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1 – – – Histamina e anti-histamínicos Sabe-se, há muito tempo, que muitos tecidos contêm substâncias que, quando liberadas por vários estímulos, produzem efeitos fisiológicos, como vermelhidão na pele, dor ou prurido e broncospasmo. Posteriormente, foi descoberto que muitas dessas substâncias também estão presentes no tecido nervoso e desempenham múltiplas funções. A histamina e a serotonina (5-HT) são aminas biologicamente ativas que atuam como neurotransmissores e são encontradas em tecidos não neurais. Ambas exercem efeitos fisiológicos e patológicos complexos por meio de múltiplos subtipos de receptores e, com frequência, são liberadas localmente. Junto com os peptídeos endógenos, as prostaglandinas e os leucotrienos e as citocinas, constituem o denominado grupo autacoide de fármacos. Em virtude de seus amplos efeitos periféricos, em grande parte indesejáveis, nem a histamina nem a serotonina têm qualquer aplicação clínica no tratamento de doenças. Entretanto, os compostos que ativam seletivamente determinados subtipos de receptores ou que antagonizam de forma seletiva as ações dessas aminas possuem considerável utilidade clínica. Farmacologia básica da histamina Química e farmacocinética A histamina é encontrada tanto em plantas como em tecidos animais e é um componente de alguns venenos e secreções irritantes. É formada pela descarboxilação do aminoácido l- histidina, uma reação catalisada nos tecidos de mamíferos pela enzima histidina descarboxilase. Uma vez formada, a histamina é armazenada ou rapidamente inativada. Uma quantidade muito pequena de histamina é excretada em sua forma inalterada. A principal via metabólica envolve a conversão em N- metil-histamina, ácido metilimidazolacético e ácido imidazolacético (IAA). Certas neoplasias (mastocitose sistêmica, urticária pigmentosa, carcinoide gástrico e, em certas ocasiões, leucemia mielogênica) estão associadas a um aumento no número de mastócitos ou basófilos e à secreção aumentada de histamina e seus metabólitos. A maior parte da histamina tecidual é sequestrada e ligada em grânulos (vesículas) nos mastócitos ou basófilos. O conteúdo de histamina de muitos tecidos está diretamente relacionado com o conteúdo de mastócitos. A forma ligada da histamina é biologicamente inativa; entretanto, vários estímulos podem desencadear a liberação de histamina dos mastócitos, permitindo à amina livre o exercício de suas ações nos tecidos circundantes. Os mastócitos são numerosos nos locais de lesão tecidual potencial – nariz, boca e pés; superfícies corporais internas; e vasos sanguíneos, sobretudo nos pontos de pressão e nas bifurcações. A histamina não mastocitária é encontrada em diversos tecidos, inclusive no cérebro, onde atua como neurotransmissor. Evidências convincentes implicaram a histamina como neurotransmissor 2 – – – endógeno em muitas funções cerebrais, como controle neuroendócrino, regulação cardiovascular, termorregulação, regulação do peso corporal e sono e vigília A célula tipo enterocromafin (ECL, de enterochromaffin- -like) do fundo gástrico constitui um segundo local não neuronal importante de armazenamento e liberação da histamina. As células ECL liberam histamina, um dos principais secretagogos do ácido gástrico, ativando as células parietais produtoras de ácido da mucosa Armazenamento e liberação As reservas de histamina nos mastócitos podem ser liberadas por meio de vários mecanismos 1 – Liberação imunológica Os processos imunológicos são responsáveis pelo mecanismo fisiopatológico mais importante de liberação de histamina dos mastócitos e basófilos. Quando sensibilizadas por anticorpos IgE fixados à sua membrana de superfície, essas células sofrem desgranulação explosiva ao serem expostas ao antígeno apropriado. Esse tipo de liberação também necessita de energia e de cálcio. A desgranulação leva à liberação simultânea de histamina, trifosfato de adenosina (ATP) e outros mediadores armazenados juntos dentro dos grânulos. A histamina liberada por esse mecanismo atua como mediador nas reações alérgicas imediatas (tipo I), como febre do feno e urticária aguda. 3 – – – As substâncias liberadas durante as reações imunes mediadas por IgG ou IgM, que ativam a cascata do complemento, também liberam a histamina dos mastócitos e basófilos. Por meio de um mecanismo de controle por retroalimentação negativa, mediado por receptores H2, a histamina parece modular a sua própria liberação e a de outros mediadores dos mastócitos sensibilizados em alguns tecidos. Nos seres humanos, os mastócitos da pele e os basófilos apresentam esse mecanismo de retroalimentação negativa, o que não ocorre com os mastócitos pulmonares. Por conseguinte, a histamina pode atuar ao limitar a intensidade da reação alérgica na pele e no sangue A histamina endógena desempenha uma função moduladora em uma variedade de respostas inflamatórias e imunes. Após lesão de um tecido, a histamina liberada provoca vasodilatação local e extravasamento de plasma, contendo mediadores da inflamação aguda (complemento, proteína C-reativa) e anticorpos. A histamina tem uma atração quimiotática ativa para 4 – – – as células inflamatórias (neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos). A histamina inibe a liberação do conteúdo dos lisossomos, bem como várias funções dos linfócitos T e B. Essas ações são mediadas, em sua maior parte, por receptores H2 ou H4. A liberação de peptídeos pelos nervos em resposta à inflamação também é provavelmente modulada pela histamina, que, neste caso, atua por meio de receptores H3 pré-sinápticos. 2 - Liberação química e mecânica Certas aminas, incluindo fármacos como a morfina e a tubocurarina, podem deslocar a histamina de sua forma ligada no interior das células. Esse tipo de liberação não requer energia e não está associado a lesão ou desgranulação dos mastócitos. A perda dos grânulos dos mastócitos também libera histamina, visto que os íons de sódio no líquido extracelular deslocam rapidamente a amina do complexo. As lesões químicas e mecânicas dos mastócitos causam a sua desgranulação, com liberação da histamina. Farmacodinâmica Mecanismo de ação A histamina exerce suas ações biológicas por meio de sua combinação com receptores específicos, localizados na membrana celular. Foram caracterizados quatro receptores de histamina diferentes, designados como H1 a H4. Todos os quatro tipos de receptores foram clonados e pertencem à grande superfamília de receptores acoplados à proteína G (GPCR). As estruturas dos receptores H1 e H2 diferem sobremaneira e parecem se relacionar mais estreitamente com os receptores muscarínicos e 5-HT1, respectivamente, do que entre si Foi constatado que todos os quatro receptores de histamina têm atividade constitutiva em alguns sistemas; por conseguinte, alguns anti-histamínicos previamente considerados como antagonistas farmacológicos tradicionais devem ser, hoje, considerados como agonistas inversos. Com efeito, muitos bloqueadores H1 de primeira e de segunda gerações atuam como agonistas inversos. Além disso, uma única molécula pode ser um agonista em determinado receptor de histamina e um antagonista ou agonista inverso em outro. Por exemplo, o clobempropite, um agonista dos receptores H4, é um antagonista ou agonista inverso nos receptores H3 No cérebro, os receptores H1 e H2 localizam-se nas membranas pós-sinápticas, ao passo que os receptores H3 são predominantemente pré-sinápticos. A ativação dos receptores H1, que estão presentes no endotélio, nas células musculares lisas e nas terminações nervosas, geralmente determina um aumento na hidrólise do fosfoinositol e aumento do trifosfato de inositol (IP3) e cálcio intracelular. A ativação dos receptores H2, que são encontrados na mucosa gástrica, nas células musculares cardíacas e em algumas células imunes,aumenta o monofosfato de adenosina cíclico (AMPc) intracelular por meio de Gs (proteína G). À semelhança do receptor β2-adrenérgico, o receptor H2 pode, em certas circunstâncias, acoplar-se à Gq, ativando a cascata do IP3-DAG (inositol 1,4,5- trifosfato-diacilglicerol). A ativação dos receptores H3 diminui a liberação de transmissor dos neurônios histaminérgicos e de outros neurônios, sendo o processo provavelmente mediado por uma redução do influxo de cálcio através dos canais de cálcio do tipo N nas terminações nervosas. 5 – – – Os receptores H4 são encontrados sobretudo em leucócitos da medula óssea e do sangue circulante. Esses receptores parecem exercer efeitos quimiotáticos muito importantes sobre os eosinófilos e os mastócitos. Nessa função, parecem desempenhar algum papel na inflamação e na alergia. Além disso, podem modular a produção dessas células e mediar, em parte, os efeitos previamente reconhecidos da histamina sobre a produção de citocinas. Efeitos da histamina sobre os tecidos e sistemas orgânicos A histamina exerce efeitos potentes sobre os músculos liso e cardíaco, sobre determinadas células endoteliais e nervosas, sobre as células secretoras do estômago e sobre células inflamatórias. Sistema nervoso – A histamina é um poderoso estimulante das terminações nervosas sensitivas, sobretudo das que medeiam a dor e o prurido. Esse efeito mediado pelos receptores H1 constitui um importante componente da resposta e das reações urticariformes a picadas de insetos e urtiga. Algumas evidências sugerem que as elevadas concentrações locais também podem despolarizar as terminações nervosas eferentes (axonais). No camundongo e, provavelmente, nos seres humanos, os neurônios respiratórios envolvidos na sinalização da inspiração e da expiração são modulados por receptores H1. Os receptores H1 e H3 desempenham uma importante função no apetite e na saciedade; os fármacos antipsicóticos que bloqueiam esses receptores causam um ganho de peso significativo. Esses receptores também podem participar na nocicepção. Os receptores H3 pré-sinápticos desempenham um importante papel ao modular a liberação de vários transmissores no sistema nervoso. 6 – – – Os agonistas H3 reduzem a liberação de acetilcolina, amina e transmissores peptídicos em várias áreas do cérebro, bem como nos nervos periféricos. Sistema cardiovascular – Nos seres humanos, a injeção ou a infusão de histamina provoca uma redução da pressão arterial sistólica e diastólica e aumento da frequência cardíaca. As alterações da pressão arterial são produzidas pela ação vasodilatadora direta da histamina sobre as arteríolas e os esfincteres pré-capilares; o aumento da frequência cardíaca envolve tanto ações estimuladoras da histamina sobre o coração como taquicardia reflexa. Além disso, podem ocorrer rubor, sensação de calor e cefaleia durante a administração de histamina, em concordância com a vasodilatação produzida. A vasodilatação induzida por pequenas doses de histamina é causada pela ativação dos receptores H1 e mediada, principalmente, pela liberação de óxido nítrico do endotélio A histamina em doses mais altas ativa o processo de AMPc mediado por receptores H2 de vasodilatação e estimulação cardíaca direta. Nos seres humanos, os efeitos cardiovasculares da histamina em pequenas doses podem ser habitualmente antagonizados por meio do uso isolado de antagonistas dos receptores H1. O edema induzido pela histamina resulta da ação da amina sobre os receptores H1 nos vasos da microcirculação, em particular os vasos pós-capilares. O efeito está associado à separação das células endoteliais, possibilitando a transudação de líquido e moléculas do tamanho de pequenas proteínas no tecido perivascular. Esse efeito é responsável pela urticária, que sinaliza a liberação de histamina na pele. Estudos de células endoteliais sugerem que a actina e a miosina no interior dessas células causam contração, levando à separação das células endoteliais e a um aumento da permeabilidade Os efeitos cardíacos diretos da histamina incluem aumento tanto da contratilidade quanto da frequência do marca-passo. Esses efeitos são mediados sobretudo por receptores H2. No músculo atrial humano, a histamina também pode diminuir a contratilidade; esse efeito é mediado pelos receptores H1. O significado fisiológico dessas ações cardíacas ainda não está bem esclarecido. Músculo liso bronquiolar – Tanto nos seres humanos como em cobaias, a histamina provoca broncoconstrição mediada por receptores H1. nos seres humanos com vias respiratórias normais, a broncoconstrição que ocorre após pequenas doses de histamina não é pronunciada. Entretanto, pacientes portadores de asma mostram-se muito sensíveis à histamina. A broncoconstrição induzida nesses pacientes provavelmente representa uma resposta neural hiperativa, visto que esses pacientes também respondem em excesso a muitos outros estímulos, podendo a resposta à histamina ser bloqueada por agentes bloqueadores autônomos, como agentes bloqueadores ganglionares, bem como por antagonistas dos receptores H1. Músculo liso do trato gastrintestinal – A histamina provoca contração do músculo liso intestinal. A administração de grandes doses de histamina pode causar diarreia, em parte como consequência desse efeito. Essa ação é mediada pelos receptores H1 Outros órgãos musculares lisos – Nos seres humanos, a histamina geralmente possui efeitos insignificantes sobre o músculo liso do olho e do trato geniturinário. Entretanto, mulheres grávidas que sofrem reações anafiláticas podem abortar em consequência das contrações induzidas pela histamina 7 – – – Tecido secretor – Sabe-se, há muito tempo, que a histamina é um poderoso estimulante da secreção gástrica de ácido e, em menor grau, da produção gástrica de pepsina e de fator intrínseco. O efeito é causado pela ativação dos receptores H2 nas células parietais gástricas e está associado a um aumento da atividade da adenililciclase, concentração de AMPc e concentração intracelular de Ca2+. Outros estimulantes da secreção de ácido gástrico, como a acetilcolina e a gastrina, não aumentam os níveis de AMPc, embora seus efeitos máximos sobre a produção de ácido possam ser reduzidos – mas não abolidos – por antagonistas dos receptores H2. A histamina também estimula a secreção no intestino delgado e no intestino grosso. A histamina tem efeitos bem menos acentuados sobre a atividade de outros tecidos glandulares nas concentrações habituais. A presença de concentrações muito altas pode causar liberação de catecolaminas da medula suprarrenal Efeitos metabólicos – Ainda não se sabe se os receptores H3 desempenham uma função semelhante nos seres humanos, porém já existe uma pesquisa intensiva para estabelecer se os agonistas H3 têm alguma utilidade no tratamento da obesidade A “resposta tríplice” – A injeção intradérmica de histamina provoca uma resposta característica de mancha vermelha, edema e rubor. O efeito envolve três tipos distintos de células: o músculo liso na microcirculação, o endotélio capilar ou venular e as terminações nervosas sensitivas. No local da injeção, aparece um rubor, devido à dilatação dos pequenos vasos, seguido, em breve, de uma pápula edematosa no local da injeção e rubor irregular em torno dela. Afirma-se que o eritema é causado por um reflexo axônico. Esses efeitos podem ser acompanhados de uma sensação de prurido. Embora esses efeitos locais possam ser bloqueados, em sua maioria, pela administração de doses adequadas de um agente bloqueador dos receptores H1, os receptores H2 e H3 também estão envolvidos. Farmacologia clínica da histamina Em laboratórios de função pulmonar, a histamina em aerossol tem sido usada como teste provocativo de hiper-reatividade brônquica. A histamina não apresenta nenhuma outra aplicação clínica atual. Toxicidadee contraindicações 8 – – – Os efeitos colaterais da liberação de histamina, assim como aqueles observados após a sua administração, estão relacionados com a dose. Observa-se a ocorrência de rubor, hipotensão, taquicardia, cefaleia, urticária, broncoconstrição e desconforto gastrintestinal. A histamina não deve ser administrada a pacientes com asma (exceto como parte de uma prova de função pulmonar cuidadosamente monitorada) nem a pacientes que apresentam doença ulcerosa ativa ou sangramento gastrintestinal Antagonistas dos receptores histamínicos Os efeitos da histamina liberada no organismo podem ser reduzidos de diversas maneiras. Os antagonistas fisiológicos, particularmente a epinefrina, exercem ações sobre o músculo liso opostas às da histamina, porém atuam em diferentes receptores. Esse aspecto é clinicamente importante, visto que a injeção de epinefrina pode salvar a vida do indivíduo em casos de anafilaxia sistêmica e em outras condições nas quais ocorre liberação maciça de histamina – e de outros mediadores mais importantes. Os inibidores da liberação reduzem a desgranulação dos mastócitos desencadeada imunologicamente pela interação antígeno-IgE. O cromoglicato dissódico e a nedocromila parecem ter esse efeito e têm sido usados no tratamento da asma. Os agonistas dos receptores β2-adrenérgicos também parecem ter a capacidade de reduzir a liberação de histamina. O desenvolvimento de antagonistas seletivos dos receptores H2 levou a uma terapia mais efetiva da doença péptica. Ainda não se dispõe de antagonistas seletivos dos receptores H3 e H4 para uso clínico. Antagonistas dos receptores H1 Durante muitos anos, foram utilizados compostos que bloqueiam competitivamente a histamina ou que atuam como agonistas inversos (antagonistas) nos receptores H1 no tratamento de condições alérgicas. Muitos H1-antagonistas são comercializados nos Estados Unidos, e um grande número está disponível sem receita médica, tanto isoladamente como em formulações associadas, como “remédios para resfriados” e “soníferos” Química e farmacocinética 9 – – – Os H1-antagonistas são divididos em agentes de primeira e de segunda geração. Esses grupos distinguem-se pelos efeitos sedativos relativamente fortes da maioria dos fármacos de primeira geração. Os agentes de primeira geração também têm maior tendência a bloquear os receptores autônomos. Os bloqueadores H1 de segunda geração são menos sedativos, devido, em parte, à sua distribuição reduzida no SNC. Todos os H1- -antagonistas são aminas estáveis. Modelo simplificado dos dois estados do receptor H1. A. Os receptores H1 coexistem em dois estados de conformação– inativo e ativo– que estão em equilíbrio de conformação entre si. B. A histamina atua como agonista para a conformação ativa do receptor H1 e desvia o equilíbrio para essa conformação. C. Os anti-histamínicos atuam como agonistas inversos, que se ligam à conformação inativa do receptor H1 e a estabilizam, desviando, assim, o equilíbrio para o estado inativo. Esses agentes são absorvidos com rapidez após administração oral, com concentrações sanguíneas máximas em 1 a 2 horas. Distribuem-se amplamente por todo o corpo, e os fármacos de primeira geração penetram com facilidade no SNC. Alguns deles sofrem extenso metabolismo, sobretudo por sistemas microssomais no fígado. Vários dos agentes de segunda geração são metabolizados pelo sistema CYP3A4 e, portanto, estão sujeitos a interações importantes quando outros fármacos (como o cetoconazol) inibem esse subtipo de enzimas P450. 10 – – – A maioria dos fármacos tem duração de ação efetiva de 4 a 6 horas após uma dose única, porém a meclizina e vários agentes de segunda geração possuem ação mais longa, com duração de 12 a 24 horas. Os fármacos mais recentes são consideravelmente menos solúveis do que os fármacos de primeira geração e são substratos do transportador da glicoproteína P na barreira hematencefálica; em consequência, esses agentes entram com dificuldade no SNC, ou não conseguem fazê-lo. Muitos H1-antagonistas possuem metabólitos ativos. Os metabólitos ativos da hidroxizina, terfenadina e loratadina estão disponíveis na forma de fármacos (cetirizina, fexofenadina e desloratadina, respectivamente). Farmacodinâmica Tanto os H1-antagonistas neutros como os H1-agonistas inversos reduzem ou bloqueiam as ações da histamina por meio de sua ligação competitiva reversível ao receptor H1. Foi demonstrado que vários deles são agonistas inversos, e é possível que todos atuem por esse mecanismo. Apresentam potência insignificante nos receptores H2 e pouca potência nos receptores H3. Por exemplo, a contração do músculo liso bronquiolar ou gastrintestinal induzida pela histamina pode ser completamente bloqueada por esses fármacos, porém a secreção gástrica de ácido estimulada pela histamina e a estimulação do coração não são afetadas. Os antagonistas dos receptores H1 de primeira geração exercem muitas ações além do bloqueio das ações da histamina. O grande número dessas reações resulta, provavelmente, da semelhança entre a 11 – – – estrutura geral e a dos fármacos que exercem seus efeitos nos receptores colinérgicos muscarínicos, receptores α-adrenérgicos, receptores de serotonina e receptores de anestésicos locais. Algumas dessas ações têm valor terapêutico, ao passo que outras são indesejáveis. Sedação – Um efeito comum dos H1-antagonistas de primeira geração consiste na sedação; todavia, a intensidade desse efeito varia entre os subgrupos químicos, bem como entre os pacientes. No caso de alguns fármacos, o efeito é proeminente o suficiente para torná-los úteis como “soníferos” e inadequados para uso diurno. O efeito assemelha-se ao de alguns agentes antimuscarínicos e é considerado muito diferente da sedação desinibida produzida por sedativo-hipnóticos. Nas doses habituais, as crianças manifestam algumas vezes (e os adultos raramente) excitação em lugar de sedação. Com doses tóxicas muito altas, o coma pode ser precedido de estimulação acentuada, agitação e até mesmo convulsões. Os H1-antagonistas de segunda geração podem apresentar pouca ou nenhuma ação sedativa ou estimulante. Esses fármacos (ou seus metabólitos ativos) também exercem muito menos efeitos autônomos do que os anti-histamínicos de primeira geração. Ações antinauseantes e antieméticas – Vários H1-antagonistas de primeira geração apresentam atividade significativa na prevenção da cinetose. São menos efetivos contra um episódio de cinetose já estabelecido. Certos antagonistas H1, notadamente a doxilamina, foram muito utilizados no passado para o tratamento das náuseas e dos vômitos da gravidez, embora esse medicamento com esta finalidade tenha sido retirado do mercado. Efeitos antiparkinsonismo – Alguns dos H1-antagonistas, em particular a difenidramina, possuem efeitos supressores agudos significativos sobre os sintomas extrapiramidais associados a certos fármacos antipsicóticos. A difenidramina é administrada por via parenteral para reações distônicas agudas a antipsicóticos Ações antimuscarínicas – Muitos dos fármacos de primeira geração, particularmente os dos subgrupos da etanolamina e da etilenodiamina, exercem efeitos significativos semelhantes aos da atropina sobre os receptores muscarínicos periféricos. Essa ação pode ser responsável por alguns dos benefícios (incertos) relatados na rinorreia não alérgica, embora também possa causar retenção urinária e visão embaçada. Ações bloqueadoras dos receptores adrenérgicos – Podem ser demonstrados efeitos bloqueadores dos receptores alfa para muitos antagonistas H1, particularmente os do subgrupo da fenotiazina, como a prometazina. Essa ação pode causar hipotensão ortostática em indivíduos suscetíveis. O bloqueio dos receptores beta não é significativo. Ações bloqueadoras da serotonina – Foram demonstrados efeitos bloqueadoresacentuados nos receptores de serotonina para alguns antagonistas H1 de primeira geração, notavelmente a ciproeptadina. Esse fármaco é considerado como agente antisserotonina e discutido juntamente com esse grupo farmacológico. Entretanto, a sua estrutura assemelha-se àquela das fenotiazinas anti- histamínicas, atuando como potente agente bloqueador H1. Anestesia local – Vários H1-antagonistas de primeira geração são potentes anestésicos locais. Bloqueiam os canais de sódio em membranas excitáveis, à semelhança da procaína e da lidocaína. A difenidramina e a prometazina são, na realidade, mais potentes do que a procaína como anestésicos locais. Em certas ocasiões, são usadas para produzir anestesia local em pacientes alérgicos aos anestésicos locais convencionais. Usos clínicos 12 – – – Os bloqueadores dos receptores H1 de primeira geração continuam sendo fármacos de venda livre comumente usados. A prevalência das condições alérgicas e a segurança relativa dos fármacos contribuem para esse uso maciço. Entretanto, o fato de que esses fármacos produzem sedação contribui para a prescrição maciça, bem como para o uso dos anti-histamínicos de segunda geração de venda livre. Reações alérgicas Os agentes anti-histamínicos H1 constituem, com frequência, os primeiros fármacos a serem usados na prevenção ou no tratamento dos sintomas de reações alérgicas. Na rinite alérgica (febre do feno), os H1-antagonistas constituem os fármacos de segunda linha depois dos glicocorticoides administrados por aerossol nasal, os anti-histamínicos H1 usados no tratamento de condições alérgicas, como a febre do feno, costumam ser selecionados com o objetivo de reduzir ao mínimo os efeitos sedativos. Na urticária, em que a histamina é o mediador primário, os H1-antagonistas constituem os fármacos de escolha e, com frequência, são muito efetivos quando administrados antes da exposição. Todavia, na asma brônquica, que envolve vários mediadores, os H1-antagonistas são, em grande parte, ineficazes. O angioedema pode ser precipitado pela liberação de histamina, mas parece ser mantido por cininas peptídicas, que não são afetadas pelos agentes anti-histamínicos. Na dermatite atópica, os agentes anti- histamínicos, como a difenidramina, são usados, em grande parte, pelos seus efeitos colaterais sedativos, que reduzem a percepção do prurido. Os H1-antagonistas de segunda geração são utilizados principalmente no tratamento da rinite alérgica e da urticária crônica. Vários estudos comparativos duplos-cegos com fármacos mais antigos (p. ex., clorfeniramina) indicaram uma eficácia terapêutica aproximadamente igual. Entretanto, a sedação e a interferência na operação segura de máquinas, que são observadas em cerca de 50% dos indivíduos em uso de anti-histamínicos de primeira geração, ocorreram em apenas cerca de 7% dos indivíduos que fizeram uso de agentes de segunda geração. Os fármacos mais recentes são de custo muito mais elevado, mesmo em genéricos de venda livre. Cinetose e distúrbios vestibulares A escopalamina e certos H1-antagonistas de primeira geração constituem os fármacos mais efetivos disponíveis para a prevenção da cinetose. Os anti-histamínicos de maior eficiência nesse contexto são a difenidramina e a prometazina. O dimenidrinato, usado quase exclusivamente para o tratamento da 13 – – – cinetose, é um sal da difenidramina, com eficácia semelhante. As piperazinas (ciclizina e meclizina) também apresentam atividade significativa na prevenção da cinetose, e são menos sedativas do que a difenidramina na maioria dos pacientes. Tanto a escopalamina como os H1-antagonistas são mais efetivos na prevenção da cinetose quando associados a efedrina ou anfetamina. Náuseas e vômitos da gravidez Vários agentes H1-antagonistas foram estudados quanto a seu possível uso no tratamento do “enjoo matinal”. Os derivados da piperazina foram abandonados para esse uso quando foram demonstrados efeitos teratogênicos em roedores. A doxilamina, uma etanolamina H1-antagonista, foi usada para esse fim como componente de uma medicação vendida com receita médica que também contém piridoxina. Os possíveis efeitos teratogênicos da doxilamina foram bastante noticiados pela imprensa leiga depois de 1978, em consequência de alguns relatos de malformação fetal ocorridos após a ingestão do medicamento por gestantes. Entretanto, vários estudos prospectivos de grande porte não revelaram nenhum aumento na incidência de defeitos congênitos, justificando, portanto, a reintrodução de um produto semelhante. Toxicidade Vários desses efeitos (sedação, ação antimuscarínica) foram utilizados para fins terapêuticos, sobretudo em medicações de venda livre. Entretanto, esses dois efeitos constituem as ações indesejáveis mais comuns quando esses fármacos são prescritos para bloqueio dos receptores histamínicos. Os efeitos tóxicos menos comuns decorrentes do uso sistêmico incluem excitação e convulsões em crianças, hipotensão postural e respostas alérgicas. A alergia a fármacos é relativamente comum após o uso tópico de H1-antagonistas. Os efeitos da superdosagem sistêmica grave dos agentes mais antigos assemelham-se aos da superdosagem de atropina e são tratados da mesma maneira. A superdosagem de astemizol ou de terfenadina pode induzir arritmias cardíacas; os mesmos efeitos podem ser produzidos em doses normais por meio de interação com inibidores enzimáticos. Esses fármacos não são mais comercializados nos Estados Unidos. Interações medicamentosas Ocorreram arritmias ventriculares letais em diversos pacientes em uso dos primeiros agentes de segunda geração, a terfenadina ou o astemizol, em associação com cetoconazol, itraconazol ou antibióticos macrolídeos, como a eritromicina. Esses agentes antimicrobianos inibem o metabolismo de muitos fármacos pela CYP3A4 e ocasionam aumentos significativos nas concentrações sanguíneas dos anti-histamínicos. O mecanismo dessa toxicidade envolve o bloqueio dos canais de potássio (IKr) HERG no coração, que contribuem para a repolarização do potencial de ação. O resultado consiste em prolongamento e mudança na forma do potencial de ação, que resultam em arritmias. Nos países onde ainda estão disponíveis, a terfenadina e o astemizol devem ser considerados como fármacos contraindicados para pacientes em uso de cetoconazol, itraconazol ou macrolídeos, bem como para pacientes com doença hepática. Para os H1-antagonistas que causam sedação significativa o uso concomitante de outros fármacos que provocam depressão no SNC produz efeitos aditivos e está contraindicado para indivíduos que dirigem veículos ou que operam máquinas. De forma semelhante, os efeitos bloqueadores autônomos dos anti-histamínicos mais antigos são aditivos com aqueles dos antimuscarínicos e agentes α- bloqueadores. 14 – – – Antagonistas dos receptores do H2 O desenvolvimento de antagonistas dos receptores H2 teve como base a observação de que os H1- antagonistas não exerciam nenhum efeito sobre a secreção de ácido no estômago induzida pela histamina. A manipulação molecular da molécula de histamina resultou em fármacos que bloqueavam a secreção de ácido e não tinham nenhum efeito agonista ou antagonista H1. À semelhança de outros receptores histamínicos, os receptores H2 exibem atividade constitutiva, e alguns H2-bloqueadores são agonistas inversos. A alta prevalência de doença ulcerosa péptica despertou grande interesse no potencial terapêutico dos antagonistas dos receptores H2 quando inicialmente descobertos. Embora esses agentes não sejam os mais eficazes disponíveis, a sua capacidade de reduzir a secreção gástrica de ácido com toxicidade muito baixa fez com que se tornassem extremamente populares como preparações de venda livre. Antagonistas dos receptores H3 e H4 Embora, no momento atual, não se disponha de nenhum ligante seletivo de H3 ou H4 para uso clínico geral,existe um grande interesse no seu potencial terapêutico. Os ligantes seletivos dos receptores H3 podem ser valiosos nos distúrbios do sono, na narcolepsia, na obesidade e em transtornos cognitivos e psiquiátricos. Foi constatado que o tiprolisante, um agonista inverso do receptor H3, reduz os ciclos de sono em camundongos mutantes e em seres humanos com narcolepsia. Vários fármacos antipsicóticos atípicos exibem uma afinidade significativa pelos receptores H3 (e provocam ganho de peso). Fármacos 15 – – – Tabela golan – 1591 Questões 16 – – – 1 – Um médico de 45 anos, em boa saúde, que estava participando de uma reunião em um hotel, começou a apresentar tontura, vermelhidão da pele na face e no tórax e taquicardia durante a refeição. Pouco tempo depois, outro médico na mesa também apresentou sinais e sintomas semelhantes, com acentuada hipotensão ortostática. O menu era composto de salada verde, peixe refogado com arroz e torta de maçã. Qual é o provável diagnóstico? Como você trataria esses dois pacientes? 2 - Uma menina de 8 anos de idade é levada por sua mãe para avaliação de alergias. Todo ano, na primavera, a criança apresenta corrimento nasal, olhos lacrimejantes, pruriginosos e espirros. Ela já foi tratada com difenidramina, mas, na escola, o professor diz que ela apresenta sonolência durante as aulas. Ela não tem outros problemas de saúde e não está em tratamento com nenhuma medicação crônica. O exame é normal. Você diagnostica-a com rinite alérgica sazonal e prescreve fexofenadina. Qual é o mecanismo de ação dos fármacos anti- histamínicos? Quais são os efeitos colaterais mais comuns de fármacos anti-histamínicos? Qual é a base farmacológica que justifica a alteração do tratamento para fexofenadina? 3 - A principal utilização de bloqueadores de receptores de histamina H 1 de segunda geração é o tratamento de qual das seguintes queixas? A. Tosse associada à gripe B. Febre do feno C. Doença do movimento ( cinetose) D. Insônia 4 - Você examina um homem de 43 anos de idade, motorista de caminhão de longa distância, que se queixa de rinite alérgica grave. Qual dos seguintes medicamentos seria o melhor anti-histamínico para prescrever? A. Difenidramina B. Fexof enadina C. Meclizina D. Prometazina 5 - Qual das seguintes afirmações é mais precisa? A. Os agentes anti-histamínicos usados para rinite alérgica têm atividade antagônica, tanto contra receptores H 1 como H 2 B. Os agentes anti-histamínicos são geralmente úteis no tratamento da asma. C. Os anti-histamínicos são preferidos no tratamento de anafilaxia aguda. D. Os anti-histamínicos de segunda geração têm menos efeitos anticolinérgicos do que os anti- histamínicos de primeira geração. 6 - Os anti-histamínicos são utilizados principalmente com o intuito de reduzir a secreção gástrica de HCl e de promover efeito antialérgico. Qual dos fármacos abaixo apresenta efeito antialérgico com maior probabilidade de desencadear concomitantemente efeito sedativo. a) Loratadina b) Desloratadina c) Fexofenadina d) Cetirizina e) Dexclorfeniramina 7 - A histamina é um potente autacoide com ação diversa em diversos sistemas orgânicos; portanto, os receptores da histamina são alvos óbvios para o desenvolvimento de fármacos. Em relação à farmacologia envolvendo a histamina, assinale a afirmativa correta. A - São reconhecidos atualmente dois subtipos de receptores para histamina, os chamados H1 e H2. B - Os fármacos ditos anti-histamínicos H1 são utilizados no tratamento da constipação. C - Como exemplo de fármaco anti-histamínico tem-se o salbutamol. D - Os fármacos que agem nos receptores H2 da histamina são utilizados no tratamento da úlcera gástrica, por exemplo. E - O alopurinol, utilizado no tratamento da gota, é um exemplo de fármaco anti-histamínico. 17 – – – 8 - Os anti-histamínicos H1 são fármacos que interagem com os receptores de histamina do tipo 1, com o objetivo de reduzir a atividade produzida pela estimulação desse ligante. Essa interação reduz a atividade constitutiva do receptor, compete com a histamina pelo sítio de ação e desloca o receptor para a conformação inativa. Considerando a interação fármaco-receptor, esses fármacos são classificados como A. agonistas inversos. B. agonistas parciais. C. antagonistas competitivos. D. antagonistas não competitivos. E. antagonistas funcionais. 9 - Quais são as principais diferenças entre os anti-histamínicos de 1ª Geração dos de 2ª Geração? 10 - Como é desencadeado os sintomas da alergia? Respostas 1 - Esses pacientes demonstraram sinais e sintomas típicos causados pela histamina. Felizmente, nenhum deles nesse episódio de intoxicação alimentar apresentou edema laríngeo ou broncospasmo de grau significativo. Certos tipos de peixes, quando inadequadamente conservados, contêm grandes quantidades de histamina, devido à conversão – por bactérias que contaminam o tecido muscular – da histidina em histamina. Se o peixe for consumido em quantidade suficiente, pode ocorrer absorção de histamina o suficiente para provocar o quadro clínico descrito. Essa síndrome é denominada intoxicação escombroide. O tratamento com doses máximas de bloqueadores da histamina, particularmente bloqueadores H1, é geralmente suficiente para controlar os sintomas. Como não se trata de uma reação alérgica, não é necessário administrar epinefrina, a não ser que a hipotensão ou a obstrução das vias respiratórias sejam graves. 2 - Resumo: Uma menina de 8 anos de idade que apresenta rinite alérgica sazonal passa a tratar-se com fexofenadina devido à sedação causada pela difenidramina. • Mecanismo de ação dos anti-histamínicos: Antagonista competitivo dos receptores de histamina. • Efeitos colaterais comuns: Sedação, tonturas, náuseas, constipação, diarreia, perda de apetite, efeitos anticolinérgicos: boca e olhos secos, visão turva, retenção urinária • Justificativa para a mudança para a fexofenadina: Menos penetração no SNC e menos sedação do que os anti-histamínicos mais antigos. 3 – B - Os anti-histamínicos de primeira geração que causam sedação têm sido utilizados como auxiliares para o sono, e alguns têm efeitos antieméticos. 4 – B - Os outros anti-histamínicos são sedativos. 5 – D - Os anti-histamínicos de segunda geração têm menos efeitos colaterais sedativos e anticolinérgicos do que os de primeira geração. 6 – B 7 – D 8 – A 9 - R. Os anti-histamínicos H1 de 1ªgeração atravessam facilmente a barreira hematoencefálica e, consequentemente, provocam sedação. Os anti-histamínicos H1 de 2ª geração são não sedativos porque têm dificuldade em atravessar a dita barreira. 11 - Através da liberação da histamina, através de algum estímulo, e essa liberação em excesso causa os sintomas da alergia, como coceira, urticaria, vasoconstricção.
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