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aT I V I D a D e S r Í T m I C a S e A l e s s a n d r a T o r r e s B i t t e n c o u r t aT I V I D a D e S r Í T m I C a S e A l e s s a n d r a T o r r e s B i t t e n c o u r t atividades rítmicas e dança ALESSANDRA TORRES BITTENCOURTCódigo Logístico 59389 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6634-6 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 3 4 6 Esta obra busca contemplar questões relacionadas ao ritmo, aos tipos de dança, à dança no espaço escolar e às diversas temáticas que permeiam a compreensão e o ensino das atividades rítmicas. O principal objetivo deste livro é instigar a curiosidade do profissional da licenciatura sobre a riqueza e a diversidade da cultura nacional e desafiá-lo a ampliar o olhar para novas possibilidades, distanciando-se de barreiras emocionais, culturais e sociais que ainda estão presentes no ensino de dança na Educação Física. Atividades rítmicas e dança Alessandra Torres Bittencourt IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Razym/Ihnatovich Maryia/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B542a Bittencourt, Alessandra Torres Atividades rítmicas e dança / Alessandra Torres Bittencourt. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 96 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6634-6 1. Educação física - Estudo e ensino. 2. Ritmo. 3. Dança - Estudo e ensi- no. I. Título. 20-63869 CDD: 792.8 CDU: 792.8 Alessandra Torres Bittencourt Doutora em Educação e mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Especialista em Corpo Contemporâneo, bacharel e licenciada em Dança pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP – Unespar). Especialista em Design de Embalagens pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Bacharel em Desenho Industrial – Programação Visual pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Atua como docente em cursos de ensino superior, lecionando disciplinas que envolvem o corpo, o movimento e a expressividade, como Dança, Dança de Salão, Atividades Rítmicas, Ludomotricidade e Psicomotricidade. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Atividades rítmicas e Educação Física 9 1.1 Ritmo e som 9 1.2 Ritmo e movimento 16 1.3 Dança na escola 19 2 Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 25 2.1 Danças das antigas civilizações 25 2.2 Danças da Idade Média ao Romantismo 32 2.3 Danças no Brasil 37 3 Tipos de danças 42 3.1 Danças clássicas, modernas e contemporâneas 42 3.2 Danças folclóricas e populares 49 3.3 Danças de salão 55 4 Linguagem da dança: vamos conversar? 62 4.1 Teóricos do movimento 62 4.2 Fatores do movimento 68 4.3 Dança no currículo escolar 73 5 Dança, Educação Física e escola 81 5.1 O professor de Educação Física e o ensino de dança 82 5.2 Todo mundo pode e deve dançar! 89 5.3 Projetos sociais e a dança 92 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! As atividades rítmicas fazem parte de uma diversidade de saberes a serem contemplados durante a formação do ser humano desde muito jovem. Assim, surge a necessidade de cursos de licenciatura que busquem estudar o ritmo e a expressão, como a Educação Física e outras áreas interligadas, entre elas a arte, a linguagem e a comunicação. Diante disso, esta obra busca contemplar questões relacionadas ao ritmo, aos tipos de dança, à dança no espaço escolar e às diversas temáticas que permeiam a compreensão e o ensino das atividades rítmicas. O principal objetivo é instigar a curiosidade do profissional da licenciatura sobre a riqueza e a diversidade da cultura nacional e desafiá-lo a ampliar o olhar para novas possibilidades, distanciando-se de barreiras emocionais, culturais e sociais que ainda estão presentes no ensino de dança na Educação Física. Os capítulos desse livro apresentam-se em ordem cronológica. Desse modo, primeiramente abordam-se o som e suas características, o movimento e a dança no contexto escolar, visando à aplicação das atividades rítmicas nas aulas de Educação Física. Em seguida, trabalha-se com a história da dança desde as antigas civilizações até a contemporaneidade, relacionando-as às danças do Brasil. Depois, apresentam-se alguns tipos de dança praticados no Brasil, seus contextos sociais e suas origens. Na sequência, relacionam-se estudiosos com os fatores do movimento, bem como aborda-se a dança no currículo escolar. Por fim, reflete-se sobre as diversas possibilidades de dança, seu ensino e os projetos que a envolvem, visando à compreensão das eficiências de cada ser humano nessa prática. Por meio dessa obra, desejamos ótimas e novas experiências dançantes na escola! Bons estudos! APRESENTAÇÃO Atividades rítmicas e Educação Física 9 1 Atividades rítmicas e Educação Física Você provavelmente já ouviu falar sobre ritmo. Mas, afinal, sabe do que ele se trata? Será que todos temos ritmo? Para responder a essas perguntas, pare um pouco e respire fundo. Todos os leitores desta obra provavelmente fizeram a mes- ma coisa. Será que o seu tempo de respiração foi igual ao dos de- mais? Certamente não. Isso ocorre porque todos temos diferentes ritmos ao respirar. Agora, sinta as batidas do seu coração. Perceba que, embora todo mundo possa sentir suas próprias batidas, cada pessoa tem o próprio ritmo cardíaco. Isso significa que tudo o que existe tem um ritmo próprio – o corpo, o cosmos, a natureza, a música etc. – cujos conceitos vamos estudar neste capítulo. Vamos observar, também, a diferença en- tre ritmo de cadência e de marcação, bem como as propriedades do som e os elementos da música. Por fim, vamos compreender concepções como expressividade e criatividade, fundamentais para o desenvolvimento do ritmo. 1.1 Ritmo e som Vídeo Você sabe o que é ritmo? E som? Vamos começar nossos estudos compreendendo a origem da pa- lavra ritmo, que vem do grego rhytmos e significa algo que se move ou que flui. Existe ritmo em tudo que é vivo e, por isso, vida e ritmo são sinônimos (SBORQUIA, 2014). O conceito de ritmo não é fácil de ser definido. Assim, conforme afirma Piccolo (1993), os próprios estudiosos que se dedicam a esse 10 Atividades rítmicas e dança tema se isentaram de tentar explicá-lo. Embora concorde que há difi- culdade em conceituar esse termo, Le Boulch (1987, p. 172) o define como sendo uma “organização ou estruturação de fenômenos tem- porais” que podem ser periódicos ou não, ou seja, que aparecem em intervalos regulares de tempo. Assim, podemos entender que o fenômeno ritmo pode ser conceituado como tudo aquilo que se move em certo espaço de tempo. Agora, temos que tomar cuidado para não confundirmos o ritmo com cadência ou marcação, normalmente denominada métrica, pois são conceitos diferentes. A métrica ordena o ritmo, o que ajuda a compreendê-lo (CAMARGO, 1994), assim, é uma ordem e uma medida. É a métrica que determina o pulsar da músicae ajuda a colocar uma ordem ao ritmo, que é espontâneo. Portanto, a métrica é um padrão mecânico que estabelece o ritmo. Para melhor compreendermos a métrica, vamos estudar o metrô- nomo (Figura 1). Você o conhece? É um objeto, analógico ou digital, que serve para medir o tempo da música, ou seja, sua métrica, seu andamento. Para conhecer como um metrônomo funciona, acesse o QR Code ao lado. Podemos entender, portanto, que o metrônomo é uma medida que marca o tempo de uma música e ajuda a compreender o ritmo. Por meio dessa medida, os músicos conseguem perceber os tipos de compasso musical. Embora muitas atividades específicas exijam o conhecimento do compasso, por hora, focaremos a diferenciação en- tre ritmo e métrica. Recomendamos a leitura do artigo Um olhar físico sobre a teoria musical, dos autores Joseclécio D. Dantas e Sergio da S. Cruz, publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física, em 2018, que aborda os conceitos de métrica, notas musicais, compasso e ritmo na música. Disponível em: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S1806-11172019000100 401&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 31 mar. 2020. Leitura Br et t H ol m es /S hu tte rs to ck Figura 1 Metrônomo analógico compasso musical: música dividida em intervalos de tempos iguais. Dentro de cada compasso fica o conjunto de notas musicais. Uma barra vertical representa o compasso dentro da escrita da música. Glossário http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172019000100 401&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172019000100 401&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172019000100 401&lng=en&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172019000100 401&lng=en&nrm=iso Atividades rítmicas e Educação Física 11 Voltando à métrica, há analogias bastante interessantes que nos ajudam a compreender a diferença entre ritmo e métrica: Primeiramente, imagine o movimento das ondas. Esse movimen- to se repete de tempos em tempos e, embora sejam muito pareci- das, as ondas não são idênticas. Assim, o movimento das ondas é periódico, ou seja, elas têm formas semelhantes, mas nenhuma é igual a outra. Esse é o ritmo. Agora, imagine que você está parado no trânsito, seja para atraves- sar a rua como pedestre, seja como motorista. O farol de trânsito tem um tempo programado de mudança de cor e, por isso, sempre terá, exatamente, o mesmo tempo de luz verde, vermelha ou amarela. Essa é a métrica. Desse modo, podemos compreender que a métrica é uma medi- da fixa, como uma fita métrica, que determina uma cadência ou um caminho. O ritmo tem como base essa medida ordenada e mecâni- ca, como os ponteiros de um relógio, para se desenvolver e apare- cer de diferentes formas não fixas de sons e movimentos, como as ondas do mar. O ritmo é uma expressão da natureza e dos seres vivos relacionados ao meio e ao con- texto em que vivem, diferentemente da métrica, que é uma construção matemática, ou seja, é a organização do tempo por meio de uma medida específica. Assim, por exemplo, cada nota musical tem determinado valor, e a soma desses valores deve caber em um espaço de tempo. Desse modo, essas medidas compõem a métrica. Já a interpretação musical vai de- pender de quem lê e de quem executa a música. Ao pensarmos em atividades rítmicas, geralmente, nos vem à mente a música, que pode estimular e desenvolver o ritmo. No entanto, além da música podemos trabalhar o ritmo fazendo som com outros obje- tos, com a voz e até com o próprio corpo, que pode se transformar em percussão corporal. Existem diversos canais no YouTube que tratam de teoria musical. Reco- mendamos a você que assista ao vídeo Como descobrir o tempo de uma música, do canal TV Cifras, para melhor compreen- der o tempo e compasso. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v= EkF-hkxVy1w&t=2s. Acesso em: 25 mar. 2020. Vídeo Os links a seguir apresen- tam alguns exemplos de atividade para assistir e, depois, fazer em sala de aula, com adultos e com crianças, respeitando os limites de cada faixa etária. O primeiro se trata de um grupo musical brasileiro chamado Barbatuques, que utiliza os sons do próprio corpo para fazerem músi- ca. O outro grupo é o de dança, denominado Stomp, que faz percussão com o corpo e com objetos. Barbatuques – Copa do Mundo 2010 | África do Sul. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=KNNE-UyHhNE. Acesso em: 31 mar. 2020. UAU – STOMP: fevereiro 2018. Dis- ponível em: https://www.youtube. com/watch?v=4jl--vUFS-E. Acesso em: 31 mar. 2020. Dica Você sabia que, nas aulas de Educação Física, uma das maneiras de se trabalhar o ritmo é por meio do reconhecimento e da compreensão do som? Curiosidade https://www.youtube.com/watch?v= EkF-hkxVy1w&t=2s https://www.youtube.com/watch?v= EkF-hkxVy1w&t=2s https://www.youtube.com/watch?v= EkF-hkxVy1w&t=2s https://www.youtube.com/watch?v=KNNE-UyHhNE https://www.youtube.com/watch?v=KNNE-UyHhNE https://www.youtube.com/watch?v=4jl--vUFS-E https://www.youtube.com/watch?v=4jl--vUFS-E 12 Atividades rítmicas e dança 1.1.1 Som O som é uma característica importante para perceber o ritmo e apresenta algumas propriedades (Figura 2): altura, duração, intensida- de e timbre. Al ek sa nd r B ry lia ev /S hu tte rs to ck PROPRIEDADES DO SOM ALTURA Característica do som, que pode ser mais grave ou mais aguda. INTENSIDADE O som pode ser mais forte ou mais fraco. DURAÇÃO Tempo que o som é produzido ou período que o som é estendido. TIMBRE Material no qual o som é produzido. Figura 2 O som e suas propriedades Conforme podemos observar na Figura 2, a altura define se o som pode ser mais grave ou mais agudo. Por exemplo, o som de um sabiá é agudo, já o de um bumbo de bateria, que marca o tempo, é mais grave. A altura nor- malmente está relacionada à frequência de ondas sonoras, assim, quanto maior for a frequência, mais alto (agudo) será o som. Do contrário, quanto mais baixa for a frequência, mais baixo (grave) será o som. Normalmente, o choro do bebê soa mais agudo e faz com que os pais logo atendam, por ser um som mais intenso. Desde o nascimento, a função auditiva do bebê é estimulada por ruídos complexos que são altamente eficazes. “A criança se orienta muito precocemente em função da audição e de um som suficientemente intenso” (LE BOULCH, 1982, p. 46), isso quer dizer que quando dizemos que a criança compreende a voz da mãe e a do pai, significa que ela está descobrindo as diferenças desses sons e significando qual é mais ou menos intenso. Ela pode fran- zir a testa, caso o som seja desagradável, ou rir, se o som for de algo que a agrada. Atividades rítmicas e Educação Física 13 Já a duração está relacionada aos sons longos e curtos, ou seja, ao tempo que o som é produzido ou ao período em que o som é es- tendido. Por exemplo, na música Galopeira 1 , de Chitãozinho e Xororó, podemos observar a quantidade de tempo que a voz segura o som na terceira sílaba (ga-lo-peeeeeeeeeei-ra) – representando um som pro- longado ou longo. Outra propriedade é a intensidade, que define se o som poderá ser mais forte ou mais fraco. Vamos imaginar que a mesma fonte sonora esteja reproduzindo um som. Embora seja o mesmo instrumento, o som pode ser forte, com mais energia, ou fraco, com menos energia. Pense em uma música simples, como “Parabéns pra você”. Agora, cante sozinho. Observe que batemos palmas enquanto cantamos. Essas palmas indicam uma marcação rítmica, mas perceba que em certas par- tes as batemos ou cantamos mais forte do que em outras. A essas síla- bas fortes, ou palmas fortes, chamamos de tempo forte e às sílabas ou batidas fracas chamamos de tempo fraco. Assim, fica fácil identificar o início de um compasso, indicado, normalmente, pelo tempo forte. O timbre, por sua vez, é o meio em que o som é produzido, podendo ser qualquer material, como madeira,metal, corda, plástico, ou nossa própria voz. Os timbres são reconhecidos por meio dos instrumentos utilizados, sejam eles uma flauta e uma guitarra, ou, ainda, uma panela com uma colher. Observe nos QR Codes a seguir o timbre de um violoncelo e de um violino. Qual desses sons é mais grave? Qual é mais agudo? Podemos perceber que o timbre do violino é mais agudo, mais estridente, parece voz de uma criança, mais fina. Já o som do violoncelo é mais grave, parece mais uma voz masculina, mais grossa. Violoncelo Violino Essas quatro propriedades do som servirão de referencial teóri- co para podermos criar atividades relacionadas ao som nas aulas de Educação Física. A seguir, vamos ver um exemplo para trabalhar com os timbres na música. Não esqueça que independentemente de tra- Caso não conheça essa música, você pode acessá-la no link a seguir. Ela é fundamental para a compreensão da propriedade duração.https://www.youtube. com/watch?v=OJXJdKmoAz0 . Acesso em: 23 jun. 2020. 1 https://www.youtube.com/watch?v=OJXJdKmoAz0 https://www.youtube.com/watch?v=OJXJdKmoAz0 14 Atividades rítmicas e dança balhar a mesma atividade é necessário adaptá-la ao desenvolvimento motor dos alunos que irá trabalhar. Imagine uma atividade em que é preciso perceber os sons. Assim, trabalha-se a parte de estímulo auditivo para todas as idades. Você pode levar sons de instrumentos na sala de aula e pedir aos alunos que percebam os diferentes tipos de sons. Para crianças menores, não é necessário usar o conceito timbre, mas é importante trabalhar a escuta. Já para crianças maiores e pré-adolescentes, é possível trabalhar com o conceito timbre. Então, observa-se o som em uma música, em um objeto e na voz dos colegas. Depois disso, é possível pedir a eles que descubram timbres diferentes nos sons ao redor, com objetos, com músicas ou com a voz. Para dificultar ainda mais, coloque uma música e peça a eles que se movimentem só quando ouvirem certo timbre: voz do cantor, guitarra etc. Além dessas propriedades, três elementos da música, descritos a seguir, vão colaborar para as atividades – ritmo, melodia e harmonia. 1.1.2 Música A música é uma estrutura matemática que pode ser repetida de acordo com sua notação (partitura) – pulsação que marca seu ritmo; sem ritmo não existe música, movimento ou vida. A música apresenta três elementos (Figura 3). Ab er t/ Sh ut te rs to ck RITMO MELODIAHARMONIA Tudo o que é trabalhado em sala de aula, com atividades prontas ou criadas, deve ser adaptado de acordo com o desenvolvimento psicomotor dos alunos. Importante Figura 3 Elementos da música Atividades rítmicas e Educação Física 15 Com relação ao ritmo, já conversamos anteriormente. Mas, para ficar claro, o ritmo que falaremos nesta seção se refere especialmente ao da música e está relacionado a uma marcação de tempo regular, que são as notas musicais, isto é, à métrica. A melodia é aquela parte da música que conseguimos cantaro- lar. Quando falamos “música” e lembramos do som, normalmente, esse som é a melodia. Exemplos disso são as músicas “Aquarela”, do Toquinho, “País Tropical”, de Jorge Ben Jor, e “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim 2 . Mesmo que falhe a memória e não seja possível lembrar toda a letra dessas músicas, conseguimos cantarolar a melodia com “lá, lá, lá”, “na na na” ou assobiando. Essa parte da música que cantamos, mesmo sem sabermos a letra da música, é denominada melodia. Mas e as músicas que ninguém canta? Entre as músicas não cantadas, podemos citar a marcha nupcial. Você pode ouvi-la acessando o QR Code ao lado. Perceba que, mesmo que não tenha letra, há uma parte em que conseguimos lembrar e cantarolar. Essa parte é a melodia. Outro exemplo de música não cantada é a do filme Guerra nas Estrelas 3 . Mesmo que seja tocada por uma orquestra, há uma parte da música característica e é essa parte que lembramos de cantar, que se chama melodia! Agora é sua vez! Pense em algumas músicas, com e sem letra, para cantar. As partes que você canta ou cantarola são a melodia. A harmonia é a combinação de acordes, isto é, a combinação de dois ou mais sons ao mesmo tempo. Em outras palavras, “é o estudo de combinações de notas soando simultaneamente (acorde) e de seu encadeamento” (ANDRADE, 1989, p. 254)” ou, ainda, “é a organização material dos sons combinados e simultâneos, ajustados à melodia e ao ritmo” (CAMARGO, 1994, p. 19). Resumidamente, os elementos que compõem uma música são: melodia: uma “letra de música”; ritmo: uma expressão em um período predeterminado; acordes (notas combinadas dos instrumentos): dão vida à música. Para relembrar essas músicas, acesse os links a seguir. TOQUINHO. Aquarela (Acquarel- lo) (Lyric Video). ToquinhoVEVO. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v= cobP9ENT3L0. Acesso em: 31 mar. 2020. JORGE Ben Jor. País Tropical (Áu- dio). Jorge Bem Jor. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=efVH5sMcO1A. Acesso em: 31 mar. 2020. TOM Jobim . Garota de Ipanema. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v= KOQShDfOwuI. Acesso em: 31 mar. 2020. 2 Caso não conheça essa música, você pode acessá-la no link a seguir. MÚSICA tema de suspense – Guerra nas Estrelas (John Williams - The Imperial March). TheMxMusicas. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=3y84VDYZGwI. Acesso em: 31 mar. 2020. 3 https://www.youtube.com/watch?v=cobP9ENT3L0 https://www.youtube.com/watch?v=cobP9ENT3L0 https://www.youtube.com/watch?v=cobP9ENT3L0 https://www.youtube.com/watch?v=efVH5sMcO1A https://www.youtube.com/watch?v=efVH5sMcO1A https://www.youtube.com/watch?v=KOQShDfOwuI https://www.youtube.com/watch?v=KOQShDfOwuI https://www.youtube.com/watch?v=KOQShDfOwuI https://www.youtube.com/watch?v=3y84VDYZGwI https://www.youtube.com/watch?v=3y84VDYZGwI 16 Atividades rítmicas e dança É normal pensarmos que ritmo e música são sinônimos quando, por exemplo, falamos em rock, forró, funk e samba. Não é errado, mas é importante sabermos que são gêneros musicais, e não necessaria- mente ritmo. Este pode existir sem a música; porém, não há música sem o ritmo, que é um de seus elementos obrigatórios. Como assim? Quando batemos palmas ou um tambor, estamos fazendo um rit- mo, marcando um intervalo de tempo regular. Quando fazemos as brincadeiras de copos, 4 batendo nas mãos com a mesa, estamos esti- mulando um ritmo, mas não há música, há um som ordenado. Desse modo, conseguimos compreender que o ritmo nem sempre está relacionado com o som, visto que tudo que é vivo tem seu ritmo. As propriedades do som e os elementos da música são ferramentas úteis para se trabalhar os aspectos psicomotores relacionados ao ritmo. 1.2 Ritmo e movimento Vídeo O ritmo está entrelaçado em nossa vida ao andar, falar, correr, es- crever e pensar. O fenômeno ritmo é uma qualidade da expressividade, e o movimento está intrínseco ao ritmo. Aos profissionais de Educação Física, cabe refletir sobre esses conceitos, visto que eles estão intrínse- cos nas atividades de ginástica, esportes, lutas e danças. Isso porque a existência do movimento está condicionada à existência do corpo, assim como a existência da expressividade está condicionada ao movi- mento corporal, portanto sem movimento corporal não há expressão. Entende-se por movimento do corpo “a resposta que ativa a massa muscular, por uma reação em cadeia que percorre o corpo de um pon- to ao outro” (BRIKMAN, 1989, p. 29). Segundo a autora, essa ação pode ou não gerar um deslocamento visível no espaço, pois os movimentos internos e externos, apesar de estarem interligados, têm visibilidades diferentes. Movimentar o corpo não significa que o movimento seja expressivo, porque para ex- pressar é preciso expor e comunicar os sentimentos e as emoções, como alegria, triste- za, dor, espanto, surpresa etc. Desenvolva uma atividade para trabalhar a marcação rítmica com os sons do corpo e do corpo com objetos. Atividade 1 Para relembrar como essa brincadeirafunciona, acesse o link do vídeo Palavra cantada: como fazer ABC dos copos, do canal Palavra Cantada Oficial. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v= fFo1i8EIS74. Acesso em: 31 mar. 2020. 4 http://www.youtube.com/watch?v=fFo1i8EIS74 http://www.youtube.com/watch?v=fFo1i8EIS74 http://www.youtube.com/watch?v=fFo1i8EIS74 Atividades rítmicas e Educação Física 17 Expressividade ou expressão corporal diz respeito ao resultado de uma emoção, de um sentir, como alegria, tristeza, desprezo, raiva, an- gústia, compaixão, amor, gratidão, entre outros. De acordo com Toledo (2019), o vocábulo expressão corporal surgiu em 1950, quando pessoas ligadas à área da dança começaram a re- jeitar alguns pensamentos vindos da prática do balé, que eram movi- mentos rígidos, codificados e engessados. Para tais profissionais, essa atividade não deixava o corpo se expressar livremente, parecendo um treino técnico de movimento repetitivo sem expressividade, sem comu- nicação e sem sentimento. Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento corporal tornou-se mais livre e questionador. Os profissionais da dança queriam ensinar uma nova linguagem com movimentos mais livres, usando a respiração e o sentimento, porém ninguém sabia como chamar esse novo tipo de movimento. Que tipo de técnica seria esta? Assim, esse movimento passou a ser denominado expressão corporal. A expressão corporal é uma atividade artística que tem primordialmente como base o movimento, o gesto ou a quietude do corpo (TOLEDO, 2019). Para Brikman (1989, p. 23), a expressão corporal surgiu para “res- guardar a alegria e a natural espontaneidade do movimento da crian- ça”, com a finalidade de atribuir um nome diferenciado para os que faziam dança clássica, dança moderna ou ginástica. Para Salzer (1983, p. 19), “expressão é toda emissão consciente ou não de sinais e mensagens”. Isso significa que a mensagem a qual que- remos passar pode ou não ser consciente. É comum dizermos que está tudo bem quando não está, e os mais observadores vão notar esse des- conforto por meio da nossa expressão corporal. Tentamos esconder sentimentos, mas o corpo fala e, para quem nos conhece mais intima- mente, é difícil enganar uma emoção. Percebe-se que a expressão corporal surge como uma inquietação da área da dança, que é utilizada pela Educação Física e por outras áreas para poder trabalhar o corpo, seus movimentos e sentimentos, sem preconceitos historicamente conhecidos como “menina não faz judô”, “dança não é coisa de menino” etc. Patricia Stokoe (1919-1996), bailarina e psicomotricista, foi quem conceituou o movimento como expressão corporal, a linguagem que surgia para o novo pensamento de dança, que deixava o ser humano usar o corpo para transmitir suas ideias e emoções. Leskal/W ikim edia Com m ons Biografia Acesse o Canal Palavra Cantada Oficial, no YouTube. É um canal que apresenta várias ideias de atividades com música e expressão corporal. Vale a pena conhecer! São muitos vídeos disponíveis e muitas boas ideias, então, escolha alguns e divirta-se! Disponível em: https://www. youtube.com/channel/ UCGs6qb1ohFhDzeHbYeJlsAA. Acesso em: 31 mar. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/channel/UCGs6qb1ohFhDzeHbYeJlsAA https://www.youtube.com/channel/UCGs6qb1ohFhDzeHbYeJlsAA https://www.youtube.com/channel/UCGs6qb1ohFhDzeHbYeJlsAA 18 Atividades rítmicas e dança Dança e expressão corporal são duas concepções bastante próximas, considerando que a expressão corporal surgiu da dança, com o intuito de ressignifi- cá-la, bem como os movimentos corporais daquela épo- ca. Por serem termos relacionados e utilizados na Educação Física, cabe compreender o que é dança. Como podemos definir dança? Embora existam várias definições, não é errado dizer que a dança é uma forma de expressar sentimentos, de comunicar uma ideia, de es- timular sentidos e de sentir emoções. Mas, às vezes, parece que essas definições estão incompletas. Perceba que os artistas de teatro (Figura 4) também expressam sentimentos, assim como pintores comunicam uma ideia (Figura 5) e músicos nos emocionam com suas canções (Figura 6), portanto todos estimulam os senti- dos. Desse modo, vamos tentar entender, por meio da concepção de alguns autores, como é possível definir a dança: • “Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a relação do ho- mem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com seus deuses” (GARAUDY, 1980, p. 14). • “Dança é a expressão da harmonia universal em movimento” (NANNI, 2002, p. 1). • “A dança é uma das raras atividades huma- nas em que o homem se encontra total- mente engajado: corpo, espírito e coração” (BEJART 1980 apud GARAUDY, 1980, p. 8). Figura 4 Atores de teatro Jonas Petrovas/ Shut ters toc k RossHelen/Shu tters toc k Figura 5 Pintora Figura 6 Músicos Roman Voloshyn/Sh utter sto ck Atividades rítmicas e Educação Física 19 Para Portinari (1989), a dança é uma linguagem, por isso, não é explicada com palavras e, às vezes, nem é possível fazer essa expli- cação, pois cada um faz sua leitura de acordo com suas identifica- ções e emoções. Observe o quão difícil é definir ou explicar em palavras o que signi- fica dança. Não é por acaso que Martha Graham (1894-1991), bailarina alemã, afirmava que a dança era uma linguagem da alma, difícil de ser explicada. Considerando que os profissionais de licenciatura em Educação Fí- sica obrigatoriamente vão trabalhar com crianças de várias idades, de- vemos entender que é necessário não só conhecer o universo lúdico, mas também o universo artístico, que trabalha com a criatividade, a imaginação, as emoções e os sentimentos. Essas são áreas totalmente relacionadas entre si e que estimulam a expressão e a criatividade e, por isso, devem ser trabalhadas em constante parceria. Discorra sobre alguma(s) possibilidade(s) para introduzir o conceito de dança nas aulas de educação física. Atividade 2 1.3 Dança na escola Vídeo A dança na escola, muitas vezes, é um tabu para os profissionais de Educação Física. Por não terem tido experiência com a área da dança na graduação, muitos não se sentem aptos a trabalhar esses temas. Claro que não é possível experimentar tudo quando esta- mos na graduação. Imagine se um profissional de Educação Física precisasse ter experiência com todos os esportes de todos os tipos, incluindo os não convencionais, como beisebol, rugby, entre outros. Por esse motivo, uma das ferramentas fundamentais para se traba- lhar a dança na escola é a criatividade. É preciso estimular a criatividade nas atividades de Educação Física. As atividades lúdicas que estimulam o desenvolvimento motor e a expressividade podem e devem ser utilizadas nas aulas de Educação Física tanto para crianças e adolescentes quanto para profissionais da área – os adultos que podem apresentar timidez, vergonha ou algum bloqueio relacionado ao movimento e à expressividade. Oech (1988) e Trigo (1999), ao tratarem dos blo- queios mentais, afirmam que há dificuldade em desen- volver a criatividade, assim como a experimentação corpórea de atividades lúdicas. Isso ocorre porque ge- ralmente temos uma postura que bloqueia nosso pen- De que forma o profissional de Educação Física pode estimular o ritmo nas diversas idades do desenvolvimento motor? Atividade 3 20 Atividades rítmicas e dança samento e nos faz continuar pensando sempre as mesmas coisas. Esses bloqueios “representam entraves quando queremos ser criativos” (OECH, 1988, p. 20). Imagine que você tenha criado uma atividade de “espelho”. Nessa ati- vidade, os alunos, em duplas, devem se colocar um na frente do outro e fazer movimentos que expressem uma emoção enquanto determinada música estiver tocando. Eles podem fazer apenas expressões faciais (ca- retas), que são as mais fáceis para começar. É preciso prestar atenção ao som, portanto, todos devem fazer silêncio e se concentrar na atividade. Quando a música parar de tocar, todos param nafrente do espelho e se- guram o movimento. Ao comando do professor, os alunos que são o es- pelho devem adivinhar qual a expressão que sua dupla quis comunicar: alegria, raiva, medo etc. O próximo comando do professor é para que tro- quem de espelho, isto é, de dupla, e comecem a se mover no novo espe- lho quando a música tocar. Para ajudar na expressão corporal, a música ou os sons, por exemplo, podem ser de natureza, de terror ou de alegria. A questão é: você se sentiria confortável ao fazer essa brincadeira na sala de aula com seus colegas de graduação? Caso não, quais mo- tivos poderiam ser impeditivos de você participar? Que tipos de blo- queios mentais você iria enfrentar? Primeiramente, é importante observar os detalhes dessa atividade. Relacionamos o estímulo sonoro às expressões corporais. Então, o que foi proposto é uma reflexão da sua participação nessa atividade. Com a sua verdade e seus valores, você se sentiria confortável em se movi- mentar livremente, sentir a música e deixar o corpo se expressar? Se fosse uma atividade circense ou de ginástica, você se comportaria da mesma maneira? Ou só porque é próximo da dança você iria “torcer o nariz”? É possível que pense que teria vergonha ou ficaria retraído ao ter que se expressar. Isso não é errado: não há resposta correta ou in- correta nessa atividade. É importante que você perceba o quanto pode- ria se permitir, mas não o faz por algum bloqueio. Seus alunos podem ter a mesma vergonha, ter medo de preconceito ou outro fator impedi- tivo. Reflita sobre isso e tente se permitir da próxima vez. Ao passar por esse processo, será mais fácil compreender seus alunos e ajudá-los, quando necessário. Trigo (1999) aborda os bloqueios mentais por meio de três aspectos, descritos no quadro a seguir. Billy Elliot é um garoto de 11 anos que vive em uma cidade pequena da Inglaterra. Seu pai o obriga a treinar boxe, mas Billy é apaixonado por balé – dança. Mesmo com tantos obstáculos, Billy usa seu talento para se expressar por meio da arte da dança. Filme: Billy Elliot, 1999. Inglaterra. Filme Atividades rítmicas e Educação Física 21 Aqueles que nos cegam quando estamos em uma emergência. Eles são res- ponsáveis por paralisar o uso de todos os nossos sentidos e, com isso, somos impossibilitados de observar a real situação e de resolver o problema. Percepção Aqueles mais difíceis de eliminar, uma vez que são as referências externas que recebemos da sociedade e do ambiente para moldar nosso ser. Os lugares onde somos educados, como casa, escola e igreja, formam nossos valores éticos e morais. Às vezes, esses valores podem nos impedir de trabalhar com a imagina- ção, com a expressividade corporal, com a fantasia e com os movimentos livres. Cultural Determinados pelas tensões da vida cotidiana e estão dentro do ser humano. A insegurança, a vergonha e a falta de autoestima podem ser consideradas como a raiz da maioria desses entraves emocionais. Emocional Quadro 1 Tipos de bloqueios mentais Fonte: Elaborado pela autora com base em Trigo, 1999. Oech (1988, p. 22) sugere uma solução ao propor que devemos “de- saprender o que já sabemos”, isto é, esquecer por um tempo aquilo que se encontra cristalizado no cérebro como uma resposta pronta. A criatividade é entendida como uma habilidade que pode ser trabalhada e treinada, assim como o ritmo. Para tanto, é preciso desaprender ou se desprender dos velhos hábitos para dar lugar a novas experiências e, com isso, obter respostas diferentes da- quelas “enraizadas” em nosso cérebro. Torre (2005, p. 12) destaca que “na criatividade não basta saber ou saber fazer; é necessário sentir, emocionar-se, entusiasmar-se. É transformar-se e modificar o meio, é deixar sua marca nos outros’’. De acordo com Trigo (1999, p. 113), uma pessoa que deixa de se mover livre e criativamente, perde a possibilidade de enfrentar novos desafios e de vivenciar situações com uma atitude aberta, livre de blo- queios mentais. Sendo assim, “para enfrentar novos conhecimentos e experiências de qualquer outro campo do saber e fazer humano”, Vamos desenvolver nossa cria- tividade. Imagine uma lata de refrigerante vazia. Agora, pense no máximo de possibilidades de uso com essa lata. Registre suas ideias. Atividade 4 22 Atividades rítmicas e dança é preciso refletir sobre os saberes corpóreos e compreender que os sentidos estão presentes em qualquer ação humana. Lembre-se de que “pela linguagem do corpo você diz muitas coisas aos outros. [...] o nosso corpo é antes de tudo um centro de informa- ções para nós mesmos” (WEIL; TOMPAKOW, 1986, p. 7). Desse modo, podemos entender que a criatividade, como ferra- menta de trabalho, serve para quebrar tabus, incluindo o trabalho com as atividades de dança na escola. Assim, fica mais fácil trabalhar os ele- mentos do som, da música, bem como o ritmo, a escuta e tantos outros aspectos motores e expressivos necessários à interação humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS O que aprendemos neste capítulo? Por mais que tenham informações separadas por seções, é importante compreender que todas elas estão interligadas. Os temas aqui abordados são todos relacionados: o ritmo (um aspecto psicomotor), o movimento expressivo e a criatividade. As atividades rítmicas precisam trabalhar não só aspectos motores, mas expressivos, lúdicos e criativos. Quanto mais conseguirmos rela- cionar esses temas, mais estímulos conseguiremos envolver em uma atividade. Devemos estar atentos para deixar os alunos seguros e con- fortáveis para que eles possam participar das atividades. Tanto os alunos quanto os profissionais da área de Educação Física devem se permitir experimentar situações lúdico-criativas-corpóreas. O fato, porém, implica o sujeito estar atento a todos os seus aspectos sócio-afetivos-cognitivos-motores, para que seja possível experi- mentar uma consciência dinâmica do próprio corpo no processo lúdico-criativo-expressivo. Ao estimular a criatividade, a expressão corporal e os aspectos psi- comotores, pretendemos trabalhar o resgate à autoconfiança, a reflexão sobre o autoconhecimento e o ganho de autonomia para a vida e para as relações interpessoais. REFERÊNCIAS ANDRADE, M. de. Dicionário musical brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989. BRIKMAN, L. A Linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989. CAMARGO, M. L. M. de. Música/Movimento: um universo em duas dimensões. Belo Horizonte: Villa Rica, 1994. Atividades rítmicas e Educação Física 23 GARAUDY, R. Dançar a vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento até os 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. LE BOULCH, J. Rumo a uma Ciência do Movimento Humano. Porto Alegre, Artes Médicas, 1987. NANNI, D. Dança Educação: princípios, métodos e técnicas. Rio de Janeiro: Sprint, 2002. OECH, R. Um toc na cuca: técnicas para quem quer ter mais criatividade na vida. São Paulo: Livraria Cultura, 1988. PICCOLO, V. L. N. Uma análise fenomenológica da percepção do ritmo na criança em movimento. Campinas ,1993. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação Física, Unicamp. PORTINARI, M. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. SALZER, J. A expressão corporal. São Paulo: Difel, 1983. SBORQUIA, S. P. As manifestações rítmicas e expressivas: sentidos e significados na Educação Física. In: EHRENBERG, M. C; FERNANDES, R. C.; BRATIFISCHE, S. A. Dança e Educação Física: diálogos possíveis. Várzea Paulista: Fontoura, 2014. TOLEDO, S. Expressão corporal: uma abordagem psicomotora. Associação Brasileira de Psicomotricidade, 27 mar. 2019. Disponível em: https://psicomotricidade.com.br/ expressao-corporal-uma-abordagem-psicomotora/. Acesso em: 31 mar. 2020. TORRE, S. Dialogando com a criatividade. São Paulo: Madras, 2005. TRIGO, E. Creatividad y motricidad. Barcelona: INDE, 1999. WEIL, P.; TOMPAKOW, R. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1986. GABARITO 1. A marcaçãorítmica é a métrica, ou seja, uma cadência, como de um relógio ou um metrônomo. Você pode iniciar a atividade marcando um ritmo, os alunos vão acompa- nhar com sons do corpo, imitando. Para dificultar a atividade aos poucos, você pode pedir para que os alunos continuem a marcação mantendo o ritmo. Posteriormente, os alunos podem continuar a atividade, alternando entre sons do corpo e sons de objetos. O objetivo é não sair da marcação rítmica, como se fossem a bateria de uma banda. Escutar os sons é de extrema importância neste momento. 2. Primeiramente, é importante conversar com os alunos sobre dança: o que eles já vi- ram e o que eles compreendem sobre esse assunto. Fazer uma roda de conversa e entender o questionamento dos alunos é uma das maneiras de começar a introduzir essa temática e abordar o respeito às diferenças de gostos, de ideias e de preconcei- tos. Outra forma é mostrar exemplos de danças aos alunos, conversar sobre os estilos e perceber quais são mais ou menos interessantes e porquê. Pode ser uma atividade escrita ou falada, em grupo ou individual. Cabe entender a demanda da turma que irá aplicar a atividade. 3. Para que seja possível desenvolver atividades lúdicas e criativas com o objetivo de desenvolver o ritmo, é preciso, em primeiro lugar, ter em mente todo o processo de desenvolvimento motor e estímulo psicomotor de acordo com a idade do aluno. Se a atividade não for relacionada a essas áreas da psicomotricidade e do desenvolvimen- to motor, não será possível começar a desenvolvê-la. Por exemplo, crianças na idade pré-escolar podem fazer atividades como cirandas com acompanhamento de canto. O professor dá a mão ao grupo de crianças, unidos em uma roda, cantando uma mú- 24 Atividades rítmicas e dança sica, e todos se sentem acolhidos nessa ciranda. Os mais espontâneos levam os mais tímidos e os mais tímidos regulam a ansiedade do grupo. A relação corporal ocorre à medida que fazem a atividade com as mãos dadas, transmitindo segurança e união ao grupo. Associar o canto faz com que a criança consiga sentir o ritmo não só com a voz, mas com todo o corpo. O objetivo não é dar ideia de atividade, mas refletir sobre a importância de estímulos psicomotores de acordo com a idade do público-alvo. 4. Mais uma vez, não há certo e errado. Contudo, alguns pontos podem facilitar sua avaliação para esse exercício. Quantas ideias você conseguiu registrar? A capaci- dade em gerar muitas ideias é um dos fatores que ajudam no desenvolvimento da criatividade. Quantas dessas ideias você pode colocar em categorias? Por exemplo: um porta-trecos, um alvo e uma lâmpada. Isso significa quantos tipos de uso você pensou. Você conseguiu acrescentar detalhes a essa lata para transformar esse ob- jeto? Exemplo: colar em outra lata, pintar, amassar, acrescentar adereços ou outros materiais. E, por fim, você conseguiu pensar em alguma ideia incomum, algo que pouca gente pensaria? Se não conseguiu responder a essas perguntas, volte nesse exercício quando se sentir à vontade. Mais uma vez, permita-se imaginar, fantasiar e estimular sua criatividade. Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 25 2 Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? Neste capítulo, vamos conhecer brevemente o contexto histórico-cultural das danças. Iniciamos conhecendo a história da dança desde as antigas civilizações, nas quais a humanidade se movimentava de acordo com suas necessidades. Depois vamos conhecer as danças de corte, aquelas de nobres em castelos que aparecem em filmes, e que consistiam em uma manifestação de status. Por fim, vamos conhecer as danças trazi- das da Europa – pelos portugueses – para o Brasil. 2.1 Danças das antigas civilizações Vídeo As civilizações mais antigas, desde a pré-história, não guardam muitos registros de imagens da humanidade, possivelmente porque não tinham preocupação em registrar seus feitos. Além disso, antro- pólogos e outros profissionais podem não ter encontrado marcas de antigas civilizações devido à depredação natural e humana ocorrida ao longo dos anos. Desse modo, registros de movimentos podem ser considerados raros. Devido a ausência de registros, a história da dança nas antigas civi- lizações se confunde um pouco com as histórias da Educação Física e do movimento humano, uma vez que ambas estudam o corpo, o movi- mento humano e a relação do corpo em movimento com seu contexto sócio-histórico. Um salto ou uma corrida, por exemplo, são imagens estáticas e po- dem ser interpretadas de várias maneiras, como caçando, competindo, dançando, celebrando, brigando, pulando etc. Então, vemos represen- tações de ações e gestos mostrando o movimento do homem, sem ter a certeza de suas ações intencionais, por exemplo, um homem com um 26 Atividades rítmicas e dança arco na mão poderia estar caçando ou brincando de competir com ou- tro homem. Por que não? Nos referimos aqui a aproximadamente 12000 anos a.C., quando algumas imagens foram encon- tradas. Uma das imagens mais disseminadas em cursos de artes, como reconhecimento de que o homem viveu ali, é a de um bisão vermelho, da ca- verna de Altamira, na Espanha (Figura 1). A linguagem por meio do gesto é a forma de co- municação mais antiga do ser humano. Vamos ima- ginar a seguinte situação: você foi contemplado com uma viagem internacional em uma promoção que participou. Só que essa viagem é para um país ao qual quase ninguém vai e a língua é muito estranha para você aprender até o dia de embarcar. Você pode levar um acompanhante, o que não ajuda mui- to, pois normalmente levamos alguém de quem gostamos e não um intérprete da língua, não é mesmo? Bom, nesse caso são duas pessoas em um país distante, sem a possibilidade de utilização de tradução si- multânea em algum aplicativo. Pronto! Em minutos vocês constatam que são analfabetos e precisam se comunicar para comer, para se hos- pedar no hotel que está reservado em seus nomes, para se deslocar do aeroporto ao hotel, enfim, para todas as necessidades que são simples para nós. O que fazer? Podemos mostrar imagens no celular. Mas, nor- malmente sentimos a necessidade de fazer gestos junto com nossa ex- plicação. Praticamente viramos artistas em mímica para que possam nos entender. A mímica é usada quando achamos que alguém não nos entende bem por meio da linguagem falada. Por isso, a linguagem ges- tual é tão importante. Desse modo, podemos entender que a dança, na condição de linguagem gestual e mimética (imitativa), é uma manifestação que deve ser estudada para a compreensão do ser humano. Ela surge da necessidade de comunicar uma emoção e expressar sentimentos tanto dos homens quanto dos animais. Algumas danças são encon- tradas na natureza, como a disputa por um par ou para o acasala- mento, entre outras necessidades. Vamos conhecer, desse modo, um pouco do histórico das danças ocidentais e das danças orientais. Ra m ee ss os /W ik im ed ia C om m on s Figura 1 Bisão vermelho, Caverna de Altamira Em 1985, a Caverna de Altamira foi considerada Patrimônio da Humanidade. No ano de 2008 foran incluídas mais 17 cavernas nesse patrimônio e o denominaram Caverna de Altamira e arte rupestre paleolítica do norte da Espanha. Observe pequenos movimentos que você faz e palavras que você fala. Como você associa esta linguagem (na fala, no gesto, no movimento) à sua cultura, seu ambiente? Atividade 1 Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 27 2.1.1 Danças ocidentais A forma mais antiga de dança é o círculo, que nos primórdios era sem contato e, posteriormente, com contato. As danças poderiam ocorrer por meio de círculos únicos ou de vários círculos concêntricos (Figura 2). Sh i Y al i/S hu tte rs to ck Normalmente, o objeto que estava no centro do círculo, como o fogo, era o objeto que o homem queria dominar ou se apossar. Figura 2 Dança em círculo Desde seus primórdios, a forma do círculo dava ideia de proteger e unir todos aqueles que participassem da roda. Além disso, valelembrar que as danças de roda são brincadas até hoje na escola, por exemplo, as cirandas cantadas. Havia vários tipos de danças nas antigas civilizações. Vamos obser- var algumas delas, de acordo com Caminada (1999): • Danças da fertilidade ou da fecundidade: imitavam elementos da natureza, como trovões, raios e ventos, para que os alimen- tos pudessem se desenvolver e o ser humano pudesse colher seu sustento. Associadas às mulheres, as danças da fertilidade e da fecundidade se desenvolveram mais quando as culturas se tornaram essencialmente agrícolas e os homens trabalhavam no campo. Assim, as mulheres começaram a dançar não só du- rante as colheitas, mas na semeadura, nas mudanças climáticas e naturais, pedindo aos deuses fertilidade nas plantações. • Danças de armas miméticas: dançada por homens, represen- tava a vitória de uma luta. Com essa dança os homens imagina- concêntrico: da geometria, significa o mesmo centro, assim é possível encontrar círculos meno- res dentro de um círculo maior. Glossário 28 Atividades rítmicas e dança vam vencer as batalhas, por isso eram feitas antes delas. A pírrica, uma dança grega, é um exemplo de dança de armas miméticas que fazia parte da formação dos soldados. • Danças de habilidades: dançada por homens e considerada uma parte das danças de armas ou guerreiras. Os homens tinham que mostrar destreza em atacar e defender e mostrar sua capacidade em ferir e evitar ser ferido. • Danças solares: estão na categoria das danças astrais e podiam ser solares ou lunares. As danças astrais representavam o de- senvolvimento da vida com base no movimento do Sol e da Lua. Somente os homens participavam das danças solares. • Danças medicinais: danças xamânicas 1 utilizadas por várias tri- bos indígenas, inclusive no Brasil. Um dançarino homem fica ao centro do círculo e em estado de êxtase faz com que ele próprio e sua comunidade sintam-se bem, fortes, saudáveis e poderosos, como se fosse um milagre. Nas antigas civilizações existiam muito mais danças masculinas do que femininas. Acabamos de ver que as danças de armas, me- dicinais, solares e de habilidades só podiam ser executadas pelos homens. Além desses exemplos, existiam outros tipos de danças: as danças de caça e a de animais também eram feitas somente pelos homens, os quais dançavam para se defender da caça e para feste- jar a caçada. As mulheres eram proibidas não só de participar das danças masculinas, mas de olhar alguns instrumentos, como flautas e tubas, sob pena de serem punidas. As danças femininas eram baseadas nos conceitos da cultura agríco- la. Nesse caso, se os homens participassem poderiam ser punidos até com a morte. As mulheres dançavam para celebrar partos e núpcias, atrair a chuva, aumentar a colheita e em danças lunares. Todas as dan- ças referentes à fertilidade eram responsabilidade das mulheres: as danças sexuais que se referiam à procriação da espécie e as danças que festejavam e agradeciam as semeaduras e colheitas. “O xamanismo é um conjunto de rituais muito antigos, como dan- ças e músicas que atravessam séculos [...]” (VIANA, 2017). 1 As danças da pré-história, embora com poucos registros, tratavam especialmente de cultuar os deuses, a natureza e o sagrado. Esses rituais eram compostos não só de dança, mas música ou algum tipo de som e teatro com imitações e dramatizações. Uma civilização que soube celebrar a vida por meio da dança foi a grega. Os motivos dançados eram inúmeros: cerimônias cívicas, ritos religiosos, educação das crianças, treinamento militar, enfim, a dança é encontrada em várias ocasiões na civilização grega. Ainda, muitas danças gregas cultuavam seus deuses. Exemplos são a gimnopédia e a hiporchemata, que cultuavam Apolo, e a corybanthiaque, que era dedicada a Zeus. A dança mais antiga dessa civilização é o culto a Dionísio (Figura 3), deus que representa a vegetação da primavera, ou seja, a fertilidade e a fecundidade, e aparece como um deus do entusiasmo, da embriaguez, tanto no sentido material quanto espiritual (BOURCIER, 1987). Na Grécia, as danças guerreiras eram obrigatórias na educação dos jovens. A pírrica, por exemplo, era obrigatória na educação espartana e tinha função guerreira e religiosa; as crianças a aprendiam desde cedo (BOURCIER, 1987). Os gregos tinham a preocupação de educar os jo- vens por meio do corpo e do espírito, dando valor às danças que faziam parte de sua cultura. Outras danças que faziam parte da cultura grega eram as danças funerárias e as que celebravam nascimentos, núpcias, festas religiosas, celebrações cívicas e danças de banquetes. Tratamos até agora somente das danças do Ocidente. Mas, você conhece o histórico das danças do Oriente? Sabia que essas danças são bem diferentes das danças ocidentais? Por quê? Ora, os po- vos orientais têm religiões, valores e cul- turas diferentes dos ocidentais. Ambas as culturas são muito interessantes de se conhecer, respeitar e trabalhar. Figura 3 Dionísio, deus cultuado por meio de danças na Grécia Dionísio é popularmente conhecido como deus do vinho. Gilmanshin/Shutterstock 29Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 30 Atividades rítmicas e dança 2.1.2 Danças orientais As danças do Oriente datam de cerca de 4000 a.C., sendo algumas mais antigas. Vamos conhecer alguns exemplos, começando pela China. Os registros de dança na China datam de 2205 a 1766 a.C. (CAMINADA, 1999) e as danças eram feitas com uso de máscaras e trajes coloridos. Os chineses dançavam para louvar os deuses, festejar as colheitas ou invocar a natureza. Alguns objetos cerâmicos desse período represen- tavam homens dançando, como um dançarino e um dragão frente a frente. Até hoje podemos ver a representação da dança do dragão, no ano novo chinês. O dragão representava a figura do imperador, o so- brenatural, o poderoso e o sagrado (Figura 4). Figura 4 Dança do dragão no ano novo chinês Pa ul o Gu er et a/ W ik im éd ia C om m on s Essa dança transformou-se em um espetáculo visto pelo mundo todo. Outro exemplo de dança é a indiana, uma arte muito antiga e cheia de significados. A dança indiana denominada bharatanatyam é feita para cultuar Shiva, um dos deuses do hinduísmo, também conhecido como o senhor da dança. Essa dança tem muitos movimentos e seu trei- namento faz parte da orientação da personalidade do indivíduo – de caráter e de alimentação. Os movimentos das danças indianas são pe- culiares, pois são bem diferentes das danças ocidentais. Há movimen- tos para os olhos, para ponta dos dedos das mãos, para os punhos, para os pés, além dos desenhos nas extremidades do corpo (mãos, ca- beça, pés) que ajudam a significar os movimentos indianos (Figura 5). Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 31 Observe que tanto as culturas da China quanto a da Índia, diferentes entre si, dançam para cultuar seus deuses. No Egito não foi diferente. O Egito é rico em registros gráficos e, por isso, é bem mais fácil co- nhecer as suas danças por meio de imagens. São inúmeros desenhos em paredes e muitos objetos que eram deixados nos túmulos dos faraós. Além dos objetos, deixaram muita coisa escrita, os chamados hieróglifos. Há pesquisadores que até hoje estudam os egípcios por meio do que encontram nas pirâmides para conhecer e compreender essa cultura tão rica em registros. Diferente do que estudamos até agora, as danças egípcias em sua maioria eram confiadas às mulheres e não aos homens. “Os egípcios atribuíam a criação da dança a deuses associados a ritos de fertilidade [...]” (CAMINADA, 1999, p. 43), provavelmente há 5000 anos a.C. A intenção dos egípcios ao registrar uma dança era a de poder repe- tir um ritual sagrado. A cerimônia que registraram foram as danças e as músicas do culto a Osíris, filho da terra e do céu, deus responsável pela vegetação. Por esse motivo, esse ritual, com dança e canto, era cele- brado antes da cheia do rio Nilo. Com o registro, as próximas gerações poderiam repetir essacelebração a Osíris toda vez antes de a cheia do rio para reverenciar o sagrado. A cultura egípcia também tinha danças acrobáticas, bem próximas as danças de habilidades, porém feitas por mulheres. As danças acro- báticas também tinham funções religiosas e mágicas, contudo, a partir de 1400 a.C., os rituais começaram a ter outras finalidades além da- quelas ritualísticas. Com o tempo as danças foram perdendo o caráter sagrado e as danças acrobáticas começaram a ter movimentos mais rá- pidos, espetaculares, tornando-a mais rica na quantidade e qualidade de destreza dos bailarinos. Assim, começa a surgir mais profissionais de dança e mais apresentações de dança e de música nas ruas. Isso quer dizer que as danças acrobáticas começaram a se tornar entrete- nimento, como um espetáculo. Desse modo, dá-se o crédito à cultura egípcia de ser pioneira na dança como espetáculo. As celebrações, os rituais e as danças são componentes ricos para compreendermos e respeitarmos a nossa história. Além disso, é uma ideia para se trabalhar tanto com crianças quanto com adultos e fazer atividades lúdicas por meio do teatro, de gestos, de movimentos, de cores, de objetos, de elementos musicais e de tantas opções quanto a sua criatividade quiser. Você sabia que os egípcios são considerados os pioneiros no registro de dança? Curiosidade 32 Atividades rítmicas e dança É importante perceber que a maioria das manifestações de dança que vimos nessa seção tem origem na celebração dos deuses, dos as- tros, da natureza e das forças que o homem queria dominar. Tanto no ocidente quanto no oriente conseguimos perceber semelhanças nas manifestações de danças sagradas. Até hoje vemos danças dentro e fora de templos sagrados. As danças circulares, por exemplo, tornaram-se atualmente uma forma de ajudar o ser humano a se conectar com a sua natureza e a natureza do ambiente, uma forma de terapia. Em outras palavras, estamos em constante reto- mada da nossa essência e a dança é uma forma de fazer isso. 2.2 Danças da Idade Média ao Romantismo Vídeo As danças na Idade Média, entre os séculos V e XIV, foram controla- das pelo cristianismo que se difundia na Europa. Assim, a Igreja tentou obter o controle das manifestações dançadas e proibiu várias danças, especialmente as que tinham movimentos sensuais. Porém, os teatros de rua não pararam de ter seus números de dança, fato que deixou a arte do teatro, da dança e da música mais vivas e mais popularizadas. No fim da Idade Média, as danças macabras marcaram as represen- tações artísticas. Nessa dança, as representações faziam referência à morte, à insignificância da vida terrena, das coisas materiais. Uma das explicações para esse tipo de dança refere-se à Peste Negra 2 . Nesse contexto macabro, rígido e controlado pela Igreja, surge o Re- nascimento – movimento cultural, político e econômico que se consoli- da no século XV para negar os valores da Idade Média, em que a Igreja e Deus guiavam o homem, seus atos e pensamentos. A base filosófica do Renascimento é o antropocentrismo. Durante o Renascimento, a visão de mundo é alterada e ocorrem algumas mudanças: as cidades se desenvolvem, as navegações expan- dem, o trabalho escravo começa a ser assalariado e a individualidade passa a ser valorizada, ao invés da coletividade. As danças não eram privilégio da aristocracia, pois nobres e plebeus tinham o mesmo costume. A diferença estava no estilo das danças, de- vido ao estilo de vida de cada um: os nobres tinham roupas com bas- tante volume, várias camadas de vestimenta, sapatos com salto, o que Acesse o site da Unesco e observe que há fotos do patrimônio histórico mun- dial com algumas imagens mais antigas do que a hu- manidade tem registro. É interessante conhecê-las para entendermos nossa própria história. Disponível em: http://whc.unesco. org/en/list/1426/gallery/. Acesso em: 16 abr. 2020. Site A Peste Negra foi uma pandemia que ocorreu no mundo durante os anos 1300 e acometeu toda a população, dizimando aproxima- damente um terço do continente europeu. 2 Antropocentrismo: do grego, anthropos = humano e kentron = centro, ou seja, o ho- mem como centro do universo. Glossário http://whc.unesco.org/en/list/1426/gallery/ http://whc.unesco.org/en/list/1426/gallery/ Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 33 dificultava alguns tipos de movimentos. Já os plebeus trabalhavam na agricultura, no comércio e em outros serviços, portanto tinham que usar roupas mais confortáveis para facilitar os movimentos. Um carpin- teiro, por exemplo, não poderia ter uma roupa com muitos babados ou usar calças bufantes, pois poderia dificultar seu trabalho e até rasgar um pedaço da sua roupa. Assim: as danças populares vinham do povo e as danças de corte eram as danças populares adaptadas para o contexto da corte. Por isso, as danças dos nobres eram mais lentas, com movimentos pequenos e delicados. Já as danças dos plebeus eram mais rápidas, apresentavam mais movimentos de pernas e pés, com pequenos saltos. Os mestres de dança da corte aprenderam a adaptar as danças do povo para ensinar os nobres. Como os nobres sempre queriam participar dos festejos e das encenações, os passos tinham que ser adaptados para eles e cabia aos mestres de dança ficar com as partes que exigiam mais habilidade. Desse modo, os primeiros balés de corte tinham mais no- bres do que mestres de dança, afinal, os nobres eram mais importantes e competia a eles mostrar suas habilidades e seu status para a corte. Com o tempo, os artistas, não só os mestres de dança, começaram a reivindicar seu valor (status) junto àqueles que eram requisitados e consagrados na corte, como os filósofos e os poetas. Lourenço de Médici (1449-1492) – que governou Florença – foi co- nhecido por desenvolver a cultura, a economia e as ciências na Itália. Também foi responsável por lançar a moda dos trionfi (triunfo – um tipo de dança) e fazer festas que duravam dias. Esses triunfos eram dançados na Grécia para evocar a glória do Olimpo (PORTINARI, 1989). O balé remonta as celebrações gregas, mas não foi criado na Grécia. Então, onde ele foi criado? Na Itália! Isso mesmo. Com a moda criada por Lourenço de Médici, por meio de seus triunfos durante as festas. Ele foi o respon- sável por fazer surgir a figura dos mestres de dança devido às ce- lebrações que viraram verdadeiros espetáculos, como casamentos e vitórias militares. Os mestres de dança começaram a escrever os passos para registrar como eram feitos os movimentos. O primeiro 34 Atividades rítmicas e dança tratado de dança que se tem registro foi escrito na primeira metade do século XV, por Domenico da Piacenza 3 . Isso significa que a arte do balé que conhecemos hoje começa a tomar forma por meio des- ses documentos escritos. Os espetáculos das cortes renascentistas também foram descritos em um tratado chamado Libro sull´Arte del Danzare (Livro sobre a Arte da Dança), de Antonio Cornazzaro, em 1455. Cornazaro deu o nome dos espetáculos renascentistas de balletos. Nesse livro, ele descreve as dife- renças entre as danças populares e as danças aristocráticas, sendo essa distinta da primeira por ter enredos criados para os espetáculos. Por mais que já tenhamos visto que a origem do balé é italiana e que vários tratados foram escritos por mestres de dança italianos, os passos do balé são escritos em francês e por isso algumas pessoas acham que o balé veio da França. Bom, então precisamos entender essa história. A bisneta de Lourenço de Médicis, Catarina, casou-se – com qua- torze anos – com o futuro rei da França, Henrique II. Como iria morar na França com seu marido e com a finalidade de sentir-se em casa, levou consigo seus costumes italianos, como o gosto e o respeito pe- las artes. O mestre de dança e empregado de Catarina vai para França e troca seu nome, que era Baldassarino de Belgiojoso, para o idioma francês: Balthasar de Beaujoyeux. Como os franceses não enxerga- vam os italianos com bonsolhos, o mestre de dança consegue empre- go como mordomo na corte francesa. Logo que Catarina de Médicis teve o poder nas mãos conseguiu proteger seu empregado e mestre de dança. Alguns anos depois a aristocrata e seu empregado seriam os responsáveis por criarem o balé de espetáculo. Catarina de Médicis encomendou ao seu mestre de dança Balthasar uma festa de núpcias que seria comemorada na corte francesa. Este espetáculo ficou reconhecido na história da dança como o nascimento do balé de corte, denominado Ballet Comique de la Reine. Por esse motivo, todos os nomes de passos, referentes aos movimentos e posições do corpo no balé, que escutamos hoje em dia são denominados em francês, já que o primeiro espetáculo foi criado na corte francesa. Os nobres que participavam dos espetáculos tinham partes mais simples, com movimentos de fácil execução; as partes mais difíceis, que exigiam habilidades motoras específicas, ficavam a cargo dos mestres de dança. Você pode ter acesso a esse documento, que se encontra na Biblioteca Nacional da França, em domínio público. Disponível em: https:// gallica.bnf.fr/ark:/12148/ btv1b7200356s/f2.image. Acesso em: 16 abr. 2020. 3 https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b7200356s/f2 https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b7200356s/f2 https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b7200356s/f2 Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 35 Os balés de corte eram, antes de tudo, um baile organizado com uma ação dramática, um enredo. Olhem só como algumas coisas de- moram para mudar. Não muito diferente da pré-história, as mulheres não tinham direito de participar dos balés de corte. Todos os papéis eram feitos por homens, mesmo os de mulheres. A participação das mulheres era o direito de estar na plateia e a de participar do baile da corte oferecido após o espetáculo. Os balés de corte tiveram seu apo- geu com Luís XIV. Neste período, os homens ainda predominavam na execução das danças, mesmo sem serem profissionais. Além de entretenimento, as apresentações na corte tinham o objetivo de socializar e incluir homens em um grupo de prestígio. Por isso, a educação dos jovens da elite, tan- to a cultural quanto a artística era valorizada. É a partir do Romantismo que veremos as mulheres tendo papéis mais importantes nas danças e na arte do espetáculo. O que você lembra quando falam em balé? Uma bailarina na ponta do pé, com uma saia espetada ao redor do quadril? Mais bailarinas mulheres do que homens? Sabia que o balé que conhecemos e assisti- mos hoje tem origem no Período Romântico, entre 1830 a 1870, mes- mo que falem em balés desde o Renascimento? Lembra que no Renascimento começaram a escrever tratados de dança e havia regras rígidas da aristocracia não só para a dança, mas para participar da vida social da corte? Os gestos eram coreo- grafados até para cumprimentar o rei. Não é muito diferente do que acontece com a monar- quia da Inglaterra. Observem que a rainha Elizabeth anda até hoje alguns passos à frente do marido. Luís XIV foi o rei da França que teve o reinado mais longo de uma monarquia. Era tão amante das artes que durante seu reinado solicitou a construção do Palácio de Versalhes. Afirmava que a dança era fundamental para a formação do corpo. Em 1661, criou uma Academia Real de Dança para formar artistas da dança e, em 1672, criou a Academia Real de Música e Dança, hoje conhecida como a Ópera de Paris. Deixou para a dança o legado da criação e oficialização de uma companhia de balé, com dez bailarinos e dez bailarinas recebendo salários, em que a dança começou a se profissionalizar. O período da Renascença favoreceu o início do balé e seu desenvolvimento nas cortes europeias em meados do século XVI. A partir dessa época, os salões serviam não só para as festas e os divertimentos da elite, mas principalmente para representar situações políticas e de poder. W ikim édia Com m ons Biografia Artur AidAk/Shutterstock Figura 6 Bailarinos 36 Atividades rítmicas e dança Outro exemplo é a maneira de acenar para as pessoas, um movi- mento característico da realeza inglesa e bastante usual. Essas regras rígidas de andar e se de mover remontam as regras da aristocracia do renascimento. Tanto é que os netos da rainha estão, aos poucos, que- brando essas regras. Vamos voltar de onde paramos, o Romantismo. As pessoas, du- rante esse período condenavam o absolutismo monárquico e a vida privilegiada dos nobres. Havia excesso em quase tudo: as roupas continham plumas, perucas e muitos tecidos; as festas e as cele- brações eram igualmente exageradas e duravam dias; os gestos também eram considerados excessivos, cheios de regras e muito exagerados. O Romantismo surge para reagir contra os códigos vi- gentes desde a Renascença. Algumas características do romantismo que vão aparecer no balé são: • o cultivo das emoções, dos sonhos e da imaginação, através da qual fantasiam mun- dos exóticos; • a exaltação da natureza pelo homem; • a visão de mundo centrada nos sentimentos individuais (individualismo); • a mulher vista como uma virgem frágil (subjetivismo); • a retomada dos ideais da Idade Média, onde as nações foram formadas, e uma ido- latria aos ideais nacionalistas. De acordo com Caminada (1999), dois aspectos se sobressaem no período romântico do balé: o primeiro é a atenção ao tema da natureza. Muitos artistas redescobriram contos medievais, lendas e mitologias de outras nações que exaltavam o sentimento e a bondade natural. O pensamento romântico estava entre o entusiasmo e a depressão; a alegria e a melancolia. O segundo aspecto refere-se à preferência pelo sobrenatural, o espiritual e o irracional. Um exemplo é o primeiro balé considerado romântico da história, denominado La Sylphide. O enredo tratava de um ser alado, uma sí- lfide, que se apaixonava por um ser mortal. É um enredo dramático que acaba pela separação do casal. Os elementos exóticos, a exaltação da natureza, a fragilidade da mulher estão todos dentro da história. Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 37 Ainda é possível observar que, com os avanços científicos, os seres ala- dos conseguiam “voar” no palco por meio de cabos. A ideia de leveza, de voo, de que as bailarinas eram leves e graciosas faz com que surja a sapatilha de ponta 4 , conhecida até hoje com o mesmo nome, porém com a tecnologia bem mais avançada. Cada vez mais, as mulheres foram valorizadas por sua habilidade, graciosidade e perfeição nos movimentos. O pensamento romântico colaborou para essa idolatria e, assim, as mulheres foram conseguindo papéis principais, tornando-se, desde então, um marco para história do balé ter uma bailarina solista e mais habilidosa que os demais compo- nentes do enredo. A história do balé é longa, mas é importante perceber que nenhu- ma dança, gesto, expressão ou habilidade motora está desvinculada do seu contexto cultural, social, político, econômico e histórico. Mas, como tudo isso chega no Brasil? O crédito de primeira bailarina a usar uma sapatilha de ponta é de Marie Taglioni. 4 Pesquise informações que reve- lem o motivo de o balé, dança originalmente executada por homens, ser atualmente mais praticado por mulheres. Atividade 2 2.3 Danças no Brasil Vídeo Como começamos a dançar no Brasil? Como todos os povos des- de a pré-história. Porém, não sabemos muito sobre as manifestações corporais das antigas civilizações em terras brasileiras, a não ser pelos índios que aqui viviam quando chegaram os primeiros colonizadores. O batuque é, talvez, o estilo de dança mais antigo que se tem regis- tro no Brasil. De origem africana (Angola e Congo), essa dança de roda está presente no país desde o século XVIII e era executada pelos es- cravos, com músicos e bailarinos. Ao contrário do que se pode pensar, era uma dança aceita pelos senhores dos escravos por ter inspiração sexual, podendo dela surgir pares de amor e gerar mais escravos (PER- NA, 2005). O termo batuque é sinônimo de batucada,a qual era realizada com a umbigada. A umbigada é um termo que pode se referir à ação de escolher um par durante a dança do batuque. E o batuque africano, segundo Perna (2005), é a raiz do samba, um ritmo dançado ao som de palmas. 38 Atividades rítmicas e dança Antes dessa dança, os índios já dançavam por aqui, no século XVI. Em 1545, os jesuítas, padres que faziam parte de uma ordem religiosa, vieram ao Brasil com a missão de educar os índios 5 . Sua missão era converter os índios, cultural e religiosamente, e catequizar os colonos (CUNHA, 2007). Para que os jesuítas pudessem catequizar os colonos, foi necessário adotar os hábitos dos colonizadores, incluindo o teatro, a música e a dança, ou seja, costumes importados de Portugal que foram se enrai- zando na Colônia. O jesuíta espanhol José de Anchieta (1534-1597) consegue aprovei- tar o gosto dos índios pelas danças, cantos e representações corpo- rais para incutir a moral católica e o respeito aos dogmas eclesiásticos. O auto da Festa de São Lourenço, escrita por Anchieta e encenada em 1587, aborda uma dança executada por 12 meninos cantando em tupi e pedindo proteção a São Lourenço 6 (SUCENA, 1989). A pregação jesuí- tica era uma forma de persuadir índios e colonos a aceitarem a doutri- na cristã por intermédio das representações simbólicas com o teatro, o canto e a dança (SILVA JR; MEDEIROS, 2012). Embora os índios e os colonos tivessem representações dança- das, Portugal foi responsável por trazer as danças de salão que os europeus estavam vivendo no Renascimento. A Corte Portuguesa chegou ao Brasil em 1808 fugindo das tropas napoleônicas e trou- xe consigo seus tesouros, seus representantes militares, religiosos e toda sua classe dominante. As primeiras danças de salão no Brasil tiveram influência espa- nhola, entre os séculos XVII e XVIII, e, por isso, eram sapateadas, como o fandango. Até hoje o fandango é praticado no sul do Brasil como uma dança tradicional. O sapateado fica por conta dos taman- cos que os homens usam e as mulheres usam saias rodadas. Outra influência europeia foi o minueto (de origem francesa), uma dança de ritmo lento em que cavalheiros e damas dançavam quase sem tocar em seus pares, com passos delicados e movimentos gracio- sos. Só para lembrar, as roupas continham várias camadas de tecido e damas e cavalheiros usavam perucas. Após a Revolução Francesa e o domínio inglês sobre a França, al- gumas danças conhecidas, como country dance ou contradanças, Não pense que os índios eram “mal educados”. Eles apenas não eram educados de acordo com os costumes que os estrangeiros tinham aprendido. Para se comunicar precisavam estar todos falando a mesma língua e, de preferência, terem os mesmos costumes. 5 Hoje, a aldeia de São Lourenço é uma parte de Niterói. Este ritual faz parte do desfecho do quinto e último ato do teatro de Anchieta, em que apresenta um jogral com doze crianças cantan- do em tupi. “Elementos cristãos congregam as práticas locais e atendem questões políticas urgentes: torná-los [os índios] católicos pelo amor da cruz, pela força do/de trabalho e pela expansão do Império”. (SILVA JR.; MEDEIROS, 2012, p. 10). 6 Assista ao vídeo Fandango na Ilha do Valadares/ PR, publicado pelo canal Acervo Origens, que mos- tra um pouco da dança e da música do fandango, na Ilha de Valadares, litoral do Paraná, em um documentário produzido em 2010. Vale a pena conhecer! Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=WhHWYcG95mc. Acesso em: 16 abr. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=WhHWYcG95mc. https://www.youtube.com/watch?v=WhHWYcG95mc. Dança no Ocidente: como chegamos até aqui? 39 também influenciaram o ensino de dança na época em que a Corte Portuguesa estava fixada no Rio de Janeiro. As contradanças deram ori- gem as quadrilhas juninas que dançamos nas festas de São João. A quadrilha não era uma dança de pares enlaçados, assim como o minueto, porém tinha movimentos rápidos e vários tipos de passos que eram usados para mostrar as habilidades motoras dos homens; a Corte Imperial dançava em grupos, formando filas de pares. A dança mostrava agilidade, era divertida e contagiante. Hoje em dia é reconhe- cida como dança folclórica para festejar São João. Dá para perceber que herdamos muitas coisas da quadrilha: dança de par, dança que entusiasma muitas pessoas, vários comandos de voz indicando movimentos diferentes, dança ágil e cômica. Quantas vezes você pensou que não sabia dançar, mas durante uma quadrilha resol- veu pegar um par ou alguém te arrastou só para se divertirem um pou- co? Como a coreografia é longa e aquele que comanda indica com a voz cada passo, não é difícil acompanhar, não é mesmo? Aproveite que todos podem dançar, porque até a segunda metade do século XIX a sociedade brasileira ainda era cheia de preconceitos e as aulas de dança eram feitas apenas entre os homens. A primeira escola de danças com moças que se tem referência é de 1877. Cabia às mulheres ajudar o professor nas aulas práticas, sendo elas remune- radas pela assistência. Assim surge uma “profissão” que era mais uma atividade remunerada, chamada madamismo, ou seja, mulheres assis- tentes dos professores de dança. O primeiro mestre de dança de corte que veio ao Brasil ensinar as danças dos salões foi o francês Luís Lacombe. Em 1811, foi nomea- do Compositor e Maestro de Danças da Casa Real e passou a oferecer aulas de dança para “qualquer pessoa civilizada” da sociedade, isto é, especialmente para a elite ou para aqueles que pudessem pagar. A vinda de mestres de dança da corte e de outros imigrantes fez parte da mistura que colaborou no desenvolvimento da nossa música e dança, incluindo a cultura indígena, a negra e a africana. A cultura brasileira é rica em saber misturar a diversidade e formar uma identidade artística. Deve-se muito aos colonizadores portugue- ses não só pela dança de salão, mas pelo desenvolvimento da cultura no nosso país. Assista ao vídeo disponi- bilizado no link a seguir e observe um exemplo de minueto e das roupas e perucas usadas. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=epmG43H 9D98&list=RDIk1b4jH9Rk8&start_ radio=1. Acesso em: 16 abr. 2020. Vídeo Assista aos vídeos a seguir e compare como era a quadrilha nos tem- pos de corte e como é a quadrilha brasileira nos dias atuais. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=xLvt-Tss_mU. Acesso em: 15 abr. 2020. Vídeo Os colonizadores que chegaram ao Brasil trouxeram seus costu- mes e valores. O que isso implica nos movimentos dos índios e colonos que aqui viviam? Atividade 3 https://www.youtube.com/watch?v=epmG43H9D98&list=RDIk1b4jH9Rk8&start_radio=1 https://www.youtube.com/watch?v=epmG43H9D98&list=RDIk1b4jH9Rk8&start_radio=1 https://www.youtube.com/watch?v=epmG43H9D98&list=RDIk1b4jH9Rk8&start_radio=1 https://www.youtube.com/watch?v=epmG43H9D98&list=RDIk1b4jH9Rk8&start_radio=1 https://www.youtube.com/watch?v=xLvt-Tss_mU https://www.youtube.com/watch?v=xLvt-Tss_mU 40 Atividades rítmicas e dança CONSIDERAÇÕES FINAIS A dança existe há muito tempo. Desde a pré-história o movimento era usado para sobrevivência, como o culto a caça. À medida que o homem foi evoluindo, as danças foram modificando seu significado e passaram a comunicar mais ocasiões, como o culto a natureza, aos deuses e aos nascimentos. Desse modo, a dança comunica alguma ideia, portanto, é uma lingua- gem do corpo em movimento. As danças de salão florescem no Renasci- mento e eram denominadas danças de corte. As danças da Europa chegam ao Brasil com a corte Portuguesa; antes disso, os jesuítas já estavam co- lonizando os índios por meio de danças e cantos. Já o balé, como conhe- cemos hoje, começa a ser desenvolvido no Renascimento e difundido no Romantismo. O período Romântico no balé é responsável por construir o estereótipo da bailarina, com roupas mais adequadas para facilitar os movimentos e sapatilhas de ponta para ajudar a ideia de leveza. Podemos afirmar
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