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1 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto INTRODUÇÃO ➢ As meningites e as convulsões são duas condições clínicas muito comuns e que confundem bastante os profissionais de saúde, pois, na meningite, a depender da evolução do quadro, a criança pode apresentar convulsões. Além disso, uma criança apresentando convulsão febril, que é benigna, pode simular um quadro de meningite, dificultando o diagnóstico ➢ Meningite → trata-se de uma condição clínica grave e de alta morbimortalidade • É o principal quadro infeccioso intracraniano mais comum na infância • Assim, quando se está diante de uma lesão intracraniana aguda, a principal causa a ser pensada (excluindo-se o trauma) é a meningite • Trata-se de uma inflamação da Aracnóide (por isso que o termo poderia muito bem ser modificado para Aracnoidite) • Convulsões → surgem após o 1° ou 2° dia de infecção, sendo um evento tardio • Nível de consciência → a recuperação do nível de consciência após a crise convulsiva (período pós-ictal) pode não ocorrer ou é bastante lenta • Cursa com sinais e sintomas e alterações laboratoriais: ▪ Sintomas → geralmente, os sintomas são inespecíficos, principalmente nas crianças com menos de 2 anos de idade ✓ Caracteriza-se por um quadro infeccioso arrastado, com uma piora clínica progressiva, na qual a criança vai perdendo a sua interação com o meio (Ex: perda do apetite). Assim, o processo febril vai piorando progressivamente e vão surgindo os sinais evidentes de uma doença das meninges, que são os sinais meníngeos ▪ Sinais Meníngeos → aparecem com a progressão do quadro ✓ Rigidez de nuca ✓ Sinal de Kernig ✓ Sinal de Brudzinski ▪ Alterações Laboratoriais: ✓ Alterações do Líquido Cefalorraquidiano (LCR) → é a de maior sensibilidade, apresentando, assim, maior acurácia para o diagnóstico o A meningite é um processo infeccioso que atinge a aracnoide, que é a meninge que envolve o líquor. Assim, devido ao processo inflamatório e de vasodilatação, essa meninge altera a sua composição, e começa a ocorrer extravasamento de conteúdo plasmático para o interior do líquor. Dessa forma, esse extravasamento de células e proteínas e o consumo de glicose alteram a composição do líquor e, consequentemente, irão permitir a confirmação diagnóstica de meningite e a etiologia dessa doença (se viral ou bacteriana) • Etiologia → Meningite Viral x Bacteriana ▪ Meningite Viral → a maioria dos quadros de meningite são de etiologia viral ▪ Meningite Bacteriana → é a de maior mortalidade, apresentando até 80% de mortalidade quando não é devidamente tratada ✓ Meningococo → é o agente de maior mortalidade o Atenção → antes mesmo do resultado do LCR, que demora cerca de 1 a 2 horas para ficar pronto, deve-se iniciar a antibioticoterapia direcionada para o agente de maior mortalidade, que é o Meningococo o O meningococo é sensível à Ceftriaxona ➢ Convulsões → são comuns de ocorrerem, sendo benignas, não trazendo qualquer morbidade para o paciente • Crise Convulsiva Febril Benigna → são crises convulsivas de curta duração, durando menos de 10min ▪ Habitualmente, quando a criança apresenta uma crise convulsiva febril benigna, essa crise não se repete mais na mesma doença febril. Ou seja, a criança tem a febre e apresenta uma crise convulsiva, com curta duração e cessando em casa. Essa febre dura 2 a 4 dias, por exemplo, e essa crise convulsiva não se repete mais ao longo desses dias → é apenas uma crise convulsiva no atual evento febril, com início nas primeiras 24 horas de febre ▪ Convulsão → a convulsão ocorre nas primeiras 24 horas de febre (é precoce) ▪ Nível de consciência → a recuperação do nível de consciência após a crise ocorrer rapidamente (minutos após a crise convulsiva) ➢ Duração da Crise Convulsiva: • O tempo de duração da crise é importante devido ao fato de que as crises de longa duração estão mais relacionadas a um pior prognóstico • Crises de curta duração (< 10 min) → do ponto de vista neurológico, são crises com duração de até 10min (não ultrapassando 10min) • Como os pais, geralmente, não cronometram o tempo das crises, uma forma de avaliar a duração da crise é perguntar: ▪ Quando a crise cessou? (em casa, no momento em que estava sendo transportado para o hospital ou no próprio hospital): ✓ Em casa (< 10min) → geralmente, crises que cessam em casa, sem nenhuma intervenção médica, são crises de curta duração ✓ No caminho para o hospital (>10min) → tendem a ser crises mais longas, com duração superior a 10 min ✓ No hospital → as crises que apenas cessam no hospital, com uso de medicações, falam a favor de crises de longa duração, sendo sugestivas de mal epiléptico ➢ Meningoencefalites: • Correspondem a uma emergência médica, devido à alta morbimortalidade → ou seja, são crianças que, se não tratadas rapidamente e de forma adequada, podem: 2 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto ▪ Evoluir para o óbito ▪ Apresentar sequelas → Ex: epilepsias, hidrocefalia, abscesso intracraniano, surdez, alterações cognitivas • Diagnóstico clínico-etiológico → deve ser feito de forma rápida, para que seja feito o tratamento inicial • Diagnóstico laboratorial → Punção do LCR (padrão-ouro) • Tratamento da meningoencefalite → sempre é feito com a internação hospitalar da criança, com isolamento nas primeiras 48h EPIDEMIOLOGIA ➢ Houve uma mudança epidemiológica nos anos 1990: • Antes dos anos 90 → a meningite era um grande problema de saúde pública, devido a sua alta mortalidade, principalmente provocada pelo Haemophilus influenzae • Após os anos 90 → houve uma redução dos casos e da mortalidade, devido à cobertura vacinal para Haemophilus influenzae associada a medidas gerais de higiene (Ex: lavagem das mãos) ▪ Assim, o H. influenzae deixou de ser o principal causador de mortalidade (hoje em dia corresponde apenas a cerca de 1%) ▪ A grande maioria dos casos de meningite estão relacionados a quadros virias ▪ Os casos que são causados por bactérias, os agentes etiológicos mais comuns são o Meningococo e o Pneumococo ➢ Faixa etária: • Faixa etária mais prevalente para os quadros de meningite bacteriana ou viral → 1 a 9 anos de idade • Não são comuns os quadros de meningite em adultos • As meningites são mais comumente encontradas em crianças e idosos ➢ Etiologia: • Etiologia viral → corresponde a 42 a 90% dos casos de meningite ▪ Quadros virais têm menor mortalidade, mas ainda causam morbidade (há risco de sequelas) ▪ As crianças raramente precisam de tratamento em centros de terapia intensiva com utilização de ventilação mecânica ▪ A grande maioria dos casos de meningite viral necessita apenas de suporte, como tratamento para febre, medicamentos para diminuir a cefaléia (que é bastante comum nos quadros de meningite viral), correta hidratação do paciente (devido aos vômitos que comumente ocorrem) e elevação da cabeceira do leito (para reduzir a hipertensão intracraniana) ▪ Na grande maioria dos casos, esses pacientes necessitam apenas de internação hospitalar por 3 a 5 dias, sem uso de medicações específicas ▪ Quando há necessidade de medicação específica → quando a Reação de Cadeia Polimerase (PCR) diagnostica infecção por Herpes Vírus, havendo necessidade de utilizar antivirais • Etiologia bacteriana → corresponde a 15% dos casos de meningite ▪ Tem praticamente o mesmo quadro clínico da meningite de etiologia viral. Assim, o diagnóstico diferencial é feito a partir do líquor do paciente ▪ As meningites, tanto virais quanto bacterianas, caracterizam-se por uma Tríade Clínica associada a Sinais → principalmente naquelas crianças com mais de 2 anos de idade (os < 2 anos apresentam sinais e sintomas inespecíficos) ✓ Tríade clínica: o Cefaleiao Febre alta o Mau estado geral associado a vômitos ✓ Sinais → sinais relacionados à inflamação da aracnoide (irritação meníngea) o Rigidez de nuca → tenta-se flexionar o pescoço de paciente, de modo que o seu queixo toque o esterno. Nos quadros de meningite, a flexão cervical apresenta uma barreira, não se conseguindo flexionar o pescoço do paciente o Sinal de Kernig → quando se eleva as pernas do paciente, ele faz, de forma reflexa, a flexão do tronco para diminuir a dor diante do estiramento da raiz nervosa quando a perna é levantada o Sinal de Brudzinski → quando se faz a flexão cervical e o paciente, de modo reflexo, faz a flexão das coxas sobre o quadril, na tentativa de diminuir a dor provocada pela extensão da raiz nervosa o A aracnoide envolve as raízes nervosas. Assim, como na meningite há um processo inflamatório da aracnoide, ocorre uma hipersensibilidade das raízes nervosas, fazendo com que os movimento de estiramento provoquem dor e, consequentemente, uma posição antálgica (movimentos reflexos para diminuir a dor provocada pelo movimento) • Causa desconhecida → em 17% dos casos não se consegue definir se é viral ou bacteriana PROCESSOS INFECCIOSOS INTRACRANIANOS ➢ Caracterizam-se por doenças infecciosas que vão se arrastando ao longo do tempo e que vão piorando progressivamente: • Exemplos de piora progressiva: ▪ Febre que antes era de 8 em 8 horas e agora passou a ser de 4 em 4 horas ▪ Perda progressiva do apetite → primeiro não ingere sólidos, depois não ingere alimentos pastosos e, por último, não consegue ingerir líquidos ▪ Apresentação de crises convulsivas → cerca de 30% dos casos podem apresentar convulsões ▪ Rebaixamento progressivo do nível de consciência 3 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto ▪ Vômitos → é um sinal precoce e que está relacionado à hipertensão intracraniana • Assim, um quadro clínico apresentando cefaléia, vômitos, febre persistente e rebaixamento progressivo do nível de consciência fala a favor de um processo infeccioso agudo ➢ Processos infecciosos agudos intracranianos: • Meningites: ▪ São os mais comuns, principalmente as de etiologia viral ▪ Definição → trata-se da inflamação da aracnoide • Meningoencefalites: ▪ Definição → além do processo inflamatório da aracnoide, tem-se também a inflamação do encéfalo ▪ Tem pior prognóstico, pois o risco de mortalidade e de sequelas é bem maior • Encefalites: ▪ São menos comuns ▪ Não há comprometimento meníngeo, não havendo, assim, sinais de rigidez de nuca e nem de irritação meníngea ▪ O comprometimento do sistema nervoso central pode estar presente (Ex: rebaixamento do nível de consciência, convulsões, cefaleias, vômitos, queda progressiva do estado geral...) pode estar presente ➢ Essas patologias tem grande morbidade, podendo causar sequelas futuras como: • Epilepsias • Atrasos Cognitivos • Hidrocefalia... ➢ QUADRO CLÍNICO: • A apresentação clínica é de início súbito, pois é uma doença aguda que evolui ao longo de poucos dias • Há uma diferença da apresentação clínica entre lactentes e maiores de 2 anos de idade: ▪ Como o lactente apresenta a fontanela anterior aberta até o 1º ano de idade, isso faz com que os sinais de irritação meníngea sejam menos específicos nessa idade ▪ A partir de 1 ano de idade, com o fechamento da fontanela anterior, os sinais de irritação meníngea podem estar presentes • Lactentes: ▪ Febre ▪ Irritabilidade ▪ Inapetência ▪ Apatia ▪ Vômitos ▪ Abaulamento de fontanela → é um sinal que está relacionado a presença de edema cerebral ✓ Normalmente, a fontanela anterior tem o tamanho de duas polpas digitais e é um pouco deprimida. Assim, na meningite, quando se palpa a fontanela do lactente sente-se ela levantada (abaulada) • Maiores de 2 anos → tem-se uma apresentação clínica mais típica ▪ Tríade Clássica: ✓ Cefaleia ✓ Febre ✓ Vômitos ▪ Convulsões → podem ocorrer em 30% dos casos ✓ Não há características de benignidade, apresentando maior duração, repetição e associação com rebaixamento do nível de consciência ▪ Rigidez de nuca ▪ Sinal de Kernig ▪ Sinal de Brudzinski CONVULSÃO FEBRIL ➢ INTRODUÇÃO → trata-se de uma condição benigna, de tratamento domiciliar e sem associação com lesão intracraniana • Definição: ▪ A crise convulsiva febril simples é definida pelos seguintes: ✓ Crise convulsiva de curta duração (< 5 minutos) ✓ Recuperação completa do nível de consciência após a crise ✓ Ausência de déficits neurológicos ▪ Exame neurológico (é obrigatório que o médico faça essa avaliação em todo paciente que apresentar déficit neurológico agudo na emergência) → é normal e sem sinais de alerta ✓ Escala de Coma de Glasgow (ECG) ✓ Reflexo Pupilar ✓ Movimento ocular extrínseco → avaliação do III (oculomotor), IV (Troclear) e VI (Abducente) pares de nervos cranianos ▪ As crises convulsivas febris ocorrem predominantemente no 1º dia de febre • No período pós-crise há uma rápida recuperação do nível de consciência • Ocorre a apresentação da convulsão de forma precoce (primeiras 24 horas) e de curta duração • Não há risco de morbimortalidade • A febre é um gatilho para que a convulsão ocorra (a convulsão surge como resposta à febre) • A convulsão cessa espontaneamente, sem necessidade de uso de medicação anticonvulsiva • Qualquer exame complementar solicitado tem resultado normal (Ex: Tomografia de Crânio, Ressonância Magnética, Eletroencefalograma) • Importante: ▪ A convulsão não se repete mais no mesmo evento febril (ou seja, há apenas 1 episódio convulsivo em decorrência do atual quadro febril da criança) ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Afeta cerca de 5% da população pediátrica. Assim, é algo comum de ocorrer 4 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto • Faixa étaria: ▪ Afeta crianças com idade entre 6 meses e 5 anos ▪ Pico de inciência → 18 meses de vida (1 ano e 6 meses) ▪ Atenção → nos seguintes casos não se pode diagnosticar logo diretamente uma convulsão febril benigna, devendo-se investigar a presença de infecções intracranianas: ✓ Febre e convulsão em recém-nascidos ✓ Febre e convulsão em adolescentes ➢ PRINCIPAIS CAUSAS: • Doenças Virais Agudas → Exemplos: ▪ Rubéola ▪ Dengue ▪ Zika ▪ Citomegalovírus ▪ Vírus Epstein-Barr (EBV) ▪ Infecção das vias aéreas superiores • Vacinação → algumas vacinas podem desencadear crises convulsivas benignas (Ex: DTP) ➢ DIAGNÓSTICO → É CLÍNICO! • É feito na própria emergência, de acordo com o quadro clínico da criança, sem necessidade de exames complementares ➢ DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL → Para diferenciar Convulsão Febril Benigna de uma Infecção Intracraniana, deve-se realizar um correto diagnóstico diferencial, a partir de: • Tempo da crise convulsiva: ▪ Menor duração → convulsão febril benigna ▪ Maior duração → geralmente, relaciona-se a pior prognóstico e a quadros infecciosos • Início da crise convulsiva: ▪ Nas primeiras 24 horas de febre → convulsão febril benigna ▪ Após o 1º a 2º dia → processo infeccioso intracraniano • Nível de consciência após a crise convulsiva: ▪ Rápida recuperação do nível de consciência (minutos após a crise) → crise convulsiva febril benigna ▪ Ausência ou lenta recuperação do nível de consciência → processo infeccioso intracraniano ➢ TRATAMENTO: • Hidratação • Controle da febre (Antitérmicos) INFECÇÕES INTRACRANIANAS x CONVULSÃO FEBRIL BENIGNA ➢ MENINGITE BACTERIANA: • Etiologia: ▪ Pneumococo ▪ Meningococo • Manifestações Clínicas: ▪ Tríade clássica → Cefaleia + Vômitos + Febre ▪ Rigidez de nuca ▪ Sinal de Kernig ▪ Sinal de Brudzinski • Exames Complementares: ▪ Análise do Líquor • Tratamento → internação hospitalar ▪ Antibioticoterapia:PENICILINA CRISTALINA ou CEFTRIAXONA Endovenosa (por 7 dias) ▪ Corticoterapia: DEXAMETASONA Endovenosa (por 2 dias) → para diminuir o edema cerebral • Profilaxia: ▪ Para os contactantes (Ex: colegas de classe, familiares...) → um dos seguintes: RIFAMPICINA (por 2 dias) → hoje em dia, é menos utilizada CEFTRIAXONA Intramuscular (dose única) CIPROFLOXACINA 500mg Via Oral (dose única) ▪ Vacina Meningocócica C, ACWY, B ➢ MENINGITE VIRAL: • Etiologia: ▪ Enterovírus ▪ Herpes vírus ▪ Varicela-Zoster • Manifestações Clínicas: ▪ Tríade clássica → Cefaleia + Vômitos + Febre ▪ Rigidez de nuca ▪ Sinal de Kernig ▪ Sinal de Brudzinski • Exames Complementares: ▪ Análise do Líquor • Tratamento → internação hospitalar ▪ Medicações Sintomáticas → controle da febre ▪ Repouso ▪ Leito com cabeceira elevada → diminuir hipertensão intracraniana ▪ Nos casos de Herpes Vírus e Varicela-Zoster (são identificados a partir da PCR do líquor) → o tratamento necessita de antivirais, e o mais utilizado é: ACICLOVIR Endovenoso (por 10 a 14 dias) • Profilaxia → não existe ➢ ENCEFALITE: • Etiologia: ▪ Herpes vírus ▪ Varicela-Zoster ▪ Epstein-Barr ▪ Citomegalovírus • Manifestações Clínicas: ▪ Manifestações gerais com sinais neurológicos focais e/ou rebaixamento do Glasgow, sem sinais meníngeos ▪ São semelhantes à meningite, mas sem a presença dos sinais meníngeos (rigidez de nuca, sinal de Kering ou sinal de Brudzinski) ATENÇÃO A meningite nunca deve ser tratada com medicação por via oral ou por via intramuscular! 5 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto ▪ O que prevalece é o rápido rebaixamento do nível de consciência, se comparado às meningites, e a apresentação de sinais neurológicos focais (Ex: convulsões parciais, paralisias da musculatura ocular) • Exames Complementares: ▪ Para que se encontre sinais de lesão intracraniana (sinais típicos da encefalite) ✓ Tomografia Computadorizada ✓ Ressonância Magnética (caso o serviço disponha) ▪ Outros exames: ✓ Hemograma ✓ Ureia e Creatinina ✓ Ionograma... • Tratamento: ACICLOVIR Endovenoso (por 10 a 14 dias) • Profilaxia → não existe ➢ CONVULSÃO FEBRIL: • Etiologia: ▪ Geralmente, é desencadeada por quadros febris de origem viral • Manifestações Clínicas: ▪ Crise tônico-clônica generalizada de curta duração, sem recorrência, nas primeiras 24 horas da febre • Exames Complementares → não há necessidade de serem feitos • Tratamento: ▪ Controle da doença febril ▪ Hidratação • Profilaxia: DIAZEPM Oral intermitente (dose matinal e dose noturna) ✓ É comum de ser cobrado em provas de residência! ✓ Crianças com histórico familiar de convulsão febril e que já desencadearam uma convulsão febril benigna têm um risco de, na próxima doença febril, desencadear a mesma convulsão. Assim, é preconizado que essas crianças, no primeiro dia de febre, tomem uma dose matinal e uma dose noturna do Diazepam por via oral ✓ Assim, essa dose que a criança toma serve como uma profilaxia para a crise convulsiva. Além disso, ela deve ser tomada no 1º dia de febre devido ao fato de que a convulsão febril benigna tende a ocorrer nas primeiras 24 horas do quadro febril ✓ Essa conduta não é muito empregada devido ao fato da falta de conhecimento da família, principalmente aquelas com baixa escolaridade, que praticamente faria uso da medicação para todo e qualquer quadro de febre na criança ou até mesmo continuaria fazendo uso da medicação após o 1º dia, por exemplo EXAME DO LÍQUOR ➢ É feito a partir da punção lombar, ao nível das cristas ilíacas → palpa-se o processo espinhoso da vértebra na altura da crista ilíaca e insere-se a agulha no sentido caudal-cranial, para que acompanhe a anatomia do processo espinhoso e possa atravessar o ligamento supraespinhoso. Assim, sente-se um “click” e, aprofundando-se um pouco mais a agulha, consegue-se chegar ao espaço aracnóideo, onde se encontra o líquido cefalorraquidiano • Punciona-se cerca de 10 a 20mL desse líquido cefalorraquidiano e encaminha-se para o laboratório analisar o líquido, solicitando-se os seguintes: ▪ Celularidade → se o líquido apresenta células ▪ Glicorraquia (nível de glicose no líquor) ▪ Proteinorraquia (nível de proteína no líquor) ▪ Bacterioscopia e gram: ✓ Bacterioscopia Positiva: o Gram + → indica Pneumococo ❖ Nesse caso, deve-se fazer uso de Penicilina Cristalina o Gram - → indica Meningococo ❖ Nesse caso, deve-se fazer uso de Ceftriaxona Endovenosa • Alterações liquóricas por infecção bacteriana: ▪ Celularidade elevada as custas de neutrófilos ▪ Nível de glicose baixo (< 50% do que o nível do plasma) ▪ Nível de proteína elevado (> 100g/dL) • Alterações liquóricas por infecção viral: ▪ Celularidade elevada as custas de linfócitos ▪ Nível de glicose próximo ou igual ao nível do plasma sanguíneo ▪ Nível de proteína pouco elevado ➢ Conduta de acordo com o resultado da análise do líquor: • Infecção viral → suspender o antibiótico empregado anteriormente (Ceftriaxona) e aguardar o resultado da PCR para avaliar se há infecção por herpes vírus (Não há profilaxia) • Infecção bacteriana → manter o antibiótico prescrito inicialmente, que geralmente é a Ceftriaxona ▪ Realizar quimioprofilaxia dos contactantes, pois a bactéria causadora da meningite coloniza as vias respiratórias superiores dos contactantes ➢ Resultados esperados na análise do líquor: NORMAL (Barreira Hematoencefálica - BHE) BACTERIANO VIRAL Pressão 10 a 20 cmH2O Alta Normal Cor Límpido Turvo Límpido Celularidade < 5 linfócitos > 100 neutrófilos Entre 5 a 1000 linfócitos Glicose 60% do valor plasmático < 40% do valor plasmático Normal Proteína < 45 g/L > 100g/L Entre 5 e 100g/L 6 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto ➢ Contraindicações para punção liquórica (nesses casos, deve- se optar pelos exames de imagem para evidenciar se o paciente tem ou não hipertensão intracraniana): • Os seguintes correspondem a evidencias da possível presença de hipertensão intracraniana: ▪ Glasgow < 13 ▪ Sinais neurológicos focais (Ex: déficit neurológico de um lado do corpo) ▪ Sinais de Hipertensão Intracraniana (HIC) → tríade clássica: ✓ Hipertensão Arterial + Bradicardia + Taquipneia ▪ Alteração de Movimento Ocular Extrínseco ou Reflexo Pupilar ▪ Papiledema → o exame de fundo de olho mostra edema de papila ✓ Geralmente, o exame de fundo de olho se altera em torno de 24 horas após o processo inflamatório no sistema nervoso central. Assim, ele é um exame tardio e não é tão útil para a definição inicial de hipertensão intracraniana nas crianças com infecção do sistema nervoso central • Não se faz a punção liquórica nos casos de hipertensão intracraniana devido ao risco de despressurizar o sistema nervoso central ▪ Exemplo: Paciente apresentando cefaleia, febre e alteração do movimento ocular. Na realização da punção lombar para o diagnóstico diferencial com meningite, o paciente rebaixou rapidamente o nível de consciência → a alteração do movimento ocular traduz que o paciente apresenta uma hipertensão intracraniana. Nesse caso, a punção liquórica gera um gradiente de pressão negativo a região lombar, havendo herniação cerebral pela região do forame magno, provocando o rebaixamento do nível de consciência e uma consequente insuficiência respiratória COMPLICAÇÕES ➢ MENINGITE: • Coleções Subdurais (abscessos cerebrais) • Coagulação Intravascular Disseminada – CIVD (Sepse Meningocócica) → principalmente na doença causada pelo meningococo pode-se ter uma sepse grave, que se caracteriza pela CIVD ▪ É uma condição rara ▪ Trata-se de um choque séptico fulminante ▪ Também chamada de Síndromede Waterhouse- Friderichsen ➢ ENCEFALITES: • Déficit Motor • Retardo Mental • Déficit de Aprendizado • Epilepsia ➢ CONVULSÃO FEBRIL: • As complicações são raríssimas de ocorrerem e a incidência de crise convulsiva em episódios febris tende a diminuir com o tempo • Pode-se ter situações que fogem do espectro do diagnóstico da convulsão febril, mas que também estão relacionadas a febre, como: ▪ Síndrome de Dravet (ou Epilepsia Mioclônica Grave da Infância - SMEI): ✓ É uma convulsão que ocorre na vigência de febre, já no primeiro dia de doença. A criança começa a desencadear a convulsão, que irá se tornar de longa duração e repetitiva. Além disso, não há evidência alguma de infecção intracraniana (ou seja, é como se a criança iniciasse um quadro convulsivo benigno que evolui para um quadro de complicações) ✓ Tem alta morbidade → as crianças têm tendencia a evoluir para graves déficits neurológicos e neurocognitivos (evolui para déficit neurológico permanente) ✓ É uma condição extremamente rara CASOS CLÍNICOS 1. João Petronias, 1 ano e 6 meses - relato de febre há 3 dias seguida de 3 crises convulsivas generalizadas nas últimas 48h, com curta duração. Foi atendido em hospital do interior e encaminhado após 24h para avaliação neurológica, devido a sonolência excessiva. No hospital de referência, após punção de LCR, é iniciado Ceftriaxona EV e internado em UTI. • Explicações sobre o caso: ▪ Como a criança apresentou 3 crises convulsivas durante esse período febril, esse quadro se distancia da definição de crise convulsiva febril benigna. Assim, esse quadro não é uma condição benigna, falando a favor de um agravamento, com lesão intracraniana, pois as crises convulsivas se repetiram ▪ Quando se está diante de uma lesão intracraniana aguda, a principal causa (excluindo-se o trauma) é um processo infeccioso, e o processo infeccioso intracraniano mais comum na infância é a meningite ▪ Período pós-ictal (após a crise convulsiva) → a criança apresentou prejuízo no nível de consciência (sonolência excessiva) • Em relação à conduta: ▪ No hospital de referência → foi feita a punção do líquor, pois a criança apresentava evidências clínicas de meningite, e no período imediato foi iniciada a antibioticoterapia ✓ Antibioticoprofilaxia → devido ao alto risco de mortalidade pelo meningococo, deve-se iniciar a Ceftriaxona imediatamente, antes mesmo do resultado do LCR ✓ Após o resultado do LCR → consegue-se saber se o quadro é bacteriano ou viral, para que se 7 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto defina se a Ceftriaxona continua ou não no esquema terapêutico ▪ A meningite é uma emergência clínica, pois apresenta alta morbimortalidade. Dessa forma, a conduta a ser tomada diante desse quadro deveria ter correta e imediata, com a finalidade de evitar a progressão da doença. Desse modo, as 24h em que essa criança passou sendo apenas observada, sem qualquer tipo de intervenção médica no hospital do interior, contribuiu para que houvesse uma piora do quadro clínico • Conduta correta → caso você esteja em um hospital do interior, no qual não é possível realizar a punção do LCR: ▪ Definir o diagnóstico clínico de uma meningite → a partir dos sinais e sintomas ▪ Iniciar antibioticoterapia imediatamente → Ceftriaxona endovenosa para cobrir o meningococo ✓ Não se pode esperar encaminhar o paciente para iniciar o tratamento! Deve ser imediato ✓ A primeira hora de tratamento de um paciente portador de um quadro infeccioso grave é vital para reduzir a mortalidade ▪ Encaminhar o paciente para o hospital de referência → para continuidade do tratamento e investigação do quadro 2. Larissa Santos, 1 ano e 9 meses, apresenta febre desde o início da noite e por volta da meia noite apresentou movimentos “desordenados” de cabeça, braços e pernas, enquanto estava sendo medicada para febre. Os pais foram imediatamente para o hospital, referindo que os movimentos cessaram assim que entraram no carro. Não há histórico de convulsões na criança ou família. Apresenta-se com Tax= 38,5 °C. No colo da mãe, a bebê está ativa, atenta ao ambiente, tenta pegar objetos da mesa de atendimento. Fontanela anterior normotensa. Nuca livre. Orofaringe hiperemiada. Pulmões livres. • Explicações sobre o caso: ▪ Quadros febris em crianças são bastante comuns → uma criança pode apresentar cerca de 6 a 11 episódios anuais de crises febris ▪ 3 a 5% da população pediátrica tem predisposição para, na eventualidade de um quadro febril, apresentar convulsão benigna ▪ A criança do caso clínico: ✓ Apresentou um quadro febril e, horas depois, fez uma convulsão do tipo tônico-clônica generalizada (é diferente do caso clínico 1, no qual a criança apresentou vários dias de febre e várias crises convulsivas) ✓ Teve um quadro de curta duração (< 10min) → pois o quadro cessou ainda em casa (assim que os pais entraram no carro), espontaneamente, sem a utilização de medicações • Diante do quadro clínico, a criança apresenta uma infecção de vias aéreas superiores, pois o exame físico mostra hiperemia de orofaringe, que está relacionada a processos virias agudos, que são bastante comuns na infância • Além disso, essa criança apresentou um quadro de convulsão febril benigna, pois: ▪ Não há recorrência da convulsão (foi apenas 1 episódio) ▪ A crise convulsiva foi de curta duração (cessou ainda em casa) ▪ A crise convulsiva ocorreu no primeiro dia de febre (a convulsão febril benigna ocorre nas primeiras 24h de febre) ▪ Há uma rápida recuperação do nível de consciência após a crise → em poucos minutos a criança recupera seu nível de consciência, começando a ficar atenta (Ex: brincar) ou até mesmo a chorar e ficar ansiosa, por exemplo • Nesse caso clínico não se tem evidências de infecção do sistema nervoso central e nem de um quadro séptico (rebaixamento do nível de consciência, dispneia e hipotensão) • Conduta: ▪ O tratamento pode ser ambulatorial, pois trata-se apenas de uma convulsão febril benigna ▪ O que falar para acalmar os pais → diz-se que a criança apresentou uma convulsão como resposta à febre decorrente de uma infecção viral das vias aéreas superiores. Assim, se não recorrência da crise convulsiva dentro desse evento febril, não há necessidade de internação ou uso de medicação anticonvulsiva ou de realização de exame complementar ▪ Tratamento → é domiciliar, com a criança fazendo uso de antitérmico e tomando bastante água para se manter hidratada 3. Lucas Alfredo, 6 anos, acordou com febre, mas a mãe o levou para a escola integral. Foi chamada no meio da tarde porque o menor apresentava-se com intensa cefaleia, piora da febre e 5 episódios de vômitos. É levado à UPA, estando febril, irritado, choro persistente, eupnéico e normotenso. Nuca livre. • Sobre o caso: ▪ A criança apresenta um quadro febril agudo, com evolução em menos de 24 horas, havendo piora progressiva ao longo do dia com cefaleia intensa, piora da febre e vômitos persistentes • Hipóteses Diagnósticas: ▪ Meningite: ✓ Explicação: o Pois febre, cefaleia e vômitos constituem a tríade clássica da meningite o Há alteração do nível de consciência, pois a irritação e o choro frequentes não são comuns de crianças com a idade do paciente → é um sinal de gravidade relacionada ao sistema nervoso central o Ainda não apresenta sinais de irritação meníngea, mas a meningite não pode ser descartada ▪ Quadro Infeccioso Inespecífico → Ex: Dengue, Chikungunya, Enterovírus... 8 MENINGITE E CONVULSÕES NA INFÂNCIA Gizelle Felinto ▪ Encefalite: ✓ Explicação: o Pois a encefalite cursa com alterações sugestivas de meningite, mas não apresenta sinais de irritação meníngea • Conduta: ▪ Internação hospitalar → pois houverebaixamento do nível de consciência ▪ Realizar exames complementares: ✓ Análise do Líquor → para diferenciar entre um quadro viral ou bacteriano ✓ Exames de imagem (Tomografia ou Ressonância de crânio) → para investigação de encefalite ✓ Hemograma, hemocultura, provas de função hepática, provas de função renal → na investigação de um quadro infeccioso inespecífico ▪ Iniciar Antibioticoterapia (deve ser imediata, antes mesmo do resultado dos exames solicitados) → pois como não se sabe ao certo a doença do paciente, pode muito bem haver alto risco de sepse bacteriana, que tem alta mortalidade. Assim, como prevenção, é necessário iniciar a antibioticoterapia já na primeira hora CEFTRIAXONA Endovenosa → nos casos de suspeita de meningite, como o agente etiológico de maior mortalidade é o meningococo, deve-se iniciar a Ceftriaxona, pois ele é sensível a esse antibiótico o Nos países em que há resistência bacteriana (como nos EUA) → faz-se uso de Cefotaxima • Após a chegada dos exames complementares: ▪ Resultados → Líquor normal, hemocultura negativa e sem evidências de complicações renais ou hepáticas ▪ Tomografia ou Ressonância demonstrando edema cerebral e áreas de desmielinização → nesse caso, caracteriza-se um quadro de Encefalite, tendo como conduta: ✓ Retirar/Suspender a Ceftriaxona ✓ Iniciar Aciclovir → é feito em um hospital de referência • Para investigação de gravidade dos quadros infecciosos intracranianos, deve-se avaliar: ▪ Nível de consciência ▪ Frequência respiratória ▪ Pressão arterial CARACTERÍSTICAS MENINGITE CONVULSÃO FEBRIL BENIGNA Febre Presente Presente Crises Convulsivas São mais de 1 crise, com início após o 1º ou 2º dia da doença Apenas 1 crise no atual episódio febril, ocorrendo nas primeiras 24h de febre Duração da crise Variável Curta duração (<10min) Nível de consciência no período pós-ictal Não recupera ou há uma recuperação lenta Rápida recuperação do nível de consciência Tratamento Iniciar imediatamente antibioticoterapia, antes mesmo do resultado do LCR (Ceftriaxona EV para cobrir o meningococo) Trata-se apenas de um quadro benigno, devendo-se apenas tratar a causa do episódio febril da criança
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