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https://medvideos.tech SEÇÃO III GASTROENTE ROLOGIA 1 – DISTÚRBIOS DO ESÔFAGO Questões Modelo 1 – João tem 60 anos, hoje pesa 80 kg e se queixa de tosse seca e dor em queimação epigástrica há cerca de 5 meses, período em que observou uma perda ponderal de 8 kg. Nega disfagia, odinofagia ou uso de qualquer medicação. Diante da suspeita clínica de doença do refluxo gastroesofágico, seu médico assistente solicitou uma Endoscopia Digestiva Alta (EDA). Com relação a esse caso, assinale a alternativa INCORRETA: a) Esse paciente possui sinal de alarme que indica realização de EDA. b) A visualização, durante a EDA, de um esôfago distal com coloração cor vermelho-salmão já permite o diagnóstico de esôfago de Barrett cuja abordagem completa, além da terapia antissecretora, vai depender da presença e do grau de displasia. c) Embora classicamente o tratamento cirúrgico com fundoplicatura parcial fosse indicado aos pacientes com DRGE e dismotilidade esofagiana, as referências mais recentes sobre o assunto recomendam a fundoplicatura total para todos os pacientes, exceto nos casos de completa aperistalse do esôfago. d) O esôfago de Barrett é uma metaplasia intestinal do esôfago distal, sendo o principal fator de risco para adenocarcinoma esofagiano. R. Letra B. 2 – Com relação aos distúrbios motores e obstrutivos do esôfago, complete com as letras C (CERTA) ou E (ERRADA): ( ) A acalasia tem como distúrbio motor característico uma contração simultânea do corpo esofagiano, o que pode causar uma forte dor retroesternal, sendo um diagnóstico diferencial de coronariopatia. ( ) A acalasia leve pode ser tratada clinicamente com drogas que relaxam o EEI (nitrato e bloqueadores de canal de cálcio); outras estratégias terapêuticas mais invasivas são dilatação pneumática e injeção de toxina botulínica (duração efêmera), usando, em casos refratários, a cirurgia de esofagomiotomia a Heller + fundoplicatura e, em casos de dolicomegaesôfago, pode-se realizar esofagectomia. ( ) A síndrome de Mallory-Weiss é secundária a vômitos de repetição e cursa com enfisema subcutâneo, enfisema de mediastino e hemotórax. ( ) Os principais fatores de risco para carcinoma escamoso de esôfago são: etilismo, tabagismo, tilose palmoplantar e esofagopatias (acalasia, Plummer- Vinson, estenose cáustica). R. E-C-E-C. https://medvideos.tech Antes de começarmos a estudar as doenças do esôfago, vamos abordar um importante sintoma: a disfagia. DISTÚRBIOS MOTORES DO ESÔFAGO OS "MAIS MAIS" DO CÂNCER DE ESÔFAGO DISFAGIA DISFAGIA DE TRANSFERÊNCIA, "orofaríngea" ou "alta" Paciente ENGASGA ao tentar engolir o alimento, podendo haver regurgitação nasal e aspiração traqueal seguida de tosse. Disfagia tanto para alimentos sólidos quanto para líquidos, podendo ser acompanhada por sialorreia nos casos mais graves. Causas: distúrbios do músculo esquelético (musculatura da faringe, esfíncter esofagiano superior e 1/3 superior do esôfago) ou do sistema nervoso: > Causas neurológicas: síndrome de Wallemberg (AVE do bulbo dorsolateral), esclerose múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença de Parkinson; > Causas musculares: miastenia gravis, miopatias inflamatórias idiopáticas (dermatomiosite, polimiosite) miopatias primárias; > Causas mecânicas "altas": obstruções intraluminais (tumores de cabeça e pescoço, abscesso periamigdaliano) e extrínsecas (abscesso retroamigdaliano, compressão vascular, osteófito cervical, bócio). DISFAGIA DE CONDUÇÃO, "esofagiana" ou "baixa" O paciente se sente ENTALADO, com o alimento preso no esôfago. Pode ser observada tanto para sólidos quanto para sólidos e líquidos, pode ser intermitente ou progressiva. > Se for exclusiva para sólidos, a obstrução mecânica do esôfago é a hipótese mais provável, sendo geralmente progressiva. > Se for para sólidos e líquidos, devemos considerar uma obstrução mecânica grave ou um distúrbio motor do esôfago. Principais causas de obstrução mecânica do esôfago: tumores malignos e benignos, estenose péptica, anéis, membranas e divertículos esofagianos, esofagite (alguns casos), obstrução extrínseca. (sem doença orgânica identificável) motores do esôfago: acalasia, espasmo esofagiano difuso, esôfago em quebra- nozes, esclerodermia (acomete 2/3 inferiores do esôfago – músculo liso). *Existe uma situação especial, o divertículo de Zenker. Ele decorre de uma disfunção cricofaríngea. Devido à hipertonia do EES, o paciente pode apresentar uma espécie de disfagia de transferência, ou seja, apresenta ENGASGO. No entanto, como veremos adiante, com a formação do divertículo, pode ocorrer a compressão extrínseca do corpo do esôfago, levando a uma obstrução mecânica extrínseca mais alta. Com isso, o paciente também pode apresentar uma espécie de ENTALO mais alto. Outros achados são halitose, sialorreia, regurgitação de alimentos não digeridos, entre outros. Ainda vamos discutir com mais detalhes o divertículo de Zenker. ACALÁSIA DEFINIÇÃO Distúrbio primário da motilidade do esôfago, caracterizado pela perda de células ganglionares do plexo de Auerbach. A lesão do núcleo dorsal do vago também pode estar relacionada. Na doença de Chagas (acalásia secundária), há lesão do plexo de Auerbach e Meissner. CAUSAS Acalasia = distúrbio idiopático. A e sofagopatia chagásica pode causar quadro idêntico, o tratamento é o mesmo. QUADRO CLÍNICO Geralmente temos a tríade disfagia de condução, regurgitação e perda de peso. https://medvideos.tech ESOFAGOMANOMETRIA (padrão-ouro) (1) Falha de relaxamento do Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) durante a deglutição – PRINCIPAL. (2) Hipertonia do EEI (pode não estar presente). (3) Substituição da peristalse normal do corpo esofagiano por contrações anormais. (4) Peristalse de baixa amplitude, revelando atonia esofagiana. (5) Aumento da pressão intraluminal do corpo esofágico. DIAGNÓSTICO Firmado pela esofagomanometria. > A esofagografia baritada mostra dilatação do corpo do esôfago (megaesôfago) e estreitamento em "chama de vela" ou "bico de pássaro" na topografia do EEI. > Endoscopia Digestiva Alta (EDA): faz diagnóstico diferencial com neoplasia (doenças infiltrativas e neoplásicas podem simular acalasia) e avalia complicações da acalasia (esofagite, estenose...) – fazer sempre! Para diagnosticar doença de Chagas nesta fase, só método sorológico: ELISA (escolha), imunofluorescência indireta, hemoaglutinação indireta. A reação de fixação de complemento (Machado-Guerreiro) está em desuso. CLASSIFICAÇÃO Classificação de Mascarenhas Grau Dilatação I Até 4 cm. II De 4 a 7 cm. III De 7 a 10 cm. IV Maior que 10 cm. Classificação por grupos de Rezende e Moreira Grupo I Esôfago de calibre aparente‐ mente normal ao exame radiológico. Trânsito lento com pequena retenção de contraste. Grupo II Esôfago com pequeno e moderado aumento de calibre. Retenção apreciável de contraste. Observam-se com frequência ondas terciárias associadas ou não à hipertonia do esôfago inferior. Grupo III Esôfago com grande aumento de calibre. Hipotonia do esôfago inferior. Atividade motora reduzida ou inaparente. Grande retenção do meio de contraste. Grupo IV Dolicomega esôfago. Grande retenção, atônico, alongado dobrando-se sobre a cúpula diafragmática. Classificação de Pinotti Incipiente Esôfago sem dilatação com ligeira estase de contraste, alterações manométricas caracterizadas por aperistalse e ondas de deglutição de boa amplitude. Não avançado Esôfago com dilatação de até 7 cm; orientado ao longo de seu eixo longitudinal; com estase considerável; aperistalse; ondas de baixa amplitude e longa duração após a deglutição. Avançado Dilatação acima de 7 cm ou dolicome gaesôfago; estudo manométrico mostrando esôfago atônico ou ondas de contração muito fracas. TRATAMENTO https://medvideos.tech Estágios iniciais* quadro leve a moderado: > Nitratos ou antagonistas do cálcio antes das refeições, sildenafil, toxina botulínica (aplicar no EEI via endoscópica – efeito temporário) e dilatação endoscópica por balão. Estágios avançadoscom sintomatologia grave ou falha da terapia farmacológica: > Cirurgia: esofagomiotomia ou miotomia de Heller – resolve 70-90% dos casos, associar fundoplicatura parcial para evitar DRGE no pós-operatório. No megaesôfago grau IV e na falha da miotomia: esofagectomia. *Para o Colégio Americano de Gastroenterologia (ACG) a terapia medicamentosa com bloqueadores do canal de cálcio e nitratos, fornece um relaxamento transitório do EEI e ainda apresenta efeitos colaterais como cefaleia e hipotensão. Por isso, o ACG defende que a terapia medicamentosa deve ser reservada para pacientes que não estão dispostos ou não podem se submeter a tratamentos mais definitivos. COMPLICAÇÃO GRAVE Carcinoma escamoso do esôfago (alimento retido no esôfago → esofagite irritativa → risco aumentado de câncer). ATENÇÃO: Referências mais recentes, como a última edição do Sabiston, relatam que a acalásia também pode ser um fator de risco para o adenocarcinoma de esôfago – neste caso, o tumor geralmente aparece no terço médio do esôfago. OUTROS DISTÚRBIOS MOTORES – O ESSENCIAL Espasmo Esofagiano Difuso (EED) Contrações simultâneas, não propulsivas, do esôfago, manifestando-se por dor retroesternal. A fluoroscopia baritada revela o clássico aspecto em saca-rolhas ou em contas de rosário. Diagnóstico diferencial = doença coronariana. Tratamento: farmacológico semelhante à acalásia; esofagomiotomia longitudinal em caso de sintomas refratários. Para lembrar: mulher jovem com disfagia e dor torácica!!! Esôfago Em Quebra-Nozes Contrações muito intensas do esôfago, eficazes, causadas pela hipertrofia da musculatura esofagiana. Atingem níveis acima daquelas encontradas no EED (geralmente até 120 mmHg). O tratamento farmacológico é semelhante à acalásia e ao EED; cirurgia tem benefício questionável. Motilidade Esofagiana Ineficaz Distúrbios da motilidade que não se encaixam nos padrões acima. Lesão Esofágica da Esclerodermia Associação EEI hipotônico + contrações esofágicas fracas. Há grande predisposição a DRGE. Esofagomiotomia + fundopli catura. Acalásia: afilamento distal em "bico de pássaro". https://medvideos.tech OBSTRUÇÃO MECÂNICA DO ESÔFAGO Dilatação endoscópica. EED: esôfago em "saca-rolha". CÂNCER DE ESÔFAGO EPIDEMIOLOGIA > Mais frequente em homens (3:1), entre 50 e 60 anos de idade. Sexta causa de morte por câncer no Brasil. > O carcinoma escamoso (epidermoide) predomina nos negros , sendo o mais comum no Brasil. Ocorre em qualquer ponto do esôfago (mais no 1/3 médio). > O adenocarcinoma é mais frequente em brancos. É o menos comum, porém com incidência crescente, já passando a predominar sobre o Ca epidermoide em alguns países desenvolvidos (EUA e Canadá). Quase sempre acomete o 1/3 inferior do esôfago. FATORES DE RISCO Carcinoma escamoso (epidermoide): > Principais: etilismo, tabagismo; > Consumo de bebidas muito quentes; > Dieta rica em defumados e conservas (nitrosaminas), acalásia*, estenose cáustica, síndrome de Plummer- Vinson, tilose palmoplantar. Adenocarcinoma: esôfago de Barrett (clássico): > A obesidade e o tabagismo são considerados possíveis fatores de risco; *Tradicionalmente considerada como fator de risco somente do escamoso, atualmente foi inserida como fator de risco para o adenocarcinoma. QUADRO CLÍNICO > Principal: disfagia progressiva (sólidos → líquidos) + perda ponderal. > Outros: dor retroesternal, halitose, tosse, rouquidão... > A perda oculta de sangue, que se manifesta como anemia ferropriva, pode acontecer em alguns casos. > Tosse importante + pneumonia de repetição: pensar em fístula traqueoesofágica ou broncoesofágica. DIAGNÓSTICO > Esofagografia baritada: principais sinais para diferenciar câncer de estenose péptica = sinal do degrau/sinal da maçã mordida. > Esofagoscopia (EDA): fazer biópsia e escovados (citologia) da área afetada. > 60% dos tumores: polipoides ou exofíticos. DISSEMINAÇÃO https://medvideos.tech Câncer de esôfago precoce: invade até a submucosa (T1N0). A ausência de serosa facilita a disseminação para linfonodos regionais e órgãos adjacentes. Metástases à distância mais frequentes: fígado, osso, pulmão. Como estadiar? > Começar com TC de tórax e abdome. Caso a doença seja potencialmente ressecável à TC, o ideal é confirmarmos o estadiamento com ultrassom endoscópico (melhor exame para estadiamento T e N) e PET (para avaliação de linfonodos e metástases). > Broncoscopia (para tumores de terço proximal e médio). ESTADIAMENTO (atenção para o "T" – mais importante!) > Alem do TNM, avaliar também o grau de diferenciação. > T1: até submucosa (T1a até lâmina própria/T1b até submucosa); T2: até muscular própria; T3: atinge adventícia; T4: invade estruturas adjacentes (T4a = ressecável; T4b = irressecável). > N1: 1-2 linfonodos regionais; N2: 3-6 linfonodos; N3: ≥ 7 linfonodos. > M1: metástase à distância (M1a: linfonodos não regionais; M1b: osso; M1c: outros sítios). Grau de Diferenciação Histológica: GX: tumor não avaliado – considerar como G1 para definição de estágio; G1: bem diferenciado; G2: moderadamente diferenciado; G3: pouco diferenciado ou indiferenciado. PROGNÓSTICO Geralmente ruim, pois diagnosticamos a maioria dos casos num estágio avançado. TRATAMENTO CURATIVO T1aN0 (restrito à mucosa): mucosectomia endoscópica definitiva ou terapia fotodinâmica. T1bN0: (atinge submucosa): esofagectomia + linfadenectomia regional. T2N0M0 a T4N3M0 (ultrapassa submucosa, mas não há doença M1): > Quimioterapia (5-fluoracil + leucovorin) + radioterapia neoadjuvantes têm bons resultados a partir dos tumores T2N0, em vários estudos; > De 4 a 6 semanas após, cirurgia sempre que possível – esofagectomia + linfadenectomia regional; > Se o paciente estiver desnutrido por disfagia, pode-se tentar dilatar a estenose no pré-op. e inserir cateter de Dobb-Hoff para nutrir antes de operar; > A margem de ressecção livre de doença deve ser de pelo menos 8 cm; > A reconstrução, sempre que possível, deve ser com o estômago; > Sempre fazer piloroplastia ou pilorotomia para evitar obstrução gástrica pós-vagotomia; > Deve ser realizada rotineiramente uma jejunostomia para alimentação enteral no pós-operatório. Muito já se discutiu sobre a melhor opção de tratamento inicial. Segundo os estudos disponíveis até o momento, a realização de tratamento neoadjuvante causa impacto significativo na sobrevida desses doentes em longo prazo, devendo ser recomendada a todos os pacientes. Além disso, foi observado que alguns pacientes, em particular aqueles em estágios mais precoces, ficavam curados apenas com QT + RT. https://medvideos.tech > Tratamento neoadjuvante: radioterapia durante cinco semanas associada à quimioterapia (5-FU + cisplatina) na primeira e na última semanas (uma alternativa é a QT semanal com carboplatina + paclitaxel). Muitas vezes esses pacientes necessitam de suporte nutricional através de CNG ou gastrostomia durante o tratamento. > Cirurgia: pacientes em razoável estado geral e sem comorbidades preocupantes (cardiopatia, pneumopatia grave, etc.) são candidatos à cirurgia curativa, a ser realizada preferencialmente entre quatro e seis semanas após o término do tratamento neoadjuvante. Outra estratégia a ser discutida, particularmente nos pacientes com resposta ótima à RT + QT e em pior estado geral, é a realização da cirurgia apenas em caso de recidiva de doença ("esofagectomia de resgate"). Embora a morbimortalidade deste procedimento tenha sido maior que a da cirurgia programada pós-tratamento neoadjuvante, a sobrevida foi semelhante nos dois grupos. No momento, o tratamento padrão é a RT + QT neoadjuvante, seguida pela cirurgia. Além disso, os pacientes com tumores de esôfago proximal (uma minoria, felizmente), geralmente são tratados apenas com RT + QT, devido à dificuldade técnica para a ressecção cirúrgica com margens adequadas e confecção da anastomose nesses casos. Vamos agora a alguns detalhes da técnica cirúrgica, que é geralmente aplicada aos tumores de 1/3 médio e distal. Acessos: > Esofagectomia transtorácica– através de toracotomia e laparotomia: melhor avaliação de linfonodos, porém risco de mediastinite grave! > Esofagectomia trans-hiatal – através de incisão cervical e laparotomia: a anastomose é cervical (não dá mediastinite) e a mortalidade é menor, porém risco de hemorragia mediastinal incontrolável e incapacidade de ressecar completamente os linfonodos mediastinais. > Esofagectomia em três campos – através de incisão cervical, torácica e laparotomia. Torna possível a visualização do esôfago em todo seu trajeto, além de permitir a confecção de uma anastomose cervical. Pode ter o tempo torácico realizado por toracoscopia. – A quimioterapia adjuvante (pós-operatória) com 5-FU + leucovorin tem bons resultados (redução das micrometástases = maior chance de cura) nos pacientes que não receberam tratamento neoadjuvante. Pacientes não candidatos à cirurgia (comorbidades, estado geral ruim): QT + RT exclusiva. TRATAMENTO PALIATIVO > Dilatadores esofagianos ou stents; gastrostomia ou jejunostomia para alimentação, caso necessário. > Radioterapia – alivia disfagia, porém contraindicada no caso de fístula traqueo ou broncoesofágica (neste caso indicamos stent). > QT paliativa: prolonga sobrevida (baseada em 5-fluoracil + cisplatina ou irinotecano). Sinal da "maçã mordida". https://medvideos.tech COMPRESSÃO EXTRÍNSECA DO ESÔFAGO Pode se dever a espondilite cervical, osteófitos vertebrais, abscessos e massas retrofaríngeas e em mediastino posterior, divertículos, tireoide aumentada, átrio esquerdo aumentado (causa clássica – estenose mitral)... Leiomioma esofágico. DISTÚRBIOS MECÂNICOS OBSTRUTIVOS DO ESÔFAGO − O ESSENCIAL Anel de Schatzki Localizado no esôfago terminal, apresentando-se com a clássica história de disfagia intermitente (impactação eventual de alimentos mal mastigados). Curiosidade: a mucosa de cima do anel é coberta por mucosa esofágica; a de baixo, por mucosa gástrica. Geralmente está associado à hérnia de hiato... Síndrome de Plummer-Vinson (Paterson-Kelly) Membrana em esôfago proximal num contexto de ferropenia. Divertículo de Zenker (faringoesofageano) Divertículo esofagiano mais comum. Falso divertículo, gerado pela herniação no triângulo de Killian, é um divertículo hipofaríngeo (herniação da camada mucosa e da submucosa no ponto de transição entre as fibras oblíquas do músculo tireofaríngeo, ou constritor inferior da faringe, e as fibras horizontais do músculo cricofaríngeo). A base do processo é a hipertrofia do músculo cricofaríngeo. Sintomas típicos: halitose e regurgitação de alimentos não digeridos. Pode haver sensação de massa cervical, que esvazia à compressão. Mais comum em idosos (7ª década) e à esquerda. Tratamento: abordagem cirúrgica primária: miotomia do esfíncter esofágico superior. > Divertículos até 2 cm: apenas miotomia. > Maiores que 2 cm: associar diverticulopexia (menos complicações) ou a diverticulectomia (preferencial para > 5 cm). Correção endoscópica (procedimento de Dohlman ou diverticulotomia endoscóspica com needle knife) é alternativa ao tratamento cirúrgico para os divertículos maiores que 3 cm. Tumores Benignos Mais comum: leiomioma. Achado da esofagografia: aspecto de compressão extrínseca, com mucosa normal. https://medvideos.tech OUTROS DISTÚRBIOS DO ESÔFAGO Divertículo de Zenker. DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) EPIDEMIOLOGIA Extremamente comum (10-20% da população). PATOGENIA Refluxo (= retorno) de parte do conteúdo gástrico para o esôfago e/ou órgãos adjacentes, causando alterações clínicas ou endoscópicas. A principal causa são relaxamentos transitórios frequentes do EEI, não associados à deglutição. QUADRO CLÍNICO Manifestações típicas: PIROSE (queimação retroesternal ascendente) e REGURGITAÇÃO. Disfagia não é comum, caso persistente pensar em estenose péptica e adenocarcinoma. Principais manifestações atípicas: > Esofágicas: "dor torácica não cardíaca", globus; > Pulmonares: tosse crônica, broncoespasmo, pneumonias de repetição. A DRGE é a causa de 20% das tosses crônicas; > Outras: rouquidão, desgaste do esmalte dentário, halitose, aftas... ABORDAGEM INICIAL O diagnóstico é CLÍNICO: a presença de pirose + regurgitação já nos autoriza a iniciar uma prova terapêutica que é realizada através da administração de um inibidor de bomba de prótons, 1 vez/dia por um período mínimo de 4-8 semanas. EDA diagnostica apenas 50% dos casos de DRGE (só os que têm esofagite de refluxo), mas deve fazer parte da abordagem inicial em alguns casos (sua principal indicação é excluir a presença de câncer). ATENÇÃO – indicação de EDA na abordagem inicial ao paciente com sintomas típicos de DRGE = idade > 45-55 anos* ou sinais de alarme: disfagia, odinofagia, hemorragia digestiva, anemia, emagrecimento. Outra indicação é para aqueles pacientes que apresentam, pirose por mais de 5-10 anos. * A idade para se realizar a EDA não é muito bem definida. Classicamente utilizamos a idade de 45-55 anos, no entanto, o IV Consenso Brasileiro sobre Helicobacter pylori indica a EDA com idade superior a 40 anos. Em contrapartida, o consenso do colégio americano de gastroenterologia, indica a EDA somente após os 60 anos. Nos pacientes sem resposta à prova terapêutica: considerar a EDA. CLASSIFICAÇÃO DA ESOFAGITE DE REFLUXO A principal é a de Savary-Miller: (I) erosões em única prega; (II) erosões em mais de uma prega; (III) erosões ocupando toda a circunferência do esôfago; (IV) úlcera esofágica ou estenose péptica; e (V) esôfago de Barrett. OUTROS EXAMES DIAGNÓSTICOS https://medvideos.tech 1. pHmetria de 24 horas: padrão-ouro, porém caro e desconfortável. Critério diagnóstico: pH < 4 em mais de 7% das medidas. Os inibidores de bomba de próton devem ser descontinuados antes da realização do exame. Como a inibição da bomba de hidrogênio é irreversível, a suspensão deve ser realizada de quatro a cinco dias antes do teste. Indicações: > Sintomas típicos de refluxo refratários à terapia, com EDA normal ou duvidosa (DRGE não erosiva); > Sintomas atípicos de refluxo, quando outras causas óbvias foram afastadas e não houve resposta à prova terapêutica; > Confirmação do diagnóstico de DRGE antes da cirurgia antirrefluxo; > Reavaliação de pacientes ainda sintomáticos após cirurgia antirrefluxo. O que é índice de DeMeester? Escore para refluxo... > Valor de corte para refluxo patológico > 14. > Variáveis: nº episódios de refluxo, nº refluxos > 5min, % refluxo em ortostase, % refluxo em posição supina, refluxo mais longo e % tempo em refluxo. 2. Esofagomanometria – principais indicações: > DRGE com indicação cirúrgica, para determinar o tipo de fundoplicatura (discutível – estudaremos isso adiante); > Suspeita de distúrbios motores esofágicos associados. 3. Esofagografia baritada: baixa sensibilidade, porém pode informar sobre complicações (estenose, úlcera etc.). Em desuso. 4. Impedâncio-pHmetria esofágica: estudos têm demonstrado ser mais sensível que a pHmetria convencional. Pouco utilizado no nosso meio. MEDIDAS COMPORTAMENTAIS São indicadas para todo paciente com DRGE embora a maioria tenha eficácia controversa: > Elevação da cabeceira do leito (15 cm) e evitar deitar-se nas duas horas posteriores às refeições; > Fracionar a dieta e moderar ingestão de gorduras, cítricos, café, bebidas alcoólicas e gasosas; > Evitar roupas e cintos apertados, redução do peso em obesos, parar de fumar; > Evitar drogas que reduzam o tônus do EEI (anticolinérgicos, beta-agonistas, antagonistas do cálcio, nitrato etc.). PROVA TERAPÊUTICA Consiste no tratamento "empírico" da DRGE, sem EDA ou outro exame que confirme a doença. Pode ser prescrita para todo paciente com suspeita de DRGE que não tenha indicação de EDA na abordagem inicial. Nesses casos, a resposta satisfatória ao IBP permite o diagnóstico de DRGE. TRATAMENTO CLÍNICO IBP em dose plena (por exemplo, omeprazol 20 mg/dia) durante 4 a 8 semanas + medidas comportamentais. Alguns autores recomendam iniciar dose dobrada nas esofagites mais graves (graus III aV de Savary-Miller e C-D de Los Angeles). Se o paciente não responder em 8 semanas... dobrar a dose e fazer mais 12 semanas. Efeitos adversos dos IBP: cefaleia e diarreia são os mais comuns. Outros: miopatias, artralgias, cefaleia e osteoporose. Observações: > Alguns pacientes precisam de uma dose baixa de IBP, de manutenção, por longo período, para que os sintomas não voltem... > Alguns autores preconizam associar a ranitidina 300 mg à noite ao IBP para evitar o "escape ácido noturno"; > Os bloqueadores H2 são menos eficazes, porém mais baratos. Dose para DRGE: ranitidina 150-300 mg de 12/12h; > O uso de antiácidos e procinéticos vem cada vez mais sendo desencorajado no tratamento em longo prazo da DRGE. Atenção: os pacientes com diagnóstico inicial de esofagite moderada ou grave (graus III a V de Savary-Miller ou C-D de Los Angeles) devem ser submetidos à EDA de controle após o tratamento. https://medvideos.tech TRATAMENTO CIRÚRGICO Importante: antes de indicar a cirurgia, confirmar DRGE com pHmetria de 24 horas. Alguns serviços ainda advogam a necessidade de uma esofagomanometria prévia, com o intuito de auxiliar a escolha da técnica. Primeiro as indicações: > Alternativa à terapia de manutenção com IBP em longo prazo para pacientes jovens com baixo risco cirúrgico; > Controle de refluxo nos pacientes com sintomas pulmonares recorrentes (aspiração, asma e pneumonia); > Pacientes impossibilitados do uso de terapia de manutenção. > Terapia de escolha para complicações como estenose (após dilatação), esofagite recorrente e úlcera esofagiana. Qual é a cirurgia? ATENÇÃO: atualmente: fundoplicatura de Nissen ou total (360º). No passado, indicava-se fundoplicaturas parciais (180-270º) quando havia dismotilidade esofagiana (esofagomanometria), para evitar disfagia no pós-op... Contudo, segundo a última edição do Sabiston, podemos indicar a fundoplicatura total em todos os casos, exceto na aperistalse esofagiana. COMPLICAÇÕES DA DRGE Esofagite de refluxo (já estudada). Estenose péptica do esôfago: > Causa disfagia insidiosa, progressiva; > Tratamento: dilatação pneumática do esôfago distal nos casos francamente sintomáticos. Úlcera esofágica: > Pode causar odinofagia e hemorragia digestiva; > Comumente associada ao esôfago de Barrett – neste caso, devemos classificar como Grau V. Esôfago de Barrett: > Substituição do epitélio escamoso estratificado do esôfago distal por epitélio colunar contendo células INTESTINAIS (metaplasia intestinal) – epitélio "vermelho- salmão" à endoscopia (DIAGNÓSTICO DE CERTEZA REQUER BIÓPSIA!). Pode haver redução dos sintomas de refluxo, pois o epitélio colunar é mais resistente ao ácido; > Tratamento: IBP ou cirurgia, dependendo da referência; > O risco de desenvolvimento de adenocarcinoma é de 0,5% ao ano, por isso acompanhamos com EDA seriada. Veja a conduta pelo Sabiston: – Barrett sem displasia: nova EDA em um ano, e depois a cada dois ou três anos; – Barrett com displasia de baixo grau: duas EDA no 1º ano após o diagnóstico (6-12 meses) e depois anualmente; – Barrett com displasia de alto grau: esofagectomia distal. Agora fique atento pois no final de 2015 o Colégio Americano de Gastroenterologia (ACG) liberou um novo guideline para o manejo do esôfago de Barrett. Veja como ficou e compare com o que está exposto no Sabiston. – Barrett sem displasia: nova EDA com 3-5 anos. – Barrett com displasia de baixo grau: ablação endoscópica (embora a vigilância com EDA ainda seja aceita). – Barrett com displasia de alto grau: ablação endoscópica. Sintomas respiratórios: o refluxo ácido pode atingir a orofaringe, a laringe ou a traqueia, provocando faringite (pigarro frequente), laringite (rouquidão), traqueíte (tosse seca) e mesmo broncoespasmo, com asma brônquica. As principais causas de tosse crônica em adultos são sinusite crônica, asma brônquica e DRGE! Devemos suspeitar de DRGE num paciente que abre quadro de asma na idade adulta e não responde ao tratamento convencional. https://medvideos.tech ARMADILHAS DE PROVA > A intensidade e a frequência dos sintomas são fracos preditores da presença ou da gravidade da esofagite! > A esofagite progride pouco com o passar do tempo. Apenas 15% dos pacientes com DRGE e esofagite leve (ou sem esofagite) progridem para graus mais avançados da doença. > Erosão e úlcera não são sinônimos! A erosão é restrita à mucosa superficial, enquanto a úlcera atinge ao menos a muscular da mucosa e tem tecido de granulação. > A DRGE não é indicação para erradicação do H. pylori. > O diagnóstico de Barrett é somente suspeitado através da EDA (vermelho-salmão), sendo confirmado através de biópsia. Fundoplicatura de Nissen. HÉRNIA DE HIATO (HH) O que é? É uma protrusão do estômago para região acima do diafragma. Quais são os tipos? I. Por deslizamento: junção gastroesofágica é deslocada para o interior do tórax. II. Paraesofágica (por rolamento). III. Hérnia mista (deslizamento + rolamento). IV. Hérnia associada à herniação de outras vísceras abdominais pelo diafragma. Existe associação com a DRGE? Sim, a presença de HH por deslizamento está associada à DRGE grave, embora isoladamente não a cause. Quando corrigir cirurgicamente? HH paraesofágica: sempre! (pelo alto risco de complicações). HH por deslizamento: durante cirurgia antirrefluxo. Hérnias mistas e do tipo IV também possuem indicação cirúrgica. (A) HH por deslizamento. (B) HH paraesofágica. ESOFAGITE INFECCIOSA QUADRO CLÍNICO Geralmente predomina a odinofagia, podendo também haver disfagia. Comumente associadas à imunodepressão, principalmente SIDA. CANDIDA EDA: placas amarelas amarelo-esbranquiçadas. Nem sempre temos candidíase oral concomitante. Tratamento: nistatina ou fluconazol oral. HERPÉTICA EDA: vesículas e ulcerações com bordos elevados ("em vulcão") – a biópsia dos bordos das lesões é mais sensível para o diagnóstico: teste de Tzanck (citodiagnóstico) com células epiteliais gigantes multinucleadas. Geralmente não temos herpes labial concomitante. Tratamento: aciclovir oral ou IV. CITOMEGALOVÍRUS (CMV) https://medvideos.tech 2 – DISTÚRBIOS DO ESTÔMAGO EDA: geralmente úlcera única, plana e profunda – a biópsia do centro da lesão é mais sensível para o diagnóstico. Visualização de corpúsculos de inclusão em "olho de coruja". Grave → CMV – centro da lesão / herpes, halo da lesão. Tratamento: ganciclovir IV. ARMADILHAS DE PROVA > Não é raro que tenhamos esofagite por cândida + herpes e não sejam vistas as lesões herpéticas à EDA, se a candidíase for muito intensa. Por isso está indicado repetir a EDA caso uma suposta candidíase esofagiana não melhore após 3-4 dias de tratamento. > Na SIDA, pode haver úlcera oral e esofagiana não infecciosa – tratar com corticoide (local ou oral) ou talidomida. ESÔFAGO – PATOLOGIAS DIVERSAS Síndrome de Mallory-Weiss Laceração de esôfago distal e estômago proximal (limitado à mucosa), consequente a vômitos vigorosos, manifestando-se com hemorragia digestiva alta. Perfuração Esofagiana Causas: iatrogenia, espontânea (Boerhaave) e corpo estranho. Clínica: tríade de Mackler (vômito + dor no peito + enfisema subcutâneo), sinal de Hamman (atrito em cada batida cardíaca por enfisema no mediastino). Atresia do Esôfago Desordem congênita frequentemente acompanhada de fístula traqueoesofágica, deve ser suspeitada na presença de polidrâmnio materno. Esofagite Eosinofílica Associada à história de atopia, com a queixa principal consistindo em disfagia. Achados endoscópicos típicos: anéis mucosos (traqueização) e pápulas esbranquiçadas (microabscessos eosinofílicos). Diagnóstico: biópsia com mais de 15 eosinófilos. Tratamento: corticoide tópico. https://medvideos.tech Questões Modelo 3 – Daniel é portador de síndrome dispéptica que foi refratária ao tratamento clínico antissecretor, sendo- lhe indicada uma endoscopia digestiva alta que demonstrou a presença de uma úlcera gástrica pré- pilórica. Foi realizada biópsia da lesão gástrica (negativa para malignidade) e teste da ureaseno fragmento da biópsia (resultado positivo). Com relação ao caso descrito, marque a assertiva INCORRETA: a) Por ter localização pré-pilórica, trata-se de uma úlcera gástrica tipo III cuja fisiopatologia envolve a hipercloridria. b) Como se tratava de uma úlcera gástrica, a biópsia estava realmente indicada pela necessidade de se excluir malignidade. c) Nesse momento, está indicado o tratamento da úlcera péptica com terapia antissecretora (inibidor de bomba de próton) por 4-8 semanas e também a erradicação do H. pylori. d) Após o tratamento, não há necessidade de nova endoscopia, uma vez que a preocupação é o controle da erradicação do H. pylori, o que pode ser feito de forma não invasiva, por exemplo, com teste da urease respiratória (não podendo usar a sorologia como controle de cura). R. Letra D. 4 – Com relação à doença ulcerosa péptica, coloque, mais uma vez, as letras C (CERTA) e E (ERRADA): ( ) As úlceras duodenais estão relacionadas com hipercloridria, de forma que seu tratamento inclui vagotomia no intuito de interromper a influência da acetilcolina na secreção ácida pelas células parietais, assim como nas úlceras gástricas tipo II e III. ( ) A úlcera péptica duodenal que perfura é a de parede posterior, enquanto a que sangra é a de parede anterior. ( ) Suspeita-se da síndrome de Zollinger-Ellison em casos de úlceras múltiplas, refratárias, de localização atípica e associadas à diarreia, uma vez que a gastrina em excesso causa uma hipersecreção ácida pelo estômago, o que favorece a ocorrência dessa doença ulcerosa e inativa as enzimas pancreáticas, causando a diarreia. R. C-E-C. 5 – Marcelo tem 38 anos e se queixa de dor epigástrica e emagrecimento de 8 kg em seis meses. Foi submetido à Endoscopia Digestiva Alta (EDA) que mostrou a presença de gastrite crônica atrófica e uma lesão ulcerada e infiltrante com bordos mal definidos em 1/3 distal do estômago. A biópsia da lesão demonstra um adenocarcinoma tipo difuso de Lauren. De alterações laboratoriais, o paciente apresenta somente uma anemia com VCM aumentado. O paciente nega tabagismo, etilismo, cirurgias prévias ou história familiar de neoplasias. Marque a alternativa INCORRETA: a) O paciente não apresenta fatores de risco para câncer gástrico. b) Pela classificação macroscópica, o paciente possui um adenocarcinoma tipo III de Borrmann, que é a forma mais comum de apresentação. c) O subtipo difuso de Lauren é o de pior prognóstico, sendo um tumor mais indiferenciado. d) Por sua localização, o tratamento cirúrgico incluirá gastrectomia subtotal com reconstrução a Billroth II. R. Letra A. DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA EPIDEMIOLOGIA Acomete 10%, da população ao longo da vida, sendo mais frequente em homens e tabagistas. A úlcera duodenal é o tipo mais comum → faixa etária mais jovem (entre 20 e 50 anos). A úlcera gástrica → faixa etária mais velha (acima de 40 anos) é frequentemente assintomática até o aparecimento de complicações. FATORES DE RISCO HIPERACIDEZ: > H. pylori (inibe células D → ↑ somatostatina → ↑ gastrina → ↑ HCl); > Gastrinoma, hipofunção de células D (↑ gastrina → ↑ HCl) – raros; > Mastocitose, leucemia basofílica, P. vera (↑ histamina → ↑ HCl). DIMINUIÇÃO DA PROTEÇÃO DA MUCOSA GÁSTRICA: > AAS/AINE (↑ prostaglandinas); > Infecção crônica pelo H. pylori. > Isquemia; > Álcool, tabaco. https://medvideos.tech PATOGÊNESE Úlcera Duodenal (UD): hipercloridria. Úlcera Gástrica (UG) − Classificação de Johnson: > Tipos I (pequena curvatura baixa – mais comum) e IV (pequena curvatura próximo à JEG): gastrite atrófica pelo H. pylori → hipersensibilidade ao HCl (mesmo havendo hipocloridria!); > Tipos II (corpo gástrico, associada à úlcera duodenal) e III (pré-pilórica): gastrite pelo H. pylori → hipercloridria... (semelhante à UD). QUADRO CLÍNICO DISPEPSIA + DOR > UD: geralmente noturna, duas a três horas após refeição – alivia com alimento! > UG: mais associada a náuseas – piora com alimento! Outros: desconforto epigástrico, queimação epigástrica (azia), plenitude pós-prandial... CONCEITOS IMPORTANTES > Prevalência: úlcera duodenal > gástrica. > A úlcera gástrica apresenta risco de ser CÂNCER. DIAGNÓSTICO EDA: indicada na epigastralgia/dispepsia para todo paciente: > Idade superior a 45/55 anos*; > Com sinais de alarme; ou > Refratário ao tratamento clínico empírico com IBP (vide DRGE); > SEMPRE biopsiar úlcera gástrica (risco de câncer!). * Atenção, pois essa idade não é um consenso. Segundo o IV Consenso Brasileiro sobre o Helicobacter pylori, a idade seria de 40 anos. Em contrapartida, para o Colégio Americano de Gastroenterologia, para os paciente com menos de 60 anos, mesmo na presença de sinais de alarme, a EDA não deve ser indicada. Sempre investigar a presença do H. pylori: 90% dos pacientes com UD e 75% daqueles com UG são portadores do H. pylori... > Pacientes que não necessitam de EDA: teste da ureia respiratória, pesquisa de antígenos fecais ou sorologia*. > Pacientes submetidos à EDA: teste rápido da urease ou histopatologia do H. pylori. *A sorologia até pode ser utilizada para o diagnóstico, mas não deve ser utilizada na avaliação do controle de cura. TRATAMENTO TRATAMENTO CLÍNICO Medidas gerais: evitar AAS/AINE, álcool, tabaco... Se o AAS/AINE for estritamente importante, associar IBP ou bloqueador H2; se for AINE, tentar trocar por inibidor seletivo da COX-2. Farmacológico: > Reduzir acidez gástrica: IBP (ex.: omeprazol 20 mg/dia) – mais eficazes – ou bloqueador H2 (ex.: ranitidina 300 mg/dia) 4-8 semanas; > Erradicar H. pylori, se presente. ERRADICAÇÃO DO H. PYLORI https://medvideos.tech Atualmente existem três indicações clássicas para erradicarmos o H. pylori: 1. Dispepsia; 2. Doença ulcerosa péptica (ativa ou cicatrizada); 3. Linfoma MALT. Além dessas indicações, os consensos indicam a erradicação para. > Lesões pré-neoplásicas (gastrite atrófica e metaplasia intestinal); > História de CA gástrico em parente de 1º grau; > Pacientes que tiveram tumores gástricos tratados por endoscopia ou gastrectomia parcial; > Grupos de risco: apesar da intensa discussão, acredita-se que para pessoas do grupo de risco seja vantajoso rastrear e tratar o H. pylori! Este grupo é composto por parentes de 1º grau de pessoas com câncer gástrico e imigrantes provenientes de região endêmica; > Anemia ferropriva inexplicada; > Deficiência de vitamina B12; > Portadores de púrpura trombocitopênica idiopática; > Usuários crônicos de AINE ou AAS, principalmente naqueles pacientes de alto risco (> 65 anos, história de hemorragia digestiva ou DUP e usuários de anticoagulantes). Esquemas: > Tempo mínimo = de acordo com o IV Consenso Brasileiro sobre o Helicobacter pylori, a erradicação deve ser feita por 14 dias. Antes, era feita por 7 dias; > Terapia padrão no Brasil: IBP (dose plena) 12/12h + claritromicina 500 mg 12/12h + amoxicilina 1 g 12/12h. CONTROLE DE CURA Nova EDA após tratamento para toda úlcera gástrica (duodenal não precisa!). H. pylori: sempre se faz controle de cura. > Teste respiratório com ureia marcada, quando não houver indicação para EDA (sorologia não serve, pois será positiva mesmo em caso de erradicação); > Teste da urease e histologia, quando houver indicação para EDA. Suspender antissecretores (IBP e bloqueadores H2), idealmente, 14 dias dias antes do exame! TRATAMENTO CIRÚRGICO Indicações: hemorragia refratária, perfuração, obstrução, ausência de cicatrização com tratamento clínico, recidivas constantes... Procedimentos para úlcera duodenal: não precisa retirar úlcera! *Objetivo: reduzir hipercloridria. > Vagotomia troncular com piloroplastia: mais utilizada. > Vagotomia troncular com antrectomia: mais complicações, porém menor recidiva da úlcera. > Vagotomia gástrica proximal (superseletiva): mais simples, porém maior recidiva da úlcera. Procedimentos para úlcera gástrica: sempre retirar úlcera! > Tipos II/III (associadas à hipercloridria – igual à úlcera duodenal): vagotomia troncular com antrectomia + Billroth I ou II. > TipoI (há hipo/normocloridria – não precisa de vagotomia): antrectomia + Billroth I ou II. > Tipo IV (há hipo/normocloridria, úlcera de retirada difícil): gastrectomia subtotal + Y de Roux (cirurgia de Csende) ou gastrectomia distal com extensão vertical para incluir a úlcera + Billroth I ou II (cirurgia de Pauchet). Observações importantes: > Tipos de vagotomia: troncular desnerva o estômago e vários órgãos abdominais, seletiva desnerva apenas o estômago, e superseletiva desnerva apenas o fundo e o corpo gástrico (área que contém as células parietais – secreção ácida). A falta do estímulo vagal reduz a secreção ácida! > A vagotomia troncular e a seletiva causam atonia gástrica → sempre fazer piloroplastia ou antrectomia após, para facilitar esvaziamento gástrico! Se fizermos antrectomia, diminuímos ainda mais a secreção ácida, pois além do estímulo vagal retiramos as células G do antro (produtoras de gastrina). COMPLICAÇÕES DO TRATAMENTO CIRÚRGICO https://medvideos.tech As complicações precoces (sangramento, deiscência de anastomose, fístula) são comuns a qualquer cirurgia do trato digestivo... Vamos nos deter às complicações tardias, que são as mais importantes: Síndrome dumping: ocorre pela passagem rápida dos alimentos para o duodeno, na ausência do piloro. > Precoce (15-30 minutos após alimentação): – Causa: contração do volume plasmático e distensão intestinal aguda. Também há liberação de hormônios intestinais vasoativos; – Clínica: alterações gastrointestinais (dor abdominal, náuseas, vômitos, diarreia explosiva) e vasomotoras (taquicardia, palpitações, sudorese, tontura). > Tardia (1-3 horas após alimentação): – Causa: rápida chegada alimentar com consequente rápida absorção, estimula maciça liberação de insulina, causando HIPOGLICEMIA; – Clínica: predominam sintomas vasomotores. > Tratamento: evitar carboidratos, fracionar refeições, não beber líquido às refeições, deitar após comer (reduz esvaziamento gástrico)... Alternativas: octreotide, acarbose (reduz absorção de glicose no dumping tardio), reoperar e interpor alça jejunal entre estômago e coto distal. Síndrome da alça aferente: só na antrectomia com Billroth II. > Alça aferente (que recebe secreção biliopancreática) é obstruída por trânsito intestinal → dor pós-prandial → vômito em jato, que alivia dor. > Tratamento: reoperar (gastrojejunostomia em Y de Roux). Obstrução da alça eferente: também só ocorre na antrectomia com Billroth II. > Alça eferente se hérnia para trás da anastomose, bloqueando a passagem de alimentos → obstrução digestiva alta, dor abdominal e vômitos alimentares que aliviam os sintomas. > Tratamento: redução da hérnia com fechamento do espaço retroanastomótico. Síndrome do antro retido: só ocorre na antrectomia com Billroth II. > Mucosa gástrica do antro pode se estender até pouco depois do piloro, dentro do duodeno → com reconstrução à Billroth II, essa mucosa é banhada com a secreção alcalina pancreática da papila duodenal, sem oposição ácida (trânsito do estômago foi desviado) → hiperprodução de gastrina e recidiva ulcerosa. > Tratamento: clínico (IBP) ou cirúrgico (transformação do Billroth II em Billroth I, ou excisão simples da mucosa antral retida). Gastropatia por refluxo biliar (gastrite alcalina): > Antrectomia/piloroplastia permite refluxo biliar para o estômago → dor constante → vômitos biliosos (não melhoram dor); > Tratamento: reoperar – gastrojejunostomia em Y de Roux, mantendo uma distância entre 50 e 60 cm entre o trânsito jejunal e o estômago. Diarreia pós-vagotomia: > ↑ excreção biliar → diarreia; > Tratamento: colestiramina, loperamida. Anemias: > Ferropriva na reconstrução à Billroth II (alimento não passa pelo duodeno, principal sítio de absorção do ferro). > Megaloblástica: hipocloridria reduz obtenção de B12 alimentar e propicia hiperproliferação bacteriana (consumo de B12). Adenocarcinoma gástrico (aumenta o risco em 15x). COMPLICAÇÕES AGUDAS DA DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA SANGRAMENTO https://medvideos.tech > 90% na parede posterior do duodeno (artéria gastroduodenal). > Clínica: melena com ou sem hematêmese, hematoquezia se sangramento muito intenso. > Diagnóstico: EDA após estabilização clínica (hidratação venosa, IBP venoso, CNG para lavagem, hemotransfusão caso necessário...). > Tratamento: – Endoscópico: injeção de adrenalina, termocoagulação; – Cirúrgico: • Indicações: sangramento não controlado após EDA (PRINCIPAL), instabilidade hemodinâmica mesmo após ressuscitação volêmica adequada, recorrência da hemorragia associada a choque hemorrágico, sangramento contínuo necessitando de > 3 concentrados de hemácias/dia; • Procedimentos: nas úlceras duodenais, pilorotomia com ulcerorrafia – após o controle do sangramento, piloroplastia e vagotomia troncular; em caso de úlcera gástrica, esta sempre deve ser retirada – o tipo de cirurgia depende da localização da UG (mesmas cirurgias realizadas eletivamente). > Classificação de Forrest (prediz o risco de ressangramento da úlcera): Forrest I = hemorragia ativa: (risco elevado de ressangramento – 90%) → Ia: sangramento pulsátil / Ib: sangramento não pulsátil; Forrest II = sinais de hemorragia recente:→ IIa: vaso visível não sangrante (risco elevado – 50%); IIb: coágulo aderido (risco intermediário – 30%); IIc: hematina – black spot (risco baixo – 10%); Forrest III = sem sinais de sangramento: úlcera de base clara (risco baixo – < 5%). PERFURAÇÃO > 90% na parede anterior do duodeno, podendo a perfuração ser livre (causando peritonite) ou tamponada (neste caso pode fistulizar para outros órgãos). > Clínica: dor abdominal aguda, hipotensão, taquicardia, taquipneia, irritação peritoneal. > Diagnóstico: pneumoperitônio ao RX ou TC de abdome. > Tratamento: operar sempre! – Para todos: ulcerorrafia + proteção da úlcera com omento. – Para os estáveis hemodinamicamente, com perfuração < 24 horas: fazer de uma vez o tratamento definitivo (vide cirurgias para úlcera péptica). OBSTRUÇÃO Geralmente úlceras duodenais e gástricas tipo III (pré- pilóricas). > Clínica: plenitude epigástrica associada a saciedade precoce, náuseas e vômitos. Cronicamente: vômitos contínuos = desidratação, alcalose metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica. > Diagnóstico: EDA, exame contrastado... > Tratamento: – Obstrução aguda: tratamento clínico (hidratação venosa, correção de distúrbios metabólicos, CNG para descompressão, IBP...); – Obstrução crônica: vagotomia de células parietais com gastrojejunostomia. Preparo: semelhante ao da obstrução aguda; – Dilatação endoscópica com balão: maiores benefícios naqueles com obstrução aguda. ÚLCERAS PÉPTICAS "ESPECIAIS" > Úlcera de Curling: em vítimas de queimaduras graves, que aparece até um mês após o evento. > Úlcera de Cushing: surge em decorrência de doença do SNC ou TCE (pacientes com aumento da secreção ácida gástrica). > Úlcera de Cameron: localizada no interior de uma hérnia de hiato. ARMADILHAS DE PROVA O H. pylori deve ser erradicado mesmo se a úlcera péptica estiver cicatrizada. > A causa de anemia megaloblástica pós-gastrectomia comumente não é a deficiência de fator intrínseco, pois ele é produzido pelas células parietais do corpo e fundo gástrico, que geralmente são mantidas. FIQUE ATENTO https://medvideos.tech SÍNDROME DE ZOLLINGER-ELLISON (SZE) O que é? É a manifestação clínica do gastrinoma, decorrente de sua superprodução de gastrina, com resultante hiperacidez gástrica. Qual é a faixa etária mais acometida? Entre 30-50 anos. Quando suspeitar? 1. Úlceras distais à primeira porção do duodeno; 2. Múltiplas úlceras no TGI; 3. Úlceras refratárias ao tratamento ou que recorrem após tratamento cirúrgico; 4. Úlcera associada a diarreia/esteatorreia; e 5. Úlcera associada à doença de paratireoides ou hipófise (sugerindo neoplasia endócrina múltipla tipo I). Alguma peculiaridade da SZE associada à NEM- 1? Sim... Os gastrinomas que acompanham a NEM-1 tendem a ser menores e múltiplos e raramente são malignos (apenas 6%, contra mais de 60% dos esporádicos),tendo um prognóstico muito melhor. Como diagnosticar SZE? Dosagem de gastrina: se > 1.000 pg/ml = gastrinoma ; se < 1.000 pg/ml, deve-se realizar o teste da estimulação pela secretina. Aumento da gastrina acima de 200 pg/ml após o teste = gastrinoma. Qual é o teste de maior sensibilidade para localização do tumor? Cintilografia de receptores da somatostatina! Os métodos mais acessíveis no nosso meio são a TC (sensibilidade 60%) e o ultrassom endoscópico (S > 80%). Qual é a localização mais comum? 2/3 extrapancreático (principalmente na parede duodenal) e 1/3 no pâncreas. Dentre todos esses, até 90% têm sua localização restrita a uma região conhecida como triângulo do gastrinoma (trígono de Passaro). Como tratar? Preferencialmente pela excisão cirúrgica. Na irressecabilidade, utilizam-se os IBP em dose alta para controle sintomático. GASTRITES − O ESSENCIAL Gastrite por H. pylori https://medvideos.tech CÂNCER DE ESTÔMAGO Inicialmente causa uma gastrite crônica antral, associada a hipercloridria e úlcera péptica. Pode provocar também uma pangastrite atrófica, relacionada a hipocloridria e risco aumentado de adenocarcinoma gástrico. > A maioria dos autores reserva o tratamento anti-HP para os casos de gastrite intensa , no intuito de evitar o desenvolvimento de linfoma MALT e adenocarcinoma. Gastrite atrófica autoimune Causa mais comum de anemia perniciosa por deficiência de absorção de vitamina B12. Presença de autoanticorpos contra as células parietais ou fator intrínseco. Gastropatia pelos AINE Pode causar desde erosões de mucosas a úlceras, pela inibição das prostaglandinas envolvidas com os fatores protetores da mucosa. Lesão aguda de mucosa gástrica Encontrada em pacientes graves (geralmente internados em CTI), cursam com erosões hemorrágicas. Gastrite hipertrófica gigante (doença de Ménétrier) Aumento importante das pregas gástricas, de etiologia desconhecida, com risco aumentado de adenocarcinoma. Dispepsia funcional Diagnóstico dado aos pacientes com sintomas dispépticos, com EDA normal. Trígono dos gastrinomas – Limites: 1. Junção do ducto cístico com o ducto hepático comum; 2. Junção da 2ª com a 3ª parte do duodeno; 3. Junção da cabeça com o colo do pâncreas. ADENOCARCINOMA GÁSTRICO EPIDEMIOLOGIA Mais frequente em homens (3:2), geralmente negros, > 50 anos. Em jovens (< 40 anos), temos predomínio em mulheres, geralmente mais agressivo (tipo difuso de Lauren). Segunda causa de morte por câncer no Brasil e no mundo. FATORES DE RISCO Gastrite crônica atrófica (associada ao H. pylori, anemia perniciosa...), metaplasia intestinal, gastrite hipertrófica (doença de Ménétrier), adenoma gástrico, cirurgia gástrica prévia, pólipos adenomatosos... Baixo nível socioeconômico, história familiar, tabagismo, grupo sanguíneo A (associado ao subtipo difuso de Lauren), dieta rica em defumados e produtos em conserva (nitrosaminas). QUADRO CLÍNICO https://medvideos.tech > Perda ponderal, anorexia, náusea. > Saciedade precoce, epigastralgia. Ou seja: DISPEPSIA, principalmente na presença de sinais de alarme. > Disfagia em caso de invasão da cárdia e vômitos recorrentes na invasão antropilórica. > Anemia ferropriva é comum, mas hemorragia aguda é pouco comum. > Síndromes paraneoplásicas: acantose nigricans, tromboflebite migratória (síndrome de Trosseau), ceratose seborreica (sinal de Leser-Trélat), nefropatia membranosa, dermatomiosite... > Eventualmente sintomas relativos a metástases: icterícia, ascite... DIAGNÓSTICO > EDA com biópsia. > Exame baritado (seriografia "SEED"): baixo custo, pode servir como triagem. MARCADORES CEA, CA 72.4 (desnecessários para o diagnóstico, servem para o acompanhamento). DISSEMINAÇÃO Vários "caminhos": extensão direta, linfática, hematogênica, peritoneal... Achados clássicos em prova: > Linfonodo de Virchow (supraclavicular esquerdo); > Linfonodo de Irish (axilar esquerdo); > Nódulo da irmã Maria José (periumbilical); > Prateleira de Blumer (metástase peritoneal palpável pelo toque retal); > Tumor de Krukenberg (massa ovariana palpável). Principais sítios de metástase: fígado , pulmão, peritônio. CLASSIFICAÇÃO 1. Classificação macroscópica de Borrmann: I – Polipoide; II – Ulcerado de bordas elevadas; III – Ulcerado com infiltração da parede gástrica; IV – Infiltrativo difuso (se acomete todo o órgão = linite plástica); V – Não se encaixa nas categorias acima. 2. Classificação histológica de Lauren: > Tipo intestinal: mais comum, bem diferenciado, células neoplásicas com formação glandular, geralmente disseminação hematogênica, acometendo homens idosos. Tem um melhor prognóstico e acomete mais comumente o estômago distal. > Tipo difuso: menos comum, pouco diferenciado, células em anel de sinete, alta propensão à disseminação por contiguidade e linfática, pacientes mais jovens (40-50 anos), pior prognóstico, formação proximal e relação com subgrupo sanguíneo A. Como estadiar? > Ultrassom endoscópico (melhor exame para estadiamento T e N*), TC toracoabdominal e PET (para avaliação de linfonodos e metástases), videolaparoscopia para afastar a presença de metástase oculta. *ATENÇÃO: o N final só é definido após análise da peça: de acordo com o Sabiston 20ª edição, ressecar no mínimo 15 linfonodos e, de acordo com o TNM 2018, no mínimo 16 linfonodos. ESTADIAMENTO https://medvideos.tech T1 = Tumor invade no máximo até a submucosa (T1a: invasão até a lâmina própria ou muscular da mucosa; T1b: invasão da submucosa). T2 = Tumor invade a muscular própria. T3 = Tumor atinge a subserosa, sem invasão de peritônio visceral ou estruturas adjacentes. T4 = Invasão de serosa (peritônio visceral) ou estruturas adjacentes (T4a: invasão de peritônio visceral; T4b: invasão de estruturas adjacentes). N0 = Não invade linfonodos; N1 = Invade 1 ou 2 linfonodos regionais; N2 = Invade 3 a 6 linfonodos regionais; N3 = Invade 7 ou mais linfonodos regionais. (N3a: 7-15 linfonodos, N3b: 16 ou mais linfonodos). M0 = Nenhum sinal ou indício de metástase à distância. M1 = Metástase à distância (M1a: linfonodos não regionais; M1b: osso; M1c: outros sítios). CÂNCER GÁSTRICO PRECOCE Tumor limitado a mucosa e submucosa (T1), independentemente do envolvimento linfonodal... ATENÇÃO: essa definição cai muito em prova. Cuidado para não confundir a definição com os critérios para tratamento endoscópico deste tumor!!! TRATAMENTO CURATIVO Cirúrgico: sempre indicado, mesmo se T4, exceto em caso de risco cirúrgico proibitivo ou metástases disseminadas. > A ressecção deve deixar uma margem de segurança de 6 cm. > Tumores proximais: gastrectomia total + reconstrução com Y de Roux. Associar esofagectomia distal nos tumores de fundo gástrico e cárdia. > Tumores do terço distal: gastrectomia radical subtotal (75% do estômago + piloro + 2 cm do duodeno) + reconstrução à Billroth II ou a Y de Roux. > Linfadenectomia sempre, no Brasil, a mais realizada é linfadenectomia a D2. > Não se recomenda mais acrescentar ao procedimento a esplenectomia e a pancreatectomia caudal. Terapia adjuvante: radio e quimioterapia adjuvantes (após cirurgia) com 5-fluoracil + leucovorin nos seguintes pacientes: T3, T4 ou N positivo. Abordagem alternativa: quimioterapia pré e pós- operatória, sem radioterapia, usando o esquema ECF (epirrubicina + cisplatina + 5-FU). Recomendada principalmente nos tumores avançados, para tentar ressecção curativa. Câncer gástrico precoce: tratamento semelhante ao que acabamos de ver. No entanto, em alguns casos podemos tentar o tratamento endoscópico. Para isso a lesão deve preencher todos os seguintes requisitos: > Limitado a mucosa; > Não ulcerado; > < 2 cm; > Ausência de invasão linfovascular; > Bem diferenciados (subtipo intestinal). TRATAMENTO PALIATIVO > QT aumenta sobrevida, radioterapia apenas para controle de dor, sangramento, obstrução... O trastuzumabe (anticorpo anti-HER2) pode ser associado nos portadores do oncogene c-erbB2 (cerca de 20%). > Gastrectomia parcial ou gastroenteroanastomose nos pacientescom baixo risco cirúrgico melhoram o estado nutricional; dilatadores pneumáticos e stents para casos de obstrução com disfagia. LINFOMA GÁSTRICO O que eu preciso saber? https://medvideos.tech São menos de 5% dos cânceres gástricos. Mais comum: linfoma difuso de grandes células B (agressivo); 2º: linfoma MALT (indolente). Importante: a patogênese do linfoma MALT é intimamente ligada ao H. pylori → sua erradicação pode curar o paciente! Isso mesmo, tratar um linfoma com antibiótico!!! Se não resolver, indica-se QT com esquema CHOP + rituximab (a mesma do linfoma de grandes células). SARCOMA GÁSTRICO O que eu preciso saber? Menos de 3% dos cânceres gástricos. O mais importante é o sarcoma "GIST" (Gastrointestinal Stromal Tumor), cujo principal sítio é o estômago. A maioria é benigna. São originados das células intersticiais de Cajal. O marcador é o CD-117 (proto-oncogene c-kit). Seus maiores indicadores de malignidade são: TAMANHO e ÍNDICE MITÓTICO. Tratamento: cirurgia (sem linfadenectomia) ou mesilato de imatinibe (Gleevec), o mesmo da LMC, nos tumores CD-117 positivos irressecáveis ou metastáticos. Nos pacientes operados com GIST, também está indicado imatinibe como tratamento adjuvante nos casos com risco moderado a alto de recorrência ou metástase (> 3 cm, alto índice mitótico ou ressecados com ruptura capsular). CÂNCER GÁSTRICO − CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DE LAUREN https://medvideos.tech 3 – DOENÇAS DO DELGADO E CÓLON Questões Modelo 6 – Clarissa, uma paciente de 27 anos de idade, previamente hígida, iniciou um quadro, há 3 meses, de diarreia volumosa com muco, pus e sangue, além de febre ocasional e emagrecimento de 6 kg no período (10% de seu peso). Após realização de colonoscopia com biópsia, recebeu o diagnóstico de doença de Crohn. Considerando seu conhecimento sobre Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), aponte a alternativa INCORRETA: a) A paciente da questão pode complicar com fístulas e estenose de segmentos intestinais, pois estas alterações são mais comuns na doença de Crohn exatamente por esta apresentar um acometimento transmural, ou seja, acomete toda a espessura da parede intestinal, enquanto a retocolite ulcerativa só acomete a camada mucosa. b) Os achados na colonoscopia que auxiliaram no diagnóstico foram um acometimento descontínuo da mucosa intestinal, dando um padrão de "pedra de calçamento", junto com uma biópsia evidenciando granulomas não caseosos. c) A paciente, pelo seu tipo de DII, não irá evoluir para adenocarcinoma de cólon, complicação restrita à retocolite ulcerativa e cujo risco depende da extensão e da duração da doença, de modo que os pacientes com este espectro inflamatório intestinal devem ser submetidos anualmente a colonoscopia com biópsia após oito anos de evolução. d) O megacólon tóxico é uma complicação mais comum na retocolite ulcerativa, quando o paciente apresenta- se com importante distensão abdominal, redução de peristalse, febre, hipotensão e leucocitose, havendo um risco importante de perfuração, mas inicialmente o tratamento é clínico, com ATB e corticoide, podendo associar ciclosporina, embora saibamos da necessidade de excluir colite pseudomembranosa com a dosagem das toxinas A e B do Clostridium por ELISA. R. Letra C. 7 – Analisando as assertivas abaixo, coloque as letras C (doença de CROHN) e R (RETOCOLITE ulcerativa): ( ) Pode acometer todo o trato gastrointestinal. ( ) p-ANCA - / ASCA +. ( ) Acometimento contínuo e ascendente. ( ) A forma ileal é a mais comum. ( ) Colectomia cura a doença. ( ) Pode cursar com má absorção. ( ) Pode complicar com nefrolitíase por hiperoxalúria entérica (menor recirculação de sais biliares reduz a emulsificação intestinal de gordura, o que aumenta a quantidade, no lúmen intestinal, de ácido graxo que se associa ao cálcio, deixando o oxalato livre para ser absorvido). https://medvideos.tech R. C-C-R-C-R-C-C. A) DIARREIAS CLASSIFICAÇÕES 1. QUANTO AO TEMPO DE EVOLUÇÃO AGUDA (< 2 semanas) Infecciosa (> 90%) Virais: Rotavirus (principal agente em geral e nas crianças), Calcivirus, Adenovirus, Norovirus (principal em adultos). Bacterianas: E. coli enterotoxigênica (diarreia dos viajantes), Salmonella e Shigella (disenteria = diarreia "invasiva"), Campylobacter, Vibrio cholerae. Helmintos: Estrongiloides, Ancilostoma, Necator, Schistosoma, Trichuris, Enterobius, Taenia, Ascaris, Toxocara. Protozoários e outros agentes: Giardia, Entamoeba hystolitica, Cyclospora, Microsporidium, Cryptosporidium, Isospora belli, Mycobacterium avium. Não infecciosa Álcool (principal), medicamentos (ex.: eritromicina), toxinas (S. aureus, C. di�cile), doença inflamatória idiopática, isquemia enteromesentérica. Seja como for, a maioria dos casos é autolimitada... Exames = Só se houver sinais de alarme (diarreia abundante com desidratação, fezes francamente sanguinolentas, febre > 38.5ºC, ausência de melhora após 48h, novos surtos na comunidade, dor abdominal grave em pacientes com mais de 50 anos, idosos > 70 anos, imunodeprimidos, uso recente de antibióticos). Quais exames? > Hemograma + bioquímica. > EAF (Elementos Anormais nas Fezes) = Leucócitos fecais e sangue. > Lactoferrina = Substitui pesquisa de leucócitos (mais sensível). > Coprocultura = EAF positivo, suspeita de infecção. > Exame endoscópico = EAF positivo, suspeita de transtorno inflamatório ou isquemia enteromesentérica (também é obrigatório nos casos de SIDA). > Pesquisa da toxina do Clostridium di�cile. Tratamento Suporte clínico = Hidratação, nutrição, probióticos. Indicações de antibioticoterapia empírica: diarreia invasiva (disenteria), febre alta, > 8 evacuações/dia, duração > 7 dias, desidratação importante, idosos, imunocomprometidos, diarreia grave em viajantes. Escolha segundo o MS: quinolonas por três dias. Literatura americana: azitromicina 1 g em dose única. https://medvideos.tech PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DIARREICOS A SEREM LEMBRADOS PARA A PROVA Não pode usar agentes constipantes em pacientes com febre ou sinais de disenteria (risco de megacólon tóxico)!!! PERSISTENTE (2-4 semanas) Pode ser uma "aguda prolongada" ou o "início de uma crônica". *Algumas referências consideram: diarreia aguda < 3 semanas e crônica > 3 semanas. CRÔNICA (> 4 semanas) Infecciosa > Estrongiloidíase, amebíase , giardíase, Yersinia... Não infecciosa > Doenças inflamatórias intestinais. > Neoplasias (VIPoma, síndrome carcinoide e carcinoma medular de tireoide, gastrinoma, linfoma intestinal). > Colites (actínica, isquêmica, colágena). > Doenças disabsortivas: doença de Whipple, enterite eosinofílica, linfangiectasia, abetalipoproteinemia, espru tropical, insuficiência pancreática exógena, doença celíaca, colestase, síndrome do intestino curto, supercrescimento bacteriano. > Neuropatia diabética. > Uso crônico de laxativos, antirretrovirais. > Síndrome do intestino irritável. 2. QUANTO À ORIGEM ALTA Volume por evacuação: grande. Frequência: baixa. Tenesmo: não. Achados: restos alimentares. BAIXA Volume por evacuação: pequeno. Frequência: alta (> 10 evacuações). Tenesmo: sim. Achados: sangue, muco e/ou pus. 3. QUANTO AO MECANISMO FISIOPATOLÓGICO 1. Osmótica (presença de solutos não absorvíveis) > Melhora no jejum e retorna após refeição! > Gap osmolar fecal aumentado (> 125 = pouco Na+ e K+ nas fezes). > Ex.: deficiência de lactase: também cursa com fezes ácidas (pH < 5,5). 2. Secretória (muito Na+ e K+ nas fezes) > Gap osmolar fecal diminuído (< 50). > Alguma "toxina", endógena ou exógena, estimula secreção pelas criptas intestinais (ex.: VIPoma, sd. carcinoide, carcinoma medular de tireoide). 3. Má absorção (esteatorreia) Ver a seguir... 4. Inflamatória (infecciosa ou não: presença de leucócitos nas fezes – EAF) > Infecção indolente por Yersinia, doença inflamatória idiopática, amebíase. > Todas são positivas para leucócitos fecais, exceto amebíase... 5. Funcional (sem doença orgânica identificável) > Intestino irritável ("pseudodiarreia" porque < 200 g de fezes/dia), não ocorre no sono.> "Diarreia diabética" (neuropatia) – ocorre principalmente durante o sono... > "Factícia" – mulheres com distúrbio psiquiátrico (geralmente profissional de saúde), uso oculto de laxantes (fazer pesquisa de laxantes nas fezes e na urina). DIARREIAS AGUDAS INFECCIOSAS Rotavírus Principal causa de diarreia viral em crianças. Considerando- se todas as faixas etárias, também é a causa mais comum (diarreia aguda incide mais em crianças). Norovírus Principal causa de diarreia viral em adultos. E. coli enterotoxigênica Principal causa da diarreia dos viajantes. E. coli entero-hemorrágica (cepa O157:H7) e Shigella https://medvideos.tech Síndrome hemolítico-urêmica (anemia hemolítica microangiopática, insuficiência renal e plaquetopenia). S. aureus Toxina termoestável = diarreia na "família que comeu salada de batatas num piquenique" = incubação curta (1-6 horas). Campylobacter Pode complicar com Guillain-Barré. Clostridium di�cile Diarreia associada ao uso hospitalar de antibióticos → colite pseudomembranosa. Campylobacter, Yersinia enterocolitica e Yersinia pseudotuberculosis Pseudoapendicite → dor abdominal e toxicidade sistêmica mais proeminentes que diarreia. Vibrio colerae Diarreia aquosa profusa. SÍNDROME DISABSORTIVA DEFINIÇÃO A síndrome de "má absorção" é caracterizada por deficiências de vários nutrientes, porém, a alteração mais frequente – e que define o quadro – é ESTEATORREIA. TESTES DIAGNÓSTICOS 1. Pesquisa de esteatorreia: Quadro típico (fezes oleosas e malcheirosas) não precisa de exames! Caso contrário... > Qualitativo: Sudan III. > Quantitativo: coleta de 72h (> 7 g = esteatorreia). 2. Integridade da mucosa absortiva: > D-xilose urinária: se após dose oral não aparecer na urina = lesão da mucosa. 3. Função exócrina do pâncreas: > Teste da secretina (coleta direta das secreções após estimulação com secretina). 4) Teste de Schilling: - Quatro etapas para avaliar má absorção de vit. B12... a) B12 marcada "sozinha": se não aparece na urina = confirma má absorção. b) B12 + fator intrínseco: se aparece na urina = anemia perniciosa. c) B12 + extrato pancreático: se aparece na urina = insuficiência exócrina do pâncreas. d) Antimicrobiano empírico: se aparece na urina = supercrescimento bacteriano. 5. Teste respiratório: > C14 = supercrescimento bacteriano. > H2 = deficiência de lactase. 6. Cultura do aspirado duodenal: > Padrão-ouro para supercrescimento bacteriano. 7. Exames radiológicos: > Calcificação pancreática = pancreatite crônica. > Diverticulose de delgado = supercrescimento bacteriano. > "Pedras de calçamento" = doença de Crohn. 8. EDA + biópsia: > Doença celíaca e doença de Whipple. https://medvideos.tech VÍNCULOS PARA AS PRINCIPAIS DOENÇAS ASSOCIADAS Insuficiência exócrina do pâncreas > Principal causa = pancreatite crônica alcoólica (história de etilismo + dor abdominal crônica). > Tratamento = reposição de extrato pancreático (lipase). Gastrinoma (síndrome de Zollinger-Elison) > Hipersecreção ácida do estômago inibe alcalinização duodenal (inativa lipase). Supercrescimento bacteriano > Marca clínica: deficiência de vit. B12!!! > Screening = teste respiratório. > Diagnóstico = cultura do aspirado duodenal. > Tratamento = cefalosporina + metronidazol. Doença de Crohn Ileíte terminal = impede absorção de vit. B12 e ácidos biliares (ciclo entero-hepático) – ver adiante... Deficiência de lactase (intolerância à lactose) > Primária = causa mais comum de diarreia crônica no mundo! > Secundária = transitória (lesões agudas da mucosa, ex.: infecção). > Diagnóstico = teste exalatório de H2. > Tratamento = abstinência de laticínios. Doença celíaca (intolerância ao glúten) = (trigo, centeio, cevada e aveia) > Sintomas: gerais → emagrecimento, atraso puberal, deficit de crescimento; GI → diarreia com características de má absorção; neurológicos → depressão, epilepsia, enxaqueca, ataxia cerebelar; deficiências nutricionais = anemia e osteoporose. > São oligossintomáticos (conceito da "ponta do iceberg"). > Marca diagnóstica = atrofia das vilosidades duodenais (vista na EDA) + hiperplasia das criptas (vista na biópsia). Os anticorpos podem ajudar no screening (antiendomísio, antigliadina, antitransglutaminase tecidual). Biópsia = padrão-ouro. > Tratamento: abstinência de alimentos que CONTÊM GLÚTEN − associação estatística com diabetes, dermatite herpetiforme, tireoidite, cirrose biliar primária, além de linfoma T intestinal. Doença de Whipple (infecção por Tropheryma whipplei) > Sd. disabsortiva + febre + artrite + adenomegalias + sintomas neurológicos (nistagmo, oftalmoplegia, distúrbios dos nervos cranianos). > Achados patognomônicos: miorritmia oculomastigatória e oculofacialesquelética, acompanhada de paralisia de olhar vertical supranuclear. > Diagnóstico = EDA + biópsia duodenal (macrófagos PAS+). > Tratamento = nos casos graves, penicilina G (ou ceftriaxona) 14 dias, depois Bactrim® oral por um ano... Teste da excreção respiratória do hidrogênio na deficiência de lactose. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL − DOENÇA DE CROHN (DC) E RETOCOLITE ULCERATIVA (RCU) EPIDEMIOLOGIA Fator de risco: história familiar. Fumo: protege na RCU, piora DC!!! Apendicectomia: protege RCU e aumenta risco de DC. ACO: aumenta risco de DC. AINE: piora as duas. Picos de incidência: 15-30 anos e 60-80 anos. MANIFESTAÇÕES EXTRAINTESTINAIS https://medvideos.tech Ocorrem em até 1/3 dos pacientes... Artrite: é a mais comum, aparecendo pp na DC. > Oligoartrite periférica: boa correlação com atividade intestinal. > Padrão espondiloartropatia: NÃO... Pele: > Eritema nodoso (mais comum na DC). *Boa correlação com atividade intestinal. > Pioderma gangrenoso (mais comum na RCU). *Geralmente durante atividade intestinal, mas pode ocorrer de forma independente. Ocular: uveíte, conjuntivite, episclerite. *Pode vir associada à colite ou não. Hepatobiliar: > Colangite esclerosante na RCU. Pode ser detectada antes ou depois. > Litíase biliar na DC, relacionada à doença ileal. Outras: esteatose, hepatite crônica ativa, pericolangite. Renal: hiperoxalúria entérica (litíase) – só na DC (por causa da sd. de má absorção). PATOLOGIA E CLÍNICA RCU Crohn Só có lon/só mu cosa/ascen‐ dente/uni forme (contínua). Evolui p/ "cano de chumbo". Pseudopólipos. Diarreia "invasiva" (san‐ gue/pus/mu co). Criptites na biópsia. Resposta ao tratamento: melhora do ceco para o reto. A piora do quadro segue o caminho inverso... Todo o TGI/trans mural/des‐ contínua ("sal teada")/peri‐ anal. Evolui p/ "pedras de calçamento". Úlceras aftoides. Diarreia "invasiva"... E má absorção, doença oral, gastro duodenal, perianal ou íleo terminal (típico). Só ela tem... Granuloma (30%) não caseosos e colite sem proctite (poupa o reto ). Massa abdominal sugere abscesso! COMPLICAÇÕES AMBAS 1. Hemorragia: anemia ferro priva. 2. Megacólon tóxico: "paciente séptico + cólon dilatado (> 6 cm)" − antidiarreicos podem provocar esse quadro! 3. Câncer: adeno de cólon = risco muito maior na RCU (íntima relação com tempo e extensão da doença). Também linfoma e colangiocarcinoma. SÓ NA DC (transmural) > Estenoses: "cólica + distensão pós-prandial". > Fístulas: – Enteroentérica: mais comum. – Enterocutânea: no pós-op. – Enterovesical: ITU de repetição. DIAGNÓSTICO https://medvideos.tech RCU: retossigmoidoscopia + biópsia = padrão macroscópico típico. DC: ileocolonoscopia + biópsia = padrão típico + envolvimento do íleo terminal. Trânsito de delgado, fístulas perianais, EDA (doença ulcerosa) e encontro de granulomas na biópsia falam a favor de DC!!! Autoanticorpos sugerem: p-ANCA – RCU e ASCA – DC. Exame útil no segmento ambulatorial: proteína C-reativa C reativa! (valor muito alto = abscesso). RCU: colonoscopia fora das exacerbações agudas, para determinar extensão e atividade de doença. TRATAMENTO DC > Leve-moderada (estratégia step up: aumentar a intensidade do tratamento, conforme necessário) – Indução: derivado do 5-ASA -->antibióticos (metro/cipro/rifaximina) --> corticoides --> imunomoduladores e/ou anti-TNF. – Manutenção: derivado do 5-ASA --> imunomoduladores --> anti-TNF. *Derivados do 5-ASA com sulfa só agem no cólon. > Moderada-Grave (estratégia top down: já começar com "a mão pesada"). – Indução e manutenção: anti-TNF + imunomodulador (azatioprina). RCU > Leve-moderada – Indução: 5-ASA. Se necessário, associar corticoides --> imunomoduladores. Naqueles que não respondem às terapias combinadas, biológicos. > Grave a fulminante – Suporte clínico + antibióticos + corticoides. Se necessário, associar anti-TNF ou ciclosporina. Na ausência de reposta, colectomia. – Manutenção (independente da gravidade): 5-ASA. Se necessário, associar: imunomoduladores. Refratários: proctocolectomia total. *Anti-TNF ainda em fase de estudos para manutenção na RCU. CONCEITOS ESPECÍFICOS https://medvideos.tech > RCU: colectomia cura a doença! Anastomosar bolsa ileal com canal anal. "Bolsite" = corticoide + metro ou cipro. > Colite distal: – proctite isolada → supositório de mesalazina; – proctossigmoidite → enema de mesalazina. > Megacólon: dieta zero + corticoide IV + cipro + genta... se não melhora = ciclosporina IV... se não melhora ou perfura = colectomia em dois tempos (Hartmann). > Cirurgia na DC: não é curativa, e deve ser evitada (risco de "sd. do intestino curto": serão muitas cirurgias...). Inclusive, o ato operatório está associado à fistulização e recidivas... Só indicada nas complicações clinicamente intratáveis: – Obstrução grave; – Abscessos; – Fístulas refratárias; – Hemorragias incoercíveis. Doença de Crohn. Colite ulcerativa e cirurgia. Retocolite ulcerativa. https://medvideos.tech Acometimento cutâneo na DII: eritema nodoso. Pioderma gangrenoso. Acometimento ocular na DII: conjuntivite (esquerda), uveíte (centro) e episclerite (direita). COLITE PSEUDOMEMBRANOSA (CPM) FISIOPATOLOGIA Uso de ATB de amplo espectro → superinfecção por Clostridium di�cile → produção de toxinas A (secretória) e B (citotóxica) → formação das pseudomembranas . Quais Antibióticos? TODOS! Porém os mais frequentes são: 1. Clindamicina (2%); 2. Ampicilina (0,3%); 3. Cefalosporinas e amoxici lina; 4. Quinolonas. O quadro se inicia em até seis semanas após o término do ATB. PREVENÇÃO Evitar uso indiscriminado de antibióticos. CLÍNICA Gravidade vai da diarreia leve até o megacólon tóxico (com perfuração)... Maioria = diarreia aquosa profusa + dor abdominal + febre + uso de ATB. Pode vir associada à febre (28%), dor abdominal (22%) e leucocitose (50%). Nos últimos anos, a frequência e a gravidade dos quadros têm aumentado muito, em boa parte atribuídas ao desenvolvimento de uma cepa "epidêmica" (NAP-1/027) capaz de produzir muito mais toxinas. DIAGNÓSTICO Combinação de critérios: 1. Diarreia (três ou mais evacuações por dia de fezes não moldadas por, pelo menos, dois dias) + 2. Detecção de toxina A ou B nas fezes OU detecção de C. di�cile, produtor de toxina na coprocultura OU visualização das pseudomembranas na endoscopia. TRATAMENTO https://medvideos.tech > Suspender ATB causal (se possível). > Medicação de escolha: vancomicina (VO). > Alternativa: fidaxomiicna (VO). > Casos graves: vancomiicna (VO) + metronidazol (IV). NÃO USAR ANTIDIARREICO!!! Perfuração = colectomia à Hartmann (depois reconstrói o trânsito com anastomose ileorretal...). ARMADILHA DE PROVA > DII bem controlada tem surto de colite grave = excluir CPM com dosagem de toxinas (contraindica imunossupressores...). > A pseudomembrana só é visualizada em 50% dos pacientes com cultura positiva nas fezes. Colite pseudomembranosa (visão endoscópica e histopatológica). SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA Dor abdominal crônica + alteração do hábito intestinal sem evidência de doença orgânica. Predomina em mulheres dos 30-50 anos. Associação com distúrbios psiquiátricos e fatores psicossociais. FISIOPATOLOGIA 1. Dismotilidade: Delgado: contrações jejunais "em salvas"; Cólon: exacerbação do reflexo gastrocólico. 2. Hipersensibilidade visceral. 3. Processamento sensorial alterado no SNC. DIAGNÓSTICO De exclusão, através dos critérios de Roma IV: A. Excluir doença orgânica. B. Dor abdominal recorrente, acontecendo, em média, pelo menos um dia por semana nos últimos três meses, associada com dois ou mais dos seguintes: 1. Relação com defecação; 2. Mudança na frequência da defecação; 3. Mudança na forma (consistência) das fezes. Os sintomas devem ter começado há pelo menos seis meses. COMO EXCLUIR DOENÇA ORGÂNICA Se os critérios de Roma estiverem presentes, a ausência dos seguintes sinais de alerta permite fechar o diagnóstico sem nenhum outro exame complementar... Hematoquezia/perda ponderal/anemia/história familiar de câncer/febre/diarreia intensa com desnutrição ou desidratação/idade avançada. TRATAMENTO > Aumento na ingesta de fibras (20-30 g). Psicoterapia (ex.: biofeedback ). > Sintomáticos: – Diarreia = antidiarreicos; – Constipação = procinético + laxativos (evitar os "irritativos", como bisacodil); – Cólicas = antiespasmódicos - antidepressivos = tricíclicos e ISRS. ANTAGONISTAS SEROTONINÉRGICOS = alosetron (contraindicado na constipação grave: colite isquêmica). O tegaserode foi retirado do mercado (complicações cardiovasculares). https://medvideos.tech TUMOR NEUROENDÓCRINO INTESTINAL E SÍNDROME CARCINOIDE DEFINIÇÃO E LOCALIZAÇÃO > Neoplasia maligna do sistema neuroendócrino difuso (no intestino = célula enterocromafim ). > Sítio mais comum do tumor carcinoide* = apêndice, seguido pelo íleo distal. > Sítio mais comum de tumor causando síndrome carcinoide: íleo com metástase. Tamanho do tumor = chance de metástase. *Controverso: segundo algumas referências que colocam o íleo na frente. CLASSIFICAÇÃO (intestinos embrionários) ANTERIOR: Pulmão, brônquios e estômago. Sd. de Cushing (ACTH), acromegalia (GH) e sd. carcinoide atípica (histamina). MÉDIO: Intestino delgado. Sd. carcinoide clássica (serotonina). Sua presença indica que já existem metástases hepáticas!!! POSTERIOR: Cólon, reto. Podem produzir somatostatina e peptídeo YY. DIAGNÓSTICO > Diagnóstico da Sd. carcinoide: ácido 5-hidroxi-indolacético na urina de 24h (5-HIAA). > Imuno-histoquímica = cromogranina A, serotonina. > Cintilografia = análogo de somatostatina radioativamente marcado (este método também dá o estadiamento). > TC abdominal. SD. CARCINOIDE Flushing, diarreia, broncospasmo e fibrose do endocárdio à direita (insuficiência tricúspide). > Apenas 5% dos tumores carcinoides produzem a síndrome carcinoide! > Mais de 90% dos tumores que causam síndrome carcinoide são metastáticos. > Desencadeantes: ansiedade, alimentação (aumento de catecolaminas). "Crise carcinoide" : sintomas mais graves, com instabilidade hemodinâmica. > Desencadeantes: indução anestésica, manipulação cirúrgica do tumor. > Profilaxia: octreotide antes da cirurgia! TRATAMENTO No apêndice: > < 1 cm na ponta do apêndice = apendicectomia; > > 1-2 cm na base do apêndice ou com invasão do mesoapêndice = hemicolectomia direita. Inespecífico: > Diarreia = loperamida; > Flushing = anti-histamínico; > Broncospasmo = prednisona + xantina. Específico: > OCTREOTIDE (análogo somatostatina); > Cirurgia sempre que possível. Doença extensa: > Pelagra = repor vit. B3 (niacina). https://medvideos.tech Questões Modelo 8 – A neoplasia maligna colorretal mais comum é o adenocarcinoma, que classicamente surge na sequência adenoma-adenocarcinoma, de modo que as características que conferem, ao pólipo adenomatoso, uma maior chance de malignização são: tamanho > 2 cm, caráter viloso e alto grau de displasia. Com base nos seus conhecimentos sobre a doença poliposa intestinal e o câncer colorretal, assinale a alternativa INCORRETA: a) Cowden e Peutz-Jeghers são exemplos de síndromes de polipose adenomatosa, de forma que, além da alteração polipoide intestinal, a primeira pode apresentar hiperceratose palmoplantar
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