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A síndrome da fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa crônica, não inflamatória, de etiologia desconhecida, que se manifesta no sistema músculoesquelético, podendo apresentar sintomas em outros aparelhos e sistemas síndrome de dor crônica, real, causada por um mecanismo de sensibilização do sistema nervoso central à dor QUADRO CLÍNICO O sintoma presente em todos os pacientes é a dor difusa e crônica envolvendo o esqueleto axial e periférico dificuldade para localizar a dor, muitas vezes apontando sítios peri-articulares, sem especificar se a origem é muscular, óssea ou articular A dor pode ser: queimação, pontada, peso, " tipo cansaço" ou como uma contusão É comumagravamento pelo frio, umidade, mudança climática, tensão emocional ou por esforço físico Sintomas centrais: - sono não reparador cansaço ao acordar, falta de energia logo pela manhã padrão eletroencefalográfico alfa-delta que explica o fato de eles não alcançarem os estágios restaurativos 3 e 4 do sono n-REM (sem movimento ocular rápido) Uma noite de sono ruim frequentemente agrava os sintomas da fibromialgia no dia seguinte - fadiga sensação de exaustão fácil e dificuldade para realização de tarefas laborais ou domésticas - parestesias nestes pacientes não respeitam uma distribuição dermatômica - "sensação" de inchaço: particularmente nas mãos, antebraços e trapézios não é observada pelo examinador e não está relacionada a qualquer processo inflamatório - muitos se queixam de sintomas não relacionados ao aparelho locomotor cefaléia, tontura, zumbido, dor torácica atípica, palpitação, dor abdominal, constipação, diarréia, dispepsia, tensão pré-menstrual, urgência miccional, dificuldade de concentração e falta de memória O exame físico fornece poucos achados bom aspecto geral, sem evidência de doença sistêmica, sem sinais inflamatórios, sem atrofia muscular, sem alterações neurológicas, com boa amplitude de movimentos e com força muscular preservada, apesar dos sintomas mencionados O único achado clínico importante é a presença de sensibilidade dolorosa em determinados sítios anatômicos, chamados de tender points Pontos dolorosos Examinador usa a unha do polegar para exercer uma pressão de aproximadamente 4 kg/m2, ou uma pressão que produz empalidecimento da ponta da unha do polegar, em locais musculotendíneos bem definidos O critério de resposta dolorosa em pelo menos 11 desses 18 pontos, são recomendados como proposta de classificação, mas não devem ser considerados como essencial para o diagnóstico 1. Subocciptal - na inserção do músculo subocciptal; 2. Cervical baixo - atrás do terço inferior do esternocleidomastoideo, no ligamento intertransverso C5-C6; 3. Trapézio - ponto médio do bordo superior, numa parte firme do músculo; 4. Supra-espinhoso - acima da escápula, próximo à borda medial, na origem do músculo supra-espinhoso; 5. Segunda junção costo-condral - lateral à junção, na origem do músculo grande peitoral; 6. Epicôndilo lateral - 2 a 5 em de distância do epicôndilo lateral; 7. Glúteo médio - na parte média do quadrante súperoexterno na porção anterior do músculo glúteo médio; 8. Trocantérico - posterior à proeminência do grande trocanter; 9. Joelho - no coxim gorduroso, pouco acima da linha média do joelho Novos critérios eliminam os pontos sensíveis e concentram-se nos sintomas clínicos de dor disseminada e sintomas neuropsicológicos; Critérios Preliminares para Diagnóstico de Fibromialgia (2011) é composto pelo Índice de Dor Generalizada (IDG) e pela Escala de gravidade dos sintomas (EGS); Diagnóstico estabelecido com IDG >7 associado a EGS >5, ou alternativamente o IDG entre 3 e 6 e o EGS >9; A partir de 2011, a soma do IDG + EGS resultam o índice Fibromiálgico (IF), variando de 0 a 31; Em 2016, a dor generalizada volta a ser obrigatória; Em 2019, a American Pain Society, utilizada de critérios baseados em dimensões: sintomas centrais, aspectos comuns, comorbidades, impactos e fatores causais, de risco e protetivos EPIDEMIOLOGIA Prevalência de cerca de 2% em mulheres e 0,5% em homens; Aumento com a idade 12% das mulheres na sexta década de vida; Acomete mais mulheres com uma relação de até 9:1 homens FISIOPATOLOGIA sensibilização central amplificação dos impulsos sensoriais periféricos e um déficit de controle inibitório descendente do mesencéfalo consequente a uma hiperexcitabilidade neuronal persistente, que continua muito tempo depois do estímulo sensibilizante original ter se desvanecido Wind up (somatório temporal dos impulsos neurais) Isso ocorre quando fibras de dor (fibras C não mielinizadas) são estimuladas de forma repetida a uma fq > do que a de um impulso a cada três s Em termos bioquímicos, essa estimulação resulta na despolarização dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA), que causa alterações da transcrição que afetam o processamento da dor Esses receptores ficam inativos devido a inibição provocada pelo Magnésio Haverá ↑ do glutamato, que estimulará esse magnésio a se deslocar, permitindo assim a ativação desses receptores Dessa forma, ↑ o influxo de Cálcio, que ↑ a condução de estímulos pelas fibras ↑ a hiperexcitabilidade WIND UP hiperatividade do sistema autônomo simpático e alterações hormonais na resposta ao estresse Algumas evidências sugerem que há uma predisposição genética evidenciada por agregação familiar e polimorfismos de alguns genes como o catecol-O metiltransferase (COMT), transportador de serotonina, receptores de dopamina ou ainda de receptores adrenérgicos dor crônica: desequilíbrio entre a aferência e a modulação sensibilização do sistema nervoso central que resulta clinicamente em dor espontânea, hiperalgesia e alodinia. Hiperalgesia é a dor mais intensa quando os pacientes são submetidos a estímulos dolorosos. Alodinia é a percepção de dor frente a estímulos não dolorosos Fatores exógenos (estresse e infecções): ativação de células da glia por citocinas, quimiocinas... o IL-8, substância P, glutamato e fator de crescimento de nervo no líquido cefalorraquidiano; o Sistema descendente da dor no núcleo cinzento periaquedutal do mesencéfalo, sendo ativados por opioides, endorfinas e emoções, para diminuir o processamento sensorial; DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL e não exclusivo TRATAMENTO Farmacológico Antidepressivos Tricíclicos: alteram o metabolismo da serotonina e noradrenalina, e dos nociceptoresanalgesia periférica e central potencializa o efeito de analgésicos opioides endógenosaumenta a duração da fase 4 do sono n- REM; o Amitriptilina (12,5-50 mg), de 2 a 4 horas antes de deitar melhora da fadiga, dor e sono; o Ciclobenzaprina (10 a 30 mg) de 2 a 4 horas antes de deitar utilizada como miorrelaxante; Bloqueadores seletivos da receptação de serotonina: quando usados em conjunto com tricíclicos, amplificam a ação desses no alívio da dor, sono e bem-estar global; o Fluoxetina (10-40 mg) pela manhã; Benzodiazepínicos: utilizados em conjunto com AINEs, para diminuição da duração de ondas delta durante o sono profundo mas podem gerar dependência; o Alprazolam (0,5-3 mg); Analgésicos: paracetamol e dipirona como adjuvantes; o Tramadol associado a paracetamol melhora as dores, mas não o número de tender points; Não-Farmacológico Exercícios Físicos: aeróbicos, sem carga, sem impactos, para relaxamento e fortalecimento muscular; o Analgésico, estimula a liberação de endorfinas, antidepressivo, bem-estar e autocontrole; Suporte psicológico: 25 a 50% dos pacientes apresentam distúrbios psíquicos associados; o Acompanhamento psicológico, terapia cognitivocomportamental e biofeedback melhora mesmo depoisde 6 meses no número de tender points e intensidade da dor; Giovana Paula
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