEMA 2 – CATEGORIAS OU ESPÉCIES DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA Neste segundo momento, destacaremos as categorias ou espécies da atividade de inteligência, ficando latente que a atividade, como produtora de conhecimento, pode ser adaptada e utilizada em qualquer área, tanto pública como privada. Dependendo do objeto de estudo e da área de atuação, definem-se diversas categorias ou espécies de inteligência, como inteligência de estado, inteligência militar, inteligência criminal, inteligência de segurança pública, inteligência policial, inteligência penitenciária, inteligência prisional, inteligência competitiva, entre outras tantas hoje existentes. Visando a um esclarecimento mais oportuno, em seguida apontaremos tais espécies ou categorias, nos seguintes termos: 2.1. Inteligência de estado O parágrafo 2º, do art 1º da Lei n. 9.883/1999, permite concluir que a inteligência de estado consiste na “atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado”. Tendo como foco a defesa do Estado e da sociedade e sendo fruto da integração de conhecimentos produzidos por diversos órgãos, cabe à inteligência de estado obtenção, reunião, sistematização e análise de informações referentes a fatos, ameaças, riscos, conflitos e oportunidades, no campo interno e externo, que, de forma direta ou indireta, possam interferir na consecução dos objetivos nacionais. 4 2.2. Inteligência militar A inteligência militar pode ser definida como a atividade militar especializada exercida permanentemente com a finalidade de produzir conhecimentos para subsidiar o processo decisório no âmbito das forças armadas. A produção de informações nessa área tem por objetivo orientar o planejamento voltado para o preparo e emprego das forças armadas nos campos interno e externo. 2.3. Inteligência criminal, inteligência de segurança pública e inteligência policial Em linhas gerais, a inteligência criminal é a atividade técnico- especializada, exercida permanentemente, com a finalidade de obter, analisar e produzir conhecimentos, em nível político, estratégico, tático e operacional, visando à prevenção e à repressão de crimes. A inteligência criminal é o gênero do qual são espécies a inteligência de segurança pública e a inteligência policial. De acordo com o art. 1º, parágrafo 4º, I, da Resolução n. 1, de 15 de julho de 2009, da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), temos que: Inteligência de Segurança Pública: é a atividade permanente e sistemática via ações especializadas que visa identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais sobre a segurança pública e produzir conhecimentos e informações que subsidiem planejamento e execução de políticas de Segurança Pública, bem como ações para prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza, de forma integrada e em subsídio à investigação e à produção de conhecimentos. Já o inciso IV do mesmo diploma legal acima define: Inteligência Policial: é o conjunto de ações que empregam técnicas especiais de investigação, visando a confirmar evidências, indícios e a obter conhecimentos sobre a atuação criminosa dissimulada e complexa, bem como a identificação de redes e organizações que atuem no crime, de forma a proporcionar um perfeito entendimento sobre a maneira de agir e operar, ramificações, tendências e alcance de condutas criminosas. 2.4. Inteligência penitenciária e inteligência prisional A inteligência penitenciária e a inteligência prisional são atividades desenvolvidas no âmbito dos estabelecimentos penitenciários com o objetivo de 5 detectar eventos anormais no interior das unidades prisionais e subsidiar os órgãos de segurança pública, com conhecimentos úteis e oportunos voltados para o combate preventivo e repressivo da criminalidade. Tuma (2013, p. 309) diferencia inteligência penitenciária de inteligência prisional a partir do objeto de interesse. Para essa autora, a inteligência penitenciária é a atividade voltada para a obtenção e análise de dados e informações colhidas no interior das unidades prisionais e destinadas a subsidiar a própria gestão dos estabelecimentos penais com a detecção de eventos críticos. Trata-se de importante instrumento para a garantia da ordem e da segurança do sistema penitenciário. É com ela que se pode, por exemplo, identificar, entre os presos, aqueles que possuem situação de liderança sobre os demais, colher informações sobre a deflagração de motins e rebeliões, monitorar visitas, correspondências, relacionamentos entre os presos, bem como prover assessoramento à gestão funcional dos servidores penitenciários, entre outras funções. Já a inteligência prisional, que também tem como matéria-prima dados e informações colhidas no interior dos estabelecimentos penitenciários,destina-se à produção de conhecimentos voltados à segurança pública. São informações sobre ações criminosas que aconteceram ou que se encontram em fase de planejamento ou preparação. [Tuma, 2013, p. 309]. 2.5. Inteligência competitiva ou empresarial A inteligência competitiva ou empresarial deve ser entendida como a atividade proativa voltada para a produção de informações com a finalidade de subsidiar a tomada de decisão, estratégica ou operacional, dentro das empresas. Trata-se de um processo sistemático e estruturado no âmbito empresarial com a finalidade de reduzir riscos, proteger ativos, levantar oportunidades e garantir vantagem competitiva no mundo dos negócios. Para Kahaner (1996), inteligência competitiva é um programa sistemático de coleta e análise da informação sobre atividades dos concorrentes e tendências gerais dos negócios, visando atingir as metas da empresa. O autor afirma que inteligência é uma coleção de informações filtradas, destiladas e analisadas. 6 TEMA 3 – PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS Neste momento da aula, abordaremos os princípios gerais da atividade de inteligência, que são as vigas mestras que dão sustentação à atividade tanto na iniciativa privada como no âmbito estatal, pois, sendo uma atividade típica de estada, perfeitamente aplicável à iniciativa privada, a atividade de inteligência deve pautar tantos por estes princípios como pelos princípios norteadores do Artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988, a saber: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. Em estreita relação com tais princípios constitucionais, a atividade de inteligência possui, além destes, outros princípios que apontamos abaixo, definidos na Doutrina Nacional de Inteligência Pública (DNISP): Objetividade: É o princípio que norteia a ISP para que cumpra suas funções de forma organizada, direta e completa, planejando e executando ações de acordo com objetivos previamente definidos. Oportunidade: É o princípio da ISP que orienta a produção de conhecimentos, a qual deve realizar-se em prazo que permita seu aproveitamento. Simplicidade: É o princípio da ISP que orienta a sua atividade de forma clara e concisa, planejando e executando ações com o mínimo de custos e riscos. Compartimentação: É o princípio da ISP que objetiva, a fim de evitar riscos e comprometimentos, restringir o acesso ao conhecimento sigiloso somente para aqueles que tenham a real necessidade de conhecê-lo. Legalidade: O exercício da atividade de inteligência e a utilização dos conhecimentos por ela produzidos devem observar sempre os limites estabelecidos em lei. Proatividade: A atividade de inteligência deve ser direcionada para a criação de alertas antecipados, seja com relação a problemas que possam vir a comprometer o funcionamento da empresa ou colocá-la em situação de vulnerabilidade, seja com relação a identificação de oportunidades que possam lhe conferir vantagens estratégicas no mundo competitivo. 7 Especialidade: A atividade de inteligência demanda o emprego de recursos humanos especializados, ou seja, deve ser exercida apenas por profissionais que possuam capacitação específica na área de inteligência. Trata-se de uma atividade que não admite improvisos. Eficiência: A atividade de inteligência deve ser precedida de planejamento rigoroso com vistas a atingir níveis elevados de presteza e rendimento na administração de recursos e obtenção de resultados. Segurança: Dada a importância dos assuntos tratados pela inteligência, todas as ações planejadas e executadas pela atividade deverão estar resguardadas por medidas de proteção e sigilo adequados para cada caso específico. Permanência: A atividade de inteligência deve ser estruturada e organizada de tal sorte que seja capaz de proporcionar aos tomadores de decisão um fluxo constante e sistemático de informações. Controle: A Inteligência deve ser supervisionada sistematicamente com intuito de prevenir o seu subemprego bem como evitar desvios de finalidade ou interferências externas no exercício da atividade. Amplitude: Os conhecimentos produzidos pela Inteligência deverão abranger todos os aspectos e fatores de influência que guardem relação com o assunto estudado. Imparcialidade: Na produção do conhecimento, o analista de inteligência deve deixar de lado convicções pessoais, ideias preconcebidas ou tendenciosas que possam distorcer os resultados do trabalho. O processo de análise deve ser objetivo, respeitando-se os critérios técnicos preconizados em cada fase pela metodologia de produção do conhecimento de inteligência. Fazendo uma análise de tais princípios e cotejando com os princípios constitucionais aludidos, vemos que alguns se repetem, como o da legalidade e da impessoalidade, que recebe o nome de imparcialidade, e os outros também estão inseridos, por via direta ou transversa, não fugindo, em momento algum, das vigas mestras que alicerçam o agir de toda a administração pública, seja ela municipal, estadual, distrital ou federal. Para a iniciativa privada, ao contrário do Estado, que só pode agir de acordo com o que a lei prescreve, é lícito fazer tudo o que a lei não vede, nos precisos ensinamentos de Hely Lopes Meirelles. Entretanto, quando falamos em 8 atividade de inteligência, ao particular é oportuno que se observe o regramento legal sobre a atividade, para poder utilizá-la com as adaptações necessárias. TEMA 4 – ÉTICA NA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA Fazendo uma ligação com o que foi tratado no Tema 3, vemos que a ética na atividade de inteligência é totalmente permeada, como não poderia ser diferente, pelo respeito aos princípios da Legalidade, Impessoalidade ou Imparcialidade e Moralidade. Ainda, o profissional da área de inteligência deverá pautar seu agir com irrestrita discrição, isenção de ânimo, sempre colocando o interesse da instituição e da sociedade em primeiro plano. Agindo dessa forma, estará respeitando os princípios éticos referidos. TEMA 5 – RAMOS DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA, NÍVEIS DE ASSESSORAMENTO E FONTES Neste tópico final, vamos tratar dos ramos da atividade de inteligência (inteligência e contrainteligência), sua umbilical ligação, bem como mencionaremos também o ELO – Elemento de Operações, que atua como suporte tanto para a primeira como para a segunda, auxiliando na proteção do conhecimento produzido, bem como nas ações de busca do dado negado. Assim, temos que a inteligência é o ramo que produz o conhecimento, e a contrainteligência é o ramo que atua na salvaguarda, na proteção desse mesmo conhecimento, bem como do pessoal, de instalações, materiais, redes, computadores etc. Ligado aos dois ramos, ainda temos o Elemento de Operações (ELO), que tem como missão auxiliar no ciclo de produção do conhecimento, agindo, de forma especializada, para buscar o dado negado ou coletar o dado necessário à produção do conhecimento. Neste ponto, necessária se faz uma rápida distinção de coleta e busca. Busca é o atuar do ELO quando o dado é negado, protegido. Já a coleta o dado está, via de regra, em fontes abertas de consulta. Destacaremos ainda os níveis de assessoramento prestado pelo OI (Órgão de Inteligência), seja no campo estratégico, tático e operacional. No nível estratégico, deverá produzir conhecimentos para subsidiar a elaboração da política empresarial e do planejamento estratégico da empresa. 9 Neste nível, ainda, cabe-lhe o acompanhamento de cenários visando a difusão de alertas antecipados relacionados a ameaças ou oportunidades que possam repercutir sobre os objetivos estratégicos definidos pela alta gerência. No nível tático, cabe-lhe a produção de conhecimentos voltados para subsidiar as diversas diretorias da empresa, com vistas ao cumprimento dasdiretrizes estratégicas e implementação dos planos setoriais desdobrados a partir do planejamento estratégico. No nível operacional, como o próprio nome sugere, cabe à inteligência produzir conhecimentos para subsidiar a implementação de ações operacionais, isto é, relacionadas com a execução de procedimentos e rotinas referentes às atividades fim da empresa. Por fim, vamos destacar as fontes que a atividade de inteligência busca para reunir dados e produzir o conhecimento quando demandada pelo tomador de decisões, a saber: humana, documentos, internet, banco de dados etc. NA PRÁTICA Após tratarmos dos temas acima, vemos que a atividade de inteligência, tanto na iniciativa privada como no campo governamental, onde tem suas origens, está calcada em princípios éticos e legais e tem como linha mestra a função de assessoria, não se confundindo com a atividade de investigação, como deixam transparecer os órgãos de imprensa quando tratam de tal atividade, quando não a colocam como atividade caracterizada pelo "secretismo" sem freios ou amarras legais, como algumas vezes retratam os filmes que exploram tal atividade. FINALIZANDO Nesta segunda aula, procuramos conceituar a atividade de inteligência com base na legislação vigente, que disciplina o tema no Brasil, esclarecendo a utilização do termo Inteligência ora como instituição, ora como processo, ora como produto. Abordamos ainda as categorias ou espécies de inteligência: inteligência de estado, inteligência militar, inteligência criminal, inteligência de segurança pública, inteligência policial, inteligência penitenciária, inteligência prisional, inteligência competitiva. Destacamos também os princípios gerais que lastreiam a atividade de inteligência, além dos princípios constitucionais do 10 Artigo 37, caput, da CF/1988. Por fim, tratamos dos aspectos éticos que devem permear a atividade de inteligência, seus ramos, níveis de assessoramento e fontes. 11 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Diário Oficial da União, Casa Civil, Brasília, DF, 7 dez. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9883.htm>. Acesso em: 11 set. 2017. ROCKEMBACH, S. J. Fundamentos doutrinários para a atividade de inteligência para a segurança privada, 2017. GESTÃO ESTRATÉGICA E INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA PRIVADA AULA 3 Prof. Sivanei de Almeida Gomes 2 CONVERSA INICIAL A rota de aprendizagem da terceira aula da disciplina Inteligência na Segurança Privada abordará os seguintes assuntos: Tema 1 – Produção de conhecimento de inteligência; Tema 2 – Linguagem de inteligência; Tema 3 – Dado e conhecimento: produto, verdade e erro; Tema 4 – Estados da mente; Tema 5 – Processos intelectuais e tipos de conhecimentos. TEMA 1 – PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA Até o momento vimos que a atividade de inteligência tem como linha mestra a produção de conhecimento para assessorar os tomadores de decisões, seja na Administração Pública, seja na atividade empresarial. Nesta linha, entendemos que inteligência é toda informação coletada, organizada ou analisada para atender às demandas de um tomador de decisões qualquer (Cepik, 2003). De acordo com a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP), inteligência em segurança pública é um exercício ou sistema de ações especializadas, que exige que os profissionais adotem uma linguagem também especializada, que, se não representará uma ruptura com o processo de comunicação utilizado pela sociedade, deve garantir relações de comunicações nas quais não ocorram distorções ou incompreensão. Assim, vemos que o processo de produção de conhecimento, tanto na Administração Pública, como na iniciativa privada, deve ser especializado e diferenciado, pois, por meio dele, o analista será capaz de transformar simples dados em conhecimentos úteis (saberes estratégicos), oportunos e confiáveis. A produção de conhecimento de inteligência poderá ocorrer basicamente em quatro situações: para cumprir o disposto em um Plano de Inteligência; para atender à solicitação de um outro setor de inteligência congênere; para atender a uma demanda específica solicitada por algum dos gestores da empresa; por iniciativa do próprio setor de inteligência. 3 TEMA 2 – CARACTERÍSTICAS DOS TEXTOS DE INTELIGÊNCIA Na produção de textos de inteligência devemos observar e valorizar algumas características, que são: Concisão – Produzir textos sintéticos e precisos; Correção – Empregar a norma culta na produção dos textos; Precisão – O conhecimento produzido deve ser verdadeiro; Imparcialidade – Produzir conhecimentos isentos de ideias preconcebidas, subjetivas, distorcidas ou tendenciosas; Objetividade – O conhecimento produzido deve estar em sintonia com o planejamento previamente elaborado; Simplicidade – O conhecimento deve proporcionar imediata e fácil compreensão. Para tal a linguagem deve ser simples, direta, objetiva e não prolixa. TEMA 3 – CONHECIMENTO E DADO: PROCESSO E PRODUTO; VERDADE E ERRO 3.1 Diferença entre dado e conhecimento Neste tópico vamos ressaltar a diferença que existe entre dado e conhecimento. Dado corresponde a toda e qualquer representação de um fato ou situação que ainda não foi trabalhada e submetida à metodologia de produção do conhecimento pelo profissional de inteligência. De forma simplista, podemos afirmar que o dado é a “pedra bruta” do profissional de inteligência, a qual precisa ser trabalhada e lapidada. O conhecimento, por sua vez, é o produto final que resulta do trabalho de análise e interpretação desenvolvido pelo profissional de inteligência. É o dado que foi trabalhado, lapidado e valorado pela ação do analista de inteligência, pois não se pode permitir, na Atividade de Inteligência, improvisos ou “achismos”, calcados em meras percepções pessoais. Vemos ainda que o conhecimento pode ser um processo, ou seja, a formação de uma imagem, de um fato ou de uma situação na mente humana. 4 O conhecimento pode também ser um produto, que é a representação (oral ou escrita) de fatos ou situações. É a materialização e difusão de uma imagem antes restrita à psique humana. 3.2 A concepção da verdade e seu antagonista para a atividade de inteligência Para a atividade de inteligência, a verdade significa a plena concordância entre o fato (objeto de estudo) e o conteúdo do pensamento do sujeito, ou seja, a plena conformidade entre aquilo que se pensa e a realidade das coisas. Considerando tal conceito, verifica-se que na atividade de inteligência o contrário da verdade não é a mentira, mas sim o erro, uma vez que na relação entre o pensamento e o fato que está sendo analisado nem sempre ocorrerá uma concordância plena, pois a mente poderá encontrar obstáculos que a impedem de formar uma imagem perfeita acerca do objeto (fato ou situação), isto é, o analista nem sempre consegue estar seguro acerca da própria existência do fato ou situação, tampouco de seus desdobramentos. Quando se analisa um fato ou uma situação, a mente humana forma imagens alternativas do que está sendo estudado. Com os dados que possui, o analista pode concordar plenamente, parcialmente ou nem mesmo ter condições de se manifestar a respeito daquilo que está sendo estudado. Portanto, a relação de concordância entre a mente e o objeto pode assumir gradações, a partir das quais a atividade de inteligência define estados da mente diante da verdade. TEMA 4 – ESTADOS DA MENTE DIANTE DA VERDADE Em relação à verdade, a mente humana pode apresentar-se sob quatro diferentes estados: certeza,opinião, dúvida e ignorância. Conhecer cada um destes estados da mente diante da verdade torna-se imprescindível para a atividade de inteligência, na medida em que estes trarão consequências diretas sobre o tipo de conhecimento produzido pelo analista. a. Certeza – Existe plena concordância entre o conteúdo do pensamento do sujeito (analista) e o fato (objeto de estudo). Neste caso, o analista não tem o mínimo receio de poder estar enganado quanto à verdade 5 acerca de um fato, situação ou de seus desdobramentos lógicos. O analista possui evidências suficientes e seguras para afirmar que algo é verdade. b. Opinião – Existe concordância parcial entre o conteúdo do pensamento do sujeito (analista) e o fato (objeto de estudo). Nestes casos, o analista tem receio de poder estar errado sobre algum aspecto. A concordância parcial entre o pensamento e o fato significa, na prática, que o analista acaba aceitando o fato como provavelmente verdadeiro, mas pela insuficiência de evidências fica receoso em atestar a sua verdade plena. São situações em que o profissional de inteligência deverá se expressar por meio de termos que indicam probabilidade, como “muito provável”, “pouco provável” etc. c. Dúvida – Nos casos de dúvida pode-se dizer que a mente do analista se encontra em situação de equilíbrio, pois possui, ao mesmo tempo, evidências suficientes para aceitar o objeto (fato ou situação) como verdadeiro, e evidências, também suficientes, para aceitá-lo como uma inverdade. Nestas situações, aconselha-se que o analista interrompa temporariamente o trabalho intelectual e reinicie a busca por outras evidências que possam lhe permitir concluir sobre a adequação ou não do objeto com a realidade. d. Ignorância – Trata-se do estado em que a mente sequer consegue formar qualquer imagem acerca de uma realidade específica. Caracteriza-se pelo típico “não sei”. É impossível produzir conhecimento sob o estado da ignorância. TEMA 5 – PROCESSOS INTELECTUAIS E TIPOS DE CONHECIMENTO O estudo de fatos ou situações ocorre por meio de diferentes processos intelectuais, que se caracterizam por diferentes graus de complexidade. O ser humano é capaz de conceber ideias, formular juízos e elaborar raciocínios. Ideia é a simples concepção da imagem de um objeto na mente, sem qualquer adjetivação que possa individualizá-lo, cabendo a ressalva, desde já, de que não é possível a produção de conhecimentos a partir da mera concepção de ideias. 6 Juízo é o processo intelectual pelo qual a mente relaciona ideias. O juízo é capaz de caracterizar ou individualizar um objeto (fato ou situação), sem, contudo, alcançar os desdobramentos lógicos que dele decorrem. Raciocínio é a operação intelectual por meio da qual a mente, com base em dois ou mais juízos conhecidos alcança outros que deles decorrem logicamente. Raciocinar significa buscar a verdade pela ligação e o estudo do inter-relacionamento entre pessoas, coisas e fatos. 5.1 Tipos de conhecimento de inteligência A doutrina se baseia em três fatores para diferenciar os tipos de conhecimento produzidos pela atividade de inteligência. Eles são os seguintes: os estados sob os quais a mente humana pode se colocar diante da verdade (certeza, opinião, dúvida e ignorância); os processos intelectuais necessários à produção do conhecimento (juízo e raciocínio); a temporalidade considerada no estudo do objeto (passado, presente e futuro). A partir da combinação destes três fatores, os tipos de conhecimento são: informe, informação, apreciação e estimativa. 5.1.1 Conhecimento informe É o conhecimento pelo qual o analista expressa o seu estado de certeza ou opinião em relação à verdade, acerca de fato ou situação passada e/ou presente, e resulta da simples formulação de juízos. Trata-se de conhecimento meramente descritivo, pelo qual o analista deverá relatar, de forma simples e objetiva “o quê”, “quem”, “onde”, “quando” e “como”. 5.1.2 Conhecimento informação É o conhecimento com o qual o analista, elaborando raciocínios, expressa o seu estado de certeza em relação à verdade e a fatos ou situações do passado ou do presente. Pelo conhecimento informação o analista vai além da simples narrativa. Interpreta fatos e situações, estabelecendo relações entre eles. 7 5.1.3 Conhecimento apreciação É o conhecimento com o qual o analista, elaborando raciocínios, expressa o seu estado de opinião em relação à verdade acerca de fatos e situações. No que se refere ao futuro, é importante destacar que as projeções se restringem aos desdobramentos lógicos dos fatos/situações estudadas, e resultam exclusivamente da percepção do próprio analista. As projeções, no conhecimento apreciação, devem se restringir ao período máximo de um ano. 5.1.4 Conhecimento estimativa É o conhecimento pelo qual uma equipe de analistas, elaborando raciocínios, expressa o seu estado de opinião em relação à verdade, acerca da evolução futura de um fato ou situação. O objetivo da estimativa é estudar o futuro. Este tipo de conhecimento deve ser elaborado por uma equipe de analistas. O trabalho se desenvolve com a utilização de métodos e técnicas voltados para a elaboração de cenários prospectivos. Do exposto acima, verifica-se, portanto, que os conhecimentos de inteligência poderão ser: a. meramente descritivos (informe); b. interpretativos (informação e apreciação); c. interpretativos-prospectivos (estimativa). NA PRÁTICA Para tornar o tema inteligência menos abstrato, apresentaremos um quadro em que destacamos qual o estado da mente do analista para cada tipo de conhecimento, se ele tem apenas uma ideia do assunto ou objeto em estudo, se formulou um juízo ou elaborou ou raciocínio e se isto se refere ao passado, presente ou futuro próximo. Em seguida, exibiremos um modelo de informe. FINALIZANDO Nesta terceira aula buscamos dotar os nossos alunos de conhecimentos básicos sobre o Ciclo de Produção de Conhecimento trazendo à baila os conceitos básicos sobre dado e conhecimento, as características dos textos da 8 inteligência: concisão, correção, precisão, imparcialidade, objetividade e simplicidade. Abordamos também a diferença entre verdade e erro para a atividade de inteligência, os estados da mente e os processos intelectuais frente ao objeto: ideia, juízo ou raciocínio. Por fim, abordamos quais os tipos de conhecimento existentes: informe, informação, apreciação e estimativa. 9 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto n. 3.695, de 21 de dezembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3695.htm>. Acesso em: 21 set. 2017. _____. Lei n. 9.883, de 7 de dezembro de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9883.htm>. Acesso em: 21 set. 2017. BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Curso de Introdução à Atividade de Inteligência. 2015 _____. Portaria n. 2, de 12 de janeiro de 2016. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1452696610.pdf>. Acesso em: 21 set. 2017. ROCKEMBACH, S. J. Fundamentos doutrinários da inteligência na segurança privada. 2017. GESTÃO ESTRATÉGICA E INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA PRIVADA AULA 4 Prof. Sivanei de Almeida Gomes CONVERSA INICIAL A rota de aprendizagem da quarta aula da disciplina de Gestão Estratégica e Inteligência na Segurança Privada abordará os seguintes assuntos: Tema 1 – Metodologia da produção do conhecimento; Tema 2 – Planejamento; Tema 3 – Reunião de dados; Tema 4 – Processamento; Tema 5 – Formalização e difusão. TEMA 1 – METODOLOGIA DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO Para uma elaboração especializada de conhecimento, tanto no âmbito da inteligência estatal quanto na iniciativa privada, a doutrina recorre a pressupostos científicospreviamente definidos, denominados Ciclo de Produção de Conhecimento (CPC). O CPC adota preceitos específicos para conhecimentos diferentes, por exemplo, a metodologia que permite a produção do conhecimento informe difere do conhecimento estimativa. A metodologia de produção de conhecimento abarca as seguintes fases: Planejamento; Reunião de dados e/ou conhecimentos; Processamento; Formalização e difusão; Arquivamento. É importante ressaltar que, embora as fases sigam uma sequência, elas não são estanques, isto é, elas se inter-relacionam e podem se desenvolver simultaneamente. Ressalta-se também que a metodologia ora apresentada admite pequenas variações e adequações, sendo salutar, aliás, que isso ocorra em virtude das variantes e características próprias de algumas atividades. 3 TEMA 2 – PLANEJAMENTO O planejamento tem por objetivo direcionar, organizar e racionalizar o trabalho do analista. Trata-se de uma fase indispensável, que trará reflexos diretos na qualidade do conhecimento produzido. No planejamento, o analista, após fazer uma breve análise acerca das necessidades do tomador de decisão e do contexto dentro do qual essas necessidades estão inseridas, deverá, de forma clara e objetiva, sistematizar o seu trabalho da seguinte forma: definir e delimitar o assunto que será estudado; delimitar a faixa de tempo; definir o usuário do conhecimento; determinar a finalidade do conhecimento; determinar o prazo disponível para a elaboração do trabalho; definir os aspectos essenciais acerca do assunto que será estudado; definir medidas extraordinárias; definir medidas de segurança. Para que não haja um descompasso entre o que a inteligência produzirá e aquilo de que o tomador de decisão precisa, é muito importante que a inteligência (chefe do setor ou próprio analista), ainda na fase do planejamento, converse com o tomador de decisão a fim de entender realmente quais são as suas preocupações e as suas reais necessidades. 2.1 Definição do assunto Consiste em determinar, por meio de uma expressão escrita, o fato ou situação que será estudado (exemplo: “reflexos da reforma trabalhista nos índices de produção mensal da empresa”). O analista, além de definir o assunto, deverá delimitar de forma clara e precisa sob quais aspectos e com que profundidade o fato ou situação deverá ser abordado, a fim de atender às necessidades de conhecimento do tomador de decisão. Para tal fim, aconselha-se que o analista desdobre o assunto em perguntas para as quais o tomador de decisão necessita de respostas. Isso 4 permitirá ao analista verificar, desde o início, se o seu trabalho estará completo e se realmente atenderá a todas as expectativas do usuário final. 2.2 Delimitação da faixa de tempo O analista deverá delimitar os limites temporais dentro dos quais a situação ou o fato será estudado. As perguntas formuladas na fase anterior, com base nas necessidades de conhecimento do usuário final, indicarão qual deverá ser a faixa de tempo considerada. 2.3 Definição do usuário do conhecimento Antes mesmo de iniciar seu trabalho, o analista deve visualizar, ao menos potencialmente, quem deverão ser as pessoas que virão a usar o conhecimento a ser produzido, bem como o nível decisório em que atuam. Este entendimento prévio permite, desde o início, que o analista ajuste a forma, a amplitude e a profundidade do produto final do seu trabalho ao perfil do tomador de decisão. 2.4 Determinação da finalidade do conhecimento Compreender para que o conhecimento será utilizado, ou seja, qual a sua finalidade específica, permite ao analista entregar produtos compatíveis com o nível decisório que pretende atender, adequando, aqui também, forma, amplitude e profundidade ao perfil e às necessidades específicas do tomador de decisão. 2.5 Determinação do prazo disponível para a elaboração do trabalho O tempo de elaboração do conhecimento deverá atender ao princípio da oportunidade, ou seja, o produto final deverá ser entregue ao tomador de decisão em prazo apropriado que lhe permita utilização. Dependendo da complexidade do assunto, nada impede que a inteligência converse com o usuário final a fim de verificar a possibilidade de dilação do prazo ou a readequação da amplitude e profundidade das suas necessidades de conhecimento, com vistas a compatibilizar o princípio da oportunidade com o princípio da eficiência. 5 2.6 Definição dos aspectos essenciais Em termos práticos, o analista deverá listar os aspectos ou aquilo que precisa conhecer e abordar para que possa responder às perguntas do tomador de decisão. Tal lista deve ser flexível, podendo sofrer ampliações ou restrições ao longo do estudo. Após listar os aspectos essenciais em relação ao assunto, o analista deverá verificar e separar os aspectos essenciais conhecidos dos aspectos essenciais a conhecer. Os aspectos essenciais conhecidos são aqueles para os quais já se tenha respostas antes do desencadeamento de qualquer medida voltada à reunião de dados. Nota-se que, neste ponto, o analista deve ter atenção e separar, entre os aspectos essenciais conhecidos, as respostas completas das incompletas e as que expressam certeza daquelas que expressam opinião ou dúvida. Os aspectos essenciais a conhecer, por sua vez, são aqueles para os quais o analista não tenha qualquer resposta, bem como aqueles que ainda precisam de confirmação ou complementação. A verificação e a separação dos aspectos essenciais em aspectos essenciais conhecidos e aspectos essenciais a conhecer torna-se imprescindível para orientar a fase de reunião, garantindo-lhe precisão, simplicidade, agilidade e objetividade. 2.7 Definição de medidas extraordinárias Consiste em identificar medidas indispensáveis à produção do conhecimento que extrapolem a capacidade e/ou os recursos normais do setor de inteligência da empresa. Dependendo da complexidade do assunto a ser estudado e das necessidades de conhecimento do tomador de decisão, a elaboração do trabalho poderá demandar medidas, adoção de técnicas ou procedimentos especiais, como pesquisa de opinião, contratação de especialistas etc. 6 2.8 Definição das medidas de segurança Já no planejamento, o analista deverá identificar e prever quais as medidas de segurança necessárias para proteger as ações que compreendem todo o processo de produção do conhecimento, levando-se em consideração a sensibilidade do assunto tratado e os possíveis impactos de um eventual vazamento sobre os ativos estratégicos da empresa no ambiente interno e externo. TEMA 3 – REUNIÃO DE DADOS Nesta fase o analista realizará um trabalho direcionado a coletar e/ou buscar os dados para lastrear a produção do conhecimento demandado e atender o tomador de decisão. Aqui se consultarão as bases de dados disponíveis, fonte humanas, arquivos, internet, e, se necessário, demandará também os órgãos congêneres. Caso o analista precise de algum dado protegido (negado) poderá demandar ainda o Elemento de Operações (ELO) para auxiliar na busca de tal dado negado. Nota-se que a reunião (e a seleção das fontes de inteligência) deverá tomar por base a relação de aspectos essenciais levantados no planejamento. É importantíssimo ressaltar, ainda, que a qualidade do conhecimento produzido pelo analista de inteligência é diretamente proporcional à qualidade e a precisão dos dados obtidos na fase de reunião, motivo pelo qual uma empresa não pode prescindir de recursos e tecnologias voltados para as atividades especializadas de coleta e busca de dados. TEMA 4 – PROCESSAMENTO A fase do processamento compreende exatamente a fase intelectual do processo de elaboração do conhecimento de inteligência. Nela, o analista deverá passar por quatro etapas, sendo elas: Avaliação; Análise; Integração; Interpretação. 7 4.1 Etapa da avaliação Nesta etapa, cabe ao analista, considerando os objetivos específicos do estudo, determinar o valor dos dados e conhecimentos obtidos na fase da reunião, isto é, deverá avaliar a pertinência e a credibilidade de cada dado ou conhecimento que pretende utilizar no seu trabalho. Para se aferir a pertinência, o analista deve verificar se o dado ou conhecimento realmente possui alguma relação com os aspectos do assunto estudado, valendo lembrar que um dado ou conhecimento pode interessar no todo ou somente em parte. Interessando em parte, deve-se, então, separar as frações significativas, pois apenas estas deverão ser consideradas na continuidade do trabalho. Para aferição da credibilidade do dado ou conhecimento, o analista deverá utilizar-se de uma técnica específica de avaliação de dados, que lhe permitirá avaliar a idoneidade da fonte e a veracidade do conteúdo. 4.1.1 Técnica de avaliação de dados: avaliação da fonte A avaliação da fonte tem por objetivo estabelecer o grau de idoneidade da fonte, a partir da análise de três critérios: Autenticidade; Confiança; Competência. A autenticidade consiste em verificar se o dado realmente provém da fonte que se apresenta ou daquela que se presume. Analisando indícios e peculiaridades do caso, deve-se diferenciar a fonte do mero canal de transmissão (intermediário). Quando a recepção do dado se der por meio de um intermediário, qualquer que seja ele, o analista deverá julgar não só a credibilidade da fonte primária (origem), mas também a credibilidade do canal de transmissão, a fim de conferir maior credibilidade à sua avaliação. A confiança será determinada avaliando-se o grau de envolvimento da fonte com o assunto tratado, qual o interesse da fonte em fornecer o dado, seus antecedentes criminais, sua lealdade, sua honestidade, suas inclinações políticas, qual o resultado de contribuições anteriores, seu padrão de vida e seu comportamento social. 8 A competência consiste em verificar se as condições, capacidades e habilidades pessoais da fonte e a sua localização realmente lhe permitem, por si só, perceber, memorizar, apreender e transmitir os dados da forma em que se apresentam. O grau de idoneidade de cada uma das fontes será expresso por letras do alfabeto, segundo os seguintes critérios: “A” = fonte idônea – aquela que sempre atendeu positivamente a todos os critérios considerados; “B” = fonte normalmente idônea – aquela que apenas poucas vezes deixou de atender os critérios considerados; “C” = fonte normalmente inidônea – aquela que na maioria das oportunidades não atendeu os critérios considerados; “D” = fonte inidônea – a que não atende nenhum dos três critérios considerados; “E” = fonte não pode ser avaliada – fonte desconhecida ou sobre a qual ainda não se possui informações suficientes para avaliação. 4.1.2 Técnica de avaliação de dados: avaliação do conteúdo A avaliação do conteúdo tem por objetivo estabelecer o grau de veracidade do conteúdo do dado ou conhecimento. Para tanto, três aspectos deverão ser analisados, sendo eles: Coerência; Compatibilidade; Semelhança. O dado é coerente quando apresenta harmonia interna, isto é, mostra- se bem encadeado, cronologicamente ordenado e sem contradições entre as partes que o compõem. Para se verificar a coerência analisa-se o dado isolado, ou seja, confrontam-se, apenas, as partes que formam o próprio dado que está sendo avaliado. O analista olha apenas para “dentro” do dado. Na avaliação da compatibilidade o analista deverá olhar para fora, a fim de verificar se o dado é compatível com aquilo que já se sabe sobre o assunto estudado. O foco aqui é verificar se o dado se harmoniza com outros fatos ou situações já conhecidos a respeito do objeto de estudo. 9 Haverá semelhança quando o dado for confirmado por outras fontes, ou seja, existem dados de outras fontes com o mesmo conteúdo do dado que está sendo avaliado. O grau de veracidade do conteúdo será expresso por números, conforme o critério a seguir: “1” = verdadeiro – o dado é coerente, compatível e confirmado por outras fontes. “2” = provavelmente verdadeiro – embora coerente e compatível, o dado não foi confirmado por outras fontes. “3” = duvidoso – o dado é coerente, apenas parcialmente compatível com o que já se conhece sobre o assunto e não foi confirmado por outras fontes. “4” = improvável – embora coerente, o dado não é compatível e não foi confirmado por outras fontes. “5” = a veracidade não pode ser avaliada – o dado não é coerente, não é compatível e não foi confirmado por outras fontes. 4.2 Etapa da análise Nesta etapa o analista de inteligência deverá classificar os dados já avaliados segundo seu grau de importância em relação ao assunto estudado, bem como separá-los em três blocos: os que expressam certeza, os que expressam opinião e os que expressam dúvida. Deverá verificar, ainda, se a quantidade e a qualidade dos dados que possui são realmente suficientes para atender a todos os aspectos listados como essenciais, na extensão e profundidade necessária para atender às expectativas do tomador de decisão. 4.3 Etapa da integração Na fase da integração, o analista, tomando por base os aspectos essenciais listados no planejamento, organiza e dá encadeamento lógico àquela massa de dados que se encontram ainda dispersos, de tal sorte que as frações isoladas passem a compor um conjunto coerente e ordenado que, de forma harmônica, seja capaz de responder a todas as perguntas do tomador de decisão. 10 4.4 Etapa da interpretação Na interpretação, o analista deverá identificar e avaliar as ligações existentes entre os dados, as relações de causa e feito, os graus de motricidade e dependência de um dado em relação aos outros, bem como encontrar padrões e apontar tendências, a fim de esclarecer as particularidades e preencher as lacunas relacionadas aos aspectos essenciais do assunto estudado, conforme o tipo e as características do conhecimento que será produzido. Na fase da interpretação, deve-se procurar entender, a partir de um ponto no passado, como determinado fato chegou à situação em que se encontra hoje e quais foram os fatores de influência que modelaram a realidade atual ou interferiram nesse processo evolutivo. Com relação ao estudo dos fatores de influência, o analista deve adequar a sua interpretação a respeito do assunto levando em consideração que poderão existir quatro tipos diferentes de fatores de influência, quais sejam: Fatores de influência que contribuíram para modelar a trajetória da situação, mas que não mais possuem potencialidade para continuar a influenciá-la no futuro; Fatores de influência que contribuíram para modelar a trajetória da situação, e que continuam a possuir potencialidade para continuar influenciando a situação no futuro; Fatores de influência que, embora não tenham ainda se apresentado, deverão influenciar a situação no futuro (fatores de influência inferidos); Fatores de influência que foram impostos pelo tomador de decisão e que ele quer que sejam considerados durante o processo interpretativo. Com intuito de embasar e reforçar suas conclusões, os analistas não só podem como devem se utilizar, no momento da interpretação, de técnicas estruturadas de análise, como brainstorming, construção de matrizes de impactos cruzados, entre outras. 11 4.5 Fase de avaliação da satisfatividade Nesta etapa deve-se avaliar (antecipadamente) o grau de satisfatividade do usuário final, ou seja, deve-se buscar um feedback do tomador de decisão para saber o quanto o conhecimento final realmente lhe foi útil. Na prática, deve-se elaborar um relatório preliminar (rascunho)que será apresentado e discutido com o usuário final em uma reunião presencial, a fim de que ele avalie se o documento que a inteligência está pretendendo lhe entregar atende a todas as suas necessidades de conhecimento. Esta é oportunidade que a inteligência tem de corrigir um eventual descompasso entre o trabalho realizado e as expectativas do tomador de decisão, ou seja, é o momento do ajuste fino, onde se deve verificar com o usuário final se todos os aspectos do assunto de interesse foram abordados da forma e com a profundidade que ele esperava. Acertados os detalhes entre a inteligência e o usuário final, aí sim parte- se para a elaboração do documento final e definitivo que será formalmente difundido. TEMA 5 – FORMALIZAÇÃO E DIFUSÃO Nesta fase se define a forma como o conhecimento será apresentado e veiculado, bem como qual será o grau de sigilo a ele atribuído. Normalmente, os conhecimentos de inteligência são veiculados através de relatórios de inteligência, mas nada impede que sejam difundidos por meio de uma apresentação oral. Cada tomador de decisão possui suas características e preferências pessoais. Uns preferem visualizar os assuntos por meio de um texto escrito, outros preferem visualizá-los em gráficos e tabelas e outros em mapas. Uns têm tempo para ler, outros nem tanto, e por aí vai. NA PRÁTICA Aqui trataremos da produção do conhecimento informe, tomando por base uma nova modalidade de transporte de drogas utilizada por traficantes para tentar ludibriar a ação da polícia. 12 FINALIZANDO Nesta quarta aula fizemos uma rápida explanação sobre a metodologia de produção de conhecimento, destacando as suas fases e deixando latente que não estamos diante de um processo estanque, pois, apesar da divisão em fases, elas podem acontecer de forma simultânea. 13 REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Curso de Introdução à Atividade de Inteligência. 2015 ROCKEMBACH, S. J. Fundamentos doutrinários da inteligência na segurança privada. 2017. GESTÃO ESTRATÉGICA E INTELIGÊNCIA NA SEGURANÇA PRIVADA AULA 5 Prof. Sivanei Gomes 2 CONVERSA INICIAL A rota de aprendizagem da quarta aula da disciplina Inteligência na Segurança Privada terá como assuntos principais de estudo a proteção do conhecimento (definição de contrainteligência, conceitos básicos e classificação de documentos sigilosos); a segurança orgânica (segurança de pessoal e instalações), seu material, operações, comunicações, telemática e informática; a segurança ativa (SEGAT); e a segurança de assuntos internos (SAI). TEMA 1 – PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO Quando falamos em proteção na Atividade de Inteligência, estamos tratando do ramo da atividade de Inteligência voltado para tal fim. Tal tema vem definido no art. 3º do Decreto n. 4.376, de 13 de setembro de 2002, nos seguintes termos: Contra Inteligência é a atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a inteligência adversa e ações de qualquer natureza que constituam ameaça à salvaguarda de dados, informações, e conhecimentos de interesse da sociedade e do Estado, bem como das áreas e dos meios que os retenham ou em que transitem. Na mesma linha, a Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública (DNISP), em sua quarta edição, atualizada em 2014, também define contrainteligência de segurança pública, nos seguintes termos: É o ramo da Atividade de Inteligência de Segurança Pública que se destina a proteger a atividade de inteligência e a instituição a que pertence, mediante a produção de conhecimento e implementação de ações voltadas à salvaguarda de dos e conhecimentos sigilosos, além da identificação e neutralização das ações adversas de qualquer natureza. Urge frisar ainda que ao tratarmos do tema contrainteligência, alguns conceitos básicos devem ser apontados para melhor compreensão do assunto: Responsabilidade: Obrigação legal, individual e coletiva, em relação à preservação da segurança. Por esse motivo, a informação deve ser preservada por quem a detém, evitando sua divulgação e manipulação por pessoas não autorizadas ao serviço. Acesso: É a possibilidade e/ou oportunidade de uma pessoa obter dados ou conhecimentos sigilosos. Esse acesso pode ser dado por meio de autorização oficial emanada de autoridade competente da AI, por meio de 3 credenciamento, ou por meio de superação das medidas de segurança empregadas na salvaguarda dos assuntos sigilosos. Comprometimento: Perda da segurança resultante do acesso não autorizado a dados, conhecimentos ou documentos sigilosos provocados por fatores humanos, naturais e acidentais que ocasionam falhas nas medidas de segurança empregadas para a salvaguarda dos documentos sigilosos. Vazamento: É a divulgação não autorizada de dados ou conhecimentos sigilosos. Credenciamento: É a autorização concedida pela autoridade competente da AI, que credencia determinada pessoa ao acesso a dados e/ou conhecimentos sigilosos e a áreas ou instalações, nas quais os documentos de inteligência são salvaguardados ou produzidos. Classificação: Atribuição, por parte da autoridade competente, de grau de sigilo do dado, informação, documento material, área ou instalação. A autoridade competente e o grau de sigilo são regulamentados pela Lei n. 12.527/2011. Podemos destacar que, para a contrainteligência, ameaça deve ser entendida como atores (pessoas) que, agindo por alguma motivação, possam executar ações que se contrapõem aos interesses da empresa e fatos (eventos) capazes de causar incidentes, que por meio da exploração de vulnerabilidades podem gerar impactos ou consequências negativas sobre os ativos críticos da empresa. Apenas a título de exemplo, seguem alguns problemas que podem surgir no exercício da atividade de segurança privada, a respeito dos quais cabe à Contrainteligência atuar: Vazamento de conhecimentos estratégicos; Espionagem industrial; Furto e/ou roubos de materiais críticos; Ataque a funcionários que desempenham atividades de risco, como, por exemplo, transporte de valores e escoltas; Sequestro e extorsão de funcionários; Acidentes em instrução e no serviço; Infiltração de membros do crime organizado nos quadros da empresa; 4 Cooptação de funcionários pelo crime organizado; Relacionamento de funcionários com membros do crime organizado; Falhas no serviço das quais possam decorrer processos judiciais. TEMA 2 – SEGURANÇA ORGÂNICA (SEGOR) A atividade de Contrainteligência, como ramo da Atividade de Inteligência, divide-se em três vertentes, a saber: Segurança Orgânica, Segurança Ativa e Segurança de Assuntos Internos. Neste tópico trataremos da Segurança Orgânica, que é o conjunto de medidas preventivas integradas, destinadas a proteger o pessoal, a documentação, as instalações, o material, as comunicações, a telemática, a informática e as operações, visando garantir o funcionamento da instituição e prevenir e obstruir as ações adversas de qualquer natureza. Destacando inicialmente a segurança do pessoal, trata-se do conjunto de medidas e procedimentos objetivamente voltados para os recursos humanos, as pessoas da organização, no sentido de assegurar comportamentos adequados à salvaguarda do conhecimento e/ou dado sigiloso. A segurança de pessoal abrangerá, ainda, medidas de controle e proteção física dos agentes detentores de conhecimentos e dados sigilosos empregados em missões, operações ou ações de inteligência, que, em função da natureza de suas funções, requeiram tais medidas. São três as medidas adotadas com a finalidade de prevenir e obstruir as ações de Recrutamento, Infiltração e Entrevista, a saber: 1. Segurança no processo seletivo: tais medidas visam dificultar as ações adversasde infiltração em órgãos que tratam de assuntos sigilosos e a admissão de indivíduos com características e antecedentes pessoais que possam levá-los a causar comprometimento das atividades do AI. 2. Segurança no desempenho das funções: são medidas contínuas desde a admissão até o desligamento do agente. As medidas de segurança nesse processo visam efetivar o processo de credenciamento, proceder à educação de segurança e confirmar características pessoais exigidas, a saber: Credenciamento para a função: atendidas as exigências para o desempenho das funções no OI, o agente ou analista receberá a 5 credencial de segurança, estabelecendo o grau de sigilo a que poderá ter acesso o credenciado. Educação de Segurança: processo de educação aos novos servidores do OI, por meio do qual se busca transmitir todos os procedimentos de segurança que deverão ser tomados na AI. São quatro os processos básicos do processo de educação de segurança: 1. Orientação Inicial: apresentação das Medidas de Segurança e as penalidades para o seu descumprimento. Busca-se criar uma mentalidade de segurança. 2. Orientação Específica: apresentação das medidas específicas de segurança às quais foi credenciado o servidor. 3. Orientação Periódica: medida que visa reavivar nos servidores a consciência quanto à importância de medidas de segurança. 4. Sinalização de Advertência: emprego de cartazes, adesivos e outros meios visuais para motivar a consciência quanto à importância de medidas de segurança. 3. Segurança no desligamento: Inicialmente, visa tomar medidas para levantar indícios de vulnerabilidades de segurança e, posteriormente, verificar se o ex-servidor mantém um comportamento adequado e guarda o sigilo quanto aos conhecimentos e/ou dados sobre os quais detém conhecimento. Nessa fase, duas providências são importantes: Entrevista: percepção e esclarecimento de todas as dúvidas do servidor em relação às medidas de segurança no desligamento e motivá-lo a manter o sigilo daquilo sobre que tomou conhecimento no OI. Controle após o desligamento: acompanhamento após o desligamento, de acordo com as credenciais de segurança do comportamento do ex-servidor. TEMA 3 – SEGURANÇA ORGÂNICA – 2ª PARTE 3.1 Segurança da informação na documentação 6 A segurança da informação na documentação direciona-se à proteção dos documentos sigilosos da empresa e tem como meta evitar vazamentos. Seguem abaixo exemplos de medidas que se prestam à segurança da informação na documentação: A edição e o cumprimento de instruções normativas que regulamentam o processo de produção, a classificação, a difusão e a custódia de conhecimentos sensíveis. A separação, o tratamento e a destruição do lixo classificado. A normatização e o controle de cópias de documentos classificados. O planejamento da gestão documental. 3.2 Segurança nos meios de comunicação e Tecnologia da Informação A segurança da informação nos meios de comunicação e TI objetiva impedir a interceptação do fluxo de dados durante sua transmissão, bem como preservar a integridade e o funcionamento dos sistemas de TI, e a integridade dos conhecimentos armazenados contra tentativas de acesso não autorizado, mediante a execução de algumas medidas defensivas, como por exemplo: Definição de perfis e controles de acesso; Monitoramento do tráfego de dados em sistemas de TI da empresa; Rotinas de backup; Utilização obrigatória de senhas e proteção de telas; Realização de testes de intrusão para verificar eventuais vulnerabilidades na rede e/ou sistemas; Utilização de criptografia; Compartimentação de diretórios e pastas de trabalho; Lacre de gabinetes; Evitar utilização de redes sem fio; Monitoramento (CFTV) dos locais onde estão hospedados os servidores da empresa; Recusar a utilização de computadores com gravadores de mídia, slots USB ou similares; Regramento e disciplina na utilização de telefone, fax e computador. TEMA 4 – SEGURANÇA ATIVA (SEGAT) 7 A Segurança Ativa constitui-se como o conjunto de medidas proativas (ofensivas) executadas pela Contrainteligência com a finalidade de detectar, avaliar e neutralizar ações adversas que se contraponham aos interesses da empresa. Ressalta-se novamente que o trabalho da Contrainteligência deve ir muito além da simples efetivação de medidas meramente defensivas (preventivas), competindo-lhe, também, o planejamento e a execução de ações especializadas de contraespionagem empresarial, contrapropaganda e contrassabotagem empresarial, que nada mais são do que operações de inteligência planejadas e executadas para proteger ativos estratégicos tangíveis e intangíveis da empresa. A contraespionagem empresarial deve ser pensada e implementada com objetivo detectar, avaliar e neutralizar ações adversas que pretendam ter acesso a pessoas, dados e conhecimentos sigilosos relacionados às atividades de segurança privada da empresa, em seus diferentes níveis. A contrapropaganda tem como finalidade detectar, avaliar e neutralizar a propaganda adversa, ou seja, aquela veiculada de forma maliciosa com a finalidade de influenciar ou provocar opiniões, emoções e comportamentos negativos do público ou funcionários em relação à empresa. A contrassabotagem empresarial, por sua vez, deve direcionar esforços para detectar, avaliar e neutralizar ações adversas de sabotagem, isto é, ações executadas sobre pessoas, documentos, materiais, equipamentos e instalações com a intenção de interromper o funcionamento das atividades de segurança privada desenvolvidas pela empresa. As ações de espionagem, propaganda adversa e sabotagem são silenciosas e dissimuladas. Além dos efeitos materiais indesejados, geram, indiretamente, efeitos psicológicos negativos que podem interferir significativamente na continuidade dos negócios. Assim, qualquer situação que fuja da normalidade ou que pareça um mero acidente de segurança deve ser investigada a fundo pela contrainteligência. TEMA 5 – SEGURANÇA DE ASSUNTOS INTERNOS Segurança de Assuntos Internos é o conjunto de medidas destinadas à produção de conhecimento que visam assessorar as ações de correção das instituições de segurança pública ou da iniciativa privada. 8 Trata-se de olhar para o interior da instituição ou empresa e apontar os pontos que precisam de ajustes ou correções (pontos fracos, correção de rumos, melhora da qualidade do serviço prestado pela instituição à sociedade, etc.). NA PRÁTICA Num mundo globalizado e com o uso cada vez mais frequente das novas tecnologias, em especial a internet, por onde transitam milhares de informações, é fato que na Atividade de Inteligência, em se tratando de assuntos sensíveis e classificados, caso ocorra algum comprometimento na segurança (infiltração, por exemplo), o conhecimento sensível pode ser acessado por pessoas não autorizadas e mal-intencionadas, colocando em risco a segurança do sistema e podendo trazer sérios prejuízos para o órgão e até para a sociedade e o Estado, dependendo da sensibilidade do conhecimento vazado. Assim, temos na Inteligência e Contrainteligência, que são ramos do mesmo tronco disciplinados em leis e decretos, um sistema organizado, formando uma grande comunidade que propicia um fluxo dinâmico e seguro na troca de dados e conhecimentos, via canal técnico, atendendo ao princípio da oportunidade entre os mais variados níveis no âmbito estatal. Não poderíamos aplicar os conhecimentos de Contrainteligência também à iniciativa privada? Será que a fórmula de um novo produto ou de uma nova tecnologia não podem despertar o interesse do(s) concorrente(s), que pode(m) se valer de todos os meios para ter acesso a esse conhecimento, por exemplo, com a infiltração de pessoa para tal fim? Não pode ocorrer espionagem industrial ou sabotagem numa linha produção
Compartilhar