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Hipertensã� Arteria� Epidemiologia Prevalência de 32,5% na população adulta, podendo chegar a 60% em idosos Antes da menopausa, as mulheres apresentam prevalencia menor que os homens, a situação se inverte na pós-menopausa. A HAS tende a ser mais comum e mais grave em negros Critérios Diagnósticos da VII Diretriz ● PA no consultório - Média de duas aferições em pelo menos duas consultas diferentes maior ou igual a 140x90 mmHg ● Monitorização residencial (MRPA) - média de 3 medidas matinais antes do café e 3 medidas à noite antes do jantar maior ou igual a 135 x 85 mmHg. ● Monitorização automática (MAPA) - Média das aferições automáticas no período de vigília maior ou igual a 135 x 85 mmHg, ou maior ou igual a 130 x 80 mmHg na PA de 24 horas, ou maior ou igual a 120 x 70 mmHg de PA no sono. OBS: Em caso de PA muito alta (>180 x 110 mmHg) ou paciente com risco cardiovascular alto, o diagnóstico é fechado já na primeira aferição. Apesar de não ser obrigatório, é recomendável usar pelo menos uma das técnicas de aferição fora do consultório, visando identificar casos de hipertensão do jaleco branco ou hipertensão mascarada. Pré-hipertensão - PAS entre 121 e 139 mmHg e PAD entre 81 e 89 mmHg, sendo que aqueles com PA maior ou igual a 130 x 85 mmHg tem uma grande chance de desenvolver HAS nos próximos anos. Hipotensão postural - Diminuição maior ou igual a 20 mmHg para a sistólica e 10 mmHg para diastólica após colocar o paciente em posição ortostática por 3 minutos. Pseudo-hipertensão - Fenômeno causado pela calcificação das artérias (comum em idosos), fazendo com que não haja colabamento mesmo com pressões superiores à PA. Isso resulta em valores superestimados de PA (pode ser identificado pela manobra de Osler) Estadiamento da HAS ● Normal - Menor ou igual a 120 x 80 mmHg ● Pré-hipertensão - até 139 x 89 mmHg ● Hipertensão estágio I - de 140 x 90 até 159 x 99 mmHg ● Hipertensão estágio II - de 160 x 100 até 179 x 109 mmHg ● Hipertensão estágio III - maior ou igual a 180 x 110 mmHg ● Hipertensão sistólica isolada - PAS maior ou igual a 140 mmHg e PAD menor que 90 mmHg Avaliação clínica ● Tratamentos prévios da hipertensão ● Fatores de risco cardiovascular ● Indícios de hipertensão secundária ● Indícios de lesões de órgãos-alvo ● Aspectos socioeconômicos ● Estilo de vida do paciente ● Consumo pregresso ou atual de medicamentos que possam interferir em seu tratamento (anti-inflamatórios, anorexígenos, descongestionantes) ● Fundoscopia ● Índice tornozelo-braquial - PAS tornozelo/ PAS braço deve ser maior que 0,9, caso contrário deve-se suspeitar de doença arterial periférica. Avaliação Complementar de Rotina ● Urina tipo I (EAS ou sedimento urinário) ● Potássio plasmático ● Creatinina e TFG ● Glicemia em jejum ● Lipidograma ● Acido urico plamático ● ECG Avaliação Complementar Adicional ● Radiografia de tórax - Suspeita de insuficiência cardíaca, acometimento pulmonar e/ou aórtico ● Ecocardiograma - Critérios de hipertrofia de ventrículo esquerdo no ECG e suspeita de insuficiência cardíaca ● Albuminúria - Paciente hipertenso com diabetes ou síndrome metabólica ● Hemoglobina glicada - Pacientes com glicemia em jejum >99 mg/dL, história familiar prévia de DM II. ● Doppler de carótidas - Pacientes com presença de sopro carotídeo ou sinais de doença cerebrovascular. ● Teste ergométrico - Suspeita de doença coronariana estável e diabetes melito ● Doppler renal - Presença de sopro ou massa abdominal ● Velocidade da onda de pulso - Hipertensos de médio e alto risco ● RM de crânio - Avaliar presença de infartos e hemorragia em pacientes com deficit motor ou cognitivo. Classificação Etiológica Hipertensão primária (mais comum) - Causa idiopática. Responsável por cerca de 95% dos casos Hipertensão secundária - Causada por alguma outra doença ● Doença parenquimatosa renal (2-3%) ● Estenose de artéria renal (hipertensão renovascular) (1-2%) ● Uso de anticoncepcionais (0,5-1%) ● Hiperaldosteronismo primário (0,3%) ● Coarctação da aorta ● Síndrome de Cushing ● Feocromocitoma ● Hiperparatireoidismo ● hipo ou hipertireoidismo ● Acromegalia ● Policitemia vera ● Uso de drogas (cocaína e anfetaminas) ● Ciclosporina Lesão de Órgão Alvo Sabe-se que a elevação pressórica promove alterações não só cardíacas Lesão endotelial: ● Arteriosclerose hialina - Deposição de material amorfo na parede do vaso, levando a comprometimento lento e progressivo (ex: nefroesclerose hipertensiva) ● Arteriosclerose hipertrófica - Quadro associado a níveis pressóricos muito altos (>220 x 120 mmHg), que causa proliferação de células musculares e replicação da membrana basal da parede dos vasos, levando ao estreitamento grave do lúmen (ex:nefroesclerose hipertensiva maligna, arteriolite necrosante hipertensiva) ● Microaneurismas de Charcot-Bouchard - Dilatações presentes em artérias cerebrais penetrantes, sendo responsáveis pelo AVE hemorrágico ● Aterosclerose - Responsável por oclusão do vaso de caráter insidioso e parcial (ex: angina estável, claudicação intermitente e angina mesentérica) e também eventos relacionados a tromboembolismo arterial agudo (ex: IAM, isquemia mesentérica, gangrena de membros inferiores e AVE isquêmico) Cardiopatia hipertensiva: ● Hipertrofia ventricular esquerda - O aumento da demanda e a ação trófica da angiotensina II sobre a célula miocárdica provoca hipertrofia, a presença de hipertrofia (116 g/m² em homens e 96 g/m² em mulheres) predispõe a DCA, AVE e arritmia. ● Disfunção diastólica - Ocorre um aumento na pressão de enchimento diastólico, isso no lado direito do coração gera sobrecarga pulmonar, contribuindo pra o aparecimento de ICC e edema agudo de pulmão. ● Cardiopatia dilatada (disfunção sistólica) - Reflete uma disfunção sistólica,associada a uma dilatação ventricular, resultando em redução do volume sistólico e do débito cardíaco (podendo até mesmo normalizar os níveis pressóricos), contribuindo para o desenvolvimento de insuficiência cardíaca. ● Doença coronariana (principal causa de morte no Brasil atualmente) - Pode se manifestar de diversas formas (isquemia silenciosa, angina estável, angina instável, IAM, morte súbita) Doença cerebrovascular: ● Ataque Isquêmico Transitório (AIT) ● AVE isquêmico ● AVE hemorrágico intraparenquimatoso ● Hemorragia subaracnóide ● Demência multivascular ● Atrofia cerebral devido à arteriosclerose difusa (doença de Binswanger) Nefropatia hipertensiva: ● Nefroesclerose hipertensiva - Resulta da arteriosclerose hialina da artéria aferente renal, gerando inicialmente microalbuminúria, alterações de creatinina e proteinúria em alguns casos. A doença pode evoluir insidiosamente com lesão tubulointersticial e ,até mesmo, estado de rim terminal. ● Nefroesclerose hipertensiva maligna - Resulta de níveis pressóricos muito altos, que causam arteriosclerose hiperplásica e necrose fibrinóide arteriolar. A doença evolui em semanas ou dias com hematúria, proteinúria e insuficiência renal. Retinopatia Hipertensiva - A suspeita é feita por por meio da fundoscopia (Estreitamento arteriolar, cruzamento arteriovenoso patológico, hemorragias e/ou exsudatos retinianos, papiledema) Quando Tratar ● HAS estágio II ou III (PA > 160 x 100 mmHg) ou HAS estágio I com risco cardiovascular alto - Iniciar tratamento medicamentoso e não medicamentoso imediatamente ● HAS estágio I com risco cardiovascular intermediário - Iniciar terapia não medicamentosa por 3 meses, se as metas não forem atingidas, iniciar terapia medicamentosa. ● HAS estágio I com risco cardiovascular baixo - Iniciar terapia não medicamentosa por 6 meses, se as metas não forem atingidas, iniciar terapia medicamentosa. ● Pré hipertensão entre 130 x 85 e 139 x 89 mmHg - Iniciar terapia não medicamentosa. ● HAS sistólica isolada no idoso (entre 60 e 80 anos) - Iniciar terapia medicamentosa a partir de uma PAS de 140 mmHg, desde que bem tolerada. ● HAS sistólica isolada nos muitos idosos (>80 anos) - Iniciar terapia medicamentosa a partir de uma PAS de 160 mmHg, desde que bem tolerada. ● HAS sistólicaisolada em jovens (<30 anos) - Tratamento medicamentoso só está indicado caso o risco cardiovascular seja alto. Metas Pressóricas ● HAS estágio I e II com risco cardiovascular alto - Meta é <130 x 80 mmHg ● HAS estágio III - Meta é 140 x 90 mmHg ● HAS estágio I e II com risco cardiovascular intermediário ou baixo - Meta é 140 x 90 mmHg OBS: Em pacientes com DAC deve-se manter a PA abaixo de 130 x 80 mmHg, mas acima de 120 x 70 mmHg (abaixo disso, existe o risco de isquemia miocárdica nesses pacientes). Para diabéticos, existe a recomendação de manter abaixo de 130 x 80 mmHg, mas as evidências não são fortes. Em hipertensos com a PA fora da meta, os acompanhamentos são mensais. Nos pacientes idosos, as metas são as mesmas, a diferença é que o tratamento deve ser escalonado de forma mais lenta. Isso também é válido para pacientes com PA inicial muito alta, pacientes com múltiplas comorbidades e uso de múltiplas medicações. Tratamento Medicamentoso Medicamentos de primeira linha: ● Diuréticos ● Bloqueadores dos canais de cálcio ● Inibidores da ECA ● Bloqueadores do receptor de angiotensina II ● Betabloqueadores OBS: Os betabloqueadores se mostraram menos efetivos do que os outros, exceto em alguns grupos (coronariopatas, e pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida) Princípios Gerais do Tratamento ● É preferível o uso de drogas orais, na menor dose possível ● Prefere-se usar drogas de ação lenta, permitindo 1 tomada ao dia, aumentando a adesão do paciente ● A posologia deve manter níveis eficazes de medicamento ao longo das 24 horas (a concentração plasmática mínima não deve ser menor que 50% da concentração plasmática máxima) ● A maioria dos anti-hipertensivos deve ser tomada ao acordar (evitar o pico de pressão que ocorre no início do dia), exceto o verapamil que tem início de ação lento, devendo ser tomado antes de dormir. ● Deve-se reavaliar a PA após 4 semanas de início ou mudança do tratamento ● Se o efeito terapêutico for parcial, pode-se aumentar a dose do medicamento ou associar outro com mecanismo de ação diferente, sendo essa última conduta preferível, pois se associa a menos efeitos colaterais. ● Na presença de efeitos colaterais, deve-se reduzir a dose ou modificar a combinação de medicamentos. ● Apesar de qualquer 1 dos anti hipertensivos podem ser usados em monoterapia inicialmente, algumas drogas trazem benefícios adicionais a certas condições do paciente (Ex: nefroproteção dos IECAs e BRA), sendo estas as drogas preferidas Drogas Anti-hipertensivas Tiazídicos ● São preferidos em detrimento dos outros diuréticos, já que proporcionam uma redução mais suave da PA e permitem apenas 1 tomada por dia. ● Exemplos - Hidroclorotiazida, Indapamida (Natrilix®), Clortalidona (Higroton®) ● Mecanismo de ação - Induz natriurese, a qual inicialmente promove uma redução momentânea do volume extracelular, mas posteriormente interfere reduzindo a resistência vascular periférica (4 a 6 semanas). Esse último efeito é o responsável pela redução da PA do paciente. ● Efeitos colaterais - Hipovolemia, hiponatremia, hipocalemia, hipomagnesemia, hiperlipidemia, hiperglicemia, hiperuricemia (evitar tiazídicos e outros diuréticos em portadores de gota), impotência sexual, podem precipitar hipercalcemia (deve ser evitado em portadores de hiperparatireoidismo e pode trazer benefícios adicionais em pacientes com osteoporose) Diuréticos de alça ● Só devem ser usados em portadores de HAS hipervolemicos (doença crônica renal avançada ou paciente com edema), devido ao risco de causar hipovolemia. Além disso, podem ser necessárias várias tomadas durante o dia. ● Exemplos - Furosemida (Lasix®), Bumetanida (Burinax®) , Piretanida (Arelix®), Ácido etacrínico (Edecrin®) ● Mecanismo de ação - Bloqueiam a reabsorção de sódio, potássio e cloro no ramo ascendente da alça de Henle, promovendo uma natriurese mais intensa. ● Efeitos colaterais - Podem precipitar hipocalcemia Poupadores de potássio ● Mecanismo de ação - Bloqueiam a troca de reabsorção de sódio em troca de potássio que ocorre no ducto coletor, podem bloquear diretamente o receptor de aldosterona (espironolactona e eplerenona) ou bloquear o canal (amiodarona, triantereno). ● Os bloqueadores do receptor de aldosterona são a primeira escolha na HAS por hiperaldosteronismo primário, e também podem ser usados em associação com tiazídicos para evitar hipocalemia. Bloqueadores dos canais de cálcio ● Di-idropirimidinicos - São vasosseletivos, interferindo principalmente na resistencia vascular periférica, sendo os preferidos, especialmente a anlodipina ● Não diidropiridínicos - São cardiosseletivos, apresentando efeito inotrópico e cronotrópico negativo, sendo úteis em pacientes que precisam reduzir a FC, bem como os portadores de angina pectoris que não podem usar betabloqueadores (portadores de asma e DPOC). ● Efeitos colaterais - dihidropiridínicos (edema maleolar (principal) que pode evoluir com dermatite ocre no terço distal da perna, cefaléia, tontura; rubor facial e hiperplasia gengival) não dihidropiridínicos (agravamento da ICFER, bradicardia, bloqueio AV, constipação) Inibidores da ECA ● São particularmente úteis em pacientes portadores de ICFER, IAM de parede anterior (pois reduz o efeito cardiomodelador mediado pela angiotensina) e DRC (tem efeito nefroprotetor). ● Exemplos - Enalapril, captopril ● Efeitos colaterais - Tosse seca (acúmulo de bradicinina no pulmão), angioedema, erupções cutâneas, IRA na doença renovascular, pancreatite e leucopenia. Bloqueadores dos receptores AT1 ● São úteis nas mesmas situações dos inibidores da ECA e têm os mesmos efeitos colaterais, mas apresentam o benefício de não causarem tosse seca e angioedema. Além disso, a losartana em específico causa uricosúria, sendo uma opção interessante em portadores de gota. ● Exemplos - Losartana e valsartana Betabloqueadores ● Não são mais considerados anti-hipertensivos de primeira linha para população geral, mas apresentam benefícios em pacientes com ICFER, DCA, taquiarritmias, cefaleia vascular, tremor essencial e hipertireoidismo ● Efeitos colaterais gerais - Bradicardia, disfunção erétil, dislipidemia (os de terceira geração melhoram o perfil lipídico) e distúrbios da condução AV ● Efeitos colaterais beta-2 (os seletivos não apresentam) - Broncoespasmo, intolerância à glicose (bloqueio da liberação pancreática de insulina) ● Efeitos em sistema nervoso central (típico dos betabloqueadores lipossolúveis - propranolol) - Melhora o tremor essencial, síndromes hipercinéticas e as cefaléias vasculares, mas pode gerar depressão, pesadelo e insônia. ● Contraindicações - Intoxicação por cocaína (o bloqueio beta-2 vasodilatador permite que o estímulo alfa-1 vasoconstritor atue sem oposição, agravando a crise hipertensiva e a isquemia miocárdica), Portadores de DPOC e asma (contraindicação para betabloqueadores não seletivos. Drogas de ação central (Agonistas Alfa-2 e Agonistas Imidazólicos) ● Mecanismo de ação - Atuam inibindo a atividade simpática no SNC ● Exemplos - Metildopa e clonidina ● Apresentam benefícios adicionais quando usados em pacientes que possuem: síndrome das pernas inquietas, retirada de opioides, flashes da menopausa, diarreia por neuropatia diabética e hiperatividade simpática da cirrose hepática. ● Efeitos colaterais - sonolência, sedação, xerostomia, disfunção erétil, hipotensão postural, reação auto-imune (metildopa) e efeito rebote (clonidina) Alfabloqueadores ● Mecanismo de ação - Bloqueio de receptores alfa-1 presente nos vasos, gerando vasodilatação e redução da resistência vascular. ● Exemplos - ● Interessante opção em portadores de prostatismo (atua em receptores alfa-1 da musculatura lisa do esfíncter da bexiga, provocando relaxamento) e primeira opção em portadores de feocromocitoma. ● Efeitos colaterais - Hipotensão postural e incontinência urinária Vasodilatadores Diretos ● Mecanismo de ação - Provocam dilatação arteriolar por mecanismos ainda não compreendidos ● Por causaremvasodilatação intensa, podem provocam hipovolemia relativa e taquicardia reflexa, devendo ser evitados em portadores de DCA, hemorragia cerebral e aneurisma dissecante de aorta ● Exemplo - Hidralazina (primeira escolha no tratamento da crise hipertensiva em gestantes) e minoxidil ● Efeitos colaterais - Rubor facial, edema, cefaleia, LES fármaco-induzido (hidralazina), hirsutismo (minoxidil) e derrame pericárdico (minoxidil) Inibidores da Renina ● Reduz PA na mesma medida que as drogas de primeira linha, mas não há evidência de melhora na morbimortalidade cardiovascular ● Exemplo - Alisquireno ● Efeitos colaterais - Rash, aumento de CPK e diarreia Condições associadas e drogas de escolha DM - Qualquer droga de primeira linha se não houver albuminúria maior ou igual a 30 mg/dia. Se houver, usar IECA ou BRA (nunca usar IECA + BRA) Doença coronariana - Usar primeiro BB, IECA ou BRA. Se precisar associar outro medicamento, usar DIU ou BCC Doença cerebrovascular - Qualquer um de primeira linha Doença renal crônica - Idem DM Referência Medcurso 2021 - Ginecologia - Hipertensão arterial Autor Matheus Furlan Chaves