Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1ºAula As Ciências Sociais e sociedade contemporânea Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender o que são as Ciências Sociais; • identificar os diferentes ramos dessas ciências; • entender o que é a Sociologia e a Antropologia. Prezados(as) acadêmicos(as), esta aula é de Introdução à Sociologia e Antropologia. Inicialmente, será apresentado o conceito de Ciência Social e a sua importância para o entendimento da sociedade em que vivemos. Além disso, vamos estudar a evolução histórica da Sociologia e da Antropologia, especialmente na visão de Durkheim e Morgan, que contribuíram muito para a estrutura dos estudos sobre a sociedade. Boa sorte! Bons estudos! Sociologia e Ética para Engenheiros 6 Seções de estudo 1 - O que são as Ciências Sociais? 2 - O surgimento da Sociologia 3 - O surgimento da Antropologia 1 - O que são as Ciências Sociais? A todos que participam de uma sociedade, é possível perceber e diferenciar as ações e as relações humanas, como: andar, alimentar-se, respirar, reproduzir-se, casar-se, trabalhar, reclamar, estudar, relações comerciais, entre outras. Algumas ações são atribuídas a todos os indivíduos, como o andar, respirar e alimentar-se, por fazerem parte das necessidades físicas e biológicas dos seres. Tais ações são estudadas pelas Ciências Físicas e Biológicas. Enquanto algumas ações, como trabalhar, casar, estudar, questionar, entre outras, são comportamentos sociais e são vinculadas intrinsecamente à existência da sociedade, de forma que, as ações não orgânicas dos indivíduos não ocorreriam sem a vida em coletivo, cabe às Ciências Sociais explicá-las. Dessa forma, entende-se que “as Ciências Sociais são o estudo sistemático do comportamento social do homem”, segundo o autor Pérsio Santos de Oliveira (1994, p. 16). Logo, as Ciências Sociais objetivam estudar o comportamento social humano. Conforme o avanço do conhecimento científi co, as Ciências Sociais dividiram-se em ramos autônomos e complementares, disciplinas que são independentes entre si, porém o conhecimento de todas agrega melhor utilização delas, e posteriormente, em outras ciências, vejamos algumas: • Sociologia: é o estudo das relações sociais ou das sociedades humanas. • Antropologia: estuda a formação e desenvolvimento da cultura entre as diversas sociedades, bem como sua origem e desenvolvimento. Tem como objeto os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, o casamento, etc. • Economia: estuda a produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços (distribuição de renda, política salarial, produtividade, etc.). • Ciência Política: estuda a distribuição de poder na sociedade, a formação e o desenvolvimento dos tipos de governo (partidos políticos, mecanismos eleitorais, etc.). Assim, as Ciências Sociais têm por objetivo em comum explicar e entender as relações entre os seres humanos e a sociedade, por meio da investigação científi ca. Elas auxiliam na compreensão das mudanças sociais e servem de base para novas transformações. Breve histórico das Ciências Sociais Há milhares de anos, os seres humanos vêm refl etindo sobre os grupos dos quais fazem parte, na tentativa de compreendê-los. As primeiras tentativas tinham um viés mais imaginativo e fantasioso do que científi co. Fazem parte dessas tentativas a criação de mitos, como deuses, monstros e afi ns, para justifi car o funcionamento dos comportamentos sociais como a monogamia e bigamia, hierarquias sociais, forma de justiça, entre outros. Após a Idade Média e o início da Idade Moderna, as tentativas de explicação social foram extremamente infl uenciadas pela religião e fi losofi a, com relação ao estabelecimento de normas sociais pautadas nelas. Dentre os primeiros a realizar estudos sociais estão os fi lósofos gregos Platão (427-347 a. C.) e Aristóteles (384-322 a. C.), concluindo este que “o homem nasce para viver em sociedade”. Na Idade Média a sistematização de normas sociais com fundamentos religiosos continuou, destacando-se o fi lósofo Santo Agostinho, com sua obra A cidade de Deus a qual alegava que os homens viviam em pecado, e propunha normas para que eles saíssem do caminho da perdição, demonstrando a religiosidade acentuada da época. O Renascimento trouxe grandes autores que passaram a descrever a sociedade como, de fato, era. Destaca-se Maquiavel, com o livro O príncipe que tratava das formas de tomada e manutenção de governo, bem como as relações entre os governantes e os cidadãos; o autor Thomas More propondo uma sociedade ideal, em seu livro Utopia; posteriormente, O Leviatã, de Thomas Hobbes destacou-se pela forma de descrever o controle exercido pela Igreja Católica ao Estado. No século XVIII, Giambattista Vico contribuiu grandemente com suas análises acerca da sociedade, afi rmando que “O mundo social é, com toda certeza, obra do homem”. Alguns anos depois, Jean-Jacques Rousseau, em O contrato social, formula que “o homem nasce puro e a sociedade é que o corrompe”. 7 Entretanto, foi no século XIX com o pensamento de Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, que a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter de cientifi cidade, sendo caracterizado como ciência. Caros(as), agora que já explanamos superfi cialmente o contexto histórico das ciências sociais, que tal nos aprofundarmos em nossa disciplina? Sonia M. Portella Kruppa afi rma que: A Sociologia é uma ciência que, como outras Ciências Humanas, afi rmou-se no século XIX, na tentativa de explicar a sociedade que surgiu com o desenvolvimento do capitalismo, muitas vezes servindo para justifi car esse sistema econômico, social e político. Sua contribuição é, portanto, fundamental para a compreensão dessa sociedade. A Sociologia, contudo, não se resume a um bloco único de explicação da realidade. Dependendo da posição que assumem na análise da sociedade, os pensadores da Sociologia diferem quanto ao papel que atribuem à educação, à cultura e à própria sociedade, possibilitando análises distintas da escola (KRUPPA, 1994, p. 53). Mas, como é que chegamos a este conceito? 2 - O surgimento da Sociologia A palavra “Sociologia” foi empregada pela primeira vez por Auguste Comte (1798-1857), considerado o pai da disciplina. Ele sugeriu uma forma de sistematizar o conhecimento humano. Entretanto, foi com Émile Durkheim (1858-1917) que a Sociologia passou a ser considerada ciência sistematizada. QUEM FOI ÉMILE DURKHEIM? Émile Durkheim nasceu na cidade de Épinal (região de Lorena, França) no dia 15 de abril de 1858. Faleceu em Paris, capital francesa, em 15 de novembro de 1917. Viveu numa família muito religiosa, pois seu pai era um rabino. Porém, não seguiu o caminho da família, optando por uma vida secular. Desde jovem, foi um opositor da educação religiosa e defendia o método científi co como forma de desenvolvimento do conhecimento. Em boa parte dos seus trabalhos, procurou demonstrar que os fenômenos religiosos tinham origem em acontecimentos sociais. Aos 21 anos de idade, Durkheim foi estudar na Escola Normal Superior (École Normale Supérieure) e passou a dedicar-se ao mundo intelectual. Formou-se em Filosofi a, no ano de 1882. Cinco anos após sua formatura, foi trabalhar na Universidade de Burdeos como professor de pedagogia e ciência social. Neste período, começaram seus estudos sobre sociologia. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/biografi as/emile_durkheim. htm>. Acesso em: 11 Abr. 2018. Segundo Kruppa (1994, p. 55): Deve-se a Durkheim o reconhecimento da Sociologia enquanto ciência, com objeto e método de estudo próprios. Durkheim deu fundamento a uma forma determinada de análise da sociedade - a análise funcionalista. Tal análise baseia-se na visão da sociedade como um organismo, à semelhança de um organismo vivo, um todo integrado, onde cada parte desempenha uma função necessária ao equilíbrio do todo. Durkheim em sua clássicaobra “As regras do método sociológico” publicada em 1857, a qual passou por diversas reedições, também criou o conceito de Fato Social e demonstrou que os fatos têm características próprias, que os distinguem dos fatos estudados pelas outras ciências. Ele considera a Sociologia o estudo dos fatos sociais. Vejamos a seguir como um exemplo pode nos auxiliar na compreensão de fato social, segundo Durkheim: Um convidado vai à festa de casamento trajado com roupa de praia (camisa regata, bermuda e chinelo). Provavelmente, este fi caria desconfortável: os outros convidados o olhariam de forma vexatória, os noivos fi cariam chateados e os seguranças o barrariam na entrada da festa. Há um modo de vestir que é costumeiro, que é seguido. Isso não é estabelecido pelo indivíduo. Quando se juntou ao grupo, essa norma já existia e quando sair, provavelmente ela permanecerá. Assim, entende-se que o modo de vestir é um fato social. Também são fatos sociais a língua, a religião, as leis, entre outros fenômenos do mesmo tipo. Para o autor, os fatos sociais são as formas de pensar, sentir e agir de um grupo social, tendo um poder coercitivo sobre o indivíduo. O fato social tem as seguintes características: • generalidade: o fato social recai sobre todos os membros do grupo; • exterioridade: ele vem de fora do indivíduo; • coercitividade: os indivíduos entendem que são obrigados a seguir tais normas. Dessa forma, os fatos sociais podem ser estudados como “objetos”, passando a ter caráter científi co. Sociologia e Ética para Engenheiros 8 Durkheim e a educação Durkheim também entendia que a educação era fundamental para a manutenção da sociedade. Kruppa apud Durkheim (1994, p. 55) afi rma que a educação “tem por objeto superpor ao ser que somos ao nascer, individual e associal, um ser inteiramente novo”. “É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos fi lhos como queremos”, afi rma ele, pois a “educação se impõe ao indivíduo de modo irresistível”. Como se pode notar, Durkheim acreditava no determinismo social e afi rmava ainda que “nem todos somos feitos para refl etir; e será preciso que haja sempre homens de sensibilidade e homens de ação”. Esse pensamento foi uma das formas de justifi car atitudes conservadoras por parte dos governos. Kruppa (1994, p. 56) diz que “o pensamento liberal conservador justifi ca a desigualdade social como fenômeno natura, afi rmando que os homens são dotados de capacidades diferentes. A desigualdade é tomada como questão individual e não social”. Para a compreensão do pensamento de Durkheim, a leitura desse fragmento é muito importante: Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou de cidadão, quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão defi nidos, fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo com meus sentimentos próprios e que eu sinta interiormente a realidade deles, esta não deixa de ser objetiva; pois não fui eu que os fi z, mas os recebi pela educação. Aliás, quantas vezes não nos ocorre ignorarmos o detalhe das obrigações que nos incumbem e precisarmos, para conhecê-las, consultar o Código e seus intérpretes autorizados! Do mesmo modo, as crenças e as práticas de sua vida religiosa, o fi el as encontrou inteiramente prontas ao nascer; se elas existiam antes dele, é que existem fora dele. O sistema de signos de que me sirvo para exprimir meu pensamento, o sistema de moedas que emprego para pagar minhas dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo em minhas relações comerciais, as práticas observadas em minha profi ssão, etc. funcionam independentemente do uso que faço deles. Que se tomem um a um todos os membros de que é composta a sociedade; o que precede poderá ser repetido a propósito de cada um deles. Eis aí, portanto, maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem fora das consciências individuais (DURKHEIM, 2007, p. 2). Findas as abordagens realizadas por Durkheim, agora, iremos estudar outro sociólogo contemporâneo, que também contribuiu grandemente para o desenvolvimento da sociologia - Max Weber: Max Weber (1864-1920) contemporâneo de Durkheim, não foi apenas sociólogo. Seus estudos abrangeram a História, Política, Filosofi a e Economia. Weber discordava de Durkheim quanto à metodologia usada na investigação da Sociologia, acreditando que não deveria ser a mesma utilizada nas Ciências Naturais, porque os fatos humanos têm fontes subjetivas, como a consciência e a interação entre os seres. Max Weber Tal como Marx, Max Weber (1864-1920) não pode ser simplesmente rotulado como sociólogo; os seus interesses e preocupações abrangem muitas áreas. Nascido na Alemanha, onde passou a maior parte da sua carreira académica, Weber era um indivíduo de grande erudição. As suas obras cobrem os campos da Economia, do Direito, da Filosofi a e da História Comparada, bem como da Sociologia. Grande parte da sua obra dava também particular atenção ao desenvolvimento do capitalismo moderno e à forma como a sociedade moderna era diferente de outros tipos anteriores de organização social. Através de um conjunto de estudos empíricos, Weber explicitou algumas das características básicas das sociedades industriais modernas e identifi cou debates sociológicos fundamentais, que ainda hoje permanecem centrais para os sociólogos. Fonte: GIDDENS, Anthony. “Sociologia: Problemas e Perspectivas”. 6ª Ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. Acesso em. Jan. 2017. Dessa forma, para a análise das ações humanas não seria sufi ciente descrevê-las, como nas Ciências Naturais, e sim interpretá-las, levando em conta o signifi cado que os indivíduos atribuem às próprias ações. Weber defi ne ação como conduta humana com signifi cação subjetiva por quem a pratica e a orienta. Quando tal ação é associada à ação de outro ou outros indivíduos, a ação defi ne-se ação social. Quanto mais racionais são as ações humanas, menor é a infl uência dos costumes e tradições sobre o indivíduo. As ações sociais dividem-se em quatro: • Ação racional com relação a fi ns: quando o indivíduo utiliza os meios necessários para atingir determinado objetivo, da forma como ele entende que deve ser realizado. As relações de compra e venda fazem parte dessa ação. • Ação racional com relação a valores: quando o indivíduo orienta-se por princípios que inspiram suas ações. Pode ser relacionado com convicções ideológicas, religiosas, ou morais, como a honestidade, justiça, etc. Logo, o significado da ação não está no fim obtido, e sim na própria maneira de agir. Essa ação está presente quando um grupo de pessoas faz uma manifestação política, ou quando alguém devolve dinheiro 9 encontrado na rua ao dono. • Ação afetiva: a ação é inspirada por emoções, estado sentimental ou laço afetivo, sem levar em conta os fins ou meios, atingidos ou usados, já que o indivíduo não se importa com as consequências, ao menos no momento da ação. Tal ação ocorre quando entristecemos alguém próximo a nós, ou escrevemos poesia. • Ação tradicional: a ação é motivada por hábitos ou costumes, podendo também ser realizada por imitação reativa, sendo difícil saber se o indivíduo tem total consciência da ação realizada. Tal ação ocorre quando pais não religiosos batizam o filho, ou quando colegas de trabalho se cumprimentam. Comumente, as ações não se atêm a apenas um tipo de ação, entretanto, costumam ter predominância sobre algum tipo. 3 - O surgimento da Antropologia O surgimento da Antropologia, por sua vez, confunde-se com a própria percepção do homem sobre seu objeto de estudo, a cultura - que será estudada adiante. Segundo Eriksen e Nielsen (2007, p. 9): Se nos restringimos à antropologia como disciplina científi ca, alguns estudiosos remontariam suas origens ao Iluminismo europeu durante o século dezoito; outros sustentariam que ela só surgiu como ciência na décadade 1850; outros ainda afi rmariam que as pesquisas antropológicas no sentido atual começaram depois da I Guerra Mundial. Nós também não podemos evitar essas ambiguidades. A construção de um conhecimento próximo à Antropologia científi ca já era construído desde antes da Revolução Francesa, porém ela tomou forma com o pesquisador Lewis Morgan, como veremos no excerto a seguir: LEWIS HENRY MORGAN (1818 – 1881) Dos evolucionistas, Morgan, foi aquele cujas ideias tiveram maior difusão. Morgan exerceu uma infl uência considerável no trabalho de Marx e Engels. Ancient Society, mais do que qualquer outra obra, abordou todos os problemas relacionados com o parentesco. A sua importante descoberta foi a “nomenclatura classifi catória”. Estimulado por esta revelação Morgan empreendeu uma interpretação da evolução do parentesco combinando, com uma certa objectividade, o trabalho de campo e os dados históricos. A carreira etnológica de Morgan teve o seu início quando, ainda a frequentar o curso de Direito (década de 40), se interessou pelos Iroqueses. A paixão por este povo foi de tal modo profunda que conseguiu transformar a sociedade secreta (a Grande Ordem dos Iroqueses) que ele, juntamente com um grupo de adolescentes formavam, numa instituição com objectivos mais científi cos e menos românticos. Os seus propósitos eram: estudar, educar e defender os índios das injustiças praticadas sobre eles. Concretamente, a sociedade de Morgan deu apoio fi nanceiro à defesa dos iroqueses para com proprietários que os queriam desertar. Em reconhecimento deste acto, Morgan foi convidado a ser membro honorário da organização Seneca. Sendo amigo de um índio, a penetração na comunidade iroquesa tornou-se mais facilitada. Da observação e vivência com a tribo Seneca, resultou uma obra The League of the Ho- dé-no-sau ou Iroquois, a qual constitui a 1ª monografi a de uma comunidade baseada numa experiência de campo, a 1ª descrição científi ca sobre uma etnia. Em 1856 Morgan voltou a estudar a mesma tribo iroquesa, no entanto, sob o ponto de vista da designação dos parentes. Mais tarde, deslocou-se até aos índios Ojibway que viviam em Marqueltle, Michigan, e verifi cou que estes possuíam o mesmo sistema terminológico que os Iroqueses. Após esta constatação Morgan pensou que, se se verifi ca-se na Ásia o mesmo tipo de sistema de parentesco, poder- se-ia demonstrar a origem asiática dos índios americanos. Tendo em vista este objectivo, Morgan desenvolveu um amplo programa de investigações de campo (estudou cerca de 70 tribos), elaborando um inquérito, que fez dis-tribuir, que se destinava, especialmente, aos povos asiáticos. A obra Systems of Consanguinity and Affi nity of the Human Family (1871) constitui o resultado deste esforço. Nesta, o autor põe em relevo a dicotomia entre o sistema classifi catório e o sistema descritivo, aquele típico dos primitivos e este característico das sociedades actuais. O mais importante na sua interpretação das terminologias relativas ao parentesco é, no entanto, o facto de ela ter levado Morgan a formular uma teoria geral da evolução social, sintetizada em Ancient Society. Esta é dividida em quatro partes dizendo respeito, respectivamente: I – Desenvolvimento da inteligência através dos inventos e descobrimentos; II – Desenvolvimento do conceito de governo; III – Desenvolvimento do conceito de família; IV – Desenvolvimento do conceito de propriedade. Na primeira parte, Morgan faz um desenvolvimento da evolução humana sob o ponto de vista económico, isto é, dos processos e das técnicas que foram aparecendo e que deram origem à crescente melhoria das condições de vida, às diferentes etapas da vida económica das sociedades. Segundo o mesmo autor, toda a humanidade passou, Sociologia e Ética para Engenheiros 10 primeiramente, por uma fase de recolecção de frutos e raízes, posteriormente, alimentou-se à base do produto obtido através da pesca e da caça, em seguida assentou a sua economia na cultura dos farináceos (cultivados em hortas), mais tarde, na pastorícia e por último dedicou- se, fundamentalmente, à agricultura (em campo aberto), propocionando-lhe. esta, uma quantidade ilimitada de recursos. Quanto ao conceito de governo, desenvolvido na segunda parte da obra em questão, este assistiu, igualmente, a uma evolução, que inclui três fases. Na primeira, a organização das sociedades humanas baseava-se em classes sexuais. Esta dá lugar a uma segunda, cujos indivíduos se agrupavam em gens ou clãs, fratrias e tribos. A gens ou clã constitui um grupo de pessoas ligadas por laços de consanguinidade, uma instituição exogâmica de fi liação unilinear e base da organização política, a qual funcionava democraticamente. A gens evoluiu da descendência matrilinear para a patrilinear, isto é, se inicialmente, a gens englobava o antepassado feminino mais as suas descendentes e as fi lhas destas, mais tarde, por gens considerava-se o antepassado, os seus descendentes, mais os fi lhos varões deste. A fratria constitui uma associação de clãs que possuem sobretudo funções religiosas e a tribo é um grupo de fratrias que comungam de uma mesma língua e de um mesmo território e que realiza tarefas de cariz político. A organização política baseada nas relações pessoais dá lugar a uma terceira forma de governo cujas relações são determinadas pela vinculação das pessoas a um território: cidade, distrito ou nação. Na terceira parte da sua obra principal, Morgan desenvolve a evolução da família, instituição esta cuja forma mais arcaica foi a família consanguínea e a qual resultou do casamento entre irmãos (endogamia, incesto). A família punalua substitui a primeira e é o produto do casamento de um grupo de irmãos com cada uma das mulheres dos outros e do casamento de um grupo de irmãs com cada um dos maridos das outras. As mesmas leis estendiam-se às mulheres e aos homens dos primos, pois estes eram considerados irmãos. Nesta fase existiam apenas regras negativas de casamento, isto é, os indivíduos apenas eram obrigados a não casar com as suas irmãs ou irmãos. Logo, organizavam-se em grupos exogâmicos (quer isto dizer, em cada geração uma pessoa tem de desposar um elemento de outro grupo). Foi nesta fase punalua que se geraram os clãs. Na família sindiásmica dá-se o acasalamento de um homem com uma mulher, no entanto, estes não possuem coabitação exclusiva. Aqui, mantêm-se o sistema de fi liação matrilinear. Sucede-se a família patriarcal a qual se fundava no acasalamento de um homem com várias mulheres, dando-se por consequência a mudança de fi liação matri para patrilinear. Por último, vem a família monogâmica nuclear, que se baseia no casamento de um só homem com uma só mulher coabitando juntos. Para encerrar Ancient Society, Morgan debruçou-se sobre a evolução da noção de propriedade. No estado selvagem o homem possuia um número insignifi cante de objectos, por isso as suas noções sobre propriedade, seu valor e modo de transmissão eram muito vagas, senão mesmo nulas. Os indivíduos tinham posse exclusiva sobre os seus instrumentos de trabalho, de defesa e sobre as suas poucas roupas. A terra era possuida colectivamente pela totalidade dos membros da tribo. Não havia herança, pois os objectos mais valiosos do indivíduo eram depositados no túmulo do defunto, a quem tinham pertencido. Quando, ainda no período selvagem, se formou a organização gentílica, apareceu a primeira regra relativa à herança, a qual postulava que os bens do defunto eram repartidos entre os seus parentes clãnicos. O gradual aumento de recursos fez com que a quantidade e variedade de bens possuídos pelos indivíduos fossem aumentando. Todavia, estes ainda não eram sufi cientes para que se atribuisse uma grande importância à herança. De qualquer forma, na fase inicial da barbárie, começou a delinear-se uma segunda regra de transmissão, regra esta que estabelecia como herdeiros os parentesagnáticos (descendência por linha masculina) com exclusão dos restantes parentes gentílicos. À medida que os bens pessoais aumentam a relação do homem com a terra vai-se alterando. Durante a fase média da barbárie, o domínio territorial era ainda propriedade indivisa da tribo, mas uma parte estava agora reservada ao sustento do governo, uma outra para fi ns relacionados com o culto e uma terceira para a subsistência das diversas gens. A fase superior da barbárie caracteriza-se pela constituição de duas formas de propriedade: a propriedade do estado e a propriedade individual, contudo, estas não iliminaram, por completo, a propriedade colectiva. A gens e a tribo continuaram a possuir vastos territórios. Ainda nesta fase, delineou-se uma nova regra de transmissão, a qual previa três categorias de herdeiros: em 1º lugar, os fi lhos do defunto (preferencialmente os varões), em 2º lugar, os agnatos, por ordem de proximidade e, por último, os parentes gentílicos. Nesta fase ainda aparecem as primeiras disposições testamentárias. Com o advento da civilização a propriedade individual ultrapassou largamente a propriedade colectiva, assumindo múltiplas formas e foi alvo de uma exploração intensa e variada. Apesar de ter descrito isoladamente a evolução 11 de cada um dos aspectos da sociedade, Morgan, concebia-as antes como interligadas, como causando-se mutuamente. Nesta medida, ele fez um esforço para associar os estádios de cada uma das evoluções com os outros.” Disponível em: <http://knoow.net/outros/ artigoscientifi cos/ciencsochuman/historia-antropologia>. Acesso em: 05 Mar. 2018. Segundo Eriksen e Nielsen (2007, p. 29), “Morgan compreendeu que grande parte da complexidade da cultura nativa americana em pouco tempo seria irrecuperavelmente destruída como consequência do infl uxo de europeus, e considerava como tarefa crucial documentar a cultura tradicional e a vida social desses nativos antes que fosse tarde demais”. Essa visão da Antropologia como forma de preservar, ainda que documentalmente, culturas em extinção prevaleceu por muitos anos. Retomando a aula Parece que estamos indo bem! Então, para encerrar esta aula, vamos recordar os temas que foram abordados: 1 - O que são as Ciências Sociais? Na seção 1, vimos que “As Ciências Sociais são o estudo sistemático do comportamento social do homem”, segundo o autor Pérsio Santos de Oliveira (1994). E ainda, as ciências sociais são um conjunto de disciplinas científi cas que estudam os aspectos sociais das diversas realidades humanas. 2 - O surgimento da Sociologia Na seção 2, vimos que a Sociologia surgiu ao tentar explicar a sociedade a partir do desenvolvimento do capitalismo, servindo por vezes para justifi cá-lo. Para tanto, apresentamos as teorias dos dois principais sociólogos: Emile Durkheim e Max Weber. O primeiro com a teoria dos fatos sociais e o segundo com a teoria da ação social. Ambos tentam explicar como o homem vive socialmente. 3 - O surgimento da Antropologia Na seção 3, estudamos que a Antropologia surgiu com o intuito de documentar a cultura dos povos nativos, antes que esses fossem extintos. A Antropologia está vinculada a ideia de cultura e passou por um processo de construção de seu conceito. Seu principal representante foi LEWIS HENRY MORGAN o qual desenvolveu seus estudos a partir das teorias dos estudos dos parentescos. Vale a pena Entendendo Fato Social - Sociologia. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-5HgTY0F430>. Daens (1992). As Regras do Método Sociológico - Émile Durkheim. Vale a pena assistir Minhas anotações
Compartilhar