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NUTRIÇÃO CLÍNICA E DIETOTERAPIA PARA O SISTEMA DIGESTÓRIO Revisão para prova Carolline Miranda Nutricionista – UERJ Pós-graduada em nutrição clínica ortomolecular, fitoterapia e biofuncional – NUTMED Mestre em ciências – UERJ Doutoranda em ciências – UERJ Triagem nutricional • A Associação Dietética Americana (ADA), o Comitê das Organizações de Saúde (JCHO) e a Iniciativa de Triagem Nutricional (NSI) definiram triagem nutricional como o processo de identificação das características melhor associadas a problemas dietéticos ou nutricionais. • A triagem nutricional consiste de realização de inquérito simples ao paciente ou seus familiares com o propósito de indicar o risco nutricional. • Os doentes identificados como em risco pela triagem nutricional devem ser submetidos à avaliação nutricional para classificar seu estado nutricional e posteriormente planejar a terapia nutricional. • Para a triagem do risco nutricional, utilizam-se dados objetivos como: altura, peso corporal, alteração de peso, diagnóstico e presença de comorbidade. Triagem nutricional • Triagem nutricional (até 72 horas após a admissão) detecta o risco nutricional→ cuidados nutricionais adequados e acompanhamento nutricional pelo nutricionista impedem a desnutrição. • Para escolha da ferramenta de triagem deve-se considerar: ❖ Se houve validação prévia na população a que se destina ❖ Escolha de ferramenta que se destina ao público em que será aplicada ❖ Treinamento da equipe multiprofissional ❖ Preferência de ferramenta de triagem de baixo custo e de rápida aplicação ❖ Capacidade de detectar percentual de perda de peso, baixo peso corpóreo e sobrepeso, inclusão de doentes com distúrbios de fluidos e que não possam ser pesados ou medidos A triagem permite selecionar indivíduos a serem submetidos a avaliação nutricional TRIAGEM NUTRICIONAL AVALIAÇÃO NUTRICIONAL TERAPIA NUTRICIONAL Avaliação nutricional ▪ Qual a importância da avaliação nutricional para realizar um diagnóstico? ▪ Quais as ferramentas de Avaliação Nutricional? Avaliação Estado Diagnóstico Avaliação nutricional ▪ A avaliação nutricional é considerada um instrumento diagnóstico, já que mede de diversas maneiras as condições nutricionais do organismo, determinadas pelos processos de ingestão, absorção, utilização e excreção de nutrientes; ou seja, a avaliação nutricional determina o estado nutricional, que é resultante do balanço entre a ingesta e a perda de nutrientes. ▪ A avaliação nutricional é uma abordagem completa realizada pelo nutricionista com o objetivo de estimar o EN do paciente e interferir na manutenção ou recuperação da saúde. Primeiro passo - Anamnese Método para avaliar o EN • Existem diferentes métodos para avaliar o estado nutricional e a decisão do método a ser utilizado depende dos objetivos a serem alcançados. A literatura propõe a classificação dos métodos de avaliação nutricional em dois grandes grupos, os métodos diretos e métodos indiretos. ➢ Métodos diretos: ▪ Clínico: O levantamento de dados clínicos e um exame físico criterioso são importantes para identificar sinais e sintomas de desvios nutricionais. Cabe ressaltar que sinais e sintomas não são específicos e podem desenvolver-se somente em estágios mais avançados da doença ou agravo nutricional. ▪ Bioquímico e laboratorial: Estes indicadores possibilitam a identificação e interpretação de alterações bioquímicas que podem ser (fisiológicas, metabólicas) relacionadas ou não, à insuficiência ou excesso de consumo alimentar. Tipos de métodos de consumo alimentar Prospectivo Colhem a informação do passado imediato ou em longo prazo e estão associados com a dieta habitual. Incluem frequência alimentar (QFA), a Anamnese ou história alimentar e o recordatório de 24 horas (R24h). Registram informações recentes e estão associados à dieta atual. Os métodos utilizados dentro desta categoria são o registro de consumo de alimentos/diário alimentar, e a pesagem direta. Escolha do método • Objetivo em questão • Participação do entrevistado • Necessidade de ser alfabetizado • Dependência da memória • Número de aplicações do instrumento • Estimativa da ingestão habitual • Interferência no comportamento alimentar Antropometria Antropometria- origem do grego, anthro (corpo) e metria (medida) Método mais utilizado para caracterização do estado nutricional, utilizando medidas e dimensões do tamanho corpóreo nas diferentes idades ou situações fisiológicas. Anamnese Clínica Anamnese alimentar Exame físico Antropometria Exames Bioquímicos DIAGNÓSTICO Necessidade energética Necessidade energética • O ser humano alimenta-se para satisfazer duas necessidades básica: 1) Obter substâncias essenciais 2) Adquirir energia para a conservação dos processos fisiológicos • Metabolismo é uma atividade celular altamente dirigida e coordenada que abrange reações anabólicas e catabólicas. Essas reações envolvem sistemas multi enzimáticos que cooperam para realizar quatro funções: ❖ Obter energia química; ❖ Converter as moléculas dos nutrientes em moléculas necessárias para o funcionamento da célula; ❖ Polimerizar precursores monoméricos; ❖ Sintetizar e degradar biomoléculas necessárias para funções celulares especializadas. Métodos para determinação do gasto energético • Fórmulas preditivas para cálculo do gasto energético: ❑HARRIS & BENEDICT ❑FAO/OMS (2001) ❑IOM ❑ESPEN (2006) Após a determinação do VET... realizar planejamento e distribuição das calorias nos macronutrientes (proteína, carboidrato, lipídios) Planejamento dietético • Prescrição de dietas exequíveis • Atender aos sentidos e ao prazer da alimentação • Observar hábitos regionais • Assegurar necessidade individuais • Promover educação alimentar • Avaliar necessidade de modificações na dieta Planejamento dietético ▪ Modificações da dieta • Consistência; • Aumento/diminuição no valor energético; • Aumento/diminuição de nutriente; • Restrição de alimentos específicos; • Ajuste de nutrientes; • Mudança na via de administração. Modificações da dieta - Consistência Consistências: • Normal • Branda • Pastosa • Semilíquida • Líquida • Líquida Restrita Importante: Saber a diferença de cada uma Definição - Nutricional Enteral (NE) • “Alimentos para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes na forma isolada ou combinada, de composição química definida ou estimada, especialmente elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializadas ou não, utilizado exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistemas. “ • “C onjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de NE.” R D C Nº 503, 2021. Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) • G rupo formal e obrigatoriamente constituído de pelo menos um profissional de cada categoria: o médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico podendo ainda incluir profissional de outras categorias, habilitados e com treinamento específico para a prática da Terapia Nutricional. R D C Nº 503, 2021. Etapas da prática da TNE • Indicação da TNE: a ) O médico é responsável pela indicação da TNE; b) Deve ser precedida da avaliação nutricional; c) Repetir a avaliação nutricional a cada 10 dias • Prescrição: a ) O médico é responsável pela prescrição médica da TNE b ) O nutricionista é responsável pela prescrição dietética da N E O que deve contemplar na prescrição dietética da TNE? - Tipo e quantidade dos nutrientes requeridos pelo paciente; - Considerar o estado nutricional e necessidades nutricionais - Considerar condições do TGI R D C Nº 503, 2021. Competências do Nutricionista na E M TN • Realizar avaliação nutricional do paciente com base no protocolo pré-estabelecido; • Elaborara prescrição dietética e acompanhar a evolução nutricional do paciente em TN E , independente da via de administração, até alta nutricional estabelecida pela EMTN; • Formular a N E estabelecendo a sua composição qualitativa fracionamento segundo horários e formas de apresentação; • Acompanhar a evolução nutricional do paciente; e quantitativa, seu • Garantir o registro de todas as informações na evolução nutricional em prontuário; • Orientar o paciente e à família quanto à preparação e a utilização da N E após a alta hospitalar; • Preparação da N E que assegurem a manutenção das características organolépticas e a garantia microbiológica e bromatológica dentro de padrões recomendados na B P P N E • Selecionar, adquirir, armazenar e distribuir criteriosamente os insumos necessários ao preparo da N E , bem como a N E industrializada • Qualificar fornecedores – assegurar que insumos e N E industrializada seja acompanhada do certificado de análise microbiológica; R D C Nº 503, 2021. Competências do Nutricionista na E M TN • Participar de estudos para o desenvolvimento de novas fórmulas de NE; • Participar, promover e registrar atividades de treinamento operacional, e de educação continuada – garantindo a atualização de todos envolvidos na preparação da NE; • Registro da N E deve conter no mínimo: a) b) c) d) e) f) • Data e hora da manipulação da NE; Nome completo e registro do paciente; Número sequencial da manipulação; Número de doses manipuladas por prescrição; Identificação (nome e registro) do médico e manipulador; Prazo de validade da N E . • Desenvolver e atualizar regularmente diretrizes e procedimentos relativos aos aspectos operacionais de preparação da N E . Supervisionar as rotinas de preparação de N E R D C Nº 503, 2021. Sistema aberto x Sistema fechado • Sistema aberto: N E que requer manipulação prévia à sua administração, para uso imediato ou atendendo à orientação do fabricante. • Sistema fechado: N E industrializada, estéril, acondicionada em recipiente hermeticamente fechado e apropriado para conexão ao equipo de administração. R D C Nº 503, 2021. Indicações da TNE • TGI funcionante ou parcialmente funcional, incapazes de se alimentarem suficientemente por via oral, com risco de desnutrição; • Necessário mínimo de 60-100cm de TGI. Alimentação insuficiente por via oral: ❑<2/3 a ¾ ou <60% das necessidades nutricionais diárias. ❑Não iniciar T N E se não houver previsão de manter por 5 a 7 dias – sem benefícios. Outras indicações de TNE Outras principais indicações de T N E para adultos de acordo com situação do T G I Anorexia, câncer Paciente gravemente desnutrido em pré-operatório de cirurgia de médio a grande porte Paciente críticos, hipermetabólicos Queimadura, infecção grave, trauma extenso (elevada necessidade energética) Fístula digestiva (drenagem <500ml/24h) – C U I DADO ! Síndrome do intestino curto – avaliar intestino remanescente (60-100 cm) e adaptação no processo absortivo Pancreatite, enterite por quimioterapia e radioterapia Má absorção, alergia alimentar Anormalidades metabólicas do intestino Lesões do S N C , depressão, anorexia nervosa Lesão de face e mandíbula Câncer de cabeça e pescoço Deglutição comprometida de causa muscular/neurológica Contraindicações da TNE Contraindicações da T N E Disfunção do TGI ou condições que requerem repouso do TGI Doença terminal – quando as complicações superam o benefício Síndrome do intestino curto – fase inicial de reabilitação da cirurgia ou em casos de ressecção maciça Suboclusão/Obstrução intestinal Sangramento do TGI (melena, enterorragia, hematoquezia) Vômitos incoercíveis → dificuldade de manter o cateter posicionado Diarréia refratária → não responde ao tratamento Fístulas intestinais de alto débito (>500ml/24h) Isquemia gastrointestinal Instabilidade hemodinâmica → nutrientes no lúmen intestinal podem levar a isquemia e necrose Íleo paralítico intestinal Inflamação no TGI → pancreatites graves, enterites (quando requerem repouso GI) Ausência de função intestinal devido à estase pós operatória Utilização da TN E por período inferior a 5-7 dias (desnutridos) e 7-9 dias para bem nutridos Seleção da via de acesso - TNE • O que deve ser considerado inicialmente? 1) Período provável da T N E ❑ C urta duração (até 3 a 4 semanas ou até 6 semanas): sonda nasoentérica, com posicionamento gástrico, duodenal ou jejunal ❑ L onga duração (> 3 a 4 semanas ou > 6 semanas): ostomia (gastrostomia, jejunostomia ou gastrojejunostomia) 2) Risco de bronco aspiração: ▪ Déficit neurológico ▪ Doença esofágica ▪ Disfagia ▪ Obstrução gástrica ▪ Refluxo gastroesofágico Gastroparesia História de aspiração Optar pela via de acesso pós- pilórica Critérios para seleção da fórmula enteral 1) Via e tipo de administração 2) Categoria da dieta enteral/tipo de fórmula 3) Densidade calórica da dieta enteral 4) Osmolaridade/osmolalidade da dieta enteral 5) Fontes e complexidade dos nutrientes na dieta enteral Categorização das dietas enterais TIPO DE DIETA CARACTERÍSTICA QUANTO À INDICAÇÃO Dietas enterais de formulação padrão Objetivo de contemplar todas as necessidades nutricionais (quali e quantitativos). Quantidade equilibrada de macronutrientes, fibra, vitaminas e minerais. Geralmente possuem DC de 1,0-1,5 kcal/mL Dietas enterais de formulação especializada Dieta para diabetes, imunonutrição, doenças inflamatórias intestinais QUANTO AO SUPRIMENTO CALÓRICO Dietas enterais nutricionalmente completas Fornece todos nutrientes necessários Suplemento nutricional Complementam a alimentação, não fornecem calorias adequadas QUANTO A COMPLEXIDADE DOS NUTRIENTES Dietas poliméricas Macronutrientes, em especial proteína, estão na forma intacta (polipeptídeos) Dietas oligoméricas Macronutrientes, em especial proteína, estão na forma parcialmente hidrolisada (oligopeptíeo). Carboidrato – oligossacarídeos, dissacarídeos, maltodextrina – principal fonte. Lipídios – TCL e TCM. Dietas monoméricas ou elementares Macronutrientes, em especial a proteína, estão na forma totalmente hidrolisados (aminoácidos). O perfil de carboidrato, lipídios, vitaminas e minerais é semelhante ao das dietas oligoméricas. Densidade calórica da dieta enteral • Quantidade de calorias fornecida por mililitro de dieta • Pacientes com restrição hídrica tem indicação de dieta com maior densidade calórica → 1,5 a 2,0 kcal/mL Densidade calórica Kcal/mL fórmula % de água Muito baixa < 0,6 Muito hipocalórica - Baixa 0,6 – 0,8 Hipocalórica - padrão 0,9 – 1,2 Normocalórica 80-86 Alta 1,3 – 1,5 Hipercalórica 76-78 Muito alta > 1,5 Muito hipercalórica 69-71 A partir da densidade calórica da dieta e da kcal/kg que queremos ofertar, podemos calcular o volume de dieta enteral a ser fornecido para o paciente Como calcular densidade calórica? • Suplemento nutricional 1: Volume de 200 ml – 1 frasco Quantidade de calorias em 200 ml: 400 kcal Qual a densidade calórica deste suplemento? DC = kcal/volume (ml) DC= 400 kcal / 200 ml DC= 2 kcal/mL • Suplemento nutricional 2 : Volume de 125 mL – 1 frasco Quantidade de calorias em 125 mL: 300 kcal Qual a densidade calórica deste suplemento? DC= 300 kcal/125 DC= 2,4 kcal/mL Como calcular o volume de dieta enteral a partir da densidade calórica da dieta? • A partir da densidade calórica da dieta e da kcal/kg que queremos ofertar, podemos calcular o volume de dieta enteral a ser fornecido para o paciente. VET = 30 kcal/Kg de peso VET = 30 x 50 Kg VET = 1500 kcal/dia Fórmula disponível no meu hospital: DC=1,2 kcal/mL e 65g de proteína em 1 litro de dieta. Qual será o volume de dieta enteral que vou fornecer? Volume de dieta enteral = 1500 kcal / DC da dieta Volume de dieta enteral = 1500 kcal / 1,2 Volume de dieta enteral = 1250 ml de dieta em 24 horas para o paciente Qual será a oferta proteica? 1 litro de dieta ---- 65g de proteína 1,250L de dieta --- x ptn = 81,25g de proteína/dia= 1,65g de proteína/Kg de peso atual/dia Conteúdo de água nas fórmulas enterais • A quantidade de água é frequentemente relacionada em mL de água por 1.000 mL de fórmula; • A maioria das fórmulas enterais contém de 690 a 860 mL de água por 1.000 mL da fórmula enteral. Necessidade hídrica para adultos (projeto diretrizes): 30 a 40 mL/kg/dia ou 1,0 a 1,5 mL/kcal. Cálculo de água – fórmula enteral Exemplo de cálculo: Digamos que estou fornecendo 1.500 ml de uma fórmula com DC de 1,2. Então: 1L de dieta --- 800 mL de água 1,5 L de dieta ---- x = 1200 mL de água que forneço pela dieta em 24h Isso basta? Necessidade hídrica: 30 x peso do paciente (50Kg) = 1500 ml/dia 1500 ml (necessidade diária de água) – 1200 ml (já dou pela dieta) = 300 ml de água livre devo fornecer Complicações da Terapia Nutricional enteral • Náusea e vômitos • Estase gástrica • Má absorção • Distensão abdominal • Constipação • Diarreia • Complicações metabólicas • Complicações mecânicas Nutrição parenteral • Solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas. • Conjunto de procedimentos terapêuticos para manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente por meio de nutrição parenteral. MS, Portaria 272, 08 de abril de 1998 Indicações – Nutrição parenteral • Pré-operatório • Complicações cirúrgicas pós-operatórias • Pós-trauma • Distúrbios gastrointestinais • Pancreatite aguda • Obstrução mecânica do TGI • Hemorragias GI • Síndrome do intestino curto Contraindicações da nutrição parenteral • Instabilidade hemodinâmica - hipovolemia, choque cardiogênico ou séptico: acarretam em perfusão inadequada para o funcionamento dos órgãos; • Fase aguda do trauma (ebb-phase) • Edema agudo de pulmão - hipervolemia • Infarto agudo do miocárdio - irá incidir na alteração da perfusão sanguínea para órgãos e tecidos (hipervolemia) • Anúria sem diálise - ocorre acúmulo de líquido (hipervolemia) acarretando um quadro de edema generalizado - levando a instabilidade hemodinâmica • Distúrbios metabólicos - devido às concentrações de glicídio e lipídio, podem levar à alterações bioquímicas e eletrolíticas. Sistemas em nutrição parenteral • Sistema 2:1 ou sistema glicídico – soluções contendo aminoácidos e glicose; • Sistema 3:1 ou mistura parenteral total – contempla em um mesmo compartimento, aminoácidos, lipídio e glicose Atenção – sistema 2:1: para assegurar o fornecimento de ácidos graxos essenciais, as formulações de nutrição parenteral glicídica são usadas em associação com emulsões lipídicas infundidas 1-2x/semana, separado dos outros nutrientes. Sistema 2:1 – coloração translúcida Sistema 3:1 – coloração leitosa (acréscimo de lipídios) Cálculo da nutrição parenteral 1) Estabelecer o VET do indivíduo - A calorimetria indireta é considerada o método ideal para determinar a necessidade nutricional. - Porém na ausência do equipamento, recomenda-se: a) Uso de equações preditivas (Harris e Benedict, Mifflin-St Jeor) para estimar o GEB, e consequentemente calcular o VET. b) Uso de fórmulas simplificadas (fórmulas de bolso) Cálculo da nutrição parenteral 2) Estabelecer as recomendações de macronutrientes: a) Carboidratos • 50 a 60% do VET • É recomendado o máximo de 7 g/kg/dia de carboidratos para minimizar complicações metabólicas, como a hiperglicemia, as anormalidades no metabolismo hepático e o aumento do trabalho ventilatório. b) Proteínas • 10 e 15% do VET – indivíduos saudáveis • Balanço nitrogenado + em indivíduos saudáveis: 0,80 a 1,1 g/kg/dia • Estresse metabólico: 1 a 2 g/kg/dia (dependendo da situação clínica) Cálculo da nutrição parenteral 2) Estabelecer as recomendações de macronutrientes: c) Lipídios • 20 a 35% do VET • Lipídios são importantes como fonte de ácidos graxos essenciais • Fonte de energia e servem como transportadores de vitaminas lipossolúveis • Pacientes gravemente enfermos → menor capacidade de utilização de carboidratos e usar os lipídios como preferência metabólica de energia. • Possuem efeitos fisiológicos nas reações inflamatórias e imunológicas (ácidos graxos ômega 3). • Recomendação: não deve ultrapassar 2,5 g/kg/dia, para minimizar o risco de complicações metabólicas. • Em pacientes graves, a recomendação máxima de lipídios via venosa é de 1 g/kg/dia. Complicações da terapia nutricional parenteral • Metabólicas • Gastrointestinais • Mecânicas • Infecciosas Definição da desnutrição • Refere-se a deficiência na ingestão de energia e/ou nutrientes; • Contínua ingestão inadequada e/ou aumento das necessidades, absorção prejudicada, transporte alterado e utilização alterada de nutrientes; • Condições inflamatórias, hipermetabólicas e/ou hipercatabólicas ↑risco de desnutrição contribui para resposta negativa à intervenção nutricional ↑ risco de mortalidade ASPEN, 2012. Tipos de desnutrição • Leve – primeiro estágio, onde ocorre comprometimento antropométrico, expresso como déficit ponderal; • Moderada – sistema imunológico e neurológico passam a ser afetados; • Grave – caracterizada por desnutrição marasmática (desnutrição energético-proteica) e Kwashiorkor (proteica). Termos marasmo e kwashiorkor – pouco usados na prática clínica Termos mais utilizados: • Desnutrição crônica (energético-proteica) – estágio mais avançado do emagrecimento, associado à patologias de evolução lenta e silenciosa. • Desnutrição aguda (proteica) – em adultos é associada a condições clínicas graves (traumas, queimaduras, infecção). Diagnóstico de desnutrição • Critérios de diagnóstico para desnutrição (2 ou mais características): ❑Ingestão energética insuficiente ❑Perda de peso ❑Perda de massa muscular ❑Perda de gordura subcutânea ❑Acúmulo de fluidos de forma localizada ❑Redução da força palmar ASPEN, 2012. Classificação da gravidade da desnutrição Global Consensus for Diagnosing Malnutrition (GLIM) • Critérios GLIM para diagnóstico e classificação da desnutrição (ESPEN 2019): Estágios Critérios de fenótipo Critérios de etiologia Perda de peso (%) Índice de massa corporal (Kg/m²) Massa muscular Ingestão alimentar, má absorção ou sintomas GI Doença/inflamação Estágio 1 (Desnutrição moderado) > 5% nos últimos 6 meses <20 (<70 anos) <22 (>70 anos) Déficit leve a moderado Qualquer redução da ingestão abaixo das necessidades energéticas por > 2 semanas, ou moderada má absorção/sintomas GI Doença aguda/injúria (ex: queimadura, trauma) ou doença crônica relatada Estágio 2 (Desnutrição Grave) >10% em mais de 6 meses <18,5 (<70anos) <20 (>70 anos) Déficit grave <50% das necessidades energéticas por > 1 semana, ou grave má absorção/sintomas GI Doença aguda/injúria ou doença crônica relatada ESPEN, 2019. CRITÉRIO MAIS ATUAL PARA DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO DA DESNUTRIÇÃO Objetivo da terapia nutricional na desnutrição • Aumentar o peso corporal; • Aumentar o apetite; • Satisfazer os requerimentos nutricionais necessários; • Adaptar a dieta aos gostos e hábitos dos pacientes sempre que possível; • Promover educação nutricional; • Corrigir estados carenciais de macronutrientes e micronutrientes, favorecendo a recuperação do equilíbrio metabólico e homeostase orgânica. Corrigir as causas subjacentes que contribuem para a perda de peso REIS & CALIXTO-LIMA, 2015 Síndrome de realimentação na terapia nutricional • Ocorre principalmente nas primeiras 72 horas após o início da TNE ou TNP quando é iniciada de forma plena e agressiva. • Critérios para identificação de pacientes adultos com risco de síndrome de realimentação: ASPEN, 2020. Critérios Risco moderado Risco significativo IMC 16-18,5 kg/m² <16kg/² Perdade peso 5% em 1 mês 7,5% em 3 meses ou > 10% em 6 meses Ingestão calórica Nula ou insignificante por 5- 6dias OU <75% necessidades de energia >7dias OU <75% >1mês Nula ou insignificante >7 dias OU <50% >5 dias durante doença aguda OU <50% >1 mês P,Mg, K alterados pré-alimentação Níveis minimamente baixos Níveis mod-significat baixos exigindo suplementação de dose múltipla Perda de gordura subcutânea Evidência de perda moderada Evidência de perda grave Perda de massa muscular Evidência de perda leve ou moderada Evidência de perda grave Comorbidades Doença moderada Doença grave Obesidade - Definição • De acordo com a OMS, é caracterizada pelo excesso de gordura corporal, com implicações à saúde. • Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade, isto é, com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30. OMS, 2019. Blüher, 2019. 55,7 19,8 53,9 20,7 57,8 18,7 0 10 20 30 40 50 60 70 Excesso de peso Obesidade Total Feminino Masculino Etiologia da obesidade • A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, resultando da interação de genes, ambiente, estilos de vida e fatores emocionais. • Ingestão energética – gasto energético = Δ peso corporal Obesidade Desequilíbrio entre a ingestão energética e o gasto energético Alteração do peso corporal ↑teor de gordura Tamanho das porções Alimentos palatáveis, baixo custo ↓atividade física ↑comportame nto sedentário Privação do sono Síndrome Metabólica • Caracterizada por distúrbios crônicos que manifestam-se clinicamente juntos (devido à obesidade). ❑Intolerância à glicose ❑Resistência à insulina ❑Hiperlipidemia ❑Hipertensão arterial sistêmica (HAS) SBC, 2005. NCEP-ATP III, 2001. DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME METABÓLICA COMBINAÇÃO DE PELO MENOS TRÊS COMPONENTES: Diagnóstico – Obesidade ABESO, 2016 OPAS, 2002 IMC (kg/m²) Classificação Grau de obesidade/classe <18,5 Magro ou baixo peso 0 18,5 – 24,9 Normal ou eutrófico 0 25-29,9 Sobrepeso ou pré-obeso 0 30-34,9 Obesidade I 35-39,9 Obesidade II ≥ 40,0 Obesidade Grave III Classificação internacional da obesidade segundo o IMC: Divisão da adiposidade em graus ou classes IMC (kg/m²) Classificação ≤23 Baixo peso >23 - < 28 Adequado ≥ 28 - < 30 Excesso de peso/sobrepeso ≥ 30 Obesidade ADULTO IDOSO Objetivo do tratamento nutricional na obesidade • Promoção de balanço energético negativo; • Alcançar perda de peso corporal, reduzindo o percentual de gordura corporal, com subsequente controle do peso corporal; • Perda de 5 a 10% do peso corporal em obesos: efeitos positivos na glicemia, pressão arterial, e no perfil lipídico; • Estimular reeducação alimentar (hábitos alimentares saudáveis) em conjunto com atividade física. Tratamento nutricional na obesidade • Carboidratos: ❖55% a 60% do VET ❖Baixa concentração de CHO simples ❖Maior concentração de CHO complexos – prevenir hiperglicemia • Fibras ❖Recomendação: 20 a 30g/dia sob a forma de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas ❖Fibras insolúveis - lignina, celulose e hemiceluloses ❖Fibras solúveis - pectinas, gomas, mucilagens, betaglicanos, frutanos, e algumas hemiceluloses a) Reduz esvaziamento gástrico b) Aumenta saciedade e reduz sensação de fome c) Reduz reabsorção de ácidos biliares → melhora do perfil lipídico d) (+) produção de AGCC Tratamento nutricional na obesidade • Proteína: ❖15% a 20% do VET ❖Normo a hiperprotéica (0,8 – 1,2g/Kg peso/dia) ❖Favorecer o ganho de massa magra ❖Promovem saciedade ❖Relação kcal não protéica/g N: 140 – 160 – a fim de minimizar o risco de desvio de proteína para síntese de energia • Gorduras: ❖20% a 30% do VET ❖Quantidades moderadas de gorduras, reduzem o LDL colesterol, normalizam os triglicerídeos e diminuem a pressão arterial. ❖< 7% do VET de gordura saturada, 10% de gordura poli-insaturada e 13% de monoinsaturada Tratamento nutricional na obesidade • Vitaminas e minerais – atingir RDA • Líquidos – normo a hiperhídrica. o (1,0-1,2 mL/kcal) ou o 1.500 mL para cada 1.000 kcal (Cuppari) • Álcool – não recomendado. Diferentes tipos de tratamento para paciente obeso • Modificações do estilo de vida ❖Adequação qualitativa e quantitativa da alimentação; ❖Prática de atividade física o Adultos sadios: 30 minutos atividade moderada todos os dias o Obesos sem restrição dietética: 60 min atividade moderada pelo menos 4x/semana o Obesos com restrição energética da dieta: 30-60 minutos, 5 vezes/semana o Manutenção peso: 60 minutos/dia - 5 dias/semana ❖Terapia comportamental o Tratamento farmacológico o Tratamento cirúrgico – cirurgia bariátrica Tratamento farmacológico da obesidade • Indicação: 1) IMC maior ou igual a 30 kg/m²; 2) IMC maior ou igual a 25 ou 27 kg/m² na presença de comorbidades (hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus); 3) Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico (mudança de estilo de vida, dieta com restrição calórica e aumento de atividade física) ABESO, 2016 Tratamento cirúrgico da obesidade • Cirurgia bariátrica é um recurso utilizado em casos de obesidade grave com falha documentada de tratamento clínico. Objetivos: o Redução nos índices de mortalidade o Melhora de comorbidades clínicas • Equipe interdisciplinar: especialistas com experiência em obesidade e cirurgia bariátrica o Endocrinologista, cirurgião bariátrico, nutricionista ou nutrólogo, psiquiatra ou psicólogo, anestesista, enfermeiro, assistente social e eventualmente outros (cardiologista, pneumologista, fisioterapeuta, etc) Tratamento cirúrgico da obesidade • Técnicas cirúrgicas – podem ser classificadas em 3 categorias: 1) Procedimentos restritivos; 2) Procedimentos mal-absortivos; 3) Procedimentos mal absortivos e restritivos combinados.
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