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Medicina de Emergência – Abordagem Prática DOR TORÁCICA ABORDAGEM INICIAL Atendimento do paciente instável: A dor torácica pode ser o sintoma cardinal de um paciente instável. Os pacientes devem ser atendidos na sala de emergência e monitorizados com a chamada abordagem MOV: Iniciar Monitorização cardíaca. Oxigênio se saturação de O2 < 90%. Obter acesso Venoso periférico. Deve-se focar no nível de consciência do paciente e em seus sinais vitais e prosseguir com a sistematização do ABCDE. O exame físico e o ultrassom à beira do leito ajudam no diagnóstico. Se for identificada uma dissecção de aorta, os antiagregantes e anticoagulantes estão contraindicados. O manejo clínico é feito por meio da redução da frequência cardíaca e da pressão arterial. Deve-se buscar a avaliação de cirurgia cardíaca ou vascular, dependendo do local da dissecção. A instabilidade hemodinâmica é indicação de cateterismo coronariano em até 2 horas, mesmo em infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento de ST. A dúvida diagnóstica é contraindicação a cateterismo de urgência. Caso o paciente evolua para parada cardíaca, a melhor evidência disponível é o estudo TROICA de 2008: Randomizados para recebimento de tenecteplase vs. placebo durante a reanimação. No caso da embolia pulmonar, a recomendação é de se realizar a trombólise durante a parada cardíaca. A dose recomendada é de 50 mg de alteplase, seguida de 15 minutos de massagem cardíaca obrigatória. O bolus pode ser repetido uma vez com nova sequência mandatória de massagem cardíaca. Avaliação do paciente estável ou estabilizado: Diagnóstico diferencial de dor torácica: Cardiovascular Dissecção de aorta Dor intensa, lancinante, irradiação para dorso, pulsos assimétricos, sinais neurológicos focais Tromboembolismo Dor súbita, pleurítica, TVP Pulmonar Hipertensão pulmonar Desequilíbrio demanda/oferta de O2, compressão coronária pela artéria pulmonar Pulmonar Pneumonia Dor na projeção do lobo envolvido Traqueobronquite Queimação em linha média Pneumotórax espontâneo Dor súbita + dispneia Pneumotórax hipertensivo Associado a trauma ou procedimento Pleurite Infecciosa, inflamatória Asma Exacerbação Gastrointestinal Síndrome péptica Epigastralgia, associação com alimentação, cafeína Úlcera péptica perfurada Peritonismo Refluxo gastroesofágico Dor retroesternal, associação com alimentação e com decúbito Espasmo esofágico Melhora com nitrato Mallory-Weiss Vômitos, hematêmese, melena, dor abdominal Rotura esofágica Dor retroesternal lancinante, enfisema subcutâneo, alcoolismo, vômitos Colecistite Sinal de Murphy Pancreatite Dor em faixa Cardíaco Pericardite Alterações de ECG, posição antálgica, atrito pericárdico Miocardite História recente de IVAS/GECA, insuficiência cardíaca Emergência hipertensiva Monitorização da pressão arterial Espasmo coronariano Melhora com nitrato, visualização do vasoespasmo no cateterismo coronariano Takotsubo Ecocardiograma Taquiarritmia ECG Tamponamento cardíaco Dispneia, fadiga, desconforto torácico, edema, choque cardiogênico Medicina de Emergência – Abordagem Prática Anemia Desequilíbrio consumo/oferta; IAM tipo 2 Estenose aórtica Sopro típico, idoso Síndrome coronariana aguda Alterações típicas de ECG, sudorese, náuseas/vômitos, associação com esforço, irradiação da dor Pele e músculo esquelético Costocondrite Dor reprodutível à palpação Neuralgia intercostal Pós-procedimento Herpes-zóster Alterações típicas em pele Fratura de costela Dor localizada, crepitação na palpação Doença discal cervical Dor na movimentação de coluna cervical Exames iniciais na dor torácica: ECG Principal exame para avaliação de isquemia coronariana. Tem papel também na sobrecarga de ventrículo direito Radiografia de tórax Mostra pneumotórax, pneumonia, alargamento de mediastino US à beira do leito Mostra pneumotórax, pneumonia, derrame pericárdico e sinais de tamponamento, função sistólica global Dímero-D Troponina Marcador de necrose de cardiomiócito Hemoglobina Sangramento, anemia com IAM tipo 2 Hemograma/PCR/procalcitonina Avaliação de infecção Tomografia de tórax Pneumonia, pneumotórax Angiotomografia de artéria pulmonar Pesquisa de embolia pulmonar Angiotomografia de coronárias Estratificação não invasiva, em geral bem indicada para risco intermediário/baixo Angiotomografia de aorta Avaliação de dissecção de aorta Ecocardiograma Avaliação de função sistólica, suspeita de patologia pericárdica e dissecção de aorta Enzimas canaliculares Colecistite, coledocopatia Enzimas pancreáticas Pancreatite Endoscopia digestiva alta Rotura esofágica Para as síndromes aórticas está recomendado o escore ADD (detecção de dissecção de aorta) em associação com dímero-D. Em pacientes com escore negativo ou no máximo com um ponto e que têm dímero-D negativo, o diagnóstico pode ser descartado com segurança. Se síndrome aórtica for a principal suspeita, não se deve iniciar antiagregação ou anticoagulação. A embolia pulmonar deve ser suspeitada e deve-se aplicar um dos vários escores de risco existentes, como Wells ou Geneva. Nos casos de baixo risco, a regra PERC permite ainda identificar pacientes que não precisam sequer de quantificação do dímero-D para descarte do diagnóstico. Na alta probabilidade da embolia pulmonar, a anticoagulação já está indicada (mesmo sem confirmação diagnóstica). A presença do ultrassom na sala de emergência possibilita o diagnóstico de tamponamento cardíaco. A clássica tríade de Beck, composta por hipotensão, turgência jugular e hipofonese de bulhas, está presente em 10 a 40% dos casos. A simples presença de derrame pericárdico não define o tamponamento. Em paciente chocado, com turgência jugular, o tamponamento cardíaco deve ser suspeitado. No ecocardiograma, se possível, pode-se estabelecer a presença de tamponamento quando há colabamento diastólico do átrio direito e em casos mais graves do ventrículo direito também. Ultrassom, radiografia e exame físico (enfisema subcutâneo, ausculta pulmonar) podem sugerir a presença de pneumotórax. O pneumotórax espontâneo que se torna hipertensivo é raro. Em geral, o pneumotórax hipertensivo está associado a trauma ou em alguns casos a procedimentos como intubação orotraqueal ou cateterização venosa central. O quadro clínico é composto por taquicardia, hipotensão, enfisema subcutâneo, turgência jugular e hipóxia, evolução para choque e parada cardíaca. A conduta é a descompressão imediata com tubo e, se não estiver disponível, descompressão com agulha. ABORDAGEM PARA DIAGNÓSTICOS ESPECÍFICOS Síndrome coronariana aguda A síndrome coronariana aguda (SCA) constitui um espectro de diagnósticos de menor a maior risco, iniciando na angina estável, progredindo por angina instável e IAM sem supradesnivelamento de segmento ST até o IAM com supradesnivelamento do segmento ST. A dor torácica é descrita como tendo Medicina de Emergência – Abordagem Prática duração de 10 a 20 minutos, com localização retroesternal ou precordial, com irradiação para ombro e face medial do braço esquerdo. Porém, essa dor classificada como típica ocorre em 50% dos casos. Aumenta a probabilidade de ser uma SCA a presença dos seguintes sintomas: Irradiação para um ou ambos os ombros: mesmo que seja só o direito. História de náuseas e vômitos. Sudorese: especialmente quando observada pelo enfermeiro da triagem ou médico. Associação da dor com esforço. Exame físico: O exame físico tem poucos achados em pacientes com suspeita de SCA sem supra de ST. O exame físico está alterado quando há fatores de maior gravidade como edema agudo de pulmão, complicação mecânica ou choque. O exame físico tem maior importância para outras causas de dor torácica. A ausculta cardíaca pode revelar um sopro sistólico devido à insuficiência mitral isquêmica,que está associada a mau prognóstico. Raramente, um sopro sistólico pode indicar uma complicação mecânica, como ruptura do músculo papilar ou comunicação interventricular, de um IAM subagudo e possivelmente não detectado. Sinais de insuficiência cardíaca ou instabilidade hemodinâmica ou elétrica exigem diagnóstico e tratamento imediatos. Eletrocardiograma: O eletrocardiograma fornece pistas para alterações isquêmicas que sugerem infarto oclusivo ou não oclusivo. A principal alteração que sugere infarto oclusivo é o supradesnivelamento de segmento ST. O segmento ST é o trecho do ECG entre o complexo QRS e a onda T. O ponto J é a deflexão que encerra o complexo QRS e inicia o segmento ST. O desvio de segmento ST é realizado no ponto J em relação à linha de base. A linha de base deve ser o segmento PR. Ele pode se encontrar alterado como na pericardite. Nesses casos, compara-se a linha de base do segmento TP com o segmento PR. A definição de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento é a seguinte: Elevação de 1 mm do ponto J em duas derivações contíguas. São derivações contíguas DII, DIII e aVF (parede inferior); V1, V2, V3, V4, V5 e V6 sequencialmente (parede anterior) e DI e aVL (parede lateral alta). Nas derivações V2 e V3 são exceção, pois são necessários 1,5 mm em mulheres, 2 mm em homens acima de 40 anos e 2,5 mm em homens abaixo de 40 anos. Se as derivações de V7 a V9 forem utilizadas, o critério é 0,5 mm. Outros padrões que sugerem infarto oclusivo são: De Winter (ver a seguir) e os critérios de modificados de Sgarbossa na presença de bloqueio de ramo esquerdo. No infarto sem supra (não oclusivo) ou angina instável, a isquemia leve pode se manifestar como ondas T altas e apiculadas e é conhecida como isquemia subendocárdica. A alteração é indistinguível de hipercalemia moderada. A evolução da isquemia leva a ondas T negativas e simétricas, com o termo isquemia subepicárdica. Essa alteração é bastante inespecífica, mas a alteração dinâmica apoia a etiologia isquêmica. Finalmente, o grau maior de isquemia leva a infradesnivelamento de segmento ST – lesão subendocárdica. Essa alteração também pode ser vista na sobrecarga ventricular esquerda e com o uso de digitálico. O eletrocardiograma pode mostrar sinais isquêmicos como alteração do segmento ST e onda T, bloqueio atrioventricular, alterações dinâmicas entre ECGs e alguns padrões específicos de ECG isquêmicos como Wellens e De Winter. O padrão de Wellens é um padrão de reperfusão. Durante o episódio de dor, o ECG estará possivelmente normal. Ao repetir o ECG após a resolução da dor é que aparece o padrão de Wellens. Acontecem dois tipos. No tipo A são encontradas ondas T bifásicas iniciando-se com a fase positiva. No tipo B as ondas T são negativas, profundas e simétricas. O significado é de uma lesão grave de artéria descendente anterior, mas não necessariamente aguda. Biomarcadores de isquemia cardíaca: Os principais marcadores cardíacos de necrose são as troponinas I e T. Encontra-se um valor de 2 a 6 ng/L de troponina T em pessoas normais. Após a necrose de cardiomiócito, começa a haver alteração do valor de troponina em 2 horas. Os valores de troponina atingem o máximo após 24 a 48 horas do infarto e voltam a valores basais após 5 a 14 dias. A troponina identifica o infarto agudo do miocárdio quando existe uma curva com elevação e queda de seu valor. No caso de locais que dispõem apenas da troponina convencional, a dosagem deve ser feita na chegada do paciente e após 3 horas. Caso o serviço disponha de troponina de alta sensibilidade, o fluxo pode ser realizado com dosagem de troponina na chegada do paciente e após 1 hora (delta troponina com uma hora). O tempo mínimo para detecção de troponina no sangue periférico após o início dos sintomas é de 2 horas. Caso o paciente se apresente muito precocemente após o início dos sintomas, recomenda-se postergar a segunda dosagem até completar 2 horas do início dos sintomas. Finalmente, a interpretação da troponina deve ser feita sabendo-se que: Medicina de Emergência – Abordagem Prática Angina instável não provoca morte de cardiomiócitos e, portanto, não altera o resultado de troponina; e Condições como insuficiência renal, insuficiência cardíaca, sepse, miocardite e outras podem provocar aumento de troponina. PROTOCOLOS DIAGNÓSTICOS ACELERADOS T-MACS O escore de risco T-MACS (Troponin only – Manchester Acute Coronary Syndrome) estratifica os pacientes com suspeita de SCA em quatro grupos de risco com base em critérios clínicos, eletrocardiográficos e com um exame laboratorial, a troponina de alta sensibilidade (Roche). O benefício maior do escore T-MACS se mostra, portanto, nos grupos de alto risco e de risco muito baixo (45,1% do total de pacientes) que puderam ter uma definição rápida de conduta. O risco abaixo de 2% é considerado muito baixo. Heart O escore Heart foi desenvolvido com características clínicas escolhidas por plausibilidade biológica e fáceis de lembrar, sendo um ótimo instrumento para estratificação de risco. Ele é considerado de baixo risco quando a pontuação varia de 0 a 3 pontos. Fator Característica Pontos História Altamente suspeita de SCA 2 Moderadamente suspeita de SCA 1 Baixa suspeita de SCA 0 ECG Depressão segmento ST 2 Alteração de repolarização inespecífica 1 Normal 0 Idade ≥ 65 anos 2 45-65 anos 1 < 45 anos 0 Fatores de risco ≥ 3 fatores de risco ou história de aterosclerose 2 1 ou 2 fatores de risco 1 Nenhum fator de risco 0 Troponina ≥ 2 vezes o limite da normalidade 2 1-2 vezes o limite da normalidade 1 ≤ ao limite da normalidade 0 EDACS O escore EDACS (Emergency Department Assessment of Chest pain Score) foi desenvolvido com características clínicas identificadas em pacientes com suspeita de SCA com eletrocardiograma e marcadores cardíacos normais. O EDACS é considerado de baixo risco quando soma abaixo de 15 pontos. Fator Pontos Idade ≥ 18 e < 45 2 ≥ 46 e < 51 4 ≥ 51 e < 56 6 ≥ 56 e < 61 8 ≥ 61 e < 66 10 ≥ 66 e < 71 12 ≥ 71 e < 76 14 ≥ 76 e < 81 16 ≥ 81 e < 86 18 ≥ 86 20 Sexo Masculino 6 Coronariopatia conhecida ou ≥ 3 fatores de risco 4 Sintomas Sudorese 3 Irradiação para ombro ou braço 5 Pior da dor com inspiração -4 Dor reprodutível à palpação -6 TIMI NSTEMI Como o nome diz, o escore TIMI NSTEMI foi descrito para estratificar o risco de pacientes com diagnóstico já definido de IAM sem supradesnivelamento de segmento ST. Esse escore utiliza variáveis clínicas, alterações eletrocardiográficas e dosagem de marcadores de necrose cardíaca. TIMI NSTEMI é considerado de baixo risco para síndrome coronariana aguda quando totaliza no máximo 0 ou 1 ponto. Por um lado, o descarte precoce do diagnóstico de SCA é razoável para pacientes com baixo risco em escores clínicos (TIMI 0 ou 1, EDACS abaixo de 15 pontos, T- MACS abaixo de 2% ou Heart entre 0 e 3) e baixo risco na curva de troponina. Por outro lado, pacientes de alto risco devem ser internados para estratificação invasiva. Fatores Pontos 65 anos de idade ou mais 1 Pelo menos 3 fatores de risco para DAC 1 Medicina de Emergência – Abordagem Prática Estenose coronariana de pelo menos 50% conhecida 1 Recorrência da dor nas últimas 24 horas 1 Uso de aspirina nos últimos 7 dias 1 Desvio de segmento ST na apresentação 1 Elevação de marcadores cardíacos 1 EXAMES COMPLEMENTARES ADICIONAIS Teste de esforço: Exame atualmente pouco utilizado no DE, mas viável. As diretrizes atuais sobre o teste de exercício afirmam que esse teste pode ser realizado quando os pacientes estão livres de sintomas isquêmicos ativos ou de insuficiência cardíaca por um período mínimo de 8 a 12 horas. A taxa de diagnóstico de DAC ou evento cardíaco no prazo de 30 dias foi de 29% para o grupo de estresse positivo, 13% para o grupo de não diagnósticos e 0,3% parao grupo de estresse negativo. O exame obviamente não deve ser realizado em pacientes que tiveram dor em repouso ou na fase aguda do IAM. Cintilografia miocárdica: Pode ser útil na detecção de SCA e no risco de eventos cardíacos em pacientes no DE com dor torácica atípica, ECG não diagnósticos e risco baixo a moderado de IAM. Vários estudos encontraram uma incidência relativamente alta de eventos cardíacos, presença de IAM e necessidade de revascularização em pacientes com exame nuclear positivo. A probabilidade de um evento cardíaco é dez vezes maior em pacientes com exames anormais do que em pacientes com um exame normal. A incidência de eventos cardíacos com um exame normal é menor que 1% para o período de 30 dias após o estudo do índice. A cintilografia miocárdica, se disponível, pode reduzir o número de pacientes admitidos no pronto-socorro com dor torácica que, em última análise, são determinados a não ter SCA, sem reduzir internações apropriadas para pacientes com SCA. Angiotomografia de coronárias: Deve-se tomar as precauções necessárias para um exame com infusão de contraste. O exame é mais bem indicado em pacientes com risco baixo a intermediário. A presença de calcificação coronariana importante e de stents compromete a interpretação do exame, pois não é possível estudar o lúmen da coronária. Além disso, para melhor qualidade do exame a frequência cardíaca do paciente deve estar em torno de 60 bpm. O paciente deve receber metoprolol 25 a 50 mg via oral se não houver contraindicação para controle da frequência cardíaca. Após consideração de todas as causas graves sem identificação diagnóstica, deve-se avaliar ainda outras causas alternativas com indicação de internação. SÍNDROMES AÓRTICAS AGUDAS O sintoma principal da dissecção de aorta é a dor torácica. Normalmente a dor irradia para a região posterior e o abdome, tem início súbito, grande intensidade, sendo máxima desde o seu início e de caráter lancinante ou em pontada e frequentemente descrita com “sensação de rasgão” com irradiação para região dorsal. Além disso, o paciente apresenta PA elevada. Um achado comum ao exame físico é a assimetria de pulsos e PA entre os membros (diferença maior que 20 mmHg na PAS), sendo de extrema importância a palpação dos pulsos e aferição da PA nos quatro membros em pacientes com dor torácica no departamento de emergência. Os sintomas secundários da dissecção aórtica resultam de oclusões dos ramos arteriais e incluem acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio ou isquemia do membro. Os fatores de risco incluem sexo masculino, idade superior a 50 anos, hipertensão mal controlada, uso de cocaína ou anfetamina, valva aórtica bicúspide ou troca valvar aórtica prévia, doenças do tecido conjuntivo (síndrome de Marfan e síndrome de Ehlers-Danlos) e gestação. Os achados do exame físico têm baixa sensibilidade e especificidade para seu diagnóstico. Um déficit de pulso unilateral das artérias carótidas, radiais ou femorais é sugestivo de dissecção aórtica. Enquanto uma radiografia de tórax completamente normal diminui a probabilidade de a dissecção aórtica estar presente, ela não exclui a dissecção. O dímero-D pode ser usado no contexto do escore de risco ADD-RS. Com valor baixo desse escore de risco, ou seja, 0 a 1, pode-se solicitar um dímero-D e com o resultado negativo há bastante segurança em descartar o diagnóstico. Se o escore de risco for 2 a 3, não é possível utilizar o dímero-D e deve-se ir diretamente para exames de imagem. As alterações no ECG são comuns entre os pacientes com dissecção aórtica, com até 40 a 50% apresentando-se com alterações do segmento ST ou da onda T. A troponina habitualmente não está elevada, exceto quando a dissecção compromete a saída das coronárias e sua elevação está associada ao aumento da mortalidade. Medicina de Emergência – Abordagem Prática TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Os sintomas de embolia pulmonar incluem dor torácica súbita (pode piorar com inspiração, chamada pleurítica), dispneia, hipoxemia, síncope ou choque. Pode haver tosse associada ou hemoptise. Os pacientes com embolia pulmonar podem apresentar febre e edema ou dor nas pernas, e alguns pacientes relatam dor na parede torácica. Achados comuns no exame físico incluem taquipneia, taquicardia e hipoxemia. Fatores de risco de embolia pulmonar incluem cirurgia recente, trauma, imobilidade prolongada, câncer ativo, estrógenos de pílulas anticoncepcionais ou terapia de reposição hormonal, principalmente se tabagismo associado, trombofilias ou história de embolia pulmonar prévia ou trombose. Os critérios para descartar o tromboembolismo pulmonar excluem o embolismo pulmonar em pacientes com baixa probabilidade pré-teste sem testes diagnósticos adicionais. Um exame de dímero-D normal, em um paciente hemodinamicamente estável de risco baixo a intermediário, torna a embolia pulmonar muito improvável. Dímero-D não deve ser solicitado em pacientes com alto risco. Em pacientes com tromboembolismo pulmonar, BNP e troponina cardíaca elevada indicam disfunção ventricular e identificam pacientes com alto risco de morte e complicações. No tromboembolismo pulmonar, os achados eletrocardiográficos são inespecíficos, sendo o achado mais comum a taquicardia sinusal. As radiografias de tórax geralmente são normais, mas em casos raros podem mostrar sinais de infarto pulmonar. A angiotomografia de artéria pulmonar é usualmente o exame de escolha. PERICARDITE AGUDA O sintoma mais comum da pericardite aguda é dor torácica, que ocorre em mais de 90% dos casos, sendo em geral aguda, intensa e constante, com localização subesternal. A dor pode irradiar para o dorso, pescoço ou ombros; piora deitado e por inspiração; e alivia sentando-se e inclinando-se para a frente. A irradiação da dor para o membro superior esquerdo não é incomum, mas o local mais característico é irradiação para região do trapézio, o que é um sintoma altamente específico para a pericardite. Algumas características merecem destaque: Dor aliviada com a inclinação do corpo para a frente e agravada pela posição de decúbito. Os pacientes podem apresentar associadamente dispneia, febre ou taquicardia desproporcional à temperatura corporal; também são descritos soluços nesses pacientes. O exame físico em pacientes com complicações pode ser normal, mas o atrito pericárdico está presente frequentemente na borda esternal inferior esquerda e é mais bem auscultado com a inclinação do paciente para a frente. O atrito é dinâmico e pode desaparecer e reaparecer. As bulhas cardíacas podem ser abafadas. Em até 15% dos casos os pacientes podem apresentar complicações; nesses casos, podemos ter: – Pulso arterial paradoxal (diminuição > 10 mmHg na pressão arterial sistólica durante a inspiração). – Sinal de Kussmaul (distensão da veia do pescoço na inspiração). Medicina de Emergência – Abordagem Prática – Distensão venosa jugular. Os achados clássicos do ECG são elevação difusa do segmento ST com infradesnivelamento do intervalo PR. PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO Os principais sintomas do pneumotórax espontâneo são dor torácica pleurítica de início súbito, aguda e com dispneia. Os fatores de risco para pneumotórax espontâneo incluem tabagismo e doenças pulmonares crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. A ausculta pode revelar sons respiratórios diminuídos e hiper-ressonância à percussão no lado ipsilateral. A taquicardia sinusal é o achado mais comum no exame físico e enfisema subcutâneo pode estar presente. Outros achados clássicos ao exame físico, como murmúrio vesicular diminuído, hipertimpanismo à percussão e ausência de frêmito toracovocal são dependentes da extensão do pneumotórax e não costumam estar presentes em pneumotórax pequeno. Deve-se lembrar que os achados do exame físico de um pneumotórax simples são inconstantes e não podem ser usados para excluir a presença, com o diagnóstico feitopor radiografia de tórax. PATOLOGIAS ESOFÁGICAS E GASTRODUODENAIS Os pacientes com ruptura esofágica apresentam uma história de dor torácica subesternal de início súbito e acentuada após um forte vômito. Os pacientes com ruptura esofágica geralmente têm taquicardia, febre, dispneia ou diaforese. O exame físico pode revelar crepitação no pescoço ou no tórax por enfisema subcutâneo. A radiografia de tórax pode demonstrar um derrame pleural (mais comum à esquerda do que direita), pneumotórax, pneumomediastino, pneumoperitônio ou ar subcutâneo, embora a radiografia normal não possa excluir a ruptura esofágica. O espasmo esofágico é frequentemente associado à doença do refluxo e é caracterizado por um início súbito de dor torácica subesternal apertada. A dor é frequentemente precipitada pelo consumo de líquidos quentes ou frios ou um grande bolo alimentar e pode ser aliviada por nitratos. Os pacientes com quadros dispépticos, seja de etiologia esofágica ou gastroduodenal, apresentam dor epigástrica ou retroesternal, em geral em queimação, podendo ser associada com náuseas, vômitos, regurgitação alimentar com alívio com uso de antiácidos ou bloqueadores de bomba de prótons ou de receptores histamínicos H2 e podem piorar com o decúbito. A úlcera péptica é classicamente descrita como uma dor pós-prandial na região epigástrica. Os pacientes geralmente descrevem o despertar do sono pelo desconforto. A dor da úlcera duodenal pode ser aliviada após a ingestão de alimentos, enquanto a dor da úlcera gástrica é frequentemente exacerbada pela ingestão de alimentos. Infelizmente, distúrbios gastrointestinais muitas vezes não podem ser diferenciados de forma confiável da síndrome coronariana aguda apenas por história e exame físico. A pancreatite aguda e a doença biliar geralmente se apresentam com o quadrante superior direito ou dor e sensibilidade epigástrica imitando quadro de angina de parede inferior. Podem ser investigadas com exames laboratoriais e de imagem. PATOLOGIAS SUPERFICIAIS A dor musculoesquelética da parede torácica é caracterizada por dor aguda, altamente localizada e relacionada com a posição. A dor usualmente é completamente reprodutível por palpação leve a moderada ou por movimentos específicos e pode ser aumentada por inspiração ou tosse. No entanto, a sensibilidade da parede torácica também é relatada por alguns pacientes com síndrome coronariana aguda e embolia pulmonar. A costocondrite (síndrome de Tietze) é uma inflamação das cartilagens costais ou suas articulações esternais e causa dor torácica que costuma ser aguda e frequentemente aumenta com as inspirações. O herpes-zóster que acomete dermátomos precordiais pode simular a dor torácica. O exame da pele é importante para fazer esse diagnóstico diferencial, mas em alguns casos pode não ajudar. A dor pré-erupção pode preceder as lesões cutâneas em vários dias, dificultando o diagnóstico. DOR PSICOGÊNICA As causas psicogênicas de dor torácica incluem o transtorno de pânico, que é caracterizado por períodos recorrentes e inesperados de sensação de medo ou desconforto intenso com pelo menos quatro dos seguintes sintomas: dor torácica, dispneia, palpitações, diaforese, náusea, tremores, asfixia, tontura, medo de perder o controle ou morte, parestesia, calafrios ou ondas de calor. Em um estudo, 25% dos pacientes no DE com dor torácica preencheram os critérios diagnósticos para transtorno de pânico. Por outro lado, 9% dos pacientes identificados como tendo transtorno de pânico foram diagnosticados com síndrome coronariana aguda na alta hospitalar. Isso significa que o transtorno de pânico é, na melhor das hipóteses, um diagnóstico de exclusão ou um diagnóstico que pode frequentemente ser associado com síndrome coronariana aguda.
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