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Gabriela Brito | odontologia ufPE Introdução à Cirurgia Periodontal Referências: LINDHE, LANG, CARRING, 6ª edição, 2018, Ed. Guanabara-Koogan Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. OBJETIVOS GERAIS DA TERAPIA PERIODONTAL ● Prevenção, eliminação ou controle da doença ● Recuperação dos tecidos perdidos ● Manutenção dos resultados conseguidos A terapia cirúrgica atua na recuperação dos tecidos perdidos, o que não consiste em uma característica da terapia básica. TERAPÊUTICA CIRÚRGICA Conjunto de procedimentos executados com uma lâmina, bisturi elétrico ou lasers que ressecta tecido ou envolve o rebatimento de um retalho para alcançar os seus objetivos terapêuticos. Objetivos clínicos específicos da terapia periodontal são a eliminação da doença inflamatória pela retirada do biofilme dental e fatores etiológicos secundários e, o estabelecimento de um ambiente local com anatomia compatível com a manutenção de saúde e estética periodontal. (alguns desses objetivos só são alcançados com terapia cirúrgica). Após a terapia não cirúrgica é realizado o processo de reavaliação (depois de 4-8 semanas), e nesta sessão serão observados: ● Aspectos de normalidade da gengiva; ● Sangramento e/ou supuração à sondagem; ● Profundidade de sondagem; ● Mobilidade dentária; ● Índices de biofilme. INDICAÇÕES COMUNS I. Áreas com contornos ósseos irregulares e defeitos infra ósseos extensos e/ou profundos; II. Bolsa residuais profundas e/ou de difícil acesso em que remoção completa do biofilme sem cirurgia não é possível (bolsas acima de 5mm); III. Correção ou prevenção de invasões do espaço biológico; IV. Áreas com lesão de furca grau II ou III; V. Áreas com crescimentos gengivais; VI. Áreas com problemas mucogengivais. CONTRAINDICAÇÕES GERAIS I. Portadores de doenças sistêmicas sérias não controladas. I. Quando não for possível acompanhar o pós-operatório do paciente. II. Quando o paciente é incapaz de manter um controle de biofilme adequado, pois pode aumentar o risco de infecção pós operatória; III. Pacientes fumantes, pois há uma maior probabilidade dele ter doença periodontal mais severa e responder de forma insatisfatória ao tratamento periodontal. O procedimento pode ser realizado, mas deve-se informar e solicitar a assinatura de um termo em que o paciente está ciente que o fato dele ser fumante pode afetar o resultado da terapia periodontal). FASES CIRÚRGICAS -Cuidados pré operatórios -Conferência de assinatura do termo de consentimento; - Análise de exames: Hemograma- para detectar infecção sistêmica importante (alteração na série branca) ou anemia (alteração na taxa de hemoglobina que pode prejudicar a cicatrização) Glicemia em jejum- 66-99 mg/dL Coagulograma - Profilaxia antibiótica: ( riscos de endocardite bacteriana por exemplo, protocolo padrão: 2g de amoxilina 30 min antes da cirurgia) - Prevenção de dor e edema ( ex: decadron 1h antes da cirurgia, quando a cirurgia for mais traumática) - Controle da ansiedade (ex: midazolam) -Preparação do profissional (EPI’s) -Preparação do equipamento/ instrumental: Toda superfície tem que ser coberta por material estéril -Preparação do paciente: proteção com campo estéril + antissepsia extraoral e intraoral clorexidina 2%) -Anestesia Técnicas: tópica, infiltrativa, bloqueio e papilar Agentes (mais usados lidocaína e mepivacaína com vasoconstrictor) -Cirurgia Incisões (localização) Intra-sulcular Submarginal ou paramarginal PERIODONTIA | TERAPIA CIRÚRGICA PERIODONTAL Gabriela Brito | odontologia ufPE Interdental Relaxante - Intra-sulcular – lâmina do bisturi inserida dentro do sulco gengival - Sub-marginal ou Paramarginal – aquém da margem da gengiva - Interdental – incisões horizontais (V-L) - Relaxante – em sentido corono-apical (tendem a deixar cicatriz) Incisões (inclinação da lâmina 45º ou +) - Bisel Interno (inclinação para a crista óssea) - Bisel Externo (ponta da lâmina voltada para a coroa !! OBS: colarinho gengival (faixa de tecido ao redor da coroa do dente) RESSECÇÃO DE TECIDO OU REBATIMENTO DE RETALHO # Retalho Periodontal: Segmento de tecido gengival que é cirurgicamente separado dos tecidos de suporte coronalmente, mas que na região apical, se mantém aderido através de um pedículo de tecido conjuntivo vascularizado. CLASSIFICAÇÕES ● Uso de incisões relaxantes – com incisões relaxantes (verticais) ou tipo envelope (sem incisões relaxantes); ● Tecidos separados do osso – espessura total/muco-periósteo (deixa tecido ósseo exposto) ou espessura parcial/dividido (ainda deixa periósteo e uma faixa de tecido conjuntivo). # Rebatimento de tecido: fica preso ao tecido ósseo através de pedínculo de tecido conjuntivo vascularizado. DEBRIDAMENTO DE TECIDO FIBROSO E DE GRANULAÇÃO Importante para readaptar o retalho depois e também para controlar o sangramento durante a cirurgia. Normalmente se utilizam os mesmos instrumentos que servem para raspagem mas com dimensões maiores. HEMOSTASIA Compressão com gaze, anestésico local contendo vasoconstritor, substâncias adstringentes (hemostop, quando as duas primeiras não surtem efeito) e outros. RAR Caso seja observado a presença de cálculo na superfície dentária, faz-se a raspagem subgengival, por visão direta. RESSECÇÃO ÓSSEA OU COLOCAÇÃO MATERIAL DE ENXERTO Objetivo principal da cirurgia PERIODONTIA | TERAPIA CIRÚRGICA PERIODONTAL Gabriela Brito | odontologia ufPE READAPTAÇÃO DO RETALHO Posicionar o retalho no local necessário, podendo ser reposicionado (colocar de volta na posição original) e o deslocado (muda a direção do retalho no sentido corono-apical, pode ter o objetivo de reduzir a bolsa e de aumentar a gengiva inserida). ● Retalho deslocado apicalmente: tracionado para apical; ● Retalho deslocado coronalmente: tracionado para coronal; ● Retalho deslocado lateralmente (recobrimento radicular) SUTURA Fixação do retalho COLOCAÇÃO DO CIMENTO CIRÚRGICO Em alguns casos, pode ser usado um cimento cirúrgico (tendo ou não suturado) com objetivo de proteger a área cirúrgica, ajudando a manter o retalho em posição. Não é muito usado pois funciona como um fator retentor de biofilme. - Cuidados pós operatórios # Controle de dor e edema: prescrição de corticóides, analgésicos # Recomendações de dieta: evitar alimentos quentes, condimentados # Higiene oral: escovação normal exceto na região operada, que fica sendo higienizada com bochecho de clorexidina 0,2% # Controle de sangramento: compressa com gaze, entrar em contato com o dentista # Atestados: geralmente 1 dia de repouso é o suficiente em cirurgias periodontais REMOÇÃO DE CIMENTO E SUTURA Uma semana depois REAVALIAÇÃO 7 + 30-45 dias após a cirurgia TÉCNICAS CIRÚRGICAS #Objetivos específicos da terapêutica cirúrgica: ● Instrumentação radicular com visão direta (RAR); ● Redução ou eliminação de áreas retentoras de biofilme (bolsas periodontais); ● Viabilizar procedimentos restauradores; ● Promover a regeneração de tecidos perdidos; ● Restabelecimento de arquitetura fisiológica e estética dos tecidos periodontais; ● Correção de outros problemas mucogengivais. -Cirurgias Conservadoras #Retalho de Widman Modificado: 1. Rebate a gengiva para realizar RAR por visão direta; técnica básica seria a realização de uma incisão submarginal + incisão intrasulcular (formar e remover o colarinho); 2. Rebatimento do retalho, raspagem; 3. Colocação do retalho no local e a sutura. -Cirurgias Ressectivas #Gengivectomia/ Gengivoplastia: Remoção do tecido gengival. !! Obs: gengivectomia= redução da bolsa periodontal (ex. quando tem hiperplasia por medicamento). A gengivoplastia não tem esse pré-requisito da bolsa. Indicações: eliminação de bolsas supraósseas; correção de crescimentos gengivais; aumento de coroa clínica por necessidades restauradoras ou estéticas; instrumentação radicular por visão direta (nesse caso, usa-se mais o retalho de widman modificado). #Aumento de coroa clínica para prevenir ou corrigir invasões do espaço biológico:Princípios básicos: 1. Presença de elemento estranho na área da estrutura dentária reservada para a união dento-gengival (invasão do espaço biológico ou fibras supracrestais de conexão); 2. PERIODONTIA | TERAPIA CIRÚRGICA PERIODONTAL Gabriela Brito | odontologia ufPE Remoção óssea deixa quantidade suficiente de estrutura dental exposta para restabelecimento da união dento-gengival (rebaixa a crista óssea) -> restabelecer distância de no mínimo 3mm. Indicações: presença de cárie ou restauração que invade o EB (fibras supracrestais de conexão); necessidade de aumento de retenção para coroas protéticas; correções estéticas. !! Obs: distância de cerca de 2 mm a partir da crista óssea, para que tenha condições de se manterem fixos na estrutura dentária, caso invada, ocorre uma inflamação gengival (ocorre mesmo na ausência de biofilme). Basicamente, a cirurgia para manutenção desses 2mm rebaixa a crista óssea (remoção óssea). -Cirurgias Reconstrutivas #Preenchimento de defeitos com osso ou substitutos ósseos: ● Usados isoladamente ou com RTG (técnica da regeneração tecidual guiada) ● Aumento nos níveis ósseos de inserção e redução da profundidade de sondagem superior a quando faz apenas o retalho de widman modificado. !!Obs¹: Os substitutos podem ser de origem autógena, alogênicos e aloplásticos (ex: hidroxiapatita) !!Obs²: Não recupera cemento, ligamento periodontal e osso alveolar, a utilização desses materiais é mais associada ao preenchimento associado a técnica de RTG. #Regeneração tecidual guiada: Quando ocorre o processo de cicatrização, as células do tecido epitelial se proliferam muito mais rápido que as células do ligamento periodontal e do osso alveolar, formando um epitélio juncional longo= redução da profundidade de sondagem. Se o paciente tem uma grande destruição o epitélio longo não vai resolver, então faz-se a RTG (utilizando membranas reabsorvíveis ou não reabsorvíveis - necessita de uma segunda cirurgia para remoção da membrana), para que as células que se proliferam sejam dessa região e não do tecido conjuntivo ou do tecido epitelial. Indicações: defeitos ósseos de 3 ou 2 paredes e lesões de furca grau II. Superior ao RWM em ganho de inserção clínica, redução de profundidade de sondagem, assim como ganhos de tecido ósseo (previsível). Pode ser utilizada apenas a membrana ou combinada com enxertos ósseos e fatores de crescimento. #Proteínas da matriz do esmalte (EMDOGAIN): Possui as mesmas indicações da RTG, mas estimula a cementogênese (proteína amelogenina). Superior a RWM, similar a RTG. Desvantagem: custo/ Vantagem: facilidade CIRURGIAS PLÁSTICAS PERIODONTAIS (subtipo das cirurgias reconstrutivas) #Aumento de gengiva inserida Indicadas em casos de: recessão gengival em progressão; colocação de implantes, aparelhos ortodônticos e restaurações subgengivais em áreas com menos de 1mm de gengiva inserida. Quando não há recessão gengival, utiliza-se a técnica de enxerto gengival livre (EGL) ou retalho deslocado apicalmente (RDA). Quando existe recessão gengival, são utilizadas outras técnicas. #Recobrimento de recessões Melhora estética e hipersensibilidade; bom prognóstico (recessões classe I e II de Miller); ECSE (enxerto de conjuntivo subepitelial) – técnica mais comum. !! Obs: Há confecção do retalho: coletado (geralmente no palato) + remoção da camada epitelial (necessidade de vascularização para sobrevivência do enxerto) + aplicação na área de recessão #Eliminação ou deslocamento de freios com inserção anômala Freios com inserção anômala contribuem para recessão gengival, dificultam higiene, fechamento de diastemas e atrapalham a adaptação de prótese. PERIODONTIA | TERAPIA CIRÚRGICA PERIODONTAL Gabriela Brito | odontologia ufPE É realizada uma frenectomia (remoção total do freio) ou frenotomia. # Correção do sorriso gengival O sorriso gengival é quando ocorre uma visibilidade excessiva de gengiva na região estética. Isso pode ocorrer por uma erupção passiva retardada ou problemas esqueléticos. O procedimento depende se há excesso de gengiva e a distância entre a crista óssea e a JCE. (algumas vezes só é necessário a remoção de tecidos ósseos, em outras osteotomia) # Outros procedimentos ● Aprofundamento de vestíbulo ● Alteração morfologia do rebordo ● Reconstrução de papilas PERIODONTIA | TERAPIA CIRÚRGICA PERIODONTAL