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Introdução às Ciências Sociais

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1ºAula
As Ciências Sociais e sociedade 
contemporânea
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de: 
•	 compreender o que são as Ciências Sociais;
•	 identificar os diferentes ramos dessas ciências;
•	 entender o que é a Sociologia e a Antropologia.
Prezados(as) acadêmicos(as), esta aula é de Introdução 
à Sociologia e Antropologia. Inicialmente, será apresentado 
o conceito de Ciência Social e a sua importância para o 
entendimento da sociedade em que vivemos. Além disso, 
vamos estudar a evolução histórica da Sociologia e da 
Antropologia, especialmente na visão de Durkheim e Morgan, 
que contribuíram muito para a estrutura dos estudos sobre a 
sociedade.
Boa sorte!
Bons estudos!
Sociologia e Ética para Engenheiros 6
Seções de estudo
1 - O que são as Ciências Sociais?
2 - O surgimento da Sociologia
3 - O surgimento da Antropologia
1 - O que são as Ciências Sociais?
A todos que participam de uma sociedade, é possível 
perceber e diferenciar as ações e as relações humanas, como: 
andar, alimentar-se, respirar, reproduzir-se, casar-se, trabalhar, 
reclamar, estudar, relações comerciais, entre outras. Algumas 
ações são atribuídas a todos os indivíduos, como o andar, 
respirar e alimentar-se, por fazerem parte das necessidades 
físicas e biológicas dos seres. Tais ações são estudadas pelas 
Ciências Físicas e Biológicas. Enquanto algumas ações, como 
trabalhar, casar, estudar, questionar, entre outras, são 
comportamentos sociais e são vinculadas intrinsecamente à 
existência da sociedade, de forma que, as ações não orgânicas 
dos indivíduos não ocorreriam sem a vida em coletivo, cabe às 
Ciências Sociais explicá-las.
Dessa forma, entende-se que “as Ciências Sociais são o 
estudo sistemático do comportamento social do homem”, 
segundo o autor Pérsio Santos de Oliveira (1994, p. 16). Logo, 
as Ciências Sociais objetivam estudar o comportamento social 
humano.
Conforme o avanço do conhecimento científi co, 
as Ciências Sociais dividiram-se em ramos autônomos e 
complementares, disciplinas que são independentes entre si, 
porém o conhecimento de todas agrega melhor utilização 
delas, e posteriormente, em outras ciências, vejamos algumas:
• Sociologia: é o estudo das relações sociais ou das 
sociedades humanas.
• Antropologia: estuda a formação e desenvolvimento 
da cultura entre as diversas sociedades, bem como 
sua origem e desenvolvimento. Tem como objeto 
os tipos de organização familiar, as religiões, a 
magia, o casamento, etc.
• Economia: estuda a produção, circulação, distribuição 
e consumo de bens e serviços (distribuição de renda, 
política salarial, produtividade, etc.).
• Ciência Política: estuda a distribuição de poder na 
sociedade, a formação e o desenvolvimento dos 
tipos de governo (partidos políticos, mecanismos 
eleitorais, etc.).
Assim, as Ciências Sociais têm por objetivo em comum 
explicar e entender as relações entre os seres humanos e a 
sociedade, por meio da investigação científi ca. Elas auxiliam 
na compreensão das mudanças sociais e servem de base para 
novas transformações.
Breve histórico das Ciências Sociais
Há milhares de anos, os seres humanos vêm refl etindo 
sobre os grupos dos quais fazem parte, na tentativa de 
compreendê-los. As primeiras tentativas tinham um viés mais 
imaginativo e fantasioso do que científi co. Fazem parte dessas 
tentativas a criação de mitos, como deuses, monstros e afi ns, 
para justifi car o funcionamento dos comportamentos sociais 
como a monogamia e bigamia, hierarquias sociais, forma de 
justiça, entre outros.
Após a Idade Média e o início da Idade Moderna, 
as tentativas de explicação social foram extremamente 
infl uenciadas pela religião e fi losofi a, com relação ao 
estabelecimento de normas sociais pautadas nelas.
Dentre os primeiros a realizar estudos sociais estão os 
fi lósofos gregos Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (384-322 
a. C.), concluindo este que “o homem nasce para viver em 
sociedade”.
Na Idade Média a sistematização de normas sociais com 
fundamentos religiosos continuou, destacando-se o fi lósofo 
Santo Agostinho, com sua obra A cidade de Deus a qual alegava 
que os homens viviam em pecado, e propunha normas para 
que eles saíssem do caminho da perdição, demonstrando a 
religiosidade acentuada da época.
O Renascimento trouxe grandes autores que passaram a 
descrever a sociedade como, de fato, era. Destaca-se Maquiavel, 
com o livro O príncipe que tratava das formas de tomada e 
manutenção de governo, bem como as relações entre os 
governantes e os cidadãos; o autor Thomas More propondo 
uma sociedade ideal, em seu livro Utopia; posteriormente, 
O Leviatã, de Thomas Hobbes destacou-se pela forma de 
descrever o controle exercido pela Igreja Católica ao Estado.
No século XVIII, Giambattista Vico contribuiu 
grandemente com suas análises acerca da sociedade, 
afi rmando que “O mundo social é, com toda certeza, obra do 
homem”. Alguns anos depois, Jean-Jacques Rousseau, em O 
contrato social, formula que “o homem nasce puro e a sociedade 
é que o corrompe”.
 
7
Entretanto, foi no século XIX com o pensamento de 
Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, 
que a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter 
de cientifi cidade, sendo caracterizado como ciência.
Caros(as), agora que já explanamos superfi cialmente o contexto 
histórico das ciências sociais, que tal nos aprofundarmos em nossa 
disciplina?
Sonia M. Portella Kruppa afi rma que:
A Sociologia é uma ciência que, como outras 
Ciências Humanas, afi rmou-se no século XIX, 
na tentativa de explicar a sociedade que surgiu 
com o desenvolvimento do capitalismo, 
muitas vezes servindo para justifi car esse 
sistema econômico, social e político. Sua 
contribuição é, portanto, fundamental para a 
compreensão dessa sociedade. A Sociologia, 
contudo, não se resume a um bloco único 
de explicação da realidade. Dependendo da 
posição que assumem na análise da sociedade, 
os pensadores da Sociologia diferem quanto 
ao papel que atribuem à educação, à cultura 
e à própria sociedade, possibilitando análises 
distintas da escola (KRUPPA, 1994, p. 53).
Mas, como é que chegamos a este conceito?
2 - O surgimento da Sociologia
A palavra “Sociologia” foi empregada pela primeira vez 
por Auguste Comte (1798-1857), considerado o pai da 
disciplina. Ele sugeriu uma forma de sistematizar o conhecimento 
humano. Entretanto, foi com Émile Durkheim (1858-1917) 
que a Sociologia passou a ser considerada ciência sistematizada.
QUEM FOI ÉMILE DURKHEIM?
Émile Durkheim nasceu na 
cidade de Épinal (região de 
Lorena, França) no dia 15 de abril 
de 1858. Faleceu em Paris, capital 
francesa, em 15 de novembro de 
1917.
Viveu numa família muito 
religiosa, pois seu pai era um 
rabino. Porém, não seguiu o 
caminho da família, optando 
por uma vida secular. Desde 
jovem, foi um opositor da educação religiosa e defendia o método 
científi co como forma de desenvolvimento do conhecimento. Em boa 
parte dos seus trabalhos, procurou demonstrar que os fenômenos 
religiosos tinham origem em acontecimentos sociais.
Aos 21 anos de idade, Durkheim foi estudar na Escola Normal 
Superior (École Normale Supérieure) e passou a dedicar-se ao mundo 
intelectual. Formou-se em Filosofi a, no ano de 1882. Cinco anos 
após sua formatura, foi trabalhar na Universidade de Burdeos como 
professor de pedagogia e ciência social. Neste período, começaram 
seus estudos sobre sociologia.
Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/biografi as/emile_durkheim.
htm>. Acesso em: 11 Abr. 2018.
Segundo Kruppa (1994, p. 55):
Deve-se a Durkheim o reconhecimento da 
Sociologia enquanto ciência, com objeto e 
método de estudo próprios. Durkheim deu 
fundamento a uma forma determinada de 
análise da sociedade - a análise funcionalista. 
Tal análise baseia-se na visão da sociedade 
como um organismo, à semelhança de um 
organismo vivo, um todo integrado, onde cada 
parte desempenha uma função necessária ao 
equilíbrio do todo.
Durkheim em sua clássicaobra “As regras do método 
sociológico” publicada em 1857, a qual passou por diversas 
reedições, também criou o conceito de Fato Social e 
demonstrou que os fatos têm características próprias, que 
os distinguem dos fatos estudados pelas outras ciências. Ele 
considera a Sociologia o estudo dos fatos sociais.
Vejamos a seguir como um exemplo pode nos auxiliar na 
compreensão de fato social, segundo Durkheim:
Um convidado vai à festa de casamento 
trajado com roupa de praia (camisa regata, 
bermuda e chinelo). Provavelmente, este 
fi caria desconfortável: os outros convidados 
o olhariam de forma vexatória, os noivos 
fi cariam chateados e os seguranças o barrariam 
na entrada da festa.
Há um modo de vestir que é costumeiro, que é seguido. 
Isso não é estabelecido pelo indivíduo. Quando se juntou ao 
grupo, essa norma já existia e quando sair, provavelmente ela 
permanecerá. Assim, entende-se que o modo de vestir é um 
fato social. Também são fatos sociais a língua, a religião, as 
leis, entre outros fenômenos do mesmo tipo.
Para o autor, os fatos sociais são as formas de pensar, 
sentir e agir de um grupo social, tendo um poder coercitivo 
sobre o indivíduo. O fato social tem as seguintes características:
• generalidade: o fato social recai sobre todos os 
membros do grupo;
• exterioridade: ele vem de fora do indivíduo;
• coercitividade: os indivíduos entendem que são 
obrigados a seguir tais normas.
Dessa forma, os fatos sociais podem ser estudados como 
“objetos”, passando a ter caráter científi co.
Sociologia e Ética para Engenheiros 8
Durkheim e a educação
Durkheim também entendia que a educação era 
fundamental para a manutenção da sociedade. Kruppa apud 
Durkheim (1994, p. 55) afi rma que a educação “tem por objeto 
superpor ao ser que somos ao nascer, individual e associal, um 
ser inteiramente novo”. “É uma ilusão acreditar que podemos 
educar nossos fi lhos como queremos”, afi rma ele, pois a 
“educação se impõe ao indivíduo de modo irresistível”.
Como se pode notar, Durkheim acreditava no 
determinismo social e afi rmava ainda que “nem todos somos 
feitos para refl etir; e será preciso que haja sempre homens de 
sensibilidade e homens de ação”. Esse pensamento foi uma 
das formas de justifi car atitudes conservadoras por parte dos 
governos. Kruppa (1994, p. 56) diz que “o pensamento liberal 
conservador justifi ca a desigualdade social como fenômeno 
natura, afi rmando que os homens são dotados de capacidades 
diferentes. A desigualdade é tomada como questão individual 
e não social”.
Para a compreensão do pensamento de Durkheim, a 
leitura desse fragmento é muito importante:
Quando desempenho minha tarefa de 
irmão, de marido ou de cidadão, quando 
executo os compromissos que assumi, eu 
cumpro deveres que estão defi nidos, fora 
de mim e de meus atos, no direito e nos 
costumes. Ainda que eles estejam de acordo 
com meus sentimentos próprios e que eu 
sinta interiormente a realidade deles, esta 
não deixa de ser objetiva; pois não fui eu que 
os fi z, mas os recebi pela educação. Aliás, 
quantas vezes não nos ocorre ignorarmos o 
detalhe das obrigações que nos incumbem 
e precisarmos, para conhecê-las, consultar 
o Código e seus intérpretes autorizados! 
Do mesmo modo, as crenças e as práticas 
de sua vida religiosa, o fi el as encontrou 
inteiramente prontas ao nascer; se elas 
existiam antes dele, é que existem fora dele. 
O sistema de signos de que me sirvo para 
exprimir meu pensamento, o sistema de 
moedas que emprego para pagar minhas 
dívidas, os instrumentos de crédito que 
utilizo em minhas relações comerciais, as 
práticas observadas em minha profi ssão, etc. 
funcionam independentemente do uso que 
faço deles. Que se tomem um a um todos os 
membros de que é composta a sociedade; o 
que precede poderá ser repetido a propósito 
de cada um deles. Eis aí, portanto, maneiras 
de agir, de pensar e de sentir que apresentam 
essa notável propriedade de existirem fora 
das consciências individuais (DURKHEIM, 
2007, p. 2).
Findas as abordagens realizadas por Durkheim, agora, 
iremos estudar outro sociólogo contemporâneo, que também 
contribuiu grandemente para o desenvolvimento da sociologia
- Max Weber:
Max Weber (1864-1920) contemporâneo de Durkheim, 
não foi apenas sociólogo. Seus estudos abrangeram a 
História, Política, Filosofi a e Economia. Weber discordava 
de Durkheim quanto à metodologia usada na investigação da 
Sociologia, acreditando que não deveria ser a mesma utilizada 
nas Ciências Naturais, porque os fatos humanos têm fontes 
subjetivas, como a consciência e a interação entre os seres.
Max Weber 
Tal como Marx, Max Weber 
(1864-1920) não pode ser 
simplesmente rotulado como 
sociólogo; os seus interesses e 
preocupações abrangem muitas 
áreas. Nascido na Alemanha, 
onde passou a maior parte da 
sua carreira académica, Weber 
era um indivíduo de grande 
erudição. As suas obras cobrem 
os campos da Economia, do 
Direito, da Filosofi a e da História 
Comparada, bem como da Sociologia. Grande parte da sua obra 
dava também particular atenção ao desenvolvimento do capitalismo 
moderno e à forma como a sociedade moderna era diferente de 
outros tipos anteriores de organização social. Através de um conjunto 
de estudos empíricos, Weber explicitou algumas das características 
básicas das sociedades industriais modernas e identifi cou debates 
sociológicos fundamentais, que ainda hoje permanecem centrais 
para os sociólogos.
Fonte: GIDDENS, Anthony. “Sociologia: Problemas e Perspectivas”. 6ª Ed. 
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. Acesso em. Jan. 2017.
Dessa forma, para a análise das ações humanas não 
seria sufi ciente descrevê-las, como nas Ciências Naturais, 
e sim interpretá-las, levando em conta o signifi cado que os 
indivíduos atribuem às próprias ações.
Weber defi ne ação como conduta humana com 
signifi cação subjetiva por quem a pratica e a orienta. Quando 
tal ação é associada à ação de outro ou outros indivíduos, a 
ação defi ne-se ação social. Quanto mais racionais são as ações 
humanas, menor é a infl uência dos costumes e tradições sobre 
o indivíduo.
As ações sociais dividem-se em quatro:
• Ação racional com relação a fi ns: quando o indivíduo utiliza 
os meios necessários para atingir determinado objetivo, da forma 
como ele entende que deve ser realizado. As relações de compra 
e venda fazem parte dessa ação.
• Ação racional com relação a valores: quando o indivíduo 
orienta-se por princípios que inspiram suas ações. Pode ser 
relacionado com convicções ideológicas, religiosas, ou morais, 
como a honestidade, justiça, etc. Logo, o significado da ação 
não está no fim obtido, e sim na própria maneira de agir. Essa 
ação está presente quando um grupo de pessoas faz uma 
manifestação política, ou quando alguém devolve dinheiro 
9
encontrado na rua ao dono.
• Ação afetiva: a ação é inspirada por emoções, estado 
sentimental ou laço afetivo, sem levar em conta os fins ou meios, 
atingidos ou usados, já que o indivíduo não se importa com as 
consequências, ao menos no momento da ação. Tal ação ocorre 
quando entristecemos alguém próximo a nós, ou escrevemos 
poesia.
• Ação tradicional: a ação é motivada por hábitos ou costumes, 
podendo também ser realizada por imitação reativa, sendo difícil 
saber se o indivíduo tem total consciência da ação realizada. 
Tal ação ocorre quando pais não religiosos batizam o filho, ou 
quando colegas de trabalho se cumprimentam.
Comumente, as ações não se atêm a apenas um tipo de 
ação, entretanto, costumam ter predominância sobre algum 
tipo.
3 - O surgimento da Antropologia
O surgimento da Antropologia, por sua vez, confunde-se 
com a própria percepção do homem sobre seu objeto de 
estudo, a cultura - que será estudada adiante. Segundo Eriksen 
e Nielsen (2007, p. 9):
Se nos restringimos à antropologia como 
disciplina científi ca, alguns estudiosos 
remontariam suas origens ao Iluminismo 
europeu durante o século dezoito; outros 
sustentariam que ela só surgiu como ciência 
na décadade 1850; outros ainda afi rmariam 
que as pesquisas antropológicas no sentido 
atual começaram depois da I Guerra 
Mundial. Nós também não podemos evitar 
essas ambiguidades.
A construção de um conhecimento próximo à 
Antropologia científi ca já era construído desde antes 
da Revolução Francesa, porém ela tomou forma com o 
pesquisador Lewis Morgan, como veremos no excerto a 
seguir:
LEWIS HENRY MORGAN (1818 – 1881)
Dos evolucionistas, Morgan, foi aquele cujas 
ideias tiveram maior difusão. Morgan exerceu 
uma infl uência considerável no trabalho de 
Marx e Engels.
Ancient Society, mais do que qualquer 
outra obra, abordou todos os problemas 
relacionados com o parentesco. A sua 
importante descoberta foi a “nomenclatura 
classifi catória”. Estimulado por esta revelação 
Morgan empreendeu uma interpretação da 
evolução do parentesco combinando, com 
uma certa objectividade, o trabalho de campo 
e os dados históricos.
A carreira etnológica de Morgan teve o seu 
início quando, ainda a frequentar o curso de 
Direito (década de 40), se interessou pelos 
Iroqueses. A paixão por este povo foi de tal 
modo profunda que conseguiu transformar 
a sociedade secreta (a Grande Ordem dos 
Iroqueses) que ele, juntamente com um grupo 
de adolescentes formavam, numa instituição 
com objectivos mais científi cos e menos 
românticos. Os seus propósitos eram: estudar, 
educar e defender os índios das injustiças 
praticadas sobre eles. Concretamente, a 
sociedade de Morgan deu apoio fi nanceiro à 
defesa dos iroqueses para com proprietários 
que os queriam desertar. Em reconhecimento 
deste acto, Morgan foi convidado a ser 
membro honorário da organização Seneca. 
Sendo amigo de um índio, a penetração 
na comunidade iroquesa tornou-se mais 
facilitada.
Da observação e vivência com a tribo Seneca, 
resultou uma obra The League of the Ho-
dé-no-sau ou Iroquois, a qual constitui a 1ª 
monografi a de uma comunidade baseada 
numa experiência de campo, a 1ª descrição 
científi ca sobre uma etnia.
Em 1856 Morgan voltou a estudar a mesma 
tribo iroquesa, no entanto, sob o ponto de 
vista da designação dos parentes. Mais tarde, 
deslocou-se até aos índios Ojibway que viviam 
em Marqueltle, Michigan, e verifi cou que estes 
possuíam o mesmo sistema terminológico 
que os Iroqueses. Após esta constatação 
Morgan pensou que, se se verifi ca-se na Ásia o 
mesmo tipo de sistema de parentesco, poder-
se-ia demonstrar a origem asiática dos índios 
americanos. Tendo em vista este objectivo, 
Morgan desenvolveu um amplo programa 
de investigações de campo (estudou cerca de 
70 tribos), elaborando um inquérito, que fez 
dis-tribuir, que se destinava, especialmente, 
aos povos asiáticos. A obra Systems of 
Consanguinity and Affi nity of the Human 
Family (1871) constitui o resultado deste 
esforço. Nesta, o autor põe em relevo a 
dicotomia entre o sistema classifi catório e o 
sistema descritivo, aquele típico dos primitivos 
e este característico das sociedades actuais.
O mais importante na sua interpretação das 
terminologias relativas ao parentesco é, no 
entanto, o facto de ela ter levado Morgan 
a formular uma teoria geral da evolução 
social, sintetizada em Ancient Society. Esta 
é dividida em quatro partes dizendo respeito, 
respectivamente:
I – Desenvolvimento da inteligência através 
dos inventos e descobrimentos;
II – Desenvolvimento do conceito de governo;
III – Desenvolvimento do conceito de família;
IV – Desenvolvimento do conceito de 
propriedade.
Na primeira parte, Morgan faz um 
desenvolvimento da evolução humana sob 
o ponto de vista económico, isto é, dos 
processos e das técnicas que foram aparecendo 
e que deram origem à crescente melhoria das 
condições de vida, às diferentes etapas da 
vida económica das sociedades. Segundo o 
mesmo autor, toda a humanidade passou, 
Sociologia e Ética para Engenheiros 10
primeiramente, por uma fase de recolecção de 
frutos e raízes, posteriormente, alimentou-se à 
base do produto obtido através da pesca e da 
caça, em seguida assentou a sua economia na 
cultura dos farináceos (cultivados em hortas), 
mais tarde, na pastorícia e por último dedicou-
se, fundamentalmente, à agricultura (em 
campo aberto), propocionando-lhe. esta, uma 
quantidade ilimitada de recursos.
Quanto ao conceito de governo, desenvolvido 
na segunda parte da obra em questão, este 
assistiu, igualmente, a uma evolução, que 
inclui três fases. Na primeira, a organização 
das sociedades humanas baseava-se em 
classes sexuais. Esta dá lugar a uma segunda, 
cujos indivíduos se agrupavam em gens ou 
clãs, fratrias e tribos. A gens ou clã constitui 
um grupo de pessoas ligadas por laços de 
consanguinidade, uma instituição exogâmica 
de fi liação unilinear e base da organização 
política, a qual funcionava democraticamente. 
A gens evoluiu da descendência matrilinear 
para a patrilinear, isto é, se inicialmente, a 
gens englobava o antepassado feminino mais 
as suas descendentes e as fi lhas destas, mais 
tarde, por gens considerava-se o antepassado, 
os seus descendentes, mais os fi lhos varões 
deste.
A fratria constitui uma associação de clãs que 
possuem sobretudo funções religiosas e a 
tribo é um grupo de fratrias que comungam de 
uma mesma língua e de um mesmo território e 
que realiza tarefas de cariz político.
A organização política baseada nas relações 
pessoais dá lugar a uma terceira forma de 
governo cujas relações são determinadas pela 
vinculação das pessoas a um território: cidade, 
distrito ou nação.
Na terceira parte da sua obra principal, 
Morgan desenvolve a evolução da família, 
instituição esta cuja forma mais arcaica foi 
a família consanguínea e a qual resultou do 
casamento entre irmãos (endogamia, incesto). 
A família punalua substitui a primeira e é o 
produto do casamento de um grupo de irmãos 
com cada uma das mulheres dos outros e do 
casamento de um grupo de irmãs com cada 
um dos maridos das outras. As mesmas leis 
estendiam-se às mulheres e aos homens dos 
primos, pois estes eram considerados irmãos. 
Nesta fase existiam apenas regras negativas de 
casamento, isto é, os indivíduos apenas eram 
obrigados a não casar com as suas irmãs ou 
irmãos. Logo, organizavam-se em grupos 
exogâmicos (quer isto dizer, em cada geração 
uma pessoa tem de desposar um elemento de 
outro grupo). Foi nesta fase punalua que se 
geraram os clãs.
Na família sindiásmica dá-se o acasalamento de 
um homem com uma mulher, no entanto, 
estes não possuem coabitação exclusiva. Aqui, 
mantêm-se o sistema de fi liação matrilinear. 
Sucede-se a família patriarcal a qual se 
fundava no acasalamento de um homem com 
várias mulheres, dando-se por consequência a 
mudança de fi liação matri para patrilinear. Por 
último, vem a família monogâmica nuclear, 
que se baseia no casamento de um só homem 
com uma só mulher coabitando juntos.
Para encerrar Ancient Society, Morgan 
debruçou-se sobre a evolução da noção de 
propriedade.
No estado selvagem o homem possuia um 
número insignifi cante de objectos, por isso 
as suas noções sobre propriedade, seu valor 
e modo de transmissão eram muito vagas, 
senão mesmo nulas. Os indivíduos tinham 
posse exclusiva sobre os seus instrumentos 
de trabalho, de defesa e sobre as suas poucas 
roupas. A terra era possuida colectivamente 
pela totalidade dos membros da tribo. Não 
havia herança, pois os objectos mais valiosos 
do indivíduo eram depositados no túmulo do 
defunto, a quem tinham pertencido. Quando, 
ainda no período selvagem, se formou a 
organização gentílica, apareceu a primeira 
regra relativa à herança, a qual postulava que 
os bens do defunto eram repartidos entre os 
seus parentes clãnicos.
O gradual aumento de recursos fez com que 
a quantidade e variedade de bens possuídos 
pelos indivíduos fossem aumentando. Todavia, 
estes ainda não eram sufi cientes para que se 
atribuisse uma grande importância à herança. 
De qualquer forma, na fase inicial da barbárie, 
começou a delinear-se uma segunda regra de 
transmissão, regra esta que estabelecia como 
herdeiros os parentesagnáticos (descendência 
por linha masculina) com exclusão dos 
restantes parentes gentílicos.
À medida que os bens pessoais aumentam a 
relação do homem com a terra vai-se alterando. 
Durante a fase média da barbárie, o domínio 
territorial era ainda propriedade indivisa da 
tribo, mas uma parte estava agora reservada 
ao sustento do governo, uma outra para fi ns 
relacionados com o culto e uma terceira para a 
subsistência das diversas gens.
A fase superior da barbárie caracteriza-se pela 
constituição de duas formas de propriedade: 
a propriedade do estado e a propriedade 
individual, contudo, estas não iliminaram, por 
completo, a propriedade colectiva. A gens e a 
tribo continuaram a possuir vastos territórios. 
Ainda nesta fase, delineou-se uma nova regra 
de transmissão, a qual previa três categorias de 
herdeiros: em 1º lugar, os fi lhos do defunto 
(preferencialmente os varões), em 2º lugar, 
os agnatos, por ordem de proximidade e, 
por último, os parentes gentílicos. Nesta 
fase ainda aparecem as primeiras disposições 
testamentárias.
Com o advento da civilização a propriedade 
individual ultrapassou largamente a 
propriedade colectiva, assumindo múltiplas 
formas e foi alvo de uma exploração intensa 
e variada.
Apesar de ter descrito isoladamente a evolução 
11
de cada um dos aspectos da sociedade, Morgan, 
concebia-as antes como interligadas, como 
causando-se mutuamente. Nesta medida, ele 
fez um esforço para associar os estádios de 
cada uma das evoluções com os outros.”
Disponível em: <http://knoow.net/outros/
artigoscientifi cos/ciencsochuman/historia-antropologia>. 
Acesso em: 05 Mar. 2018.
Segundo Eriksen e Nielsen (2007, p. 29), “Morgan 
compreendeu que grande parte da complexidade da cultura 
nativa americana em pouco tempo seria irrecuperavelmente 
destruída como consequência do infl uxo de europeus, e 
considerava como tarefa crucial documentar a cultura 
tradicional e a vida social desses nativos antes que fosse 
tarde demais”.
Essa visão da Antropologia como forma de preservar, 
ainda que documentalmente, culturas em extinção prevaleceu 
por muitos anos.
Retomando a aula
Parece que estamos indo bem! Então, para encerrar 
esta aula, vamos recordar os temas que foram 
abordados:
1 - O que são as Ciências Sociais?
Na seção 1, vimos que “As Ciências Sociais são o estudo 
sistemático do comportamento social do homem”, segundo 
o autor Pérsio Santos de Oliveira (1994). E ainda, as ciências 
sociais são um conjunto de disciplinas científi cas que estudam 
os aspectos sociais das diversas realidades humanas. 
2 - O surgimento da Sociologia
Na seção 2, vimos que a Sociologia surgiu ao 
tentar explicar a sociedade a partir do desenvolvimento 
do capitalismo, servindo por vezes para justifi cá-lo. 
Para tanto, apresentamos as teorias dos dois principais 
sociólogos: Emile Durkheim e Max Weber. O primeiro 
com a teoria dos fatos sociais e o segundo com a teoria da 
ação social. Ambos tentam explicar como o homem vive 
socialmente.
3 - O surgimento da Antropologia
Na seção 3, estudamos que a Antropologia surgiu com o 
intuito de documentar a cultura dos povos nativos, antes que 
esses fossem extintos. A Antropologia está vinculada a ideia 
de cultura e passou por um processo de construção de seu 
conceito. Seu principal representante foi LEWIS HENRY 
MORGAN o qual desenvolveu seus estudos a partir das 
teorias dos estudos dos parentescos.
Vale a pena
Entendendo Fato Social - Sociologia. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=-5HgTY0F430>.
Daens (1992).
As Regras do Método 
Sociológico - Émile Durkheim.
Vale a pena assistir
Minhas anotações

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