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AULA 6 – DOR TORÁCICA NA EMERGÊNCIA DANIELA FRANCO OBJ: Treinar o reconhecimento de sinais e sintomas correlacionados a dor torácica de origem não cardíaca, bem como identificar a etiologia da dor torácica (exemplo: pericardite, pneumotórax, embolia pulmonar, dissecção aórtica, miocardite); além de instituir o tratamento para estabilização do quadro e tratamento especifico para etiologia apresentada no cenário. Treinar a realização de diagnóstico diferencial a partir da história clínica, exame físico e utilização de propedêutica armada para esta finalidade. Treinar a montagem das derivações e realização do eletrocardiograma, bem como a interpretação. (não coronariana) ABORDAGEM INICIAL PACIENTE INSTÁVEL • Iniciar Monitorização cardíaca. • Oxigênio se saturação de O2 < 90%. • Obter acesso Venoso periférico. Deve-se focar no nível de consciência do paciente e em seus sinais vitais e prosseguir com a sistematização do ABCDE. O exame físico e o ultrassom à beira do leito ajudam no diagnóstico. No caso de identificação de pneumotórax hipertensivo e tamponamento cardíaco, estes devem ser prontamente tratados. Se for identificada uma dissecção de aorta, os antiagregantes e anticoagulantes estão contraindicados. O manejo clínico é feito por meio da redução da frequência cardíaca e da pressão arterial. Deve-se buscar a avaliação de cirurgia cardíaca ou vascular, dependendo do local da dissecção. A instabilidade hemodinâmica é indicação de cateterismo coronariano em até 2 horas, mesmo em infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST. A dúvida diagnóstica é contraindicação a cateterismo de urgência. No caso da embolia pulmonar, a recomendação é de se realizar a trombólise durante a parada cardíaca. A dose recomendada é de 50 mg de alteplase, seguida de 15 minutos de massagem cardíaca obrigatória. O bolus pode ser repetido uma vez com nova sequência mandatória de massagem cardíaca. AVALIAÇÃO DO PACIENTE ESTÁVEL A avaliação deve ser sequencialmente focada em cada um desses grupos de doenças, confirmando ou excluindo o diagnóstico. A Tabela 1 apresenta o diagnóstico diferencial de dor torácica com destaque para as etiologias ameaçadoras à vida. • Anamnese e exame físico dirigidos para causas de maior risco. Avaliar características da dor, se intensidade desproporcional ao quadro, irradiação, tempo de instalação (súbito ou não), sintomas associados, associação com esforço, sintomas associados como náuseas e vômitos, antecedentes e fatores de risco. • Exame físico com inspeção local, avaliar simetria de pulsos, medir a pressão arterial nos quatro membros, ausculta pulmonar e cardíaca, testar dor à palpação e pesquisa de sinais focais neurológicos. • Eletrocardiograma (ECG) em todos os pacientes com dor torácica ou suspeita de equivalente anginoso em até 2 minutos de sua entrada no DE. Esse exame deve ser visto por um médico e avaliado em até 10 minutos de sua entrada Para as SÍNDROMES AÓRTICAS está recomendado o escore ADD (detecção de dissecção de aorta) em associação com dímero-D. Em pacientes com escore negativo ou no máximo com um ponto e que têm dímero-D negativo, o diagnóstico pode ser descartado com segurança. Se síndrome aórtica for a principal suspeita, não se deve iniciar antiagregação ou anticoagulação. A EMBOLIA PULMONAR deve ser suspeitada e deve- se aplicar um dos vários escores de risco existentes, como Wells ou Geneva. Nos casos de baixo risco, a regra PERC permite ainda identificar pacientes que não precisam sequer de quantificação do dímero-D para descarte do diagnóstico. Na alta probabilidade da embolia pulmonar, a anticoagulação já está indicada (mesmo sem confirmação diagnóstica). A ROTURA ESOFÁGICA está associada a alcoolismo ou tem a presença de vômitos. A presença de enfisema e ar no mediastino pode ser o fator que ajuda no diagnóstico. A presença do ultrassom na sala de emergência possibilita o diagnóstico de TAMPONAMENTO CARDÍACO. A clássica tríade de Beck, composta por hipotensão, turgência jugular e hipofonese de bulhas; Em paciente chocado, com turgência jugular, o tamponamento cardíaco deve ser suspeitado. No ecocardiograma, se possível, pode- se estabelecer a presença de tamponamento quando há colabamento diastólico do átrio direito e em casos mais graves do ventrículo direito também. Deve-se proceder imediatamente com a punção de Marfan. Ultrassom, radiografia e exame físico (enfisema subcutâneo, ausculta pulmonar) podem sugerir a presença de PNEUMOTÓRAX. Em geral, o pneumotórax hipertensivo está associado a trauma ou em alguns casos a procedimentos como intubação orotraqueal ou cateterização venosa central. O quadro clínico é composto por taquicardia, hipotensão, enfisema subcutâneo, turgência jugular e hipóxia, evolução para choque e parada cardíaca. A conduta é a descompressão imediata com tubo e, se não estiver disponível, descompressão com agulha. DIAGNÓSTICOS SÍNDROME CORONARIANA AGUDA A síndrome coronariana aguda (SCA) constitui um espectro de diagnósticos de menor a maior risco, iniciando na angina estável, progredindo por angina instável e IAM sem supradesnivelamento de segmento ST até o IAM com supradesnivelamento do segmento ST. A dor torácica é descrita como tendo duração de 10 a 20 minutos, com localização retroesternal ou precordial, com irradiação para ombro e face medial do braço esquerdo. Porém, essa dor classificada como típica ocorre em 50% dos casos. Aumenta a probabilidade de ser uma SCA a presença dos seguintes sintomas: • Irradiação para um ou ambos os ombros: mesmo que seja só o direito. • História de náuseas e vômitos. • Sudorese: especialmente quando observada pelo enfermeiro da triagem ou médico. • Associação da dor com esforço. O exame físico tem poucos achados em pacientes com suspeita de SCA sem supra de ST. O exame físico está alterado quando há fatores de maior gravidade como edema agudo de pulmão, complicação mecânica ou choque. O exame físico tem maior importância para outras causas de dor torácica. A ausculta cardíaca pode revelar um sopro sistólico devido à insuficiência mitral isquêmica, que está associada a mau prognóstico. Raramente, um sopro sistólico pode indicar uma complicação mecânica, como ruptura do músculo papilar ou comunicação interventricular, de um IAM subagudo e possivelmente não detectado. Sinais de insuficiência cardíaca ou instabilidade hemodinâmica ou elétrica exigem diagnóstico e tratamento imediatos. ELETROCARDIOGRAMA fornece pistas para alterações isquêmicas que sugerem infarto oclusivo ou não oclusivo. A principal alteração que sugere infarto oclusivo é o supradesnivelamento de segmento ST. O segmento ST é o trecho do ECG entre o complexo QRS e a onda T. O ponto J é a deflexão que encerra o complexo QRS e inicia o segmento ST. O desvio de segmento ST é realizado no ponto J em relação à linha de base. A linha de base deve ser o segmento PR. Ele pode se encontrar alterado como na pericardite. Nesses casos, compara-se a linha de base do segmento TP com o segmento PR. A definição de infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento é a seguinte: • Elevação de 1 mm do ponto J em duas derivações contíguas. São derivações contíguas DII, DIII e aVF (parede inferior); V1, V2, V3, V4, V5 e V6 sequencialmente (parede anterior) e DI e aVL (parede lateral alta). • Nas derivações V2 e V3 são exceção, pois são necessários 1,5 mm em mulheres, 2 mm em homens acima de 40 anos e 2,5 mm em homens abaixo de 40 anos. Se as derivações de V7 a V9 forem utilizadas, o critério é 0,5 mm. • Outros padrões que sugerem infarto oclusivo são: De Winter (ver a seguir) e os critérios de modificados de Sgarbossa na presença de bloqueio de ramo esquerdoTROMBOEMBOLISMO PULMONAR SINTOMAS: dor torácica súbita (pode piorar com inspiração, chamada pleurítica), dispneia, hipoxemia, síncope ou choque. Pode haver tosse associada ou hemoptise. Os pacientes com embolia pulmonar podem apresentar febre e edema ou dor nas pernas, e alguns pacientes relatam dor na parede torácica. EXAME FÍSICO: taquipneia, taquicardia e hipoxemia. FATORES DE RISCO de embolia pulmonar incluem cirurgia recente, trauma, imobilidade prolongada, câncer ativo, estrógenos de pílulas anticoncepcionais ou terapia de reposição hormonal, principalmente se tabagismo associado, trombofilias ou história de embolia pulmonar prévia ou trombose. CRITÉRIOS PARA DESCARTAR: Um exame de dímero-D normal, em um paciente hemodinamicamente estável de risco baixo a intermediário, torna a embolia pulmonar muito improvável. Dímero-D não deve ser solicitado em pacientes com alto risco. Em pacientes com tromboembolismo pulmonar, BNP e troponina cardíaca elevada indicam disfunção ventricular e identificam pacientes com alto risco de morte e complicações. ECG: No tromboembolismo pulmonar, os achados eletrocardiográficos são inespecíficos, sendo o achado mais comum a taquicardia sinusal. As radiografias de tórax geralmente são normais, mas em casos raros podem mostrar sinais de infarto pulmonar. ANGIOTOMOGRAFIA de artéria pulmonar é usualmente o exame de escolha. PERICARDITE AGUDA SINTOMA mais comum é dor torácica, que ocorre em mais de 90% dos casos, sendo em geral aguda, intensa e constante, com localização subesternal. A dor pode irradiar para o dorso, pescoço ou ombros; piora deitado e por inspiração; e alivia sentando-se e inclinando-se para a frente. A irradiação da dor para o membro superior esquerdo não é incomum, mas o local mais característico é irradiação para região do trapézio, o que é um sintoma altamente específico para a pericardite. Algumas características: Dor aliviada com a inclinação do corpo para a frente e agravada pela posição de decúbito. Os pacientes podem apresentar associadamente dispneia, febre ou taquicardia desproporcional à temperatura corporal; também são descritos soluços nesses pacientes. EXAME FÍSICO em pacientes com complicações pode ser normal, mas o atrito pericárdico está presente frequentemente na borda esternal inferior esquerda e é mais bem auscultado com a inclinação do paciente para a frente. O atrito é dinâmico e pode desaparecer e reaparecer. As bulhas cardíacas podem ser abafadas. Em até 15% dos casos os pacientes podem apresentar complicações; nesses casos, podemos ter: – Pulso arterial paradoxal (diminuição > 10 mmHg na pressão arterial sistólica durante a inspiração). – Sinal de Kussmaul (distensão da veia do pescoço na inspiração). – Distensão venosa jugular. ECG: são elevação difusa do segmento ST com infradesnivelamento do intervalo PR. PNEUMONIA A pneumonia pode causar dor torácica geralmente descrita como aguda, pleurítica e associada com febre, tosse, produção de expectoração e, possivelmente, hipoxemia. AUSCULTA pode revelar sons respiratórios diminuídos, estertores crepitantes ou sons respiratórios brônquicos nas áreas de consolidação afetadas. RADIOGRAFIA DE TÓRAX geralmente confirma o diagnóstico. PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO SINTOMAS: são dor torácica pleurítica de início súbito, aguda e com dispneia. FATORES DE RISCO: tabagismo e doenças pulmonares crônicas, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica. AUSCULTA pode revelar sons respiratórios diminuídos e hiper-ressonância à percussão no lado ipsilateral. EXAME FÍSICO: A taquicardia sinusal é o achado mais comum no exame físico e enfisema subcutâneo pode estar presente. Outros achados clássicos ao exame físico, como murmúrio vesicular diminuído, hipertimpanismo à percussão e ausência de frêmito toracovocal são dependentes da extensão do pneumotórax e não costumam estar presentes em pneumotórax pequeno. Obs: Deve-se lembrar que os achados do exame físico de um pneumotórax simples são inconstantes e não podem ser usados para excluir a presença, com o diagnóstico feito por radiografia de tórax. PATOLOGIAS ESOFÁGICAS E GASTRODUODENAIS SINTOMAS: Os pacientes com ruptura esofágica apresentam uma história de dor torácica subesternal de início súbito e acentuada após um forte vômito. Os pacientes com ruptura esofágica geralmente têm taquicardia, febre, dispneia ou diaforese. EXAME FÍSICO pode revelar crepitação no pescoço ou no tórax por enfisema subcutâneo. RADIOGRAFIA DE TÓRAX pode demonstrar um derrame pleural (mais comum à esquerda do que direita), pneumotórax, pneumomediastino, pneumoperitônio ou ar subcutâneo, embora a radiografia normal não possa excluir a ruptura esofágica. O espasmo esofágico é frequentemente associado à doença do refluxo e é caracterizado por um início súbito de dor torácica subesternal apertada. A dor é frequentemente precipitada pelo consumo de líquidos quentes ou frios ou um grande bolo alimentar e pode ser aliviada por nitratos. Os pacientes com quadros dispépticos, seja de etiologia esofágica ou gastroduodenal, apresentam dor epigástrica ou retroesternal, em geral em queimação, podendo ser associada com náuseas, vômitos, regurgitação alimentar com alívio com uso de antiácidos ou bloqueadores de bomba de prótons ou de receptores histamínicos H2 e podem piorar com o decúbito. A úlcera péptica é descrita como uma dor pós- prandial na região epigástrica. Os pacientes geralmente descrevem o despertar do sono pelo desconforto. A dor da úlcera duodenal pode ser aliviada após a ingestão de alimentos, enquanto a dor da úlcera gástrica é frequentemente exacerbada pela ingestão de alimentos. Infelizmente, distúrbios gastrointestinais muitas vezes não podem ser diferenciados de forma confiável da síndrome coronariana aguda apenas por história e exame físico. A pancreatite aguda e a doença biliar se apresentam com o quadrante superior direito ou dor e sensibilidade epigástrica imitando quadro de angina de parede inferior. DOR PSICOGÊNICA As causas psicogênicas de dor torácica incluem o transtorno de pânico, que é caracterizado por períodos recorrentes e inesperados de sensação de medo ou desconforto intenso com pelo menos quatro dos seguintes sintomas: dor torácica, dispneia, palpitações, diaforese, náusea, tremores, asfixia, tontura, medo de perder o controle ou morte, parestesia, calafrios ou ondas de calor.
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