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SEGUNDA PARTE O COMPORTAMENTO E AS FORCAS QUE ATUAM SOBRE ELE Ê exatamente a busca de objetivos que faz do comportamento um ato integrado. O organismo como um todo só se dirige para um objetivo quando sente que o valor deste é superior ao gasto para alcançá-lo. (David Birch) Comportamento humano, objeto da Psicologia Uma das maneiras de encarar o comporta- mento é considerá-lo produzido por forças que atuam dentro do indivíduo e forças exteriores ao indivíduo. (L. Lindgren) O que acontece quando o indivíduo "age" — quando se move ou executa uma seqüência de ações? Às vezes, o indivíduo é literalmente empurrado para agir de deter- minada maneira. Outras, existe nele um sentimento que o leva à execução do ato, mas, o mais provável é que seu modo de agir seja o resultado da interação de várias forças, tanto internas como externas. Por forças "internas" designamos nossas necessidades, desejos, ansie- dades, interesses, sentimentos de culpa etc. Por forças "externas" com- preendemos as exigências da sociedade, recompensas, perigos, ameaças e as expectativas de outras pessoas. Muitas vezes é difícil dizer onde termina a pressão interna e onde começa a externa, e a distinção entre forças internas e externas não é muito clara ou precisa. Todas as forças são, até certo ponto, tanto externas como internas. Por exemplo, dona Alice pede à pequena Marilene que preste atenção à aula, advertindo-a de que as crianças não devem conversar quando a professora está falando. Marilene pára de falar e presta atenção à professora. Em parte, ela o faz devido à atuação de forças externas: o pedido da professora, o fato de a professora esperar que 72 ela obedeça, a circunstância de que todos os alunos da classe estão olhando em sua direção, a atmosfera da sala de aula etc. Mas a con- duta de Marilene também depende de forças internas: o respeito que ela sente pela autoridade, seu desejo de agradar à professora, de ser uma criança bem comportada, e também sua aversão a ser o foco de atenção de toda a classe. Embora a tentativa de distinguir forças internas e externas pareça introduzir uma nota artificial na nossa análise do comportamento hu- mano, ela nos auxilia no sentido de obtermos uma melhor compreensão do mesmo. QUE VEM A SER COMPORTAMENTO? Comportamento é uma ação empreendida por um organismo em resposta a um objetivo do meio interno ou externo. Se alguém está sentado e de repente lhe vem à cabeça: "Preciso falar urgentemente com o Dr. Silva" e levanta-se e sai, realiza, assim, um comportamento. Podemos, também, definir comportamento como uma reação global ou um conjunto de reações do organismo que podem ser observadas objetivamente. Diz-se "observadas objetivamente" por se tratar de um objeto de pesquisa ao alcance do método científico, empregado pela Psicologia. Por "reação global", queremos significar aquela em que entra o orga- nismo como um todo. Se for aplicada uma ligeira alfinetada numa pessoa que está dormindo ou distraída, ela poderá recolher o pé, sem perceber que o está fazendo. Essa reação reflexa não atinge o orga- nismo como um todo, é mais um fragmento de comportamento ou uma resposta reflexa. » Um comportamento, normalmente, implica uma seqüência de ativi- dades orientadas para um objetivo. Todo comportamento ou atividade tem uma causa atual que o produz. Uma pessoa está caminhando de forma vagarosa. A causa pode ser um estado de depressão, uma per- turbação de natureza física ou psíquica, como pode ser simplesmente seu modo habitual de andar. Quando se observa alguém mudar seu padrão de ação, pode-se levantar a hipótese de que houve alguma causa responsável por tal mudança, pois todo comportamento possui causa. 73 PARA COMPREENDER O COMPORTAMENTO Há dois tipos básicos de comportamento: o consumatório e o ins- trumental. Comportamento consumatório é aquele em que a ação se realiza na execução e na consumação do próprio objetivo. O ato de jantar e de tomar banho, por exemplo, se constitui numa série de atividades que se sucedem para a consecução desses objetivos. Comportamento instrumental é uma série de atividades em prol do objetivo que deverá ser conseguido. Jogar na loteria esportiva, isto é, preparar o jogo, ir à loja, marcar o cartão, pagar, receber o troco é um comportamento instrumental ou consumatório? Ganhar o "bolão", acertar os treze pontos ou, mais precisamente, receber o dinheiro e começar a gastá-lo, é um comportamento consu- matório ou instrumental? Para a primeira interrogação a resposta é instrumental e para a segunda, consumatório. Os comportamentos instrumental e consumatório são interdepen- dentes. Depois da atividade instrumental, segue normalmente a consu- matória. A atividade instrumental é dirigida para o objetivo e a consuma- tória é a execução e a consumação do objetivo visado pela primeira. A intensidade da atividade instrumental aumenta à medida que esta se aproxima do objetivo. Imagine a intensidade da busca de água (o objetivo) por alguém com muita sede. Avistando o bar ou o bebe- douro, não se contenta em caminhar, corre. Na atividade consumatória dá-se o contrário, a intensidade decai à medida que ocorre o consumo. Na consumação de um chocolate desejado, por exemplo, a intensidade sobe até um ponto máximo e depois começa a cair à medida que ocorre a saciedade ou a redução da necessidade. Há um efeito enfra- quecedor na atividade consumatória. Sua curva aproxima-se da forma de um U virado ( D ) representando a ascensão rápida das energias, o ponto culminante e o declínio. Talvez esta característica do'compor- tamento consumatório explique a fugacidade da moda. A princípio, o consumo da novidade é intenso, atinge um máximo. Se é música, passa a ser tocada com grande freqüência, e com a saciedade ou anu- lação do estímulo vem a fase descendente do comportamento consuma- tório, chegando a ponto morto. 74 O COMPORTAMENTO INSTRUMENTAL O comportamento instrumental apresenta vários elementos. Cronbach, psicólogo contemporâneo, apresenta sete elementos fun- damentais: Objetivo. Nível de amadurecimento. Situação. Interpretação. Resposta. Conseqüência. Reação ao obstáculo. Expliquemos cada um destes elementos: Objetivo. Qual seria o objetivo do comportamento daquela jovem que, de repente, levanta-se e diz: "Preciso falar urgentemente com o Dr. Silva"? Todo comportamento dirige-se para um objetivo, um alvo, uma finalidade qualquer. A função do objetivo, no comportamento, é dirigir a ação. Qual o objetivo deste comportamento que se chama "estudar"? Ou desta série de comportamentos que se chama "fazer o curso secun- dário, fazer o curso superior"? Haveria neles um só objetivo, ou vários? Nível de amadurecimento. Qualquer comportamento tem uma condição sine qua non: o amadurecimento para fazê-lo. Sônia, a moça que procura o Dr. Silva, é capaz de se dirigir ao consultório de um médico porque já tem 23 anos. Aos quatro, seis, oito anos não ia, sozinha, ao centro da cidade consultar um médico. Montar a cavalo, dirigir automóvel, escrever à máquina, cada uma dessas atividades exige amadurecimento. O nível de amadurecimento consiste, pois, na soma total de padrões de respostas e habilidades que possui o indivíduo em determinada fase do seu desenvolvimento. Situação. Consiste no conjunto de elementos, tais como coisas, pessoas, símbolos, qualidades, tudo, enfim, que possibilite a consecução do objetivo. Para Sônia alcançar o Dr. Silva, tinha necessidade de um conjunto de elementos, sem os quais seria difícil chegar até lá: um sistema de transportes, dinheiro, certos preparativos indispensáveis etc. Outro exemplo: os romanos e os gregos desenvolveram pouco a Aritmética, por não possuírem símbolos apropriados. Tente fazer uma pequena conta de divisãocom algarismos romanos. 75 O comportamento é uma estrutura, isto é, uma totalidade resul- tante da união dos elementos que chamamos de situação. A polícia encontra um decorador morto com sete tiros, num. ponto turístico da cidade. O assassinato foi um comportamento. Houve, portanto, um conjunto de elementos, relacionados entre si, formando um todo, uma estrutura, da qual resultou a ação. Por exemplo, o decorador era pes- soa de vida irregular, queria agora desquitar-se de uma senhora velha e rica com quem se casara, por interesse. Os parentes não aceitavam esta situação. Ora, tais elementos se estruturaram de tal modo que o assassinato resultou, de modo fácil, da situação. Interpretação. É a análise dos elementos da situação feita pela pessoa. Nem sempre os elementos a escolher (os meios) para alcançar o objetivo são tão simples. Quantas vezes não ficamos perplexos entre este e aquele caminho a seguir! O ato interpretativo é fundamental- mente um ato de inteligência. Os que têm inteligência intuitiva, rápida, num insight (vide glossário) percebem os elementos adequados para o objetivo. Nos de inteligência mais analítica, a interpretação se faz de maneira mais lenta, examinando cada elemento da situação de modo mais detalhado. Os que têm pouca inteligência topam logo com um obstáculo pela frente. Resposta. Quando Sônia, no nosso caso, se levantou e partiu para o consultório do Dr. Silva, tinha um objetivo, evidentemente. Inter- pretou os elementos da situação. Tinha amadurecimento mental e físico e no ato de partir estava apenas desencadeando a ação — dando a resposta. Esta significa tanto a própria ação como a transformação interior que determina a ação. Resposta é a execução de acordo com a interpretação da situação. Quando alguém duvida da sua interpre- tação, dá à sua resposta um caráter de primeira tentativa. Esta passa a ser uma resposta provisória. Qualquer que seja a resposta, há sempre uma descarga da tensão acumulada anteriormente. Conseqüência. Tanto no campo da Física como no da Psicologia, a toda ação corresponde uma reação. Toda resposta ou ação do com- portamento tem uma conseqüência que pode ser boa ou má, isto é, favorável ou não. Se a interpretação for bem feita, a pessoa alcançará o objetivo, advindo daí satisfação. Se houver alguma falha, não se obterá o alvo desejado, ocorrendo, então, em maior ou menor grau, a decepção. Quando não se alcança o objetivo é porque houve um obstáculo. Reação ao obstáculo. As reações subjetivas, ante o fato consu- mado de não se haver alcançado o objetivo, podem ser várias, de acordo com as diferenças individuais ou grau de maturidade ou de 76 normalidade psíquica de cada um. O essencial, no caso, é procurar descobrir qual a dificuldade que impediu a realização da meta. A seguir, tentar uma nova interpretação. Há quem, achando o objetivo alto demais, tente um mais modesto, como há quem desista, simples- mente. Algumas pessoas apelam para seus mecanismos internos de ajustamento, procurando saídas mentalmente normais como a sublima- ção, a compensação, a racionalização etc. Sublimação é o ato de subs- tituir a frustração por atividades mais elevadas de ordem artística ou religiosa. Uma boa música, um ato religioso, uma atividade artística vivida intensamente, aliviam a consciência traumatizada. Há, finalmente, quem recalque as frustrações, extremando-se em comportamentos desajustados, como choro convulsivo, agressividade etc. COMPORTAMENTO E HÁBITO Todo comportamento pode se transformar, com a repetição, em um hábito. Assim, caminhamos, jogamos, escrevemos, comemos, leva- dos por uma série de comportamentos habituais ou simplesmente há- bitos. Alguns hábitos se organizam em padrões de comportamento, isto é, em formas prévias de comportamento ou de respostas utilizadas para várias situações diferentes. Os padrões de comportamento são, por- tanto, certas formas estabelecidas de agir e reagir, em casos parecidos. Uma adolescente aprende uma maneira geral de se comportar diante de rapazes. Um rapaz aprende uma forma geral (padrão) de galantear as moças etc. Por padrão de comportamento deve-se entender aquele modo geral, mais ou menos uniforme e estereotipado, de comportar-se, que se aplica sempre em certas ocasiões ou como resposta a certos estímulos. Se um indivíduo estiver numa festa, onde não conheça ninguém e onde os participantes forem pessoas de nível social muito diferente do seu, poderá ficar intimidado e sem saber como agir. É sinal de que não tem um padrão de comportamento aprendido para estas circunstâncias. Em semelhantes ocasiões há três saídas: descobrir, pela observação e por experiências passadas, um tipo especial de comportamento; per- guntar a alguém como se deve agir, ou, então, por timidez, deixar o local. No primeiro caso, elabora um padrão de comportamento; no segundo, prepara-se para assimilar um padrão já aceito e, no último, tem medo de enfrentar novos meios. É tímido. A timidez pode ser medo (reflexo condicionado) de não se ajustar bem a circunstâncias novas e inesperadas. Esse reflexo forma-se nos 77 primeiros anos de vida. Se, ao sair do círculo de suas interações pri- márias e ao ter seus primeiros contatos com o meio externo, a criança não for bem sucedida (recebendo em troca frustrações e medo), po- derá criar um padrão de cautela temerosa com respeito a situações novas. Esses insucessos nos primeiros contatos sociais criam nos indi- víduos um padrão de comportamento de timidez e insegurança. Um indivíduo extremamente bem vestido, sem um fio de cabelo fora do lugar, cauteloso, moderado nas palavras, de gestos comedidos, do tipo que poderia ser considerado pedante ou afetado, pode ser, no íntimo, um tímido. Todo este aparato é para evitar, a todo custo, algo de novo ou de inesperado ao qual se veja forçado a se ajustar. Há, também, outras causas e outras determinantes da timidez, mas como fogem ao nosso assunto, não podem ser tratadas aqui. i EXERCÍCIOS r 1. "Se todo comportamento tem uma causa atual que o produz", será verdadeira a afirmação de que o crime faz parte da história presente do criminoso? 2. Uma maneira especial de praticar um crime, como uma série de atos ou respostas estruturadas por certos criminosos, pode-se chamar de padrão de comportamento? Por quê? 3. Há uma lei do comportamento que afirma: "Depois do comporta- mento instrumental, que garante a posse do objetivo, segue-se o con- sumatório". O que você entende por isto? 78 Motivo, força que impulsiona os comportamentos Cada causa é um agente produtor. Todo efeito é um ser produzido. Uma vez surgido, o efeito também pode se converter em causa que dará seqüência a novos efeitos. Estabelecem-se as- sim longas séries de causas e efeitos que se transformam em causa. Mas. . . é preciso olhos muito lúcidos para ver os elos desta cadeia. (Arthur Koestler) Em 1982, um jornal do Rio noticiou que um menino de dez anos foi assassinado por um amigo com dois tiros de espingarda. O menino estava jantando quando seu amigo o chamou e atirou nele. Não havia, comentou a família, nenhum motivo para o crime. Você acredita mesmo que não havia nenhum motivo? Todo comportamento tem uma causa. Por isso, podemos afirmar: deve ter havido um ou vários motivos que determinaram tal compor- tamento. Toda ação possui determinantes, que são seus antecedentes causa- dores. Estes podem ser históricos ou atuais. No caso do menino, os determinantes podem pertencer a seu passado, isto é, às forças ambien- tais terrivelmente destruidoras que atuaram em sua formação. Mas além dos determinantes históricos ou do passado, deveria haver causas ou motivos atuais bem significativos para a execução do ato criminoso, do ponto de vista da pessoa criminosa, é claro. A cada momento, cada um de nóspoderá estar na iminência de fazer ou realizar a atividade A, B ou C. Qual a que será empreendida? 74 A atividade realizada será aquela que corresponde ao motivo mais forte, isto é, ao impulso mais forte, no sentido do vetor de ação mais atuante. Se, no momento, para determinado estudante, o motivo mais forte for a fome ou terminar o dever antes do jantar, ou ainda, esca- par de casa para se encontrar com a namorada, antes de o pai chegar, só ele saberá. Contudo, podemos afirmar que o estudante executará a ação que corresponder ao seu impulso mais forte. O organismo é determinado por esse motivo mais forte, que está competindo com outros num dado momento. Uma mesma ação pode ser determinada por motivos diferentes, como também ações diferentes podem ser determinadas por um mesmo motivo. Temos o caso de três estudantes universitários. Possuem o mesmo grau de inteligência e aptidão. Contudo, um deles é o primeiro aluno, o segundo tem notas médias e o terceiro fracassa nos estudos. É um caso típico de motivação. Vejamos: O primeiro rapaz é filho de imigrantes pobres e seus pais esperam muito dele. Está altamente motivado. O segundo é filho de família rica. Tem lugar assegurado no ne- gócio do pai. Só está interessado em não tirar notas muito baixas. Acha-se pouco motivado para o estudo. O terceiro é mais difícil de explicar, porque sua motivação está perturbada por um conflito. "O pai era de família pobre e subira na vida com grande esforço. Era, então, advogado próspero e auto-suficiente. Esperava que o filho fizesse o mesmo. O rapaz, temperamento tímido, assustava-se, pois se convencera de que nunca chegaria a fazer carreira igual à do pai. Assim, ia para os exames sob tensão. O coração pulava descompassa- damente e as mãos transpiravam. Seu conflito interferia em sua moti- vação e isto levava-o ao mau resultado e ao fracasso." 1 Nem sempre conhecemos os motivos que nos impelem. Se você fuma, poderemos fazer esta pergunta: qual o motivo que o leva a fumar? Provavelmente não saberá responder. Nem sempre conhecemos tão claramente os motivos de nossas ações. Sabemos que numericamente os maiores fumantes de 21 a 39 anos se encontram nas classes sociais ditas inferiores. São pessoas ansiosas, tensas, preocupa- das com a maneira de vencer na vida. De outro lado, para os homens de 35 a 49 anos, o cigarro, charuto ou cachimbo pode representar uma espécie de cortina de fumaça que se eleva por cima de seu sucesso pessoal. Assim temos: quando jovem, fuma porque está ansioso e, quando envelhece, porque já deixou de estar ansioso. Temos, pois, dois motivos diferentes para um mesmo comportamento. 1 MURRAY, E. I. Motivação e emoção. São Paulo, Zahar, 1967. 80 MOTIVO E NECESSIDADES As tentativas para entender o comportamento humano determina- ram o aparecimento de várias teorias da motivação. Vamos apresentar aqui a teoria de Abraham Maslow, que faz derivar os motivos das necessidades. Necessidade. Significa carência, falta de algo. Se falta água em seu organismo, você afirma que necessita bebê-la. Claude Bernard, fisiologista francês, descobriu em 1895 que cada ser vivo tem um meio interno que deve ser mantido em equilíbrio. Nos mamíferos, certas propriedades físico-químicas só podem variar dentro de determinados limites, além dos quais quebra-se o equilíbrio ideal. Walter Cannon (1929) restabeleceu este conceito fisiológico e o transpôs para o campo da Psicologia. Todo organismo precisa manter-se num optimum de equilíbrio interno e, em se tratando do homem, num optimum de equilíbrio fisiológico, social e humano. É o que ele designou pelo nome de homoestasia (do grego homo, "igual", estasia, "estado"). Nesse fato alicerça-se o fenômeno e o mecanismo das necessidades. Quando se rompe o equilíbrio orgânico, cria-se uma necessidade. O organismo em desequilíbrio cria tensões. Estas o im- pelem na direção do objetivo que, quando atingido, traz satisfação, res- taurando-se o equilíbrio. Ciclo das necessidades e dos motivos 1. A necessidade é uma falta de algo. 2. Esta determina um desequilíbrio. 3. Este provoca tensões que impelem à ação. Estas tensões chamam-se motivos. 4. Estes motivos determinam a ação ou o comportamento na direção do objetivo. 5. Ao terminar a necessidade, surge a satisfação. XI Há um provérbio árabe que diz: "Pode-se levar o cavalo à fonte, mas não se pode fazê-lo beber". Podemos mostrar-lhe a água, estimulá- -lo a bebê-la, mas só o fará se algo interno o levar a isso. Esse algo interno é a necessidade que vai gerar o impulso, o motivo gerador da ação de beber. Vejamos isso graficamente: necessidade tensão comportamento incentivo (aumenta o motivo) objetivo tensão necessidade tensão orientado incentivo (aumenta o motivo) atingido reduzida Exemplificando: tensão impulso sensação falta de água energias e de água satisfação falta de água acumuladas motivo sede Incentivo. Corresponde à situação, à apresentação com que se mostra o objetivo. É tudo aquilo que serve para aumentar ou diminuir o impulso interno (motivo), sendo assim positivo ou negativo. Reação às barreiras Muitas vezes, motivados fortemente para algo, somos impedidos de alcançá-lo por um ou vários obstáculos. Essas barreiras podem ser internas ou externas. Barreiras internas. São as falhas internas que nos impedem de alcançar o objetivo. Falta de conhecimento e de habilidades específicas é, por exemplo, uma barreira interna. 82 Barreiras externas. Situações ou elementos externos à pessoa e que não lhe permitem atingir o objetivo desejado. Falta de dinheiro, proibições sociais, propriedade alheia e tc , constituem alguns exemplos de barreiras externas. Sempre que o indivíduo se defronta com uma barreira, adota um comportamento de reação contra ela. Essas reações se revestem dos aspectos mais variados, conforme a personalidade do indivíduo. Assim, podemos ter como exemplos de reações: Comportamento agressivo. Diante de uma situação adversa, alguns tentam vencê-la pela força. Regressão. Outros reagem de maneira diversa, seja porque temem adotar o comportamento agressivo, seja porque a ele não se dispõem. Tratam então de adotar atitudes menos maduras, agindo como "crianças". Sublimação. Dedicam-se em troca a outras atividades de natureza artística ou religiosa. Resignação. Outros ainda desistem do objetivo, reprimindo a necessidade ou procurando esquecê-la. TIPOS DE NECESSIDADES As necessidades humanas estão organizadas em vários níveis. Necessidades fisiológicas. Estão no nível mais baixo, mas não sem importância. Perguntava um professor aos alunos: — Qual a primeira condição para ser um herói, um santo, um grande pioneiro? — Comer pão — responderam — porque, sem isso, em breve esta- ríamos diante do cadáver de um ex-grande herói ou pioneiro. 83 As necessidades fisiológicas, além de alimento, água, ar, incluem descanso, exercícios físicos, abrigo, proteção contra as intempéries e também satisfação sexual. Uma necessidade satisfeita não é mais ele- mento de motivação. Esse é um fato que se deve levar em conta nas relações humanas. Quando as necessidades fisiológicas estão razoavelmente satisfeitas, são as necessidades de nível imediatamente superior que passam a mo- tivar: necessidade de segurança, de proteção contra o perigo, de segu- rança futura, de preparar-se para a vida etc. Necessidades sociais. Tornam-se importantes no comportamento quando as necessidades do primeiro nível já estão satisfeitas. As neces- sidades sociais são aquelas de participação, de associação, de aceitação pelas pessoas, de dar e receber amizade e amor. Quando estas necessidades são frustradas, as pessoas se mostram resistentes, tímidas e não-cooperativas. Este comportamento é umaconseqüência, não uma causa. Quando um indivíduo de classe média compra um carro de luxo, na realidade não é impelido, apenas, pelas necessidades de um meio de transporte próprio. Se fosse apenas isso, compraria um carro médio, mais barato e mais econômico. É a necessidade de prestígio, de auto- -afirmação social, que o leva a investir mais alguns milhares de cru- zados numa marca de luxo. Há bastante diferença entre um motivo de ordem orgânica e outro de origem social, mas, na realidade, quase todo comportamento é in- fluenciado por aspectos motivacionais de um e de outro tipo. O compor- tamento de se alimentar não é só fisiológico. A maneira de o fazer, aquilo com que cada grupo humano se alimenta, a oração antes das refeições etc. atendem a necessidades orgânicas e sociais. Algumas tribos consideravam um dever penoso, mas sagrado, comer o coração, ainda palpitante, de seus contendores mortos em batalha. Eles o faziam por necessidade "social" ou cultural. Necessidades do ego. Surgem depois ou ao mesmo tempo que as necessidades sociais. São de dois tipos: 1. Necessidades que se relacionam com a auto- -estima: necessidade de auto-respeito e autoconfiança, de autonomia, de competência, de conhecimento. 2. Necessidades que se relacionam com a reputação: necessidades de status, de reconhecimento, de apre- ciação. Ao contrário das anteriores, as necessidades do ego são rara- mente satisfeitas. O homem procura indefinidamente mais satisfação de tais necessidades, uma vez que elas lhe são excessivamente impor- 84 tantes. Entretanto, não aparecem de maneira significante até que as necessidades sociais, fisiológicas e de segurança estejam razoavelmente satisfeitas. Necessidades de auto-realização. Finalmente, no topo da hierar- quia, existem as necessidades de auto-realização. Estas são as necessi- dades de compreender as próprias potencialidades, de um contínuo auto- desenvolvimento, de ser criativo no mais amplo sentido. Como é bem difícil a satisfação plena das necessidades anteriores, e como não se empreende a realização de uma categoria superior sem que as inferiores estejam satisfeitas, conclui-se que são poucas as pessoas que se dedicam à auto-realização. Agora, voltemos aos motivos. QUE VEM A SER MOTIVO? O motivo é, originalmente, um impulso, "drive", em inglês, isto é, "um impulso orientado p a r a . . . " A fonte básica das energias moti- vacionais são: as necessidades ou o excesso de energias acumuladas sob várias formas de tensões. A necessidade de vencer na vida leva os estudantes para as salas de aula. A sede leva o motorista a parar o carro e procurar água ou refrigerante num bar. O interesse por conhecer os motores leva o ado- lescente a comprar revistas de Mecânica. Para resguardar suas rique- zas, o rico proprietário vota nos candidatos conservadores. Motivo é tudo aquilo que leva alguém a fazer alguma coisa. Poderíamos defini-lo como tudo que inicia, sustenta e dirige uma atividade. Podemos identificá-lo com aquela quantidade de energia psíquica capaz de determinar um comportamento individual ou social. Numa definição, um pouco mais aceita, motivo vem a ser tudo aquilo capaz de determinar um comportamento individual ou social. Há, pois, mo- tivos individuais e motivos sociais. Os primeiros movem os indivíduos e os segundos, os grupos. Tipos de motivo Se motivo é tudo aquilo que leva alguém a fazer alguma coisa, podemos supor que há bilhões deles, pois as pessoas são impelidas para as mais diferentes ações possíveis: desde procurar um alfinete no chão até preparar astronautas para vôos espaciais. A melhor maneira de 85 estudar tão numerosos motivos é agrupá-los. No fundo, toda atividade humana, ou melhor, os motivos que orientam toda atividade humana se. concentram em quatro pólos: 1. Sobrevivência ) } conservar a vida 2. Segurança j 3. Realização ) ) expandir a vida 4. Crescimento ) Continuar vivo, conservar-se protegido (autoprotegido), procurar satisfações e experimentar novos estímulos constituem os pólos para os quais confluem todos os motivos. O estudo mais profundo dos motivos e de sua atuação na cons- ciência (motivação) levou os psicólogos atuais a identificarem duas fontes produtoras de motivos: as necessidades e as forças de cresci- mento. Por exemplo, a sede pode ser encarada como a falta de água no organismo. Essa falta provoca tensões. Um aluno sedento pode inter- romper a aula a fim de pedir ao professor para beber água. Se, por acaso, o professor não atender seu pedido, a tensão poderá aumentar a um estado tal, que levará o aluno, a todo custo, a procurar o líquido desejado. Quanto maior a necessidade, maior a tensão determinadora de ação. Igualmente, um aluno saudável, cheio de energias, não é capaz de ficar quieto por longo tempo. O acúmulo de energia também pode levar a atividades de crescimento físico ou psíquico. PESQUISAS EXPERIMENTAIS A Psicologia, como ciência, procura como ideal a quantificação dos seus fenômenos. Assim, inúmeras experiências foram feitas para medir o impulso, que é a parte principal dos motivos. Um dos aparelhos mais simples para esta mensuração é a "caixa de obstáculos". Esta consta essencialmente de três compartimentos. No primeiro, fica o animal; no segundo há um obstáculo e um registro para medir o esforço despendido pelo animal: uma grade elétrica, por exemplo. O terceiro contém o incentivo. F. A. Moss foi aumentando e registrando a quantidade elétrica do choque a que se submetiam os ratos para alcançar vários objetivos. Concluiu seu trabalho formando uma lista dos motivos mais fortes para esses animais. Os motivos mais fortes, medidos pela resistência a choques elétricos, foram: "motivo maternal" (isto é, a busca da 86 ninhada pela mãe) , a sede, a fome, o sexo e os motivos exploratório!, isto é, que levam os seres a conhecer os meios onde se encontram. A atividade de um animal está intimamente ligada à motivação. Há um pequeno aparelho (uma caixa ligada a um tambor rotativo) que serve para registrar qualquer atividade do animal, pois esta faz girar um tambor rotativo, cujas voltas são registradas por um regis- trador. A experiência original foi feita com ratas. Sua atividade era nota- velmente acrescida de quatro em quatro dias. Este acréscimo corres- pondia ao aparecimento regular do estro (cio), que nas ratas ocorre a cada quatro ou cinco dias. O motivo determinava um acréscimo de atividade do organismo. Com a extirpação dos ovários, a atividade específica destes dias se reduziu, de imediato, de 60 para 95 por cento, até o desaparecimento total. Nesse modelo estão os elementos da motivação: necessidade, com- portanto instrumental e extinção da necessidade. NECESSIDADES NO HOMEM O homem não vive num simples plano homoestático fisiológico. Suas necessidades se realizam também num plano psicológico superior. Uma pessoa pode ter relacionado comer, fumar, beber etc. como meio de reduzir suas tensões emocionais, suas ansiedades. A fome dessa pessoa, porém, nada tem a ver com a fome como carência ou falta homoestática. Igualmente, sua obesidade não será homoestática. Conhece-se o caso de uma pessoa que adormecia sempre que começava a ficar com raiva. Na psicoterapia, descobriu-se que, quando criança, toda vez que começava a se irritar, seus pais interpretavam a causa como fadiga e a mandavam para a cama. Seu sono, em tal ocasião, não era homoestático. Era um condicionamento. O homem não vive somente num meio orgânico, mas igualmente num meio social. O meio social, isto é, o convívio com os outros, determina novos planos de carências, de déficits, de necessidades. Um objeto, uma situação qualquer que se introduz no contexto, para valorizar e determinar a ação, denomina-se incentivo. Uma galinha, depois de saciada, se é colocadano meio de outras famintas, passa novamente a comer e pode comer até 607o a mais, além do padrão de saciedade. Neste caso, a presença de animais fa- mintos devorando avidamente grãos apresenta-se como um incentivo. Por exemplo, um prêmio em dinheiro, a presença de uma iguaria, as notas escolares, os elogios, os distintivos, os títulos honoríficos, tudo 87 isso constitui incentivos positivos, pois apresentam-se como algo agra- dável que resulta de determinada ação. Os incentivos podem ser positivos ou negativos. Incentivos nega- tivos são aqueles que determinam um comportamento de afastamento. Uma grade elétrica colocada entre o rato e o alimento é um incentivo negativo, assim como os castigos, as notas baixas, as reprovações etc. Incentivos positivos são aqueles que determinam um comportamento de aproximação. Uma torta de sementes de girassol é um incentivo positivo para ratos, assim como os elogios, prêmios, tudo o que implica aprovação e aceitação social, o são para as pessoas. O incentivo pode aumentar a força do motivo. Por exemplo, um prato de comida esteticamente arrumado mobiliza mais a vontade de comer. Assim, o impulso para a refeição passa a ser feito de duas partes, uma da necessidade (a fome) e outra do incentivo, isto é, da bela disposição do alimento no prato. i EXERCÍCIOS r 1. Quais seriam os motivos de vida? Em outras palavras, para que os indivíduos vivem? Se observarmos as atividades das pessoas ou as metas a que dirigem suas ações, veremos o seguinte: a. A atividade de alguns está voltada totalmente para o trabalho e, assim, poderíamos dizer que vivem para o trabalho. b. Outros se voltam para a beleza, para gozar a vida, para as ativi- dades de divertimentos. Diríamos que estes têm nas "artes" seu motivo de vida. c. Em terceiro lugar, aparecem aqueles poucos que elegeram fins ideológicos, religiosos, humanitários como fim de suas vidas. d. Finalmente, os que perdem ou não conseguem formular um mo- tivo de vida, e se neurotizam. Na realidade, o trabalho, as "artes", os fins ideológicos e religiosos são simples maneiras de se viver ou a própria finalidade última de vida? 2. Será que a sociedade moderna fracassa em satisfazer às necessidades mais profundas do homem? 3. Quais serão estas necessidades mais insatisfeitas? 4. Em que categoria você colocaria os que vivem e pensam apenas em ganhar dinheiro? 5. Qual a diferença entre motivo e incentivo? 88 Propaganda, uma aplicação da motivação 6 A pressão contínua é a de criar anúncios cada vez mais à imagem dos motivos e desejos do público. (Marshall McLuhan) A propaganda, em última análise, é uma técnica psicológica a ser- viço da produção e do consumo. A intenção do anunciante é mobilizar uma ação, um comporta- mento. Portanto, vai atuar, despertar, criar necessidades, gerar im- pulsos para a ação. Na elaboração do anúncio, há uma busca de motivos claros "ou ocultos, conscientes ou inconscientes que despertem o indivíduo para a ação (a compra). Um anúncio de seguro de vida, por exemplo, pre- tende levar o adulto a fazer um seguro para a família. A agência pode apelar para vários motivos. Nunca poderá mostrar direta ou indireta- mente a alegria dos beneficiários com a morte do segurado. Um motivo oculto, de grande efeito, no caso, é "vender" e dar certa ilusão de imor- talidade e de superioridade para a pessoa que faz o seguro, pois con- tinua protegendo e amparando a família, mesmo depois de desapare- cido. O anúncio, tal como o entendemos, texto e fotografia, ou texto e cena quando televisionado, é uma mensagem comprimida e totalizada, com alta carga de impacto, para impressionar a consciência, levando-a à ação. O anúncio está mais próximo dos desejos e das necessidades da pessoa do que do próprio produto anunciado. Há, muitas vezes, um choque entre a imagem que você faz do produto através da pro- paganda e o produto em si. 8Q As firmas nunca aconselham a emissão de um só anúncio, porque não surtiria efeito. Trata-se de fazer uma campanha, isto é, uma série de anúncios. A propaganda segue o princípio da bolinha de neve. Começa tímida e, com a repetição, se transforma em uma avalancha psíquica. PRODUÇÃO E PROPAGANDA: SER E PARECER Não basta produzir bens e serviços, se não se tiver condições de levá-los ao conhecimento de seus possíveis consumidores. No plano pessoal é como se disséssemos: "não basta apenas 'ser', é preciso tam- bém 'parecer' aos outros". É por isso que a grande produção industrial moderna precisa tanto da propaganda. A propaganda se preocupa e trabalha no sentido de criar uma imagem do produto para seus consumidores. O produto nem sempre é igual à imagem que dele chega às consciências. Há um esforço de idealizar o produto e de fazê-lo como que milagroso e fantástico. Esta tendência pode chegar até a níveis de.mistificação e falsidade. Há um código de ética e regras que regulam a publicidade. Analise este anún- cio que uma construtora publicou num jornal do Rio de Janeiro: Era uma vez um homem que vivia à beira de uma estrada e que vendia sanduíches. Lentamente ele foi aumentando as vendas e tam- bém cada vez mais aumentava a compra de carne e pão. Logo com- prou um fogão maior para melhor atender os fregueses e o negócio prosperava. Conseguiu dar boa escola ao filho. 90 Um dia o filho, já formado, falou para o pai: "Pai, você não ouve rádio? Você não lê jornais? Há uma grande crise no mundo. A situa- ção é terrível. E aqui no país está ainda pior". O pai pensou: "Meu filho estudou, lê jornais, ouve rádio e só pode estar com a razão." A partir daí, foi diminuindo as compras, reduzindo os molhos e temperos, economizando cartazes de propaganda. Já não mais forçava as vendas em voz alta, nem conversava animado com os clientes, aba- tido pelas notícias de crises. E as vendas foram caindo. Algum tempo depois, derrotado pelo seu próprio desânimo, nada mais restou ao pai do que constatar a incômoda realidade: "Você estava certo, meu filho. Nós realmente estamos no meio de uma grande crise". Não podemos mais fazer como o homem dos sanduíches. É preciso confiar e manter acesa a chama do otimismo e da esperança. VENDENDO SENSAÇÃO DE PODER A fascinação exercida sobre as pessoas por qualquer produto que pareça oferecer-lhes um aumento pessoal de poder proporcionou aos anunciantes um bom campo para ser explorado. As fábricas de auto- móveis esforçaram-se por produzir carros com potência cada vez maior. Depois de uma pesquisa psicológica, uma agência de publicidade ameri- cana toncluiu que a principal atração para a compra, de dois em dois anos, de um novo e mais potente automóvel estava em que o carro dava ao comprador uma renovada sensação de poder, reafirmando-o em sua própria masculinidade. Necessidade emocional que seu velho carro não conseguia satisfazer naquele contexto social de vida ou, em outros termos, naquela cultura. Havia, porém, um sentimento inconsciente de culpa nesta atração exercida por uma nova e potente máquina, conforme verificou o Insti- tuto de Pesquisa de Motivação. O comprador sentia-se culpado por dar a si próprio a satisfação de um poder que poderia ser considerado supérfluo. Precisava, assim, de uma garantia racional para entregar-se 91 I satisfação de seus desejos. Uma boa solução, segundo decidiu a pesquisa, foi oferecer a atração do poder, mas acentuar que toda aquela maravilhosa potência proporcionaria "a margem extra de segurança em uma emergência". "Isso", explica o diretor da pesquisa, "oferece a ilusão de racionalidade de que o comprador necessita". Para obter os objetivos, o anúncio serve-se do princípio da repe- tição, das associações inconscientes, bem de acordo, aliás, com os pro- cessos de lavagem cerebral. A propaganda tende a homogeneizaros desejos, as necessidades e as satisfações dos desejos e a criar as mesmas aspirações. Assim, as pessoas condicionadas pela propaganda passam a ter os mesmos dese- jos, a ter as mesmas aspirações de posse. A propaganda procura minar o consumidor de todos os modos. Uma das formas é recorrer a mo- tivos inconscientes. O inconsciente é o grande destinatário da propa- ganda. É por isso que qualquer anúncio lido e comentado, racional- mente, torna-se ridículo. Mas, deslocado para um novo cenário, se torna, no mínimo, engraçado, comenta McLuhan. Vejamos este anúncio de televisão: Imagem: O marido chega perguntando: "Onde está ele?" A mu- lher, perplexa, confusa, interroga: "Ele, quem?" O marido insiste: "Eu sei que ele está aí". Vai direto a um armário, abre violentamente a porta, encontrando apenas várias latas de presuntada Wilson, um nome de homem que "viria a perturbar as relações do casal". Apresentado, assim, parece ridículo, mas, no contexto publicitário, foi um bom anúncio. A melhor prova disso é que está sendo citado agora. Qualquer anúncio é cômico quando apreciado conscientemente. Grande parte deles não é endereçada ao consumo consciente. São men- sagens subliminares para o subconsciente, devendo exercer um efeito meio hipnótico e legalmente subliminar. Nos Estados Unidos gastam-se, em propaganda, tantos dólares quantos com a verba oficial destinada à educação (mais de doze bi- lhões de dólares). O anúncio é geralmente dispendioso, pois representa a arte de muita gente e os meios de comunicação por onde é veiculado são muito caros. COMUNICAÇÃO E PROPAGANDA O homem não pode viver limitado dentro da própria pele. Daí a necessidade de criar ampliações das próprias faculdades interiores e pessoais para se estender, para se comunicar com outros. Para tanto, precisa de códigos e de canais competentes de comunicação. A infor- 92 mação a ser comunicada deve ter uma fonte e um destinatário, isto é, um emissor e um receptor. Esta comunicação se faz através de um código. Assim, o emissor tem que fazer uma codificação de sua infor- mação. O receptor ou destinatário tem que realizar a operação inversa: decodificar. Podemos exemplificar isso no caso do telégrafo. Alguém pensa no conteúdo do telegrama e redige, entregando-o ao telegrafista. Este o codifica em sinais "morse" (sistema antigo) e o envia através de um veículo elétrico (o fio) a outro telegrafista que o decodifica e o faz chegar ao receptor, à pessoa a quem o telegrama é dirigido. Assim teríamos: fonte codificação veículo decodificação receptor fonte codificação veículo decodificação receptor No campo da publicidade, teríamos: produtor codificação mensagem anúncio decodificação consumidor A primeira lei básica da comunicação é a da entropia: perda ou degradação do conteúdo primitivo da informação. Entre a fonte e o destinatário há uma considerável perda. Para compensar essa lei temos uma regra ou lei básica corretiva: a informação ou a mensagem tem de ser redundante. Em anúncio, não podemos ser prolixos; por isso, ele deve ser o mais elaborado possível: 1. Pode e deve ser repetitivo. 2. Deve ser rico de associações. 3. Deve dirigir-se ao consciente e ao inconsciente, porque tanto um corrro outro governam as pessoas. Os homens, assim como os animais, só absorvem a informação de que sentem necessidade ou que lhes seja inteligível. Não é o tamanho de um anúncio e sim sua qualidade e freqüência que engatilham a ação. O anúncio "mural", impresso ou televisionado, por suas associações e segundas intenções, é, em boa parte, uma inves- tida contra o inconsciente. Muitos comportamentos passaram a se modificar em função dos meios de comunicação e da publicidade. Os anúncios de absorventes, por exemplo, amplamente difundidos pelos meios de comunicação, con- tribuíram para que a menstruação fosse encarada com mais naturalidade pelas pessoas. 93 i E X E R C Í C I O S r 1. Selecionar de três a cinco anúncios. 2. Submetê-los a um teste de associação. As associações podem come- çar completando estas frases: "Quando vejo este anúncio, esta figura, esta palavra, penso em (apresentar a palavra), vêm-me à mente . . . . (tais idéias)". 3. Anotar as associações favoráveis e as desfavoráveis: ver a pro- porção. 4. Pesquisar os motivos a que o anúncio apela. Para tanto é bom repassar o capítulo sobre motivação. 5. Analisar o anúncio de um ponto de vista crítico. Ver sua racionali- dade, sua persuasão de venda, seu maior ou menor impacto emo- cional. 94 Evolução do comportamento Os mais diversos tipos de comportamento ser- vem para ajudar os homens e os animais a competirem uns com os outros e a sobrevive- rem no seu meio. (Desmond Morris) O tipo mais simples de comportamento denomina-se reflexo. Sua simbolização é: E (estímulo) — R (resposta). O reflexo simples está presente em todos os seres vivos. Se num recipiente contendo água e algas verdes acendermos uma vela, haverá uma migração das algas para o foco de luz. Na encosta de uma montanha verificava-se, em altitudes diferentes, a existência de determinada variedade de insetos. A divisão entre os grupos de in- setos era tão rígida que não havia misturas entre eles. Por quê? Qual o motivo de sua ação se limitar a determinada altitude, nem mais para baixo nem mais para cima? A solução era simples. Sua ação ou comportamento (R) estava determinada pelo teor de oxigênio (E) existente em quantidade dife- rente em cada altitude. O comportamento reflexo é estruturalmente simples em seu esquema básico. Nos capítulos seguintes voltaremos a falar sobre este tipo de comportamento. O COMPORTAMENTO INSTINTIVO O comportamento instintivo é um padrão de comportamento com- plexo, inato e invariável no tempo. A vespa caçadora imobiliza uma lagarta, injetando um líquido paralisante em seus gânglios nervosos. 95 A seguir, põe seus ovos no animal vivo e paralisado, garantindo calor e alimento à larva. Este comportamento inalterável não foi aprendido. A vespa nasce com ele. Os psicólogos do fim do século passado e começo deste exagera- vam a importância do instinto. L. L. Bernard, em 1924, relacionou 1 046 atividades humanas até então classificadas como "instinto" ou "tendências instintivas", quer por algum cientista, quer pela tradição. Demonstrou que a maioria era constituída de comportamentos aprendidos. Primeiro, não havia duas autoridades que concordassem com uma lista de instintos e, se- gundo, o conceito de instinto era uma capa para encobrir a ignorância dos fenômenos. O gráfido abaixo mostra os diferentes tipos de comportamento entre as diferentes classes de seres vivos. Vemos a origem do comporta- mento, seu ponto máximo e a curva de ascensão ou declínio. Como exemplo, podemos ver o comportamento instintivo, que se inicia nos vermes, tem sua expansão máxima nos insetos, decaindo e extinguindo- -se até certo ponto no homem, que tem apenas restos instintivos. 9 6 O salmão sobe o rio para desovar e depois morrer. Alguns pás- saros, algumas vezes, migram sozinhos, sem a companhia dos mais velhos. Realmente, o primeiro comportamento não é tão instintivo como se pensava. Provas experimentais indicam que o salmão aban- dona as partes dos rios onde normalmente vive, porque na época da desova perde pigmentação da pele e não agüenta os raios do sol, na água rasa, passando a procurar um abrigo nas águas mais fundas. Com isso, sua migração passa a ser mais um comportamento reflexo. A migração das aves se deve à diminuição das horas do dia que influi no equilíbrio endócrino do pássaro. Há uma experiência de Z. K. Kno, a respeito de instinto e apren- dizagem. Kno criou gatos juntamente com ratos. Quando cresceram, somente um pequeno número deles atacava seus tradicionais inimigos. Todos osgatinhos criados com suas mães que, de quatro em quatro dias, matavam um rato, se tornaram bons caçadores de ratos. Deste modo, matar ratos, nos gatos, é um comportamento aprendido, até certo ponto, pois o gato pode aprender a conviver pacificamente com suas "possíveis" vítimas. Com quem os gatinhos aprendem a matar ratos? Com as próprias mães e com os restantes membros do grupo. O instinto apresenta-se como um tipo standard de ação que se re- pete ininterruptamente e sem alteração nas mesmas condições. O gran- de poeta romano Virgílio fez, há quase dois mil anos, uma detalhada descrição das colmeias no seu livro De Apibus ("As Abelhas") e atual- mente elas se comportam do mesmo modo, sem nenhuma alteração visível. Desde o descobrimento do Brasil até hoje, os pássaros conhe- cidos como joão-de-barro fazem sua casa-ninho do mesmo modo. As respostas instintivas são: 1. Instrumentais. 2. Invariáveis no tempo. 3. Profundas. Por profundidade, entendemos o alcance excepcional de alguns comportamentos instintivos. Andorinhas e patos de clima frio, chegado o inverno, viajam através de milhares de quilômetros para regiões quentes ou temperadas, voltando depois, no começo da primavera. O comportamento instintivo apresenta certa curiosidade. O Brasil é o centro de várias migrações de aves. O mais interessante é que quando elas chegam, fazem um percurso sinuoso e longo, mas ac vol- tarem vão em vôo direto e rápido. Ao chegarem em suas regiões frias de origem, nidificam, põem ovos, criam os filhos e, na próxima che- gada do inverno, voltam ao nosso clima tropical. Algumas viajam de noite e dormem de dia. Na viagem de retorno, sobretudo, algumas 97 espécies chegam a voar mais de mil quilômetros por dia. Alguns anuns fazem ninhos coletivos onde todas as fêmeas colocam seus ovos, mas o curioso é que não aceitam, no ninho, mais do que certo número de ovos. Qualquer ovo excedente é jogado fora. INSTINTO E COMPORTAMENTO HUMANO Provavelmente, nenhum comportamento humano normal pode ser descrito totalmente como instintivo. Como o comportamento é uma reação do organismo como um todo, é claro que, sendo o homem um organismo consciente e racional, seus padrões de resposta só podem ser racionais e conscientes. Podem ocorrer e ocorrem, efetivamente, esboços, fragmentos de comportamento instintivo, mas não expressões do instinto pleno como nos animais. Na linguagem comum, empregamos a palavra "instinto" como sinônimo de ação espontânea e irrefletida ou mesmo para designar certos impulsos irrefreáveis, como também certos reflexos condicio- nados. Empregamos, muitas vezes, a palavra "instinto" para significar: uma ação involuntária, certos atos emocionalmente intensos, conduta irrefletida ou impulsos irrefreáveis. Realmente, os seres humanos têm comportamentos com bases em estruturas hereditárias ou orgânico- -fisiológicas inatas, que se parecem com os instintos. O comportamento sexual do homem, por exemplo, é um deles. Contudo, não se manifesta em complexos padrões inaprendidos de conduta sexual e, por isso, não pode ser considerado instintivo em seu sentido exato. O comportamento humano é muito dominado pela aprendizagem, o que não ocorre na área do instinto, como podemos ver no seguinte exemplo: Há duas variedades de cegonhas européias; uma migra para a África do Norte e a outra para a África Central. Se pegarmos um ovo da primeira espécie e o colocarmos para ser chocado por uma ave da segunda variedade, quando iniciar a migração o descendente da primeira espécie se desgarrará do grupo e seguirá o roteiro de sua espécie. Nem todos os comportamentos animais são instintivos. Há muitos aprendidos e já foi constatado comportamento inteligente nos mamí- feros superiores. Contudo, só são capazes de estruturar os elementos do meio imediatamente presentes. Não possuem inteligência abstrata. Um macaco numa jaula, depois de muitas tentativas infrutíferas de apanhar bananas presas no teto, encostou-se a um canto e, visuali- 98 zando umas varas, um caixote e o cacho de bananas, não teve mais dúvida; levantou-se, encaixou um bastão no outro, subiu no caixote e derrubou as primeiras bananas. Foi um ato inteligente. Assim como os mamíferos superiores são capazes, às vezes, de comportamentos inteligentes, também nós temos, em comum com eles, não instintos, mas restos de comportamentos instintivos. Somos, junta- mente com eles, seres territoriais e hierárquicos. Isto é, assim como os animais, lutamos, seja para estabelecer domínio numa hierarquia social, seja para estabelecer os respectivos direitos territoriais em deter- minado campo. Algumas espécies são apenas hierárquicas, isto é, cada um se preocupa em manter posições definidas de superior a inferior dentro do grupo. Outras são territoriais, sem problemas hierárquicos. Final- mente, algumas têm os dois instintos. O homem filia-se, em suas ori- gens, a este grupo. A hierarquia, no reino animal, é muito conhecida na chamada "ordem das bicadas", em que os gaios e as galinhas estabelecem suas posições (seus status) por meio de bicadas, criando uma hierarquia mais ou menos rígida. Os primatas são mais hierárquicos, estabele- cendo graduações de posições (status) dentro de seus grupos "terri- toriais". Provavelmente os antepassados homínidas, ao se transformarem em carnívoros, acentuaram o instinto do "território". Quando um bem-te-vi, no topo de uma árvore, canta o mais alto possível, está deli- mitando o seu território. A vantagem humana. A natureza cooperativa da caça levou o homem primitivo a intensificar sua vida social. E foi graças a esta cooperação que ele pôde sobreviver, pois não teria condições de viver isoladamente. Como animal social, possui impulsos para a defesa de um território comum. Ele traz ainda impulsos básicos para a defesa patrimonial da unidade familiar que existe dentro do território grupai. Mas a origem mais importante de sua agressividade é a luta pela manu- tenção e conservação individual, vindo, em plano subseqüente, a luta pela hierarquia dentro do grupo: a busca de prestígio, de uma posição elevada, de status. A defesa territorial da unidade familiar faz com que se divida um edifício em unidades repetitivas: uma mesma unidade culinária para cada apartamento. As casas são infalivelmente separadas por muros. Nos conjuntos residenciais de casas iguais, cada família põe a marca de sua individualidade em tudo que pode: pintura externa, decoração, jardim (quando há) etc. Na verdade, diz Morris, trata-se 99 dum equivalente rigoroso do que fazem outras espécies territoriais, quando põem seus cheiros pessoais nas proximidades ou nos principais pontos de seu território. Com isto, alertam aos outros membros da espécie que estão entrando em território alheio. É com esta finalidade que os cães urinam nos postes da vizinhança, marcando-os. "Quando uma pessoa põe um nome na porta — diz Morris — ou pendura um quadro na parede, faz exatamente o mesmo que o cão ou o lobo quando, por exemplo, alçam a perna e deixam sua marca no território em que moram." A competição hierárquica na espécie humana Esta luta por posições mais elevadas é feita, geralmente, com muita cautela, pois não se podem quebrar as forças de coesão social, levando o grupo à extinção. Essas forças, de forma velada, estão presentes em toda parte. Um automóvel ou uma determinada marca de automóvel, um apartamento em certa parte da cidade, até diferenças de acento vocal, de postura, o nome nas colunas sociais, assumem um significado social decisivo, pois indicam a posição social do indivíduo. É expressão da luta pela subida hierárquica (a ordem de bicadas das galinhas). Nosso comportamento foi estruturado para agirmos em pequenos grupos tribais, com menos de cem habitantes. Aí, a hierarquia se estabeleciafacilmente. Todos se conheciam. Mas o que acontece no meio de uma multidão de desconhecidos? O homem se sente menos solidário e menos responsável, passando a reagir de modo mais agres- sivo, sobretudo quando a tônica grupai é a competição. A agressão está à flor da pele. Se, de leve, tocamos em outro, apressamo-nos a pedir desculpas. Na intimidade, contudo, continuamos tribais. A neotenia, isto é, o longo estado da infância do ser humano, determinou modificações no comportamento do homem primitivo. A monogamia era a melhor garantia para a proteção dessa infância. Qual- quer espécie animal depois de seis meses é capaz de manter sua vida independentemente dos pais. Só na espécie humana o cuidado com os filhos se prolonga por anos. NOSSO CÉREBRO É por ele que subimos, na escala zoológica, ao status de Homo sapiens. A complexidade do seu funcionamento é responsável pela existência do mundo maravilhoso da consciência e pela capacidade de 100 reflexão. Por esta última, o homem pode se debruçar sobre si mesmo e conhecer-se, do mesmo modo que pode conhecer o mundo, de um ângulo e uma perspectiva únicos no nosso planeta. Para Pavlov, contudo, duas operações fisiológicas chamavam a atenção. Dentro do organismo, o sistema nervoso funciona ora exci- tando certos músculos, glândulas ou órgãos, ora inibindo-os. É por isto que a ação de pequenas doses de álcool provoca exaltação em algumas pessoas, pelo enfraquecimento dos processos inibitórios. A cafeína, porém, fortalece os processos inibitórios. No sono se dá uma inibição ou desligamento de conexões nervosas. Por isso, o café serve para afugentar, um pouco, o sono. Um cão, a que se ensinou que um tapa nas patas significa alimento e outro no dorso não tem nenhum significado, depois de uma injeção de cafeína, apresentava uma con- fusão nos seus processos inibidores, de tal modo que o animal passava a salivar em resposta a qualquer tapa, seja no dorso ou nas patas. Em geral, se qualquer parte do córtex cerebral estiver sendo excitada, sua atividade tende a inibir a atividade das outras partes. O cérebro, ao contrário do que se poderia pensar, nunca repousa. Nele ocorrem continuamente pulsações, verificáveis sob a forma de atividades elétricas. É curioso que as pulsações são maiores quando se está em repouso, diminuindo quando se faz um esforço de pensa mento. Atividade do cérebro. Utilizamos apenas um percentual baixo da nossa atividade mental, responsável pelas atividades convencionais, as- sim como pelas não-convencionais: telepatia, pré-cognição (conheci- mento do futuro), conhecimento de fatos ocorridos a grande dis- tância etc. Fisiologicamente, nossa atividade mental pode ser dividida em duas partes:- a atividade do estado de vigília e a do estado de sono. Assim, o cérebro nunca repousa totalmente. O estado de vigília (acordado) inibe as atividades normais do estado de sono; estas atividades do estado de sono são importantíssimas. Constituem-se em: 1. Elaboração da fantasia. 2. Interiorização (uma espécie de digestão) de tudo o que se passou durante o período de vigília. O sonho é exatamente a expressão desta realidade interna. É, em suma, através da atividade cerebral durante o sono que organizamos nossa realidade interior, que dige- rimos toda a massa de informações recebidas do meio exterior no estado de vigília. 101 Sem esta atividade não poderíamos criar, em nosso mundo interior, o quadro imaginário e estético que embeleza as atividades prosaicas da vigília, do dia-a-dia. Esta dualidade de atividade do cérebro pode explicar certos com- portamentos, como a hipnose, transe, catalepsia etc. Estes estados po- dem ser explicados pelo fato de partes do cérebro ficarem totalmente inibidas e partes totalmente ativadas. Se tomarmos uma lagosta e a acariciarmos com firmeza nas costas da carapaça, desde a extremidade posterior até a face, ela cairá em estado cataléptico. Ficará imóvel e dura como uma pedra, podendo ser colocada nas mais variadas posições. Os encantadores de serpentes sabem que, ao se agarrar de repente uma cobra por detrás da cabeça, comprimindo«a no momento em que o animal se acha encolerizado, este cai em estado cataléptico e fica imóvel como um bastão, devido à força da ação inibidora do sistema nervoso. i EXERCÍCIOS r 1. Afirmamos que o casamento monogâmico foi biologicamente uma conseqüência da neotenia. Que é neotenia? 2. O que é comportamento instintivo e como ele se apresenta no ser humano? 3. Existe comportamento inteligente entre os animais? Dê exemplos. 4. Aponte alguns sinais dos nossos impulsos territoriais e hierárquicos observados em nosso cotidiano. 5. Por que a competição hierárquica é atenuada na espécie humana? 102 Comportamento reflexo e comportamento condicionado Ê coerente supor que toda matéria viva pos- sui a propriedade de agir por reflexo. (K . P la tonov) Se mantivermos um paramécio (micróbio formado de uma única célula) durante certo tempo numa cuba triangular e outro numa qua- drada, eles aprenderão a percorrer seus espaços em percurso triangular e em forma de quadrado, conforme o recipiente onde estão. Mudados para um vaso redondo e um pouco maior, o primeiro continuará a fazer seu caminho de forma triangular e o segundo, seu percurso qua- drangular. Ambos ficaram condicionados a caminhar naquelas direções. INTRODUÇÃO AO ASSUNTO Davld Riesman dedicou uma parte do seu livro The Lonely Crowd à análise de um antigo best-seller infantil: Toodle, a locomotiva. Esta estória ilustra bem o que seja condicionamento, que é o resultado final dos reflexos condicionados. "Toodle é uma pequena locomotiva que vai a uma escola. Suas principais lições consistiam em aprender que se deve parar sempre diante de uma bandeira vermelha e nunca sair dos trilhos. Diziam-lhe que, executando estes dois ensinamentos, poderia crescer e tornar-se uma grande locomotiva de linhas aerodinâmicas. Toodle, inicialmente, comportou-se de acordo com o aprendido, mas, depois, foi descobrindo o prazer de sair um pouquinho dos trilhos, de colher, por exemplo, umas flores pelo caminho. Estas fraudes foram logo descobertas pelo 103 o l h o pcrscrutador do limpa-trilhos. A desobediência de Toodle cria uma crise na Cidade das Locomotivas: os professores e autoridades se reúnem para discutir meios de forçar algo eficaz. Quando Toodle abandonou os trilhos, deu então de frente com uma bandeira vermelha. Habituada a deter-se diante de uma bandeira vermelha, parou e voltou- -se para outra direção. Mas eis que encontrou outra bandeira ver- melha. Havia bandeiras vermelhas espalhadas por todo o campo. Toodle foi e voltou de um lado para outro, mas não conseguiu en- contrar lugar onde brincar. Finalmente olhou em direção aos trilhos: lá estava a bandeira verde e branca que lhe acenava com o sinal de siga. Voltou para os trilhos e prometeu ficar neles para sempre e ser uma boa locomotiva. Este sacrifício custou menos por causa dos aplausos de todos os habitantes da Engineville (Cidade das Locomo- tivas)." Antes de vermos o que é um reflexo condicionado, leiamos o que seja um reflexo simples. QUE É REFLEXO SIMPLES? É uma resposta imediata e involuntária do organismo a um estí- mulo qualquer. Envolve um nervo que leva a irritação ou estímulo para o centro (nervo motor) e outro responsável pela resposta fisioló- gica do organismo (nervo sensitivo). Vejamos a seguir vários exemplos. Muitos de nossos reflexos têm uma função protetora. Um dedo íoca a chapa quente de um fogão. Dezenas de receptadores de calor na pele fazem soar o alarma. Enviam estas mensagens de irritação pelo nervo motor aos centros nervosos. Como não se pode perder tempo, em muitos casos, estas mensagens se convertem em ordem antes mesmo de chegar ao cérebro. A massa nervosa da colunavertebral assume o controle e por seus nervos sensitivos envia a ordem quase instantânea que determina o afastamento automático da mão. O conhecido safanão do joelho que os médicos produzem com um martelo de borracha não passa de uma prova para verificar a presteza e a saúde das vias nervosas. A tosse é um simples ato reflexo, mas não é tão fácil assim explicá-lo. Quando existem alguns elementos irritando alguma parte das vias respiratórias, sobe o aviso para o cérebro (pelo nervo sensitivo). Como resposta, na primeira operação, o ar é aspirado para os pulmões e contido, sob pressão, pela glote. A glote é uma válvula que impede à comida de descer pela traquéia para o pulmão. Ao mesmo tempo que a glote se fecha, o véu palatino se levanta para vedar as passagens nasais. Quando todas as passagens 104 ie ar estão vedadas, os músculos do peito se contraem. Simuliaiici mente abre-se a glote, e um pequeno furacão se desencadeia de dentro para fora, varrendo os elementos irritantes que estejam no me io . O espirro, como a tosse, é reflexo simples, cuja finalidade 6 a limpeza da respectiva área. No espirro, o elemento irritante está numa passagem nasal. O cérebro manda ordens para expulsá-lo. Começa, então, uma série de acontecimentos, muito semelhantes aos da tosse: inspiração de ar, compressão súbita dos músculos do peito e do ab- dômen. Quando a explosão está prestes a ocorrer, o cérebro envia novas ordens: fecha os olhos, abre bem o véu palatino e, quando do ato explosivo, o indivíduo se inclina para baixo para produzir melhor efeito de expulsão do elemento estranho. Na tosse, o véu palatino se fecha para obstruir as passagens nasais, ao passo que no espirro, este fica inteiramente aberto para que o ar se precipite para fora tanto pela boca como pelo nariz. A criancinha espirra com muita freqüência. É a maneira que ela tem de assoar o nariz. Há uma particularidade no reflexo do espirro: só as irritações ligeiras o provocam. As lesões profundas como as cirúrgicas não o desencadeiam. O bocejo, por sua vez, é também um reflexo simples. Apresenta- -se, às vezes, como algo de mais agradável na vida, e em certas ocasiões como algo excessivamente constrangedor. Uma explicação comum do bocejo é que ele está relacionado com a falta de oxigênio no cérebro. Quando ficamos sonolentos (por qualquer motivo), a circulação san- güínea do cérebro se torna mais lenta e por isto diminui o suprimento de oxigênio. Se quisermos ou se tivermos de ficar despertos, o oxigênio precisa ser aumentado. No bocejo (mesmo nos traindo), a golfada de ar que o acompanha é a solução. COMO SE REALIZA O CONDICIONAMENTO Esta parte está escrita em redação especial — "instrução progra- mada": você lê cada quadro e escreve a resposta num papel à parte. A seguir, confirme sua resposta na p. 225. t . 1. Num cachorro, podemos verificar o seguinte reflexo simples: co- mida na boca elicia 1 salivação. Qual é o estímulo (E)? Qual é a resposta (R)? 1 "Elicia" significa, em reflexologia, "determina", "produz". 105 2. Luz nos olhos elicia contração pupilar. Quais são as letras-símbolo do reflexo correspondentes a "luz nos olhos" e "contração pu- pilar"? 3. Choque elétrico na mão elicia batidas cardíacas. O que é E? O que é R? 4. Associe: Estímulos Respostas a. alimento ( ) contração pupilar b. luz ( ) aumento das c. choque batidas cardíacas elétrico ( ) salivação 5. Alguns estímulos eliciam respostas sem aprendizagem alguma, de forma inata. Este comportamento é chamado de reflexo simples ou reflexo condicionado? 6. Um estímulo que elicia uma resposta sem treino prévio é chamado incondicionado (EI ) . Qual é o estímulo incondicionado para a resposta "salivação"? a) alimento na boca; b) um menu. 7. Outros estímulos adquirem capacidade de eliciar respostas somente por meio de treino ou aprendizagem. São chamados estímulos condi- cionados (EC) . Na experiência de Pavlov, onde se tocava a cam- painha e se colocava pó de carne na boca do cão, qual o estímulo condicionado (EC) para a salivação? a) a campainha; b) o pó de carne na boca. 8. A luz no olho é estímulo ( ) para a contração da pupila. 106 9. John Watson, psicólogo americano, aplicou os princípios do con- dicionamento pavloviano a seres humanos. Em um de seus estudos, condicionou uma criança de onze meses a ter medo de um rato branco, apresentando-lhe o animal ao mesmo tempo que fazia produzir um som extremamente forte. Neste exemplo, qual foi o EI para a resposta "medo"? 10. Antes da experiência, a criança nunca tinha visto um rato (consi- derado um estímulo neutro quanto ao medo). Ela não manifestou medo quando viu o rato. Nestas condições, o rato foi um estí- mulo para a resposta "medo". 11. Somente após ser associado com o EI (ruído forte) fqi que o rato se tornou um ( ) 12. Quando um estímulo neutro é associado a outro estímulo já rela- cionado com uma resposta particular, de modo que a apresentação do estímulo neutro provoque a mesma resposta que o EI , aquele pode ser chamado estímulo ( ) 13. Como são chamados os estímulos que adquirem a capacidade de eliciar respostas somente por meio de treino ou aprendizagem? a) reflexos simples; b) estímulos incondicionados; c) estímulos condicionados. 14. O Sr. X vai ao enterro do amigo que faleceu do coração. No dia seguinte, ao suspender um peso, contorce um músculo lombar e logo diz: "Estou doente do coração". A dor da contorção do mús- culo com referência à resposta "medo de enfarte" é um: a) reflexo simples; b) estímulo incondicionado; c) estímulo condicionado. 107 15. Se você gritar para uma rã, ela não reage. O som de uma suave castanheta (estalido produzido pela ponta do dedo médio ao roçar o polegar) obriga-a a fugir. Este som lembra o ruído de rãs caindo na água precipitadamente. O ruído da castanheta é um ( ) para as rãs. 16. O marginal empalidecia toda vez que via um policial. Pode-se caracterizar, em termos científicos, esta reação "empalidecer" como: a) reflexo condicionado; b) reflexo simples; c) resposta condicionada. 17. Quais os três elementos básicos contidos no condicionamento clássico? 18. Quando um estímulo previamente neutro provoca a mesma res- posta que um estímulo incondicionado, dizemos que houve aquisi- ção. O som da campainha para o cão de Pavlov demonstra . . . . . . de resposta originariamente eliciada pela vista do alimento. 19. O condicionamento respondente é principalmente relacionado com a substituição dos estímulos. Assim, ambos os estímulos provocam aproximadamente a mesma ( ). 20. O condicionamento respondente implica a associação de um estí- mulo incondicionado (El ) a um ( ) para obter com este a mesma resposta que com aquele. 21. O som do motor do dentista pode ser um estímulo para o medo e a ansiedade. 108 22. Se dirijo um jato de luz para os olhos de um cão, suas pupilas se contrairão; isto é um O fato de que o cão se empenha em várias atividades para cuidar de seus filhotes já não é considerado um 23. Uma lesma sobe, quando deve subir, sempre numa inclinação de 15 graus. Que tipo de ação é esta? 24. Que tipo de estímulo é o menu para a resposta "salivação"? EXERCÍCIOS 1. Qual a diferença entre um reflexo simples e um condicionado? 2. Você vai dirigindo um carro; de repente surge uma pessoa na frente e este fato determina uma freada violenta. Estamos diante de um reflexo simples ou condicionado? 3. Qual o mecanismo psicológico utilizado, de modo exaustivo, na fá- bula da "Locomotiva"? 4. Isto tem alguma semelhança com o que a sociedade faz conosco? (Comente um pouco sua resposta.) I 109 Tipos de condicionamento Condicionar é uma forma de aprendizagem na qual a capacidade de eliciar uma resposta é transferida deum estímulo para outro. (Fred S. Keller) Existem dois tipos de condicionamento: o clássico ou respondente, sobre o qual já fizemos um estudo no capítulo anterior, e o operante ou instrumental. O condicionamento clássico foi descoberto, estudado e detalhada- mente pesquisado por Ivã Pavlov (1849-1936), fisiologista russo. O condicionamento operante foi apresentado por Burrhus Frederic Skinner (1904), psicólogo americano que desenvolveu intensa atividade no es- tudo da psicologia da aprendizagem. CONDICIONAMENTO CLÁSSICO Já vimos os elementos que constituem o condicionamento clássico: reflexo simples, cujo esquema é E—R, e que é uma resposta (R) a um estímulo (E) ; reflexo condicionado, que é, basicamente, a associação de dois reflexos simples funcionando dentro do esquema abaixo: 110 Os dois reflexos simples, ou melhor, os dois estímulos dos dois reflexos determinam, aproximadamente, a mesma resposta; por isso. associam-se. CONDICIONAMENTO OPERANTE Para entendermos este tipo de condicionamento precisamos do conceito de reforço. Reforço é qualquer coisa que serve para fortalecer ou extinguir a conexão E—R. O reforço positivo fortalece a conexão E—R. No nega- tivo dá-se o contrário: a conexão debilita-se até sua extinção. Assim, a aplicação de reforço negativo é uma forma de descondicionamento. Descondicionar é separar um estímulo de uma resposta ou um re- flexo de outro. Assim como se associa, também se pode separar (des- condicionar). Vejamos um exemplo onde se emprega o reforço nega- tivo para descondicionar uma resposta de ira. Uma criancinha de um ano e nove meses aterrorizava sua família com iras persistentes na hora de dormir. O condicionamento recebido: durante os primeiros dezoito meses de vida estivera doente e inspirara cuidados constantes. Ao deitar-se ela era acompanhada por alguém da família até dormir. Depois que ficou boa, perdeu alguns dos cuida- dos durante o dia, mas se apegou à presença de um familiar até dormir. Os pais e uma tia se revezavam na tarefa de colocá-la na cama. Se o escalado deixava o quarto, a criança gritava e agitava-se até que o adulto retornasse. Se o pai começava a ler, enquanto estava no quarto, chorava até que a atenção fosse voltada para ela. Os pais descobriram que ela gostava do domínio que exercia sobre eles e por isso demorava o mais que podia a dormir. Em resumo: um dos pais ou a tia estava gastando de meia até duas horas todas as noites, o que representava um consumo elevado e desnecessário de tempo. Como resolver o problema? Era preciso descondicionar: separar hora de dormir (E) das respostas de excessivas atenções ( R ) . Separar este estímulo desta resposta. Como? Foi montado o seguinte esquema: 1. Um dos pais ou a tia colocava o garoto na cama, de maneira calma e amiga. 2. Depois de alguns carinhos, próprios da ocasião, des- pedia-se e fechava calmamente a porta. 3. Teria que deixar o garoto chorar o tempo que agüentasse. Evidentemente, no primeiro dia ele chorou e gritou. Esse com- portamento durou 45 minutos. 111 No sétimo dia, estava extinta a resposta de exigir mimos e aten- ções na hora de dormir. Colocado na cama, ficou só e não chorou, isso não trouxe nenhuma conseqüência. Aos três anos e nove meses, o garoto era uma criança amável, expressiva e sociável. O que ocorreu: 1. O reforço positivo dos mimos e agrados na hora de dormir foi su- primido. 2. Em seu lugar instalou-se um reforço negativo de choro, gritos etc. Como ocorre o condicionamento operante Vejamos um exemplo: Uma criança e sua mãe estão num final de feira, já um tanto cansadas e irritadas pelo calor. De repente, a criança vê a banca de algodão-doce e pede-o à mãe. Esta diz que não. A criança, já cansada, e agora frustrada, pede de novo, mas desta vez chorando. A mãe diz que não vai dar, de jeito nenhum. A criança chora alto. Ela pede à criança que pare. A criança continua pedindo e chorando. Ela dá um beliscão no garoto. Então a criança grita, joga-se no chão, dá pontapés — um quadro completo de ira. A mãe, embaraçada, compra o algodão-doce. Ao fazê-lo, reforçou este tipo de comportamento "es- candaloso" e enfraqueceu as outras respostas mais adequadas. Vejamos isto, graficamente: Ri (pede simplesmente) Houve reforço deste tipo de resposta ( R 4 ) . As três primeiras respostas não foram reforçadas e tendem a se extinguir. Na próxima vez, a criança será levada a repetir a mesma resposta reforçada. Se conseguir, irá, cada vez mais, incorporando este tipo de resposta, chegando ao ponto de. se transformar num traço de sua personalidade e num tipo de caráter. Será o "estourado", o "vio- lento". Poderia ser exatamente o contrário, se tivesse sido condicio- nado em outra direção. A diferença entre este tipo de condicionamento (o operante) e o condicionamento clássico está em que o primeiro ocorre espontanea- mente. Há várias respostas e a que for gratificada é a que tenderá a se refletir e depois se consolidar. Os pais, por exemplo, podem ou não exagerar a "oralidade", isto é, o hábito de obter prazer pela boca, através da comida, bebida, fumo etc. Se em criança, a qualquer sinal de desconforto, a única resposta recebida for uma recompensa ou reforço oral agradável, como o seio, mamadeira, chupeta e t c , poderá, mais tarde, continuar exigindo, para qualquer ansiedade, uma recompensa oral em forma de comida, bebida, cigarro ou qualquer outra coisa que lhe dê prazer oral. Muitos comportamentos que parecem complexos são, na realidade, reflexos de estrutura simples. O caminhar exige apenas dois reflexos simples: a força da gravidade exige uma resposta de equilíbrio de vá- rios músculos, mantendo o corpo em pé (o esquema, como vemos é E — R ) ; a locomoção se faz pela pressão na planta de um pé ( E ) , que determina a resposta de levantar e avançar o outro pé ( R ) . Outros condicionamentos são mais complexos. Certa pessoa vai deitar-se com dor nas costas e liga a dor nas costas a seu velho medo do câncer. Sonha que está sofrendo de câncer. A dor nas costas foi o estímulo (E) que determinou a resposta (R) sonho de estar com câncer. Tirar a máscara do câncer e ver o simples medo, sem seu correspondente real da moléstia, é um trabalho de descondicionamento. Descondicionar não é só entender as fantasias e desmascará-las, mas sentir-se livre delas. Não basta saber que bicho-papão não existe: é preciso sentir que ele não existe, mesmo quando se está num quarto escuro, sem nenhuma companhia. Por isso, interpretar as fantasias desconhecidas não basta. É preciso sentir o que se interpretou. CONDICIONAMENTO DO MEDO Numa criança de pouca idade, o medo nem sempre se concentra no objeto amedrontador. Freqüentemente "transborda" de tal maneira que os pais encontram dificuldade para acompanhar. 113 112 R 3 (pede, chorando alto) PM (grita, esperneia) —' consegue (reforço) R 2 (pede, choramingando) A criança pequena que foi derrubada por um cachorro grande aprende naturalmente a temer o cachorro. Mas seu medo transborda, passando a incluir todos os cachorros e, às vezes, todos os animais de quatro patas. É compreensível que os pais se espantem ao vê-la ficar com medo do retrato de uma vaca. Isso ainda é resposta do primeiro título. Coragem imposta. A sociedade moderna dá ênfase à falta de medo. "Seja um garoto corajoso." Isso leva freqüentemente as crian- ças a disfarçar e esconder seus temores. Vencer o medo. Os psicólogos concordam que três métodos muito utilizados para combater o medo causam mais mal do que bem. Eles são: ignorá-lo sistematicamente, ridicularizar ou punir a criança por ter medo e forçar a criança na situação temida. Outras maneiras devem ser experimentadas. Por exemplo: expli- que a situação, tentando convencer a criança de que não há nada a temer;
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