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OS DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR

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pedagogia
BRENDA SUELEN DA CRUZ
LARRILMA RAFAEL DA SILVA
MARIA JOSÉ MENDES DE LIMA
SILVIA CARLA SOBRAL DO NASCIMENTO
OS DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR
TORITAMA/PE
2019
BRENDA SUELEN DA CRUZ
LARRILMA RAFAEL DA SILVA
MARIA JOSÉ MENDES DE LIMA
SILVIA CARLA SOBRAL DO NASCIMENTO
OS DESAFIOS E AS POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR
Trabalho apresentado ao Curso de Pedagogia para a obtenção de pontos nas disciplinas do semestre: Educação e Diversidade, Metodologia Científica, Políticas Publicas da Educação Básica, Práticas Pedagógicas: Gestão da Aprendizagem, Psicologia da Educação e da Aprendizagem e Ética, Política e Cidadania.
Tutor à Distância: Simoni C. Parpineli da Silva
Tutor Presencial: Laudenice Maria Silva Santos.
Sumário
INTRODUÇÃO	4
DESENVOLVIMENTO TEXTUAL.	6
1-	A CULTURA DA INFÂNCIA.	6
2-	A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE NOS GÊNEROS.	8
2.1 - Como a desigualdade de gênero começou	9
2.2 - Desigualdade de gênero no Brasil	9
3-	RELAÇÕES SOCIAIS NAS ESCOLAS	10
4-	O PAPEL DO EDUCADOR NAS QUESTÕES DE GÊNERO	12
5-	OS DEFAFIOS E POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR	14
CONCLUSÃO	17
9. REFERÊNCIAS	19
INTRODUÇÃO
	Sabe-se que a sociedade determina estereótipos de gênero, e que a criança é fruto deste meio. Cabe a escola disponibilizar ambientes e profissionais que possibilitem a prática de valores de igualdade e respeito entre pessoas de sexos diferentes e permita que a criança conviva com todas as possibilidades relacionadas aos papeis masculino e feminino.
	Este trabalho aborda as preocupações e desafios na construção das relações de gênero no âmbito escolar. Pretendemos abordar, se a escola é uma etapa fundamental para a construção desta identidade, tendo em conta se através dela, existe reprodução de valores pela internalização da cultura dominante no que diz respeito a igualdade entre homem e mulher.
	 Abordamos a necessidade de discutir as relações de gênero no ambiente escolar, e se o papel do professor se torna imprescindível na integração da escola, da família e da sociedade na desconstrução de estereótipos, pois ao nascer as crianças possuem papel determinado na sociedade. Meninas estão relacionadas a delicadeza da rosa, e de esportes menos “invasivos” e os meninos estão ligados ao azul e aos esportes agressivos.
	O gênero é entendido como aquilo que diferencia socialmente as pessoas, levando em consideração os padrões histórico-culturais atribuídos para homens e mulheres.
	Entende-se então que gênero e a percepção sobre as diferenças sexuais, e a sociedade hierarquiza essas diferenças quando relaciona o feminino a fragilidade e a submissão ao masculino.
	Quando essas questões são tratadas dentro do ambiente escolar essa dualidade se intensifica, são reflexos da sociedade e da família, pois o padrão estabelecido já formado chega á escola na cabeça da criança.
	Assim sendo, o objetivo geral deste portifólio é entender o papel do educador na formação da identidade de gênero, assim como, entender como os estereótipos impostos pela sociedade interferem nas relações escolares e sociais e quais os desafios encontrados para que se possa gerar possibilidades de igualdade de gênero dentro das escolas.
DESENVOLVIMENTO TEXTUAL.
1- A CULTURA DA INFÂNCIA.
A descoberta da infância começou no século XIII, nesta época se começou a falar em fragilidade e debilidade da infância. Antes este estágio da vida do indivíduo era ignorado e considerado sem importância.
As formas de vestuários e hábitos da infância foram adotados no final do século XVI até o final do século XVIII , esses vestuários e hábitos empregados serviam para diferenciar a roupa da criança e a roupa dos adultos, revelando assim que começava a surgir uma preocupação nessas questões que antes era desconhecida na idade média, passou-se então a isolar e separar as crianças por uma espécie de uniforme.
Veio a idade média e a escola misturava as diferentes idades, raro era encontrar em textos medievais referências sobre idade e diferenciação de alunos como se faziam com os adultos, podendo-se assim encontrar por exemplo crianças e adultos no mesmo ambiente aprendendo as mesmas coisas, pois a escola não possuía acomodações amplas que servisse para acomodar cada faixa etária, era apenas um professor a auxiliar uma única sala de aula com diferentes tipos de alunos sendo ele o mestre e autoridade única naquele recinto.
Quando uma criança ingressava na escola, ela entrava automaticamente em um mundo totalmente de adultos, afirma Aries (1981) que:
Essa confusão tão inocente, que passava despercebida, era um dos traços mais característicos da antiga sociedade, e também um de seus traços mais persistentes, na medida em que correspondia a algo enraizado na vida. Ela sobreviveria a várias mudanças de estrutura [...] sua resistência aos outros fatores de transformação mental mostra-nos bem que estamos na presença de uma atitude fundamental diante da vida, que foi familiar a uma longa sucessão de gerações.” (ARIÈS,1981, p. 168).
A introdução da criança junto a adultos na escola, dava-se desta forma na idade média, pois a ideia de não tinha o mesmo sentido que tem hoje em dia, afinal, “Mas como poderia alguém sentir a mistura das idades quando se era tão indiferente à própria ideia de idade?” (ARIÈS, 1981, p.168). A maneira de como se via a criança como ser humano com peculiaridades e singularidades começou a se desenvolver na idade média.
As crianças, todas as crianças, transportam o peso da sociedade que os adultos lhes legam, mas fazem-no com a leveza da renovação e no sentido de que tudo é possível. (SARMENTO, 2004).
 Wallon (1975, p.15) nos traz que: “É em todas as suas fases, em todas as suas manifestações, que é preciso estudar as crianças. O seu conhecimento exige a colaboração de todos aqueles que por qualquer razão estão em contato com ela”.
 Já (SARMENTO, 2004) diz que: Durante muito tempo, as crianças eram vistas como meros seres biológicos, sem estatuto social ou autonomia. Assim, sempre existiram crianças, seres biológicos de geração jovem, porém a infância nem sempre existiu.
O erro da sociedade moderna foi desprezar as primeiras fases do indivíduo na formação do seu caráter e impor antes do tempo as crianças as maneiras de pensar e agir como se adultos fossem, pois isso causou grande prejuízo a sociedade da época provocando danos na inteligência do indivíduo.
Houve na família grandes transformações estruturais, e essas mudanças ocorreram no aumento na monoparentalidade e na preconização da maternidade principalmente em países como o Brasil, deixando visível o caráter mítico do núcleo familiar como espaço problemático e natural de promoção e proteção do desenvolvimento das crianças.
A identidade na infância está primeiramente no seu estatuto quanto seus direitos sociais, trazendo que a criança não tem capacidade jurídica de decisões autônomas pois existem fatores implantados pela sociedade que condicionam as responsabilidades sociais para si.
Para Sarmento (2004), um dos elementos fundamentais das culturas da infância é o brincar das crianças, a qualidade de aprendizagem e também da aprendizagem de sociabilidade. sendo assim, o brinquedo acompanha as crianças nas diferentes fases da construção das suas relações sociais.
Os costumes e conceitos não são criados individualmente, e sim em conjunto com as necessidades da sociedade. Assim, o passado da humanidade colaborou para a educação atual, ou seja, a história deixa marcas assim como os antepassados, porém, o sujeito se faz pela evolução histórica à qual está inserido (DURKHEIN, 1952).
A sociedade atual traz consigo inúmeras alterações e essas transformações vão influenciar as relações familiares.
“Estas transformações consistem nas diferenças de classes sociais entre nobres e camponeses dentro da estrutura familiar, que será a base fundamental para uma nova forma de sociedade em ascensão, isto é, a burguesia e o proletariado.” (GUERRA;ROMEIRA, 2010, p. 3).
Este legado influenciou a base familiar no Brasil que era constituída por pai, mãe e filhos, ou seja, uma concepção de família tradicional em que permaneciam agregados união matrimonial e afetiva, valores morais, religiosos, culturais e sociais sem espaço para mudanças sócio afetivas ou pluralismo familiar.
2- A INFLUÊNCIA DA SOCIEDADE NOS GÊNEROS.
Observando o desenvolvimento da sociedade através de dados históricos, notamos as desigualdades das relações entre indivíduos visto que a construção social é determinada pelas características biológicas, ou seja, características sexuais que são representadas de diversas formas de acordo a construção social que faz parte do processo histórico.
	Ao ponto que a sociedade vai evoluindo e se modificando modifica-se também as formas como os indivíduos se relacionam. Cabe salientar que as relações de gênero transcendem todos os campos, por isso precisa-se analisar os gêneros para que se possa entender a construção social da desigualdade que os assola.
2.1 - Como a desigualdade de gênero começou
	 A educação infantil é baseada no conhecimento, costumes, tradições, culturas, etnias e pela relação de gênero definida na sociedade. Por esses pressupostos é que os pais moldam a formação de seus filhos. Adultos formam crianças com definições bem claras quanto que papel desenvolver se menino, e qual papel e função desempenhar, se menina. 
	A educação diferenciada dá bola e caminhãozinho para os meninos e fogãozinho para as meninas, exige formas diferentes de vestir, conta estórias em que os papéis dos personagens homens e mulheres são sempre muito diferentes (SÃO PAULO, 2003, p.2
A desigualdade entre homens e mulheres é uma construção social não biológica e tal diferença não é determinada pelo ser homem ou ser mulher, e sim por construções sociais e as relações que nela se desenvolvem.
De mulheres espera-se papeis dóceis, bondosos, e quando tais papeis são postos a prova, acaba-se descontruindo-se, acarretando culpas e depreciações: 
A partir da consolidação do capitalismo, existe a ideia de que ocorre uma divisão entre esferas pública e privada, sendo que a esfera privada é considerada como o lugar próprio das mulheres, do doméstico, da subjetividade, do cuidado. A esfera pública é considerada como o espaço dos homens, dos iguais, da liberdade, do direito. (SÃO PAULO, 2003, p.30).
Entendemos assim que o papel da mulher nesta ótica e cuidar dos filhos, da casa e zelas pela família e ainda ser feliz. Em contrapartida, o papel do homem é prover o sustento da mulher e dos filhos, e suprir as necessidades básicas da família pois é o forte e racional.
2.2 - Desigualdade de gênero no Brasil
	No Brasil, a desigualdade de gênero ainda é um fenômeno muito presente e que faz parte da realidade em diversas modalidades e seguimentos sociais.
	O Brasil ocupa hoje em dia o 90º lugar no ranking do fórum econômico mundial, responsável por analisar a igualdade entre homens e mulheres em 144 países.
	O que causa maior preocupação é que a má colocação de que o Brasil caiu mais de 10 posições nesses rankings nos últimos anos, o que mostra que vem havendo um retrocesso no processo de luta pela igualdade de gênero. 
3- RELAÇÕES SOCIAIS NAS ESCOLAS
 A escola é a esfera social onde transita conceitos, valores, crenças, relações, etc. Desde muito tempo os indivíduos estabelecem relações sociais entre seus pares. Sarmento (2004) diz que: 
[...] as interações sociais são processos de relação, comunicação e identificação que não só permitem a negociação das definições da realidade de cada indivíduo como facilitam a criação de entendimentos comuns acerca do significado e sentido de símbolos e ações e a sua aceitação mútua por forma a tornar bem sucedida a ação cooperativa (SARMENTO, 2004, p.60).
Assim, segundo Sarmento (2004), as ações das crianças desde a educação infantil consistem em acontecimentos sociais através de interações sociais. Isto é, ações isoladas não têm significado por si só. É necessário que os indivíduos interajam com o outro completando ou mudando sua ação ou ainda, agindo em conjunto:
Instituindo um nexo entre o mundo adulto e o mundo infantil, o processo de reprodução interpretativa do mundo social adulto está no cerne do desdobramento do processo de construção social de lugar(es) comum (uns) pelas crianças [...] (SARMENTO, 2004, p.60).
As crianças imitam o mundo adulto mesmo não conhecendo as atribuições e valores dada a determinadas ações, profissões, posição social e etc. Elas reproduzem papeis sociais desde muito novas por meio de brincadeiras e tal reprodução acontece naturalmente sem ensaios porque os adultos são membros da sociedade em que elas se desenvolvem
As crianças desde a Educação Infantil utilizam como critério para escolha de seus pares traços acentuados e semelhantes dos sujeitos como idade e gênero. De acordo com Sarmento (2004, p. 71). É na diferença que a criança se reconhece enquanto grupo e identifica pelo olhar o que lhe é desigual. Com a influência dos professores as crianças são capazes de se reconhecerem integralmente como iguais, indo além das diferenças, pois enquanto crianças compartilham da mesma identidade “ser e agir como crianças”. Ao reproduzir o mundo adulto as crianças reproduzem também:
[...] os princípios dominantes de classificação do mundo adulto [...] com legendas dicotômicas – pequenos/as ou grandes, velhos/as ou novos/as, altos/as ou baixos/as, bonitos/as ou feios/as - como lhe associam os estereótipos (negativos) e tipos ideais, premiando ainda os diferentes saberes com desiguais poderes (SARMENTO, 2004, p.71).
Na Educação Infantil quando as crianças passam a conviver juntas desde certa idade, manifestando seus anseios, saberes, preferências, etc., estão sendo moldados para submergir a mais uma instituição social, ou melhor, estão participando de mais uma instituição rumo a uma nova organização de mundo, agora, o mundo das crianças.
3.1 A escola enquanto grupo social
	A escola é a instituição mais importante e que faz parte de uma esfera social de convívio mútuo entre indivíduos. Na escola esta contida todas as relações que derivam de grupo social. (CANDIDO, 1973). “Isto vale dizer que, ao lado das relações oficialmente previstas [...] há outras que escapam à sua previsão, pois nascem da própria dinâmica do grupo social escolar.” (CANDIDO, 1973, p.107).
	Cada escola possui suas peculiaridades de acordo com sua localização, ou seja, os arredores contribuem para que as escolas tenham dinâmicas diferentes. Cada escola tem seu público, e por tanto precisam atender as necessidades do publico que a frequenta, de acordo a sociabilidade de cada uma.
Caso, porém, seja capaz de aprender a realidade total da escola, o educador poderá analisar de maneira adequada a realidade de cada escola, que não lhe aparecerá mais como “estabelecimento de ensino” a ser enquadrado nas normas racionais da Legislação escolar, mas como algo autônomo, vivo no que tem de próprio e por assim dizer único: que requer portanto ajustamento correspondente destas normas, visto como possui outras que devem ser levadas em conta (ANTÔNIO CANDIDO, 1956 apud PEREIRA; FORACCHI, 1973, p.108).
A escola é um grupo social, que depende da interação dos seus atores (alunos, professores, gestores, família, e demais funcionários). Cada escola, enquanto grupo social, tem certa autonomia, sendo similar a outras escolas, mas diferentes de outros grupos sociais (ANTÔNIO CANDIDO, 1956 apud PEREIRA; FORACCHI, 1973). Isso quer dizer que os papéis desempenhados pelos diferentes atores deste grupo social dificilmente serão incorporados por outros grupos sociais. Todavia, as escolas conduzem-se por normas de outros grupos sociais (religiosos, de classe, político, etc.), como segue:
[...] no caso do Brasil, ajustadas necessariamente às normas básicas ditadas pelo Poder Público. São, pois, o que Znanieckichama “grupos institucionalizados”, isto é, o que “são essencialmente produto da cooperação dos seus próprios membros, mas cujas funções coletivas, eposições, são parcialmente institucionalizadas por outros grupos sociais”. (ANTÔNIO CANDIDO, 1956 apud PEREIRA; FORACCHI, 1973, p.108).
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4- O PAPEL DO EDUCADOR NAS QUESTÕES DE GÊNERO
Quando falamos em sala de aula, várias imagens imediatamente se formam em nossas cabeças. Mas podemos afirmar que em primeiro lugar vem alunos e professor. Ao pensar sobre relações humanas desses dois indivíduos, é bom enfatizar as questões comportamentais do aluno e as atitudes do professor diante de determinadas situações.
Para Émile Durkhein (2003), a principal tarefa do professor é a formação de cidadãos capazes de contribuir para a harmonia da sociedade. Durkhein ainda diz que, em cada aluno existem dois seres inseparáveis, porém diferentes. O primeiro ser o sociólogo chamou de individual – jovem bruto – formado pelos estados mentais de cada pessoa, já o segundo, é algo formado por um sistema de ideias que exprimem dentro das pessoas da sociedade de que faz parte. Assim sendo, ele define o processo educativo da seguinte maneira, “a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta” (p.36).
	Neste sentido verificamos que as ligações existentes entre aluno e professor são fundamentais para formação dos jovens que estão se preparando para contribuir com a sociedade na qual estão inseridos.
	Pensando nesse educando, dentro da sala de aula, sabemos que há vários tipos de sujeitos que vão de alunos calmos, irresponsáveis, agitados, responsáveis, aplicados, desinteressados, amigos, egoístas e etc. Diante destas pluralidades existe um fator que é extremamente importante, a questão de gênero. Ao citar todas essas características dos diversos sujeitos em sala de aula, observamos que normalmente as meninas são mais calmas e meninos mais agitados, porém considerando a aprendizagem, que é um dos aspectos mais relevantes dentro da educação, questiona-se, será que há estatísticas que comprovam que meninas tem um melhor desempenho do que meninos? 
	Pois bem, as estatísticas mostraram que meninos teriam maiores dificuldades entre o ensino fundamental e médio. Observou-se que o grupo de meninos tinham características comportamentais agitadas e conversavam muito durante a aula, já o grupo de meninas por sua vez, tinha uma postura coerente com a visão favorável para aprender dentro do espaço escolar.
	Segundo Souza e Altmann (1999), o processo de educação de homens e mulheres supõe uma construção social e corporal dos sujeitos, o que implica, no processo ensino/aprendizagem de valores, conhecimentos, posturas e movimentos corporais considerados masculinos ou femininos. Nesse sentido, Darido et al. (2001) cita que o professor precisa estar atento e deve estimular a reflexão sobre a relatividade das 26 concepções associadas ao masculino e ao feminino; ao respeito mútuo entre os sexos e o respeito às muitas e variadas expressões do feminino e do masculino.
	Os professores precisam estar atentos as diferentes formas de se expressar dos seus alunos. Ter alunos mais ou menos agitados não significa que estes possuem boa ou má índole, para construir a moral autônoma, os adolescentes precisam de situações que desafiem seu modo de pensar. Segundo Piaget (2003), o desenvolvimento moral e, mais ainda, as ações relacionadas a ele dependem de uma série de “energia motora” para que ocorram: a afetividade.
	A concepção de igualdade deveria realmente está presente nas aulas, meninos e meninas deveriam vivenciar as mesmas práticas, discutindo e entendendo as questões das diferenças e buscando as melhores soluções junto a seus professores.
	Porém entende-se que o papel da escola é fazer com meninos e meninas reflitam sobre suas próprias posições sociais, e que excluam os preconceitos de gênero, fazendo com que um novo olhar venha ser construído para a formação de novas relações entre homens e mulheres visando a igualdade de todos.
5- OS DEFAFIOS E POSSIBILIDADES DA IGUALDADE DE GÊNERO NO ESPAÇO ESCOLAR
É imprescindível educar para a percepção expressiva e igualitária da identidade de gênero, de modo a representar homens e mulheres, masculino e feminino, como formas psico-históricas da condição humana, iguais em sua potencialidade de hominização e humanização e diferentes em suas expressões culturais, subjetivas e ontológicas. (NUNES; SILVA, 2006).
A escola desempenha um papel importante na construção das identidades de gênero e das identidades sexuais, pois, como parte de uma sociedade que discrimina, ela produz e reproduz desigualdades de gênero, raça, etnia, bem como se constitui em um espaço generificado. (LOURO, 1997).
	As escolas devem ser locais onde os estereótipos são eliminados e não reforçados, o que significa oferecer a alunos e alunas as mesmas oportunidades de acesso a métodos de ensino e currículos livres de estereótipos, bem como de orientações acadêmicas sem influência de preconceitos. (UNESCO, 2004).
	Casagrande (2008) enfatiza que discutir as relações de gênero no ambiente escolar é de fundamental importância quando se pensa em construir uma educação democrática que possibilite a todos os seus agentes, igualdade de condições e de oportunidades. Há, portanto, que sumariamente, considerar as crianças e adolescentes como atores sociais (NUNES; SILVA, 2006).
Há que se reconhecer que as aprendizagens – no que diz às questões de gênero - estão agrupadas em práticas diárias formais e informais que nem discutimos mais. Elas transpõem os conteúdos das disciplinas que compõem o currículo oficial ou estão imbricadas na literatura que selecionamos, nas revistas que colocamos à disposição dos alunos para pesquisa e colagem, nos filmes que exibimos, no material escolar que sugerimos para consumo, no vestuário que aceitamos e naquele que é proibido, nas normas disciplinares que organizam o espaço e o tempo escolares, nas piadas que fazemos ou que escutamos sem nos manifestar, nas dinâmicas em sala de aula e em outros espaços escolares que não vemos ou ignoramos. Pouquíssimos estudos parecem ter ido à busca do lugar da infância na construção social das relações de gênero no sistema educacional. Ora, 61% da população estudantil brasileira é composta por crianças e adolescentes com até 14 anos de idade. (PNAD apud ROSEMBERG, 2001) decidimos ignorar, nos castigos e nas premiações, nos processos de avaliação. (MEYER, 2003).
Os docentes podem aprender sobre educação ao analisar a “cultura popular”, ou seja, a emergência e a popularidade de certas produções culturais podem nos ajudar a entender o meio no qual elas abragem. Em se tratando de cultura juvenil, isso ganha especial relevo, na medida em que a identidade juvenil tem uma estreita conexão com a cultura da mídia. O contexto é que além da escolarização e da família, a construção social e discursiva dos sujeitos também se constitui na cultura musical, nas revistas, filmes, programas de TV e outros espaços pedagógicos. (DONALD apud ELLSWORTH, 2001, p. 71). Na escola os discursos ganham relevância, a linguagem denuncia uma conivência passiva de códigos femininos e masculinos exercendo um tipo comum de violência, pautada por hierarquias nas relações, pelo uso simbólico de poder e, exercida com consentimento, a violência simbólica não recorre à força física, mas silencia o desrespeito ao outro. (REIS; GOMES, 2009). Carvalho (2001) considera que as professoras e professores esperam que as meninas sejam mais caprichosas e submissas e os meninos descuidados e expansivos e quando um aluno ou uma aluna apresenta comportamento diferente do esperado, consideram-no um aluno ou aluna problema.
	Enquanto a escola continuar representando as estruturas de poder de um sexo sobre o outro as reivindicações em prol de uma equiparação sexista continuarão latente. No entanto, de forma enfadonha e insuperável, visto que não haverá o apoio necessário para que a desigualdade entre homens e mulheres/ meninos e meninas seja sanada. Por que será que é tão difícil romper com este paradigma?
	Porque há muitos anos esse modelo binário existe e vem sendo mantido porque representa poder. As ações pedagógicas lutamcontra os preconceitos de gênero, mas em contrapartida reafirma-os quando em suas ações não percebe o caráter “neutro” do sexo, o reforço dado aos meninos nas atividades voltadas ao raciocínio, nas atividades decorativas destinadas às meninas. Os professores por sua vez reafirmam o preconceito de gênero quando não percebem ou ignoram tais ações.
	A desigualdade de gênero na sala de aula é tão explícita que se anula tornando-se algo inexistente e naturalizado. As meninas continuam sendo enquadradas em atividades manuais que reforçam a antiga idéia da maternidade, cuidado com o lar, família, etc. Os meninos continuam representando o poder, liderança e inteligência.
Essas posições precisam ser questionadas a fim de não normalizar o que já está posto como preconceito, tratamento desigual, desnecessário, vexatório, machista, etc. De acordo com Louro (2003) é necessário se perceber enquanto professor(a). É importante identificar quais palavras expressadas transmitem ideia de sexismo, racismo, etnocentrismo. É imprescindível questionar o que se é ensinado, tal qual, o modo como se ensina, desmistificando aprendizagens sólidas e verdades tidas como absolutas.
CONCLUSÃO
Prestar atenção às questões relativas às relações de gênero e sexualidade, assim como desejar construir a proclamada igualdade, envolve lançar mão de novas concepções e de novos recursos de trabalho; problematizar o que, muitas vezes, percebemos como natural e “harmônico”; e considerar elementos que até agora foram silenciados na realidade escolar, como os corpos dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, sua sexualidade, seus desejos e sentimentos.
	Pensar a partir da categoria teórica gênero nos dá a possibilidade de entender as relações entre os sexos também no âmbito da cultura, do simbólico, das representações, e isso é muito importante quando se pensa em educação, porque, quando trabalhamos nessa área, reconstruímos a cultura, os valores, os símbolos nas novas gerações, transmitindo ou recriando, reproduzindo ou transformando as hierarquias, as diferentes importâncias atribuídas socialmente àquilo que é associado ao masculino e ao feminino. (FARIA, 1999).
	Os educadores “devem estar conscientes e entender o poder e influência de seu comportamento e atitudes, assim como do que ensinam e de como ensinam.” (WHITELAW, 2003, p. 38). Nesse sentido, a instauração de práticas simples de subversão, questionamento e problematização das ordens de gênero instauradas, podem talvez “contribuir para perturbar certezas, para ensinar a crítica e a autocrítica [...], para desalojar as hierarquias.” (LOURO, 1997, p. 124). Nesse sentido, a instauração de práticas simples de subversão, questionamento e problematização das ordens de gênero instauradas, podem talvez “contribuir para perturbar certezas, para ensinar a crítica e a autocrítica [...], para desalojar as hierarquias.” (LOURO, 1997, p. 124). 
	Steinberg e Kincheloe (2001) afirmam que as escolas não podem ignorar os efeitos produzidos por outros locais educativos, pois são nestes locais onde o poder se organiza e se exercita. São espaços que produzem significados a respeito de família, de sexualidade, de gênero, de raça, de justiça, de consumo, entre tantos outros, que interagem com os indivíduos. Esses significados normatizam e fixam as diversas instâncias da vida social produzindo sujeitos e suas identidades.
	Enfim, acredita-se que há a necessidade de trilhar um caminho, no sentido de buscar compreender o porquê dos posicionamentos históricos, culturais, sociais, políticos e educacionais dos indivíduos atuantes em determinado contexto histórico reflete nos dias atuais.
9. REFERÊNCIAS
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CATANI, D. B., et al. Docência memória e gênero. São Paulo:Escrituras, 1997.
DURKHEIN. E. Educação e sociologia. 5. ed. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1952
GOODE, W.J,; HATT, P.K., Métodos de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.
GUIRALDELLI, R. Adeus à divisão sexual do trabalho? Desigualdade de gênero na cadeia produtiva da confecção. Sociedade e Estado, v. 27, n. 3, p. 709-732, 2012.
LAVILLE, C.; DIONE, J., A construção do saber: Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed, 1999.
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação. 6ªed. Petrópolis: Vozes, 2003.
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Focault. In: JAGGAR, A. M.; BORDO, S. R.(Org.) Gênero, Corpo, Conhecimento. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1997.
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CARVALHO, M. P. Mau Aluno, Boa Aluna? Como as Professoras Avaliam Meninos e
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