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Indaial – 2021 Nutrição No EstrEssE MEtabólico Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S586n Silva, Amanda Alcaraz da Nutrição no estresse metabólico. / Amanda Alcaraz da Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 248 p.; il. ISBN 978-65-5663-532-3 ISBN Digital 978-65-5663-533-0 1. Dietoterapia. – Brasil. 2. Terapia nutricional. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 615.854 aprEsENtação Olá acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Nutrição no Estresse Metabólico! Este Livro Didático tem como propósito auxiliá-lo no processo de aprendizagem sobre a dietoterapia aplicada em diferentes doenças, além de viabilizar o conhecimento e aplicação prática da terapia nutricional enteral e parenteral, para tanto serão empregados conceitos introdutórios, fisiopatologia e manejo dietoterápico. O estudo por meio deste Livro Didático propiciará que você, futuro nutricionista, esteja preparado para atender pacientes do grupo materno infantil em hospitais, consultórios, ambulatórios e prestar assistência nutricional domiciliar. O livro está dividido em três unidades, cada qual inclui conteúdos, atividades de estudo, dicas, sugestões e recomendações. Na primeira unidade, serão abordados os seguintes temas: dietas hospitalares, terapia nutricional enteral e parenteral, nutrientes imunomoduladores e por fim fisiopatologia e dietoterapia aplicada às complicações gestacionais. Após estudo e realização das atividades, você poderá conhecer, contextualizar e aplicar seu conhecimento sobre dietas hospitalares, atendimento nutricional de gestantes de alto risco, alimentos/ dietas enterais/suplementos que contêm imunomoduladores, além de eleger dietas enterais, determinar seu volume e horários de administração. Na segunda unidade, a abordagem da fisiopatologia e dietoterapia aplicada ao grupo infantil, aos transtornos alimentares e aos erros inatos do metabolismo será conduzida de forma que você possa utilizar a dietoterapia como ferramenta de atendimento nutricional nessas condições de doença com enfoque na área da pediatria. Ao final, a terceira unidade oportunizará o aprendizado sobre a fisiopatologia e dietoterapia aplicado ao estresse metabólico, com destaque para o atendimento nutricional do paciente crítico, incluindo os queimados, os portadores de câncer e de doenças renais. Desejamos uma ótima leitura e aprendizado! Prof.ª Amanda Alcaraz da Silva Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — DIETAS HOSPITALARES, TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL E FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS..................................................................... 1 TÓPICO 1 — DIETAS HOSPITALARES ........................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................................... 3 RESUMO DO TÓPICO 1....................................................................................................................... 9 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 10 TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL .................................... 13 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 13 2 CONCEITO E LEGISLAÇÃO DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL ............................ 13 3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL ..... 14 4 TIPOS DE DIETAS ENTERAIS E MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO .............................. 17 5 NUTRIENTES IMUNOMODULARES ......................................................................................... 23 6 COMPLICAÇÕES E MANEJO DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL .......................... 25 7 CONCEITO, INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL (TNP) ........................................................................................................................... 26 8 TIPOS DE FORMULAÇÃO E MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO DA TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL ........................................................................................................ 28 9 COMPLICAÇÕES E MANEJO DA TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL ................. 30 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 33 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 35 TÓPICO 3 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS ......................................................................................................... 37 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 37 2 DISTÚRBIOS HIPERTENSIVOS DA GRAVIDEZ (DHG) ....................................................... 37 2.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ........................ 38 2.2 FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME HIPERTENSIVA DA GRAVIDEZ .............................. 39 2.3 DIETOTERAPIA APLICADA À SÍNDORME HIPERTENSIVA DA GRAVIDEZ .............. 41 3 DIABETES MELLITUS GESTACIONAL (DMG) .......................................................................45 3.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ........................ 45 3.2 FISIOPATOLOGIA DA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL ......................................... 46 3.3 DIETOTERAPIA APLICADA À DIABETES MELLITUS GESTACIONAL ......................... 47 4 ANEMIA FERROPRIVA NA GESTAÇÃO ................................................................................... 51 4.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ........................ 52 4.2 FISIOPATOLOGIA DA ANEMIA FERROPRIVA .................................................................... 53 4.3 DIETOTERAPIA APLICADA À ANEMIA POR DEFICIÊNCIA DE FERRO ...................... 54 5 HIPERÊMESE GRAVÍDICA ............................................................................................................ 56 5.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ........................ 56 5.2 FISIOPATOLOGIA DA HIPERÊMESE GRAVÍDICA .............................................................. 57 5.3 DIETOTERAPIA APLICADA À HIPERÊMESE GRAVÍDICA .............................................. 59 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 62 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 64 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 66 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 69 UNIDADE 2 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA AO GRUPO INFANTIL, TRANSTORNOS ALIMENTARES E ERROS INATOS DO METABOLISMO...................................................................................................... 77 TÓPICO 1 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA AO GRUPO INFANTIL .... 79 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 79 2 DESNUTRIÇÃO ................................................................................................................................ 79 2.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ........................ 80 2.2 FISIOPATOLOGIA ........................................................................................................................ 83 2.3 DIETOTERAPIA APLICADA À DESNUTRIÇÃO INFANTIL .............................................. 86 3 PREMATURO ..................................................................................................................................... 91 3.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ........................ 92 3.2 FISIOPATOLOGIA ........................................................................................................................ 93 3.3 DIETOTERAPIA APLICADA À PREMATURIDADE............................................................. 96 4 OBESIDADE INFANTIL ................................................................................................................ 105 4.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 106 4.2 FISIOPATOLOGIA APLICADA À OBESIDADE ................................................................... 109 4.3 DIETOTERAPIA APLICADA À OBESIDADE ....................................................................... 112 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 116 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117 TÓPICO 2 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES ......................................................................................................... 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 ANOREXIA NERVOSA .................................................................................................................. 119 2.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 120 2.2 FISIOPATOLOGIA ..................................................................................................................... 121 2.3 DIETOTERAPIA APLICADA À ANOREXIA NERVOSA .................................................... 123 3 BULIMIA NERVOSA ...................................................................................................................... 125 3.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 125 3.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 127 3.3 DIETOTERAPIA APLICADA Á BULIMIA NERVOSA ........................................................ 129 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 131 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 132 TÓPICO 3 — ERROS INATOS DO METABOLISMO ................................................................ 135 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 135 2 FENILCETONÚRIA ........................................................................................................................ 135 2.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 135 2.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 138 2.3 DIETOTERAPIA APLICADA À FENILCETONÚRIA .......................................................... 139 3 DOENÇA DA URINA DO XAROPE DE BORDO - LEUCINOSE ......................................... 142 3.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 143 3.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 144 3.3 DIETOTERAPIA APLICADA À DOENÇA DA URINA DO XAROPE DE BORDO ....... 145 4 GALACTOSEMIA ........................................................................................................................... 147 4.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 147 4.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 148 4.3 DIETOTERAPIA APLICADA À GALACTOSEMIA ............................................................. 149 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 152 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 153 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 155 UNIDADE 3 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA NO ESTRESSE METABÓLICO E DOENÇAS RENAIS .............................................................................................. 167 TÓPICO 1 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA NO ESTRESSE METABÓLICO ...... 169 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 169 2 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ......................169 3 FISIOPATOLOGIA DO ESTRESSE METABÓLICO ................................................................ 171 4 DIETOTERAPIA APLICADA AO ESTRESSE METABÓLICO .............................................. 174 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 183 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 184 TÓPICO 2 — FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS DOENÇAS RENAIS .... 187 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 187 2 LITÍASE RENAL .............................................................................................................................. 187 2.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 188 2.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 188 2.3 DIETOTERAPIA APLICADA À LITÍASE RENAL ................................................................ 193 3 LESÃO RENAL AGUDA ................................................................................................................ 195 3.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 196 3.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 197 3.3 DIETOTERAPIA APLICADA A LESÃO RENAL AGUDA.................................................. 201 4 DOENÇA RENAL CRÔNICA ....................................................................................................... 204 4.1 CONCEITO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E FATORES DE RISCO ...................... 205 4.2 FISIOPATOLOGIA ...................................................................................................................... 207 4.3 DIETOTERAPIA APLICADA A DOENÇA RENAL CRÔNICA ......................................... 210 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 222 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 229 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 231 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 233 1 UNIDADE 1 — DIETAS HOSPITALARES, TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL E FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer as dietas hospitalares, incluindo padronização, tipos e indica- ções; • eleger dietas enterais e determinar seu volume e horários de administra- ção; • compreender a fisiopatologia associadas à gestação de alto risco. • conhecer, contextualizar e aplicar saberes acerca da dietoterapia aplicada a gestantes de alto de risco; Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DIETAS HOSPITALARES TÓPICO 2 – TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL TÓPICO 3 – FISIOPATOLOGIA E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 DIETAS HOSPITALARES 1 INTRODUÇÃO No processo saúde/doença, é reconhecido que o estado nutricional saudável é condição indispensável para prevenção de doenças e também para recuperação em caso de enfermidade já presente. Nesse contexto, a desnutrição presente na admissão, ou adquirida durante a internação hospitalar, exerce papel negativo sobre a recuperação do indivíduo com subsequente elevação dos custos do tratamento, maior tempo de internação, maior risco de óbitos e sequelas após a alta hospitalar. No Brasil, um estudo multicêntrico com 4.000 pacientes identificou 31,8% de desnutrição na admissão hospitalar e após o 15º dia de internação a prevalência foi de 61% (CORREIA; CAIAFFA; WAITZBERG, 1998). A desnutrição hospitalar apresenta uma série de fatores para explicar a sua origem, podendo estar associada à(s) doença(s), ao(s) tratamento(s) ou a ambos. Uma das causas está diretamente relacionada ao consumo alimentar e, por conseguinte, a todos os elementos que influenciam/determinam nosso apetite durante uma internação hospitalar. A necessidade de alteração na composição da dieta (exemplo: restrição de sódio) e na consistência (exemplos: pastosa ou liquida) pode afetar o apetite, reduzir o consumo alimentar e, caso não seja identificado o problema e adotadas medidas de contenção, a desnutrição pode se instalar. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO Para além da discussão saúde/doença, é preciso lembrar que a questões psicológicas e socioculturais exigem atenção no atendimento nutricional, pois exercem influência importante sobre os hábitos alimentares e a visão que o indivíduo apresenta da sua condição saúde/doença e, desta forma, permeiam também os sinais de forme e saciedade, tão importantes na aceitação da dieta hospitalar. Nesse contexto, as dietas hospitalares visam atender as necessidades nutricionais dos pacientes de acordo com o seu estado nutricional e condição clínica, portanto, as dietas podem sofrer modificações na consistência, temperatura, volume, valor energético, das características químicas e restrição UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS 4 de nutrientes específi cos. Desta forma, tais alterações têm por objetivo manter o estado nutricional ou recuperá-lo favorecendo, assim, a melhor resposta ao tratamento adotado pela equipe médica. As dietas hospitalares podem ser classifi cadas em de rotina ou especiais. As de rotina são aquelas que não necessitam de restrições ou modifi cações em sua composição, mas permitem alterações na sua consistência em períodos com maior difi culdade de aceitação alimentar, podendo trazer maior facilidade de mastigação, deglutição e, por consequência, agilidade no processo digestivo e maior conforto ao paciente. Enquanto as especiais viabilizam a restrição ou acréscimo de nutrientes e/ou energia, como, por exemplo, a dieta hipossódica, que pode ser prescrita em casos de hipertensão arterial sistêmica. A consistência de uma dieta é determinada pela textura dos alimentos e preparações, o que permite as seguintes denominações: geral, branda, pastosa, líquida completa e líquida restrita. As Figuras 1, 2, 3, 4 exemplifi cam alimentos e preparações nas consistências normal/geral, branda, pastosa e líquida, respectivamente. FIGURA 1 – ALIMENTOS/PREPARAÇÕES NA CONSISTÊNCIA NORMAL FIGURA 2 – ALIMENTOS /PREPARAÇÕES NA CONSISTÊNCIA BRANDA FONTE: <http://cristalalimentos.com.br/site/wp-content/uploads/2020/06/Arroz-BannersSi- te-08.jpg>. Acesso em: 3 mar. 2021. FONTE: <https://2wkjc71of5p72635k82av5te-wpengine.netdna-ssl.com/wp-content/uplo- ads/2018/04/low6-768x512.jpg>. Acesso em: 3 mar. 2021. TÓPICO 1 — DIETAS HOSPITALARES 5 FIGURA 3 – ALIMENTOS /PREPARAÇÕES NA CONSISTÊNCIA PASTOSA FIGURA 4 – ALIMENTOS /PREPARAÇÕES NA CONSISTÊNCIA LÍQUIDA FONTE: <https://i2.wp.com/enfermagemcomamor.com.br/wp-content/uploads/2018/10/ vid_27440805_131337_509_dvd.original.jpg?resize=300%2C300&ssl=1>. Acesso em: 3 mar. 2021. FONTE: <http://www.todavoce.com.br/wp-content/uploads/2010/06/SOPA_MANTER_A_FOR-MA_NO_INVERNO_%C3%89_SOPA_2-300x225.jpg>. Acesso em: 3 mar. 2021. A dieta geral apresenta as seguintes características: consistência normal, fracionamento de cinco a seis refeições (conforme rotina de cada unidade de internação), normocalórica, normoproteica, normoglicídica e normolipídica. É indicada para indivíduos que não necessitam de modificações na consistência e nem em nutrientes, ou seja, inclui todos alimentos/preparações recomendados em uma alimentação saudável de acordo com o Guia Alimentar para População Brasileira (BRASIL, 2014). Para indivíduos com problemas mecânicos de ingestão e digestão, os quais impeçam o consumo de uma dieta geral, recomenda-se a dieta branda, essa alteração de consistência permite o abrandamento dos alimentos a fim de facilitar o processo digestivo e também pode ser indicada no processo de transição para dieta geral. Destacam-se as principais características: tecido conectivo e celulose abrandados por cocção ou ação mecânica; exclusão de especiarias (pimenta, pimenta do reino etc.), frituras, doces concentrados (goiabada, doce de leite etc.), bebidas gaseificadas, hortaliças cruas, frutas cruas, embutidos e conservas e leguminosas (somente o caldo ou caldo batido e coado). O fracionamento é de cinco a seis refeições diárias, sendo normoglicídica, normoproteica e normolipídica (CARUSO, SIMONY, SILVA, 2002; MACULEVICIUS, DIAS, 2009). http://enfermagemcomamor.com.br/index.php/2018/10/17/conheca-os-tipos-de-dietas-hospitalares/ http://www.todavoce.com.br/wp-content/uploads/2010/06/SOPA_MANTER_A_FORMA_NO_INVERNO_%C3%89_SOPA_2-300x225.jpg http://www.todavoce.com.br/wp-content/uploads/2010/06/SOPA_MANTER_A_FORMA_NO_INVERNO_%C3%89_SOPA_2-300x225.jpg UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS 6 A dieta pastosa é indicada para pacientes com dificuldades para mastigar e deglutir, para casos de pós-operatórios e casos neurológicos, por exemplo, sequela de Acidente Vascular Cerebral com quadro de disfagia, doença de Parkinson etc. Os alimentos/preparações devem estar em forma de purê, mingau ou amassados e as carnes precisam ser batidas ou trituradas. Devem ser evitados alimentos duros, secos, crocantes, fritos e verduras e folhosos crus. Pode ser recomendada na transição para dieta branda, tem fracionamento diário de cinco a seis refeições, sendo normoglicídica, normoproteica e normolipídica (CARUSO, SIMONY, SILVA, 2002; MACULEVICIUS, DIAS, 2009). Outra modalidade de consistência é a liquida completa, a qual é indicada para indivíduos com problemas de mastigação e deglutição (sem disfagia), preparo para exames, alguns casos de pré e pós-operatórios e transição para dieta pastosa. São recomendados os mingaus, caldos e sopas liquidificadas, os quais podem ser enriquecidos com módulos de proteínas ou carboidratos ou gordura. Vale destacar que a sua prescrição prolongada pode desencadear carências nutricionais e elevar o risco de desnutrição, portanto faz-se necessário acompanhar o estado nutricional e avaliar a possibilidade de prescrição de suplementos alimentares (CARUSO, SIMONY, SILVA, 2002; MACULEVICIUS, DIAS, 2009). A dieta líquida restrita tem por objetivo hidratar e manter repouso intestinal e não nutrir o paciente, visto que o máximo de valor energético diário alcançado é em torno de 400 kcal. Fazem parte os líquidos claros, água de coco, caldo de carne coado etc., e é isenta em lactose, sacarose e resíduos. É recomendada para casos de fístulas intestinais, pós-operatório do intestino grosso, preparação para exames entre outros (CARUSO, SIMONY, SILVA, 2002; MACULEVICIUS, DIAS, 2009). No ambiente hospitalar, o nutricionista clínico irá atender pacientes com diferentes tipos de doenças e quadro clínico com sintomas que exigem modificações na composição de uma dieta geral a fim de auxiliar o processo de recuperação e alta hospitalar. Vale destacar que cada Serviço de Nutrição e Dietética acaba por padronizar as dietas de acordo com o ciclo da vida, doenças e especialidades médicas atendidas. No Quadro 1, estão exemplificados alguns tipos de dietas especiais incluindo características, descrição e indicação (CARUSO, SIMONY, SILVA, 2002; MACULEVICIUS, DIAS, 2009). TÓPICO 1 — DIETAS HOSPITALARES 7 Caro acadêmico, aprofunde ainda mais o seu conhecimento sobre adequação das dietas hospitalares, acesse o artigo: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/ revistahupe/article/view/33293/26656 DICAS Tipo de dieta Características Descrição Indicação Diabetes Mellitus Normoglicidica Normolipidica Normoproteica Adequada e harmônica com carboidratos complexos e ricos em fibras, valor calórico ajustado às necessidades do paciente. Pacientes diabéticos. Hipossódica Normoglicidica Normoproteica Normolipidica Hipossódica Adequada e harmônica, sem adição de sal na cocção. Pacientes hipertensos. Laxativa Normoglicidica Normoproteica Normolipidica Rica em fibras Adequada e harmônica, com adição de alimentos integrais e crus. Pacientes constipados. Obstipante Normoglicidica Normoproteica Normolipidica Pobre em fibras, controle de sacarose e lactose Adequada e harmônica, preferência por alimentos cozidos, sem lactose e sacarose. Pacientes com diarreia. Pobre em gordura saturada Normoglicidica Normolipidica Normoproteica Adequada e harmônica, isenta em frituras, alimentos ricos em colesterol e gordura saturada. Pacientes portadores de doenças cardiovasculares. QUADRO 1 – DIETAS ESPECIAIS FONTE: Adaptado de Caruso, Simoy e Silva (2002) Maculevicius e Dias (2009) destacam que há ainda as dietas de provas, assim denominadas pois são recomendadas previamente a alguns exames de diagnóstico e cada instituição elabora sua padronização. São exemplos: preparo para colonoscopia, pesquisa de sangue oculto nas fezes, gordura fecal entre outros. https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/33293/26656 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/33293/26656 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS 8 Caro acadêmico, aprofunde ainda mais o seu conhecimento sobre aceitação da dieta por pacientes cardiopatas leia o artigo intitulado: Estado nutricional e aceitação da dieta por pacientes cardiopatas, publicado na revista Motricidade, em 2018. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/mot/v14n1/v14n1a31.pdf DICAS http://www.scielo.mec.pt/pdf/mot/v14n1/v14n1a31.pdf 9 Neste tópico, você aprendeu que: • O estado nutricional saudável é condição indispensável para prevenção de doenças e também para recuperação em caso de enfermidade já presente. • A desnutrição hospitalar apresenta uma série de fatores para explicar a sua origem, podendo estar associada à(s) doença(s), ao(s) tratamento(s) ou a ambos. • As dietas hospitalares visam atender as necessidades nutricionais dos pacientes de acordo com o seu estado nutricional e condição clínica. • As dietas hospitalares podem ser classificadas em de rotina ou especiais. • As de rotina são aquelas que não necessitam de restrições ou modificações em sua composição, mas permitem alterações na sua consistência em períodos com maior dificuldade de aceitação alimentar • As dietas especiais incluem as recomendadas para pacientes portadores de diabetes, hipertensão arterial sistêmica, diarreia etc. • A consistência de uma dieta é determinada pela textura dos alimentos e preparações, o que permite as seguintes denominações: geral, branda, pastosa, líquida completa e líquida restrita. • Cada Serviço de Nutrição e Dietética acaba por padronizar as dietas de acordo com o ciclo da vida, doenças e especialidades médicas atendidas.RESUMO DO TÓPICO 1 10 1 A padronização de dietas no ambiente hospitalar objetiva manter ou recuperar o estado nutricional de pacientes hospitalizados e, para tanto, ressalta-se o seu papel terapêutico nas em doença agudas e crônicas, desta forma é CORRETO afirmar: a) ( ) O estado nutricional durante a internação hospitalar é influenciado pelos seguintes fatores: aceitação da dieta, gravidade da(s) doença(s), condição psicológica, tempo de internação etc. b) ( ) As alterações de consistência da dieta, como por exemplo pastosa, liquida e liquida restrita, são prescritas a pacientes portadores de disfagia, os quais apresentam descoordenação na deglutição. c) ( ) A dieta hipossódica, classificada como especial, é preparada com sal e, conforme a prescrição/condição clínica do paciente, recebe ainda o sal em sachê para adicioná-lo ao almoço e/ou jantar. d) ( ) A fim de facilitar a mastigação, deglutição e digestão, a dieta branda pode ser prescrita a um paciente sem complicações e que tolera a dieta normal. 2 As dietas hospitalares podem ser padronizadas segundo suas características qualitativas e quantitativas a partir de uma dieta geral (normal), portanto, consistência, temperatura, volume, valor calórico total etc. podem ser modificados de acordo com a condição clínica do paciente. Associe o tipo de dieta às suas principais descrições/recomendações. 1) Dieta branda. 2) Dieta pastosa. 3) Dieta líquida. 4) Dieta líquida restrita. ( ) Os alimentos/preparações são liquidificados ou amassados a fim de prover maciez e facilidade para deglutir e digerir. Exemplo de caso clínico: sequela de acidente Vascular Cerebral com sequela de disfagia. ( ) Pode ser prescrita após um procedimento cirúrgico com o objetivo de avaliar a tolerância do paciente e hidratá-lo. São recomendados: água de coco, caldo de carne coado, água e evitar sacarose, lactose e resíduos. ( ) Os alimentos devem passar por cocção, evitar alimentos crus e fibrosos os quais dificultem a mastigação, deglutição e digestão. É recomendada a casos de transição entre a pastosa e a normal. ( ) É indicada a indivíduos com problemas de mastigação e deglutição (sem disfagia), preparo para exames, alguns casos de pré e pós-operatórios e transição para dieta pastosa. As preparações recomendadas são os caldos, mingaus, sopas etc. AUTOATIVIDADE 11 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) 3 – 2 – 4 – 1. b) ( ) 4 – 1 – 3 – 2. c) ( ) 2 – 4 – 1 – 3. d) ( ) 1 – 3 – 2 – 4. 3 A Dietoterapia pode ser a única modalidade de tratamento ou complementar em outros, apesar disso, a aceitação da dieta no ambiente hospitalar muitas das vezes torna-se prejudicada ou ausente, dependo da condição clínica e psicológica do paciente, do tempo de internação etc. As alterações dietéticas que podem comprometer a aceitação da dieta hospitalar são: a) ( ) Consistência e temperatura. b) ( ) Fracionamento e volume. c) ( ) Química e restrição de nutrientes específicos. d) ( ) Todas as alternativas estão corretas. 4 As dificuldades enfrentadas por pacientes internados com relação à aceitação da dieta ofertada podem comprometer o estado nutricional e a evolução clínica. Nesse contexto, quais condutas do nutricionista clínica poderiam prevenir ou minimizar esse problema? 5 As dietas especiais são aquelas elaboradas para atender condições clínicas específicas que incluem diabetes melito (DM), hipertensão arterial sistêmica, doenças renais etc. Tomando como exemplo o DM, indique quais características (mínimo duas) são modificadas a fim de controlar a doença. 12 13 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 1 INTRODUÇÃO A terapia nutricional por via enteral ou parenteral visa garantir a obtenção de nutrientes de forma adequada a pacientes que apresentam necessidades especiais, e com isso prevenir ou tratar a desnutrição no âmbito hospitalar ou domiciliar. A ingestão via oral plena ou parcial deve ser sempre uma meta a ser alcançada, quando há condição clínica para isso e o conhecimento técnico, bem como o entrosamento de uma equipe multidisciplinar são pilares para que a indicação e a implementação da terapia nutricional sejam realizadas com sucesso. Nesse contexto, caro acadêmico, você poderá aprender como melhor atender pacientes que necessitam se alimentar por vias alternativas, uma vez que serão abordados temas como: tipos de dieta, indicações e contraindicações, métodos de administração, principais complicações e como preveni-las e tratá-las etc. 2 CONCEITO E LEGISLAÇÃO DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL Define-se nutricional enteral, segundo a Portaria nº 337 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como: Alimentos para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição química definida ou estimada, especialmente elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializada ou não, utilizados exclusivamente ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando à síntese ou manutenção de tecidos, órgãos ou sistemas (BRASIL, 1999). A terapia nutricional (TN) tem um impacto significativo na evolução clínica de um paciente hospitalizado, principalmente naqueles internados em unidade de terapia intensiva (UTI) e que apresentam anorexia e/ou incapacidade de se alimentar por via oral por dias ou meses. 14 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS Vale destacar, também, que a TN é, muitas vezes, a forma parcial ou total de um indivíduo obter energia e nutrientes em uma unidade de internação hospitalar, em ambulatórios ou em ambiente domiciliar (TOLEDO; PINTO; NOGUEIRA, 2017). Toledo et al. (2017) destacam que, devido à complexidade em atender um paciente hospitalizado e desnutrido ou com risco nutricional, a formação de uma equipe multiprofissional de especialistas e com formações distintas assegura manejo e monitorização com maior competência e chances de sucesso. Nesse cenário, a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta a formação de Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) pela Portaria nº 63, de 8 de julho de 2000: Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN): grupo formal e obrigatoriamente constituído de pelo menos um profissional de cada categoria, a saber: médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico, podendo ainda incluir profissional de outras categorias, habilitados e com treinamento específico para a prática da Terapia Nutricional –TN (BRASIL, 2000). São atribuições do nutricionista: realizar avaliação nutricional; elaborar prescrição dietética; formular nutrição enteral (NE) estabelecendo a sua composição, seu fracionamento (horários) e forma de apresentação; adequar a prescrição , em consenso com o médico, com base na condição clínica e tolerância digestiva do paciente; registrar as informações em prontuário; orientar as famílias após a alta, assegurar que os rótulos da NE sejam claros e precisos e que se registrem, no mínimo, data e hora de manipulação da NE, nome completo do paciente, no sequencial de manipulação, no de doses manipuladas por prescrição, identificação do médico e manipulador, prazo de validade etc. (BRASIL, 2000). 3 INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL As indicações para prescrição da TNE podem ser as seguintes: pacientes impossibilitados de ingestão oral plena a fim de alcançar suas necessidades nutricionais diárias, seja por doenças do trato gastrointestinal alto, seja porintubação orotraqueal, seja por distúrbios neurológicos com distúrbio de consciência ou de movimentos mastigatórios. Recomenda-se, também, em casos de ingestão oral entre 60 a 70% da necessidade diária de energia e nutrientes independente da etiologia, neste contexto, lembra-se que a prescrição de TNE não contraindica a alimentação oral, caso ela não implique em riscos ao paciente (CUNHA et al., 2008; OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014; TOLEDO; PINTO; NOGUEIRA, 2017; VASCONCELOS, 2019). No Quadro 2, estão outros exemplos de indicações para TNE. TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 15 Indicações Exemplos Paciente inconsciente ou com nível de consciência rebaixado Trauma cranioencefálico, pacientes em ventilação mecânica Disfagia neuromuscular Pós sequela de AVC Paciente com ingestão oral insuficiente Câncer, AIDS, trauma, sepse Obstrução do trato gastrointestinal superior Câncer de esôfago, orofaríngeo Disfunção do trato gastrointestinal Síndrome Inflamatória Intestinal, fístula, síndrome do intestino curto Estresse metabólico com demanda aumentada de energia e nutrientes Queimaduras, câncer, fibrose cística Distúrbios psiquiátricos Anorexia nervosa, depressão grave QUADRO 2 – INDICAÇÕES PARA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL FONTE: Adaptado de Cunha et al. (2008) As contraindicações para prescrição de TNE são: vômitos intratáveis, obstrução intestinal, íleo paralítico, isquemia e sangramento do trato gastrointestinal, fístula de alto débito (> 500 ml/dia), diarreia intratável, terminalidade (pacientes em cuidados paliativos) com considerações de cada caso e recusa do paciente ao tratamento (CUNHA et al., 2008; TOLEDO; PINTO; NOGUEIRA, 2017; VASCONCELOS, 2019). Quando iniciar a TNE é um dos pontos discutidos pelas diretrizes e sociedades americana, europeia e canadense, principalmente para pacientes críticos e cirúrgicos. Em 2015, a Canadian Clinical Practice Guidelines, recomendou o início da terapia entre 24 a 48 horas após a admissão na UTI; ao passo que a Sociedade Europeia para Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN – European Society for Parenteral and Enteral Nutrition), em 2006, antes das 24 horas da admissão e/ou evento traumático; e a Sociedade Americana para Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN – American Society for Parenteral and Enteral Nutritional), em 2016, entre 24 e 48 horas após a admissão e com estado hemodinâmico equilibrado (TOLEDO; PINTO; NOGUEIRA, 2017). Nas enfermarias ou nas UTIs, a TNE pode trazer benefícios tendo em vista que o intestino, além de ser responsável pela digestão e absorção, secreta hormônios e funciona como uma barreira física e imunológica. São considerados efeitos benéficos da TNE precoce (< 48 horas) maior produção de muco, secreção de hormônios, elevação do fluxo sanguíneo intestinal e manutenção do peristaltismo, o que limita a colonização e supercrescimento de patógenos. Manter o trato gastrointestinal funcionante, quando há condição clínica para tanto, propicia o retorna à ingestão oral plena mais rápido, mantem/recupera o estado nutricional e contribui para um tempo de internação menor (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014; TOLEDO; PINTO; NOGUEIRA, 2017; VASCONCELOS, 2019). A indicação da via de acesso da TNE é determinada pela anatomia e funcionamento 16 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS do trato gastrointestinal, tempo de terapia e riscos de complicações, como, por exemplo, a broncoaspiração, que consiste na aspiração de conteúdo gástrico, podendo causar pneumonia, traqueobronquite e obstrução da via aérea. Após determinada a condição clínica do paciente e a necessidade de TNE, é necessária a passagem e posicionamento da sonda, portanto, a sua entrada pode ser por via oral (oro) ou naso (nariz) e o seu posicionamento distal pode ser gástrico ou intestinal (duodeno ou jejuno), assim denominando-se orogástrica ou nasogástrica; nasoduodenal ou nasojejunal, tais acessos são classificados de curta duração, ou seja, por até seis semanas (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014; SAITO; PINTO; LASELVA, 2017; VASCONCELOS, 2019). No Quadro 3, estão descritas as vias, suas indicações, vantagens e desvantagens. Via Indicações Vantagens Desvantagens Gástrica Incapacidade de ingestão por via oral (lesões na cavidade oral, problemas de deglutição). Possibilita processos digestivos, hormonal e bactericida do estômago. Permite infusão em bolus. Progressão mais rápida para alcançar o aporte nutricional pleno. Boa tolerância de fórmulas hiperosmóticas. Maior risco de aspiração pulmonar em casos de gastroparesia, alterações neurológicas e decúbito zero. Pós pilórica (duodeno ou jejuno) Intolerância a infusão gástrica. Aspiração, refluxo gastroesofágico. Gastroparesia. Esvaziamento gástrico prejudicado. Menor risco de saída acidental da sonda. Reduz risco de aspiração. Confirmação do posicionamento por imagem para liberação da infusão da dieta. Menor tolerância a fórmulas hiperosmolares e tolerância a volumes maiores de dieta. QUADRO 3 – VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DA DIETA ENTERAL FONTE: Adaptado de Oliveira e Iglesias (2014) Outra possibilidade é a inserção da sonda por ostomia, classificada como acesso enteral de longa duração (terapia por mais de seis semanas) e direto ao tubo digestório por meio de uma estomia, excluindo a boca ou nariz como possibilidade de entrada da sonda. TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 17 A gastrostomia, acesso direto para o lúmen gástrico, pode ser realizada por técnica endoscópica, radiológica ou cirúrgica (laparoscópica ou aberta); a jejunostomia, acesso direto ao jejuno, também pode ser efetuada por técnica endoscópica, radiológica ou cirúrgica (laparoscópica ou aberta). As ostomias são indicadas nas seguintes condições: necessidade de TNE por mais de dois meses, estenose de esôfago (por ingestão de substância cáustica, cirurgia ou radioterapia/quimioterapia), anomalias congênitas, encefalopatia crônica não progressiva, doenças neuromusculares etc. A gastrostomia é a via mais recomendada tanto em crianças como adultos, é reversível e não impede o estímulo e uso da via oral, caso não represente risco ao paciente (SAITO; PINTO; LASELVA, 2017; VASCONCELOS, 2019). 4 TIPOS DE DIETAS ENTERAIS E MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO A padronização e/ou categorização das dietas enterais permite uniformizar e alinhar o atendimento nutricional pela equipe multiprofissional, a qual, obrigatoriamente, deve ter um médico, um nutricionista, um farmacêutico e um enfermeiro, os demais profissionais que atendem podem compor a equipe, mas sem obrigatoriedade (BRASIL, 2000). Figueira, Piovacari e Sandoval (2017), conceituam que as fórmulas para nutrição enteral constituem alimento para fins especiais, industrializado, apto para uso por tubo (sonda) e, opcionalmente, por via oral, prescrito por médico ou nutricionista, especialmente processado ou elaborado para ser utilizado de forma exclusiva ou complementar na alimentação de pacientes com capacidade limitada de ingerir, digerir, absorver ou metabolizar, ou ainda em casos de necessidades nutricionais específicas determinadas por sua condição clínica. Para seleção de uma fórmula é fundamental conhecer a condição clínica do paciente e a composição exata da dieta, portanto, ela deve ser nutricionalmente completa para uso em períodos curtos e longos; satisfazer as exigências nutricionais do indivíduo, ser bem tolerada, de fácil preparação e econômica (VASCONCELOS, 2019). Os tipos de fórmulas comercializadas são a padrão ou modificada, a padrão deve conter obrigatoriamente proteínas, lipídeos, carboidratos, vitaminas e minerais, enquanto a modificada sofreu alteração em relaçãoaos requisitos de composição das fórmulas padrão, ou seja, há ausência, redução ou aumento dos nutrientes, adição de substâncias ou de proteínas hidrolisadas (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014; FIGUEIRA; PIOVACARI; SANDOVAL, 2017). A composição da dieta padrão e modificada está demonstrada nos Quadros 4 e 5, respectivamente. 18 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS Nutrientes Características Proteínas ≥ 10% e ≤ 20% do valor energético total (VET) do produto, na forma intacta, de origem vegetal ou animal. Lipídeos ≥ 15% e ≤ 35% do (VET): ≤ 1% de ácidos graxos trans, ≤ 20% de ácidos graxos monoinsaturados, ≥ 2% e ≤ 9% de ácidos graxos poli-insaturados n-6, ≥ 0,5% e ≤ 2% de ácidos graxos poli-insaturados n-3. Carboidratos ≥ 45% e ≤ 75% do (VET), na forma intacta ou hidrolisada. Devem conter vitaminas e minerais Podem conter fibras, flúor, taurina, carnitina, inositol Fibra: 2 g/100 kcal Flúor: 0,5 mg/100 kcal Taurina: 50 mg/100 kcal Carnitina: 100 g/100 kcal Inositol: 50 mg/100 kcal QUADRO 4 – COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE UMA FÓRMULA PADRÃO FONTE: Adaptado de Figueira, Piovacari e Sandoval (2017) FONTE: A autora QUADRO 5 – COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE UMA DIETA MODIFICADA Categoria Frasco Kcal/ ml Proteína (g) Lipídeo (g) Carboidratos (g) Isenta Semielementar pediátrica 500 ml 1,0 3,0 Soro do leite hidrolisado 3,9 TCM e óleo de soja Maltodextrina e amido Fibras, lactose, sacarose e glúten Caro acadêmico, aprofunde ainda mais o seu conhecimento acerca das dietas enterais padrão e modificadas comercializadas no Brasil, acesse: http://arquivos.braspen. org/journal/out-dez-2018/08formulas.pdf DICAS O mercado brasileiro comercializa mais de 100 fórmulas enterais nos sistemas aberto e fechado, a apresentação pode ser em pó, líquida em tetrapack ou pack. O sistema aberto exige manipulação do produto por ser em pó ou líquido (pronto para consumo), neste caso é necessário realizar envase em frasco TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 19 FONTE: Adaptado de Waitzberg (2009) QUADRO 6 – CATEGORIZAÇÃO DE ACORDO COM A DENSIDADE CALÓRICA específico; no sistema fechado não há manipulação, a apresentação é em pack e há um equipo específico para conexão, isto significa que o risco microbiológico é extremamente baixo (FIGUEIRA; PIOVACARI; SANDOVAL, 2017). De acordo com Baxter (2000), os critérios para seleção de uma fórmula são a densidade calórica e a osmolaridade ou osmolalidade. A densidade dependerá do total de calorias que o paciente precisa versus o volume de dieta enteral que deverá ser administrado durante o dia ou noite, por exemplo, para um indivíduo que necessita de 2000 kcal/dia e que não apresenta complicação metabólica ou dificuldade para digerir/absorver, a dieta padrão com 1 kcal/ml pode ser uma opção para atendê-lo plenamente. Caso se faça a opção pela administração intermitente (3/3 horas – oito vezes ao dia), será necessário infundir 2 L/dia; 250 ml de 3/3 horas; sendo a apresentação da fórmula em frasco de 500 ml, será preciso quatro unidades para alcançar 2000 ml – 2000 kcal/dia (necessidade energética). Em caso de administração contínua, os 2000 ml deverão ser distribuídos em 22 horas, ou seja, 90,9 ml/h, reservando assim duas horas para procedimentos da enfermagem e/ou fisioterapia e evitando a interrupção do gotejamento por exemplo durante o banho do paciente. Ao iniciar a TNE é prudente estabelecer um planejamento para evolução do aumento de volume e, desta forma, não começar com o total calculado, recomenda-se 1/4 a 1/5 do volume total diário, elevando gradativamente a partir do 2º dia, atingindo 3/4 no 3º dia e o volume total no 4º dia, sempre acompanhando a tolerância do paciente (distensão abdominal, diarreia, náusea, vômito etc.) (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014). A osmolaridade refere-se ao número de miliosmoles por litro de solução (água) e a osmolalidade, ao número de miliosmoles por quilograma de água, ambos refletem a concentração de partículas osmoticamente ativas na solução e tolerância digestiva da dieta. É importante destacar que o estômago tolera osmolaridade mais alta e o intestino não, deste modo, o posicionamento da sonda deve ser levado em consideração a fim de prevenir a diarreia osmótica (FIGUEIRA; PIOVACARI; SANDOVAL, 2017). Os Quadros 6 e 7 apresentam as categorizações de acordo com a densidade calórica e a osmolaridade. Categorização da densidade calórica Valores (kcal/ml) Classificação da fórmula Muito baixa < 0,6 Acentuadamente hipocalórica Baixa 0,6-0,8 Hipocalórica Padrão 0,9-1,2 Normocalórica Alta 1,3-1,5 Hipercalórica Muito alta ≥ 1,5 Acentuadamente hipercalórica 20 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS FONTE: Adaptado de Waitzberg (2009) QUADRO 7 – CATEGORIZAÇÃO DE ACORDO COM A OSMOLALIDADE Categorização Valores de osmolalidade (mOsm/kg) Hipotônica 280-300 Isotônica 300-350 Levemente hipertônica 350-550 Hipertônica 550-750 Acentuadamente hipertônica ≥ 750 A categorização das fórmulas, de acordo com o preparo, inclui as dietas caseira ou blender, as quais são preparadas à base de alimentos in natura ou mesclas de produtos naturais com industrializadas e as já mencionadas industrializadas. Cada qual apresenta vantagens e desvantagens relativas à individualização, segurança microbiológica, custo, armazenamento, local de manipulação e envase e educação permanente de colaboradores (FIGUEIRA; PIOVACARI; SANDOVAL, 2017). Quanto à complexidade dos nutrientes classifica-se em dieta polimérica: os macronutrientes, em especial a proteína, apresentam-se na forma intacta; oligomérica: os macronutrientes, especialmente as proteínas, apresentam-se na forma parcialmente hidrolisada (pré-digerida, semielementar); elementar: os macronutrientes, especialmente as proteínas, apresentam-se na forma totalmente hidrolisada (FIGUEIRA; PIOVACARI; SANDOVAL, 2017; VASCONCELOS, 2019). Para administração de uma fórmula via sonda há três métodos: bomba de infusão, de preferência deve ser de uso exclusivo e com equipo específico; gravitacional, com controle de infusão manual por meio de roldana do equipo; bolus, administrada por gravidade por meio de uma seringa. A Figura 5 apresenta os diferentes métodos de administração da terapia ententeral: por bomba de infusão, gravitacional e em bolus, respectivamente. TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 21 FONTE: Menezes e Fortes (2018, p. 17-19) FIGURA 5 – MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO: POR BOMBA DE INFUSÃO, GRAVITACIONAL E EM BOLUS A infusão da dieta pode ser realizada de forma intermitente, administra- se o volume calculado em intervalos regulares (ex.: três em três horas) com pausa; cíclica, infunde-se por um período (ex.: noturno); e contínua: infusão em 20 a 24 horas, sem pausa. Para infusão em bolus, utiliza-se uma seringa ou equipo em infusão, recomenda-se um volume de 5 a 10 ml/minuto, a fi m de evitar distensão abdominal e desconforto; no intermitente, a dieta deve ser infundida em 24 horas, em intervalos de duas horas ou três horas e a fórmula não deve fi car exposta ao meio ambiente por mais de duas horas; no contínuo, a infusão ocorre em 20 a 24 horas, é importante destacar que o ideal é deixar duas a três horas sem infusão para que os procedimentos de enfermagem e fi sioterapia possam se realizar sem comprometer o plano nutricional, pois, caso se planeje a administração em 24 horas e o gotejamento for interrompido, a oferta de energia e nutrientes não será alcançada; o método noturno é recomendado para casos de suplementação da ingestão oral, pois não são indicados grandes volumes para infusão em quatro a seis horas, apresenta a vantagem de oferecer maior liberdade ao indivíduodurante o dia (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014). Na Figura 6, pode-se visualizar os exemplos de métodos de administração da terapia enteral. 22 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS FONTE: <http://twixar.me/wmjm>. Acesso em: 3 mar. 2021. FIGURA 6 – EXEMPLOS DE MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO DE TERAPIA ENTERAL Os equipamentos para implementação da TNE são: frasco de dieta, sonda, equipo, pinça rolete, bomba de infusão, ambos (pinça e bomba) para controlar o gotejamento da dieta. O ideal é utilizar bomba de infusão para todos os métodos, exceto em bolus, normalmente recomendado a casos de gastrostomia e jejunostomia (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014; SAITO; PINTO; LASELVA, 2017). As Figuras 7 e 8 apresentam os equipamentos para administração da dieta enteral e as possibilidades de posicionamento da sonda, respectivamente. FONTE: Menezes e Fortes (2018, p. 11) FONTE: Menezes e Fortes (2018, p. 13) FIGURA 7 – EQUIPAMENTOS PARA ADMINISTRAÇÃO DE DIETA ENTERAL FIGURA 8 – POSICIONAMENTO DA SONDA ENTERAL TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 23 5 NUTRIENTES IMUNOMODULARES Waitzberg et al. (2000) destacam o reconhecimento científico da correlação entre desnutrição grave e a depressão da função imunológica humoral e celular, tendo em vista que pacientes desnutridos apresentam maior risco para infecções e prognóstico ruim. Nesse contexto, Vasconcelos (2019) postula que, atualmente, o conhecimento científico ultrapassou a ideia de que os nutrientes fornecem somente substratos importantes para manutenção da homeostase/síntese proteica e consolidou o conceito de que o aporte de nutrientes é capaz de modular a resposta imune/metabólica. Pacientes em estado crítico, cirúrgicos, vítimas de traumatismos e queimaduras estão em constante estado dinâmico entre resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e a resposta anti-inflamatória compensatória (SRAC), neste contexto, os nutrientes imunomoduladores são considerados recursos terapêuticos para o tratamento de tais condições de doença. Os nutrientes terapêuticos mais utilizados comercialmente são a arginina, a glutamina, os nucleotídeos e os ácidos graxos da série ômega 3 (ácidos eicosapentaenoicos [EPA] e ácido docosa-hexanoico [DHA], os quais exercem influência nos parâmetros imunológicos, nutricionais e inflamatórios (VASCONCELOS, 2019). A arginina é um aminoácido classificado como condicionalmente essencial, pois em situações isentas de estresse nosso organismo é capaz de produzi-la a partir de outro aminoácido, por outro lado, em condições de estresse (trauma, queimaduras, cirurgias gastrointestinais) o suprimento diminui e a demanda celular aumenta, exigindo maior quantidade. As funções abrangem estimulo da secreção de hormônios anabólicos (insulina e hormônio do crescimento); viabiliza o processo de reparação tecidual por ser precursora da prolina, proteína que dá origem ao colágeno; atua na perfusão tecidual por ser precursora do óxido nítrico, um potente vasodilatador; e aumenta o número de linfócitos T auxiliares (CD4) circulantes (SALES et al., 2015; FEITOSA; DAMASCENO; VASCONCELOS, 2017; VASCONCELOS, 2019). A glutamina, como a arginina, é considerada um aminoácido condicionalmente essencial, é produzida por vários tecidos do corpo, mas os músculos esqueléticos produzem a maior parte e os enterócitos e células do sistema imune a utilizam como fonte energética preferencial. Em casos de hipermetabolismo (politraumatismo, queimaduras graves, cirurgias etc.), a metabolização torna-se acentuada e por conseguinte a demanda se eleva. No estresse prolongado, os enterócitos passam a precisar de uma oferta adicional, caso essa demanda não seja atendida, ocorre a morte dessas células associada a queda da barreira intestinal e, por fim, se estabelece o risco de translocação bacteriana. Além de substrato energético para o intestino, os 24 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS linfócitos também utilizam glutamina como fonte de energia; apresenta ação antioxidante, pois é precursora da glutationa, substrato para síntese de glutationa peroxidase, enzima que combate radicais livres. Na prática clínica, recomenda-se a suplementação nas seguintes situações: oferta via parenteral, em caso de jejum, em doenças inflamatórias intestinais, câncer, sepse, queimaduras graves e em transplante de medula óssea (SALES et al., 2015; VASCONCELOS, 2019). Uma base nitrogenada (purina ou pirimidina) combinada com um açúcar (pentose) e um ou mais grupos fosfatos, dá origem a um nucleotídeo, o qual está envolvido em quase todos os processos celulares, incluindo os anabólicos, estruturais, pois constituem unidades de RNA e DNA, necessárias para divisão celular. As dietas ou suplementos com adição de nucleotídeos têm demonstrado capacidade em otimizar a imunidade humoral, além de estimular a capacidade dos macrófagos em eliminar bactérias (RIBEIRO, 2015; VASCONECELOS, 2019). Ribeiro (2015) destaca que dietas isentas em nucleotídeos desencadeiam supressão dos linfócitos T auxiliares, maturação prejudicada dos linfócitos T e redução da barreira intestinal. Vasconcelos (2019) enfatiza que os ácidos graxos ômega 3 com 18 carbonos são alongados aos ácidos graxos ômega 3 de 20 e 22 carbonos, EPA e DHA, respectivamente, os quais têm efeitos diretos na fluidez, estrutura e função das membranas celulares. Tanto o ácido graxo ômega 3 como o ômega 6 podem ser metabolizados pela mitocôndria para produção de energia, no entanto, a metabolização após a incorporação na membrana plasmática é diferente. As citocinas produzidas a partir do ômega 3 são as PGE3, PG13, imunoestimulantes, enquanto a do ômega 6 é a PGE2, imunossupressora. A oferta de uma mistura de ômega 3 e 6 na proporção de 1:2 ou 1;1,25 parece ser a ideal, embora ainda não se tenha certeza dos valores. Os eventos benéficos alcançados com a oferta de emulsões lipídicas contendo EPA e DHA são redução da quimiotaxia, da aderência endotelial, menor produção de mediadores inflamatórios e aumento da fagocitose, no entanto, a robustez das evidências científicas ainda precisa ser alcançada, apesar da grande potencialidade do ômega 3 no tratamento de pacientes hipermetabólicos (RIBEIRO, 2015). Caro acadêmico, aprofunde ainda mais o seu conhecimento sobre impacto do uso de dieta imunomoduladora em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, acesse: http://www.braspen.com.br/home/wp-content/uploads/2017/11/14-AO-Impacto-do-uso- de-dieta.pdf DICAS http://www.braspen.com.br/home/wp-content/uploads/2017/11/14-AO-Impacto-do-uso-de-dieta.pdf http://www.braspen.com.br/home/wp-content/uploads/2017/11/14-AO-Impacto-do-uso-de-dieta.pdf TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 25 6 COMPLICAÇÕES E MANEJO DA TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL Apesar dos benefícios e da segurança da TNE, ela não é isenta de possíveis complicações, sendo assim, o acompanhamento e a monitorização sistemática por uma equipe multidisciplinar experiente garantem a redução e o controle das intercorrências. As complicações são classificadas em mecânicas, infecciosas, metabólicas e gastrointestinais. O Quadro 8 apresenta um resumo das principais complicações da TNE, possíveis causas e prevenção (OLIVEIRA; IGLESIAS, 2014; SANTOS et al., 2017; VASCONCELOS, 2019) Complicação Possíveis causas Medidas preventivas Mecânicas Deslocamento da sonda Tosse, vômito Verificar o posicionamento da sonda antes de iniciar a dieta. Verificar indicação de medicamentos para controle da tosse e vômitos. Obstrução da sonda Lavagem incorreta após administraçãode dieta ou de medicamentos Lavar a sonda com água (20 a 50 ml) antes e depois da administração em bolus ou intermitente da dieta ou medicação; em caso de infusão contínua lavar a cada quatro horas. Infecciosas Pneumonia aspirativa Deslocamento da sonda, migração para o esôfago Refluxo gastroesofágico (RGE) Regurgitação do conteúdo gástrico Checar posicionamento da sonda Tratamento do RGE. Avaliar o reposicionamento no duodeno ou jejuno. Metabólicas Hiperglicemia Síndrome de realimentação em desnutridos Diabetes Melito tipo II Estresse metabólico Monitorar os níveis de glicose, fósforo e vitamina B1. Avaliar qualidade e quantidade do carboidrato ofertado e sua distribuição diária. Uso de hipoglicemiante oral/ insulina. QUADRO 8 – COMPLICAÇÕES RELACIONADAS À TNE, POSSÍVEIS CAUSAS E MEDIDAS PRE- VENTIVAS 26 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS Desidratação e hiper- hidratação Oferta inadequada de líquidos não conspirando perdas, doenças como insuficiência cardíacas, renal ou hepática Monitorar balanço hídrico diário, eletrólitos, peso corporal, presença de edema, medicamentos. Gastrointestinais Náusea e vômito Retenção gástrica Infusão rápida Excesso de gordura na dieta Intolerância à lactose Preferir fórmulas isotônicas; manter a cabeceira elevada de 30 a 450, considerar medicamentos pró-cinéticos. Iniciar lentamente a infusão, 20 a 25 ml/h e aumentar gradativamente. Fórmula isenta em lactose. Diarreia Infusão rápida da dieta Ingestão inadequada de fibras Dietas com alta osmolaridade Má-absorção Dietas geladas Lentificar a infusão. Avaliar prescrição de prebióticos, probióticos e simbióticos. Utilizar fórmulas isotônicas. Prescrever dietas hidrolisadas. Administrar dieta em temperatura ambiente. Constipação Desidratação Obstrução gastrointestinal Inadequação da oferta de fibras Inatividade física Avaliar o estado de hidratação. Obstrução pode requerer cirurgia, avaliar reposicionamento da sonda. Atividade física. Distensão abdominal Infusão rápida intermitente ou em bolus de dieta gelada Esvaziamento gástrico lento ou retenção gástrica Má-absorção Administração dieta me temperatura ambiente. Lentificar a infusão, aumentando gradativamente. Prescrever fórmulas hidrolisadas isentas em sacarose, lactose glúten. FONTE: Adaptado de Santos et al. (2017); Vasconcelos (2019) 7 CONCEITO, INDICAÇÕES E CONTRAINDICAÇÕES DA TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL (TNP) Define-se NPT, segundo a Portaria nº 272 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como: TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 27 Nutrição Parenteral (NP): solução ou emulsão, composta basicamente de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas e minerais, estéril e apirogênica, acondicionada em recipiente de vidro ou plástico, destinada à administração intravenosa em pacientes desnutridos ou não, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas (BRASIL, 1998). Shima e Pinto (2019) acrescentam que a nutrição parenteral se fundamenta em uma solução estéril de nutrientes (aminoácidos, glicose, lipídeos, sais minerais e vitaminas) infundida por via endovenosa, por meio de um acesso venoso periférico ou central, indicada, na maioria das vezes, na impossibilidade de utilização do TGI. No Brasil, a TNP é regulamentada pela Portaria no 272, de 8 de abril de 1998, da Agencia de Vigilância sanitária (ANVISA), a qual, além de pontuar os requisitos mínimos dessa terapia, fixa procedimentos de boas práticas (BRASIL, 1998). As indicações da TNP são situações de impossibilidade de utilização da via digestiva, como distúrbios disabsortivos, distúrbios obstrutivos, íleo paralítico, sangramento do TGI e alteração de trânsito por fatores metabólicos ou mecânicos. As principais situações clínicas são: fístulas digestivas de alto débito, síndrome do intestino curto, doenças inflamatórias intestinais em que a TNE foi ineficiente, obstrução intestinal, íleo paralítico, pancreatites graves, complementação energética e de nutrientes da TNE etc. Para pacientes hemodinamicamente instáveis a TNP está contraindicada (LEITE; INGLESIAS, 2014; LUZ et al., 2017; SHIMA; PINTO, 2019). Shima e Pinto (2019) e Luz et al. (2017) afirmam também que TNP deve ser recomendada em situações em que haja déficit energético-proteico com o uso exclusivo da via enteral e impossibilidade de evolução enteral para alcançar as necessidades nutricionais do paciente. O início da terapia nutricional enteral dentro das primeiras 48 horas após admissão hospitalar está associado a um desfecho clínico melhor, como menor tempo de suporte ventilatório, menor incidências de novas infecções, redução do tempo de internação e menor taxa de perda de massa muscular. Todos esses benefícios são demonstrados em estudos científicos bem conduzidos sobre TNE, no entanto, sobre a TNP exclusiva ou suplementar, ainda está claro, levando em consideração que a última diretriz americana publicada em 2016, a qual recomenda que pacientes com desnutrição grave ou com risco nutricional alto, a TNP seja indicada precocemente. Enquanto a diretriz europeia de 2009, postula que a terapia deve ser iniciada após três dias de internação, naqueles indivíduos em que não há possibilidade de atender plenamente as necessidades nutricionais por via digestiva, por conta de contraindicação ou não tolerância da TNE (SINGER et al., 2009). Porém, vale destacar que há consenso de que, quanto 28 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS pior estiver o déficit nutricional ou mais hipercatabólico estiver o paciente, mais precoce deve ser a prescrição da TNP (CASTRO; TOLEDO; FIGUEIREDO, 2017; SHIMA; PINTO, 2019). 8 TIPOS DE FORMULAÇÃO E MÉTODOS DE ADMINISTRAÇÃO DA TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL Existem dois tipos de formulações de nutrição parenteral (NP): as padronizadas ou prontas para uso; e as individualizadas, que precisam de manipulação diária, preparadas manualmente por profissionais farmacêuticos e que podem vir em bolsas bi ou tricompartimentadas (ALMEIDA et al., 2017). A NP padronizada está pronta para o uso, tem composição e volume preestabelecidos, permanece em estoque, vem em bolsas bi ou tricompartimentalizada (mistura de aminoácidos, glicose e lipídeos em uma bolsa única) preparada pela indústria farmacêutica. Os tipos de bolsas para nutrição parenteral estão exemplificados na Figura 9. FIGURA 9 – BOLSAS BI E TRICOMPARTIMENTALIZADA FONTE: Freitas e Serra (2008, p. 15) Destacam-se as seguintes vantagens: evita desperdício, diminui manipulação e custo, apresenta dois anos de validade. No entanto, não apresenta especificidade para o paciente, excluindo desta forma, a consideração de cada processo patológico e as fases da doença (POLTRONIERI; SILVA; BARBOSA, 2015; ALMEIDA et al., 2017). A NP individualizada é preparada por profissional farmacêutico, conforme a prescrição para o paciente, levando em consideração as necessidades nutricionais individuais, no ambiente hospitalar, em setor especializado, ou por empresas terceirizadas. Todos os nutrientes são acondicionados em uma mesma bolsa e atendem a necessidade do paciente no momento, de acordo com a sua condição clínica. As desvantagens incluem: custo maior, o tempo para TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 29 manipulação, estrutura física no hospital, ou com transporte da indústria que faz a manipulação (POLTRONIERI; SILVA; BARBOSA, 2015; ALMEIDA et al., 2017). No Quadro 9 está exemplificada uma prescrição de NP para adultos. Nutrientes Quantidade Solução de aminoácidos 10% 300-600ml Solução de glicose 50% 300-600 ml Solução de lipídeos 20% 100-200 ml Cloreto de sódio 20% 10-20 ml Cloreto de potássio 19% 5-10 ml Fosfato de potássio 5-10 ml Gluconato de cálcio 5-10 ml Sulfato de magnésio 5-10 ml Solução vitamínica 10 ml Solução de oligoelementos 5 ml QUADRO 9 – EXEMPLO DE FORMULAÇÃO DE NUTRIÇÃO PARENTERAL PARA ADULTO FONTE: Almeida et al. (2017, p. 174) De acordo com Luz et al. (2017) e Poltronieri, Silva e Barbosa (2015), os acessos para administração da TNP são o venoso central ou periférico. O central consiste na inserção de um dispositivo através uma veia superficial ou profunda, a qual progride até a veia cava superior ou inferior. O dispositivo é de material flexível, radiopaco e biocompactível. É indicado quando a terapia for necessária por um logo maior que cinco dias, as vantagens abrangem a possibilidade de administrar soluções hiperosmolares, menor risco de flebite, infiltração, extravasamento e complicações locais, já as desvantagens são o alto custo, técnica mais complexa, risco de trombose e infecções. A inserção de um dispositivo de poliuretano ou teflon em uma veia de superficial, preferencialmente nos membros inferiores (mão, antebraço e braço), caracteriza-se como acesso periférico. Este acesso é recomendado quando a terapia tiver uma previsão de duração menor que cinco dias, a osmolaridade da infusão for menor que 800 mOsm/L e a terapia seja uma complementação da via oral ou enteral. É de baixo custo, acesso fácil e rápido e não requer cuidados especializados, no entanto, apresenta maior risco de infiltração, tromboflebite, requisita troca frequente e é contraindicada a infusões com osmolaridade maior que 800 mOsm/L. A administração da NP é de responsabilidade do enfermeiro, mas os cuidados necessários para prevenir complicações devem ser seguidos por meio de protocolos institucionais de boas práticas, tendo a Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) à frente de todos os processos e engajamento de todos os profissionais que atendem o paciente em TNP (SHIMA; PINTO, 2019). 30 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS Após discussão da EMTN, o médico prescreve a TNP, o enfermeiro fica responsável em garantir uma via única de infusão endovenosa e o nutricionista fica responsável em avaliar o estado nutricional, determinar necessidades nutricionais e acompanhar a evolução do paciente. É importante para equipe monitorar os seguintes exames bioquímicos antes no início da NP e posteriormente para controle: ureia, creatinina, sódio, potássio, fósforo, cálcio iônico, aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), glicose, bilirrubinas, colesterol total, triglicerídeos etc. (SHIMA; PINTO, 2019). Conforme preconizado na TNE, estabelecer um plano gradativo de oferta da NP é uma das maneiras para prevenção de possíveis complicações, assim, recomenda-se que nas primeiras 24 horas seja ofertado um terço do total, evoluir para dois terços no 2º dia e, por fim, que o volume total seja alcançado em 72 horas. Com a oferta plena instituída, a infusão nutriente é continua, me períodos de 12 a 24 horas, com fluxo constante e sem interrupção. As seguintes informações devem ser checadas antes da administração: identificação do paciente, volume da solução, composição e integridade da bolsa, alteração de cor, prazo de validade (industrializadas) e data e hora de preparo (manipuladas) (POLTRONIERI; SILVA; BARBOSA, 2015; ALMEIDA et al., 2017; SHIMA; PINTO, 2019). Poltronieri, Silva e Barbosa (2015) destacam a importância de aferir o peso corporal diariamente, registrar em prontuário balanço hídrico a cada seis horas, controle glicêmico e quaisquer intercorrências apresentada pelo paciente. O seguimento das boas práticas de higiene e manipulação são fundamentais para garantir uma boa evolução clínica e prevenção de infecções e complicações da TNP, para tanto, o enfermeiro é um profissional com papel fundamental na EMTN, além do nutricionista que faz o acompanhamento do estado nutricional, preza pelo alcance pleno das necessidades nutricionais sem sobrecarga metabólica e registra evolução clínica do seu paciente em prontuário. 9 COMPLICAÇÕES E MANEJO DA TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL A TNP evoluiu consideravelmente nas últimas décadas, mas requer uma equipe multidisciplinar coesa, competente e alinhada com as medidas preventivas para possíveis complicações, considerando que é um procedimento que apresenta riscos. Três categorias de complicações são elencadas na literatura: mecânicas, infecciosas e metabólicas (CASTRO; FIGUEIREDO; MATOS, 2017; SHIMA; PINTO, 2019). TÓPICO 2 — TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL E PARENTERAL 31 As complicações mais frequentes são infecção relacionada ao cateter (85,7%), seguindo de hipoglicemia grave por interrupção abrupta da NP (14,3%). O Quadro 10 apresenta os tipos de complicações, causas e prevenção/manejo (SHIMA; PINTO, 2019). Complicações Possíveis causas Prevenção/manejo Mecânicas Flebite, pneumotórax, hemotórax, embolia gasosa e mau posicionamento do cateter. Passagem do cateter venoso central (CVC) guiado por ultrassonografia, realizada por profissional qualificado. Infecciosas CVC com vários lumens. Jejum prolongado aumento o risco de translocação bacteriana. Higiene inadequada. CVC com único lúmen, se utilizar vários reservar um somente para NP. Se possível, associar com TNE. Seguimento rigoroso de boas práticas. Metabólicas Deficiência ou excesso de nutrientes. Avaliação clínica, nutricional e bioquímica detalhada; correção das desordens eletrolíticas antes da prescrição da NP; avaliação das necessidades energética e hídrica; avaliação da condição metabólica do paciente; manter glicemia na faixa de 140 a 180mgdL. QUADRO 10 – COMPLICAÇÕES RELACIONADAS À TERAPIA NUTRICIONAL PARENTERAL FONTE: Adaptado de Shima, Pinto (2019) A síndrome da realimentação (SR) é um conjunto de sinais e sintomas associados à TNE/TNP, a qual relaciona-se fortemente com um deslocamento abrupto de eletrólitos e fluídos, podendo ocasionar a morte. As anormalidades metabólicas relacionam-se ao desequilíbrio glicêmico, hipofosfatemia, hipocalemia, hipomagnesemia e deficiência de tiamina, vitamina B1. A intensidade pode variar de leve a grave dependendo do grau de desnutrição, tempo de jejum, condição clínica, demora em diagnosticar e tratamento implementado (CASTRO; FIGUEIREDO; MATOS, 2017). Durante o jejum prolongado, ocorre uma adaptação metabólica em que o organismo passa a utilizar menos glicose como substrato energético e mais as gorduras, assim a neoglicogênese vai se intensificando conforme o tempo de jejum aumenta. Com a realimentação rápida, seja por via oral, enteral ou parenteral, há um retorno do uso da glicose como substrato energético e uma passagem abrupta de líquidos e eletrólitos, principalmente fósforo e potássio) para o meio intracelular com consequente queda nos níveis séricos. 32 UNIDADE 1 – DIETAS HOS., TERAPIA NUTRI. ENTERAL E PARENT. E FISIOPAT. E DIETOTERAPIA APLICADA ÀS COMPLIC. GESTACIONAIS A hipofosfatemia e hipopotassemia desencadeiam um quadro de insuficiência respiratória e disfunção cardíaca observadas nas primeiras 24 a 48 horar após a oferta de nutrientes (CASTRO; FIGUEIREDO; MATOS, 2017). De acordo com Shima e Pinto (2019) o espectro de sintomas abrange insuficiência cardíaca congestiva (ICC), arritmia, confusão mental, convulsões decorrentes da hipofosfatemia; arritmia, diarreia, convulsão decorrente dos níveis reduzidos de magnésio; íleo paralítico, ICC, arritmia e insuficiência respiratória resultantes da hipopotassemia; encefalopatia de Wernicke, visão turva, convulsões e coma decorrentes da diminuição
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