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Afrocentrismo e Filosofia Africana

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AFROCENTRISMO
FILOSOFIA AFRICANA
26 de Fevereiro de 2018
Pe. Alberto Maquia, SJ
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Conceito
Uma perspectiva filosófica e teórica de um sistema particular, cujo núcleo essencial é a ideia de que as interpretações e explanações baseadas no papel dos africanos como sujeitos mais condizentes com a realidade. 
Esse conceito ganhou corpo na década de 1980, quando estudantes afro-americanos, afro-brasileiros, caribeanos e africanos adotaram uma orientação afrocêntrica em seus trabalhos. O afrocentrismo geralmente se opõe às teorias que “deslocam” os africanos para a margem do pensamento e da experiência humana.
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O afrocentrismo sustenta que o dogma ocidental de que foram os gregos que criaram o racionalismo marginaliza todos aqueles que não são europeus. 
Os afrocentristas afirmam que o dogma é historicamente INCORRECTO e que a construção das noções ocidentais de conhecimento basedas no modelo grego é relativamente recente, tendo-se iniciado na renascença europeia. Na visão padronizada ocidental, nem os africanos nem os chineses tinham pensamento racional, o que prova, segundo os afrocentristas, que a visão eurocêntrica tornou-se uma visão etnocêntrica que superestima a experiência europeia e subestima todas as outras.
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O afrocentrismo não é o correlato do eurocentrismo, mas sim uma perspectiva particular para análises que não pretendem ocupar o tempo e espaço, como o eurocentrismo frequentemente fez. 
Quando se fala, por exemplo, de música, teatro ou dança clássica, a referência costuma ser a música, o teatro ou a dança europeia, o que significa que a Europa ocupa todas as posições intelectuais e artísticas, não deixando lugar para mais ninguém. Os afrocentristas buscam o pluralismo nas visões filosóficas sem hierarquias.
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Em 1954, George G. M. James publica (Stolen Legacy = O Legado Roubado), afirmando que entre outros pontos que a filosofia grega e os cultos dos mistérios, quer na Grécia quer em Roma foram furtados do Egipto; que os antigos gregos não possuiam habilidade inata para desenvolver a filosofia; e que os egípcios, de quem os gregos furtaram a filosofia eram africanos negros.
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Argumenta também James de que boa parte desse conhecimento foi levada para a Grécia de modo fraudulente, quando escritores gregos se apresentaram com autores de teorias e conceitos aprendidos com seus mestres africanos. O saque da biblioteca de de Alexandria foi também uma forma mediante o uso de violência, de apropriação do saber africano pelos europeus.
Segundo Cheik Anta Diop (1979), a matemática de Pitágoras, a teoria dos quatro elementos de Taletos de Mileto, o materialismo de Epicuro, o idealismo de Platão, bem como o judaismo e o islamismo, todos têm suas raízes na cosmogonia e na ciência africana do Egipto.
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Théophile Obenga, (Congo Brazzaville), discípulo de Anta Diopo em 1936, também se colocou na vanguarda do movimento, em mais de vinte livros. E em 1980, Molefi K. Asante, com a publicação do livro Afrocentricity, assumia posição destacada na divulgação do afrocentrismo.
Muitas ideias de James foram tiradas de Marcus Garvey em que afirmava que o sucesso dos brancos era devido ao sistema de ensino das crianças brancas, que defendiam ser elas superiores. E que para os africanos tivessem sucesso que difundiam, eles também tinham que ensinar aos próprios filhos que eram superiores.
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CONFERÊNCIAS PAN-AFRICANAS
Du Bois foi o organizador das cinco Conferências Pan-Africanas:
Paris (1919) 
Londres (1921) com três sessões: Londres, Bruxelas e Paris 
Londres-Lisboa (1923),
Nova York (1925) 
Manchester (11-18/10/1945)  
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Sylvester Williams foi quem lançou a idéia de solidariedade fraterna entre africanos e povos de ascendência africana; seu sobrinho George Padmore foi o responsável pela expansão do movimento em direcção à África e Marcus Garvey foi quem causou mais alvoroço entre a população negra norte-americana, arrastando multidões de seguidores e conquistando o posto de líder do Pan-africanismo frente à opinião pública.
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A partir da Conferência de Manchester (1945) com as ideias da unicidade africana foram criadas as raízes que foram adotadas por vários líderes que viviam em território africano, sejam eles políticos ou intelectuais, que as colocariam em prática, numa luta em geral sangrenta contra os até então poderosos impérios colonialistas europeus, em especial França e Inglaterra. Entre esses novos líderes, destacam-se: Jomo Kenyatta (Quênia), Peter Abrahams (África do Sul), Hailé Sellasié (Etiópia), Namdi Azikiwe (Nigéria), Julius Nyerere (Tanzânia), Kenneth Kaunda (Zâmbia) e Kwame Nkrumah (Gana). Eduardo Mondlane? (Moçambique).
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 Du Bois e o Pan-africanismo educacional
Contemporâneo de Henry Silvester Williams, William Edward Burghardt Du Bois (1868-1963) é considerado um dos pais do Pan-Africanismo, deu contribuição INCOMENSURÁVEL para a EVOLUÇÃO e CONSOLIDAÇÃO da ideia da UNIDADE PAN-AFRICANA.
Nasceu em Great Barrington, Massachusetts, num contexto segregacionista do início do século XX. Primeiro afro-Americano a receber um título de doutor. Estudou em Fisk uma das poucas instituições negras de ensino superior da época, e concluiu seu Doutoramento em Sociologia pela Universidade de Havard em 1896, realizando, posteriormente, especializações em História e Ciências Sociais na Universidade de Heidleberg, Alemanha.
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Sua vida acadêmica teve início com a publicação de: Supression of the african slave (a supressão do comércio escravista africano nos Estados Unidos), onde traça um panorama do comércio de escravos nos Estados Unidos. Foi responsável pelo primeiro estudo de sociologia realizado por afro-americano com a publicação de sua obra: o
negro de Filadélfia: um estudo racial, publicada pela primeira vez em 1899 e depois republicada em 1967, quatro anos após a sua morte. 
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Seu principal livro: almas da gente negra, publicado em 1903 e depois em 1999 foi considerado um divisor de águas no posicionamento político de Du Bois ao romper com seu antigo aliado Booker Tylor Washington que na interpretação de Du Bois advogava uma posição de acomodação frente ao segregacionismo direcionado a comunidade afro-americana.
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Fundou o movimento NIÁGARA, organização que antecedeu a criação da Associação Nacional para o avanço das pessoas de cor (NAACP).
Responsável pela fundação da Liga Urbana Nacional até 1934, editor da Revista Crisis da NAACP.
Por causa da sua radicalização política afasta-se da liderança da NAACP. Exerceu influência marcante na definição Pan-Africana de Du Bois.
Trabalhou para a abolição da escravidão nos Estados Unidos da América;
Ele via a CONSCIENCIALIZAÇÃO RACIAL como principal meio de acesso social e organização da comunidade afro-Americana acerca do seu passado;
CREDITA-SE a Du Bois, além da consolidação do Pan-Africanismo, a abertura da primeira vertente Pan-Africana: O PAN-AFRICANISMO EDUCACIONAL.
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Booker T. Washington e o Pan-africanismo econômico
Booker T. Washington (1856-1915), foi contemporâneo de Henry Silvester Williams, compondo o conjunto dos percussores do pan-africanismo. Nascido escravo no estado da Virgínia, Booker Tagliaferro Washington (cujo primeiro nome, era o do seu
senhor), posteriormente, viria a se tornar educador e um dos expoentes da visão pan-africanista.
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Iniciou seus estudos em época tardia no Hampton Institute, lá recebeu o diploma de professor. Como Educador Booker T. Washington foi responsável pela fundação do Tuskegee Institute. Este instituto - que acumulava funções muito maiores que a de uma escola,- transformou-se em um importante centro comunitário disponibilizando cursos para pastores, professores, fazendeiros, empresários entre outras funções e actividades.
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Na visão de T. Washington, a oferta de cursos e actividades - considerando ocontexto de inserção capitalista o qual os antigos escravos estavam submetidos - seria uma das estratégias para a união, o aprimoramento e a melhoria da comunidade afro-americana. Comparado à longa produção acadêmica de Du Bois, Booker T Washington, produziu poucas obras, mas não menos importantes do que os escritos de Dubois. The future of the american negro (1899) - mesmo ano da publicação de o negro de Filadélfia: um estudo racial, de Du Bois -, Up from slavery (1901) e Tuskegee and its people (1905), são exemplos de alguns dos escritos que contribuíram para a consolidação do ideal de unidade pan-africana.
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Sua preocupação na inserção do negro na sociedade capitalista, pós-escravista Americana estava embasada no tripe (Propriedade material; Responsalibidade social e Instrução industrial) apontava para a ECONOMIA como CAMINHO CENTRAL DA ORGANIZAÇÃO DA COMUNIDADE AFRO-AMERICANA dentro da estratégia Pan-Africana de T. Washington podendo acreditar a este a construção do Pan-Africanismo económico, ou seja, na sua visão a utilização da economia como justificativa de enfrentamento do contexto capitalista era táctica apropriada para a organização do projecto de unidade Pan-Africana.
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Por um lado, a estratégia advogada por T. Washington foi alvo de contestações por parte de diversas organizações do movimento negro afro-americano, precisamente, da NAACP de Du Bois que considerava a filosofia Tuskegee subserviente e inerte.
Por outro lado, os membros da organização de T. Washington, ironizavam as acções da NAACP como uma forma de actuação que objectivava a manutenção e a preservação da reduzida elite negra traduzindo as duas últimas letras da sigla NAACP, que significava Associação para o Avanço das Pessoas de Cor, para Associação para o Avanço de Certas Pessoas como forma de atingir Du Bois sendo o CP, respectivamente Certain People”.
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 National Association for the Advancement of Colored People
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Marcus Garvey: universalização e radicalização da unidade pan-africana
Marcus Mosiah Garvey (1887-1940), nasceu na Jamaica, no distrito de Saint Ann’s Bay, mesma localidade onde nasceu Bob Marley cinquenta e oito anos mais tarde e faleceu em Londres exilado, em 10 de Junho de 1940. Visionário, excelente orador, político e empresário, na infância, frequentou a escola infantil do lugar onde nasceu sendo considerado um aluno exemplar.
Paralelo à educação escolar Garvey recebeu instrução particular do seu padrinho Alfred Burrowes que naquele contexto era proprietário de uma gráfica. Logo Garvey tornou-se aprendiz de tipógrafo.
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Do pai, assim como do padrinho, Garvey herdou o amor pelos livros, pois ambos eram possuidores de excelentes bibliotecas. Foi a partir da biblioteca e da oficina que Garvey tornou-se familiar com a política e manteve contato com diversas pessoas que as frequentavam. Marcado por uma experiência racista – Garvey foi proibido de manter contato, através de cartas, com uma vizinha “branca” que havia sido enviada para Inglaterra por sua família o considerá-lo como nigger - Garvey percebeu a “linha demarcatória” que estabelecia a cisão entre negros e brancos na sociedade jamaicana.
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Em 1906 foi para Kingston (capital da Jamaica) para melhorar a sua vida. Sua experiência na tipografia do padrinho abriu caminho para que pudesse iniciar sua vida em Kingston trabalhando com um parente materno e posteriormente na empresa P.A Benjamin Limited na secção de composição de impressão.
Em 1907, tornou-se excelente impressor e contra mestre. Em 1908 os empregados onde Garvey trabalhava deram uma greve onde Garvey obteve sua primeira experiência politico-sindical ao aderir ao movimento de paralisação, mesmo recebendo proposta de aumento salarial, caso “furasse” a greve.
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Essa participação à greve rendeu-lhe a perda de seu emprego e ficou colocado na lista dos “grevistas” que dali para frente ficariam impedidos de obter emprego em qualquer instituição tipográfica particular.
 Percebe-se a partir dai a sua radicalização da vida política. Migra-se para os Estados Unidos de América depois de passar por vários países da América Central e do Sul, onde recebeu as péssimas condições de trabalho as quais os negros estavam inseridas.
Garvey inicia a IMPLANTAÇÃO DAS BASES DA UNIVERSAL NEGRO IMPROVEMENT ASSOCIATION (UNIA), com mais de 6 milhões de membros associados.
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Com propósito de construir os Estados Unidos de África, Garvey advogou o retorno para África dos africanos e seus descendentes, nesse sentido ele organizou a Black Star Line, uma empresa de navios a vapor para repatriar as pessoas de ascendência Africana de todas as partes do mundo para África.
Em 1916 Garvey transfere a UNIA para os Estados Unidos de América onde organizou o jornal seminal The Negro World, instrumento para difusão das ideias Pan-Africanas.
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A decade de 20 consolida definitivamente o movimento garveista. Em 1920, a UNIA organizaria seu I Congresso Nacional, e devido as suas actividades e organização política, Garvey é preso sob acusação infundada de uso indevido dos correios. É deportado para Jamaica sob acusação de fraude fiscal.
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De volta à Jamaica, enfraquecido politicamente por seus adversários, exilou-se em Londres, de onde condenou a subserviência e a omissão de Hailé Selassié frente a invasão da Etiopia pelo exército facista italiano comandado por Benito Mussolini. Sua oposição a Selassié ocasionou o afastamento de muitos de seus seguidores.
Em 10 de Junho de 1940 Garvey faleceu na Inglaterra no ostracismo de maneira que só em 1964, seus restos mortais foram transpostados para a Jamaica e sua memória reduzida como exemplar herói nacional.
Caso curioso, Garvey nunca pós os pés na África e não falava nenhuma língua Africana, porém sua concepção de África parecia ser a de umas das regiões das Índias Ocidentais (Jamaica) e de suas populações multiplicadas por um milhão.
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Garvey conseguiu levar as populações africanas e da diáspora a ideia de que o continente africano, já no início do século XX, fora a origem e o lar de uma civilização grandiosa e voltaria a sê-lo novamente.
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Pensamento de Garvey
O pensamento de Garvey reverberou no interior do continente africano. Um exemplo do alcance do seu pensamento foi que em certa ocasião o Rei da Suazilândia comentou com Ammy Jacques Garvey (esposa de Garvey) que conhecia apenas o nome de dois homens no ocidente: O de Jack Jonhson – boxeador que havia derrotado o branco Jim Jeffries e o de Marcus Garvey.
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Jomo Kenyatta em conversa pessoal com C.I.R. James, afirmou que na década de 20 do século passado os nacionalistas, não sabendo ler, se reuniam ao redor de um leitor do jornal de Garvey – o Negro World e ouviam a leitura do artigo uma, duas ou três vezes, em seguida adentravam a floresta para repetir com cuidado o que haviam memorizado para os outros africanos ansiosos por uma ideologia que servisse como justificativa para libertação de suas consciências da prisão colonial em que encontravam-se submetidos.
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Kwame Nkrumah, na época em que era estudante de pós-graduação de História e Filosofia em duas universidades dos Estados Unidos da América confessou que, de todos os autores a que teve acesso e que influenciaram em sua formação, Marcus Garvey ocupava o primeiro lugar. Garvey tinha plena convicção de que a luta das populações africanas e da diáspora era marginalizada e tratada com desdém. 
Em pouco mais de cinco anos Garvey conseguiu êxito incomensurável ao reduzir essa luta ao centro da visibilidade e da conciência política internacional.
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