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Estimulação Fonoaudiológica através da Brincadeira

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BRINCAR: proposta de estimulação fonoaudiológica
Ana Carolina dos Santos MACHADO **
Helga Silva PEREIRA**
	Jaqueline Maria Oliani IJUIM*
Resumo: A palavra chave hoje é prevenção. Ao estimular fala, linguagem e audição estamos prevenindo. A estimulação pode ser realizada aproveitando-se o que a criança mais gosta de fazer: brincar.
	Ao atuar na escola o fonoaudiólogo poderá desenvolver, juntamente com o professor, várias atividades na sala de aula, oferecendo aos alunos através de brincadeiras, meios para desenvolver sua fala; trabalhar a produção articulatória; estimular a linguagem; estimular a audição, bem como levar ao conhecimento destes cuidados com sua voz e respiração.
	Unitermos: brincar
		 estimulação fonoaudiológica
		 fonoaudiologia preventiva
INTRODUÇÃO
	Desde os seus primórdios, na década de 60, a Fonoaudiologia caminhou muito. Inicialmente, a formação do fonoaudiológo, bem como sua atuação eram mais voltadas para a área clínica - reabilitação. Posteriormente, veio a Fonoaudiologia Educacional e a Fonoaudiologia Preventiva e iniciamos o trabalho de prevenção.
	 Como Fonoaudiologia Educacional entendemos o fonoaudiólogo participante de uma equipe escolar - professores, orientadores, psicólogos, etc - realizando um trabalho de palestras/orientações para pais e professores; triagem dos alunos; participação na realização dos planejamentos; participação na escolha e elaboração do material didático; orientação nas atividades de linguagem oral e gráfica, bem como na proposta de atividades para estimulação da fala, linguagem, audição e fonação.
	Entre as atividades do fonoaudiólogo na escola, está a elaboração de atividades de prevenção, pela qual além de detectar precocemente as alterações, devem ser propostas atividades para uma intervenção direta, com trabalhos de estimulação na sala de aula, juntamente com os professores (CASANOVA, 1997:335).
	Quando falamos de uma proposta de estimulação na pré-escola, nos referimos a uma Fonoaudiologia Preventiva - pois estamos eliminando, minimizando ou interceptando fatores que poderão interferir no processo de aquisição e desenvolvimento dos aspectos relacionados à comunicação. 
	Linguagem é comunicação. Comunicação é interagir com outras pessoas. Para que o processo de comunicação se realize de maneira adequada é necessária a interação criança-meio, pois é através desta interação que a linguagem se desenvolve. A criança recebe do meio os estímulos necessários para este desenvolvimento. Estes estímulos têm início na família e continuam na escola. A escola é onde a criança fica tempo considerável, e é com o professor que ela mantém mais contato - neste contexto, a escola deve ser uma fonte riquíssima de estímulos. 
	Tanto o fonoaudiólogo como o professor têm como objeto de trabalho a linguagem. O professor utiliza a linguagem para o ensino-aprendizagem e o fonoaudiólogo previne, detecta e reabilita as alterações de linguagem. Neste encontro, temos uma “relação de complementaridade entre professor e fonoaudiólogo, entre escola e Fonoaudiologia” (SCAVAZZA, 1990).
	Se o professor utiliza a linguagem para o ensino-aprendizagem, um distúrbio de linguagem oral, escrita ou na audição pode dificultar o processo de aprendizagem escolar. Se esses distúrbios são detectados precocemente, o professor e a família podem ser orientados a estimular essa criança ou, quando necessário, poderá ser encaminhada para reabilitação.
	A pré-escola é uma etapa de grande desenvolvimento cognitivo e da linguagem. Aspectos da linguagem expressiva, relativos à fonologia, sintaxe, semântica, léxico, usos e funções comunicativas - ampliam-se e se aperfeiçoam neste período. É esperado que aos 5 anos a criança fale todos os sons da língua como o adulto - de maneira clara e compreensível -, daí pra frente vai ampliar seu vocabulário.
“A criança é um ser que brinca/joga e nada mais.”
CHATEAU
A BRINCADEIRA E A NATUREZA INFANTIL
	A criança brinca, brinca e brinca, e, através das brincadeiras desenvolve-se, descobre primeiramente seu corpo, depois os objetos e o que a cerca. Não se pode imaginar a infância sem brincadeiras. Uma criança que não sabe brincar, uma criança muito quieta, pode estar avisando que algo não está bem.
	PIAGET faz uma análise do processo do desenvolvimento do indivíduo e a função do jogo no desenvolvimento intelectual. O autor descreve, classifica e explica o jogo nas diferentes fases do desenvolvimento da criança. Nas fases iniciais do desenvolvimento, observa-se que os jogos, são puramente funcionais, correspondem a gestos espontâneos que o bebê repete (sugar o dedo, pegar um objeto).
	A etapa que vai do nascimento até o aparecimento da linguagem é caracterizada pelos jogos de exercício, que tem como finalidade principal o próprio prazer do funcionamento, é o prazer sensorial que comanda este período. Estes jogos caracterizam as fases do desenvolvimento pré-verbal.
	Entre os 12-18 meses a ação começa a desligar-se do contexto e inicia a conduta do faz-de-conta. Dos 18-24 meses, começa a transição para o estágio pré-operatório, surge a representação e a invenção, caracterizando a brincadeira simbólica. A criança passa de um período o qual a atividade mental está baseada nos movimentos, no imediato, para uma fase de raciocínio mais completa, mais lógica. Os jogos simbólicos caracterizam a fase que vai do aparecimento da linguagem - 2 anos - até 6-7 anos. Nesta fase surgem novas formas de símbolos lúdicos.
	Simbolizar é representar um objeto ausente e no jogo simbólico a criança se interessa pelas realidades simbolizadas e o símbolo serve somente para evocá-las. Os conteúdos representados são os objetos das atividades da criança e de sua vida, que são possíveis de ser evocados e pensados graças aos símbolos. No jogo de faz-de-conta a criança usa do simbolismo para expressar sua visão de mundo.
	“O fato do jogo criar uma situação imaginária determina o desenvolvimeneto do pensamento abstrato, desde o ponto de vista do desenvolvimento. A 
	Dos 4-7 anos os jogos simbólicos começam a diminuir e seu declínio evidente acontece entre 7-8 anos e 11-12 anos, dando espaço aos jogos de regras. A regra substitui o símbolo, e supõe, necessariamente, relações sociais ou interindividuais. A regra é estabelecida pelo grupo e sua violação constitui uma falta. 
	Segundo GESELL (1987:375), “...a brincadeira da criança possui qualidades análogas. Brota espontaneamente de impulsos instintivos que representam necessidades do desenvolvimento. Prepara-a para a maturidade. É um agradável exercício natural das forças do crescimento.”
	Para CHATEU (1987:14,21), “...uma criança que não sabe brincar... será um adulto que não saberá pensar... a infância é, portanto, aprendizagem à idade adulta”, pois ele admite “...ser o jogo a fonte comum de todas as atividades superiores.” 
	Podemos considerar que o jogo tem um papel importante no desenvolvimento da criança. A criança realiza-se plenamente entregando-se por inteiro no jogo. A criança vive num mundo da brincadeira, quase toda atividade é jogo, e é através dele que ela antecipa condutas que vai desenvolver. O jogo vai exercitar funções que a criança está adquirindo - através dele ela treina sua fala, amplia seu vocabulário, desenvolve sua linguagem.
	RONCADA & MARQUES (1998) dizem “....quando é possível brincar, a comunicação ocorre de uma forma diversa, tão ou mais satisfatórias que aquela por meio de discurso.” Havendo comunicação, ocorre a interação entre aluno e professor. A interação, segundo as mesmas autoras “...envolve um estado complementar: a motricidade tem seu lugar, a atenção é solicitada, a memória é exigida, planos intelectuais são postos em funcionamento, conceitos são adquiridos ou reforçados.”
 	
BRINCAR: UMA PROPOSTA DE ESTIMULAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
	A utilização de brincadeiras enquanto meio para estimulação fonoaudiológica foi aplicado numa escola municipal de Campo Grande (1)e vem surtindo bons resultados. Atualmente este projeto vem sendo desenvolvido nos Centro de Educação Infantil (CEINFs) de Campo Grande. Inicialmente foi realizado um levantamento das áreas que seriam estimuladas - fala, audição (atenção, percepção e discriminação auditiva), fonação, respiração e linguagem. Posteriormente, foram elaboradas as brincadeiras e os materiais necessários e partiu-se para a aplicação destas brincadeiras em duas salas da pré-escola da referida escola.
	As brincadeiras propostas podem ser desenvolvidas pelo fonoaudiólogo na escola (junto com os alunos) e ensinada para o professor que poderá incluir no seu planejamento. Os itens que poderemos estimular são: linguagem (vocabulário, expressão, compreensão, regras gramaticais); treinar os sons da fala (articulação e motricidade oral); voz (através de estórias, músicas, brincadeiras com vozes diferentes); respiração (com estórias e brincadeiras de sopro); audição (percepção e discriminação auditiva) além dos aspectos cognitívos (noção temporal e espacial, direita e esquerda, memória, etc).
	Com a estimulação através de brincadeiras, atenderemos as quatro áreas da fonoaudiologia: linguagem (oral e escrita), motricidade oral, voz e audição.
	As brincadeiras elaboradas devem ter conteúdo e material diversificado, para estimular várias áreas. Por exemplo o jogo Corrida do Som, em que a criança deve correr um percurso imitando o som da figura que o professor/fonoaudiólogo mostrou (cobra) e no final do percurso ela deverá pegar uma figura/letra/sílaba/palavra - estará estimulando na criança a associação do som (ssss) com determinadas figuras; posteriormente poderemos mostrar uma cartela com a letra S, solicitando que a criança pegue figuras com este som e num outro momento palavras com este som, para cada etapa deste jogo o objetivo é diferente. No último estágio estaremos estimulando - um som /s/ que pode ser escrito com várias grafemas (ss, ç, c, xc...).
	O material básico para estas brincadeiras são cartelas com figuras, que poderão estar separadas por classes - animais, frutas, objetos; cartelas com letras, sílabas, palavras, frases; figuras para elaboração de estórias. Também poderemos utilizar músicas - poderemos trabalhar intensidade vocal (música da Casinha - onde começa a cantar bem baixo, estando todos agachados, conforme vamos erguendo o corpo, vamos aumentado de intensidade), movimentos articulatório (músicas que na letra vai modificando as vogais - O sapo - La sapa na lava pa, le sepe ne leve pe).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	O jogo é a atividade essencial da criança e pode ser utilizado para a estimulação de aprendizagens específicas, pois o jogo não é somente um divertimento ou recreação, é além de tudo uma atividade natural e que satisfaz a criança.
	Na escola o jogo seria um instrumento pelo qual o fonoaudiólogo e/ou o professor poderão estimular aspectos fonoaudiológicos que são importantes para o ensino/aprendizagem, pois o jogo é útil para estimular o desenvolvimento integral da criança.
	A estimulação através de brincadeiras pode ser realizada dentro da sala de aula, para tanto o fonoaudiólogo deve participar do planejamento destas atividades juntamente com o professor, atuando juntos com um único objetivo -o progresso do aluno.
	As vivências lúdicas podem propiciar todo tipo de desenvolvimento e na faixa etária da pré-escola os brinquedos aparecem com muita freqüência, então, por que não unir o prazer de brincar com a estimulação!
Bibliografia:
ABRAMOWICZ, A. & WAHSKOP, G. Educação infantil – creches. São Paulo:Moderna, 1999, 2ª ed.
BENJAMIN, Walter. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984.
BEFI, D. Fonoaudiologia na atenção primária à saúde. São Paulo:Lovise, 1997.
CASANOVA, J.Penã e col. Manual de Fonoaudiologia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
CHATEAU, Jean. O jogo e a criança. São Paulo: Summus, 1987.
FERREIRA, Léslie Piccolotto (org). O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus, 1991.
FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender. O resgate do jogo infantil. São Paulo: 
 Editora Moderna, 1996.
GIROTO, C.R. (org.) Perspectivas atuais da fonoaudiologia na escola. São Paulo : Plexus, 1999 
KESSELRING, Thomas. Jean Piaget. Petropólis: Vozes, 1993.
KISHIMOTO, T.M. (org) O brincar e suas teorias. São Paulo:Pioneira, 1998
________ Jogos infantis. Petrópolis:Vozes, 1998.
LAGROTA, M.G.M., CESAR, C.P.H.A.R. A fonoaudiologia nas instituições. São Paulo : Lovise, 1998
MARINHO, H.S. Brincar e reeducar. O folclore infantil em psicomotricidade e fonoaudiologia. Rio de Janeiro : Revinter, 1993
OLIVEIRA, V.B. de (org) O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis:Vozes, 2000
RONCADA A.M.G.A.& MARQUES, M.R.G.A. 100 jogos aplicados à prática fonoaudiológica. São Paulo : Lovise, 1998..
SACALOSKI, M. et alli. Fonoaudiologia na escola. São Paulo : Lovise, 2000
SANTOS, S.M.P. dos Brinquedo e infância. Petrópolis:Vozes, 2000, 2ª ed.
________, Brinquedoteca – o lúdico em diferentes contextos. Petrópolis:Vozes, 2000, 5ª ed.
SCAVANZA, BL. Um dia da caça, outro... In FERREIRA, LP. O fonoaudiólogo e a escola. 3ª ed. São Paulo: Plexus Editora, p.119.
SOUZA, Susana Bueno. A fonoaudiologia no âmbito escolar. São Paulo: Lilivros, 1998
VILA, G.B.de & MULLER, M. Brincadeiras e atividades recreativas. São Paulo:Paulinas, 1999, 5ª ed.
(1) Projeto - “A atuação fonoaudiológica preventiva na Escola Municipal Vandete Rosa da Silva” - integrado ao Projeto Mais - Mais que a Universidade ação com a Comunidade, desenvolvido pelas acadêmicas Ana Carolina dos Santos Machado e Helga Silva Pereira, sob minha orientação. Iniciado em março/99 e término em dezembro/99.
* Fonoaudióloga, Especialista em Motricidade Oral, Docente do Curso de Fonoaudiologia da Unversidade Católica Dom Bosco
** Acadêmicas do curso de Fonoaudiologia da Universidade Católica Dom Bosco

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