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Dor - �siopatologi�: Classificações da dor: Quanto ao início e à evolução: - Dor aguda: Uma dor aguda indica que o organismo está sendo agredido ou que sua integridade está em risco. Pode durar de fração de segundo a semanas. Se não for tratada adequadamente, pode se tornar crônica, passando a ser a “doença” do paciente, condição que deve ser abordada de maneira totalmente diferente da dor como “sintoma”. - Dor crônica: Considera- se dor crônica a que dura no mínimo 3 meses, mas que pode causar sofrimento por anos, demandando tratamento farmacológico adequado e terapias múltiplas, pois abala os laços familiares, interpessoais, sociais, laborais e educacionais, além de fragilizar afetiva e emocionalmente o paciente. O mecanismo que transforma uma dor aguda em crônica é a plasticidade mal -adaptativa do sistema nociceptivo. Dor nociceptiva: - É causada pela ativação dos nociceptores. - A transmissão dos impulsos é conduzida pelas vias nociceptivas até as regiões do sistema nervoso central, onde são interpretados. - São exemplos caraterísticos de dor nociceptiva as causadas por agressões externas (picada de inseto, fratura de osso, corte da pele), a dor visceral (cólica nefrética, apendicite), a neuralgia do trigêmeo, a dor das lesões articulares e da invasão neoplásica dos ossos. - A dor nociceptiva é percebida simultaneamente com a estimulação provocada pelo fator causal, em geral, facilmente identificado. - A remoção da causa quase sempre é acompanhada de alívio imediato da sensação dolorosa. - Nenhum déficit sensorial é identificado nesses pacientes e a distribuição da dor corresponde à das fibras nociceptivas estimuladas. - Quanto menor o número de segmentos medulares envolvidos na inervação de uma estrutura, mais localizada será a dor (somática superficial). - Em contrapartida, quando o número de segmentos medulares é grande, mais difusa será a dor (visceral e somática profunda). - A dor nociceptiva pode ser espontânea ou evocada. - A espontânea costuma ser relatada com várias designações: pontada, facada, agulhada, aguda, rasgando, latejante, surda, contínua, profunda, vaga, dolorimento. Todas sugerem lesão tissular. A dor espontânea pode ser constante ou intermitente. - Dor constante é aquela que ocorre continuamente, podendo variar de intensidade, mas sem desaparecer completamente. O indivíduo dorme e acorda com dor. - A dor neuropática costuma ser descrita como em queimação ou dormência e formigamento (disestesia). - Dor intermitente é aquela que ocorre episodicamente, sendo sua frequência e duração bastante variáveis. Em geral, é descrita como dor em choque, aguda, pontada, facada, fisgada. Deve ser diferenciada das exacerbações da dor constante. São exemplos a alodinia e a hiperpatia, presentes na dor neuropática, e a hiperalgesia primária e secundária, na dor nociceptiva. - A dor evocada pode ser desencadeada por manobras como a de Lasègue na ciatalgia, que é a dor provocada pelo estiramento da raiz nervosa, ao se fazer a elevação do membro inferior afetado, estando o indivíduo em decúbito dorsal, ou lavar o rosto e escovar os dentes, no caso de pacientes com neuralgia do trigêmeo. Esses estímulos reproduzem a dor sentida espontaneamente pelo paciente. Dor neuropática: - Também denominada dor por lesão neural ou por desaferentação, que é a privação de um neurônio de suas aferências, ou central quando é secundária a lesões do sistema nervoso central. - Pode apresentar- se de três formas: constante, intermitente e evocada. - Ainda não se conhecem exatamente os mecanismos fisiopatológicos da dor neuropática, mas a lesão do trato neoespinotalâmico ou neotrigeminotalâmico na dor facial parece ser condição essencial para seu aparecimento. - Este tipo de dor é gerado no sistema nervoso, independentemente de estímulo externo ou interno. - A secção do trato neoespinotalâmico, eficaz em eliminar a dor nociceptiva, agrava a dor neuropática, pois permanece o componente constante. - Este fato sugere que o provável mecanismo seja a desaferentação. Quando um neurônio é privado de suas aferências (desaferentação), aparecem diversas alterações, incluindo degeneração dos terminais pré sinápticos, reinervação do local desaferentado por axônios vizinhos por brotamento (sprouting), substituição de sinapses inibitórias por excitatórias, ativação de sinapses anteriormente inativas e aumento da eficácia de sinapses antes pouco eficazes ou latentes. - Estas alterações tornam as células desaferentadas hipersensíveis, daí a denominação de células explosivas (bursting cells). - Sua hiperatividade é espontânea, visto que são integrantes das vias nociceptivas. - Este seria o mecanismo fisiopatológico da dor descrita como em queimação ou formigamento. - Outra possibilidade é o componente constante da dor neuropática ser devido à hiperatividade das vias envolvidas. - A estimulação elétrica dessas estruturas, em pacientes com dor neuropática, mimetiza a sensação dolorosa relatada por eles. - Naqueles que não se referem a este tipo de dor, a estimulação elétrica não produz nenhum efeito. - A dor neuropática pode ser intermitente ou evocada (alodinia e hiperpatia). - A dor intermitente decorre da ativação das vias nociceptivas pela cicatriz formada no local da lesão ou por efapse (do grego ephapsis) que são impulsos motores descendentes que cruzam as vias nociceptivas no sítio de lesão do sistema nervoso. - A secção cirúrgica completa da via neoespinotalâmica ou neotrigeminotalâmica, na dor facial, por exemplo, elimina essa modalidade de dor. - A dor evocada, por sua vez, decorre de rearranjos sinápticos que sofreram desaferentação. - A reinervação de células nociceptivas desaferentadas por aferentes táteis, por exemplo, faz com que a estimulação tátil, ao ativar neurônios nociceptivos, provoque uma sensação dolorosa desagradável (alodinia). - A substituição de sinapses inibitórias por excitatórias, o aumento da eficácia de sinapses outrora pouco efetivas e a ativação das inativas podem tornar tais células hiper responsivas aos estímulos dolorosos, manifestando-se clinicamente sob a forma de hiperpatia. - Como a dor evocada depende da estimulação dos receptores e do tráfego dos impulsos pelas vias nociceptivas, ela pode ser aliviada pela secção cirúrgica da via neoespinotalâmica ou neotrigeminotalâmica na dor facial. - São causas de dor neuropática: - (1) neuropatia diabética, na qual há acometimento predominante de fibras mielínicas finas e amielínicas, neuropatia alcoólica, que compromete indistintamente qualquer tipo de fibra, e a neuropatia causada por carência de vitamina B12 ; - (2) na neuralgia pós herpética, em que são acometidas preferencialmente fibras mielínicas grossas do ramo oftálmico do nervo trigêmeo ou dos nervos intercostais, manifestando se como uma mononeuropatia dolorosa; - (3) dor da síndrome do membro fantasma; - (4) dor por avulsão do plexo braquial; - (5) dor após trauma raquimedular; - (6) dor após acidente vascular encefálico (“dor talâmica”). - Características da dor neuropática: - Pode ser originada em afecções traumáticas, inflamatórias, vasculares, infecciosas, neoplásicas, degenerativas, desmielinizantes e iatrogênicas. - Seu início pode coincidir com a atuação do fator causal, porém, mais comumente, ocorre após dias, semanas, meses ou até anos. - Em geral, o fator causal não pode ser removido, por ter deixado de agir ou por ser impossível interrompê- lo. - A maioria dos pacientes apresenta déficit sensorial clinicamente detectável e a distribuição da dor tende a sobrepor- se, pelo menos parcialmente, à perda sensorial. - A dor neuropática apresenta -se em uma das seguintes formas: constante, intermitente (ambas são espontâneas) e evocada. - A dor constante é descrita como dor em queimação, dormência ou formigamento, ou como dolorimento. Trata-se de uma disestesia (sensação anormal desagradável). - A dor intermitente é mais frequente nas lesões nervosas periféricas e da medula espinal, sendo rara nas lesões encefálicas. É relatadacomo dor em choque. Lembra a dor da ciatalgia, mas diferencia- se dela pelo fato de seu trajeto não seguir o do nervo. - A dor evocada, conquanto mais comum nas lesões encefálicas, é frequente nas lesões medulares e do sistema nervoso periférico, podendo manifestar-se sob a forma de alodinia ou hiperpatia. - A forma constante da dor neuropática, ao contrário da dor nociceptiva, tende a ser agravada pela interrupção cirúrgica das vias da dor, pois tais procedimentos acentuam a desaferentação. Dor mista: - É a que decorre por mecanismos nociceptivo e neuropático, conjuntamente. Ocorre, por exemplo, em certos casos de dor causada por neoplasias malignas. A dor decorre tanto do excessivo estímulo dos nociceptores quanto da destruição das fibras nociceptivas. Dor psicogênica: - Toda dor tem um componente emocional associado, o que varia é sua magnitude. A dor denominada psicogênica, porém, é uma condição inteiramente distinta, na qual não há substrato orgânico, sendo gerada por condições emocionais. - A dor psicogênica muda de localização sem qualquer razão aparente. - Quando o paciente se refere à irradiação da dor, não segue o trajeto de qualquer nervo. - Sua intensidade é variável, mas quase sempre é agravada pelas condições emocionais do paciente. - Pode ser relatada como muito intensa, excruciante, lancinante, incapacitante e costuma ser descrita de maneira dramática (“como um canivete introduzido no corpo”, “como tendo a pele arrancada”). - Não infrequentemente é possível estabelecer -se a concomitância de um evento emocionalmente relevante na vida do paciente, coincidente com o início da dor. - Sinais e sintomas de depressão e/ou ansiedade são com frequência identificáveis. - Estes pacientes costumam levar à consulta uma lista de medicamentos utilizados e uma relação de especialistas já consultados. - Aliás, a utilização inadequada ou abusiva de analgésicos por estes pacientes é comum, que pode ser, inclusive, causa de iatrogenia. - Quase sempre se referem à realização de inúmeros exames complementares e, às vezes, relatam cirurgias prévias de indicação duvidosa, sem nenhum resultado, ou com alívio transitório (efeito placebo). - Ao exame físico, em geral não há achados relevantes relacionados à dor. - Não é raro se manifestarem com exagero durante o exame ao mero toque da região “dolorosa”. - Por vezes, simulam déficit sensorial de distribuição “histérica”, o qual não segue padrão dermatomérico. - Os exames complementares são normais ou apresentam “resultados” que não se correlacionam com as características da dor relatada. - Aliás, os laudos de exames podem se transformar pelo paciente na certeza de uma doença. - As avaliações psiquiátrica e psicológica costumam identificar depressão, ansiedade ou transtorno somatoforme. - Estes pacientes costumam ser um desafio na prática médica. - Falar que “não tem nada” só agrava a situação, porque a dor é uma sensação real para eles, embora os conhecimentos atuais não consigam explicá- la. Estruturas de origem da dor: - Com relação às estruturas onde se origina a dor, pode ser classificada em somática (superficial e profunda), visceral e irradiada). - Dor somática superficial: É a forma de dor nociceptiva provocada pela estimulação de nociceptores do sistema tegumentar. Tende a ser bem localizada e relatada como picada, pontada, queimor, sempre de acordo com o estímulo que a provocou. Sua intensidade é variável e, de certo modo, proporcional ao estímulo. Decorre, em geral, de trauma, queimadura e processo inflamatório. - Dor somática profunda: É uma dor nociceptiva decorrente de ativação dos nociceptores de músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulações. Suas principais causas são: estiramento muscular, contração muscular isquêmica, exercício exaustivo prolongado, contusão, ruptura tendinosa e ligamentar, síndrome miofascial, artrite e artrose. É uma dor mais difusa que a dor somática superficial. Sua localização é algo imprecisa, sendo, em geral, descrita como dolorimento, dor surda, dor profunda e, no caso de dor muscular isquêmica, como cãibra. Sua intensidade é proporcional à do estímulo causal, indo de leve a intensa. - Dor visceral: É a dor nociceptiva decorrente da estimulação dos nociceptores das vísceras. É profunda e tem características similares às da dor somática profunda, ou seja, é difusa, de difícil localização e descrita como um dolorimento ou dor surda, que tende a se acentuar com a atividade funcional do órgão acometido. - A dor visceral pode estar relacionada com quatro condições: - (a) comprometimento da própria víscera (dor visceral verdadeira); - (b) comprometimento secundário do peritônio ou pleura parietal (dor somática profunda); - (c) irritação do diafragma ou do nervo frênico; - (d) relacionada a um reflexo viscerocutâneo (dor referida). - A dor visceral verdadeira tende a se localizar na projeção anatômica do órgão onde se origina. - A dor cardíaca, por exemplo, tem localização retroesternal ou precordial; a pleural, na parede do hemitórax correspondente; a esofágica, na região retroesternal ou epigástrica; a gastroduodenal, no epigástrio e no hipocôndrio direito; a ileojejunal e dos cólons é predominantemente periumbilical; a do sigmoide e do reto, na região pélvica e perineal; a hepática e biliar, no hipocôndrio direito e epigástrio; a esplênica, no hipocôndrio esquerdo; a pancreática, no epigástrio, hipocôndrio esquerdo e parte média do dorso; a renal, nos flancos; a ureteral, nos flancos com irradiação para o baixo ventre e genitália; a vesical e uretral proximal é pélvica ou no baixo ventre; a uterina, no baixo ventre, região pélvica, perineal e lombar baixa; a originada nos ovários e anexos, na região pélvica, perineal, lombar baixa e nas fossas ilíacas. A qualidade da dor é específica para cada tipo de víscera. Assim, a dor das vísceras maciças e dos processos não obstrutivos das vísceras ocas é descrita como surda; a dos processos obstrutivos das vísceras ocas é do tipo cólica; quando há comprometimento da pleura parietal, em pontada ou fincada; na isquemia miocárdica é constritiva ou em aperto; e quando há aumento da secreção do ácido clorídrico (gastrite, úlcera gástrica ou duodenal), em queimação. - Dor referida: Pode ser definida como uma sensação dolorosa superficial percebida distante da estrutura onde se a originou (visceral ou somática). Característica importante da dor irradiada é que obedece claramente à distribuição metamérica. A explicação da dor referida é a convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos, superficiais e profundos, para neurônios nociceptivos, localizados no corno dorsal da medula espinal, sobretudo na lâmina V. Tendo em vista que o sistema tegumentar apresenta um suprimento nervoso nociceptivo muito mais exuberante do que o das estruturas profundas, somáticas e viscerais, a representação talâmica e cortical destas é muito menor do que a daquelas. Por conseguinte, os impulsos dolorosos provenientes das estruturas profundas seriam interpretados pelo cérebro como oriundos do tegumento e o paciente percebe a dor naquele local. São exemplos de dor referida: dor na face interna do braço (dermátomo T1) em pacientes com infarto agudo do miocárdio; dor epigástrica ou periumbilical (dermátomos T6 a T10) na apendicite; dor no ombro (dermátomo C4) em indivíduos com lesão diafragmática ou irritação do nervo frênico. - Na apendicite, a dor começa na região epigástrica ou periumbilical (dor referida) e, posteriormente, por irritação do peritônio parietal suprajacente, passa a ser sentida na fossa ilíaca direita (dor somática profunda). - A irritação do diafragma ou do nervo frênico não é incomum nas lesões de órgãos torácicos e do andar superior do abdome. Nestes casos, o paciente apresenta dor referida no ombro (dermátomo C4) porque o nervo frênico, responsável pela inervação do diafragma, origina- se predominantemente do quarto segmento medular cervical. Porém, as afecções da vesícula biliar (colecistite, colelitíase), que não têm nenhumarelação com o diafragma, também podem cursar com dor referida no ombro. Neste caso, é explicada pela participação do nervo frênico na inervação nociceptiva da vesícula biliar. - Dor irradiada: Caracteriza-se por ser sentida à distância de sua origem, mas em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em um nervo cuja estimulação é responsável pela dor. Exemplo clássico é a ciatalgia, provocada pela compressão de uma raiz nervosa por hérnia de disco lombar. Características semiológicas da dor: (Decálogo) - Localização: Refere-se à região onde o paciente sente a dor. Deve -se solicitar ao paciente que aponte com o dedo ou a mão a área onde sente a dor, que deve ser registrada de acordo com a nomenclatura das regiões da superfície corporal. É relevante avaliar a sensibilidade na área onde se localiza a dor e adjacências. A hipoestesia, por exemplo, é evocativa de dor neuropática, sobretudo se for descrita como em queimação ou formigamento. Por vezes, a sensibilidade pode estar aumentada, o que indica hiperestesia (hipersensibilidade aos estímulos táteis) e hiperalgesia (hipersensibilidade aos estímulos álgicos), traduzindo reações que ocorrem em uma área sem comprometimento da inervação sensorial. Alodinia e hiperpatia que ocorrem em uma área de hipoestesia são indicadores de dor neuropática. Sua verificação é particularmente útil nos casos em que o déficit sensorial é subclínico, ou seja, condições em que é mais difícil de confirmar o diagnóstico de dor neuropática. Lembrar que a dor somática superficial tende a ser mais localizada, enquanto a somática profunda e a visceral, assim como a neuropática, tendem a ser mais difusas. - Irradiação: A dor pode ser estritamente localizada ou irradiada, quando segue o trajeto de uma raiz nervosa ou nervo, ou referida, cujo mecanismo é diferente. Não se deve confundir dor referida e dor irradiada. A dor irradiada pode surgir em decorrência do comprometimento de qualquer raiz nervosa, podendo o território de irradiação ser conhecido pelo exame do mapa dermatomérico. - Qualidade ou caráter: Para que seja definida a qualidade ou o caráter da dor, solicita- se ao paciente para descrever a sensação que a dor provoca. Não raro o paciente experimenta dificuldade em relatar a qualidade da dor. Quando isso ocorre, pode -se oferecer a ele uma relação de termos “descritores”, mais usados e solicitar que escolha aquele ou aqueles que descrevam a dor de maneira mais adequada. A importância prática desta característica é que o caráter da dor pode auxiliar a definir o processo patológico subjacente. Assim: dor de cabeça latejante ou pulsátil é sugestiva de enxaqueca, abscesso e odontalgia; dor em choque, neuralgia do trigêmeo; dor em cólica ou em torcedura, na cólica nefrética, biliar, intestinal ou menstrual; dor em queimação, se visceral na úlcera péptica e esofagite de refluxo e, se superficial, na dor neuropática; dor constritiva ou em aperto, na angina do peito e infarto do miocárdio; dor em pontada, nos processos pleurais; dor surda, nas doenças de vísceras maciças; dor “doída” ou dolorimento, nas doenças das vísceras maciças e musculares, como a lombalgia, e também na dor neuropática (constante); e dor em cãibra, em afecções musculares. - Intensidade: É um componente relevante da dor. Aliás, é o que costuma ter mais importância para o paciente. Resulta da interpretação global dos seus aspectos sensoriais, emocionais e culturais. Como é uma experiência sensorial subjetiva, a avaliação da intensidade feita pelo paciente é o elemento fundamental desta característica. Isto porque, segundo a Organização Mundial da Saúde, a intensidade é o principal componente para escolha do esquema terapêutico, havendo para isso uma escala proposta pela OMS para a escolha do(s) medicamento(s). - Escalas de dor: As escalas com expressões, tais como sem dor, dor leve, dor moderada, dor intensa, dor muito intensa e pior dor possível, de amplo uso, têm a desvantagem de serem subjetivas. Em adultos, prefere- se, uma escala analógica, a qual consiste em uma linha reta com um comprimento de 10 centímetros, tendo em seus extremos as designações sem dor e pior dor possível. É solicitado ao paciente que indique a intensidade da dor em algum ponto dessa linha. O resultado é registrado com um valor de zero a dez. Esta escala não exclui o componente subjetivo, mas melhora a avaliação da intensidade. Para adultos com baixa escolaridade, crianças e idosos, para os quais a compreensão da escala analógica visual pode ser difícil, podem -se utilizar as escalas de representação gráfica não numérica, como a de expressões faciais de sofrimento: sem dor, dor leve, dor moderada e dor intensa. Se o paciente tem dificuldade em definir a “pior dor possível”, solicita -se a ele que a compare com a dor mais intensa já experimentada. A dor do parto, a da cólica nefrética, a de uma úlcera perfurada (no momento da perfuração) são referências adequadas para esse fim. Mas nem todo paciente tem estas referências. - Duração: Inicialmente, determina -se com a máxima precisão possível a data de início da dor. Quando é contínua, calcula- se sua duração de acordo com o tempo transcorrido entre o início e o momento da anamnese. Se for cíclica, deve -se registrar a data e a duração de cada episódio doloroso. Se é intermitente e ocorre várias vezes ao dia, são registradas a data de seu início, a duração média dos episódios dolorosos, o número médio de crises por dia e de dias por mês em que se sente dor. Estes elementos da história contribuem para o raciocínio diagnóstico. Dependendo da duração, a dor pode ser classificada em aguda ou crônica. Aguda é a dor que dura menos de 1 mês (ou 3 meses, conforme alguns autores), e cessa dias ou semanas após o desaparecimento ou melhora da doença ou lesão. Dor crônica é a que persiste além do tempo necessário para a cura da doença ou da lesão, habitualmente mais de 3 meses, transformando- se em uma condição clínica de grande interesse prático. Deixa de ser um “sintoma” e passa a ser a “doença” do paciente. Em geral, este tipo de dor está associado a fatores sociais e emocionais. - Evolução: Trata -se de uma característica de grande relevância, que revela a maneira como a dor evoluiu, desde seu início até o momento da anamnese. Duração e evolução são características semiológicas que se completam e são investigadas simultaneamente. A investigação é iniciada pelo modo de instalação: se súbita ou insidiosa. Se for súbita e tipo cólica, localizada no hipocôndrio direito, por exemplo, sugere colelitíase, ao passo que uma dor de início insidioso, surda, na mesma área, tem mais probabilidade de ser decorrente de colecistite ou hepatopatia. Em ambos os casos pode haver irradiação da dor para a área escapular e/ou ombro direito. É relevante definir a concomitância da atuação do fator causal e o início da sensação dolorosa. A dor neuropática pode iniciar- se semanas, meses ou até anos após a atuação do fator causal. Já o início da dor nociceptiva é sempre simultâneo ao fator que a provocou. O não reconhecimento da forma inicial de apresentação da dor (caso o paciente só seja visto tardiamente) torna mais difícil a caracterização da dor. A intensidade da dor também pode variar ao longo da evolução. Sua redução progressiva, sem qualquer alteração no tratamento, pode indicar que o quadro doloroso está entrando em remissão. Intensidade inalterada ou progressiva ou agravamento ao longo dos meses, a despeito de tratamento adequado, por outro lado, sugere que ela se tornou crônica. Uma dor crônica pode sofrer alterações de intensidade em um mesmo dia (ritmicidade) ou surgir em surtos periódicos, ao longo dos meses ou anos (periodicidade). Além dessas características evolutivas, a dor pode mudar seu padrão em função do tratamento. Assim, é necessário avaliar não somente as características da dor na fase inicial ou no momento atual, mas as alterações ao longo de sua evolução. - Relação com funções orgânicas: Essa característica é avaliada, tendo em conta a localização da dor e os órgãos eestruturas situados na mesma área. Quase sempre, a dor é acentuada pela atividade funcional do órgão em que se origina. - Fatores desencadeantes ou agravantes: São os fatores que desencadeiam a dor, ou a agravam. As funções orgânicas estão entre estes fatores, porém outros podem ser identificados. Devem ser procurados ativamente, pois, além de ajudarem a esclarecer o diagnóstico, seu afastamento constitui parte importante do tratamento. - Fatores atenuantes: São os que aliviam a dor, incluindo funções orgânicas, posturas ou atitudes que protegem a estrutura ou função do órgão onde é originada (atitudes antálgicas), incluindo repouso, distração, analgésicos opióides e não opióides, anti inflamatórios hormonais e não hormonais, relaxantes musculares, antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, anestésicos locais, fisioterapia, acupuntura, bloqueios anestésicos, procedimentos cirúrgicos e outras intervenções. No que se refere aos medicamentos, indagar nomes, doses e períodos em que foram usados. A distração tende a diminuir qualquer dor. - Manifestações concomitantes: A dor aguda, nociceptiva, sobretudo quando intensa, costuma acompanhar- se de manifestações neurovegetativas, que se devem à estimulação do sistema nervoso autônomo, expressando -se por sudorese, palidez, taquicardia, hipertensão arterial, mal -estar, náuseas e vômitos. Identificar as manifestações clínicas relacionadas à enfermidade de base é de grande valia para o diagnóstico. Dor e envelhecimento: - Com o envelhecimento, o limiar de dor aumenta e, consequentemente, as pessoas idosas podem apresentar problemas graves sem dor, que deixa de ser um sinal de alarme. - Além disso, as manifestações dolorosas podem ser atípicas e mal localizadas (p. ex., infarto do miocárdio com dor abdominal ou no dorso é mais frequente nessa faixa etária). - Cumpre assinalar que muitos idosos deixam de relatar as dores por considerá- las consequência do envelhecimento e que devem ser suportadas sem queixas. - Por outro lado, portadores de demência podem não relatar suas dores devido a dificuldades de expressão. Nesses casos, podem apresentar- se mais confusos e agitados. Referência: PORTO C.C.; PORTO A.L.; Semiologia médica. 8. ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2019. 1440 p.: il. ; 28 cm.
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